Ano 4 • Número 196
Uma visão popular do Brasil e do mundo
R$ 2,00
São Paulo • De 30 de novembro a 6 de dezembro de 2006
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Novo fôlego à Revolução Bolivariana Movimentos pretendem intensificar mudanças sociais na Venezuela, com apoio de Chávez, que deve ser reeleito no dia 3 Marcelo Garcia
P
esquisas de opinião indicam que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, está com a vitória praticamente garantida nas eleições de 3 de dezembro. Mesmo com a promessa de Chávez de dar “mais poder aos pobres” em seu segundo mandato, os movimentos sociais venezuelanos afirmam que a tarefa colocada para as organizações sociais será diferenciar a agenda do Executivo das necessidades reais das organizações. “Temos que fazer com que essa revolução se concretize”, analisa Franklin González, da Frente Nacional Camponês Ezequiel Zamora. Pág. 7
No semi-árido, a convivência vence a seca A poucos dias das eleições, Hugo Chávez aparece com 59% das intenções de voto contra 27% de seu opositor; os indecisos atingem 13%
Juízes barram reforma agrária em PE Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco. Além da falta de vontade política dos governantes, os manifestantes
denunciaram os entraves criados por juízes, que defendem os interesses dos latifundiários. Pág. 4
EDITORIAL
Impulso para a transformação
N
o próximo domingo, dia 3, o povo venezuelano vai às urnas para escolher entre duas opções: pela continuidade do processo da Revolução Bolivariana, liderado por Hugo Chávez, ou pelo retorno às políticas neoliberais, como quer a elite articulada na candidatura de Manoel Rosales – governador licenciado do Estado de Zulia e um dos articuladores do golpe de Estado de 11 de abril de 2002, contra o próprio Chávez. Depois da recente vitória de Rafael Correa nas eleições presidenciais no Equador, propondo a nacionalização do petróleo e uma agenda de medidas não neoliberais, como a integração latino-americana e o atendimento de reivindicações das massas mais pobres, o processo político da América Latina poderá receber um novo impulso progressista com a esperada reeleição de Chávez, um grande impulsionador político da cooperação e da solidariedade entre os povos. Pela renitente e desinformativa campanha que os grandes meios de comunicação comerciais fazem contra o venezuelano, taxando-o de populista e ditador seja aqui no Brasil ou no mundo, pode-se aferir que sua reeleição é um pesadelo para os interesses das transnacionais e para as oligarquias nativas, sempre dispostas a uma vassalagem sem fim diante de toda e qualquer exigência dos EUA. Apesar dessa campanha de desinformação, as ações concretas desenvolvidas pelo governo de
Chávez chegam, de uma ou outra maneira, até o conhecimento dos povos. No domingo, os venezuelanos vão avaliar algumas conquistas de seu país como a eliminação do analfabetismo, a multiplicação dos investimentos sociais em saúde, habitação, democratização da educação e da cultura e saneamento, a elevação do valor do salário mínimo com redução do número de desempregados, muito embora este ainda seja alto. Também por meio do voto, os venezuelanos poderão sustentar – ou não – as medidas de integração latino-americana que o governo Chávez já implementou, entre outras a Operação Milagre (ação de saúde que tem como meta o tratamento gratuito de 6 milhões de latino-americanos com problemas visuais), a criação da Telesur (uma tv para a integração), da Petrosur e dos acordos para a cooperação energética que já estão em marcha. Mais do que isso, com o voto, os venezuelanos poderão dar novo impulso ao processo político de participação das massas, com elevação de sua consciência política, de sua capacidade crítica, inclusive para criar as condições para superar limites que o governo Chávez ainda não conseguiu, como o lento processo de reforma agrária e as travas de funcionamento burocrático que ainda rebaixam as imensas possibilidades de transformação social que a Revolução Bolivariana deu início. A reeleição de Hugo Chávez será uma vitória para o povo
brasileiro e para a luta antiimperialista internacional. O imenso laboratório político transformador em que a Venezuela se converteu – sendo um estímulo ao surgimento de novas correntes progressistas em todo o mundo, inclusive no interior das forças armadas – poderá se fortalecer, indicando com isso que, tanto no Brasil quanto na Argentina, consolidam-se condições para enfrentar e escapar das armadilhas neocoloniais impostas pelo imperialismo. Amarras que impedem as nações periféricas de se libertarem da rapina e da devastadora exploração a que são submetidas. A importância da reeleição de Hugo Chávez está ligada ao fato de a Venezuela e seu progresso revolucionário terem se transformado em um impulso enérgico à luta dos demais povos do Terceiro Mundo pela sua libertação, fortalecendo os ventos progresssitas que sopram na América Latina e encorajando os governos a iniciativas mais audazes no atendimento das reivindicações populares. O avanço dos bolivarianos mostra que essa linha de transformação vem consolidando amplo apoio de massas, o que permite o planejamento e adoção de políticas públicas mais sustentáveis, em linha de ruptura com a dependência neoliberal.
Pág. 6 Fernanda Oliveira/Divulgação Enconasa
A lentidão na reforma agrária em 2006 foi o mote da série de mobilizações, atos e ocupações promovidos pelo Movimento dos
Após eleições, conservadorismo segue nos EUA
Cerca de 500 agricultores e lutadores sociais se reuniram em Crato, interior do Ceará, para mostrar que a convivência com o semi-árido é possível. Eles participaram do 6º Encontro Nacional da Articulação do Semi-Árido (Enconasa), realizado entre 20 e 24 de novembro. Pág. 5
Zé Padre, um dos assistidos pela ASA, no semi-árido cerarense, na região do Cariri, planta, entre outros frutos, caju de acordo com o sistema de agrofloresta
Atos contra tarifas altas em São Paulo
No Equador, vitória do projeto popular
No final de novembro, estudantes paulistanos realizaram protestos contra o reajuste das passagens de transportes coletivos – um deles, violentamente reprimido pela polícia. Para economista do Dieese, reajuste prejudica setores mais pobres. Pág. 3
O economista Rafael Correa, amparado por um amplo movimento político – formado por partidos e organizações indígenas e de esquerda – foi eleito presidente do Equador, vencendo a disputa no 2º turno contra o multimilionário Álvaro Noboa. Pág. 6