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Wave Magazine is an ethnocultural publication based in Ontario, operating with a lean structure and no formal employees. Instead, we cultivate dynamic collaborations with professionals who contribute on a pro-bono basis or as freelancers, engaged per project.
WAVE MAGAZINE ESPECIAL Nº 5
5 Mensagem da redação Wave
6 Márcio Melo – O sucesso do artista plástico brasileiro no Canadá
12 Labubu conquista o Canadá – Um boneco "objeto de desejo"
15 Identidade em pauta – O dilema do brasileiro em ser "latino" no Canadá
21 Café Geladona – Gastronomia popular brasileira em Toronto
26 Passeio pelo Lago Ontario – Visão privilegiada da cidade Toronto
28 Riverdale Farm – Fazenda no centro de Toronto oferece típica experiência de vida no campo
30 Mercado de trabalho – A atual dinâmica de emprego no Canadá
34 Receita – Guacamole à brasileira
AÇÃO DE GRAÇAS Feliz Dia De
Luis Camara Secretary Treasurer
Ricardo Teixeira
Recording Secretary
Jack Oliveira Business Manager
Nelson Melo President
Jaime Cortez E-Board Member
Marcello DiGiovanni Vice President
Pat Sheridan E-Board Member
Leia nesta edição
Por Redação Wave, Toronto
Esta
edição celebra o Dia de Ação de Graças e também o Mês da Herança Latino-Americana.
Na matéria de capa, uma entrevista exclusiva com o artista plástico brasileiro Márcio Melo, radicado no Canadá desde 1987. Seu estilo marcante combina cores vibrantes, formas ousadas e composições que transitam com fluidez entre o abstrato e o realismo.
O boneco de plástico e pelúcia Labubu, de aparência assustadora e ao mesmo tempo engraçada e fofa, tornou-se a nova coqueluche entre crianças, adolescentes e adultos. Entenda o fenômeno por trás desse “objeto de desejo”.
Para o outono, que tal um passeio de barco pelo Lago Ontario e uma visão privilegiada de Toronto? É uma ótima forma de apreciar a harmonia entre natureza e arquitetura.
E você sabia que no centro de Toronto existe uma fazenda aberta ao público todos os dias do ano? A Riverdale Farm, no bairro de Cabbagetown, funciona diariamente e vale a visita!
Na matéria "A atual dinâmica de emprego no Canadá", destacamos quatro forças que influenciam o mercado de trabalho e o papel de agências governamentais como o Fedcap Canada e o Employment Ontario.
Falando em empreendedorismo, conheça a história do Café Geladona, onde as sócias Mari e Flor oferecem o melhor da gastronomia popular brasileira em Toronto.
E a receita da vez? Um guacamole à brasileira — uma mistura saborosa que une o México e o Brasil.
Márcio Melo
O sucesso do artista plástico brasileiro no Canadá
Por Alethéa Mantovani, São Paulo
Fazersucesso em um país estrangeiro exige bem mais do que empenho, determinação e talento. É preciso ter jogo de cintura, resiliência e uma dedicação incansável à própria arte. Esse tem sido o caminho trilhado com maestria pelo artista plástico brasileiro Márcio Melo, que vem conquistando, com originalidade e consistência, um espaço cada vez mais relevante no cenário artístico do Canadá.
Radicado no país desde 1987, Márcio se destacou por seu estilo singular, caracterizado pelo uso de cores vibrantes, formas ousadas e composições que transitam com fluidez entre o abstrato e o realismo. Sua obra é profundamente versátil: ao longo das décadas, ele dominou uma ampla gama de técnicas e materiais — como aquarela, giz de cera conté, acrílico e óleo. Mais recentemente, incorporou à sua produção os recursos da arte digital, sem jamais abrir mão da expressividade e autenticidade que fazem parte da sua trajetória.
Parte do reconhecimento que Márcio Melo vem conquistando no exterior se deve também à força e originalidade
Márcio Melo (Foto: arquivo pessoal)
da arte brasileira, que inspira seu trabalho — uma expressão cultural rica e profundamente enraizada nas tradições populares, na mistura étnica e na exuberância tropical. Essa energia, marcada pela liberdade criativa e pelo diálogo entre o tradicional e o contemporâneo, o regional e o universal, está presente em cada uma de suas obras.
Antes de se estabelecer no Canadá, Melo atuou como arquiteto e designer no Brasil, dedicando-se à preservação do patrimônio histórico de Recife e Olinda — experiência que ampliou seu repertório visual e refina, até hoje, a sua linguagem artística.
Atualmente, ele é presença marcante na cena cultural de Ottawa, onde construiu uma reputação sólida e respeitada. Sua trajetória tem atraído a atenção da mídia local e regional, com artigos e reportagens publicados em veículos de destaque como Ottawa Sun, Ottawa Citizen, XPress, The Pontiac Journal, The West Quebec Post, entre
outros. Essa visibilidade crescente tem consolidado ainda mais a sua posição dentro da comunidade artística canadense — e ampliado o seu reconhecimento além das fronteiras.
Suas obras, presentes em coleções particulares e corporativas, já chegaram a diversos países — entre eles Canadá, Estados Unidos, Itália, França, Inglaterra, Portugal, China, Brasil, Áustria, Alemanha e Suíça. Essa projeção internacional reforça a potência de sua arte, capaz de atravessar fronteiras, conectar culturas e provocar reflexões universais, sem jamais perder a autenticidade de suas raízes verde e amarelas.
Obra do artista plástico Márcio Melo: Oxum au Soleil (Foto: arquivo pessoal)
Márcio Melo (Foto: arquivo pessoal)
Entrevista
com Márcio Melo
WAVE MAGAZINE – O que o motivou a escolher o Canadá para viver? Houve algum fator específico que influenciou sua decisão de deixar o Brasil?
MÁRCIO MELO – A minha decisão de sair do Brasil, no final dos anos 80, se deu de forma muito acidental. Eu era um arquiteto recém-formado, mas sempre tive o desejo de ser pintor. Eu já falava inglês e, na hora de escolher um destino para estudar fora, o Canadá se apresentou como opção. A realização do sonho de ser artista profissional só aconteceria mais tarde, depois que eu me tornasse residente permanente e pudesse me dedicar a esse trabalho de forma integral.
WAVE MAGAZINE – Como foram os seus primeiros anos no país? A adaptação à nova cultura, clima e idioma trouxe desafios? Como você lidou com essas mudanças?
MÁRCIO MELO – O fato de eu já falar inglês definitivamente acelerou meu processo de adaptação à cultura canadense. Ao mesmo tempo, o francês, por ser uma língua latina, também me favoreceu.
No que diz respeito à minha arte e ao exercício de me expressar por meio do desenho e da pintura, encontrar-me subitamente entre dois extremos culturais — o Brasil e o Canadá — representou um grande desafio. Felizmente, eu soube conciliar essas influências sem ter que optar por uma delas.
WAVE MAGAZINE – Como foi o processo para trazer a sua produção artística para o Canadá? O público canadense recebeu bem o seu trabalho desde o início, ou foi necessário conquistar esse espaço aos poucos?
MÁRCIO MELO – Eu passei grande parte da minha infância desenhando. Na adolescência, gostava de visitar a Galeria de Arte Metropolitana do Recife para contemplar os trabalhos de Lula Cardoso Ayres e Vicente do Rêgo Monteiro, entre outros nomes exemplares da arte moderna pernambucana.
Quando cheguei ao Canadá, já trazia comigo indícios do que gostaria de produzir artisticamente. Depois de muitos cursos de arte no Algonquin College, em Ottawa, e na Universidade do Quebec, em Hull, decidi finalmente me dedicar ao desenho e à pintura de forma integral.
Com o passar dos anos, fiz muitas exposições, algumas em colaboração com a Embaixada do Brasil em Ottawa, sempre conciliando temas e imagens que refletissem a minha dualidade cultural. Tive a sorte de ser bem recebido pelo meu trabalho, mas reconheço que a jornada de um artista passa por muitas mudanças e nem sempre o que ele produz é compreendido.
WAVE MAGAZINE – Em 1997, algumas de suas obras foram consideradas inadequadas pelo National Capital Commission e removidas de uma exposição no Parque Gatineau. Como você vivenciou esse episódio? Acredita que houve censura? E, na sua visão, esse tipo de situação mudou desde então?
MÁRCIO MELO – Em 1997, eu fiz uma série de aquarelas que representavam personagens masculinos e femininos se banhando em cachoeiras, fontes, lagos e rios, à maneira dos impressionistas (Renoir). Apesar de apresentarem um aspecto
TROPI-X: Brazilian Art in Canada from the 70's to the Present Exposição de novembro 2025 a abril 2026. Ivey Galleries do Museum London, Ontário
Obra do artista plástico Márcio Melo: L'été en Fleur (Foto: arquivo pessoal)
mais gráfico e uma estilização menos realista, mais parecida com vitrais, o objetivo era criar imagens que reverenciassem a nossa relação com o elemento água.
Em uma determinada ocasião, ao participar da turnê artística "Artists in Their Environment", como artista convidado, esses trabalhos foram censurados como impróprios para o público familiar, enquanto expostos no Park Visitors Centre, em Old Chelsea, Quebec. Isso me deixou absolutamente estupefato!
Eu não me oponho a artistas que desejam chocar intencionalmente como abordagem artística, mas essa não era, definitivamente, a minha intenção.
No que diz respeito à sua pergunta sobre se a situação se apresentaria de forma diferente na época atual, como eu não voltei a vivenciar outras situações semelhantes ao apresentar meus trabalhos em futuras exposições, fica difícil dizer como esse episódio se daria se acontecesse agora. Mas, sinceramente, acho que sempre haverá má compreensão, por parte de alguns, em relação ao trabalho realizado por certos artistas.
WAVE MAGAZINE – Você participou do programa “Rockburn and Company”, da CBC. Como foi essa experiência? Que impacto teve em sua carreira ou visibilidade como artista?
MÁRCIO MELO – O programa "Rockburn and Company" foi uma sinopse perfeita do meu estilo de vida e carreira na época, gerando reconhecimento pelo que eu fazia e incentivando-me a prosseguir nessa direção. Naquele tempo, eu morava em uma fazenda na região de Pontiac, em Quebec, em um
ambiente absolutamente adequado à pintura. A casa ficava na encosta de um lago, e eu fazia parte de uma comunidade de artistas e amantes da arte que ajudaram a forjar a minha identidade como artista canadense. Ken Rockburn, o apresentador do programa, é até hoje um grande amigo e colecionador de muitas das minhas obras.
WAVE MAGAZINE - Quais são as principais diferenças entre o Brasil e o Canadá para um profissional das artes plásticas como você?
MÁRCIO MELO - Como grande parte do que realizei artisticamente se deu aqui no Canadá, a única maneira de responder a essa pergunta seria relatando um pouco da minha própria experiência como artista local. O Canadá é um país que tem muitos programas de incentivo e apoio às artes.
No começo dos anos 2000, eu submeti um projeto ao Ministério da Cultura de Quebec para ser incluído no programa "A Cultura nas Escolas". O projeto visava à criação de murais em escolas primárias e secundárias, valorizando os princípios de colaboração entre o artista e os próprios participantes. Desde então, realizei cerca de 250 murais em escolas de várias regiões de Quebec, o que definitivamente me permitiu viver da arte. O processo criativo desses projetos me proporcionou milhares de encontros com estudantes, beneficiando minha visibilidade e me enriquecendo profundamente em um ponto de vista pessoal.
As outras oportunidades, como expor em galerias ou a comercialização
de trabalhos artísticos, são obviamente relativas diante do fenômeno de globalização das artes. No entanto, posso afirmar que o Canadá, como um país com grande senso de apreciação e poder de aquisição de obras de arte, torna a escolha de um caminho nas artes algo mais tangível.
WAVE MAGAZINE – Quais são os seus próximos projetos?
MÁRCIO MELO – Nos últimos anos, eu tenho ampliado o meu processo criativo, trabalhando com técnicas e em situações diversas. Em 2019, iniciei uma série de murais com crianças com menos de cinco anos, mostrando que nunca é cedo demais para se expressar artisticamente.
Este ano, farei parte de uma exposição na qual apresentarei dois trabalhos em forma de impressões digitais.
A exposição “TROPI-X: Brazilian Art in Canada from the 70's to the Present”, com curadoria de Rodrigo D'Alcântara e Alena Robin, acontecerá nas Ivey Galleries do Museum London, em Ontário, e ficará em cartaz de novembro de 2025 a abril de 2026.
Essas obras farão parte do núcleo curatorial "Folklore Remix", que explorará temas e composições dedicados a desafiar e dialogar com a noção de folclore brasileiro. Para mim, a exposição será uma oportunidade de compartilhar um pouco da minha trajetória como artista pertencente a duas culturas fascinantes e diversas.
Será um prazer vê-los na abertura, que acontecerá no dia 22 de novembro!
As obras de Márcio Melo podem também ser vistas online e muitas estão disponíveis para a venda. Instagram: @marcio_melo_ art / website: www.marciomelo.com
Obra do artista plástico Márcio Melo: O Pescador de Ilusões (Foto: arquivo pessoal)
Um boneco "objeto de desejo" Labubu conquista oCanadá
Por Saulo Miguez, LJI Reporter
Deaparência assustadora, mas ao mesmo tempo engraçada e fofa, o boneco de plástico e pelúcia Labubu conquistou o status de nova coqueluche entre crianças, adolescentes e muitos adultos mundo afora. Para se ter uma ideia da dimensão dessa idolatria, um evento reunindo colecionadores do brinquedo que aconteceria na cidade de Toronto precisou ser reagendado devido à grande demanda e às preocupações dos organizadores com a capacidade do espaço.
O fenômeno comercial foi criado pelo designer de Hong Kong, Kasing Lung, e é fabricado pela pela empresa Pop Mart, que também comercializa o produto em seu site. Diversas outras lojas físicas e virtuais, além de colecionadores, revendem os bonecos em diferentes países.
Originalmente, o personagem integrava a série de histórias The Monsters, também ilustrada por Lung, que possui forte influência do folclore e mitologia nórdicos. O brinquedo foi apresentado pela primeira vez em 2015. Porém, só em 2019, após a Pop Mart adquirir os direitos de fabricação, começou sua escalada de popularidade.
Segundo matéria da BBC, o fascínio mundial pelos Labubu praticamente triplicou os lucros da Pop Mart no último ano. O número pode ser facilmente explicado pelos valores cobrados pelos brinquedos. No site oficial da fabricante, um único boneco chega a custar 421.90 CAD. Além disso, a linha de produtos é enorme e inclui chaveiros, acessórios, mini cenários temáticos, além dos desejados bonecos.
Desde 2020, a Pop Mart negocia ações na bolsa de valores de Hong Kong e, no último ano, os papeis valorizaram mais de 500%. A companhia conta com mais de duas mil máquinas automáticas espalhadas pelo mundo e os Labubu são vendidos em lojas físicas e virtuais de mais de 30 países, muitas delas com intermináveis filas de espera. No Canadá: nas grandes lojas e site da empresa.
Apego ao feio-fofo
Um dos grandes impulsionadores na popularidade do brinquedo foi a aparição da cantora Lisa, do grupo de K-Pop Blackpink, com um Labubu nas mãos. Por ser um ícone cultural, a imagem de Lisa rapidamente se espalhou e elevou a procura pelo boneco na Tailândia e outras partes do sudeste e leste asiático. Outros nomes também aderiram à moda, como Rihanna, Dua Lipa e Kim Kardashian.
Para Mark Travers, psicólogo e colaborador da Forbes EUA, a febre Labubu é uma atualização do apelo despertado pelos brinquedos “feios-fofos” que marcaram a infância de muitas gerações. Ele relembra que muitos adultos de hoje provavelmente tiveram apego emocional a brinquedos considerados estranhos, como bonecas Troll, Furby ou o bebê Cabbage Patch. Outro ponto levantado por Travers é o que ele descreve como “fascínio pelo desconhecido” provocado pelas blind boxes. Nessa modalidade de compra, o consumidor paga por um boneco que ele não sabe qual será e precisa viver a experiência surpresa ao melhor estilo “recebidinho” dos influenciadores para descobrir o que adquiriu.
“Será que o Labubu será um boneco comum que você já tem? Ou um raríssimo cobiçado que pode valer centenas de dólares? Aquele momento de suspense antes da revelação é o que torna tudo tão viciante”, diz Travers em artigo publicado na Forbes.
O dilema do brasileiro em ser "latino" no Canadá Identidade em pauta
Por Teresa Botelho, Toronto
Quando
o Canadá celebra o Mês da Herança Latino-Americana, em outubro, muitos brasileiros que vivem por aqui se fazem a mesma pergunta: será que nós também somos considerados latinos?
A resposta é sim, somos.
De acordo com o Statistics Canada, o termo Latin American abrange pessoas com origem ou ancestralidade em países da América Latina — o que inclui as Américas do Sul, do Norte e Central — e partes do Caribe. Ou seja, falar português, e não o espanhol, também nos dá o passaporte latino.
Mas, na prática, a questão é mais sutil.
Muitos brasileiros não se identificam de imediato com o rótulo “latino”, talvez porque o idioma e parte da cultura brasileira tenham uma identidade única dentro da América Latina. Há quem diga: “Não falo espanhol, então não sou latino.” Outros, porém, abraçam com orgulho a ideia de pertencer a uma grande família continental — diversa, criativa e resiliente.
O curioso é que, para o olhar canadense, não há distinção.
No Canadá multicultural, o Brasil aparece sempre ao lado de países como México, Colômbia, Chile e Peru nos eventos, nas estatísticas e nas celebrações. O
Latin American Heritage Month é prova disso: a cada outubro, festivais em To-
ronto, Vancouver e Montreal reúnem o samba, o tango, a salsa e o reggaeton em uma mesma batida.
Somos 540 mil no Canadá
Segundo o Censo de 2021, mais de 540 mil pessoas no Canadá se identificam como tendo origens latino-americanas — e esse número não para de crescer. Só na região metropolitana de Toronto, há mais de 150 mil. Entre eles, uma presença brasileira cada vez mais visível: cafés que servem pão de queijo, rodas de capoeira em parques, blocos de carnaval no verão e, claro, muitos sotaques familiares no metrô.
Para os canadenses, essa diversidade é parte do que define o país. O multiculturalismo, política oficial desde a década de 1970, incentiva que cada grupo preserve sua herança cultural — e compartilhe com os demais. Assim, o termo “latino”, no Canadá, ganha um significado mais amplo e uma identidade cultural viva, que se expressa em arte, comida, música e idioma.
O português e o espanhol
O português é hoje um dos 15 idiomas mais falados "em casa" no Canadá, e cresce rapidamente. Isso se deve, em grande parte, à imigração brasileira mais recente. Ao mesmo tempo, o espanhol já está entre os dez mais usados. Juntos, os dois idiomas marcam uma presença cultural bem expressiva no país.
Em eventos multiculturais, é comum ver brasileiros conversando com colom-
bianos em “portunhol”, mexicanos dançando samba e canadenses se arriscando no português. É nesse espaço de mistura que a ideia de “latino” ganha uma nova dimensão — menos sobre fronteiras, mais sobre conexão.
Identidade em movimento
Entre os jovens canadenses de origem latino-americana, há um sentimento crescente de pertencimento múltiplo. Muitos nasceram aqui, falam inglês como primeira língua, mas querem manter as tradições dos pais e avós.
Pesquisas indicam que 60% desses jovens se interessam em participar de atividades culturais ligadas à sua origem. No caso dos brasileiros, essa nova geração ajuda a redefinir o que é ser latino no Canadá. Um latino que fala português, que mistura samba com reggaeton, que celebra o Thanksgiving com farofa e o Natal com rabanada e guacamole.
A força de uma palavra
Talvez “latino” seja menos uma categoria e mais um sentimento: o de pertencer a algo maior, de compartilhar uma herança feita de histórias de migração, de trabalho e de alegria. Quando o Canadá celebra o Latin American Heritage Month, celebra também o Brasil — com seus ritmos, sabores e cores. Ser latino, afinal, não é uma questão de idioma, mas de identidade compartilhada. E, nesse sentido, nós brasileiros temos muito a dizer — e a celebrar nesse mês de outubro.
Origens e destinos
A comunidade latino-americana no Canadá é composta por imigrantes de diversos países, com destaque para Colômbia, México e El Salvador. Além desses, vêm crescendo as presenças de chilenos, argentinos, peruanos, venezuelanos e brasileiros — todos contribuindo para a multiplicidade cultural do país.
Brasileiros em destaque
O censo de 2021 apontava cerca de 48 mil pessoas nascidas no Brasil vivendo no Canadá, e esse número vem aumentando a cada ano. Em 2022, mais de 7.300 brasileiros receberam residência permanente , segundo dados oficiais de imigração. Muitos chegam inicialmente como estudantes internacionais, trabalhadores qualificados ou empreendedores, e acabam se estabelecendo de forma definitiva.
Além disso, cresce o número de brasileiros de segunda geração — filhos de imigrantes que nasceram ou cresceram no Canadá, equilibrando dois mundos: o português em casa e o inglês ou francês na escola e no trabalho.
Contribuições
e desafios
A comunidade latino-americana tem deixado sua marca em diversas áreas da sociedade canadense. No campo econômico, muitos empreendem em serviços, comércio, tecnologia e gastronomia. Cul-
turalmente, festivais de música, dança e cinema latino-americano atraem cada vez mais público, enriquecendo o mosaico multicultural do país.
Entretanto, os desafios persistem. A barreira do idioma, a validação de diplomas estrangeiros e a busca por empregos compatíveis com a formação profissional são dificuldades comuns enfrentadas por recém-chegados. Em paralelo, a manutenção da identidade cultural — especialmente entre as novas gerações — tem ganhado importância dentro das famílias e das organizações comunitárias.
Um futuro mais latino
Com políticas de imigração abertas e programas voltados a trabalhadores qualificados, empreendedores e estudantes internacionais, o Canadá deve continuar atraindo imigrantes da América Latina nos próximos anos.
Entre 2025 e 2030, espera-se que a presença latino-americana — e, em especial, a brasileira — cresça de forma constante, fortalecendo redes de apoio comunitário, iniciativas empresariais e intercâmbio cultural e educacional em todo o país.
Em um Canadá que valoriza a diversidade como parte essencial de sua identidade, os latino-americanos trazem não apenas sua força de trabalho e capacidade de adaptação, mas também sua alegria, criatividade e resiliência. A cada nova geração, contribuem para construir um país ainda mais plural, vibrante, acolhedor e conectado com o mundo.
FELIZ MÊS DA HERANÇA
LATINO-AMERICANA!
FELIZ DIA DE AÇÃO DE GRAÇA
Café Geladona Gastronomia popular brasileira em Toronto
Sacolé, flau, dudu, juju, laranjinha, chupchup, gelinho, dindim. É infinita a lista de sinônimos para essa sobremesa gelada muito popular no Brasil, que há muito tempo é fabricada de maneira artesanal e vendida de porta em porta, ou em pequenos comércios de bairros do país. Tão grande quanto a lista de nomes, é a variedade de sabores: de frutas tropicais, como manga, umbu e acerola, até chocolate, amendoim e tapioca, passando por leite condensado e suco de milho, praticamente todo ingrediente é possível de ser transformado em geladinho.
Na cidade de Toronto, mais especificamente na Avenida Silverthorn, nº 9, também é possível encontrar essa verdadeira ampola da felicidade. O café de "comida de rua" brasileira – Geladona –oferece mais de 30 sabores do autêntico picolé brasileiro, além de diversas outras opções gastronômicas, como bolos, doces, sanduíches e pão de queijo. O café
se afirma também como um refúgio para a comunidade queer brasileira e um espaço seguro para quem busca conexão, conforto e um gostinho de casa.
O empreendimento é comandado pelo casal Mari, natural de São Paulo, e Flor, que nasceu na cidade de Torres, interior do Rio Grande do Sul, mas viveu uma vida nômade em 20 estados do Brasil, antes de se mudar para o Canadá. Elas se conheceram em 2017, já em solo canadense e, no ano seguinte, começaram a construir uma vida juntas.
Por Saulo Miguez, LJI Reporter
Mari e Flor, do Café Geladona (Foto: arquivo pessoal)
Como costuma acontecer na vida de muitos imigrantes, antes de empreenderem elas tiveram que trabalhar em diferentes lugares. Mari passou por cafés e restaurantes, como o Bar Buca, Mercatto e Le Gourmand. Além de landscaping, atuou na área cultural como produtora de eventos e percussionista, funções que ainda hoje exerce em projetos como o Jambucá.
Flor, por sua vez, se formou em arquitetura e atuou como coordenadora de projetos por seis anos. Durante a faculdade, trabalhou como barista para um café canadense e lá se desenvolveu na área de atendimento ao cliente. Desde a infância, ela acompanhava a mãe na cozinha, o que a deixava bastante à vontade para descobrir os segredos e alquimias dos “baked goods”.
Nasce o Geladona
O Geladona nasce em meio ao lockdown imposto pela pandemia de covid-19 e os problemas econômicos que atingiram diversas pessoas do mundo naquele momento. Na origem do negócio, veio também a inclusão, o acolhimento e a defesa das minorias identitárias. “Todo dia é um dia de luta pelo simples fato de sermos imigrantes”, destacou Mari em entrevista para a Brazilian Wave.
O empreendimento, inclusive, inaugurou a produção comercial de geladinhos na vida de Mari e Flor, que nunca haviam fabricado o produto para venda, até então. Mari tinha os saquinhos do Brasil e fazia para alguns eventos que produzia, mas nada em larga escala.
Sacolés (Foto: @Geladona)
Bolo de Cenoura (Foto: @Geladona)
Torta de Brigadeiro (Foto: @Geladona)
Com o aperto financeiro e sua mãe batalhando entre a vida e a morte, Mari teve a ideia de seguir o exemplo de muitas matriarcas do Brasil e vender geladinhos para complementar a renda. A iniciativa foi um sucesso. “Era a única coisa que faltava no Canadá. A gente já tinha acesso a tudo do Brasil, menos aos geladinhos. E os canadenses adoram conhecer os nossos sabores tropicais”, destacou.
Aconchego e conexão
Elas lembram que, quando decidiram abrir as portas, o foco, a princípio, era a produção de alimentos. No entanto, encontraram uma comunidade que buscava aconchego. “Entendemos que o povo estava atrás da nossa comida caseira, mas também da cultura, música, tempero e espaço para desabafos, conselhos e encontros”, disse Mari.
Assim, o Geladona rapidamente se tornou local de portas abertas – que comparam ao afetuoso “abraço de vó” e onde cada mordida se traduz em “choro de saudades e alegria”.
O espaço permite conexão com culturas distantes da brasileira e que também carregam o “geladinho” nas suas histórias. Nas Filipinas, por exemplo, a sobremesa é chamada de “ice candy”, enquanto na Índia atende pelo nome de “pepsi” e, na Colômbia, é o “bolis”.
A escolha do nome do café Geladona seguiu essa lógica de conexão. “Foi uma brincadeira com um temperinho da cultura. Pensamos ainda na pronúncia em inglês. O nome se adaptou tão rápido que as pessoas já se referem ao produto como geladona”, frisou Mari.
Uma história de sucesso
O negócio tocado por Mari e Flor é, sem dúvida, o que os especialistas definem como caso de sucesso. Em meio às dificuldades financeiras tão comuns aos pequenos empreendedores, sobretudo no período pandêmico, elas tiveram que se virar e deu certo.
Os primeiros ingredientes foram comprados com pontos de um cartão que, na época, era equivalente a 150 CAD.
O investimento foi duplicado e seguiu em ascensão. Com o primeiro dinheiro que sobrou, antes de abrirem a loja, compraram uma bike de sorvete em um site de compra e venda para poder alavancar a marca.
Para além da dificuldade financeira, como o geladinho não é sorvete nem suco, foi complicado encontrar leis e aplicações para o produto em Toronto. Porém, com muito suor, estudo e jogo de cintura todos os entraves burocráticos foram se resolvendo e as peças se encaixando.
Em meio a tudo isso, contrariando a lógica de muitos empreendimentos especializados em gastronomia brasileira, quando começou a funcionar, mais de 70% dos clientes não eram brasileiros. Mari e Flor contam que as pessoas de outras nacionalidades que vivem no Ca-
nadá, além dos próprios canadenses, se encantam facilmente com o nosso tempero, frutas e sobremesas.
“O bolo de milho, por exemplo, virou uma febre. E depois que abrimos as portas, após termos feito nossa mais incrível parceria com a Padaria Toronto, foi que os brasileiros começaram a chegar junto", disse Mari.
O café funciona de quarta a domingo, em horários variados. É possível ainda contratar a Bike Geladona para festas e eventos privados. “Acordamos realizadas todos os dias por termos construído um lugar que vai ficar marcado na memória, no coração e na boca de pessoas que amamos e tivemos a sorte de conhecer através do Geladona”, concluem.
Para mais informações e encomendas, visite o site https://www.geladona.com/
conexão entre belezas naturais e arquitetura moderna é, sem dúvida, um dos grandes atrativos da cidade de Toronto. O principal centro urbano do Canadá consegue como poucos reunir arborização, bolsões verdes, parques e reservas de água limpa com prédios ousados e marcados pelo design próprio dos centros comerciais e de desenvolvimento do mundo.
Uma excelente oportunidade de conhecer melhor essa junção entre natureza e arquitetura é realizar o passeio de barco pelo Lago Ontário. O tour é um dos principais atrativos turísticos da cidade, especialmente no verão, e proporciona uma visão privilegiada de Downtown, além de apresentar as ilhas que formam o arquipélago de Toronto.
As embarcações partem do cais no Harbourfront e o passeio é oferecido por diferentes empresas. O tempo de duração varia de 45 minutos a 1h30, com preços que vão dos 25 aos 40 CAD. As saídas obe-
decem o horário do pôr do sol e, nos períodos com dias mais longos, podem ser realizadas até às 8pm.
A gigante CN Tower
Do meio do Lago Ontário e, portanto, distante da costa, se tem uma perspectiva diferente da CN Tower que, em terra, devido à proximidade, não é possível entender. Confirmamos, no entanto, que o prédio é um gigante entre os gigantes, uma vez que, avistados de longe, obras suntuosas como a Roger Arena parecem minúsculas ao lado da CN. Nunca é demais lembrar que a torre projetada pelo arquiteto John Andrews possui 553,33 metros (1.815 pés) de altura, sendo a terceira maior do mundo. Ela é o principal cartão postal de Toronto e atrai todos os anos mais de dois milhões de visitantes.
Biodiversidade e histórias
O passeio pelo Lago Ontário também oferece um contato mais próximo com as aves marinhas que habitam a região. Toronto é o berço de diversas espécies que encontram na preservação do espaço as condições ideais para se reproduzir.
São muitos os exemplares de gaivotas, garças, mergulhões e diferentes tipos de patos que voam e nadam próximo das embarcações. Também, algumas aves de rapina, como falcões, costumam dar o ar da graça e entreter os turistas.
A experiência é ainda uma grande oportunidade para se conectar com pessoas de outras nacionalidades, uma vez que as saídas costumam reunir turistas de diferentes países. Através das explicações dos guias, é possível conhecer um pouco mais da história das ilhas que compõem o arquipélago.
Originalmente, as ilhas eram conectadas ao continente. A geografia, no entanto, mudou no século XIX, quando um
poderoso furacão desmembrou parte do terreno. Isso deu origem ao local formado pelas ilhas Hanlan's Point, Centre Island e Ward's Island. Nelas encontramos diversas atrações, como por exemplo o Farol de Gibraltar.
Sobre o Lago Ontário
Um dos cinco grandes lagos da América do Norte, o Lago Ontário, possui 18.960 km² de extensão, conectando a cidade de Toronto, no Canadá, a Rochester, nos Estados Unidos. Ao norte, limita-se com a província canadense de Ontário e ao sul, com o estado americano de Nova Iorque. É considerado o 12° maior lago do mundo.
Quando suas ilhas estão incluídas, o lago tem uma linha costeira de 1.146 km de comprimento. A sua nascente primária é o Rio Niagara, que drena as águas do lago Erie. Como acontece com todos os grandes lagos, os níveis de água mudam constantemente ao longo do ano. Estas flutuações integram a sua ecologia e ajudam a manter as extensas zonas de humidade.
Riverdale Farm
Fazenda no centro de Toronto oferece típica experiência de vida no campo
Por Saulo Miguez, LJI Reporter
Vocêsabia que no centro de Toronto existe uma fazenda aberta ao público todos os dias do ano? A Riverdale Farm está localizada no bairro de Cabbagetown e funciona de segunda a domingo, inclusive nos feriados, das 9h às 17h. A visitação é gratuita e quem tem a oportunidade de conhecer a propriedade de 7,5 acres (pouco mais de três hectares) sente o prazer de estar imerso em uma típica rotina rural.
De fácil acesso, a propriedade está situada na 201 Winchester Street. Em Riverdale são criadas vacas, porcos, ovelhas, cabras e galinhas. Além disso, a propriedade possui jardins de flores, hortaliças e ervas, bem como áreas arborizadas e lagoas. Também são oferecidos programas de artesanato e educação durante todo o ano na The Meeting House. A fazenda é acessível para cadeiras de rodas e aceita carrinhos de bebê.
Atravessar a cancela que dá acesso ao espaço significa não apenas cruzar a fronteira que separa o mundo urbano do rural, mas também realizar uma viagem no tempo. A propriedade mantém muitos elementos que remetem ao passado, a exemplo da Casa Simpson, construída em estilo vitoriano. Outra estrutura que merece atenção é o celeiro Francey. Originalmente construído em 1858 em uma fazenda no mu-
nicípio de Markham, foi doado pela Sra. Garnett Francey à cidade de Toronto, em 1977. Este celeiro é um tipo de arquitetura conhecida como celeiro de banco da Pensilvânia. O fato de ser construído ao lado de colinas ou margens de rio dá a vantagem funcional de se ter um andar superior e outro inferior, ambos com acesso a partir do nível do solo. Os animais são alojados no nível inferior, enquanto o andar superior guarda todo o feno, palha e ração necessários para o gado.
Fazenda de verdade
Por se tratar de uma fazenda real em pleno funcionamento, alguns cuidados precisam ser tomados durante a visitação. Alimentar os animais, por exemplo, é estritamente proibido. As interações diretas com o gado e demais espécies do local devem ser supervisionadas pela equipe da fazenda.
Além disso, cães ou animais de estimação de qualquer tipo (animais de serviço isentos), bicicletas, patins, patinetes, brinquedos e veículos não são permitidos
na propriedade. É fundamental ainda ter cuidado com o lixo para evitar que papéis, plásticos ou outros resíduos caiam pelo chão e possam ser ingeridos pelos animais.
Na Riverdale é possível acompanhar o trabalho da equipe que cuida da propriedade. Ao longo do dia, os técnicos realizam as atividades como alimentar os animais, higienizar as baias, plantar, adubar o jardim e operar o maquinário da fazenda. Com isso, ensinam como se dá a rotina no campo.
É possível ajudar
O espaço está aberto para receber doações financeiras de pessoas físicas e empresas. Fazer uma doação significa ajudar o Riverdale Farm Stewardship Group a aprimorar continuamente a visitação à fazenda. Tudo o que é arrecadado é destinado às melhorias de acessibilidade e programação. Doações a partir de US$10 recebem um recibo de imposto.
As contribuições podem ser online, através da Fundação de Parques e Árvores de Toronto; ou no "parquímetro" de doações da fazenda localizado fora do portão principal (dinheiro ou cartão). Também, nas caixas de doação de metal no local (somente dinheiro). Outra forma é participar dos eventos sazonais da fazenda, incluindo o Festival de Outono e o Boo Barn, entre outros. Para mais informações, visite o site Fazenda Riverdale Toronto.
Riverdale Farm está localizada no endereço: 201 Winchester St., Toronto, Ontario.
A atual dinâmica de emprego no Canadá Mercado de trabalho
O mercado de trabalho canadense entrou em um período turbulento. Em julho de 2025, o país perdeu 41 mil postos de trabalho — a queda mais acentuada em três anos, segundo o Statistics Canada. Apesar desse revés, a taxa de desemprego manteve-se estável em 6,9%, um dado que revela tanto resiliência quanto fragilidade na economia.
Por Rosemary Baptista, LJI Reporter
Adaptação Wave Team (do original em inglês)
Fatores
complexos moldam o cenário de emprego no Canadá — do crescimento populacional ao desemprego juvenil, das disputas comerciais globais às dificuldades enfrentadas por comunidades vulneráveis. Diante desses desafios, o Employment Ontario e a Fedcap Canada têm atuado para garantir que quem procura trabalho, especialmente aqueles que enfrentam barreiras, continue encontrando caminhos para um emprego significativo.
Quatro forças influenciam a dinâmica do emprego no país:
A primeira é a oferta de mão de obra. A população canadense cresceu rapidamente nos últimos anos, impulsionada pela imigração e pelo crescimento natural. Esse aumento elevou o número de candidatos em busca de colocação, pressionando ainda mais um mercado já com poucas vagas disponíveis.
A segunda diz respeito aos desafios de mercado. Se por um lado as vagas de emprego seguem abaixo dos níveis pré -pandemia, por outro, existe a dificuldade
dos empregadores preencherem posições com trabalhadores com o perfil desejado. Esse descompasso tem criado gargalos em setores como a construção e os serviços, afetando o crescimento econômico.
O terceiro fator é o desemprego juvenil. Recém-formados e jovens trabalhadores enfrentam dificuldades maiores para conseguir posições. A taxa de emprego entre jovens de 15 a 24 anos caiu para 53,6% neste verão — o nível mais baixo desde novembro de 1998, excetuando o período da COVID-19. Para muitos, conquistar um emprego de verão, antes considerado um rito de passagem, tornou-se quase impossível.
Por fim, há a desaceleração econômica. A incerteza global, o crescimento econômico mais lento e as disputas comerciais — em especial com os Estados Unidos — têm pesado sobre a criação de empregos. Novos imigrantes e jovens são os mais afetados nesse cenário.
“O mal-estar que temos observado no mercado de trabalho canadense nos últimos anos se estendeu pelo verão”, afirmou Brendon Bernard, economista sênior do site de empregos Indeed. Suas palavras ecoam a experiência de muitos candidatos: um mercado que parece lento, até estagnado, apesar de pequenos avanços nos salários.
Perdas de postos e setores em dificuldade
O relatório de julho do Statistics Canada mostrou que os maiores cortes ocorreram no setor de informação, cultura e recreação, seguido pela construção civil. A maior parte da queda aconteceu no setor privado, destacando as dificuldades enfrentadas por empresas de diversos ramos.
Ainda assim, alguns pontos foram positivos. O setor de transporte e armazenamento gerou 26 mil novos empregos em julho, compensando parcialmente as perdas. Os salários também registraram alta, com crescimento anual de 3,3% entre junho e julho. Leslie Preston, economista sênior do TD Bank, lembrou que, embora a pesquisa apresente oscilações mensais, a taxa de desemprego continua sendo “o principal indicador a acompanhar”.
As tarifas dos EUA
Somando-se às dificuldades internas estão as crescentes tensões comerciais com os Estados Unidos. Estima-se que as tarifas americanas sobre produtos canadenses devem custar a Ontário mais de 68 mil empregos apenas em 2025, podendo chegar a 138 mil em 2029.
Para os recém-chegados, as implicações são particularmente sérias. O aumento das tarifas afeta não apenas o
comércio, mas também as políticas de imigração e a estabilidade no trabalho. Relações mais tensas podem levar a uma ênfase maior na atração de imigrantes qualificados para suprir lacunas internas, ao mesmo tempo em que limitam oportunidades em setores dependentes de exportação.
Os impactos, porém, não são homogêneos. Para alguns, as tarifas podem fechar portas; para outros, podem estimular inovação e novas frentes de crescimento. O certo é que os candidatos a emprego — especialmente os imigrantes — precisam enfrentar um mercado cada vez mais condicionado por fatores externos.
mudançaPerspectivas: de forças
Apesar dos obstáculos, as projeções indicam possíveis melhorias no horizonte. Com os limites federais de imigração previstos para reduzir o ritmo do crescimento populacional, a competição por empregos deve diminuir. Essa mudança demográfica poderá dar mais poder de negociação aos trabalhadores.
Economistas preveem que a taxa de desemprego pode cair para 6,2% em 2026 e 5,8% em 2027. Já os salários devem crescer de forma mais acelerada,
à medida que empregadores disputam uma base menor de talentos.
Ainda assim, a recuperação será desigual, e muitos candidatos — sobretudo aqueles que enfrentam barreiras sistêmicas — precisarão de apoio para acessar as oportunidades do futuro.
Fedcap Canada Um farol de apoio
Em meio às turbulências, organizações como o Employment Ontario e a Fedcap Canada oferecem esperança. A Fedcap Canada, braço do grupo internacional Fedcap, atua especialmente com pessoas que enfrentam barreiras no acesso ao trabalho. Entre os beneficiados estão imigrantes, pessoas com deficiência, populações marginalizadas, membros da comunidade LGBTQ+, veteranos, trabalhadores mais velhos, pessoas com transtornos de saúde mental ou em recuperação de dependência, além de indivíduos em conflito com a lei.
As origens da Fedcap remontam à Grande Depressão. Em 1935, três veteranos da Primeira Guerra Mundial, feridos em combate, decidiram ajudar aqueles que estavam à margem da sociedade, criando uma organização voltada à inclusão no mercado de trabalho. A visão
Imagem ilustrativa (Fonte: site FedCap Canada)
era clara: o emprego não é apenas sobre salário, mas também sobre dignidade, estabilidade e oportunidade.
Hoje, a missão da Fedcap permanece ancorada no conceito de “poder do possível”. A organização conecta candidatos a empregadores, oferece capacitação e programas de desenvolvimento de habilidades, e busca criar resultados sustentáveis que transformam vidas e fortalecem famílias.
Um olhar humano
O diferencial da Fedcap está em sua abordagem personalizada. Os candidatos não são tratados como estatísticas, mas como indivíduos com talentos, desafios e aspirações únicos. Seja apoiando um imigrante na adaptação à cultura de trabalho canadense, ajudando um veterano a fazer a transição para a vida civil ou oferecendo oportunidades a um jovem que deixa o sistema de acolhimento, a Fedcap constrói estratégias adaptadas a cada caso.
Essa abordagem centrada no ser humano gera efeitos que vão além do indivíduo. Ao promover empregos significativos, a Fedcap fortalece famílias, reduz a dependência de assistência social e contribui para comunidades mais resilientes. Os empregadores também se
beneficiam, ao terem acesso a candidatos motivados e diversos, muitas vezes ignorados pelo mercado.
Resiliência em meio à incerteza
O mercado de trabalho canadense em 2025 reflete um país em encruzilhada. As perdas de empregos, o desemprego juvenil e as tensões comerciais internacionais representam desafios reais. Ainda assim, há sinais de resiliência. Organizações como o Employment Ontario e a Fedcap Canada mostram que, mesmo em tempos difíceis, existem caminhos para a inclusão.
Ao enfrentar barreiras sistêmicas e priorizar a diversidade, essas instituições reforçam que emprego não significa apenas ocupar uma vaga — trata-se de construir futuros. Para os milhares de canadenses em busca de colocação em uma economia em transformação, esse apoio representa não apenas uma rede de segurança, mas também um trampolim para estabilidade e sucesso.
Para saber mais sobre a Fedcap Canada e encontrar uma unidade próxima, acesse: www.fedcapcanada.org
Imagem ilustrativa (Fonte: site FedCap Canada)
Guacamole à brasileira
Com pimenta-de-cheiro
Para
Por Redação Wave
muitos brasileiros, o abacate evoca memórias de infância, com a fruta cremosa sendo batida com leite e açúcar para virar uma vitamina ou sobremesa. No entanto, vivendo no Canadá, a crescente influência da culinária latina nos apresentou o guacamole, um molho mexicano que nos desafiou a redescobrir o abacate em sua versão salgada.
A receita tradicional, símbolo da rica herança gastronômica latino-americana – especialmente a mexicana – pode ser adaptada ao paladar brasileiro. Ingredientes familiares como cebolinha, salsa e pimenta-de-cheiro, se integram ao coentro, criando uma versão que preserva raízes e é acolhida com naturalidade pelo nosso paladar.
E para acompanhar essa delícia? Além da tradicional "tortilha" de milho, uma caipirinha bem brasileira é uma excelente pedida. Que tal oferecer guacamole no jantar de Thanksgiving? Os ingredientes podem ser facilmente encontrados em mercadinhos brasileiros ou latinos. E, para quem está em Ontário, uma dica útil: a cachaça pode ser encontrada nas grandes lojas da LCBO.
Ingredientes
• 2 abacates maduros
• 1 tomate picado, sem sementes
• ½ cebola roxa bem picadinha
• 1/2 molho de cheiro verde: coentro, salsa e cebolinha picados
• 1/2 copo de pimentas-de-cheiro picadas
• Suco de ½ limão
• Sal a gosto
Modo de preparo
1. Amasse os abacates com um garfo, em uma tigela, deixando alguns pedaços para dar textura.
2. Adicione o tomate, a cebola roxa, o coentro, a cebolinha e a pimenta-de cheiro. Misture bem.
3. Acrescente o suco de limão e tempere com sal.
4. Sirva imediatamente acompanhado de tortilhas de milho.