Ano 5 • Número 213
Uma visão popular do Brasil e do mundo
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São Paulo • De 29 de março a 4 de abril de 2007 Douglas Mansur
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São Paulo – Desde 16 de março, mais de mil famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocupam uma área em Itapecerica da Serra
Governo dá duros golpes no meio ambiente O governo Lula tomou duas novas decisões que favorecem a destruição ambiental e a exploração do trabalhador. Em 21 de março, o presidente sancionou uma medida provisória que diminui o rigor para a liberação de transgênicos. Dois dias depois, o Ibama concedeu licença de instalação para a transposição do rio São Francisco. Para dom Tomás Balduíno, ambas as definições favorecem o agronegócio e tornam o Estado brasileiro cada vez mais pautado pelo interesse privado. Pág. 4
Ribeirão Preto, capital do agronegócio, planta cana e produz favelas A
pesar de sempre ser lembrada como exemplo de organização e empenho dos grandes empresários da cana-de-açúcar, a chamada “Califórnia brasileira” possui apenas cerca de 2 mil pessoas vivendo no campo – contra 500 mil na cidade (entre elas, quase
4 mil presos). Essa urbanização forçada se intensificou nos últimos 15 anos, desde a chegada do agronegócio – que possui na cidade uma Associação Brasileira, mantida pela Agência Estado, pelas organizações Globo, entre outras. Pág. 5
João Zinclar
Cidade paulista que bate recordes de produção possui mais prisioneiros do que pessoas morando na área rural
Trabalhadores definem agenda de mobilizações Mais de cinco mil militantes organizados pela Conlutas e Intersindical estabeleceram uma plataforma de luta. Em outro encontro, representantes
de cerca de 50 organizações sociais definiram, em plenária da Assembléia Popular, as quatro principais mobilizações do ano. Pág. 3
Em São Paulo, encontro propõe mobilizações pela defesa dos direitos sociais
EDITORIAL
Em busca de unidade na luta
V
ários sinais indicam que há uma mudança de qualidade no segundo governo Lula. O critério de escolha na reforma ministerial, direcionada pela lógica do pior fisiologismo gerando uma composição muito mais conservadora. A natureza do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), priorizando a infra-estrutura da malha exportadora a serviço das grandes corporações transnacionais. A insistência no projeto de transposição do Rio São Francisco, ignorando toda a mobilização popular. A manutenção das tropas no Haiti, para atender aos interesses estadunidenses. Os persistentes anúncios de entregar as cláusulas de proteção dos interesses nacionais em troca de um possível acordo com os EUA no comércio do etanol, ocupando um papel subordinado nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). A apresentação de propostas de supressão de direitos trabalhistas e previdenciários como a limitação do direito de greve aos servidores públicos. Todos esses fatos são indicativos de um aprofundamento da submissão do governo aos interesses do capital financeiro e internacional.
Lula segue sendo uma importante liderança popular, mas seu governo está cada vez mais vinculado à agenda política do neoliberalismo. O discurso adotado pelo presidente no segundo turno foi rapidamente abandonado e as pressões do imperialismo serão cada vez mais intensas. Os objetivos das classes dominantes estão ainda mais nítidos: transformar o Estado numa polícia a serviço das grandes corporações impossibilitando qualquer alternativa soberana à nossa nação. Nosso povo, consumido pela luta diária da sobrevivência, enfrentando duras condições de vida, encontra-se disperso e com pouco envolvimento nas lutas sociais. Essa situação é agravada pela dispersão das forças populares, que enfrentam um momento histórico de rearranjo de suas concepções política e formas organizativas. Superar essa dispersão exigirá muita persistência dos lutadores populares. Mais do que nunca é necessário assegurar a autonomia dos movimentos populares em relação ao governo e ao Estado. Mais do que nunca é necessário investir na construção da unidade entre as forças populares.
Os esforços unitários como a “Assembléia Popular – Mutirão por um Novo Brasil” e o Encontro Sindical organizado pelo Conlutas e Intersindical, apostando na construção de uma agenda comum de lutas, cumprem um papel decisivo na retomada das lutas populares. As manifestações unitárias contra a visita do presidente estadunidense, George W. Bush, demonstram a importância dessa unidade. Precisamos estar juntos para impor a agenda dos interesses populares. A construção de uma jornada de lutas em maio capaz de representar a força das reivindicações populares e o envolvimento de milhares de ativistas no trabalho pedagógico do plebiscito pela anulação do leilão da Companhia Vale do Rio Doce podem gerar um novo momento político. O desafio é enorme, mas a capacidade de lutas de nosso povo se mostrará à altura.
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Na América do Sul, o Estado ganha força
Os dominicanos e a resistência à ditadura
Países como a Bolívia, Equador e Venezuela vêm, nos últimos anos, fortalecendo o papel do Estado na economia – principalmente no setor energético –, em contraposição aos anos de hegemonia neoliberal característicos das décadas de 1980 e 1990. Pág. 7
Adaptação do livro de Frei Betto sobre as ações de frades dominicanos em resistência ao regime militar, “Batismo de sangue” estréia no cinema em 20 de abril. Para o diretor do filme, Helvécio Ratton, a obra busca entender os homens num momento histórico excepcional. Pág. 8