Ano 2 • Número 75
R$ 2,00 São Paulo • De 5 a 11 de agosto de 2004
Brasil, o paraíso da especulação Nigrizia
Dinheiro dos impostos alimenta a ciranda financeira, que gira mais de R$ 138 bilhões por dia e prejudica o país
A
ciranda financeira, filha legítima da política de juros altos, está de volta. Em junho, as aplicações de um dia para o outro (overnight) movimentaram mais de R$ 138 bilhões, o equivalente a cerca de 9% de toda a riqueza gerada pelo país em um ano (PIB). Este nível de especulação é alimentado com o dinheiro dos impostos, já que boa parte do que o governo arrecada vai para o pagamento de juros no cassino financeiro, com ganhos de bilhões para empresas e bancos. Ou seja, o contribuinte paga a conta da especulação, movida a
taxas de juros, mantidas nas alturas a pretexto de evitar o estouro da inflação. Em junho, o dinheiro da ciranda representava 18,2% de toda a dívida pública federal. No overnight, são negociados títulos públicos que são um pedaço da dívida federal. Com esses papéis, os bancos obtêm lucros astronômicos, como mostra o balanço semestral do Bradesco: o aumento da receita com a negociação de títulos públicos, com elevação de 36%, contribuiu muito para o lucro líquido de R$ 1,25 bilhão obtido até junho. Pág. 6
E a reação da economia não é nenhum espetáculo Os últimos indicadores relativos ao emprego, renda, produção industrial e vendas do comércio vêm sendo comemorados com alarde. Porém, os números devem ser avaliados com cautela, inclusive porque os dados disponíveis não autorizam concluir que a economia iniciou um novo
ciclo de crescimento mais longo do que surtos anteriores. É preciso notar que comparações são feitas com um período de baixíssimo crescimento, que foi 2003. E que sérios constrangimentos persistem, como a dependência externa e o nível dos juros. Págs. 2, 7 e 14
Tadeu Vilani/Zero Hora/AE
Oposição pretende assassinar Chávez
Mulheres do grupo negro Nyal, uma das etnias atacadas por milícias ligadas ao governo do Sudão
Em entrevista a um jornal da Venezuela, o ex-presidente Carlos Andrés Pérez, residente em Miami, nos Estados Unidos, defendeu a “via violenta“ para derrubar o governo venezuelano. Ele afirmou que o presidente Hugo Chávez “deve morrer como um cachorro“. Não
E mais: PLANOS DE SAÚDE – Médicos estão empenhados em frear a sede de lucros das operadoras de saúde. Em diversos Estados, promovem boicotes e, em outros, lutam na Justiça por remuneração mais justa. Pág. 3 AMBIENTE – Entidades em defesa das águas criticam a transposição do Rio São Francisco. Elas afirmam que o projeto não resolveria os problemas da região. Pág. 13 CULTURA – O ator cearense Gero Camilo defende a democratização do acesso ao teatro e ao cinema. Pág. 16
Por outro modelo educacional para o campo Um modelo educacional que atenda às necessidades da população rural e respeite as diversidades culturais que lhe são específicas. Essa é a principal reivindicação de cerca de 2 mil pessoas que, desde o dia 2, participam, em Luziânia (GO), da 2ª Conferência Nacional por uma Educação do Campo. Entidades rurais reclamam da falta de política educacional para o campo, enquanto fomentam ensino pedagógico baseado nas idéias de Paulo Freire. O professor Miguel González Arroyo classifica o método de revolucionário. Pág. 5
O arquiteto Oscar Niemeyer recebe prêmio Luta pela Terra, concedido pelo Movimento dos Sem Terra Marcio Baraldi
O governo do Sudão recebeu um ultimato: em 30 dias, deve encerrar a limpeza étnica praticada contra a população negra de Darfur, por milicianos de origem árabe. A orientação é do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Desde o início da crise, cerca de 30 mil muçulmanos negros foram assassinados e mais de 1,3 milhão decidiram abandonar suas casas por causa do assédio das milícias Janjaweed. Centenas de milhares de pessoas tiveram de procurar refúgio no vizinho Chade. Pág. 12
Douglas Mansur
Sudão recebe ultimato para se desarmar
é a primeira vez que a oposição ameaça o presidente venezuelano: a polícia do país divulgou, recentemente, um plano de grupos paramilitares para fazer um atentado contra Chávez. A ação foi frustrada pela polícia e mais de 120 pessoas foram presas. Pág. 9
Fórum articula luta contra o livre comércio
Pág. 10
István Mészáros fala do câncer da globalização
Pág. 11
Candidatura indígena cresce e incomoda Nas eleições municipais de outubro, cerca de 300 indígenas vão concorrer a cargos eletivos em cidades de todo o país. Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), a participação indígena cresceu 50% em relação a 2000. As candidaturas estão sendo incentivadas pela campanha “Tem Aldeia na Política”, que também alerta para os riscos que a política partidária pode trazer à diversidade do movimento indígena. Pág. 8