Ano 2 • Número 98
R$ 2,00 São Paulo • De 13 a 19 de janeiro de 2005
Reforma agrária avança, na Venezuela Dado Galdieri/AP/AE
Em nova etapa da revolução bolivariana, Chávez inicia mapeamento de terras e demite ministro ligado a latifundiários
Em El Alto, indígenas bolivianos bloqueiam estrada durante o segundo dia de greve contra política econômica do governo e transnacional francesa
Fraudes correm soltas no Brasil
Na Bolívia, protestos contra governo
escândalos quando não dão certo – casos Banestado e Banco Santos. Tais esquemas, na aparência, são legais, mas só vêm a público quando o prejuízo tem de ser pago pelos incautos. Isso num país em que a participação dos salá-
rios na renda caiu de quase 57% em 1949, para menos de 40% em 2003, e a do lucro das empresas e bancos, e dos rendimentos no mercado financeiro saltou de 43% para 60%. Pág. 7
Rafael Bavaresco
Em El Alto e Santa Cruz, indígenas e camponeses iniciaram, dia 10, uma onda de manifestações pela expulsão da concessionária francesa Aguas del Illimani. Os manifestantes também vão às ruas contra o aumento dos combustíveis, decidido pelo presidente Carlos Mesa. O líder cocaleiro Evo Morales afirmou que o presidente deve definir, publicamente, se está com o império dos Estados Unidos ou com o povo. Pág. 9
O noticiário dos negócios financeiros começa nas páginas de economia e, freqüentemente, acaba nas policiais. Natural, já que decisões de governo acobertam roubalheiras em série. Em geral, grandes armações só viram
A
reforma agrária é uma das prioridades da nova etapa da revolução bolivariana. O presidente Hugo Chávez assinou, dia 10, um decreto federal para acelerar a identificação das terras públicas e privadas e dos latifúndios e trocou o ministro de Agricultura e Terras, Arnoldo Marquez, ligado aos grandes proprietários. Chávez conta, ainda, com o apoio dos governos estaduais para realizar a democratização do acesso às terras venezuelanas. O presidente declarou que as ações posteriores vão depender da etapa inicial de fiscalizações, garantindo que, se os documentos dos proprietários estiverem em ordem, não haverá problemas. Segundo informações oficiais, 5% dos proprietários rurais possuem 75% das terras, enquanto há mais de três milhões de desempregados no país. Já Marquez era visto como aliado das transnacionais produtoras de transgênicos (90% das sementes do país são importadas). Págs. 2 e 10
Novo presidente palestino quer o fim de ocupação Eleito presidente da Palestina, Mahmoud Abbas pretende organizar um programa para acabar com a ocupação do país pelo Exército Israelense. E criar um Estado autônomo e soberano. Em seu primeiro discurso como presidente, disse que as tarefas do novo governo são difíceis, sobretudo rearticular negociações com o governo de Israel e unificar as reivindicações das diversas organizações palestinas. Pág. 11
Omissão do governo federal prejudica índios
Felisburgo: mais um capítulo da impunidade
O presidente Lula, de novo, foi omisso na questão indígena. Dia 15 de dezembro, decisão do ministro Carlos Ayres Britto, do STF, deixou a homologação da demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, na dependência da assinatura do presidente. Ele não assinou. Dia 3, a ministra Ellen Gracie, do STF, suspendeu a decisão. Assim, os conflitos aumentam e se decidem pela lei do mais forte. Pág. 3
Longe dos holofotes da grande mídia, a chacina de Felisburgo (MG), que deixou cinco mortos e vinte feridos, em 20 de novembro do ano passado, permanece impune. Três dos acusados de autoria do massacre foram liberados e continuam a ameaçar os trabalhadores sem-terra. No Maranhão, 80 famílias de agricultores retomam o espírito do movimento de libertação da Cabanagem para conquistar um pedaço de terra para trabalhar. Pág. 5
Para a 5ª edição do Fórum Social Mundial, os movimentos sociais prepararam agenda de mobilizações para enfrentar os desafios em 2005, como a ocupação do Iraque, a Organização Mundial do Comércio e a campanha contra a Alca. As organizações resistem às críticas feitas ao encontro, que já foi chamado de feira ideológica, com muitos debates e poucas propostas práticas, mas asseguram que a sua postura no evento é diferenciada. Pág. 8
Uruguai quer passar a limpo período militar Pág. 9 Marcio Baraldi
Mobilizações para enfrentar desafios de 2005
Famílias de sem-terra despejadas do assentamento Cabanagem, em Matões do Norte (MA), aguardam decisão da Justiça
A Monsanto é processada por corrupção
Balanço político e desafios da América Latina
Pág. 13
Pág. 14
E mais: ENTREVISTA – José Carlos de Assis, coordenador do Programa Fome Zero, analisa o crescimento econômico e diz que, por trás dos números, há um processo acelerado de concentração de renda. Pág. 6 ENSAIO – A fotógrafa sueca Johanna Nilsson registra a luta pela terra e a exclusão social no sul da Bahia. Pág.16
Acordo de paz põe fim à guerra no Sudão Depois de 21 anos de conflito, que matou cerca de 2 milhões de pessoas, o vice-presidente do Sudão, Ali Osman Mohamed Taha, e John Garang, do Movimento de Libertação Popular do Sudão, assinaram, dia 9, um acordo de paz. No entanto, ficou de fora a área de Darfur, no oeste do maior país da África, onde quase dois anos de luta criaram o que a Organização das Nações Unidas chama de uma das piores crises humanitárias do mundo. Pág. 12