ao fundo, o primeiro palácio que se construiu na cidade, e com os dizeres «Foto na hora: lembrança de Brasília». A foto da capa contém dois fotógrafos: o que posa e o que retratou o cliente. Outros aparecem ao longo do livro: o fotógrafo com sua câmera desenhada na parede de madeira, anunciando o seu negócio no Núcleo Bandeirante; um senhor fotografando a mulher, provavelmente da família, na piscina pública do Parque da Água Mineral; ou o fotógrafo lambe-lambe na Rodoviária – a quem, aliás, recorri mais de uma vez para fazer fotos para documentos. Ou o rapaz da cidade satélite tirando fotos da namorada sobre o parapeito da Rodoviária, com a Esplanada ao longe: aquele rapaz fez também uma lembrança de Brasília e dediquei-lhe três páginas duplas no livro. Ao fotografarmos, cumprimos uma das funções da fotografia mais carregadas de sentido e de emoção: a foto para a posteridade, a foto que talvez sobreviva a nós. Pessoas, arquitetura, céus, a terra do planalto se articulam em uma narrativa que faz deste um livro sobre Brasília, as pessoas, momentos, um livro sobre fotografia. ES – Mas o livro é também uma maneira de articular este conjunto de imagens como o próprio sujeito da fotografia, o fotógrafo. Nessa articulação, cada foto transcende sua significação particular e ganha outra dimensão que se relaciona com o que e quem está fora dela. Seu trabalho como fotógrafo é autorreferencial? JP – É em boa medida um trabalho autorreferencial: foi um lado da minha vida em Brasília, paralelo às minhas funções oficiais, a minha visão da cidade, que tem sido fotografada principalmente pela sua arquitetura moderna e menos pela sua gente e a sua paisagem. Optei por abarcar no livro diversas séries, e não uma só, e uma estética de acúmulo de imagens que se entrelaçam. Sempre gostei de trabalhar com séries, montagens, que comecei a fazer no início da década de 1980. Aqui em casa mesmo, onde estamos fazendo esta entrevista, há esta montagem na parede de uma série de 20 fotografias dos céus de Brasília. Na mesma época, fiz diversas sequências de fotografias para a minha série «Variações em torno de um personagem» e, com uma delas - um conjunto de 9 imagens de um amigo nadando em uma piscina de rio - ganhei um prêmio de aquisição no viii Salão Nacional de Artes Plásticas em 1985. Em meados dos 80, também vi, em exposição em Paris, montagens fotográficas de David Hockney, artista britânico, radicado então em Los Angeles, que me chamaram a atenção. Muitos anos depois, em 1998, descobri Araki, o fotógrafo japonês, que me fascinou pelos seus livros cheios de imagens que se justapõem, aparentemente desconexas, mas que na verdade se conectam plenamente, embora não à primeira vista.