Brasil de Fato - SP : Especial Eleições 2018

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MULHERES NA LINHA DE FRENTE: ATOS POR TODO O BRASIL E NO EXTERIOR MARCAM RESISTÊNCIA CONTRA CANDIDATURA DE BOLSONARO

Foto: Gibran Mendes

REJEIÇÃO DE JOÃO DÓRIA CRESCE, SEGUNDO ÚLTIMA PESQUISA IBOPE, E AMEAÇA FIM DA HEGEMONIA TUCANA NO ESTADO PÁG 7

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Especial Eleições 2018 - nº 2 São Paulo, 3 de outubro, 2018 brasildefato.com.br

SP À DERIVA COM POUCO DEBATE DA CENA ESTADUAL NA MÍDIA, ELEITORES SEGUEM INDECISOS SOBRE A DIREÇÃO DOS VENTOS PAULISTAS NA ELEIÇÃO ENTREVISTA: LUIZ MARINHO (PT) REFORÇA DENÚNCIA DE DESMONTE DOS SERVIÇOS PÚBLICOS NO ESTADO PROMOVIDO PELO PSDB E PROPÕE ALTERNATIVAS PÁG 4

PALANQUE ELEITORAL DE SKAF (MDB), SISTEMA S SUSTENTA ENTIDADES PATRONAIS COM REPASSES PÚBLICOS E POUCA TRANSPARÊNCIA PÁG 6


2 EDITORIAL

ESPECIAL ELEIÇÕES 2018 - Nº2 - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

NEM TODOS OS ELEITORES DO “MITO” TÊM CLAREZA DO QUE ESTÁ NO PACOTE Novamente o Brasil se divide entre dois projetos de país. Pesquisas não são favas contadas, mas apontam tendências e facilitam a leitura do momento. Ao que tudo indica, teremos para a eleição presidencial um clássico bastante conhecido no Brasil: esquerda contra direita; com o agravante da campanha da direita representar a extrema direita, com elementos graves para uma sociedade democrática. De um lado, a candidatura que representa a extrema direita capitaneada pelo economista Paulo Guedes, um economista ultraliberal que prega menor regulação do mercado de trabalho e privatização total de diversos

setores o mais rápido possível. Ao se associar a Guedes, a candidatura passou a ser melhor vista pelo setor financeiro (bancos) e grandes empresários, que passam a ter uma expectativa de aumento do lucro com redução salarial, fim da previdência entre outros cortes de direto. Além disso, a candidatura extremista propôs também mudança na tabela de imposto de renda que faz com que maiores salários passem a pagar menos do que pagam hoje, e que os menores salários passariam a pagar mais. De outro lado, há alternativas com proposta de retomada da economia radicalmente diferentes. Retomada dos investimentos

públicos para fazer girar a economia, fortalecimento das empresas estatais, fortalecimento do salário mínimo, reforma tributária mais progressiva, entre outras medidas que apontam para uma maior atuação do Estado como indutor da economia. Pesquisas mostram que os brasileiros, na sua grande maioria, são contrários as privatizações e acreditam na capacidade de medidas governamentais melhorarem a economia e gerar emprego e renda. O que explica então a grande intenção de votos na candidatura da (extrema) direita? Alguns analistas apontam como motivos: linguajar mais

direto e respostas simplistas para problemas complexos (mesmo que sem nenhuma base em estudos) como por exemplo: “a solução para a violência é o porte individual de armas”. Outra possível explicação é o discurso moral. As pesquisas apontam também que o brasileiro é conservador em temas como aborto, relacionamentos homoafetivos, legalização de drogas entre outros. Esse discurso é encampado pela candidatura da direita de forma agressiva e até mesmo violenta. Logo, podemos afirmar que hoje o brasileiro médio se divide entre uma pauta econômica coerente e uma pauta moral.

EXPEDIENTE

Escolher a pauta moral traz no pacote a receita da direita que é afinada com os grandes empresários e banqueiros, e que já provou não funcionar; haja visto que esse remédio amargo para a crise foi aplicado por Temer sem nenhum sucesso – temos quase 14 milhões de desempregados, e os poucos empregos criados tem sido mais precários e com menores salários, além do fechamento de indústrias e redução da proteção social. O dilema está colocado, cabe ao eleitor brasileiro escolher a saída. Essa publicação ajuda a colocar luz onde há sombras no debate, aproveite a leitura e vote consciente.

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ESPECIAL ELEIÇÕES 2018 - Nº2 - WWW.BRASILDEFATO.COM.BR

Contra atrasos de Bolsonaro, mulheres estão na linha de frente

Por Claudia Rocha

Candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) é condenado por incitação ao estupro pelo Supremo Tribunal Federal em episódio envolvendo ameaças à deputada Maria do Rosário; na mesma corte, foi denunciado pelo crime de racismo. Não só as mulheres e os negros são alvos do deputado, Bolsonaro também já afirmou publicamente que preferia ter um filho morto, caso ele revelasse ser gay. As recentes declarações do exmilitar são consideradas por seus apoiadores como “frases polêmicas”, mas não para 46% dos eleitores – de acordo com última pesquisa Ibope, o número representa as pessoas que não votariam nele de jeito nenhum. A rejeição de Bolsonaro nas pesquisas cresceu ao longo da última semana no bojo das manifestações puxadas pelas mulheres nas redes sociais contra o candidato. O grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro”, que soma mais de 3 milhões de perfis, deu início a movimentação que agora está também nas ruas de todo o país. No sábado (29), em todas as capitais e em diversas outras cidades, mulheres e homens participam de grandes atos que tem como bandeira principal a palavra

de ordem “Ele não”, como forma de alerta para a ameaça de eleger pautas que pregam o ódio. Para a ativista da Marcha Mundial de Mulheres, Maria Júlia Monteiro a vitória de Bolsonaro seria uma vitória para o fascismo. “Ele representa um retrocesso no sentido de justificar a inferiorização e a desumanização das mulheres”, opina a militante. Na coleção de declarações em que o candidato coloca as mulheres degraus abaixo dos homens, há a exposição da ideia de que, no mercado de trabalho, as mulheres devem ganhar menos, mesmo ocupando o mesmo cargo. De acordo com última pesquisa do IBGE, o desemprego é maior entre as mulheres. Dos 13 milhões de brasileiros que buscam se recolocar no mercado, quase 7 milhões são mulheres. “Não é só uma questão cultural. As propostas econômicas do candidato impactam diretamente na vida das mulheres, as mudanças no imposto de renda, as reformas trabalhista e da previdência, nós já estamos nas posições mais precarizadas”, aponta a integrante da Marcha Mundial de Mulheres. Para Maria Júlia Monteiro “o golpe foi muito duro para as mulheres

em duas vias: na questão econômica porque a maioria das famílias no Brasil é chefiada por mulheres e no aspecto da violência contra a mulher e no controle do corpo. As mulheres sofrem este processo de uma forma muito bruta, não à toa estamos na linha de frente”. Em 27 anos de atuação na Câmara, Bolsonaro teve uma atuação

“Não é só uma questão cultural. As propostas econômicas do candidato impactam diretamente na vida das mulheres, as mudanças no imposto de renda, as reformas trabalhista e da previdência, nós já estamos nas posições mais precarizadas”, aponta a integrante da Marcha Mundial de Mulheres.

inexpressiva, com boa parte das propostas relacionadas apenas às questões ligadas ao militarismo e só dois projetos aprovados. Sob a ótica das mulheres, o candidato Jair Bolsonaro é um dos 13 autores do absurdo projeto de lei 6055 de 2013, que visa restringir o acesso aos hospitais para as vítimas de violência sexual. “O que está em jogo é a nossa segurança porque ele dissemina um discurso que normaliza a violência contra as mulheres, a inferioridade das mulheres, e com isso os homens se sentem muito mais confortáveis em bater e xingar mulheres na rua, a interferência é direta no nosso cotidiano”, comenta Maria Júlia Monteiro.

O RECADO DO ÓDIO

Na semana passada, em evento intitulado “Marcha pela família” em apoio à campanha de Bolsonaro no Recife (PE), um música com palavras de ordem que pregam o ódio chamou a atenção; a letra diz: “Dou para CUT pão com mortadela e para as feministas, ração na tigela. As mina de direita são as top, mais belas, enquanto as de esquerda têm mais pelos que as cadelas”.

Para a Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados (OAB), o conteúdo é “estarrecedor”. A entidade divulgou nota de repúdio ao movimento afirmando que “trechos da música reduzem as mulheres à condição análoga de seres irracionais e incitam o ódio, a violência e o preconceito contra aquelas que se reconhecem feministas e/ou que têm orientação política diversa do aludido candidato”. Com forte atuação nas redes sociais, apoiadores de Bolsonaro invadiram o grupo no Facebook “Mulheres unidas contra Bolsonaro” que teve as administradoras expulsas como forma de represália. As consequências da organização feminina contra o ex-militar não ficaram limitadas ao ambiente virtual. No Rio de Janeiro, Maria Tuca Santiago, uma das organizadoras, foi agredida com socos e coronhadas por três homens armados que também furtaram seu celular e fugiram do local em um táxi que os aguardava no momento do ataque. Ela foi atendida em um hospital municipal da Ilha do Governador e prestou queixa na delegacia contra os agressores.

Foto: Rovena Rosa - Agência Brasil

Declarações contra mulheres, negros e LGBTs encontram resistência no movimento de mulheres que organizam atos de repúdio e fazem crescer a rejeição do candidato nas pesquisas


4 ENTREVISTA

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COLOCO MINHA BIOGRAFIA À DISPOSIÇÃO DOS PAULISTAS” afirma Marinho

Por Claudia Rocha

Ministro do Trabalho no governo Lula e prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho conversou com o Brasil de Fato SP sobre os efeitos das privatizações em mais de duas décadas de gestão PSDB no estado de São Paulo Por: Claudia Rocha Fotos: Marcelo Aguilar

Você tem origem no movimento sindical, os sindicatos fazem grande enfrentamento à gestão do PSDB e ao que eles chamam de “desmonte”, você concorda com essa visão de que o PSDB desmontou os serviços públicos em mais de duas décadas em São Paulo? Podemos colocar até no bojo do golpe, mas, no estado de São Paulo é sim mais estruturante

o desmonte porque ele vem de quase três décadas de governo do PSDB desestruturando o patrimônio público e entregando para a iniciativa privada, muitas vezes a preço de banana. Aconteceu especialmente no setor elétrico, mas não somente. Eles foram dificultando a estrutura das políticas públicas em áreas como saúde e educação, degradando para, gradativamente, a iniciativa privada ir assumindo serviços que são essenciais para a grande massa do povo paulista. Isso é visível também no setor de

transportes. Sempre em conluio com os compadres de sempre. É muito sério esse desmonte do estado. No setor do saneamento, por exemplo, a Sabesp é uma empresa do estado, mas com ações na bolsa. O estado já não tem a maioria das ações, tem o controle acionário, porém quem determina, pelo menos ao meu ver, o conceito de gestão da Sabesp não é o estado; o que justifica uma empresa pública pagar lucros e dividendos na Bolsa de Nova York enquanto sua função fim não está sendo executada? Vivemos crises hídricas graves, o desperdício da rede da Sabesp é de 31%; a noite a Sabesp diminui a pressão porque se manter a mesma pressão do dia estoura toda a rede que está altamente precária, então precisa de modernização, de investimento. Ao

mesmo tempo em que não se faz investimento, são pagos lucros e dividendos na Bolsa todo ano para os acionistas. Fica claro qual é a visão dessa turma que governa o estado há 24 anos. O seu programa de governo cita a palavra “oportunidades”, você tem falado também sobre a criação de um banco de crédito para pequenas empresas, como você avalia o reaquecimento da economia de São Paulo? Aqui nós temos a industrialização forte, as economias locais no interior. Temos que olhar para as duas pontas. Primeiro, o que o estado pode fazer diretamente com seu o orçamento, nós precisamos mudar a lógica do orçamento e aumentar a participação nas

políticas para as áreas de esporte e cultura, o que pode gerar cerca de 900 mil novos empregos no estado de São Paulo, com uma conexão com a educação, dessa forma trazemos também os jovens que estão fora da escola. Na outra ponta, temos que criar condições para as pequenas empresas, o microempreendedor, aquele jovem que montou uma bela tese que pode virar uma startup tecnológica, o próprio estado pode comprar essa tecnologia e ofertar para as pequenas empresas, modernizar o parque industrial de baixo para cima. Precisamos nos preocupar com esses geradores de empregos porque a pequena empresa, os microempreendedores e os pequenos comércios são os que geram emprego para valer no Brasil. A grande empresa gera,


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mas a proporção de investimento para gerar um emprego na grande é muito diferente. Temos que criar condições de crédito para os pequenos para gerar emprego em massa no estado, as grandes empresas já têm BNDES, possibilidade de captação internacional, recursos próprios. Precisamos estimular as cooperativas de crédito, as cooperativas de produção por meio da economia solidária, os pequenos produtores rurais para distribuição dos produtos. Dentro da alçada do governo do estado, está a segurança pública que é sempre um tema de destaque porque a população tem a sensação de insegurança e também porque foi aqui em São Paulo que surgiu a facção que já está espalhada pelo Brasil. Recentemente, foram lançados diversos livros relatando o crescimento da organização ao longo da gestão tucana, como você avalia este cenário?

cidades, independente se ela tem olhos azuis ou a pele negra. Além disso, é necessário montar uma força-tarefa onde o governador comande junto com as polícias, Ministério Público, judiciário e sociedade civil organizada para, de fato, construir um enfrentamento ao crime. Na outra ponta, para interceptar e interromper o fornecimento de mão de obra para o crime organizado é preciso combinar educação, esporte, cultura, novas tecnologias e geração de empregos, de oportunidades. Se o jovem tem a oportunidade do emprego, ele não vai permitir a abordagem para virar um trabalhador do crime. O estado de São Paulo é taxado como conservador politicamente. Como você avalia o paulista, você acredita que é um povo mais conservador? Não podemos acusar a população de ser tão conservadora assim, afinal de contas já elegemos

Qual é o recado que você pretende deixar para os eleitores? As mudanças possíveis passam pela política, então aquela definição de que ‘são todos iguais, não dá para votar em ninguém’ não corresponde com a verdade. Não são todos iguais, é só olhar para o histórico de cada um e não para o que está sendo dito em momento de campanha. É preciso observar se o que o candidato está dizendo na televisão corresponde com as ações dele ao longo da vida. Eu puxei enxada na infância no interior, quando cheguei em São Paulo lutei por serviços básicos no meu bairro, lutei por melhores condições na fábrica em que trabalhei, fui dirigente sindical e participei do governo Lula, como Ministro do Trabalho, gerando empregos. Essa é a minha biografia que coloco a disposição dos paulistas, os meus adversários têm experiência em quê? Na geração de empregos ao longo de suas vidas ou na pre-

ocupação com o lucro de suas empresas? Essa comparação que as pessoas precisam fazer. Os meus três principais adversários apoiaram o golpe que deixou os brasileiros sem empregos e agora eles estão falando em criação de emprego no horário eleitoral.” “Os meus adversários têm experiência em quê? Na gera-

ção de empregos ao longo de suas vidas ou na preocupação com o lucro de suas empresas? Essa comparação que as pessoas precisam fazer. Os meus três principais adversários apoiaram o golpe que deixou os brasileiros sem empregos e agora eles estão falando em criação de emprego no horário eleitoral.”

Os meus adversários têm experiência em quê? Na geração de empregos ao longo de suas vidas ou na preocupação com o lucro de suas empresas? Essa comparação que as pessoas precisam fa zer. Os meus três principais adversários apoiaram o golpe que deixou os brasileiros sem empregos e agora eles estão falando em criação de emprego no horário eleitoral.” ‘Made in PSDB’, produto de exportação. Na verdade, é um crime contra a juventude essa aberração de reduzir os investimentos na educação, na cultura e no esporte e aumentar na construção de presídios espalhados pelo estado inteiro, junto levaram o crime organizado e a criminalidade. Para falar desse tema, é preciso fazer a conexão com educação, esporte e cultura, não há solução olhando somente para as polícias. Evidente que é preciso falar sobre a revitalização da polícia, especialmente a polícia civil que foi desmontada pelo PSDB. Se permitem que o crime faça o que faz, para que investigação, não é? Por que investir em inteligência? Foi entregue a gestão das penitenciárias. Precisamos fortalecer as polícias em dois aspectos. As corporações, os salários, a estrutura psicológica; mais de 80% dos policiais militares estão pendurados no crédito consignado, tem que ter uma política para dar uma condição decente para que ele esteja equilibrado para atuar lá na ponta na proteção das pessoas independente de qual território ela viva, nas periferias ou nos centros das

uma paraibana como prefeita de São Paulo, a capital também já elegeu um carioca negro para ser prefeito, o que poderia ser colocado como contraditório para o perfil dito como conservador. Nós já governamos três vezes a cidade de São Paulo. E o povo paulista já nos deu várias cidades também no ABC, na região metropolitana e no interior. Aqui a mídia paulista é nacional, ela não discute o estado ao longo do tempo, mas na hora da disputa ela joga pesado para não tirar o poder de quem governou desde sempre. Foi o que aconteceu em 98, a mídia e o instituto de pesquisa tiraram o PT do segundo turno e enfiaram goela abaixo o Mário Covas porque nós ganharíamos do Maluf. Em 2002 demos trabalho, em 2010 faltaram 69 mil votos para o PT estar no segundo turno. Agora, 2018 pode ser uma oportunidade. A partir dessa semana é que vai se dar a grande definição do eleitorado paulista. Nossas pesquisas apontam muitos indecisos ainda. Você sabe que o PT é muito bom de chegada. Aqui o jogo é pesado, usam de tudo, inclusive manipulação de pesquisa. Os números reais são outros. Pode acontecer qualquer resultado.


6 ESPECIAL

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Do site do Brasil de Fato

Sistema S mantém entidades patronais com repasses de verba e pouca transparência

Foto: Lula Marques - Agência PT

Federações recebem recursos para administrar entidades que já são financiadas com impostos; transações são fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União

Pouco mais de um ano após de vigência da reforma trabalhista, o fim do imposto sindical obrigatório desestruturou as finanças dos sindicatos, organizações de trabalhadores. As entidades patronais, por outro lado, ganharam reforços de recursos por meio do chamado “Sistema S” – conjunto de organizações que inclui Senai, Sesc, Sesi e Sebrae, que são mantidas com contribuições recolhidas da folha de pagamento das empresas. Em fevereiro, um decreto assinado pelo presidente golpista Michel Temer (MDB) obrigou a reserva dos recursos da qualificação dos trabalhadores rurais pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) para as entidades patronais do setor agrícola: 5% para o financiamento

da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outros 5% para as federações estaduais. A Senar integra o Sistema S. Esse modelo de transferência segue o que já existe em outros setores, como indústria e comércio. Hoje, o Sistema S é a principal fonte de recursos das entidades patronais. De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), a soma das receitas diretas e indiretas das 11 organizações do Sistema S ultrapassou mais de R$ 24 bilhões em 2017. Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, as confederações nacionais e federações regionais de indústria e comércio receberam em 2016 quase R$ 1 bilhão em repasse público do Sistema S para administração das entidades. O professor de Finanças da

De acordo com o Tribunal de Contas da União (TCU), a soma das receitas diretas e indiretas das 11 organizações do Sistema S ultrapassou mais de R$ 24 bilhões em 2017. Segundo levantamento do jornal Valor Econômico, as confederações nacionais e federações regionais de indústria e comércio receberam em 2016 quase R$ 1 bilhão em repasse público do Sistema S para administração das entidades.

O ex-ministro da Indústria, Marcos Pereira (PRB), investigado pelo Lava-Jato (a direita) e o presidente da Fiesp e candidato ao governo Paulo Skaf (MDB).

Fundação Getúlio Vargas (FGV) Arthur Ridolfo Neto pondera a importância dos cursos profissionais e atividades oferecidos pelas entidades do Sistema S, mas também afirma que há falta de monitoramento das verbas. “O que se questiona é quanto está sendo utilizado efetivamente nos programas e quanto está sendo utilizado nesta administração do sistema”, diz. Em 2016, o valor de recursos parados no caixa do Sesc, Senac, Sesi, Senai e Sebrae era de mais de R$ 17 bilhões. O professor da FGV questiona a necessidade de reserva financeira. “Qual razão de uma entidade dessas captar recursos compulsórios das empresas e parte desses recursos ficar em uma conta de reserva financeira? Alguém comprovou a necessidade? É estranho porque eles têm fluxo constante de recursos, que é compulsória. A aplicação financeira não é o objetivo final da entidade, que seria o ensino e formação profissional.”

PALANQUE POLÍTICO

O jornal Folha de S. Paulo publicou que pelo menos dez comandantes de federações estão licenciados em todo o país para se candidatar nas eleições de outubro deste ano. Este é o caso de Paulo Skaf (MDB), presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que concorre ao cargo de governador em São Paulo. Ele está à frente da federação desde 2004, há 14 anos. O representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no Conselho Nacional do Senai, José Roberto Nogueira da Silva, afirma que o Sistema tem que cumprir um papel social. “É um dinheiro que a gente tem que saber onde está sendo colocado e se, de fato, está atingindo os objetivos estabelecidos quando nasceu o Sistema S”, diz. “A sociedade enxerga isso como uma grande ferramenta para treinar jovens. Então, é essa fiscalização que a gente tem que ter, sem dúvidas, de onde está sendo empregado esse dinheiro.”, afirma. O Tribunal de Contas da União verifica, por meio de uma auditoria, dados das entidades do Sistema S, como balanços patrimoniais e receitas arrecadadas, desde setembro do ano passado. “Potenciais desvios ou má aplicação de recursos impactam negativamente na atuação finalística desses entes”, diz o acórdão do TCU que autorizou a auditoria. O pedido de investigação foi feito pelo Congresso Nacional. As organizações estão sujeitas à fiscalização do órgão por arrecadarem e gerenciarem recursos públicos.


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Rejeição de Dória cresce e ameaça domínio tucano em SP

Por Rute Pina, do site do Brasil de Fato

Reduto tucano há mais de duas décadas, o estado de São Paulo tem, novamente, o PSDB em destaque na disputa eleitoral, de acordo com as pesquisas de intenção de voto. No entanto, o alto índice de rejeição a João Dória pode quebrar o monopólio do partido. A avaliação é do pesquisador do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), Rafael Moreira. “Ele [Dória] tem ten-

tado levar adiante um trabalho de marketing mais para o interior de São Paulo, na tentativa de contornar essa rejeição que ele tem na capital. Pela primeira vez, essa hegemonia do PSDB está ameaçada”, diz. O candidato abandonou a prefeitura da capital paulista apenas 15 meses após o início da gestão. Dória e Paulo Skaf (MDB), presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), estão tecnicamente empatados em primeiro lugar, segundo a pesquisa mais recente feita pelo Ibope, divulgada na última quarta-feira (26). Ambos candidatos de direita, Skaf aparece com 24% e Dória com 22%. A rejeição ao tucano é 33% do eleitorado, enquanto a do emedebista, de 19%. Skaf foi um dos articuladores do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e grande articulador da aprovação da reforma trabalhista, que retirou direitos dos trabalhadores em 2017. Sem alternância de poder, o PSDB

A sensação que se tem é que acontece uma certa blindagem no partido aqui no estado de São Paulo por alguns setores da imprensa”, comenta o pesquisador da USP, Rafael Moreira.

elege governadores no estado ininterruptamente desde a eleição de Mário Covas, que assumiu em 1995. Moreira afirma que, mesmo com o desgaste político sofrido por todos os partidos no último período, o PSDB permaneceu forte no estado por conta do forte aparato herdado das últimas duas décadas. Um fator que beneficia o partido e diminui a perda de eleitores, na opinião do pesquisador, é a falta de cobertura de casos de corrupção envolvendo o PSDB, sejam eles nacionais ou estaduais. “A sensação que se tem é que acontece uma certa blindagem no partido aqui no estado de São Paulo por alguns setores da imprensa”, comenta o pesquisador da USP, Rafael Moreira. O pesquisador afirma ainda que a candidatura de Márcio França (PSB), que aglutinou em sua base partidos da base dos tucanos, também pode ter efeito negativo para o PSDB. Sua coligação, São Paulo Confia e Avança, é composta

por 15 partidos. Atual governador, França tenta a reeleição após assumir o governo do estado quando Alckmin deixou o cargo para concorrer à presidência. O candidato do PSB tenta se afastar da imagem de Alckmin. No entanto, o programa de governo repete iniciativas da gestão tucana. Para a socióloga Marisol Recaman, diretora da Oma Pesquisa, o PSDB já começa a dar sinais de fraqueza no estado. Segundo ela, um dos fatores que mais colabora com a perda de prestígio do partido está a rejeição ao governo de Geraldo Alckmin que, segundo o Datafolha, saiu do cargo com apenas 36% de avaliações positivas. “Se não é a menor da história dele é uma das menores taxas de aprovação. Isso também colaborou para diminuir a grande preferência que o PSDB e seus políticos tinham aqui no estado. Ele continua sendo uma liderança, mas hoje é mais fraco do que já foi”, pondera Recaman.

Foto: @Jdoriajr - Fotos Públicas

Com 33% de eleitores que responderam não votar no candidato de jeito nenhum na última pesquisa Ibope, ex-prefeito encontra dificuldades principalmente entre os paulistanos


Foto: César Itiberê

Ao apagar das luzes, mais tentativa de golpe contra os trabalhadores

CÊ VIU?

Em almoço promovido pela Câmara de Comércio dos Estados Unidos, Michel Temer (MDB) afirmou que quer aprovar a Reforma da Previdência no Congresso Nacional logo após as eleições de outubro. O próprio cita o desconforto e a dificuldade de aprovação ao longo do ano “Quando se busca fazer uma reforma da Previdência, normalmente há uma dificuldade de natureza eleitoral. Quem está habilitado a disputar eleições tem dificuldade para tratar desse tema. Passadas as eleições, esta preocupação desaparecerá,” disse. É mole?

RESUMO DA QUINZENA

Foto: José Cruz - Agência Brasil

Eleitores sem voto O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu manter sem possibilidade de votar mais de 3 milhões de eleitores que estão com os títulos cancelados por falta de biometria. O PSB entrou com uma ação pedindo revisão da situação alegando que muitos destes eleitores residem em distritos pobres e que com a medida é quebrada a soberania popular exercida pelo voto. Mais de 800 cidades em 17 unidades da Federação tiveram que realizar a revisão biométrica no último ano.

A defesa da candidata a vice-presidente Manuela D’Ávila (PCdoB) entrou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que sua segurança seja reforçada por agentes da Polícia Federal. O pedido foi feito após apoiadores do candidato Jair Bolsonaro espalharam pelas redes sociais um boato associando Manuela ao agressor de Bolsonaro, Adélio Bispo de Oliveira, que o atingiu com uma facada recentemente. Por conta disso, a vice na chapa de Fernando Haddad (PT) recebeu mensagens de ameaças informando que ela deve “ter cuidado” nas próximas atividades de campanha.

Foto: Fabio Pozzeboom - Agência Brasil

FAKE NEWS E PERIGO REAL

“Filho de defensor da ditadura, defensor de tortura é” Vereador no Rio de Janeiro e filho do candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), Carlos Bolsonaro postou uma foto em sua rede social que mostra um rapaz com o rosto ensanguentado sendo sufocado por uma sacola plástica, em uma clara demonstração de tortura. O jovem carrega a hashtag #EleNão pintada em seu peito, em menção à campanha em repúdio ao candidato do PSL. Em reação à postagem, o deputado federal Jean Whyllys entrou com representação no Ministério Público pedindo apuração de apologia à tortura e suspeita de crime de ameaça.


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