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Alguém em Algum Lugar

E difícil encarar a finitude. A gente vai ficando velho e fica menos birrento com as coisas que acabam, talvez por já ter passado por tantas perdas. Tem as perdas inevitáveis e doloridas para a morte. Tem as perdas sofridas da vida, os amores que viram ódios, os amigos que viram inimigos. Os lutos cíclicos que parecem que nunca vão acabar, mas à medida que o tempo passa ficamos mais espertos e saímos mais rápido do buraco.

Essa coisa dos amigos que vão tem suas particularidades. Nunca tive muitos. Amigos mesmo sempre uns três ou quatro. Sempre desconfiei das centenas de amigos virtuais, acho um número falsificado. Tenho conhecidos que tem milhões de seguidores, é triste porque eles acabam tendo que contratar agências de marketing pra cuidar da imagem e no fim o seguidor vira cliente acreditando que aquele simulacro existe.

Voltando. Hoje consigo entender que os amigos vêm e vão em ciclos, como tudo na vida. Afinal de contas, como dizia o Rei do Rock, todos somos metamorfoses ambulantes. Eu sou diferente hoje do que era há dez anos. Talvez para nós atores seja mais fácil realizar essas metamorfoses. Os personagens sempre deixam suas pegadas. Ser amigo de ator não deve ser fácil, estamos sempre mudando. Todo mundo está, pra nós é mais rápido.

Você não sabe quem essa pessoa que é seu amigo, parceiro, chapa de hoje será daqui uns anos. Se os ciclos coincidem, a amizade ganha sobrevida, se não, o ciclo se encerra. É triste e é bonito encontrar grandes amigos de outrora e compreender que o ciclo acabou porque as afinidades acabaram. É estranho estar diante daquela presença que significou tanto em tantas histórias e agora aquela química simplesmente não rola. Os objetivos não são mais os mesmos, parece que as frequências estão em descompasso. Simplesmente o sapato não entra mais no pé. O anel não entra mais no dedo. A pimenta pesou.

Mesmo assim, nutro imenso carinho por eles, às vezes gratidão pelos bons momentos. Durante muito tempo eu me ressenti por isso. Achava que estava sendo cortado, que existia alguma coisa misteriosa por trás. Hoje compreendo e encaro com naturalidade. É assim mesmo e é assim que