Ano 2 • Número 83
R$ 2,00 São Paulo • De 30 de setembro a 6 de outubro de 2004
Acordo com europeus fere soberania “O
Mercosul está cedendo em setores estratégicos para o nosso desenvolvimento. Esse acordo está muito desequilibrado, principalmente em agricultura”. A avaliação é de Laudemir Müller, chefe da Assessoria Internacional do Ministério de Desenvolvimento Agrário, que participa das negociações do tratado de livre comércio do bloco sul-americano com a União Européia. Entre as concessões, o governo brasileiro aceita zerar a tarifa de importação do leite europeu, sendo que os produtores da UE recebem subsídios de 1,7 bilhão de euros. A oferta prejudica mais de 1,8 milhão de produtores brasileiros. Parlamentares, a CUT e a Via Campesina criticaram o governo brasileiro por não discutir com a sociedade os impactos desse tratado. “Se esse acordo vier para o Congresso, eu vou trabalhar contra a sua assinatura”, promete o deputado federal dr. Rosinha. Pág. 9
Dudu Cavalcanti/ Greeenpeace
Ministério do Desenvolvimento Agrário denuncia: proposta do Mercosul prejudica milhões de pequenos agricultores
Manifestação do Greenpeace em Brasília contra possível medida provisória do presidente Lula liberando transgênicos no país
Aumenta tensão entre Venezuela e Colômbia
O Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima) que permitiu à empresa Baesa iniciar a construção, em 1999, da Usina Hidrelétrica de Barra Grande, na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ignorou a
existência de dois mil hectares de florestas virgens de araucária e outros quatro mil hectares de florestas em estágio avançado de regeneração. Além de causar enormes danos ambientais, a barragem está expulsando pe-
quenos agricultores de suas terras. Para o advogado Raul Silva T. do Valle, do Instituto Sócio Ambiental, “não há dúvidas de que o relatório apresenta informações inverídicas”. Pág. 12
Jaafar Ashtiyeh/AFP
O presidente venezuelano Hugo Chávez convocou as Forças Armadas para ampliar a proteção na fronteira com a Colômbia, depois do assassinato de 14 pessoas no Estado de Apure. Há fortes suspeitas de que as mortes tenham sido provocadas por paramilitares colombianos. Para o economista Hector Mondragon, faz parte da estratégia do presidente colombiano Álvaro Uribe transferir o problema dos paramilitares para os países vizinhos, como Venezuela e Equador. Pág. 10
Licença fraudulenta libera barragem
Transgênicos: ainda o jogo do empurra-empurra Às vésperas do início do plantio da safra da soja, aparentemente o governo estaria indeciso em relação à liberação dos transgênicos via medida provisória (MP). A ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, afirma que o presidente Lula lhe disse que não vai editar uma MP para autorizar o plantio da soja modificada. Ao mesmo tempo, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, diz a empresários exatamente o contrário, isto é, que a decisão seria via MP. Pág. 6
Apenas oito homens mandam na economia
Eleições deviam servir para ampliar debates
Escolhidos pela Fazenda, com beneplácito da Presidência da República, os diretores do Banco Central, que formam o Comitê de Política Monetária (Copom), vêm dos bancos e da academia. Eles decidem a política de juros, cujos efeitos ditam a sobrevivência, ou não, das empresas e de seus trabalhadores. Vivem no mundo dos jargões econômicos, passam ao largo do mundo real e não prestam contas à sociedade. Pág. 8
Dia 3 de outubro, os eleitores voltam às urnas para definir uma disputa esfriada pela pouca capacidade de trazer mudanças e pela ausência de debates relevantes sobre os temas de interesse da população. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o juiz Marlon Reis, que luta pela efetiva participação democrática dos cidadãos, fala de seu esforço pelo cumprimento da lei de combate à corrupção eleitoral. Pág. 5
Foi uma farsa o anúncio do novo aumento do superávit fiscal para 2004, de 4,25% para 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Farsa porque, desde julho, o enxugamento de gastos já era o equivalente a 5,59% do Produto. E, até agosto, a asfixia acumulada no ano, de R$ 64 bilhões, representava 5,82% do PIB. Mas nem essa camisa de força na economia é suficiente para cobrir o gasto com os juros da dívida, de R$ 84 bilhões, até agosto – um buraco de R$ 20 bilhões. Pág. 3
E mais: GREVES – Boicotada pela OAB, termina a maior paralisação do Judiciário paulista. Mas servidores, descontentes com o acordo, se mantêm em estado de greve. Pág. 3 SEM-TERRA – Trabalhadores rurais protestam em frente ao Incra do Maranhão e contestam reintegração de posse que ameaça de despejo assentados do MST. Pág. 12 MÍDIA – Documentário exibe os bastidores promíscuos da emissora de TV estadunidense Fox News, que compromete a ética jornalística em defesa do Partido Republicano. Pág. 16
Medida favorece empresários do ensino privado Pág. 4 Maringoni
BC insiste em estrangular o crescimento
Criança palestina protesta em Nablus, contra o assassinato do líder do Hamas, Ezzeddine Sobhi Sheikh Khalil
Ministério público aciona poluidores Pág. 13
A inflação baixa, mas os juros sobem outra vez Alegando a necessidade de conter alta da inflação, o BC voltou a elevar a taxa de juros. Mas o BC faltou com a verdade: porque a alta de preços está em declínio e porque o objetivo real do aumento dos juros é remunerar ainda melhor bancos e investidores que compram títulos do governo federal. Com o aumento, o governo gastará mais R$ 1 bilhão para pagar os juros sobre sua dívida, diminuindo os recursos disponíveis para outros setores. Pág. 7