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Circulação Nacional

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 5 • Número 218

São Paulo, de 3 a 9 de maio de 2007

R$ 2,00

www.brasildefato.com.br João Zinclar

editorial

Organizar o povo e enfrentar o capital A CLASSE TRABALHADORA não tem motivo para festejar neste 1º de Maio. Ao contrário, muitos são os motivos para intensificar a luta. O modelo econômico vigente aprofunda as diretrizes neoliberais, sobretudo neste segundo mandato do governo Lula. Os efeitos diretos são precarizarização do trabalho, arrocho salarial, mais desemprego e menos direitos. Nos últimos anos, com a conivência das centrais sindicais, os trabalhadores brasileiros viram o 1º de Maio ser transformado em grande evento de marketing e de mídia. Milhares de pessoas participam dessas atividades, é verdade. Mas são atos despolitizados, sem debate, nos quais a maior disputa travada pelas centrais é para ver qual dos espetáculos atrai o maior público. Os dirigentes sindicais são meros figurantes na sua preparação, convocação e realização. A coordenação é monopolizada por empresas especializadas na realização de grandes eventos midiáticos, que lucram com o 1º de Maio. Essa despolitização e dispersão num dia tradicionalmente de luta, no entanto, é conseqüência de duas décadas de descenso da mobilização social, da falta de formação política e da falta de elaboração de projetos populares e estratégicos para o país. Por isso, é urgente retomar o trabalho de organização de base, de formação política e promover mobilizações populares por todas as ruas e latifúndios deste país. É preciso recuperar a utopia de construção de uma sociedade sem exploradores e sem explorados. Aos que julgam serem estas bandeiras do passado, basta lembrar que hoje, século 21, a vida útil de um cortador de cana-de-açúcar, no pólo mais dinâmico da economia brasileira, equivale a de um escravo do século 18. Infelizmente, as organizações da classe trabalhadora e seus dirigentes (apesar das exceções) não estão à altura dos atuais desafios da luta contra o capital e contra o Estado burguês. Deixando de lado as organizações e dirigentes cooptados pelo sistema – em troca de cargos políticos e de salários astronômicos para a realidade brasileira –, prevalece nas fileiras da classe trabalhadora muito mais a disputa interna do que o enfrentamento com o capital. Prevalece a pequena política, nas palavras de Antônio Gramsci. Cada um procura impor sua verdade, sua análise, sua reivindicação. E todos apresentam essas questões como se fossem porta-vozes de massas organizadas, politizadas e dispostas à luta. Na prática, generais sem exércitos. É hora de perceber que o capital está numa ofensiva violenta, que nos empurrou para uma situação desfavorável. Não serão as intermináveis e calorosas reuniões de cúpulas e nem a elaboração de documentos, minuciosamente detalhados, que promoverão a unidade da classe trabalhadora. Nessa situação, a prioridade número um é fazer lutas! E deixem que o sopro dos ventos dessas lutas determinem os passos futuros da classe trabalhadora. Resistir é preciso – É nesse contexto de desafios da classe trabalhadora que se insere o Brasil de Fato. Estimular as lutas sociais que visem a transformação. Após um ano, quando fomos obrigados a cortar oito das dezesseis páginas de nosso jornal, temos a alegria de compartilhar com nossos leitores a recuperação de parte do nosso projeto original. Esta edição do Brasil de Fato começa a circular com doze páginas e um novo projeto gráfico. É uma vitória porque, apesar da ditadura que o capital nos impõe, conseguimos avançar. Um passo à frente somente possível graças ao apoio firme de nossos leitores, assinantes, militantes e colaboradores, que acreditam na justeza e legitimidade da nossa luta.

Ato realizado na praça da Sé, em São Paulo, convocado por movimentos de esquerda em contraposição aos atos da CUT e Força Sindical

Trabalhadores, entre a luta e a festa Ricardo Romanoff/Creative Commons

Enquanto milhares de pessoas participam de um 1º de Maio festivo, em um espetáculo midiático promovido pelas duas maiores centrais sindicais do país, movimentos sociais e sindicalistas resgatam o sentido histórico do Dia do Trabalhador, com a bandeira “nenhum direito a menos” (Pág. 3). O desafio das organizações é manter a unidade e construir um dia nacional de lutas em 23 de maio para exigir mudanças na política econômica e se opor à pauta neoliberal mantida pelo governo Lula (Pág. 4). Câmara dos Deputados aprova projeto de lei que institui Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) no Brasil, um modelo caracterizado em todo o mundo pelo desrespeito aos direitos trabalhistas (Pág. 6). Na Venezuela, presidente Hugo Chávez institui o maior salário mínimo da América Latina e anuncia a saída do país do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional e da Organização dos Estados Americanos (Pág.10).

9 771678 513307

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Há dez anos morria Paulo Freire; na foto, homenagem a ele na Esplanada dos Ministérios Pág. 9

Velha receita tucana é aplicada no RS

Em meio a pressões, governo muda Ibama

Governadora Yeda Crusius (PSDB) corta em 30% o custeio de todas as secretarias e fundações, como forma de “resolver” a crise financeira do Estado. Pág. 7

A disputa entre crescimento e meio ambiente está acirrada. Obra bilionária no rio Madeira pode envolver governo e gigantes da construção civil. Pág. 5


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