Tabloide especial - O BRASIL TEM JEITO / Maio 2022

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Edição Especial Nº 19 / 2022 Circulação nacional Distribuição gratuita

O BRASIL TEM JEITO DESEMPREGO, FOME E PREÇOS ALTOS: É POSSÍVEL REVERTER ESSE CENÁRIO

COMO CHEGAMOS À CRISE ATUAL? Medidas tomadas nos governos Temer e Bolsonaro, a despeito das promessas de geração de emprego e renda, pioraram as condições de vida da população. Pág. 2

“PRECISAMOS CRIAR OPORTUNIDADES DE TRABALHO” Em entrevista, ex-presidente Lula fala sobre o atual cenário do país, a precarização do mercado de trabalho e sobre como promover a recuperação econômica. Pág. 4


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CRISE NA VIDA DE TEMER A BOLSONARO: O CAOS NA ECONOMIA MEDIDAS TOMADAS PELOS DOIS ÚLTIMOS PRESIDENTES DEIXAM LEGADO DE EMPOBRECIMENTO DO TRABALHADOR

Temer e Bolsonaro implementaram projetos para reduzir os investimentos públicos e privatizar setores econômicos importantes, levando o país a um cenário devastador

O ano de 2022 é o sexto da guinada neoliberal da economia brasileira. Desde o golpe que levou ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, os presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) implementaram projetos para reduzir investimentos e privatizar setores econômicos importantes, levando ao empo-

brecimento dos trabalhadores e a uma inflação crescente. Michel Temer foi responsável pela criação do chamado teto de gastos, que limitou os investimentos públicos federais em áreas como saúde e educação. Também propôs e sancionou a reforma trabalhista, que reduziu direitos dos trabalhadores. Seguindo a mesma cartilha, Bolsonaro encerrou a política

que garantia aumento acima da inflação para o salário mínimo e manteve a política que elevou os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. Aprovou ainda a reforma da Previdência, que dificulta a aposentadoria, e promoveu o desmonte do INSS: hoje, quase 2 milhões de pessoas estão na fila à espera da aposentadoria ou de benefícios como auxílio doença.

Fotos: Fernando Frazão, Tânia Rêgo / Agência Brasil e SMABC


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DO POVO BRASIL NO MAPA DA FOME

O país voltou ao mapa da fome e hoje mais da metade da população brasileira, 116 milhões de pessoas, vive com algum grau de insegurança alimentar. Ao menos 19 milhões estão passando fome, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

COMIDA MAIS CARA

A cesta básica aumentou 21,6% em março de 2022, quando comparado o valor com o mesmo mês de 2021, segundo o Dieese. No período, o tomate subiu 93,7%; o café em pó, 72,3%, e o açúcar refinado, 46,21%, reajustes que ficaram muito acima da inflação medida pelo IBGE.

ALTA DO GÁS DE COZINHA

restante da população

19 milhões estão passando fome pessoas vivem com 116 milhões deinsegurança alimentar Cesta básica subiu

21,6%

93,7% café subiu 72,3% açúcar subiu 46,21% tomate subiu

aumento de

O gás de cozinha teve um aumento de 23,2% em um período de 12 meses, entre março de 2021 e março de 2022, de acordo com dados Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

23,2%

SALÁRIOS EM BAIXA

O governo Bolsonaro já mandou sua proposta para o salário mínimo de 2023 e será o 4º ano seguido sem aumento acima da inflação. Entre os 35 países membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o Brasil figura como o segundo país com o menor valor de salário mínimo.

O CUSTO DA MORADIA

aumento do Só em 2021 os preços do aluguel aluguel/2020 acumularam uma alta de 17,78% no índice usado pela grande maioria dos aumento do contratos. E em 2020, ele já havia aluguel/2021 tido uma alta de 23,14%. A Fundação Getúlio Vargas aponta que o déficit habitacional atual do país está déficit em 7,78 milhões de moradias. habitacional

4 anos sem aumeno real do salário mínimo

Quase 2 milhões de pessoas estão na fila à espera da aposentadoria ou de benefícios como auxílio doença.

23,14% 17,78%

7,78mi

Foto: Pedro Stropasolas | Brasil de Fato


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LULA

EXCLUSIVO

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu entrevista ao Brasil de Fato abordando a atual situação do país e, em especial, a precarização do mercado de trabalho e a piora nas condições de vida da população em geral. Para ele, “o que gera emprego é o povo tendo condições de comprar, é o dinamismo da economia, a economia real, não a especulação”. Confira abaixo os principais trechos e a íntegra da entrevista você pode conferir no site do Brasil de Fato.

Para o ex-presidente, recuperação econômica não pode ser dissociada da melhoria das condições O futuro do Brasil de vida das pessoas. O poder público precisa acreditar e construir “Quando o trabalhador o futuro do Brasil, não ser um destruidor como tem emprego de qualidade, o governo atual. Precisamos fazer as obras de infraestrutura necessárias, estimular setores ele movimenta o comércio da economia que gerem empregos e renda. Ouvir todos os setores da sociedade e ajudar e a indústria”, aponta. os mais pobres, para que eles também possam

Precisamos dar apoio a produção de alimentos e estoques reguladores, para o preço da comida cair


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É possível mudar essa situação precária dos trabalhadores brasileiros

Foto: Pedro Stropasolas | Brasil de Fato

Redução das desigualdades

Foto: Ricardo Stuckert

ter uma vida digna e participar da economia. Precisamos dar apoio a produção de alimentos e estoques reguladores, para o preço da comida cair. Precisamos cobrar preços de combustíveis a partir dos custos em reais, não do preço em dólar no mercado internacional. Ajudar o povo a renegociar e quitar suas dívidas. E assim começar a movimentar a economia porque o que gera emprego é o povo tendo condições de comprar, é o dinamismo da economia, a economia real, não a especulação. Quando o trabalhador tem emprego de qualidade, ele movimenta o comércio e a indústria.

Salário mínimo Hoje, uma em cada três famílias brasileiras tem contas em atraso. As famílias mais pobres são as mais impactadas, sofrem mais, vivem pior do que antes. Vale lembrar que, quando estivemos na Presidência, o salário mínimo teve valorização de 74% e mais de 80% dos

reajustes das categorias organizadas se davam acima da inflação, o que assegurava o poder de compra. Hoje, apenas 7% dos reajustes estão acima da inflação, o restante é igual ou menor. Significa que o povo está ganhando menos, com menos emprego, comendo menos e se endividando mais.

Trabalhador sem direitos O sonho de todo o trabalhador é não ter patrão. Mas criaram uma ilusão de que ele não teria patrão e criaram um patrão pior, invisível, e uma corrente a partir do aplicativo de celular, em um trabalho sem direitos. E o desmonte dos direitos dos trabalhadores não aumentou a empregabilidade, como dizem. O que aumentou foi o trabalho sem garantia para o trabalhador, sem previdência, sem seguridade social. O menino que sai de casa para entregar comida, ele não está empreendendo. Ele está ganhando um trocado, às vezes passando fome e carregando comida nas costas, enquanto o dono do aplicativo está ganhando milhões. E se ele cai da bicicleta, ele não tem seguridade social, não tem seguro saúde, não tem auxílio-doença. Não tem nada. O déficit da Previdência cresceu após a reforma, porque as pessoas não estão contribuindo mais para a Previdência.

A gente precisa atuar para reduzir as desigualdades raciais e com as mulheres no mercado de trabalho. Precisamos criar oportunidades de trabalho e voltar a ampliar as ofertas de educação. A gente estava tendo cada vez mais negros nas universidades, mais pessoas da primeira geração da sua família se formando. Isso criou uma geração que está pressionando por mais diversidade nas empresas, porque acabou o discurso de que não havia mulheres e negros com boa formação para os cargos mais qualificados do mercado de trabalho.

Reforma trabalhista O momento é grave e nós precisamos rediscutir isso. Por isso, tenho estudado e conversado com o governo da Espanha, onde houve uma negociação com trabalhadores e empresários para rever a reforma trabalhista de lá, para recuperar a qualidade, estabilidade e força do mercado de trabalho e consumo da Espanha.

Golpe contra o povo O golpe não foi contra a Dilma. O povo agora, seis anos depois, percebe que o golpe foi contra ele, contra o povo brasileiro, contra os trabalhadores, contra a soberania do país que está sendo destruída.


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PROPOSTAS MAIS EMPREGOS, Segundo a PNAD,

38,5 milhões

de brasileiros estão na na informalidade, o que equivale a

40,4% da população ocupada Sem direitos, os trabalhadores por conta própria chegam a

25,6 milhões de pessoas,

uma alta de 10,3% em relação a 2021

4,8 milhões de pessoas

estão em situação de desalento, trabalhadores que, por não conseguiram entrar no mercado de trabalho, acabam desistindo de procurar

Dez centrais sindicais estabeleceram uma série de iniciativas em uma pauta elaborada na Conferência da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em abril. Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Central Sindical e Popular Conlutas (CSP-Conlutas), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical, Intersindical Central, Intersindical Instrumento de Luta, Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Pública Central do Servidor e União Geral dos Trabalhadores (UGT) concluíram um documento com 63 propostas, que serão apresentadas aos candidatos à Presidência da República e também àqueles que concorrem a vagas na Câmara e no Senado.

De acordo com as centrais, que já desenvolvem uma agenda legislativa para acompanhar e influenciar as proposições em tramitação no Legislativo, as iniciativas listadas “espelham o modelo de desenvolvimento necessário para o Brasil gerar empregos de qualidade, crescimento dos salários, proteção dos direitos trabalhistas, combate às desigualdades, proteções sociais e previdenciárias, a defesa da democracia, da soberania e da vida”.

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Confira os principais pontos da pauta:

Política de valorização do salário mínimo que garanta aumentos acima da inflação para o piso nacional.

Programa de renda básica integrado a outras políticas sociais.

Criação de políticas de geração de emprego e renda.

Aumento da proteção social, trabalhista e previdenciária.


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DOS TRABALHADORES E DAS TRABALHADORAS MAIS RENDA E MAIS DIREITOS

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Políticas específicas de geração de trabalho e renda para mulheres, população negra, juventude, LGBTQIA+ e pessoas com deficiência.

Proteção aos desempregados com seguro desemprego, qualificação de mão de obra e outros programas.

Erradicação da fome e combate à carestia.

Revisão da política de preços de produtos essenciais como alimentos, combustíveis, gás de cozinha e medicamentos.

Fortalecimento da agricultura familiar.

Recuperar a política de estoques reguladores para reduzir o preço dos alimentos.

Retomada das obras paradas e do investimento público.

Ampliação da participação popular com a volta dos conselhos e conferências.

Suspensão dos despejos e diálogo com os movimentos de moradia.

Isenções e renegociações das dívidas das famílias, em especial as de financiamento habitacional.

Suspensão da política de preços da Petrobras, responsável pelo aumento de combustíveis.


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Fotos: Imagens de arquivo/ Memória EBC

Foto: Wellington Lenon

Comitês Populares:

a participação do povo para mudar o Brasil Movimentos e organizações populares buscam criar e consolidar instrumentos para fortalecer o debate sobre um projeto de país a partir das eleições de 2022. Organizados em diferentes territórios e também ativamente nas redes sociais, os comitês populares foram lançados recentemente e já são mais de 2.500 em todo o Brasil. São espaços amplos onde pessoas de movimentos populares, igrejas, escolas, pessoas filiadas ou não aos partidos políticos se reúnem para debaterem um novo jeito de fazer a política no país. E também para valorizar o trabalho local e de base, estimular novas formas de participação política e criar uma rede de combate às mentiras e notícias falsas. De acordo com João Pedro Stedile, da coordenação da Campanha, os comitês populares são importantes formas das pessoas participarem da vida política. "Elas podem se reunir em locais próximos entre vizinhos do bairro, colegas de trabalho e de escola para debater o futuro do país.É também uma forma autônoma para desenvolver de forma criativa, sobretudo por meio

da cultura, as mais diferentes formas de debate de ideias e de conversas com todo o povo brasileiro", explica. A Campanha conta com atendimento no WhatsApp +55 11 93028-1833 e também uma cartilha com dicas de como começar o trabalho.

CONTATO Site: brasildefato.com.br Email: jornalismo@brasildefato.com.br Fale conosco pelo Whatsapp: +55 11 94594-3576 Receba notícias pelo Whatsapp: bitly.com/vemdezapBdF Receba notícias pelo Telegram: t.me/brasildefato Instagram: @brasildefato Facebook: @brasildefato Twiter: @brasildefato

EXPEDIENTE Esta é uma edição especial do Brasil de Fato / Circulação nacional gratuita, em maio de 2022. Edição: Nina Fideles e Glauco Faria Jornalista responsável: Nina Fideles (MTB 6990/DF). Artes e diagramação: Mayara Fujitani e Michele Gonçalves Arte da capa: Michele Gonçalves Fotos da capa: Fernando Frazão / Agência Brasil, Tânia Rêgo / Agência Brasil, Shutterstock/ Antonio Scorza, SMABC e Claudio Vieira/PMSJC

“A necessidade agora é mudar o Brasil e restabelecer a dignidade, os direitos e a esperança de melhoria da vida. Com comida na mesa, soberania nacional e defesa da natureza”, aponta Stedile, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

A histórica luta pelos direitos dos trabalhadores A luta simbolizada pelo 1º de Maio vem de uma época em que os direitos trabalhistas praticamente não existiam e a exploração era brutal. Jornadas de até 16 horas eram comuns, e não havia condições como descanso remunerado, férias, seguro doença ou aposentadoria. Em abril daquele ano, diversas cidades estadunidenses contaram com mobilizações que foram duramente reprimidas pelas polícias locais e a greve geral, deflagrada em 1º de maio, se estendeu a mais de cinco mil fábricas e alcançando 240 mil trabalhadores. No dia 4 de maio, em Chicago, os trabalhadores foram atacados com grande violência pelas forças policiais, resultando em nove mortes e dezenas de feridos. Foi declarado estado de

sítio, os sindicatos foram fechados, e milhares de operários presos por defenderem oito horas de trabalho. Entre os principais líderes, sete foram condenados à morte e um deles a 15 anos de prisão. Mais tarde, outros dois tiveram suas penas de morte transformadas em prisão perpétua. Após a repressão, a II Internacional Socialista aprovou no Congresso de Bruxelas em 1891 que o dia 1° de Maio seria uma data permanente em que todos os trabalhadores, de todos os países, lutariam pela jornada de oito horas e pela ampliação de seus direitos. Surgia assim o Dia Internacional dos Trabalhadores, celebrado em todo mundo até hoje.

Imagem: Tiras Armandinho


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