Revista Agitação 85 - CIEE

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Legislação: surge nova geração de estagiários no país.

Minirreforma ortográfica modifica 0,5% dos vocábulos.

Legislação: surge nova geração de estagiários no país. Minirreforma ortográfica modifica 0,5% dos vocábulos.

Falta de profissionais ameaça o desenvolvimento.


Investimento produtivo, com retorno garantido.

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Estágio de qualidade - O Programa CIEE de Estágios reúne a mais completa estrutura de produtos e serviços, para o desenvolvimento e formação de novos recursos humanos, envolvendo profissionais de alto gabarito, eficientes e modernos sistemas de gestão de informação e vasto banco de dados, além de profundo conhecimento sobre os aspectos operacionais e legais do estágio.

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Instituição filantrópica, não-go vernamental, sem fins lucrativos e de assistência social, com mais de 4 décadas de atuação direcionada ao desenvolvimento de programas de estágio e à preparação da juventude para o mercado de trabalho e à sua inclusão social. CIEE (Sede Executiva): Rua Tabapuã, 540, Itaim Bibi - São Paulo /SP - CEP: 04533 001

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ESTÁGIO


nº 85, janeiro/fevereiro 2009 A tiragem desta edição é de 85.000 exemplares. Auditada por

Carta ao leitor .......................................................... 4 Ponto de partida ....................................................... 6 Novas ideias .............................................................15 Empresa....................................................................16 Opinião .....................................................................21 Bahia .........................................................................22 Melhores para estagiar .............................................23

CAPA Apagão na Engenharia: Brasil forma profissionais aquém do necessário. pág. 26

Gerais .......................................................................34 Carreira ....................................................................35 Perspectiva ...............................................................39 Tendências ...............................................................40 Pesquisa ...................................................................42 Expo CIEE ................................................................53 Em foco ....................................................................54 Memória ...................................................................57 Capacitação ..............................................................58 Eventos .....................................................................60 Análise ......................................................................64 Dicas de português ...................................................70 Eleição ......................................................................72

ENTREVISTA Ozires Silva, um apaixonado por novas ideias. pág. 8

LEGISLAÇÃO Empresas reativam o ritmo de contratações. pág. 12

CIEE Cultural............................................................74 Cartas .......................................................................76 Ponto final.................................................................78

DIVULGAÇÃO Programa Diálogo Nacional ..................................... 5 Prêmio Literário CIEE/ABL ..................................... 43 Prêmio Literário CIEE/Senad .................................. 73 Conta Universitária Bradesco................................... 79 CIEE, estágio de qualidade ....................................... 80

AGITAÇÃO JOVEM A atribulada e cansativa vida do vestibulando. pág. 45

CULTURAL Mudança ortográfica entra em vigor, mas é facultativa até 2012. pág. 66


CARTA AO LEITOR é editada pelo

Editor responsável: Luiz Gonzaga Bertelli, MTb 10.170 (Presidente executivo do CIEE). Conselho editorial: Ruy Martins Altenfelder Silva, Luiz Gonzaga Bertelli, Jacyra Octaviano. Redação: Jacyra Octaviano (assessora de comunicação), André L. Rafaini Lopes, Andrea de Barros, Cláudio Barreto, Elizabeth da Conceição, Erika Sarinho, Roberto Mattus e Rafael Dias (estagiário). Colaboradores: Lucíola Souza (Goiânia/GO); Márcia de Freitas (São José do Rio Preto/SP); Hetth Carvalho (Salvador/BA); Silvia Lakatos. Revisão: Mário Gonzaga Athayde. Fotos: Servfoto. Arte: Edith Schmidt (edição de arte); Wilson André Filho (ilustrações). Capa: André Brazão. Produção gráfica: PIC Comunicação. Impressão: Gráfica Plural. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas à redação. As opiniões expressas em artigos assinados não coincidem necessariamente com a opinião da revista. Agitação: Rua Tabapuã, 445 - 3º andar - Itaim Bibi - São Paulo/SP - CEP 04533-001 - Tel.: (11) 3040-6527/6526 agitacao@ciee.org.br. Exemplares atrasados podem ser solicitados à redação ou podem ser consultados acessando o site www.ciee.org.br.

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set/out 2008

Após um período de adequação à nova Lei do Estágio – quando empresas, órgãos públicos e instituições de ensino buscavam esclarecer dúvidas sobre as novas normas –, a situação volta a se normalizar com a retomada no ritmo de ofertas de estágios e contratos assinados. Só no último trimestre de 2008 foram contratados mais de 42 mil jovens, já pela nova legislação. As perspectivas para este ano também são positivas. No dia 20 de janeiro foram assinados cerca de 1,5 mil contratos no Brasil – um recorde para um único dia. Janeiro de 2009 trouxe um crescimento de 18,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, com 37 mil novos contratos assinados. Nesta edição, analisamos os números e as perspectivas para o futuro do estágio. Uma das áreas com maior demanda de jovens em capacitação é a da Engenharia, carreira fundamental para o desenvolvimento do país. Pela ampliação da atuação – são mais de cem subespecialidades – e pela sua importância, os estudantes da área precisam estar bem preparados e atualizados para a atuação no mercado de trabalho. O estágio é a forma mais eficiente para o jovem conquistar a capacitação exigida pelas empresas especializadas. E os investimentos no setor não podem parar. Afinal, como mostra a reportagem de capa desta edição, existe uma ameaça de apagão na Engenharia, fruto do descaso pelo setor nas últimas décadas. Em relação aos países desenvolvidos e emergentes, o Brasil está muito aquém na formação quantitativa de engenheiros, o que pode causar, em um futuro próximo, um colapso em áreas importantes, principalmente as ligadas à infraestrutura. Especialistas, educadores e estudantes explicam as dificuldades e apresentam soluções para um problema que pode travar o Brasil rumo à melhoria dos índices de crescimento econômico. Além da crise econômica mundial, outro assunto que ganhou as páginas dos jornais neste início de ano foi o acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa. A Academia Brasileira de Letras (ABL), na figura do filólogo Evanildo Bechara, Professor Emérito 2008 CIEE/ Estadão, lidera o processo no Brasil. Agitação já adota, a partir desta edição, as mudanças ortográficas que eliminaram o trema, os acentos diferenciais e alguns acentos em ditongos abertos e hiatos – mudanças que atingem 0,5% do vocabulário brasileiro. Além da matéria que historia a reforma, a colunista Dad Squarisi, em Dicas de Português, chama a atenção para alguns casos que compõem o tratado, mas podem causar ainda muita confusão. Vale a pena conferir!


Diálogo Nacional

com Ruy Altenfelder política economia ciência literatura religião relações internacionais artes plásticas marketing político cinema comunidade saúde movimentação popular medicina marketing eleitoral teatro esporte educação urbanismo

Um programa de entrevistas com os maiores. E melhores. Sintonize 4ª Feira – 23h TV Aberta São Paulo Canal 72 TVA e 09 Net 5ª Feira – 19h30 Canal 8 Campinas – Canal 8 Net 5ª Feira 21h Canal de São Paulo – Canal 18 TVA 6ª Feira 21h30 TV Com Santos - Canal 11 Net Domingo 12h Canal de São Paulo – Canal 18 TVA Domingo 12h Blue TV Rio de Janeiro – Canal 18 TVA 2ª Feira 23h TV Com Belo Horizonte – Canal 6 Net 3ª Feira 20h TV Com Belo Horizonte – Canal 6 Net 4ª Feira 19h TV Cidade Livre Brasília – Canal 11 Net www.dialogonacional.com.br


PONTO DE PARTIDA

Aprendiz de professor A vontade de ser professor fez com que Denis Martins, 20 anos, estudante de Matemática, trocasse a carreira bancária pelo estágio na Escola Pueri Domus, em São Paulo/SP. Apesar de a bolsa-auxílio do banco ser maior, a troca possibilitou sua entrada no segmento profissional pretendido: “valeu ter corrido atrás.” Sua motivação é a vontade de ensinar e o estágio

possibilitou-lhe adquirir habilidades e competências para assumir aulas no futuro. “Aprendo bastante com os professores e coordenadores, que me incentivam muito”, diz. Além de fazer o papel de monitor, o estagiário é responsável pelas aulas de reforço que ajudam os alunos em dificuldades na disciplina.

DO ESTÁGIO PARA O MUNDO Se os jovens pudessem selecionar as empresas para estagiar, a maioria escolheria organizações multinacionais ou em plena expansão, com programas motivacionais e que proporcionassem experiências no exterior. Para Carlos Alberto Ercolin, o desejo tornou-se realidade, já que aos 22 anos, enquanto cursava Administração de Empresas com ênfase em Comércio Exterior, conquistou uma vaga de estágio na Nestlé. Um ano depois, já fazia parte do quadro de funcionários da empresa, onde teve a oportunidade de viajar para mais de 20 países, passando por

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diversos cargos de gestão. “A Nestlé alavancou minha carreira, mas é importante que o jovem também dê sua contribuição.” Quinze anos depois, Ercolin recebeu convites e passou pela Renault e Laboratórios Fleury, entre outros. Contudo, nunca perdeu de vista seu sonho de se tornar professor universitário. Antes do que imaginava, começou a dar aulas e, em 2006, passou a fazer parte da cadeira de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Aos 48 anos, Ercolin também é sócio diretor da Hexis Consulting, empresa de consultoria empresarial.

ESTÁGIO É FUNDAMENTAL Estagiar foi fundamental para a carreira da arquiteta Violêta Saldanha Kubrusly, da Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo. Ela iniciou no programa de capacitação em 1977, na Coorde-


FORMAÇÃO DE LÍDERES Um dos prefeitos mais jovens do estado de São Paulo, 38 anos, Edenilson de Almeida – recém-empossado em Guararapes, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, no noroeste de São Paulo/SP – foi estagiário na Caixa Econômica Federal, em 1987. “O estágio mudou meu destino profissional”, analisa. Foi durante o treinamento prático no banco que o atual prefeito teve certeza de sua vocação para a área contábil. No estágio, Almeida também adquiriu várias habilidades que facilitaram sua trajetória. Após obter o di-

nadoria Geral do Planejamento (Cogep) – atual Secretaria Municipal de Planejamento (Sempla) –, e desde o fim do estágio, trabalha para a prefeitura paulistana. “Foi uma experiência valiosíssima, pois entre a teoria e a prática há uma grande diferença”, explica. Para Violeta, o estágio complementa as disciplinas lecionadas na universidade, possibilitando ao estudante conhecer o cotidiano da carreira pretendida. “Também é a chance de aprender com os mais velhos”, diz a arquiteta, que já orientou muitos estagiários durante sua carreira. “Muitos deles ocupam hoje cargos importantes”.

ENTRE ASPAS

ploma de ensino superior de Ciências Contábeis, na vizinha Araçatuba/SP, ele investiu na carreira pública. Sua última função, antes de concorrer à prefeitura, foi a de analista técnico contábil dos projetos da Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, regional Araçatuba.

Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é sincero. O brasileiro despreza o conhecimento e venera títulos e diplomas.

Olavo de Carvalho, jornalista e professor de Filosofia. (Diário do Comércio 27/1/2009)

Nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com que nos deparamos podem ser novos. Mas aqueles valores dos quais nosso sucesso depende – trabalho duro e honestidade, coragem e justiça, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo – são antigos.

Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em seu discurso de posse.

INÍCIO COM O PÉ DIREITO Não demorou muito para Felipe Pereira da Silva Soares realizar seu sonho de infância. Estudante do último ano de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) e vizinho da TV Clube, afiliada da TV Globo em Teresina/ PI, ele cresceu vendo carros de reportagem e jornalistas entrando e saindo da emissora. Mas foi em março de 2008 que sentiu o gostinho do sonho realizado, após passar no processo seletivo do estágio na TV: “Tenho 23 anos, mas já me sinto realizado.” Para Felipe, sua permanência na emissora já valeu pelas boas experiências. “Aprendi a trabalhar com prazos em tempo real. Diferente da faculdade, onde temos um mês ou mais para entregar um projeto”, enfatiza.

Apesar de ter começado a carreira com o pé direito, Felipe sabe que o estágio é apenas o início e, para passar para a próxima fase, a conquista da efetivação, é preciso dedicação e paixão pela profissão, características fortes do estudante.

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ENTREVISTA

OZIRES SILVA, presidente da Pele Nova Biotecnologia.

Aos 78 anos, o engenheiro aeronáutico Ozires Silva continua apaixonado pelos processos de inovação e não abre mão de buscar novos desafios.

“A criatividade é o maior dom do ser humano” Foi no município paulista de Bauru, sua terra natal, que Ozires Silva encontrou a vocação para o empreendedorismo e para a aviação. Frequentando escolas de aeromodelismo e pilotagem de planadores, o garoto descobriu-se fascinado não somente pela arte de voar, mas, também, pelo desafio de construir aviões. Disposto a realizar seu sonho, o jovem de família humilde batalhou por uma bolsa de estudos, que foi concedida pela Força Aérea Brasileira (FAB). Aos 20 anos, tornou-se oficial aviador e piloto militar, e depois se formou em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). 8

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Em 1969, Ozires liderou o grupo responsável pela criação da Embraer. Permaneceu como presidente da empresa até 1986, quando assumiu o comando da Petrobras. Em 1990, aceitou o convite para ser ministro da Infraestrutura, e no ano seguinte retornou à Embraer para coordenar o processo de privatização da empresa, concluído em 1994. Hoje, a Embraer é reconhecida mundialmente como uma das empresas mais importantes do setor aeroespacial e exporta cerca de 90% de sua produção. Paralelamente à carreira bem-sucedida – que inclui passagens pela presidência da Varig, pelas indústrias Philips e

Procomp e pelos conselhos consultivos de instituições financeiras –, Ozires tem uma trajetória marcada pela participação social intensa. Atualmente preside o Fórum de Líderes, que congrega empresários de todo o país, e o WTC Clube, agremiação do World Trade Center que visa promover negócios internacionais. Também acaba de assumir a administração de ensino do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), em Santos (SP), e é conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). E continua ativo no mundo dos negócios, como presidente da Pele Nova Biotecnologia, onde desenvolve soluções em fármacos e cosmetologia, e do Conselho da Brasil & Movimento, controladora da fabricante de motos e bicicletas Sundown. Nesta entrevista, o ex-ministro ressalta a importância de estimular a inovação e de correr contra o tempo para acompanhar os progressos do mundo global. E alerta:


“se não remodelarmos o processo educativo nacional, acabaremos por nos tornar uma nação pobre e atrasada”. Agitação – O senhor contribuiu ativamente para o desenvolvimento da indústria aeronáutica do país. Também foi ministro de Estado e presidente da Petrobras. No entanto, sua vida não se restringiu ao mundo dos negócios. Qual sua motivação para atuar em tantas frentes? Ozires Silva – Sou fascinado pelo processo de buscar o novo. O que diferenciou o homem dos outros animais foi o intelecto. Tudo que o homem pode utilizar, todas as matérias-primas que a Terra tem, foram encontradas aqui, neste planeta. Experimente chegar num campo e olhar à sua volta. Depois, reflita: os óculos que uso, a roupa que estou vestindo, os cosméticos que a gente usa, a alimentação, tudo, em certo momento, foi retirado da paisagem que você está olhando. E quem tirou da natureza foi esse bicho homem. Nenhum outro bicho fez isso. Nós não temos concorrência. Então, essa capacidade intelectual tem que ser usada. A criatividade é o maior dom do ser humano. Agitação – Uma de suas obras intitulase Cartas a um jovem empreendedor. Em sua opinião, o que um jovem deve fazer para ter uma carreira de sucesso, aliando ganhos financeiros e realização pessoal? Ozires Silva – Ele tem de colocar em jogo a capacidade criativa que a natureza lhe deu. Por exemplo, em 1913, o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual Industrial da Inglaterra pediu o fechamento do órgão porque achava que não tinha mais nada para ser inventado. Isso, em 1913! Acho que hoje esse mesmo sujeito reconheceria que ainda falta inventar muita coisa. A nossa capacidade criativa é infinita e cabe a cada um buscar esse potencial criador dentro de si mesmo.

Sou fascinado pelo processo de buscar o novo. O que diferenciou o homem dos outros animais foi o intelecto.

Temos a capacidade criativa de produzir algo melhor, de inventar coisas que possam ajudar alguém e que possam ser úteis dentro das estruturas e regras que nós mesmos, humanos, criamos. Nós criamos dinheiro, as transações comerciais, os mecanismos operacionais. Até a sociedade competitiva em que vivemos foi uma invenção nossa. Agitação – As deficiências da educação são frequentemente apontadas como um dos principais entraves ao desenvolvimento do país. Qual a sua opinião a respeito desse assunto? Ozires Silva – Quando uma criança nasce, ela tem uma série de atributos que a natureza lhe concede. Mas ela não nasce com uma capacidade intelectual definida. O intelecto é algo que o indivíduo irá desenvolver ao longo da vida e, para isso, o processo educacional é indispensável. A bagagem de conhecimento da humanidade tem crescido num ritmo muito acelerado. Consta que a primeira vez em que o conhecimento da humanidade dobrou foi na época de Cristo. Depois, ela teria dobrado novamente na época da Renascença. E, agora, afirma-se que o conhecimento humano dobra a cada ano. Então, nós temos que oferecer às crianças e aos jovens

os instrumentos necessários para que acompanhem esses saltos. Só que nós estamos falhando nisso, principalmente no Brasil. Há uma unanimidade impressionante quanto a isso. Agitação – O que seria necessário fazer para preencher as lacunas encontradas hoje, oferecendo ao jovem chances reais de desenvolvimento pessoal e aprimoramento profissional? Ozires Silva – Outro dia, eu estava lendo no Estadão a despedida da Claúdia Costin, que aceitou ser secretária da Educação do município do Rio de Janeiro. No texto, ela fez um libelo próeducação. E libelos pró-educação nós estamos vendo e ouvindo todos os dias. Agora, não é com libelo que a gente resolve esse negócio; é com um processo racional de desenvolvimento, apoiado numa base técnica e tecnológica, educativa e social. Eu fiz um artigo, outro dia, no qual discutia as previsões que todo mundo faz, a economia e tudo o mais. Nesse artigo, eu dizia: há uma previsão que nós conhecemos e temos certeza de que irá se cumprir: se nós não apostarmos na formação dos bebês que estão nascendo hoje, dentro de 20 anos seremos uma nação pobre. Para que isso não ocorra, precisamos fazer um esforço gigantesco! Qual é a diferença entre a Finlândia e o Brasil? A diferença é a educação. E está mais do que claro que esta não é uma questão simplesmente de investimento. Essa é uma questão também de tutano. Tem de ter metas e compromissos sérios com o cumprimento delas. O CIEE faz isso numa escala bastante grande. A luta do CIEE pela educação é absolutamente clara, expondo o jovem a um estágio, que é um desafio. Precisamos de mais esforços nessa direção. Agitação – O fato de o Brasil ser um país agro-exportador, com muitas riquezas naturais, não nos garante um futuro próspero? jan/fev 2009

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Ozires Silva – Não. Sabe quanto nós exportamos por quilo? Não consegui esse dado, mas posso calcular. Nós vendemos para a China um quilo de minério por 35 centavos de dólar. Mas esse gravador, fabricado em Cingapura, custa 2 mil dólares por quilo. Nós vamos conseguir pagar esses produtos no futuro? Vendendo soja, minério, suco de laranja? Nada contra esses produtos, que são absolutamente essenciais. Mas isso não basta para o nosso desenvolvimento. Um quilo de satélite, que nós usamos nas nossas comunicações, vale 50 mil dólares. Tem produto aí de dois, três, até seis milhões de dólares por quilo. E nós estamos com exportações de 35 centavos de dólar!

Vocês não acham que precisamos criar um novo sistema operacional que não bloqueie o computador e seja mais rápido?

Agitação – Nas indústrias de tecnologia e de engenharia aeronáutica, existe forte demanda por profissionais. Os jovens devem apostar nessas áreas? Ozires Silva – Em 2008, mais de 70% dos vestibulandos escolheram profissões ligadas a ciências não exatas. E, daqueles que foram para cursos de exatas, a maioria optou por carreiras ligadas à informática. E fizeram isso cometendo um erro enorme, pois eles querem trabalhar com software, nada de hardware. Outro dia, numa palestra para um pessoal jovem da área de informática, perguntei se eles conseguiam fazer rodar um software sem computador, e é claro que eles responderam que não. Aí, eu propus um desafio: se eles pudessem comparar o nível tecnológico do software e o nível tecnológico do hardware, qual deles seria considerado o mais avançado? Deu um bate-boca dos diabos. Eram 1,5 mil jovens! Interrompi, e falei: agora vou dar a minha posição. E defendi que o hardware é bem mais avançado. Falei para eles: vocês não acham que a gente tem de criar um novo sistema operacional que não bloqueie o computador, que seja mais rápido, que não seja tão complicado? Hoje, utilizar o computador, necessariamente, é complicado. Perde-se tempo no processo operacional, tem hora que ele enguiça e 10

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a conhecer e apreciar as maravilhas da matemática. O anúncio diz, também, que as crianças de hoje serão os cientistas e os engenheiros de amanhã. Está certo. Mas, para isso, essas crianças precisam da nossa ajuda, porque hoje a sociedade as induz a entrar no mercado de uso das coisas que já foram feitas. Um menino ganha um IPhone que armazena 1.500 músicas e se dá por satisfeito. Ele não pergunta quem criou aquilo, como teve a idéia, como fabricou. Não existe mais essa curiosidade. As facilidades às quais ele tem acesso suprem suas necessidades pessoais e ele não sente mais o gosto de superar desafios. Você não consegue fazer um computador sem o engenheiro, nem uma casa, nem uma estrada. No ano passado, a China formou 300 mil engenheiros. No Brasil, formamos 23 mil. Agitação – Como o senhor optou pelo caminho da engenharia aeronáutica?

você precisa chamar um especialista para resolver o problema. Existe um espaço aí para se trabalhar, criar, inovar. Agitação – E quais serão as áreas mais carentes de bons profissionais nos próximos anos? É verdade que existe um “apagão” da engenharia? Ozires Silva – Sim, e esse problema não está só no Brasil. Vi um anúncio muito interessante, numa revista aeronáutica, de uma companhia americana que criou um site voltado a estimular a juventude

Ozires Silva – Quando eu tinha uns 10 anos, Getúlio Vargas, que era o presidente da República, colocou como presidente da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, cuja sede era em Bauru, minha terra natal, um coronel do Exército vidrado por aviação. E esse homem fantástico, que se chamava Américo Marinho Lutz, foi o responsável pela criação de uma escola de aeromodelismo, uma escola de planadores e uma escola de pilotagem. Além disso, conseguiu trazer da Europa o suíço Hendrick Kurt, foragido da Segunda Guerra Mundial, que fabricava planadores na Suíça. Kurt começou a tentar fabricar planadores no Brasil. Ele gostava muito da criançada e nos colocava para ajudar a fabricar as pecinhas que iam dentro dos planadores. Assim, diferentemente do que acontecia com os outros jovens, que só pensavam em pilotar os aviões, nós começamos a nos encantar com as invenções espetaculares que existiam no interior dos aparelhos. E Kurt falava, com aquele português carregado


de sotaque: “não há um piloto que não tenha um avião para voar”. Comecei a questionar o porquê de o Brasil não fabricar aviões, já que o país tinha quase a mesma idade dos Estados Unidos. E esse desejo de fazer um avião brasileiro resultaria, mais tarde, no projeto da Embraer. Tenho certeza de uma coisa: sem o Américo Lutz, e sem o Hendrick Kurt, a Embraer não existiria. Agitação – Houve outros fatores que despertaram o seu interesse pela aviação? Ozires Silva – O que eu quero dizer é que esses dois homens deram a base para que algo importante acontecesse no futuro. O Thomas Edison, por exemplo, inventou o monóculo, a televisão, a lâmpada elétrica e coisas dessa natureza. É claro que tudo isso tem um mérito enorme, mas o que o levou a inventar a lâmpada elétrica? A base tecnológica que já existia nos Estados Unidos, é claro! Porque se não existisse a base tecnológica, ele não poderia reunir elementos necessários para a invenção da lâmpada. O Edison não inventou nenhum dos materiais que usava para fabricar a lâmpada. Ele não inventou o vidro e os outros componentes. Tudo isso é uma sequência, uma soma de relação do que foi obtido antes. Santos Dumont também não partiu do zero: ele usou um motor a explosão, que tinha sido inventado por um alemão. Observe, então, que é necessário você criar essa base técnica, tecnológica, cultural e educacional, porque a cabeça de uma criança é uma esponja extraordinária, o que você coloca lá dentro, fica. Na China, as crianças estão começando a ir para a escola com três anos de idade. Aqui no Brasil, a matrícula só é obrigatória a partir dos seis anos. Assim estamos perdendo três anos importantíssimos. Agitação – É importante estimular os estágios, que oferecem aos jovens a possibilidade de aprender de maneira prática, enquanto participam do dia-a-

dia das empresas. Mas, e para a empresa? Qual a vantagem? Ozires Silva – Dar ao jovem o acesso ao conhecimento, a chance do aprendizado, é um dever da sociedade. Aquele coronel da estrada de ferro nem sabia quem era o Ozires. Eu estava lá no meio, era mais um. Mas ele me expôs àquela excitação, àquele ambiente, e foi assim que o meu futuro se definiu. Hoje, a Embraer gera 50 mil empregos diretos e indiretos. Tudo isso foi plantado por aquele coronel. É a mesma coisa que você pegar uma área agricultável e plantar um monte de sementes. Você não sabe qual delas vai produzir mais frutos. Do mesmo modo, não sabemos quais serão os estagiários do CIEE que vão dar certo, mas temos que proporcionar a eles a melhor condição possível. A gente tem de criar o ambiente ideal para que, de repente, dê aquele estalo. Thomas Edison fez 1.275 experimentos para criar uma lâmpada elétrica. Aí disseram para ele: “Professor, você já tentou mais de mil vezes esse negócio, será que é possível fazer uma lâmpada elétrica?”. Ele respondeu: “Nessas mil vezes eu vi como não se faz uma lâm-

Dar ao jovem conhecimento, a chance do aprendizado, é um dever da sociedade. Temos de criar o ambiente ideal para que dê aquele estalo.

pada elétrica”. E ele persistiu, até que a tentativa de número 1.276 deu certo. Assim, acredito que todas as empresas devem abrir as portas para o máximo número de estagiários, pois ninguém sabe se ali está nascendo um Lavoisier, um Santos Dumont. Agitação – A Embraer será muito prejudicada pela crise mundial? Ozires Silva – Pode acontecer, porque a Embraer depende do mercado externo. Ela vende muito para os Estados Unidos, onde a crise se formou e assumiu sua pior forma. Assim, é possível que a Embraer sofra. Mas fico olhando para o meu país e me pergunto o que nós temos com isso. Possuímos um excelente mercado interno. O brasileiro roda a economia. Se ele tiver recurso, ele compra. No entanto, todos os governos do Brasil, por cultura e por comportamento, seguram o consumo. Quando a gente começa a gastar, os economistas se apavoram, dizendo que a inflação será inevitável porque vai faltar produto. Fico horrorizado com esse negócio! Tantos países no mundo cresceram, e cresceram sem inflação... Nesse momento de crise, se o governo tivesse tutano apostaria no desenvolvimento do mercado interno. Bastaria soltar as amarras do povo, baixar a taxa de juros, reduzir a burocracia – o Brasil é recordista mundial em dificuldades para se criar uma empresa – e dar a chance de uma economia pujante florescer. Isso evitaria o desemprego e não sentiríamos nem o cheirinho dessa crise. Dia desses, eu falei para o Meirelles [Henrique Meirelles, presidente do Banco Central] que o Alan Greenspan [ex-presidente do FED, o Banco Central dos Estados Unidos] deve ser um estúpido. Ele perguntou por quê: se ele, para controlar a inflação, baixa os juros, e nós aumentamos, e se nós é que estamos certos, então ele é um estúpido. Aí, o Meirelles falou: ‘Quer dizer que se ele estiver certo, nós A é que somos estúpidos?’ (risos). jan/fev 2009

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LEGISLAÇÃO

A NOVA GERAÇÃO DE ESTAGIÁRIOS No último trimestre do ano passado, 42,5 mil jovens foram contratados de acordo com a nova Lei do Estágio, e o CIEE entra em 2009 com resultados animadores. Camilla Sobral Jens é a cara da nova geração de estagiários que começou a ser formada no final de setembro, quando a lei 11.788 entrou em vigor, atualizando as normas de estágio. Ela tem 24 anos, está no terceiro semestre do curso de Sistemas da Informação na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban) e, no dia 20 de outubro, assinou seu primeiro contrato de estágio. “Fiquei sabendo das mudanças por um amigo, e nem sei ao certo como os programas de estágio funcionavam antes”, revela Camilla, a primeira estudante

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que a Service IT Solutions – empresa da área de tecnologia da informação – contratou segundo a nova lei. Assim como Camilla, uma significativa parcela dos 42,5 mil jovens que iniciaram estágio no último trimestre de 2008 também foi contratada pela primeira vez. Eles só conhecem programas que têm carga horária de seis horas diárias, estão integrados com o currículo escolar A estagiária Camilla Jens (abaixo) e a supervisora Tais Saraiva se adaptaram com tranquilidade à lei.

e preveem recesso remunerado e auxíliotransporte, além da bolsa-auxílio. Aqueles que acompanham a distância o processo de implementação da nova Lei do Estágio podem até se confundir com as alterações, mas quem só vivencia a nova realidade já absorveu as novidades, sem dar sinais de qualquer tipo de trauma. A esperança venceu. A violenta retração na abertura de vagas, antecipada por entidades pouco informadas ou mal-in-


tencionadas, não aconteceu. A bem da verdade, logo após a promulgação da lei o ritmo de contratação arrefeceu, como ocorre inevitavelmente com qualquer mudança, mas o impacto foi intensificado porque a lei entrou em vigor sem um período de transição. Isso retardou, por exemplo, a assinatura de novos contratos pelas instituições de ensino, que se viram obrigadas a, subitamente, se adequarem às novas exigências no meio do segundo semestre, quando estavam envolvidas com a preparação dos exames de final de ano e dos vestibulares. Também os órgãos públicos precisaram suspender temporariamente as contratações, diante da necessidade legal de prover recursos para cobrir as novas despesas com estágios, como a concessão obrigatória de auxílio-transporte. Além disso, vale lembrar que a crise internacional eclodiu nesse período, colocando o mundo empresarial num clima de cautela num efeito negativo que coincidiu com a nova lei. Acendendo vela. “O CIEE tinha consciência desse impacto, mas sempre fez questão de afirmar publicamente sua confiança na retomada da expansão do estágio, que vem sendo reconhecido pelas empresas como a mais eficaz ferramenta de atração e preparação de novos talentos”, relata Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE. Mais do que isso, promoveu uma ampla campanha de divulgação e esclarecimento sobre nova lei. “Preferimos acender uma vela, em vez de amaldiçoar a escuridão”, compara. Como resultado, o CIEE se transformou num ativo canal de comunicação entre o governo e o mercado, numa postura que já rendeu bons frutos. O principal deles é a cartilha editada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com duplo objetivo: esclarecer as principais dúvidas das empresas sobre alguns tópicos obscuros da

lei e orientar a atuação dos auditores da Pasta na sua ação fiscalizadora sobre as relações de trabalho. Ocorre que, embora o estágio seja uma atividade pedagógica – portanto, no âmbito do Ministério da Educação –, seu desvirtuamento pode configurar vínculo empregatício, com a consequente perda das isenções de encargos e levando o caso para o âmbito do MTE. Na opinião de Bertelli, esse risco é mínimo, quando a empresa contratante conta com o apoio e assessoria legal de um agente de integração sério e responsável, como é o caso do CIEE que tem quase meio século de tradição em inserção de jovens no mercado de trabalho e é referência nacional quando se fala em estágio. De volta à calma. A realidade logo se encarregaria de dar razão ao CIEE, pois assim que os órgãos públicos adequaram seus orçamentos e as empresas tomaram conhecimento dos esclarecimentos do MTE, o ritmo das contratações começou a subir, gradual mas firmemente. Já em meados de janeiro, o CIEE registrou dois resultados expressivos. No dia 15, apenas na capital paulista, foram assinados 400 novos contratos de estágio e, cinco dias depois, outra marca foi batida: 1.442 contratos foram firmados em todo o país.

Respeitando a lei, empresas retomaram a contratação de estagiários em 2009.

Apesar de animadores, os números agradaram, mas não surpreenderam o CIEE. Antenada na realidade, a instituição já havia detectado sinais de que, com um pouco de paciência, as coisas voltariam a seu ritmo normal. Um exemplo de sinalização positiva: um mês após a sanção da nova lei, uma pesquisa realizada pela consultoria Watson Wyatt mostrava que 89% das grandes empresas se adequariam sem que o quadro de estagiários fosse afetado a curto prazo e, melhor, 3% já apontavam até para aumento no número de contratações. “Entre aquelas que reduziriam o quadro, 71% afirmaram que fariam isso efetivando os estagiários imediatamente ou após o término do contrato”, destaca Christian Mattos, gerente de Informações de Mercado da Watson Wyatt. Novamente a Service IT Solutions serve de exemplo na fase de adaptação: muitas das obrigatoriedades da nova lei, tais como a concessão de bolsaauxílio, benefícios e supervisão a cada estagiário, já eram praticadas na organização. Já a diminuição da carga horária, que agora não pode ultrapassar seis horas/dia e 30 horas semanais, gerou, sim, um pequeno impacto. “Mas isso jan/fev 2009

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LEGISLAÇÃO CARTILHA DO MTE AUTORIZA O intervalo de almoço e lanche não pode exceder a 15 minutos e ga car na do iliza tab deve ser con horária do estagiário; O recesso deve ser concedido dentro do período de 12 meses e de estágio e preferencialment e ; res durante as férias escola nO cálculo para determinar a qua ino ens de s ário agi est de tidade ados médio que podem ser contrat de ero núm no é feito com base funcionários de cada filial ou estabelecimento.

representa um ganho para os estagiários, que poderão conciliar melhor a questão profissional com a acadêmica”, defende Tais Saraiva, gerente de RH, mostrando que continua a acreditar no retorno do estágio para a empresa. A ajuda da cartilha. No final de dezembro, o MTE disponibilizou a versão digital da Cartilha Esclarecedora sobre a Lei do Estágio, abordando as 37 dúvidas mais recorrentes entre empresas, instituições de ensino, estudantes, agentes de integração e até mesmo seus auditores. “Num primeiro

momento, a ação da fiscalização será educativa e informativa, e somente na etapa final serão determinadas medidas punitivas para coibir eventuais desvirtuamentos do estágio”, afirmou Carlos Lupi, ministro do Trabalho e Emprego, durante o lançamento da cartilha no CIEE, em dezembro, acompanhado por Ezequiel Sousa do Nascimento, secretário de Políticas Públicas de Emprego do MTE. O principal questionamento dos gestores de recursos humanos se referia à possibilidade de se conceder ao estagiário um intervalo para almoço ou lanche acima de 15 minutos, sem que fosse contabilizado na carga horária de seis horas/dia. Com a cartilha, a dúvida desaparece, pois ela explicita que esse intervalo não deve ser computado, sendo a única exigência que todos os horários sejam registrados no Termo de Compromisso de Estágio assinado pelo estudante, instituição de ensino e empresa ou órgão público antes do início do treinamento. Além disso, a cartilha explica que o recesso obrigatório de um mês deve ser concedido dentro de cada período de 12 meses, preferencialmente durante as férias escolares e de forma proporcional em contratos com duração inChristian Matos detectou que a nova lei seria assimilada, após um mês da sanção.

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Ministério do Trabalho e Emprego: o secretário Ezequiel Sousa e o ministro Carlos Lupi no lançamento da cartilha.

ferior. O terceiro esclarecimento mais importante da cartilha refere-se ao cálculo para determinar o número de estagiários de ensino médio que podem ser contratados, com base no número de funcionários. Segundo o MTE, o cálculo deve ser feito especificamente por unidade, filial ou escritório, no caso de empresas contratantes que atuam em locais diferentes. O mesmo critério vale para órgãos públicos. “A realidade vem, mais uma vez, confirmar análises do CIEE sobre o cenário do estágio, que sempre privilegia uma postura serena e não imediatista, quando surgem novidades”, afirma Bertelli. “Desde o início, encaramos a lei como benéfica e modernizadora do estágio, embora ainda passível de aperfeiçoamentos, como qualquer obra humana”. Para ele, a lei tem dois grandes méritos: mantém o caráter educacional do estágio (“com a consequente isenção de encargos trabalhistas e previdenciários”) e compatibiliza o interesse das empresas (“que querem continuar contando com um eficaz instrumento de recrutamento e capacitação de futuros talentos”) e o dos estudantes (“que ganham novos A direitos e benefícios”).


Dúvidas mais que esclarecidas Luiz Gonzaga Bertelli Quando a nova Lei do Estágio foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro do ano passado, algumas dúvidas pairaram sobre empresários, educadores e estudantes. Sem tempo adequado de transição, nem mesmo os técnicos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) sabiam ao certo como responder a todas as questões que surgiam. O Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), que desde o início vinha acompanhando de perto o processo da elaboração da nova lei, promoveu vários eventos para detectar os principais entraves à aplicação das normas, mostrando ao ministério a necessidade de um documento para esclarecer alguns pontos obscuros que podiam prejudicar a oferta de oportunidades de estágio, que se mantinha numa expressiva tendência de crescimento nos últimos dez anos. O ministro Carlos Lupi e seus assessores aceitaram a empreitada e, no final de dezembro, o ministério divulgou em seu site a esperada Cartilha Esclarecedora sobre a Lei do Estágio, respondendo a 37 dúvidas mais frequentes, muitas delas surgidas nos debates entre empresários, estudantes e técnicos do governo federal na sede do CIEE, em São Paulo, ou na Central de Atendimento Gratuito (0800-771-

A decisão sobre a concessão do horário de almoço aos estagiários agradou a todas as partes. Elogiável a atuação do ministério, que agiu rápido para colocar os pingos nos “is” em um momento crucial. 2433) criada para dirimir as dúvidas sobre a lei, que já recebeu mais de 64 mil telefonemas. A cartilha divulgada pelo ministério, na verdade, vem tranquilizar as empresas, principalmente quanto aos critérios de fiscalização, eliminando, assim, eventuais riscos de atuação decorrentes de interpretações conflitantes que poderiam nascer de diferentes entendimentos legais. Além disso, ela define, de modo claro, alguns pontos importantes como o cálculo que deve ser feito pelas empresas com filiais ou agências espalhadas pelo país para contratar estagiários do ensino médio ou o período em que deve ser concedido o recesso remunerado obrigatório ao esta-

NOVAS IDÉIAS giário. Nesses casos, a decisão do ministério conseguiu contemplar os interesses dos jovens e das empresas. No tocante ao recesso, que vem sendo indevidamente chamado de “férias”, ele deve ser concedido dentro do período de 12 meses, sendo calculado proporcionalmente no caso de contratos com duração menor. É importante não confundir com férias, pois, apesar de ser remunerado (no valor da bolsa-auxílio mensal), o recesso não abriga qualquer tipo de encargos. A decisão sobre a concessão do horário de almoço dos estagiários também agradou a todas as partes. Antes, a interpretação era a de que o estudante só teria direito a 15 minutos de intervalo. Agora a cartilha deixa claro que o intervalo não mais contará na carga horária, possibilitando, assim, que o jovem se alimente mais adequadamente, principalmente para quem cumpre uma dupla jornada como o estágio e a escola. Elogiável a atuação do ministério, que agiu rápido para colocar os pingos nos “is”. Em um momento no qual só se fala em crise mundial, não podemos permitir que o jovem seja prejudicado em sua busca pelo sonho de uma formação profissional sólida, garantia de um futuro promissor na carreira e de um país melhor para todos. A

LUIZ GONZAGA BERTELLI É PRESIDENTE EXECUTIVO DO CIEE, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE HISTÓRIA (APH) E DIRETOR DA FIESP.

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EMPRESA

Mercado de trabalho para criadores de games se amplia. Desmond Miles é um sujeito pacato que decide explorar o passado de seus ancestrais. Por meio de um revolucionário processo, descobre que não somente é possível resgatar lembranças gravadas em seu código genético como também revivê-las. Em uma máquina de realidade virtual, Miles encarna seu antepassado Altaïr Ibn La-Ahad, membro de uma fraternidade de assassinos que, no século 12, defendia a Terra Santa dos Cavaleiros Templários, durante as Cruzadas. Os aparelhos tecnológicos que antes o circundavam se transformam em vilas árabes com seus mercados, templos e habitantes. Nessa personalidade, ele deve cumprir missões, ora se esgueirando pelos becos para matar soldados na surdina, ora fugindo de tropas aos pulos de telhado em telhado. Esta, que poderia ser o mote de um filme ou livro de ficção científica, é, na 16

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verdade, a história de Assassin’s Creed, jogo eletrônico para videogames de última geração, da produtora francesa Ubisoft, que recria com riqueza de detalhes os cenários medievais. Foi-se o tempo em que os programadores tinham de se preocupar somente com a quantidade de fantasminhas que perseguiriam o Pac-man, sucesso dos games da década de 1980. Ao se ampliar a capacidade de processamento de dados dos consoles modernos a níveis estratosféricos, o desenvolvimento de games, hoje, pede profissionais mais e mais capacitados; afinal, cada mundo fantástico deve ser criado do zero. A Ubisoft decidiu investir no potencial dos programadores brasileiros, atraída por sua força criativa, pelo baixo custo de produção em relação aos salários europeus e pela cultura. Assim, no final de outubro passado, a produtora abriu o primeiro estúdio de criação de jogos

Bertrand Chaverot, da Ubisoft, planeja ter 200 funcionários em até quatro anos, e elogia a criatividade dos profissionais brasileiros.


de última geração no país. Bertrand Chaverot, diretor da Ubisoft Brasil, conta que recebeu a inscrição de seis mil interessados nas 20 primeiras vagas do estúdio e elogia os contratados: “são impressionantes”. Dentro de três ou quatro anos, o diretor estima que o grupo chegue a 200 funcionários – um terço de artistas gráficos que produzem os primeiros esboços em 2D e 3D de imagens do jogo; um terço de programadores; e um terço de game designers (que inventam as regras do jogo), roteiristas e engenheiros de som. A estratégia foi adotada anteriormente na cidade canadense de Montreal, o que acabou por atrair outras desenvolvedoras, transformando a cidade em um dos mais importantes polos de criação de games. Segunda fase. Até a chegada da Ubisoft, os brasileiros só participavam desse mercado por projetos terceirizados. O último relatório divulgado pela Associação Brasileira de Desenvolvedoras de Jogos Eletrônicos (Abragames), em julho do ano passado, registrava 560 profissionais empregados em 42 empresas. De acordo com a associação, 43% da produção nacional de softwares para jogos é destinada à exportação e o faturamento bruto do

setor é de 87,5 milhões de reais. André Penha, presidente da Abragames até dezembro passado e diretor da produtora Tectoy Digital, projeta a expansão do mercado até 2011. A estimativa é que as vendas passem a ser feitas diretamente com as produtoras, no próximo triênio, quando as mídias físicas nas quais os jogos são comercializados (DVD e Blu-ray) entrarem em declínio e a transmissão de dados pela internet ganhar mais velocidade. “Por enquanto, a mortalidade dos estúdios é muito grande”, observa Penha, chamando a atenção para a complexidade do negócio: além de criar os jogos, os empreendedores devem saber como se administra uma empresa e ainda aprender a exportar. Para pegar o ritmo do mercado, ele aconselha aos jovens participar de programas de estágio, como o mantido pela Tectoy Digital. Atualmente, cerca de dez estudantes estão sendo treinados nos laboratórios da empresa. O que pode parecer o estágio dos sonhos, revela-se uma atividade árdua e bastante complexa. “Muitos de-

sistem no meio do caminho”, observa Bruno Gonçalves, que estuda Ciências da Computação na Universidade de São Paulo (USP), em São Carlos/SP, e estagia há um ano na Tectoy. Bruno cresceu se divertindo com as máquinas de fliperama e com o Mega Drive, videogame trazido ao Brasil pela Tectoy na década de 90 e que ganhou uma versão atualizada. “Já entrei na faculdade querendo fazer jogos”, confidencia. Na empresa, tem em seu currículo a adaptação de quatro jogos para o Mega Drive e atualmente auxilia o desenvolvimento de um jogo para o Nintendo DS, console portátil da fabricante japonesa. “Ainda me divirto muito com jogos eletrônicos, mas os vejo agora com olhos mais críticos, estudando os diferenciais de cada um para melhorar os meus”, conta o jovem. Terceira fase. Na primeira semana de 2009, a imprensa especializada divulgou uma notícia que pode ser a confirmação do sucesso da estratégia adotada pela Ubisoft. O Brasil começou mesmo a chamar a atenção de grandes estúdios: John Dillulo, diretor da Activision-Blizzard, em visita ao país, anunciou que a empresa entrará oficialmente no mercado brasileiro de games este ano. “Quando começamos a realizar ações mais diretas ao entrar oficialmente no mercado, notamos um grande impacto nas vendas e também no comportamento dos consumidores, e isso é muito importante para nós”, afirmou Dillulo ao A site Arena Turbo, do portal IG.

André Penha (acima) e Bruno Gonçalves, diretor e estagiário da Tectoy Digital: desenvolver jogos é complexo e árduo. jan/fev 2009

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EMPRESA

Massas com um sabor a mais Um dos maiores pastifícios brasileiros, a Basilar aposta no projeto Aprendiz Legal como forma de qualificação e compromisso social. A adoção do programa Aprendiz Legal promete dar um sabor especial ao perfil da Basilar, pastifício fundado em 1965 e que atualmente faz parte da holding M. Dias Branco – grupo empresarial com matriz em Fortaleza/CE. A unidade instalada em Jaboticabal, no interior de São Paulo, conta 18

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com 440 funcionários e sete aprendizes, que participam de treinamentos nos setores de logística, administração, comercial e recursos humanos. Antes de recepcionar os jovens, os funcionários foram informados da importância da iniciativa do CIEE em conjunto com a Fundação Roberto

Aprendizes que atuam na empresa de Jaboticabal. No destaque, Caroline Pandolpho.

Marinho. “Costumo dizer que todos nós começamos um dia, mas muitos, quando já se encontram no mercado de trabalho, parecem esquecer esse detalhe”, explica Leidiane Regina Te-


lis, assistente de Recursos Humanos. Por isso, no dia em que os aprendizes começaram no programa, houve uma recepção calorosa. “Todos receberam os jovens de braços abertos, literalmente; foi emocionante”, relembra. Durante quatro dias por semana, os jovens passam pelos vários departamentos da empresa, participando dos processos que cabem a um grande pastifício. O quinto dia é reservado para a qualificação teórica, realizada na Faculdade São Luiz. “Lá, os jovens recebem a orientação com base na área de atuação”, explica Leidiane. Segundo ela, a Basilar tem a noção da responsabilidade. “Por isso, os aprendizes são monitorados constantemente; se for preciso um ‘puxão de orelhas’, será dado”, brinca. No fim de dezembro, uma reunião entre chefes e aprendizes teceu uma primeira avaliação, de muitas que devem ocorrer nos dois anos de duração do programa. “Os jovens foram muito elogiados pelos gestores de diversos departamentos; fiquei muito satisfeita e orgulhosa, pois demonstram a garra e a vontade de crescer típicas da idade.” Oportunidades e expectativas. Em todo o país, mais de 11 mil jovens entre 14 e 24 anos estão sendo capacitados pelo programa Aprendiz Legal em 2,6 mil empresas que aderiram ao projeto. Na Basilar, o estudante Guilherme Lima Thomasinho, de 16 anos, está na área de logística onde, segundo ele, aprendeu a atuar em equipe. “Há um rendimento maior quando o trabalho é feito em conjunto”, explica. Guilherme se sente útil e importante, já que não tinha expectativa de trabalhar em uma empresa de grande porte, por não ter experiência. “Acho que essa oportunidade irá abrir muitas portas no futuro, pois atuar em uma empresa do porte da Basilar, com certeza, vai pesar no meu currículo.” A idéia da experiência é compartilhada com Marcos Roberto Generoso,

supervisor de Logísestar participando do tica da unidade de dia-a-dia da Basilar, Jaboticabal. Por ser Caroline sonha com a uma área relativaefetivação. Fernando mente nova no BraCrepaldi, gerente da sil, a experiência em área Comercial, entenlogística é difícil de de bem o que Caroline constar nos currícuquer. Sua primeira inlos de candidatos ao cursão no mercado foi setor. “Por isso, essa aos 10 anos, por meio oportunidade dada de um projeto mirim. pelo Aprendiz Legal Há 33 anos na Basilar, é importante para a Crepaldi se lembra do inserção dos jovens passado ao ver os jono mercado de travens aprendizes. “Hoje balho”, afirma. O sutenho a chance de repervisor, que já foi tribuir o que recebi lá Leidiane Regina: “Os aprendizes são monitorados constantemente.” trainee, sabe como atrás”, confessa. funciona o processo. No início do pro“Nesses quatro meses de convivência, grama, Crepaldi viu que a vontade de já consigo ver uma evolução no deaprender dos jovens era latente, mas sempenho dos garotos”. havia um longo caminho a percorrer. Também com 16 anos, Caroline Pandol“Eles não tinham idéia de como os pho dá os primeiros passos profissionais nossos produtos chegavam até a gônno setor administrativo da empresa. dola do supermercado”, revela. Mas “Temos de ser cuidadosos com nossas bastou um pouco de boa vontade e o ações, já que os departamentos estão resultado veio a passos largos. “Os jointerligados e o trabalho refletirá no vens têm sonhos e boas idéias; daí a desempenho de outros setores”, explica, importância de as empresas abrirem com a experiência de quem já convive mais oportunidades como as que a Bacom planilhas e documentos diversos. silar abraçou”, finaliza. Oportunidades Para ela, a estrutura é um dos pontos que dão um molho bem especial à reA positivos do Aprendiz Legal. Feliz por ceita de qualquer empresa.

APRENDIZ LEGAL EM EXPANSÃO Cerca de 12 mil jovens estão sendo treinados atualmente por todo o Brasil, em cerca de três mil empresas e órgãos públicos que aderiram ao Aprendiz Legal, uma parceria entre o CIEE e a Fundação Roberto Marinho. O ritmo de contratação tem sido crescente. Em 2008, o CIEE registrou uma expansão de 45,5% nos programas de aprendizagem que administra. Além do conteúdo prático, os jovens do Aprendiz Legal desenvolvem modelos atitudinais adequados ao ambiente de trabalho. As aulas de capacitação prática também chamam a atenção para temas como postura profissional, atitude empreendedora e relações interpessoais. O Aprendiz Legal é voltado para jovens de 14 a 24 anos que tenham cursado ou estejam cursando o ensino fundamental ou médio. Além de oferecer incentivos fiscais aos contratantes, auxilia as empresas a cumprirem a cota de aprendizes, que varia de 5% a 15% do quadro de funcionários com formação técnico-profissional. jan/fev 2009

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ERIKA SARINHO

EMPRESA

Estágio com sotaque francês Banco BNP Paribas é porta de entrada para jovens que buscam carreira no exterior.

ERIKA SARINHO

Empresas norte-americanas costumam ser as mais procuradas pelos estudantes e recém-formados que sonham em seguir carreira em multinacionais. O interesse é justificado, mas com a globalização, o estudante deve estar atento para as novas tendências mundiais. A França, por exemplo, está investindo cada vez mais no Brasil – já é a quarta do ranking, segundo o Banco Central. Em 2006, era apenas a oitava nação em aplicação direta no país, e hoje só perde para os Estados Unidos, Luxemburgo e Espanha. O perfil dos investimentos franceses é diversificado. Só no ano passado, os bancos aplicaram 126,5 milhões de dólares, entre eles o BNP Paribas, presente em 85 países. Acumulando o título de quinto maior banco do mundo, o BNP é um polo de atra20

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ção para jovens como Wilson Bortolucci Filho, estudante de Engenharia de Produção da Universidade de São Paulo (USP). Além dos cursos especializados em finanças, Wilson pretende estudar francês para acompanhar o constante desenvolvimento da instituição. “A equipe com quem estagio possui um conhecimento técnico elevado, fazendo com que cada estudante tenha de dar o seu melhor”, enfatiza. Descobrindo talentos. Desde o ano 2000, o BNP investe em idéias inovadoras, com a perspectiva de novos negócios. “A criatividade de um jovem talento contribui muito para a renovação de processos”, ressalta Alexandra Caires Rocha, responsável pelo programa de estágio, que oferece treinamentos internos para os estudantes. Natali da Silva Moniz, estudante de Administração Andrea Fontes: “Buscamos profissionais comprometidos com os resultados do banco.”

De geração em geração: ex-estagiários passam seu legado aos jovens estudantes.

de Empresas, além de complementar o aprendizado teórico e a vivência no mercado financeiro, melhorou seu poder de concentração: “porque trabalho com maior tranquilidade, mesmo sob pressão, pois o ambiente exige decisões rápidas e respostas precisas”. Entretanto, vencer o processo seletivo para o estágio e, posteriormente, garantir a efetivação, com possibilidade de seguir carreira no exterior, não é tarefa fácil. “Buscamos profissionais de alta performance, comprometidos com os resultados do banco, bem como com seu desenvolvimento individual”, ressalta Andrea Marquez Fontes, head de Recursos Humanos. O ex-estagiário Akio Arashiro, atual gerente do departamento de Controles Gerenciais de Tesouraria, acompanha Wilson e Natali, que fazem parte de sua equipe. Os jovens veem na trajetória do seu supervisor uma oportunidade de futuro dentro da instituição. Assim como Arashiro, que se espelhava em Alexandre Kamakura, seu supervisor na época do estágio. Dessa forma, o BNP Paribas tem passado seu legado, estagiário após estagiário. A


Desburocratizar para desenvolver Ruy Martins Altenfelder Silva O Custo Brasil pode ser descrito como um conjunto de dificuldades burocráticas, estruturais e econômicas que entravam o desenvolvimento, encarecendo o investimento e o custo dos produtos, aumentando o desemprego, a economia informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas. A burocracia tem peso significativo na composição do Custo Brasil. A criação ou fechamento de uma empresa; as exigências burocráticas excessivas para exportação e importação, dificultando o comércio exterior; a elevada carga tributária, eivada de exigências formais; os altos custos e exigências contidos na legislação trabalhista e previdenciária; um sistema tributário complexo e ineficiente, acarretando uma das maiores cargas tributárias do planeta; o elevado déficit público e o peso desmesurado das despesas de custeio da máquina pública; a corrupção vergonhosa, combatida timidamente. São alguns exemplos do Custo Brasil que diferenciam comparativamente os produtos brasileiros dos fabricados no exterior. O Conselho Superior de Estudos Avançados da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), por mim presidido, escolheu esse tema para os estudos que está procedendo, focando-o nos seus diversos aspectos. O presidente do Instituto Hélio Beltrão, Piquet Carneiro, sustenta que o

Os brasileiros não conhecem nem metade das formalidades que devem cumprir. excesso de trâmites legais atravanca a vida dos cidadãos, afeta a competitividade do país e abre as portas para a corrupção. No estudo que apresentou ao conselho, citou frase de Hélio Beltrão: “O brasileiro é simples e confiante. A administração pública é que herdou do passado e entronizou em seus regulamentos a centralização, a desconfiança e a complicação.” O saudoso ministro (1916-1997) encampou o Programa Nacional de Desburocratização. A sua frase traduz o pântano burocrático que, dia após dia, os brasileiros precisam transpor, seja para adquirir um bem, iniciar um empreendimento, viabilizar uma transação financeira ou tirar um simples documento. A burocracia excessiva promove a exclusão social e econômica, na medida em que a maioria dos brasileiros não conhece nem metade das formalidades que deve cumprir. Ela está na raiz da negação de acessos aos direitos mais básicos. No estudo, Piquet Carneiro apresentou relação que poderia servir de parâmetro ao governo, sempre que alguém sugere a colocação de mais uma fileira de tijolos no edifício da burocracia.

OPINIÃO Entre as questões a serem previamente analisadas incluem-se: o problema a ser regulado está claro?; justifica-se intervenção do governo?; a regulação é a melhor medida neste caso?; há base legal para proceder a regulação?; há benefícios que justificam a ação?; como os resultados serão atingidos? Os estados e municípios devem ser os grandes agentes de transformação para eliminar a burocracia no país. Em outro estudo, o professor Ives Gandra da Silva Martins analisou o sistema tributário, considerando inoportuna e inconveniente a atual reforma proposta pelo governo. Apontou a elevação da carga tributária e as complexidades burocráticas que gravarão as já existentes. O professor João Grandino Rodas e o advogado Humberto Macabelli Filho apontaram aspectos burocráticos do Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência, que precisam ser removidos. O embaixador Carlos Henrique Cardim, o professor Paulo Nassar, o desembargador José Renato Nalini, o advogado Gabriel Jorge Ferreira e o secretário Guilherme Afif Domingos focaram os diferentes aspectos da burocracia que entrava o nosso desenvolvimento, nas diversas áreas de suas especialidades. Os estudos prosseguirão com análise do problema no âmbito dos governos municipais. É preciso desatar o nó da burocracia se quisermos acelerar o nosso desenvolvimento. A

RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA É PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DE ESTUDOS AVANÇADOS DA FIESP; jan/fev 2009 DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS JURÍDICAS E VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CIEE.

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BAHIA

Com espírito empreendedor Em Vitória da Conquista, empresa dá oportunidade de capacitação para estagiários. O espírito empreendedor do sertanista português João Gonçalves da Costa, que com 16 anos veio ao Brasil a serviço do rei de Portugal para conquistar terras no oeste da Bahia – e deu origem a Vitória da Conquista – é um exemplo que ainda repercute entre os jovens que buscam a região com vistas a um futuro promissor. É o caso de Danielle Nascimento, que saiu de sua terra natal, em Itabuna/BA, em busca do sucesso profissional em Vitória da Conquista. O sonho de cursar uma faculdade foi alcançado quando passou no vestibular na oitava coloca-

ção para o curso de Administração de Empresas, na Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (Uesb). “No começo foi difícil, mas quando entrei na faculdade fui em busca de um estágio e conquistei uma vaga por intermédio do CIEE”, comenta. Hoje, Danielle estagia na Cobresp há um ano, e mostra-se feliz com seu desempenho na área de telemarketing. A empresa, que atua no setor de prestação de serviços para cobranças extrajudiciais, tem sido uma porta de entrada para o mundo do trabalho de muitos estudantes baianos. Por meio da parceria instituída com o CIEE, desde 1999, aposta alto em seu programa de estágio. “Nosso objetivo é dar oportunidade para os jovens buscarem realização pela capacitação e também dar condições de aprimoramento, participação e responsabilidade sobre suas ações”, explica Frederico Cirne, gerente de Negócios, que também iniciou sua carreira profissional como estagiário na Cobresp.

Mirelle (esq.) e Danielle buscam, em Vitória da Conquista, sucesso profissional. Ao lado, Frederico Cirne, gestor e ex-estagiário. 22

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Exemplo de líder, Frederico conquistou seu espaço em pouco tempo. “Com menos de dois anos de casa, já fui contratado para o posto de gerente”, orgulhase. A empresa tem 23 anos de mercado, com filiais em Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Jequié e Eunápolis, todas cidades baianas. Sempre um desafio. Conquistar um lugar ao sol também está nos planos da jovem Mirelle Fernandes, natural de Bom Jesus da Lapa/BA, e estudante do 7º semestre de Administração na Uesb. “Minha família mudou-se para cá para que os filhos pudessem estudar”, enfatiza. Depois de entrar na faculdade, a jovem também buscou no CIEE uma oportunidade de estágio, garantida pela Cobresp, na qual atua como operadora de crédito há um ano e sete meses. “A área de cobrança é sempre um desafio, mas o tempo, com profissionalismo e experiência, vai tornando o estágio mais tranquilo”, relata. Atualmente, a empresa possui cerca de 30 estagiários distribuídos A em sua matriz e filiais.


MELHORES PARA ESTAGIAR

Premiação revela os programas de ponta CIEE, ABRH e Ibope premiam as empresas que oferecem os melhores treinamentos para os estudantes. São numerosos os benefícios que a capacitação de jovens, por meio de programas de estágio, traz tanto para estudantes como para empresas. Além das benesses proporcionadas pela formação de sua própria mão-de-obra, investir nos estagiários é um compromisso social importante, pois afasta os jovens das ruas, auxilia no aumento da renda familiar e dá oportunidades para um futuro melhor. Algumas empresas, no entanto, não apenas investem no estagiário, mas desenvolvem um planejamento diferenciado para os programas de capacitação, tratando o estudante como uma jóia bruta a ser lapidada. Foi ouvindo, em primeiro lugar, o estagiário que o

Ibope Inteligência, numa iniciativa do CIEE em parceria com a Associação Brasileira de Recursos Humanos, da seccional de São Paulo (ABRH-SP), definiu as melhores práticas de estágio de 2008. A premiação ocorreu no dia 28 de novembro, com a participação de 50 instituições – empresas privadas, entidades públicas e organizações não-governamentais – que se destacaram em seus programas. No auditório lotado, representantes

Acima, representantes das 10 melhores empresas para estagiar 2008. No detalhe, Teatro CIEE, mais uma vez lotado para a cerimônia de entrega dos troféus.

das empresas que ficaram entre a 11ª e a 50ª posição subiram ao palco, em ordem alfabética, para receber o troféu. Em seguida, o momento mais esperado: a emocionante premiação das dez melhores empresas para estagiar. A cada anúncio, a platéia ia ficando mais tensa e o suspense aumentava, até a jan/fev 2009

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MELHORES PARA ESTAGIAR do prêmio são propagadores da idéia de dar aos jovens oportunidades para a conquista do mercado de trabalho”.

declaração final do estágio do Hospital do Coração (HCor) como o melhor treinamento do ano. “Essa premiação é fruto de dez anos de muito trabalho e planejamento”, comemorou Silvana Castellani, gerente de Recursos Humanos do HCor. O troféu à vencedora foi entregue por Ruy Martins Altenfelder Silva, vicepresidente do Conselho de Administração do CIEE. “O prêmio representa o reconhecimento público das empresas que investem na promoção do estágio”, afirmou ele. Para Elaine Saad, presidente da ABRH-SP, “os vencedores

Silvana Castellani (troféu) recebe premiação de Nelsom Marangoni (Ibope), Elaine Saad (ABRH-SP) e Ruy Altenfelder (CIEE): homenagem à primeira colocada.

Três vezes em segundo. A segunda colocada entre as melhores empresas para estagiar de 2008 já é um velha conhecida do ranking. Afinal, nas três edições do prêmio, a Apsen, empresa farmacêutica, abocanhou o segundo lugar. A empresa é um exemplo de que em time que está ganhando é possível mexer. Em 2008, foi implantado um programa que acrescenta à formação do estagiário um trabalho de conclusão que deve ser feito em grupo. “Mantivemos a estrutura restante. Ano que vem, vamos lutar pelo primeiro lugar”, disse Lívia Duarte Teixeira, analista de Recursos Humanos. Para Lélio Afonso Costa, gerente de Recursos Humanos da Jacto, empresa fabricante de máquinas agrícolas, a terceira colocação torna a companhia mais atrativa para novos estagiários. “Quero parabenizar a iniciativa da ABRH, do Ibope e, principalmente, do CIEE, não apenas pela premiação, mas porque apoia as empresas no desenvolvimento dos programas de estágio”, afirmou. Nelsom Marangoni, CEO do Ibope Inteligência, acredita que o prêmio já está fazendo história, após três edi-

EMPRESAS CLASSIFICADAS ENTRE 11º E 50º, EM ORDEM ALFABÉTICA.

Agência Click: Iraneide Calixto

Bauducco: Antônio Sérgio T. Martins

Medley: Aline D. Ramos Gil 24

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Boehringer: Fernanda Coutinho

Braskem: Camila Dantas

Método Monsanto: Engenharia: Hugo Mariana Cersosimo Marques da Rosa jan/fev 2009

Câmara Municipal Canova de Suzano: Advogados: Julio Cesar Mayer Graziela B. Dário

MSC: Elvis Souza

Nextel: Magda Santana

Cerâmica Porto Ferreira: Edson C. de Toledo

Praiamar Shopping: Priscilla N. das Merces

CI&T Software: Bruno Neto

Prefeitura de Botucatu: Antônio M. Ielo

Copagaz: Adriana Amorelli

Prefeitura de Ituverava: José M. Alves

Credicitrus: Juarez Mendes dos Reis

Prefeitura de Jales: José Shimonura


ções consecutivas. “Apesar do aumento nas exigências, o número de empresas que têm nos procurado para participar está aumentando”, revela. Em 2008, cerca de 150 empresas estavam aptas a participar, dentro dos critérios estabelecidos pelo regulamento. Entre as regras definidas, estava o número mínimo de 15 estagiários por programa. Variação no ranking. Se em 2007 a área de destaque foi a farmacêutica, em 2008 as dez primeiras colocadas tinham

Cummins: Milton Bezerra

Daiichi Sankyo: Ester Rossi

Prefeitura de Palmital: José A. Oliveira

Fundação CPQD: Gino L. Rossi

áreas de atuação diferentes: Hospital do Coração (hospitalar), Apsen (farmacêutica), Jacto (máquinas agrícolas), Kaizen (tecnologia), Va Tech Hydro (energia hidrelétrica), Matec (construção civil), Yamaha (motos), Scheinder Electric (eletricidade e automação), 3M do Brasil (química) e Rodobens (consórcio). Entre as outras 40 empresas classificadas no ranking, destacam-se os órgãos públicos, com sete indicações – as prefeituras de Botucatu, Ituverava, Jales, Palmital, Reginópolis e Sorocaba e também a Câmara Municipal de Suzano –,

Fundação de Rotarianos/SP: Carlos E. Melloni

Prefeitura Prefeitura Reginópolis: Sorocaba: Rodrigo Sandoval A. Simas Moreno

Fund. Educ. de Ituverava: Reynaldo de Almeida

Rockwell: Maria Silva de Carvalho

Representantes das 50 melhores empresas para estagiar, no palco do Teatro CIEE, em São Paulo: alegria e descontração durante a festa de entrega dos troféus às premiadas.

mostrando o papel fundamental que a administração pública tem na formação dos estudantes. “Para nós, o mais importante é que o jovem tenha essa oportunidade”, revela José Shimomura, secretário de administração de Jales. Outro dado interessante é o fato de que metade das empresas classificadas em 2008 é do inA terior paulista.

HM Engenharia: Ícaro Goodyear: Mauro Bastazim Eduardo S. Campos Technologies: Kleber Stroeh

Sebrae/SP: Rosemeire O. Dias Silva

Siemens: Andrea M. Zeronian

Tokio Marine: Helio A. Vaz de Souza

Itaú Cultural: Sérgio M. Miyasaki

Venturus: Ronaldo F. Bertoli

Kimberly Klark: Lilian Green

Vicunha: Ana Paula Priminini

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CAPA

O APAGÃO NA ENGENHARIA

DIVULGAÇÃO PETROBÁS

O número insuficiente de profissionais especializados pode comprometer a sustentabilidade do desenvolvimento nacional.

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A Engenharia é a carreira base do desenvolvimento e, em tempos de crise, uma válvula de escape para aplainar o caminho para a retomada do crescimento econômico. Essa visão, compartilhada por especialistas da área, precisa ser melhor administrada no Brasil, cujo contingente de profissionais do setor está muito aquém dos países desenvolvidos e dos próprios emergentes de maior sucesso. Formam-se por ano no Brasil cerca de 25 mil engenheiros. A Coréia do Sul, exemplo sempre citado de salto qualitativo no desenvolvimento social e econômico nos últimos anos, conta com 80 mil engenheiros para uma população quatro vezes menor. Na China, agora um dragão amigável e o mais cobiçado parceiro do mundo globalizado, 300 mil profissionais a mais entram no mercado de trabalho a cada ano, e na Índia, outros 200 mil. Pela importância da contribuição da Engenharia – principalmente nas áreas de energia, ciência e tecnologia,


transportes urbanos e de carga, estradas, comunicações, indústria, agricultura, recursos hídricos, saneamento e meio ambiente –, a falta de profissionais compromete o próprio desenvolvimento da nação. Para atingir um patamar eficiente de crescimento, na faixa dos 6% ao ano, é necessária uma atuação vigorosa das administrações públicas federais, estaduais e municipais, com a realização de grandes obras públicas que privilegiem a infra-estrutura ou de projetos mais modestos, voltados para serviços básicos, como educação e moradia – trabalho para várias especializações da Engenharia, como Civil, Cálculo, Geométrica e Estrutural. O desenvolvimento se faz também com pesados investimentos em energia; com novas usinas hidrelétricas, térmicas e nucleares; empresas petrolíferas e a grande vedete brasileira atual, a área de biocombustível. As novas exigências do mercado obrigam as empresas a investirem em alta tecnologia, o que faz crescer o campo de trabalho para os formados em Mecatrônica e Robótica. A sustentabilidade do desenvolvimento e a preocupação com o futuro do planeta ampliam a atuação dos engenheiros ambientais. O que parece ser uma saída positiva para o tsunami financeiro que varreu as bolsas de valores de todo o mundo, no final do ano passado, e continua a gerar temor, na verdade, traz embutida preocupação adicional para os brasileiros: a proximidade de um apagão de engenheiros. Existem 550 mil profissionais no país – seis engenheiros para cada mil pessoas economicamente ativas, enquanto nos Estados Unidos e Japão a média é 25, ou seja, quatro vezes Petrobras: engenharia de ponta; no detalhe, plataforma em Campos/RJ.

Fábrica da Embraer, em São José dos Campos: expansão da empresa exigiu mão-de-obra especializada.

Para solucionar o problema, a Embraer criou o Programa de Especialização em Engenharia.

maior. Para piorar a situação, com a globalização e a alta competitividade internacional, o Brasil perde profissionais para o exterior, devido, principalmente, aos salários mais valorizados e ao desafio profissional (ver pág. 33). Sem falar nos profissionais que se desviam da carreira tradicional, atraídos pelas apetitosas ofertas dos setores financeiro e administrativo, muito interessados em aproveitar os diferenciais da formação em Engenharia: competência matemática e habilidade em raciocínio lógico, visão de conjunto e trabalho em equipe. Aliás, um conjunto que forma um capital intelectual estimulante para o empreendedorismo do negócio próprio. Uma visão produtiva. Até os anos 1970, Engenharia significava uma carreira rica em status e chegou mesmo a ter sua excelência reconhecida mundialmente, como exemplo de qualida-

de e ousadia. Afinal, o Brasil ostentava em seu currículo obras monumentais como Brasília, uma cidade moderníssima construída praticamente no meio do nada; a hidrelétrica de Itaipu, na época a maior do mundo; a rodovia dos Imigrantes, com suas pontes vencendo a serra do Mar; a ponte RioNiterói, sobreposta à baía da Guanabara sem ferir a beleza da paisagem; o metrô de São Paulo, com o primeiro túnel escavado por shield na América Latina; as usinas nucelares de Angra dos Reis; entre tantas outras obras. Todas tecnicamente exemplares, embora não se possa igualmente generalizar sua viabilidade econômica e boa relação custo/benefício, como viriam comprovar anos depois o tamanho monumental das dívidas geradas por seus financiamentos e mesmo alguns problemas políticos recentes, como acontece com Itaipu, no centro de um jan/fev 2009

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CAPA imbróglio com o Paraguai. O sonho de todo pai era ter um filho médico, advogado ou engenheiro, mas essa última carreira foi perdendo prestígio a partir de meados dos anos 80, com a estagnação econômica que duraria quase três décadas e estreitaria o espaço do engenheiro no mercado de trabalho. “O Brasil deixou de ter uma visão produtiva”, recorda o diretor do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, A estudante Vivian Crepaldi, do Instituto Mauá, acha o ensino “muito puxado”.

CRESCE BRASIL Alterar a política macroeconômica, reduzir as taxas de juros e garantir investimentos públicos e privados para dotar o país da infra-estrutura necessária para o desenvolvimento sustentado. Esses são os principais pontos do manifesto Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento, lançado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) em parceria com os sindicatos de Engenharia. Formulado há dois anos, a partir de encontros entre especialistas e autoridades, o projeto é um movimento de mobilização dos engenheiros

para debater, propor, pressionar e acompanhar o desenvolvimento nacional. “Nosso objetivo é a busca pelo crescimento do país, defendendo a implantação de um projeto sustentável que leve à inserção soberana do Brasil na globalização, assim como à inclusão social e ao bem-estar da população”, enfatiza o presidente da FNE, Murilo Campos Pinheiro. O Cresce Brasil foi lançado como uma proposta clara para superar os anos de estagnação que tanto atrapalharam os engenheiros nas últimas décadas. Um dos itens estabelecidos nas reuniões foi a necessidade de se fortalecer o mercado interno por meio de estímulos ao segmento da construção civil, gerando empregos e reativando as indústrias. “Muitas das idéias do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] estavam consolidadas em nosso documento”, diz. Murilo Campos Pinheiro, da FNE: “Nosso objetivo é a busca pelo crescimento”.

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Fernando Palmezan Neto. Segundo ele, nas chamadas décadas perdidas era mais fácil “correr para o banco do que aplicar em produção”. A partir de 1995, na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, o problema acentuou-se na esteira das privatizações. Até os anos 1980, as grandes obras do país tinham origem governamental, com execução sob responsabilidade das grandes empresas estatais que, embora em menor grau, padeciam do mesmo problema que amesquinha o desempenho de tantos órgãos da administração pública direta: inchaço do quadro funcional, gestão politizada, baixa produtividade e pouco estímulo à meritocracia. Embora, é de justiça reconhecer, várias estatais conseguiram se transformar em ilhas de excelência profissional e deram uma fantástica contribuição para o salto desenvolvimentista registrado nas primeiras décadas da segunda metade do século 20. Com as privatizações, houve um enxugamento de quase 50% na folha de pagamento das ex-estatais, que passaram a ter de atuar exclusivamente de acordo com as regras do mercado, deixando de contar com o confortável respaldo dos cofres públicos e a complacência governamental. Como os engenheiros eram, geralmente, os profissionais mais bem remunerados das empresas, muitos foram demitidos e, com a escassez de trabalho, tiveram de procurar outras funções no mercado. Muitos graduados chegaram a sustentar a família dando aulas de matemática na rede de ensino público e particular. Nas universidades, a retração também foi sentida. Em 1997, o curso de Engenharia ainda era o terceiro com mais alunos no país, com 147 mil estudantes matriculados. Em 2006, passou para a 16.ª posição no ranking, com apenas 62 mil alunos, o que representa uma redução, em nove anos, de 58%. Esse dado torna-se ainda


Otávio Silvares, reitor da Mauá: alunos mal preparados para faculdade.

mais grave quando se sabe que nesse período houve um boom de faculdades e universidades no país. Enquanto outras carreiras criavam sistemas para barrar a formação exagerada de profissionais – como as áreas de Medicina e Direito – a Engenharia perdia mais e mais vagas.

Alberto Goldman, vice-governador de SP: preocupação com a qualidade de ensino.

Alunos mal preparados. Sem perspectivas de emprego, a carreira deixava de ser atraente para os estudantes, que começaram a optar por outras áreas. Como a Engenharia é um curso de investimento alto, por causa dos sofisticados laboratórios, muitas faculdades mantiveram apenas as especialidades mais “baratas” na graduação, como Engenharia de Produção e Engenharia Ambiental, cursos menos complexos por exigirem menor carga de física, química e matemática e menor infra-estrutura de laboratórios. Para complicar ainda mais, a Engenharia traz altas taxas de evasão, em torno de 50% nos dois primeiros anos. A preocupação é tanta que foi estabelecido no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), apresentado pelo Ministério da EduDisputada por empresas, Rosângela Motta preferiu o mundo acadêmico.

Marcio Rillo, reitor da FEI: “É preciso que a formação seja de primeira linha.”

cação, a meta de se reduzir tal taxa para algo em torno de 10% nos próximos oito anos. Para o reitor do Instituto Tecnológico Mauá, Otávio de Mattos Silvares, uma das causas para a evasão exagerada de alunos do curso de graduação é que os exames vestibulares são classificatórios e não eliminatórios. “Os alunos são insuficientemente preparados, sem noção do que vão enfrentar na faculdade”, diz. “Quando se deparam com as exigências dos cursos de Engenharia e com a juventude que entram na faculdade, em torno dos 17 anos, terminam se assustando.” O problema já vem desde o ensino básico. Os professores das carreiras tecnológicas, que formam a base teórica da Engenharia, como física, química e matemática, afastaram-se do ensino fundamental e médio por causa dos baixos salários. Com um déficit de cerca de 150 mil professores nessas áreas, um contingente de profissionais de outras áreas assumiu essas disciplinas, sem a necessária competência técnicodidática. “Eles transformam a física, química e matemática num bicho de sete cabeças para os alunos”, aponta o vice-reitor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Cardoso. Por causa da ojeriza pelas disciplinas de exatas criada na jan/fev 2009

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CAPA sala de aula, o estudante vem optando maciçamente pelos cursos de humanas. Atualmente, cerca de 75% das matrículas no ensino superior estão nessa área. Cardoso enfatiza que o ensino no Brasil precisa mudar com urgência. “O ensino médio aplica um tipo de educação que incentiva o jovem a buscar uma carreira na área de humanas em detrimento de uma tecnológica”, ressalta. O número de graduados em Direito, por exemplo, é quase quatro vezes o de Engenharia. Para Alberto Goldman, vice-governador do Estado de São Paulo, a situação é decorrente da falta de informação. “O grande desafio é apresentar a profissão de forma adequada aos alunos do Ensino Médio para que possam ver a Engenharia como uma profissão de enorme variedade de campos de atuação e que trabalha sempre com as mais modernas tecnologias.” Segundo Goldman, “o engenheiro é o profissional capaz de transformar o conhecimento em riqueza, fazendo sua capacitação científica e tecnológica se tornarem produtos e serviços úteis ao país. Engenheiro civil, ele concorda que, para resolver o problema, é necessário melhorar a qualidade dos ensinos médio e fundamental. “Conseguimos equacionar a questão quantitativa, colocando praticamente todas as crianças na escola, mas ainda não fomos capazes de solucionar a questão qualitativa”, afirma. De acordo com o vice-governador, é na infância que a criança forma sua capacidade de formulação lógica, o que pode definir o interesse pela profissão. Em tempos de crise. Juliana Kawahashi é uma dessas alunas que sempre encon30

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Aluno no laboratório de Mecânica da FEI: treinamento para estudantes.

traram facilidade no raciocínio lógico. Aos 21 anos, acabou de se formar em Engenharia Civil na Escola Politécnica da USP. Apesar da crise econômica, Juliana acredita que a maré ruim não vai afetar a situação favorável do mercado para os engenheiros. “Vejo muitos alunos saindo da faculdade com vaga garantida, diferentemente de alguns anos, quando os estudantes não tinham muita perspectiva”. Para o engenheiro Antonio Octaviano, assessor da Presidência do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), ainda não se pode prever os efeitos da crise mundial no setor, mas existem mecanismos de que o governo federal pode lançar mão para manter a empregabilidade na área. “É necessário avançar sobre projetos a curto prazo para manter o nível de desenvolvimento”, analisa. O engenheiro acredita que é preciso colocar o dinheiro no lugar certo. “Por que não se faz um grande programa de casas populares?”, indaga. De acordo com Octaviano, a Engenharia é a ferramenta essencial para qualquer projeto de crescimento e uma saída salutar para a crise econômica. “Não se tem inovação sem o desenvol-

vimento de tecnologia; portanto, a Engenharia é indispensável.” Em busca do reforço para seus conhecimentos tecnológicos na área, a estudante Vivian Crepaldi, de 20 anos, aluna do terceiro ano de Engenharia Química do Instituto Mauá de Tecnologia pretende conseguir um tempo para estagiar. Ela participou, no ano passado, de um programa de iniciação científica em Engenharia Ambiental na própria universidade. Segundo a estudante, o ensino é “muito puxado” e, por isso, a dificuldade de encontrar tempo para a capacitação. Na Método Engenharia, empresa que figura no ranking das 50 melhores empresas para Estagiar 2008 – organizado pelo CIEE com a participação do Ibope Inteligência e da seccional paulista da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP) –, o estágio é fundamental para a formação do profissional na área. “Nossa meta é formar executivos para assumirem papéis de liderança no futuro, com conhecimento e visão de mundo”, afirma Roberto Mingroni, gerente de Marketing. Nem só a aplicação prática de conhecimentos espera formandos com diploma na mão. Na outra vertente, há a carreira em pesquisa. Aluna de doutorado da USP, em Engenharia de Transportes, Rosângela Motta já recebeu vários convites para atuar em empresas, mas preferiu dar sequência ao projeto acadêmico. “Percebo que os profissionais Obras do Rodoanel, em São Paulo, pela construtora Camargo Corrêa: exemplo de engenharia de ponta.


das áreas em que atuo estão bastante valorizados no mercado.” Pesquisadora de carteirinha, Rosângela é uma exceção. Hoje, o Brasil investe apenas 1% do Produto Interno Bruto (PIB) em pesquisa, um índice considerado baixo se comparado com os países desenvolvidos, que utilizam, em média, 3%. “O investimento em pesquisa é a base para o desenvolvimento”, diz o diretor do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo. Segundo Palmezan, esse baixo investimento tem relação direta com a falta de profissionais capacitados. Para o reitor da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), Marcio Rillo, não basta o engenheiro adquirir um diploma. “É preciso que sua formação seja de primeira linha, mas, infelizmente, apenas um conjunto restrito de faculdades consegue formar alunos com sólidos conhecimentos em tecnologia”,

10 SUGESTÕES PARA EVITAR O APAGÃO NA ENGENHARIA Especialistas propõem saídas para aumentar o número de profissionais no país: Currículos de Engenharia que distribuam disciplinas práticas durante todo o curso para estimular os estudantes do 1º e 2º ano. Valorização da educação continuada. Estímulo aos docentes para realização de estágios e cursos no exterior. Incentivo para mestrados e doutorados profissionais, voltados para inovação e desenvolvimento tecnológico. Atualização dos professores do ensino fundamental e médio. Estímulo de estágio para estudantes da graduação. Incentivo aos alunos do ensino médio para a importância do estudo de Engenharia. Ampliação de vagas nas universidades públicas para os cursos de tecnologia. Redução imediata nos índices de evasão escolar. Valorização do trabalho do professor de segundo grau. FOTOS: DIVULGAÇÃO CAMARGO CORREA

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CAPA Juliana Kawahashi, recém-formada pela Poli-USP: “Muitos estudantes saem com vaga garantida de emprego.”

diz o reitor da FEI, que gradua por ano cerca de 900 engenheiros. “Estamos nos transformando numa faculdade de tecnologia, com a criação de mestrados e doutorados para formar ainda mais profissionais capacitados e alinhados com as necessidades da indústria.” Sem mão-de-obra estrangeira. A Embraer, terceira maior fabricante de aviões comerciais do

mundo, já se ressentiu muito da falta de capacitação de engenheiros no mercado. Quando expandiu suas atividades, em 2002, teve de buscar profissionais estrangeiros para compor o quadro de funcionários. Hoje, não utiliza mais a mão-deobra estrangeira. Consegue capacitar seus funcionários a partir do Programa de Especialização em Engenharia (PEE), implantado há seis anos, que forma e recicla engenheiros na área aeronáutica.

O programa foi a saída encontrada pela Embraer para não buscar profissionais no exterior, já que as faculdades brasileiras formam apenas 80 engenheiros aeronáuticos por ano. “Nossa demanda atual é de cerca de 300 profissionais por ano”, diz a diretora de Recursos Humanos, Eunice Rios. “Desde o início do programa, temos uma taxa de aproveitamento de 90% das pessoas treinadas pelo PPE.” Segundo ela, o PPE vem atendendo totalmente às necessidades da empresa, atraindo engenheiros de várias áreas, que percorrem um treinamento de 18 meses para o setor aeronáutico. A formação é intensiva. Os candidatos passam por uma concorrida seleção e depois desenvolvem três módulos de aprendizagem. No último deles, os alunos estruturam o projeto de um novo produto, que é reconhecido pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) como mestrado.

ESPECIALIZAÇÕES EM ENGENHARIA Tem para todos os gostos. São mais de cem tipos de cursos universitários de Engenharia, com opções para os mais diversos talentos. Conheça os mais procurados:

AMBIENTAL

Elaboração de relatórios de impacto ambiental e planejamento de exploração não-predatória dos recursos naturais.

ALIMENTOS Pesquisa, desenvolvimento e controle de qualidade no processo produtivo dos alimentos.

CIVIL Projeto, gerenciamento e execução de obras, como casas, edifícios, pontes, viadutos, estradas, barragens, canais e portos.

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AGRÍCOLA Implantação, projeto e administração de técnicas e equipamentos necessários à produção agrícola.

MECÂNICA Planejamento, projeto, desenho e execução de processos e equipamentos mecânicos e eletromecânicos.

AERONÁUTICA Projeto, construção e supervisão do funcionamento de aviões e satélites.

HIDRÁULICA Projeto, execução e gerenciamento de obras de navegação fluvial e projetos de despoluição de rios e mares.

MECATRÔNICA Uso dos conhecimentos de mecânica, eletrônica e informática para criação de aparelhos de alta precisão.


A falta de engenheiros não é uma realidade exclusiva do Brasil. Países desenvolvidos também sofrem com a escassez desses profissionais. Na Alemanha, um levantamento feito pelo Instituto da Economia Alemã, com 2,7 mil empresas, identificou a existência de 95 mil vagas para serem preenchidas. A informação foi divulgada no ano passado, durante a Feira Industrial de Hannover. Preocupado com o déficit, o governo alemão já adota medidas para mudar o quadro atual e, desde o jardim da infância, as crianças alemãs estão sendo estimuladas para as áreas de tecnologia, ciências naturais e matemática. Nos Estados Unidos, a situação não é diferente, pois muitos engenheiros optam pela área financeira. No Canadá, a busca por mão-de-obra especializada faz o país atrair profissionais de outros países. Foi o que ocorreu com o brasileiro Alex-

ELÉTRICA Projeto, construção e manutenção de equipamentos eletrônicos. NAVAL Construção de embarcações, diques e plataformas para prospecção de petróleo, além de sistemas de transporte hidroviário. PRODUÇÃO Gerenciamento e controle de produtividade, buscando reduzir custos e tornar as empresas mais competitivas. QUÍMICA Projeto de equipamentos, análise de materiais e estudo de processos químicos.

sander Santos. Após sete anos atuando como engenheiro aeronáutico na Embraer, na área de Sistemas de Integração, ele recebeu – e aceitou – um convite da Thales Rail Sigmaing, para trabalhar em Toronto. Para Santos, a experiência de liderar uma equipe num país estrangeiro foi o atrativo do convite, até mais forte do que o salarial. “Financeiramente até perco um pouco pelo custo de vida canadense, mas a experiência em outro país é fundamental”, afirma. Há sete meses na cidade canadense, o engenheiro já se sente à vontade na empresa. Sua equipe é bastante globalizada: tem iraniano, indiano, chinês, português, mexicano, árabe, inglês, francês e canadense. “O mercado aqui ainda está aquecido e nós, brasileiros, temos boa aceitação”, diz o engenheiro que foi atuar na área de segurança de trens. Apesar dos resultados positivos, Santos, que se formou em Engenharia Mecânica na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Guaratinguetá, pensa em retornar ao Brasil em dois anos. Segundo ele, há mais vagas do que candidatos no Canadá, que, como o Brasil e Estados Unidos, perde muitos profissionais para o sistema financeiro. Raciocínio lógico e organização. Sócio da empresa Nova Financial, consultoria voltada para o mercado de capitais, o engenheiro André Kalil trocou a engenharia pelo setor de finanças. Formado na Politécnica da USP, em Engenharia de Produção, Kalil partiu para uma formação com ênfase em finanças e administração desde o período do estágio, quando participou de um programa de treinamento em um banco de investimentos. “No está-

ANDREA DE BARROS

Crise também no exterior

O engenheiro Alexsander Santos trocou o Brasil pelo Canadá: experiência em outro país é fundamental para a carreira.

gio, logo me identifiquei com a área”, afirma. “Preferi, então, atuar na parte administrativa do que em uma fábrica como engenheiro.” Segundo ele, os engenheiros têm habilidade em raciocínio lógico e organização, devido ao currículo da faculdade, qualidade que atrai as empresas na hora do recrutamento de talentos. No Citibank, a formação em Engenharia também está em alta entre os colaboradores. Muitos são contratados para atuar em análise, cálculos financeiros, tesouraria e desenvolvimento de produtos, pela formação analítica e facilidade de cálculos. “Muitos engenheiros se identificam com a área de finanças e nós aproveitamos isso”, confirma a gerente de Seleção do Citibank, A Andréa Aikawa. jan/fev 2009

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GERAIS

Professores faltosos prejudicam alunos Dificuldade de aprendizagem dos estudantes tem relação direta com o aumento das faltas dos professores, segundo estudo divulgado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. A constatação veio do cruzamento de dados das faltas dos professores com as notas médias das escolas estaduais no Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2007. A queda de rendimento ocorre porque a abstenção do professor quebra o ritmo de desenvolvimento das aulas.

Telegramática O Telegramática é um serviço telefônico exclusivo para tirar dúvidas sobre língua portuguesa. Oferecido pela Prefeitura de Curitiba, o serviço funciona desde 1985; é gratuito (o interessado paga o custo da ligação e pode fazê-la de qualquer lugar do país) e conta com oito professores da rede municipal de ensino, que se revezam no atendimento. Após a nova reforma ortográfica, a procura pelo serviço aumentou, em média, de 200 para 240 ligações por dia. Para conferir, ligue: (41) 3218-2425.

DESCOBRINDO GÊNIOS A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo identificou, no ano passado, 397 estudantes superdotados. O número é cinco vezes maior do que os 79 alunos identificados em 2007. Esse foi o primeiro resultado do projeto Caça Talentos, que há cerca de um ano e meio treinou 270 professores para identificar jovens superdotados. A capacitação dos educadores resultou no livro Um olhar para as altas habilidades: construção de caminhos, que serve de manual para que as escolas possam identificar ainda mais estudantes superdotados. Falando em pequenos gênios, exemplo recente foi o de Guilherme Cardoso de Souza, 13 anos, que conquistou o primeiro lugar no vestibular deste ano para o curso de Química, da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Novo presidente do CRA-SP Criação nacional É de autoria brasileira o novo favicon do Google – ícone que aparece na barra de endereços eletrônicos quando o programa de navegação na internet é usado, ou que aparece na lista de favoritos. O logotipo foi criado por André Rezende, estudante de Ciências da Computação, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Segundo o blog oficial da corporação, a figura é “reconhecível e atraente, capturando a essência do Google”. Foram feitas modificações nas cores e na posição da letra “G”, que do centro foi para a lateral esquerda. 34

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Walter Sigollo, superintendente de Recursos Humanos e Qualidade da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) e ex-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos de São Paulo (ABRH-SP), assumiu a presidência do Conselho Regional de Administração de São Paulo (CRA-SP). O conselho conta com 77 mil profissionais registrados e mais de 12 mil empresas. Além de fiscalizar, o órgão procura aprimorar os administradores, mantendo-os informados das tendências do mercado e das novas técnicas desenvolvidas nos campos de atuação da profissão.


CARREIRA

CURSOS TEÓRICOS DÃO BOA FORMAÇÃO História, Geografia, Letras, Ciências Sociais e Filosofia apostam na formação e visão mais ampla de mundo. Quando a estudante Marina Martins Ferro decidiu prestar vestibular para Ciências Sociais, os pais dela levaram um susto. Nada de Direito, Administração de Empresas ou Medicina. “O primeiro comentário é ‘ih, vai morrer de fome’ ”, conta a estudante. Hoje, no quarto ano na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), Marina não tem dúvida de que fez a escolha certa, principalmente após o início do estágio na Associação Viva o Centro, em São Paulo. “Minha satisfação com a carreira e com o estágio é enorme, pois consigo aliar conhecimento teórico com o lado social”, diz. A estudante acredita que há vários caminhos a seguir na profissão. Seu desejo é dar prosseguimento à vocação acadêmica, mas pretende também colocar em prática projetos sociais, cuja demanda está em alta e pode alavancar a carreira do cientista social. Para Terezinha Santana, coordenadora do Programa de Ações Locais da Viva o Centro, alunos de disciplinas

mais teóricas como História, Filosofia e Ciências Sociais estão se destacando no mercado, pois têm uma visão diferenciada de mundo. “Além de muita informação teórica, eles carregam uma perspectiva de transformação histórica importante, o que possibilita lidar com as demandas sociais de modo mais flexível”, analisa. Experiência proveitosa. O conteúdo absorvido nas aulas de História, da Universidade de São Paulo (USP), também foi fundamental para que o quintanista Fernando André Côa conseguisse uma vaga de estágio. Na biblioteca do Anhembi Tênis Clube, em São Paulo, ele participa de toda a organização e catalogação do acervo histórico do clube. “É uma experiência proveitosa, resgatar a memória da agremiação”, comenta. Segundo ele, a formação teórica o capacita a propor

idéias e embasá-las com mais facilidade para seus gestores. A formação humanística é destacada por Eduardo Saron, superintendente do Instituto Itaú Cultural, entidade que investe em estágio para estudantes dessas áreas. “Os técnicos são importantes, mas também precisamos de jovens com formação cultural mais ampla”, afirma. Para o coordenador pedagógico e professor de Filosofia da Universidade Bandeirante (Uniban), Adalberto Botarelli, o aluno de ciências humanas é diferenciado, pois geralmente lê mais e tem uma formação cultural mais sólida. “São cursos que investem na reflexão, formando um profissional mais generalista.” Assim como o superintendente do Itaú Cultural, o professor acredita que o mercado vem valorizando esse diferencial, apesar de um paradoxo: “Mesmo vivendo um momento imediatista com o desenvolvimento tecnológico, as pessoas estão percebendo a necessidade de certos valores, como a ética profissional e as relações humanas.” A

Terezinha Santana acredita que alunos de disciplinas teóricas têm uma visão diferenciada de mundo.

Marina Ferro: “Minha satisfação é enorme, pois consigo aliar a teoria da faculdade com o lado social.” jan/fev 2009

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CARREIRA

A FORÇA DA CULTURA LITERÁRIA Ainda desconhecida pela maioria dos jovens, a carreira de editor é recomendada para os apaixonados por livros. “Vinte anos atrás, quando os meus filhos e seus amigos cresceram, eu os aconselhei a evitar o campo editorial, que me parecia em um estado de decrepitude terminal, se não de extinção. Hoje, eu ofereceria aos jovens apreciadores dos livros conselho oposto.” A frase é de Jason Epstein, ex-diretor editorial da Random House (uma das maiores editoras de livros do mundo) e cofundador da The New York Review of Books (revista especializada em discutir lançamentos de livros), na obra O Negócio do Livro. Seis anos se passaram desde que Epstein escreveu a obra e o mercado editorial continua como uma boa opção de carreira. “As editoras já vêm se preparando para o mercado multimeio que engloba ebooks e podcats, entre outros, e isso mostra que o setor quer se adaptar às novas tecnologias”, explica Maria José Rosolino, coordenadora do curso de Produção Editorial em Multimeios da Universidade Anhembi Morumbi. Em 2007, o mercado editorial brasileiro teve um crescimento de 9,59% em relação ao ano anterior, de acordo 36

Agitação

jan/fev 2009

com levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) a pedido da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional de Editores de Livros. Número expressivo, se considerado o fato de que 52% dos leitores brasileiros preferem revistas

a livros, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida recentemente pelo Instituto Pró-Leitura. O último levantamento, realizado em 2000 no Brasil, registra 1,8 livro lido para cada leitor por ano. De lá até 2007, esse número foi duplicado, atingindo 3,7 livros por leitor a cada ano. Os bons números refletem o trabalho de uma profissão que conta atualmente com poucos cursos na área. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), o Brasil tem atualmente 14 faculdades que promovem o curso de Produção Editorial. Cinco delas ficam no estado de São Paulo, e as demais se dividem entre Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro e Bahia. As atividades de um editor. Para Rogério Alves, gerente editorial do grupo Planeta, o editor é a pessoa que terá a sensibilidade de encontrar no mercado aquilo que pode virar um livro ou estará antenado munMaria José: “O livro não vai acabar, mas se transformará em multimeio.”


A feira de Frankfurt é considerada o evento mais tradicional na área.

dialmente para escolher as obras que devem ser publicados no país. “O interessado deve ter uma visão global, gostar de ler e conseguir enxergar o mercado”, diz. A carreira de produtor editorial ou editor engloba a produção do livro como um todo, desde o projeto gráfico até a escolha do papel correto para impressão. O estagiário Leandro Rodrigues Ramos ingressou nas Edições Loyola há oito meses e já percebe as mudanças que a capacitação lhe proporciona. “Nada melhor para escrever bem do que ler muito; percebo que tenho evoluído a cada dia”, comenta. Estudante do segundo ano de jornalismo na Universidade São Judas Tadeu, ele não pensava em estagiar em uma editora. Participou de algumas entrevistas e dinâmicas de grupo, mas foi na Loyola que teve sua primeira oportunidade. Atuando na área de revisão de textos, Ramos já pensa em continuar a carreira no mercado editorial. “Muitas pessoas me incentivam a ficar aqui e acho que tenho tudo para continuar”, revela. Entre bobinas de impressão e pilhas de papéis, as editoras têm um leque

variado para quem deseja ingressar na carreira. “A profissão pode abranger vários segmentos, pois vivemos uma cultura plural, mas o estudante deve ter um vasto interesse cultural”, diz o padre Danilo Mondoni, diretor editorial das Edições Loyola. No entanto, a faculdade de produção editorial não se restringe a formar editores de conteúdo, podendo preparar também profissionais na área de diagramação, finalização de projetos via computador e outros meios que interagem com a editoração. “Faço estágio na Intergraf e auxilio a fechar os arquivos para a impressão, isto é, verifico o que pode estar errado”, afirma Daniel Favero, aluno do sétimo período do curso de Produção Editorial em Multimeios da Anhembi Morumbi. Para Favero, quem deseja ingressar na carreira deve fazer o curso, pois as disciplinas estão focadas para o mercado de trabalho. De acordo com o Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL), há aproximadamente 1, 4 mil editoras espalhadas pelo país. Atualmente, cerca de 13 mil grupos editoriais estão cadastrados no banco de dados da Associação Internacional de Editores (International Publishers Association - IPA). “Por essência, esse setor é

feito, em sua maioria, de pequenas e médias empresas, cujos líderes são apaixonados pelo que fazem”, conta Ana Maria Cabanellas, presidente da IPA. Vasta programação. A paixão pelos livros é vista como uma das grandes responsáveis por manter o setor aquecido em todo o mundo. Prova disso, é o sucesso das feiras internacionais do livro. Considerado o evento mais tradicional do mundo, a Feira de Frankfurt, na Alemanha, recebeu 301 mil visitantes, em 2008. Durante cinco dias, a feira, que completou sua 60ª edição, contou com sete mil expositores de cem países, 400 mil títulos de livros e teve o brasileiro Paulo Coelho como um dos principais destaques. No Brasil, a Bienal do Livro de São Paulo atraiu o extraordinário público de 728 mil pessoas. Em 11 dias, foram expostos dois milhões de livros, com mais de 320 expositores e uma vasta programação cultural paralela à feira. “O evento brasileiro é um pouco menos internacional que outros latino-americanos, mas é uma das feiras chaves nesse mercado, ficando ao lado dos eventos de Buenos Aires, na Argentina, e Guadalajara, no México”, diz Ana Maria. A

Daniel (acima) e Leandro (à dir.) são exemplos de estagiários que descobriram um mercado que pode se expandir ainda mais. jan/fev 2009

Agitação

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CARREIRA

ACABOU A FACULDADE: E AGORA? Depois do dilema de qual carreira seguir, vem a escolha das áreas que melhor se adaptam às suas habilidades. Após quatro ou cinco anos de graduação, a tão esperada conclusão do curso não significa o fim das preocupações. Com o mercado cada vez mais competitivo, é essencial que o profissional tenha um plano de carreira, dando continuidade aos estudos. Mas aí surge a questão: ingressar em um segundo curso ou encarar uma pós-graduação? De acordo com Izabela Mioto, professora e orientadora pedagógica da Pós-Graduação da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), na hora da dúvida, a pergunta mais apropriada a se fazer é: “Como pretende estar daqui a uns cinco ou dez anos?”. Ter um objetivo ajuda a não perder o foco. Por esse motivo, é importante definir se está seguro quanto à formação escolhida. Do contrário, a se-

gunda graduação será bem-vinda. Mas se estiver plenamente satisfeito, cursos de especialização são boas alternativas para aprimorar e agregar valor à carreira. “A pós-graduação e o MBA no currículo são importantes, pois mostram que o profissional não parou no tempo”, enfatiza Izabela. Foi vendo as necessidades da empresa e as oportunidades de subir de cargo que Julliane Felicíssimo, 23 anos, decidiu fazer um curso de especialização. Ela contou com o apoio do seu supervisor para escolher a Faculdade Cásper Líbero e a pós-

graduação em Marketing e Comunicação Publicitária. Na verdade, Julliane formou-se em Letras, em 2006, mas só após dar aulas de leitura e reforço para alunos da rede pública percebeu que não tinha o perfil de educadora. Mesmo formada, optou por mudar de área e, no início de 2008, participou do processo seletivo da Schincariol, na qual passou a trabalhar como apoio do departamento de Marketing. “Tenho a sensação de que agora, sim, acertei”, enfatiza a jovem, entusiasmada com essa nova fase na carreira. Enquanto não estudava, perdeu duas oportunida-

De acordo com Izabela Mioto, da FAAP, ter um objetivo ajuda a não perder o foco profissional.

SETE MANDAMENTOS PARA O SUCESSO 1. Tenha um plano de carreira. 2. Não tome nenhuma decisão precipitada; faça uma coisa por vez. 3. Tenha foco. 4. Procure fazer um intercâmbio. 5. Escolha a instituição de ensino com o mesmo cuidado com que escolheu o curso. 6. No caso de fazer uma especialização dentro da área de atuação da empresa em que trabalha, procure a orientação do seu gestor. 7. Se houver interesse pela área acadêmica, procure os cursos de mestrado e doutorado. 8. Usufrua das habilidades que tem e procure fazer aquilo que lhe dá prazer.

Julliane decidiu fazer pós-graduação em Marketing após orientação do gestor Estácio Rodrigues, da Schincariol. 38

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jan/fev 2009


PERSPECTIVA des de subir no setor em que atua, mas não pôde concorrer devido à formação. Agora, porém, com a pós-graduação, vai ter a chance de participar das seletivas. “Estou focada em entrar de cabeça no Marketing”, diz. “Agora que descobri meu lugar, não pretendo parar de estudar e já estou pensando em fazer outras especializações.” Atrás das afinidades. Como no caso de Julliane, muitas empresas oferecem promoções que não estão associadas à área de interesse do colaborador e, aí, surge a dúvida. Quando isso acontece, o mais indicado é não fazer cursos apenas por exigências profissionais. Afinal, a possibilidade de sucesso é maior quando se trabalha com algo com que se tem afinidade. Por isso, o estágio é uma excelente porta de entrada para que o jovem perceba o que lhe dá prazer, além de desenvolver habilidades ao unir conhecimentos teóricos com o aprendizado prático. Um exemplo disso é o ex-estagiário Bruno Klajn, graduado em Marketing e, atualmente, trainee do Grupo Gerdau, 13º maior produtor de aço do mundo. Para não ficar para trás, ele se matriculou na pós-graduação de Administração de Empresas, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). “Optei por me matricular porque acredito que a pós-graduação traga um diferencial para o meu currículo”, enfatiza. Hoje, ter uma especialização no currículo, mesmo no início de carreira, deixou de ser um diferencial e, para algumas organizações, passou a ser um pré-requisito. No entanto, é preciso enfatizar: “Tenha foco naquilo que lhe dá prazer, no que o diferencie como profissional, mesmo que no início demore um pouco para encontrar uma oportunidade”, aconselha a orientadora. Por outro lado, com o mercado cada vez mais competitivo, sempre haverá a pergunta: “E agora?”, principalmente para os profissionais que nunca param de evoluir. A

Desafios ao profissional de finanças Para os jovens que buscam se especializar em finanças, uma boa dica é se associar às entidades de classe que atuam na defesa de seus interesses. A Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) é uma das entidades preocupadas com a carreira e com a atual situação da economia. Nesta entrevista, o vice-presidente da Anefac, Sidney Matos, analisa a crise e dá importantes dicas para amenizar o problema: Agitação – Como deve ser a atuação do profissional de finanças em época de crise? Sidney Matos – Passamos por um período de euforia nos últimos anos, com os preços das commodities em cotações altíssimas, demanda em constante alta, mercado de construção civil superaquecido, pedidos chegando sem muitas dificuldades de negociação. Foi o período em que ter disponibilidade de produtos e serviços era até mais importante do que preço e limites de crédito. Mas, de repente, o mundo virou de cabeça para baixo. Os capitais minguaram, assim como o crédito, e agora é hora de ser conservador e concentrar-se no que é essencial para sobrevivência e continuidade dos negócios: saber o tamanho de seu mercado e redimensionar sua estrutura para atendê-lo. Decisões mais rápidas resultarão em retomada de negócios mais rapidamente, também. Descobrir e desenvolver maneiras mais ágeis e confiáveis de disponibilizar informações é muito

importante nesse período; por isso, os conhecimentos de recursos em Tecnologia da Informação são fundamentais. Agitação – Quais as principais atitudes para controlar os gastos? Sidney Matos – Saber manter o fluxo de caixa saudável é, mais do que nunca, uma necessidade neste momento. A recente freada nos negócios fez com que muitas empresas ficassem com projetos parados, estoques altos e fornecedores esperando pagamento. Agora, com margens mais apertadas e pedidos mais escassos, o controle dos gastos é fundamental. É preciso negociar os prazos de pagamento com fornecedores até regularizar seu fluxo de materiais e pagamentos, renegociar o prazo com clientes e não tomar empréstimos a juros exorbitantes. Agitação – Qual a importância dos profissionais de finanças durante a crise finaneira? Sidney Matos – Os bons profissionais de finanças não têm o que temer. Depois de passarem por esses desafios com sucesso, estarão mais fortes e experientes, prontos para assumirem novas responsabilidades e desafios. O profissional de finanças é cada vez mais importante nas organizações, principalmente em tempos de crise e incertezas. Ter sucesso é questão de tempo para aqueles que trabalham com transparência, ética, criatividade, boa comunicação interpessoal, conhecimento do produto e seus custos, bem como conhecimento do negócio e do mercado em que está atuando. jan/fev 2009

Agitação

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TENDÊNCIA

Experiência no exterior e fluência em outro idioma são um ótimo cartão de entrada para quem procura espaço no mercado de trabalho, o que explica por que o intercâmbio está cada vez mais popular. Mas é preciso tomar cuidado para que a experiência não se torne uma frustração. Por isso, paciência e planejamento são palavras-chave para aproveitar ao máximo a oportunidade, começando pela escolha da melhor época para realizar a viagem. Quem está na faculdade ou estagiando deve refletir sobre a possibilidade de se ausentar por pelo menos um mês ou até um ano – tempo aconselhado pelas agências de intercâmbio. Aproveitar as férias e recessos é uma boa alternativa. Mas é preciso avaliar o momento em que estará mais focado em absorver as informações, seja antes, durante ou depois do curso superior. De acordo com Celso Luiz Garcia, diretor da agência de intercâmbio CI, “quando se trata da aprendizagem de um idioma, não há tempo certo”. Contudo, ele enfatiza que fazer o intercâmbio antes da faculdade colabora na hora de fazer a escolha da carreira. Luciana Mitri, orientadora pedagógica, concorda com Garcia e destaca a relevância da experiência no exterior, pois ajuda o estudante a fazer suas próprias 40

Agitação

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escolhas e se abrir a novas oportunidades: “O jovem muda os seus valores e pensa melhor que tipo de profissional quer ser.” Foi o caso de Vanessa Ierizzo que, antes de entrar no curso de Direito, optou por estudar oito meses nos Estados Unidos, onde morou em uma home stay – casa de família. Na época, era o destino mais procurado pelos brasileiros, mas perdeu o posto após o atentado terrorista às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001. A experiência de intercâmbio foi tão positiva que Vanessa também a repetiu durante e depois do curso. No segundo ano de faculdade, passou dois meses na Ale-

ARQUIVO PESSOAL

Intercâmbio qualifica os jovens que sabem aproveitar as oportunidades.

ARQUIVO PESSOAL

Hora de fazer as malas

manha e, logo após concluir a graduação, mais dois meses na Itália. Foco na carreira. Já Daniel de Castro Brunelli, estudante de Marketing, teve de esperar um pouquinho mais para realizar a tão sonhada viagem. Após um ano

e meio juntando dinheiro, trancou um semestre da faculdade e foi estudar em Vancouver, no Canadá. Ele optou pelo país mais procurado hoje pelos brasileiros que buscam fluência na língua inglesa – nos últimos quatro anos, a demanda cresceu de 15% a 20%. Mesmo com


CINCO DESTINOS MAIS PROCURADOS PARA INTERCÂMBIO: 1. Vancouver, Canadá 2. Toronto, Canadá 3. Londres, Inglaterra 4. Sidney, Austrália

Fonte: Belta - Brazilian Educational & Language Travel Association

Daniel foi para Vancouver para melhorar a fluência no inglês. Dedicado, ele se destacou na escola de idiomas, onde conquistou um estágio e amigos internacionais.

ARQUIVO PESSOAL

Vanessa fez seu primeiro intercâmbio aos 17 anos, e depois não parou mais. Após passar pelos Estados Unidos e Alemanha, ela foi para a Itália (foto).

tantos compatriotas, Daniel não perdeu o foco e, durante sua estada, conquistou um estágio na escola de inglês em que estudava, chegando a receber uma homenagem pelo bom desempenho. A decisão de evitar falar português com os colegas brasileiros tem uma justificativa: “Conheci várias pessoas que não voltaram fluentes porque não se esforçaram.” A estratégia deu certo, e após dois meses do retorno ao Brasil recebeu uma proposta para trabalhar no departamento de Marketing da empresa Continental do Brasil – multinacional alemã. “A vivência no exterior dá destaque durante

DIVULGAÇÃO

5. Nova York, Estados Unidos

Celso Garcia, da CI: “Quando se trata de aprender outro idioma, não há tempo certo.”

o processo seletivo; foi o que aconteceu comigo”, comemora. A iniciativa do jovem foi apoiada por Rafael Villas Boas, diretor de Marketing e Vendas da empresa Intercâmbio Global, para quem o mais indicado seria o estudante ir para o exterior logo após concluir o ensino médio, “porque está em fase de mudanças”. Depois que o jovem conclui a faculdade, as chances de um intercâmbio são menores: “Ele está com a carreira engatilhada e o tempo que vai ficar fora pode interferir no seu network.” Profissionais talentosos. Apesar de o inglês continuar sendo o idioma mais procurado pelos brasileiros, vale a pena investir em outras opções. “Se o empregador analisa dois currículos, e um dos candidatos fala um idioma a mais que o outro, é claro que ele vai escolher o que tem mais conhecimentos”, ressalta Vanessa, que atualmente supervisiona a área jurídica de uma empresa de informática. E um último detalhe: um intercâmbio sempre é mais barato que uma viagem turística e a experiência é mais proveitosa, pela possibilidade de usufruir a estada para aprender o idioma local. A jan/fev 2009

Agitação

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PESQUISA

Pouco interesse pela carreira política Metade dos jovens brasileiros entende um pouco de política, e 55% deles não pensam em se candidatar nunca. Esses dados foram revelados pela pesquisa realizada pelo CIEE e respondida por 4.342 estudantes.

VOCÊ ENTENDE DE POLÍTICA?

8% sim, muito

5% nada apenas o necessário

37%

VOCÊ SE CANDIDATARIA A ALGUM CARGO PÚBLICO?

27%

55%

50%

não

sim, um pouco

talvez

18% sim

COMUNICAÇÃO NO SÉCULO 21

PAÍS DO CELULAR

Para os norte-americanos, a cobertura jornalística dos portais da web é mais confiável do que a das outras mídias. A pesquisa foi elaborada durante as eleições presidenciais americanas, pelo Independent Film Channel (IFC), em parceria com o instituto Zogby International. Das 3,5 mil pessoas entrevistadas, 36,5% preferem se informar pela internet, seguida pela TV e pelo rádio:

O Brasil concentra a maior quantidade de telefones celulares da América Latina, seguido por México e Argentina, de acordo com levantamento elaborado pela consultoria Evans. A maior nação sul-americana conta com 143,2 milhões de linhas de telefonia móvel. Participaram da pesquisa: Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Chile, Equador, México, Peru, Uruguai e Venezuela.

Internet

36,5%

Televisão

20,3%

Rádio

16%

Brasil

143,2 milhões

México

76,6 milhões

Argentina

44,8 milhões

CAUSAS DE IMPRODUTIVIDADE SAÚDE DESCE, ECONOMIA SOBE

$

Para os brasileiros, a saúde é o principal problema do governo Lula, seguida por desemprego e segurança. A pesquisa ouviu 3.486 entrevistados, a partir dos 16 anos. Na outra ponta, a economia foi avaliada como a área de melhor desempenho, educação na segunda posição e o combate à fome e à miséria em terceiro lugar. Pior desempenho

Melhor desempenho

Falta de qualificação profissional

27% 25%

Saúde

25%

Economia

17%

Falhas de comunicação interna

Desemprego

18%

Educação

12%

Legislação e regulamentação excessiva

22%

11%

Baixo índice de motivação da equipe

21%

Alta rotatividade de funcionários

20%

Segurança

42

Falta de qualificação profissional, falhas de comunicação interna, legislação/regulamentação excessiva e baixo índice de motivação da equipe: essas são as cinco principais causas da improdutividade dos funcionários nas empresas, segundo pesquisa elaborada pela empresa norteamericana Proudfoot Consulting. Foram entrevistados 1.272 executivos de 12 países (Austrália, Canadá, Brasil, Rússia, Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Alemanha, África do Sul, Índia e Espanha).

Agitação

16%

jan/fev 2009

Fome/Miséria




www.ciee.org.br

Suplemento especial de Agitação nº 85

O

ano do vestibular não é fácil. A estudante de Psicologia, Thaís de Albuquerque Rodrigues, 22 anos, estudava mais de 12 horas por dia, raramente saía e vivia sob a pressão psicológica de todo seu trabalho se tornar em vão. Mas seu esforço valeu a pena: em 2008 obteve a primeira colocação no exame vestibular aplicado pela Fundação Universitária para Vestibular (Fuvest), o mais concorrido do Brasil.

Ela começava sua rotina de estudos às sete da manhã, no cursinho, onde estudava seis horas por dia. Em casa, descansava um pouco e revisava as matérias vistas no dia. Para Vera Lúcia da Costa Antunes, coordenadora do Curso e Colégio Objetivo, ser organizado nos estudos é o grande diferencial, pois permite detectar as dúvidas e tirá-las no dia seguinte. Caso o jovem trabalhe e estude, o jeito é programar o fim de semana, equilibrando a atenção nas disciplinas conforme a necessidade. Por exemplo: no sábado, física e história; domingo, biologia e inglês, e assim por diante. “O impor-

tante é não deixar acumular as dúvidas, porque nesse momento é repassada toda a vida escolar em meses”, explica. Após a segunda rodada de estudos, Thaís se dedicava aos livros indicados pelo manual do exame vestibular. É importante ressaltar a leitura de jornais e revistas. “O estudante não deve se alienar, pois as provas do vestibular vão abordar tudo”, alerta Vera. Além de fontes de notícias do cotidiano, a leitura dos veículos de comunicação pode ajudar muito a melhorar a redação. Para redigir com qualidade e evitar ter a nota prejudicada por uma dissertação mal feita, a coordenadora recomenda aos estudantes elaborar dois textos por semana.


Com uma rotina pesada de estudos, a diversão de Thaís era o caratê que, além de distração, a ajudou muito no vestibular. “Recuperei meu espírito de competição”, afirma. A arte marcial também melhorou o autocontrole,

100% de aproveitamento. Com João Paulo Almeida, estudante da USP, 23 anos, não foi diferente. Primeiro lugar no vestibular para Medicina em 2008, ele acredita

vistos no cursinho. “É mais fácil contar as horas em que eu não estudava”, diz. Assim,

ter feito bem para ela, Jacob Faintuch, médico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), não recomenda exercícios pesados nessa época.

nava com facilidade, sem esquecer, porém, as matérias que fluíam melhor. Ele só dormia

mite”, afirma. A maturidade também foi destacada pelo estudante como diferen-

quando terminava as revisões, que costumava acontecer por volta das 23 horas. De

A chance de sofrer uma lesão é grande, o que pode prejudicar os estudos. Esportes leves, como caminhar ou gi-

cial no pré-vestibular, visto que já havia feito dois anos de Nutrição na USP. Ele entrava de manhã no cursinho e ficava até

acordo com Vera, um erro comum entre os vestibulandos é a dedicação apenas às disciplinas com que possui afinidade, deixando as outras de lado. Nas poucas horas livres que tinha, João Paulo fazia programas leves, como ir ao cinema, jantar fora ou assistir aos seriados de TV de

nástica moderada, são recomendados para aliviar a tensão.

as 15 horas. Além do reforço escolar, o curso preparatório oferecia um instrumento útil para o vestibular: os simulados. Aplicadas em média uma vez por mês, essas provas oferecem aos estudantes a oportunidade de testar seus conhecimentos e de “sentir” o exame, calculando o tempo ideal para cada questão ou quando se deve pular uma pergunta. “O atleta treina praticando seu esporte. O vestibulando também precisa se exercitar”, diz Vera. Thaís está entusiasmada com as atividades esportivas e culturais da USP. A conquista foi uma missão cumprida para João Paulo.

JOVEM

da tarde, e começava a revisar os exercícios

que o objetivo foi conquistado por uma combinação de fatores: a boa escola que cursou no ensino médio, o cursinho e sua determinação. “Levei meu potencial ao li-

diminuindo seu nervosismo. Apesar de a luta

2

Depois ia para casa, onde dormia até o fim

João Paulo seguia o ritmo das aulas, dedicando mais tempo aos assuntos que não domi-

que tanto gosta, receita endossada por Faintuch, que também aconselha ficar longe das A baladas: “Deixe a farra para as férias.”

ROTINA SAUDÁVEL: ESSENCIAL PARA O SUCESSO Um ponto decisivo para se dar bem no vestibular é a autoconfiança, conquistada apenas por meio da dedicação aos estudos. Ter segurança previne a ansiedade e evita o temível “branco” durante a prova. Mas não adianta estudar à exaustão e esquecer da saúde. O clínico-geral Jacob Faintuch alerta que a má alimentação e o estresse podem pôr todo o esforço do pré-vestibular a perder. “É muito importante não deixar a ansiedade atingir níveis muito altos”, explica. Ele aconselha aos estudantes um sono reparador, ter pensamentos positivos e, para se distrair, atividades leves como ir ao cinema, caminhar e namorar, em vez de virar a madrugada em baladas. Na alimentação, prefira os carboidratos, como barras de cereais e frutas.


Oscar também para o

coadjuvante Para brilhar no ambiente corporativo, nem sempre é preciso ser o líder.

tamento de executivos Leaders Trust, assegura que “uma boa parte do êxito do líder se deve a quem está atrás, menos visível, porém eficiente”. Ele faz questão de destacar que a figura do segundo nem sempre é a daquele que não pôde chegar a ser primeiro e que, por isso, é um profissional frustrado. “Às vezes, quem desempenha o papel coadjuvante realmente prefere isso”, diz Fajardo, detalhando que essa posição é relativamente mais cômoda, menos exposta e serve de refúgio às inclemências que o líder tem de enfrentar. A segunda posição é tão valorizada que certas organizações

criam treinamentos específicos para cargos coadjuvantes. A matéria do periódico espanhol exemplifica o caso com o programa da Goldman Sachs, que prepara seus candidatos à codireção, para dar-lhes mais experiências em comum. Assim, quando fizer parte de um grupo de estagiários e, naturalmente, um ou outro se sobressair – não sendo você –, saiba que isso não é o fim do mundo ou a garantia de que a efetivação não virá. A palavra de ordem deve ser sempre eficiência, profissionalismo e autoconfiança; afinal, o Oscar também vai para os coadjuvantes.

3 JOVEM

Preste atenção: nos programas humorísticos, há sempre um comediante que prepara toda a piada para que um outro, geralmente mais famoso, conclua e arranque risos – e aplausos – do público. Por ficar em segundo plano, o chamado escada nem sempre tem a mesma popularidade do astro principal, mas isso não quer dizer que ele seja menos importante. O que seria do Didi sem o Dedé? E do Magro sem o Gordo? No mundo do trabalho, isso também ocorre, e os jovens precisam ter consciência de que nem sempre eles serão os líderes do seu grupo. Essa descoberta pode ser frustrante, especialmente porque a cultura ocidental tende a valorizar demais as estrelas, e os coadjuvantes são sempre menos importantes. Basta que se avalie a passagem do piloto Rubens Barrichello pela Ferrari, criticado por ficar sempre à sombra do alemão Michael Schumacher, seu companheiro de escuderia. Entretanto, foi graças a essa estratégia que a Ferrari conseguiu, entre 2000 e 2005, ser vitoriosa por cinco anos consecutivos no campeonato mundial de construtores, em que se conta o somatório de pontos de todos os pilotos da equipe. E, de quebra, Barrichello sagrou-se como o segundo melhor piloto de Fórmula Um por três vezes. Em artigo do jornal espanhol Expansión, Plácido Fajardo, sócio da agência de recru-


Aproveite os cursos de EaD Se você pretende turbinar seu currículo, os cursos de Educação a Distância (EaD), mantidos gratuitamente no portal do CIEE, oferecem uma boa chance. São 24 cursos que irão ajudá-lo a se preparar melhor para entrevistas, a utilizar softwares e a se portar no local de trabalho. O site oferece apostilas para downloads com serviço de monitoria on-line e esclarecimentos de dúvidas por meio de salas de batepapo, FAQs (frequent asked questions – dúvidas mais frequentes) e e-mails. Mas lembre: é necessário ter cadastro no site.

A importância do RECADASTRAMENTO Nesse começo de ano, não se esqueça de atualizar seu cadastro no portal do CIEE. Manter os dados atualizados – informando mudanças de horário e acrescentando cursos realizados – pode aumentar suas chances de ser encaminhado para vagas que se encaixam em seu perfil. Informações como telefone, endereço residencial e e-mail são essenciais para o contato do CIEE com os candidatos. Fique atento!

E´ baixar e

criar

Para quem tem interesse em ferramentas de desenvolvimento e design, o CIEE e a Microsoft Brasil oferecem um programa de download gratuito de softwares para estudantes, de nível técnico e superior, chamados DreamSpark. Com ele, os alunos poderão baixar um pacote de softwares que inclui o Visual Studio Pro (2005 e 2008), Expression Studio 2.0, Expression Web, XNA Game Studio 2.0, IT Academy Student Pass, entre outros. Para aproveitar a oportunidade, é necessário ter cadastro no CIEE. O endereço do portal do CIEE é: www.ciee.com.br

Conheça a

Biblioteca

do CIEE

Elaborar um currículo atraente é essencial para ser convocado para uma entrevista. Seja conciso e objetivo: dados pessoais básicos (nome, endereço e contatos), área em que pretende atuar, formação acadêmica e experiência profissional são suficientes. Visualmente, faça um currículo limpo, sóbrio e elegante, evitando palavras em negrito, itálico ou grifa-

JOVEM

4 4

das. Assim, você impede que seu currículo vire rascunho de papel.

Com acervo de livros, revistas, jornais, fitas de vídeo e DVDs, a Biblioteca CIEE, instalada no Espaço Sociocultural, em São Paulo, oferece ao público recursos necessários para elaboração de trabalhos escolares e pesquisas. O espaço também conta com um televisor com tela LCD, aparelho de DVD e computadores conectados à internet, para eventuais consultas. Os estudantes podem encontrar obras literárias indicadas para os vestibulares da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), disponíveis para empréstimo.


De estagiário a presidente Estudar, preservar a humildade e se dedicar: o início para uma trajetória de sucesso.

multinacional alemã que atua no setor de pistões automotivos. Após realizar dois estágios, ele concluiu a faculdade decidido a sanar uma das suas maiores barreiras: a fluência no inglês. Depois de seis meses na Nova Zelândia, voltou para o Brasil para participar de processos seletivos para trainee. A tática deu certo, e em dezembro de 2002 ingressou na empresa em que permanece até hoje. Ciente das possibilidades de crescimento, Cruz aprendeu a controlar seu jeito agitado e impulsivo, percebendo que autocontrole é uma característica fundamental em um gestor. A iniciativa deu resultados. Hoje chefia mais de 200 colaboradores. “Estou em um momento muito bom da carreira. ”Mas não pretende parar. Seu próximo passo é chegar a coordenador de produção. Após essa função, só lhe resta mais dois consideráveis degraus: diretor e, finalmente, presidente.

Gustavo Cruz, após sanar suas limitações, assumiu uma equipe de 200 funcionários.

Para ser um bom líder. Ansiar por cargos de gestão não é nenhum pecado. “O bom líder sabe ouvir as pessoas, permitindo que exponham suas opiniões”, define a consultora. Graças a essas diretrizes, Jonathan Lopes Antunes, estudante de Comércio Exterior, conquistou sua grande chance. Depois de estagiar em uma importadora, foi convidado para ser o responsável operacional da sucursal de uma empresa em Itajaí/SC. Com apenas 18 anos, ele encarou o desafio: “Aqui me sinto útil.” Assim como Jonathan e Gustavo Cruz, quem sonha chegar ao topo da empresa não deve desanimar. Afinal, alguns dos maiores empresários do Brasil já foram estagiários, como Ivan Zurita, presidente da Nestlé, e José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors. Quem sabe você não será o próximo profissional bem-sucedido a ter o nome citado em reportagens como esta? A

5 JOVEM

Não há empresa que desperdice estudantes com coragem para encarar desafios, espírito empreendedor e capacidade de adaptação. Daí o motivo por que os estagiários conquistam cada vez mais espaço nas organizações. Ousados, os jovens se deslumbram com os cargos de chefia, mas, para um dia chegar lá, é preciso percorrer um longo caminho. “A busca constante de novos conhecimentos é o que faz os profissionais se tornarem mais capacitados para o sucesso”, destaca Margareth Bianchini, diretora da MBianchini Consultoria Empresarial. Por isso, sonhar e fazer a típica listinha de metas não é o suficiente. É preciso arregaçar as mangas e se superar dia após dia. Estudantes preguiçosos raramente terão oportunidades. Afinal, foi-se o tempo em que as empresas seguiam diretrizes como as de Henry Ford, criador do modelo de produção industrial em massa. Ele afirmava que o problema em suas fábricas surgia cada vez que contratava um par de braços, pois vinham com cérebro. “É essencial se autoconhecer para corrigir defeitos e não permitir que isso atrapalhe seu crescimento profissional”, aconselha Gustavo Lopes Cruz, chefe de produção da KSPG,


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PROCURAM-SE estudantes brasileiros

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CRIANDO VIDA

DIVERSÃO para todas as idades Vídeogame não é apenas coisa de criança. Segundo o estudo Pew Internet & American Life Project do Centro de Pesquisa Pew, metade dos adultos norte-americanos se divertem com o brinquedo, sendo que um em cada dez pratica diariamente. Porém, conforme a idade avança, esse hobby é deixado de lado. Entre os adolescentes entrevistados, 97% afirmam usar esse tipo de entretenimento. Outro fator que influencia o uso, segundo o estudo, é o nível de educação: quanto maior o grau de instrução, maior o número de jogadores.

À procura de estudantes estrangeiros, universidades americanas criaram o Conselho Americano de Recrutamento Internacional (Airc, na sigla em inglês) para atraí-los. A pouca quantidade de estudantes brasileiros em classes americanas os coloca na lista dos mais desejáveis. Atualmente, apenas 3,5% dos alunos de graduação dos Estados Unidos são estrangeiros. Mitch Leventhal, presidente do Airc e da Universidade de Cincinnati, em Ohio, diz que esse número deveria ser, em média, 10%, para que os estudantes americanos aprendam outras culturas e façam contatos que serão importantes no futuro.

Antes restrita às obras de ficção científica, a criação de vida artificial está próxima de tornar-se realidade. Cientistas norte-americanos do Instituto Venter, que há um ano foram os primeiros a construir o genoma sintético de uma bactéria, encontraram uma forma mais eficiente de realizar a façanha: utilizaram um método bioquímico já em uso pelo laboratório para elaborar uma nova geração de biocombustíveis. Apesar da polêmica em torno da experiência, o diretor do instituto e pioneiro em biotecnologia, Craig Venter, vê a conquista como uma porta de entrada para a criação de vida artificial.

Felicidade contagiante

A felicidade é contagiante, de acordo com estudo elaborado pelos professores Nicholas Christakis, da Harvard Medical School, e James Fowler, da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos. Segundo eles, ser feliz não é só uma escolha ou experiência individual, mas consequência do estado emocional das pessoas na qual está conectada, direta ou indiretamente. Porém, exclui-se dessa regra a relação com os colegas de trabalho, o que sugere a influência do contexto social inserido, que pode limitar a propagação de estados emocionais. Para o British Medical Journal, onde o estudo foi publicado, a descoberta pode revolucionar a saúde pública.

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astronautas Quatro ursos de pelúcia, vestidos com roupas de astronauta, foram lançados ao espaço por um grupo de crianças da cidade de Cambridge, na Inglaterra. Ajudados por um balão de gás hélio, os brinquedos chegaram a uma altitude de 30 mil metros, superando 99% da atmosfera terrestre. A experiência foi iniciativa da Universidade de Cambridge e teve o intuito de aguçar o interesse das crianças para os estudos científicos. A viagem dos ursinhos durou 2h09, monitorada pelos alunos por GPS. O retorno desses simpáticos “astronautas” foi assegurado por pára-quedas, que após terem enfrentado temperaturas de -40 ºC a -53 ºC, pousaram na cidade de Ipswich, a 100 km do local de onde foram lançados.

ESPÍRITO sempre jovem Idosos sentem-se, em geral, 13 anos mais jovem, segundo um estudo sociológico realizado pelo Max Planck Institute for Human Development, de Berlim. Segundo Jacqui Smith, professora de Psicologia na Universidade de Michigan (EUA) e principal autora da pesquisa, essa sensação aparece com maior evidência nos homens. Uma das prováveis razões é que as mulheres são, em geral, mais conscientes de sua aparência do que os homens, especialmente com os estereótipos negativos sobre a velhice. Segundo a pesquisa, quem se sente mais jovem tem menos riscos de morrer, em idade e condições de saúde equivalentes.

Primeira habilitação PODE SER SUS Chegou o grande dia! Depois de passar por um exame teórico e às vezes por dois ou até três torturantes exames práticos (se seu pai não “engraxou” o fiscal), você recebeu sua habilitação. Legal, não é? Que maravilhoso poder, finalmente, dirigir por ruas e rodovias, sair por aí com os amigos, ir e vir da balada sem depender de condução. No Brasil, receber a habilitação equivale a um ritual de passagem para a vida adulta. Porém, a maioria dos jovens se esquece de que, com o documento, vem uma série enorme de responsabilidades. Toda essa alegria pode logo dar a vez a uma grande decepção num único momento de imprudência. É importante lembrar que, no primeiro ano de habilitação, o novo motorista recebe apenas uma permissão para dirigir. Isso significa que o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) estará de olho em suas atitudes como motorista. Por isso, se nos primeiros 12 meses de habilitação você vier a cometer uma infração gravíssima, grave ou duas infrações médias poderá perder a permissão e ter de realizar novamente todo o processo de habilitação. Isso inclui voltar a frequentar as aulas teóricas e práticas no Centro de Formação de Condutor e passar por todos os exames do Detran. A suspensão do direito de dirigir não é automática. Depois de cometida a infração, o condutor pode recorrer ao órgão responsável pela autuação. Se o recurso for negado, em todas as instâncias, a permissão para dirigir é cancelada, de acordo com o artigo 148, parágrafos 3º e 4° do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, em decisão terminativa, uma espécie de “quarentena”,

PENSA Lupi De Tomazzo

que proíbe motoristas com menos de um ano de habilitação a dirigir em estradas. O relator do projeto na comissão, senador Eduardo Suplicy (PT-SP), citou estatísticas do Departamento Nacional de Trânsito para justificar a aprovação do texto. Segundo levantamento do órgão federal, o percentual de permissionados envolvidos em acidentes com vítimas nas rodovias federais é bem maior do que os de habilitandos, chegando a uma proporção de cinco para um. Considerados todos os acidentes com vítimas, essa proporção cresce de sete para um. O projeto ainda deverá ser votado pela Câmara dos Deputados.

INFRAÇÕES QUE ACARRETAM CANCELAMENTO DA PERMISSÃO

 Utilizar-se de veículo para demonstrar manobra perigosa (GRAVÍSSIMA);  Conduzir motocicleta sem capacete (GRAVÍSSIMA);  Transportar criança menor de sete anos em motocicleta (GRAVÍSSIMA);  Dirigir sob influência de álcool ou entorpecente (GRAVÍSSIMA);  Deixar o condutor/passageiro de usar o cinto de segurança (GRAVE);  Desobedecer a ordem da autoridade/ agente de trânsito (GRAVE);  Conduzir veículo sem equipamento obrigatório ou ineficiente (GRAVE);  Transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20% (MÉDIA);  Portar no veículo placas em desacordo com especificações e modelos do Contran (MÉDIA). Lupi De Tomazzo é jornalista especializado em veículos; produtor e apresentador do programa Sobre Rodas da rádio USP FM e responsável pelo site www.carrouniversitario.com.br.

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Ursinhos


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Conseguir um estágio é uma conquista importante para o estudante do ensino médio ou superior. Desde o preenchimento do cadastro no CIEE, passando por concorridos processos seletivos – muitas vezes com provas, entrevistas e dinâmicas de grupo – até chegar à empresa, esse período costuma ser competitivo e até mesmo desgastante. Quando é aprovado, a auto-estima do estagiário vai lá para cima e tem-se a visão de que a trajetória profissional está no caminho certo. O próximo passo é mostrar à empresa seu talento e, quem sabe, ser efetivado. Só que aí vem um percurso ainda mais longo. Segundo pesquisa da TNS InterScience, 64% dos estagiários são efetivados. Mas, para isso, eles precisam mostrar interesse, competência, inteligência e proatividade. Empresas e organizações ouvidas pela reportagem de Agitação – Va Tech Hydro, Cerâmica Porto Ferreira, Bauducco,Yamaha, Vicunha, prefeitura de Ituverava – apontam os sete erros mais comuns cometidos pelos estagiários, que precisam ser evitados para não prejudicar o futuro profissional deles.

1. Abusar da linguagem vulgar Os estagiários devem evitar gírias e palavras que denotem baixo nível intelectual. O vocabulário errado pode atrapalhar a imagem do estudante e diminuir sua chance de efetivação.

2. Não ter iniciativa e nem dinamismo Espera-se que o estagiário seja proativo, esforçado, sempre atento e comprometido com a empresa. Aqueles que demonstram desânimo, apatia, que reclamam das atividades propostas e estão ali apenas para receber a bolsa-auxílio não serão prestigiados.

tatuagens e evite os piercings. Vista-se com trajes sociais e ganhe mais credibilidade.

5. Não se atualizar O jovem precisa estar atualizado com sua área de atuação, entender como funciona e quais as perspectivas do mercado. Estar bem informado sobre o que acontece no país e no mundo é apropriado. A leitura sempre será uma prática recomendável.

3. Ser arrogante, achando

que já sabe tudo O estágio é um período de aprendizado. Portanto, o estudante está ali para absorver práticas novas e aplicar o que está aprendendo na universidade. Ser arrogante e achar que já sabe tudo sobre a carreira é uma postura condenável, que pode trazer problemas para a trajetória profissional.

4. Vestir-se de modo inadequado Uma das funções da capacitação é apresentar ao jovem um modelo de atitudes corporativas que não é ensinado na universidade. Um desses itens é a aparência. O visual é importante para fortalecer a imagem do estudante. Nada de bermudas, camisetas ou saias curtas. Esconda

6. Dificuldades para trabalhar em equipe Para que as empresas funcionem plenamente e alcancem as metas, é necessário contar com profissionais que tenham espírito de equipe e saibam atuar lado a lado com pessoas de diferentes formações e personalidades. Aqueles que geram animosidades e não possuem equilíbrio não são bem vistos. 7. Resistência às críticas

O estagiário deve estar aberto a receber críticas, com o objetivo de avaliar erros e acertos para sua aprendizagem e desenvolvimento na carreira.

Créditos: Valquíria Martins, coordenadora de RH da Va Tech Hydro; Vanderlei Denardi, da área de RH da Cerâmica Porto Ferreira; Célia Cristina Granata, chefe de RH da Pandurata Alimentos; Márcia Frias, supervisora de RH da Yamaha; Heloísa Helena de Faria Torres, da área de Desenvolvimento de RH da Vicunha; e Reinaldo de Almeida, gerente de RH da prefeitura de Ituverava.


EXPO

Programação cultural reforçada

Editora Universo dos Livros volta com estande ampliado e mais promoções para os visitantes.

gar de destaque. Os organizadores alertam que as cotas para patrocinadores e expositores não estavam esgotadas até o início de fevereiro. Os interessados em participar podem obter mais informações no site www.feiradoestudanteciee.com. br ou pelos telefones (11) 3674-9411 e (11) 3040-6543. LAURO UEZONO

Pode começar a contagem regressiva. Dentro de pouco tempo, o Pavilhão da Bienal do Parque do Ibirapuera, na capital paulista, será ocupado por cerca de 50 mil estudantes em busca de informações sobre carreira e oportunidades de estágio; por estandes de 50 empresas e instituições de ensino interessadas em se aproximar do público jovem, e por 70 palestrantes com amplos conhecimentos a serem compartilhados. A Feira do Estudante – Expo CIEE 2009 será promovida entre os dias 24 e 26 de abril, das 10 às 20 horas, e traz novidades. Além das atrações voltadas exclusivamente à capacitação profissional, o evento terá uma reforçada programação cultural, a começar pelos estandes. A editora Universo dos Livros, por exemplo, também animada pelo resultado de sua participação na edição passada, voltará com espaço ampliado e o dobro de títulos para os jovens. Estão previstos lançamentos de publicações com preços a partir de dez reais e a oferta de desconto médio de 50% sobre o preço de capa de 500 títulos de diferentes áreas. “Os visitantes da Expo CIEE são bem diferentes do que estamos acostumados a ver em feiras específicas da área de livros, como as Bienais. Trata-se de um público mais jovem e interessado em produtos que ajudam na sua qualificação profissional”, destaca

LAURO UEZONO

A Feira do Estudante – Expo CIEE 2009 será promovida entre os dias 24 e 26 de abril.

Luis Matos, diretor da Universo dos Livros. Outro parceiro que voltará a encontrar os visitantes diferenciados da Expo CIEE é o Grupo Anhanguera Educacional, novamente como patrocinador do evento. Em 2008, a instituição de ensino montou um verdadeiro laboratório para divulgar seus cursos. Entre os equipamentos que podiam ser testados pelos estudantes estava uma incubadora neonatal com o boneco de um bebê anatomicamente perfeito, no qual os estudantes de enfermagem treinam desde a introdução de sondas até a própria manipulação dos instrumentos. Nesta edição, o grupo voltará a ocupar um lu-

Encaminhamento para estágio. Aos estudantes, vale lembrar que a programação completa de palestras e apresentações de dança e música estará no portal da Feira do Estudante – Expo CIEE 2009 e que nele também será possível fazer a inscrição antecipada para visitar o evento. Todos os estudantes que marcarem sua presença na entrada da Expo CIEE ganharão o encaminhamento preferencial para quatro mil vagas de estágio ao longo de seis meses. A jan/fev 2009

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CIEE em foco

Prefeituras do Centro-Oeste investem no estágio Estágios em autarquias e serviços públicos nas prefeituras demonstram o valioso papel que as administrações públicas têm a representar na inclusão profissional dos estudantes. Na Região Centro-Oeste, várias cidades mantêm convênios com o CIEE, beneficiando, atualmente, cerca de 900 estudantes. No CIEE Goiás são mais de 400 jovens beneficiados pelos convênios no estado, nas cidades de Goiânia, Chapadão do Céu, Itumbiara, Anápolis, Guapó, São Luís dos Montes Belos, Paranaiguara, Inhumas, Inaciolândia e Goianésia. Em Inhumas, a prefeitura acredita no potencial dos jovens. De acordo com o gestor de Recursos Humanos do município, Wellington Gonçalves de Sousa, os estagiários realizam atividades técnicas e administrativas, de acordo com sua formação educacional. “Eles estão ligados à área de informática, legislação e recursos humanos”. Todos os estudantes são acompanhados por um monitor responsável, que lhe fornece instruções laborais, relativas à postura e conduta profissional. “Nossa gestão está satisfeita com o impacto que a parceria tem provocado na sociedade inhumense”, diz. Já em Mato Grosso do Sul, cerca de 400 estudantes participam do estágio nas prefeituras de Campo Grande, Dourados, Ponta Porã, Porto Murtinho e São Gabriel. A gestão municipal de Porto Murtinho sabe a importância de acolher seus jovens e direcionar-lhes o melhor caminho. Desde 2005, a prefeitura, em parceria com o CIEE, rea54

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Acima, estagiários de Porto Murtinho: 300 jovens contemplados; ao lado, prefeitura de Várzea Grande.

liza o Projeto Jovem Cidadão, que ao longo de sua trajetória, já beneficiou cerca de 300 estudantes, possibilitando aperfeiçoar seus conhecimentos.

Atualmente são cerca de 90 estudantes no programa de estágio. Em Mato Grosso, são cerca de cem postos de estágio em Cuiabá e em Várzea Grande. O secretário de Administração de Várzea Grande, Pedro Elias Domingos de Mello, acredita que os ganhos na aprendizagem dos estudantes é uma das contribuições do poder público para a sociedade.

Projur: atendimento triplicado O Projeto de Orientação Jurídica Gratuita à População Carente (Projur) realizou 461 atendimentos em janeiro, o triplo da média mensal registrada. Esse resultado eleva para aproximadamente 1,5 mil o número de atendimentos realizados nos sete meses de existência do serviço, na capital paulista. Mantido como ação social filantrópica pelo CIEE, em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (OAB-SP), o atendimento no Projur é realizado por estagiários, responsáveis por indicar soluções em todas as áreas do Direito, sob a supervisão de advogados das duas entidades. O posto está localizado no Prédio-Escola do CIEE, na Rua Genebra, 57/65, no centro antigo de São Paulo, e atende gratuitamente das 13 às 17 horas.


Estagiários ajudam no combate à seca Às vésperas de completar cem anos de atividades – em outubro deste ano – o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) vai ganhar um reforço importante no combate ao problema que afeta milhares de pessoas no país. O departamento renovou, no dia 2 de dezembro, o convênio com o CIEE para a contratação de até 400 estagiários de ensino médio e superior. A assinatura foi firmada em Fortaleza/CE e contou com a presença de Marcelo Gallo, superintendente de Atendimento Norte e Nordeste do CIEE; Robério Henrique Costa, gerente regional Nordeste do CIEE;

Elias Fernandes Neto, diretor-geral do DNOCS; e Marley Cisne de Morais, coordenador de Recursos Humanos do DNOCS. “Atualmente, a instituição mantém aproximadamente 200 estagiários em parceria com o CIEE; esse número poderá aumentar com a renovação do contrato”, afirma Marcelo Gallo. O órgão tem capacidade para receber 153 estudantes de nível superior e 262 de ensino médio. Com atuação nas regiões mais castigadas pela seca no país – principalmente nos estados do Nordeste e no norte de Minas Gerais – o DNOCS é considerada a mais antiga institui-

CIEE no Global Management Challenge A equipe Brazileurs/CIEE ficou em 7º lugar no Global Management Challenge edição 2008 – maior competição internacional de estratégia e gestão de empresas – em disputa de que participaram mais de 200 grupos. A premiação foi realizada no dia 18 de dezembro, no Paulista Plaza Hotel, em São Paulo. Celso Dutra, superintendente de Atendimento da Grande São Paulo do CIEE, entregou o troféu à Brazileurs/CIEE, formada pelos estudantes Alan Lutzky

Saute, Bruno Oliva Peroni e Guilherme Fonseca Orso. Aberta a universitários, de pós-graduação e MBA, a competição visa destacar talentos, testar habilidades e conhecimentos em diferentes cenários por meio da simulação do mundo empresarial. Começou em Portugal em 1980 e, atualmente, está presente em 30 países. No Brasil, é organizada pela International Business Communications (IBC), em conjunto com a SDG - Simuladores e Modelos de Gestão de Portugal. O título de 2008 ficou com a equipe iTGO, que conquistou o bicampeonato. Marcos Takizawa, Thiago Takahashi, Marcelo Takizawa, Marcelo Uenoyama e Mauro Fukunaga dividiram o prêmio de cinco mil reais e irão representar o país na Final Mundial em Lisboa, Portugal, nos dias 22 e 23 de abril. (Da esq. p/ dir.) Celso Dutra premia Alan Saute, Bruno Peroni e Guilherme Orso, da equipe Brazileurs/CIEE.

Elias Fernandes Neto, diretor do DNOCS: parceria para a contratação de 400 estagiários.

ção federal com atuação no Nordeste, com a finalidade de executar políticas de irrigação, saneamento básico e assistência às populações atingidas por calamidades.

Solidariedade Após a catástrofe das enchentes no Vale do Itajaí/SC, o CIEE de São Paulo ofereceu recursos para o CIEE de Santa Catarina para a contratação emergencial de 31 Mércio Felsky estagiários nas áreas de Saúde, Serviço Social e Psicologia, com o intuito de minimizar o sofrimento das vítimas das chuvas. O acordo foi assinado em 16 de dezembro, com a prefeitura de Blumenau/SC. Para Mércio Felsky, presidente do CIEE de Santa Catarina, a intenção foi oferecer amparo médico e psicológico para melhorar a autoestima e dar esperança para as pessoas atingidas.” As atividades funcionaram como estágio não obrigatório, com supervisão dos professores, adequadas à nova Lei de Estágio. nov/dez 2008

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CIEE em foco Talentos na própria casa A formação de talentos é um dos segredos para manter viva a tradição de escritórios de advocacia. Esse é o caso da Penteado Mendonça Advocacia, que já está na quinta geração. “Investimos Antonio Penteado na nossa equipe, capaMendonça citando nossa mão-deobra com cursos e projetos sociais, além de procurarmos manter a fidelidade e parceria”, diz Antonio Penteado Mendonça, que mantém em sua equipe profissionais há mais de 25 anos. Conselheiro do CIEE, o advogado contou, em matéria veiculada pela Gazeta Mercantil, em janeiro, que é difícil encontrar um profissional que atenda ao perfil da banca. No entanto, segundo ele, a rotatividade no negócio não é benéfica. Por esse motivo, Mendonça busca formar seus talentos no próprio escritório. A Penteado Mendonça Advocacia possui mais de um século de tradição jurídica, iniciada em 1860, quando o primeiro membro de cinco gerações da família decidiu fundar seu próprio escritório. Antonio Penteado Mendonça é sucessor direto de Joaquim Mendonça, Antonio Machado Mendonça, Jorge Mesquita Mendonça. Para perpetuar o sucesso do empreendimento, o conselheiro do CIEE ressalta a importância de que o herdeiro faça estágios em outros escritórios, além de manifestar o desejo de se manter à frente do negócio, “para que a transição seja feita de forma tranquila.” 56

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Nova sede em Teresina/PI Mais conforto e facilidade de acesso para estudantes, empresas e escolas. Essas são algumas das vantagens proporcionadas pelo CIEE, que está em novas e modernas instalações em Teresina/PI. Presente há 15 anos no estado, o CIEE administra o estágio de mais de dois mil estudantes, em parceria com aproximadamente 350 empresas, além de fazer a capacitação de 146 aprendizes para inserção no mercado de trabalho. As novas instalações foram inauguradas em 19 de novembro, com a participação de Rejane Ribeiro de Souza Dias, primeira-dama do estado; Washington Luís de Souza Bonfim, secretário de Educação e Cultura de Tere-

Rejane Dias e Marcelo Gallo inauguram nova sede no Piauí.

sina e Marcelo Gallo, superintendente de Atendimento Norte e Nordeste Brasileiro, além de autoridades estaduais e municipais. O novo endereço fica na Avenida Campo Sales, 1.315, Centro. Telefone (86) 3222.0401.

60 anos de idealismo Nenhum dos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos é respeitado uniformemente no mundo inteiro. O diagnóstico da Anistia Internacional deu o tom do III Ciclo de Palestras Educacionais, promovido pela Academia Paulista de Educação (APE), com apoio do CIEE e da Academia Paulista de História (APH), Academia Cristã de Letras (ACL), Academia Internacional de Direito e Economia (Aide) e do Centro do Professorado Paulista (APP). Ney Prado, presidente da Aide, em palestra sobre os 60 anos da declaração, observou que “o caminho é criar uma cultura prática dos direitos humanos, em vez de se contentar apenas com o idealismo político das normas”. O encontro contou com comentários de Jair Militão, pró-reitor adjunto de pesquisa e pós-graduação da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), e Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE e da APH. Ao final do evento, Wander Soares, conselheiro do CIEE, recebeu o diploma de membro honorário da APE e foi saudado por Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE e da ACL. Ney Prado (acima): prática dos Direitos Humanos. (Ao lado): Pedro Kassab e Wander Soares.


MEMÓRIA

ALCIDES AMARAL

Uma lição de competência Conselheiro do CIEE, jornalista e ex-presidente do Citibank, Alcides de Souza Amaral morreu na manhã do dia 30 de janeiro, em São Paulo, aos 72 anos. Nos últimos meses, passou mais tempo recluso em casa, em consequência de uma cirurgia no pé. Amaral deixa a mulher, Norma, e quatro filhos. Natural de Brodowski/SP, ele ingressou no banco norte-americano em 1955, como escriturário de uma agência em São Paulo, e logo abraçou definitivamente a carreira de bancário, galgando posições nas áreas administrativas até ser indicado à presidência. Além do Citibank, no qual permaneceu por 46 anos – aposentou-se em 2001 – , comandou também a Associação Brasileira de Bancos Internacionais. Autor de Os limões da minha limonada, livro com trechos autobiográficos, sempre foi um apaixonado pela escrita. Formou-se em Jornalismo, pela Faculdade Cásper Líbero – estudava pela manhã, e cumpria o horário das 13 às 19 horas no Citibank. Nos anos 1960, exerceu a profissão nos Diários Associados, do empresário Assis Chateaubriand. Um dos seus orgulhos como jornalista foi a série de reportagens que resultou na criação do Museu Casa de Portinari, em Brodowski, cidade natal do famoso pintor Cândido Portinari. Foi colunista do Estadão e entrou recentemente na era dos blogs, escrevendo textos na internet para o site de O Globo. Homem sério, às vezes até introspectivo, não abandonou o modo de vida simples. Gostava de tratamentos de saúde alternativos, como acupuntura e shiatsu. Após problemas de saúde, nos anos 1980, seguiu o conselho da mãe e tornou-se devoto de São Judas Tadeu. Ele dizia que tinha “muito mais a agradecer do que a pedir”. Crítico dos juros altos, afirmava que o Banco Central era “doente por juros elevados”. Conselheiro do CIEE desde 2003, Amaral foi um participante dos mais assíduos nos ciclos de palestras promovidos pela entidade. Em 2006, apresentou seu case de sucesso – suas experiências durante a trajetória pelo Citibank – em palestras gratuitas em Presidente Prudente/SP, Maceió/AL e Natal/RN, sempre muito concorridas. Sua última palestra promovida pelo CIEE foi realizada em 29 de outubro do ano passado, em Piracicaba, e contou com a participação de mais de 500 pessoas. Para Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE, Amaral foi um homem de palavras sábias e gestos generosos. “Além de um exímio executivo, Alcides Amaral tinha uma sabedoria rara da macroeconomia”, recorda. Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE, afirma que Alcides partiu “um tanto quanto decepcionado com a vida, que lhe propiciou muitas vitórias, mas não permitiu que delas desfrutasse, no tempo reservado a esse desfrute”. “Vamos sentir sua falta, mas não o esqueceremos, tão forte era a sua capacidade de ligar-se aos amigos e às causas pelas quais propugnava.” jan/fev 2009

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CAPACITAÇÃO

De volta às salas de aula Entusiasmadas, pessoas da terceira idade aproveitam o tempo livre para retomar os estudos e melhorar a qualidade de vida.

Engana-se quem pensa que, depois de uma vida inteira de trabalho, as pessoas da terceira idade querem apenas sombra e água fresca. Há quem troque as férias ilimitadas pela oportunidade de obter novos conhecimentos ou realizar os antigos sonhos, sempre adiados. Determinados e cheios de energia, muitos vivem uma rotina agitada, complementada pela retomada das atividades escolares. É o caso de Vicente Laruccia, 81 anos, aposentado desde os 70 anos, um dos alunos mais dedicados da Universidade Aberta da Terceira Idade (Uati) da Universidade Guarulhos (UnG) – instituição que oferece cursos de atualização. Há três anos, ele decidiu voltar à sala de aula. “Não existe época certa para aprender, pois sempre é tempo”, diz. “Meus vizinhos gostariam de voltar a estudar, mas têm receio. Mesmo assim, vejo que admiram a minha iniciativa.” Sem as preocupações com trabalho e filhos, as pessoas da chamada melhor idade estão ansiosas por informações novas, e o diploma é apenas mais um benefício, já que o principal foco é aprender. “Diferentemente do aluno regular da universidade, a certificação é o que menos importa. Sua participa-

EaD para a “melhor idade”

Vicente e Adília (de preto) não dispensam as aulas de informática na universidade. 58

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Os mais curiosos estão ansiosos para usufruírem dos benefícios da tecnologia, sobretudo da internet. Deixar de enfrentar filas de banco para realizar pagamentos on-line é um convite e tanto para as pessoas da chamada melhor idade. De acordo com estudo do Pew Internet & American Life, desde 2005, o segmento da população americana que mais cresceu na adesão à rede foi o de pessoas entre 70 e 75 anos. Há quatro anos, o percentual era de 26%, subindo hoje para 45%. São pessoas como o brasileiro Gilberto Winter. Morador de


Benone Tomaz Silva deixou a carreira de músico para se dedicar ao Jornalismo.

ção decorre de um interesse pessoal, motivado por necessidades culturais, de inserção e atualização”, enfatiza Maria Helena Krüger, coordenadora da Universidade Aberta da UnG. Adquirir novos conhecimentos é a motivação de Adília Turatti Morosini, 67 anos. Foi durante as aulas que descobriu o talento com as palavras e, para melhorar o enredo de suas histórias, optou por fazer o curso de Metodologia da Linguagem. “Não preciso tomar remédio para mais nada;

enquanto estudo, não tenho tempo para ter doenças”, brinca a aposentada, que ganhou o apoio da família. Já o pernambucano Benone Tomaz Silva, 72 anos, não teve a mesma sorte. Apenas a esposa o incentivou a retomar os estudos. “Meus filhos me dis-

Praia Grande/SP, ele desenvolve trabalhos como artista plástico há mais de 50 anos –tem mais de mil itens feitos com material reciclável e dez mil quadros vendidos – mas só há três anos decidiu aprender a teoria da profissão. Aluno de Educação Artística, viu na formação em Educação a Distância (EaD) pela Unisa Digital a possibilidade de conquistar seu primeiro diploma. Notando as facilidades da rede, optou também por aperfeiçoar seus conhecimentos com os cursos de EaD do CIEE – já concluiu 12 dos 24 temas disponíveis. Mas pretende realizar todos: “Faço

os cursos de outras áreas para me manter informado”, explica Winter. Já Carlos Alberto Escudeiro, 52 anos, voltou para a sala de aula para atender à demanda da empresa de telemarketing em que atua. Foi durante a formação em Gestão da Qualidade que conheceu os cursos de EaD, e após concluir cerca de oito módulos, elaborou palestras para os funcionários sobre o que aprendeu nas atividades. “Encontrei nos cursos uma excelente fonte de informação”, enfatiza. A tática deu certo e em menos de um ano ele foi promovido de supervisor de Qualidade a coordenador de Treina-

Maria Helena, da UnG: “A participação das pessoas mais velhas é motivada por necessidades culturais.”

seram que eu estava velho para voltar a estudar, que nessa idade eu deveria viajar em vez de perder tempo com livros.” Apesar disso, Silva não desanimou e seguiu com o sonho de cursar Jornalismo. Mesmo tendo trabalhado com música, não fez a faculdade na área porque assume conhecer tudo sobre o assunto. “Já no Jornalismo, há muitas informações novas.” Este ano conclui a graduação, mas nem cogita em parar por aí, e já faz planos para começar a iniciação científica. “No início da faculdade, senti muito preconceito por parte dos alunos, mas hoje conquistei meu espaço”, afirma entusiasmado “seu Benê”, como é chamado pelos colegas. “Para quem criou 12 filhos, e hoje tem 17 netos e uma bisneta, o resto é fichinha.” A

mento e Recursos Humanos. De acordo com Rosa Maria Simone, supervisora de Educação a Distância do CIEE, o que destaca os alunos mais velhos é o interesse de adquirir novas informações, independentemente de incluir na grade curricular atividades complementares. “Eles são motivados pela curiosidade em aprender novas técnicas e manifestam muita gratidão pela oportunidade de acesso ao programa.” jan/fev 2009

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EVENTOS

Vencendo as resistências Cursos de Educação a Distância crescem 571% em três anos, e a tendência ainda é de alta. A Educação a Distância (EaD) conquista a cada ano mais e mais adeptos no Brasil, vencendo resistências. Após pouco mais de dez anos do primeiro curso de educação superior dessa modalidade, somam-se hoje mais de 700 mil alunos matriculados em graduação em EaD, e o número tende a crescer. O sistema atual é formado por 109 instituições, das quais 49 são particulares, 49 públicas e 11 comunitárias. Dados do Censo da Educação Superior de 2006 mostram que, entre 2003 e 2006, os cursos de graduação em EaD cresceram 571%. Entre os mais procurados estão os de Administração, Pedagogia, Ciências Contábeis e Serviço Social. “A Educação a Distância é a solução para a democratização do ensino no Brasil”, ressaltou Frederic Litto, presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), durante o 3º Encontro CIEE-ABED de Educação a Distância: A nova imagem da educação, em comemoração ao Dia Nacional de EaD, em 27 de novembro. No encontro, especialistas discutiram a qualidade dos cursos não-presenciais e a importância de vencer os velhos preconceitos. “Alguns críticos dizem que não há socialização na EaD; pois eu digo que existe mais interação entre os alunos, por causa da internet”, argumentou Litto. Quanto à crítica sobre a qualidade do ensino produzido nos cursos não-presenciais, o presidente da Abed utiliza os dados do último Exame de Desempenho dos Estudantes (Enade), em que alunos de EaD se saíram melhor em sete das 13 áreas avaliadas pelo Instituto Nacional de Estatutos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Por conta das demandas. Para Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE, ninguém conse-

Encontro CIEE-Abed atrai especialistas e expositores. 60

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guirá impedir o crescimento da EaD no país. “Por causa de suas limitações, o ensino presencial não consegue dar conta das demandas, tornando o ensino a distância um processo irreversível”, comentou. Ele lembrou ainda que o receio de a modalidade tirar emprego dos professores não faz sentido. “É como aquele medo de que as máquinas substituíssem os homens.” De acordo com a professora Maria Beatriz Gonçalves, do setor virtual da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG), esse temor dos docentes não encontra respaldo na realidade. “Para vencer as críticas e a resistência cultural, é necessário mostrar mais e mais a qualidade do ensino a distância”, disse. O professor João Vianney, da Unisul virtual, afirmou que, com os resultados apresentados

no Enade, “quem tem de estar de joelho no milho é o ensino presencial”. Diferentemente do que muitos pensam, para conseguir acompanhar um curso de graduação de EaD são necessárias muitas horas de dedicação e organização. “Perdi muitos alunos porque eles pensaram que não precisavam estudar”, contou o professor. Em média, seus alunos lêem cerca de três mil páginas de conteúdo por ano. “Se não se dedicar de 14 a 16 horas semanais para o estudo, não acompanhará o curso”, alerta. Outra faceta que a EaD proporciona e que se populariza a cada ano são os eventos de educação continuada em várias carreiras e os cursos de aperfeiçoamento e capacitação, como os oferecidos pelo CIEE. Para Rosa Maria Simone, supervisora de Educação a Distância da entidade, o foco está na formação do jovem para o mercado de trabalho. “Os cursos são altamente motivadores para atrair o estudante, sempre focados em situações do cotidiano”. Ao todo são oferecidos 24 cursos para estudantes cadastrados no portal do CIEE (www.ciee.org.br). Já foram realizados mais de 500 mil treinamentos, atingindo uma clientela de todos os cantos do Brasil. “O ensino a distância Maria Beatriz Gonçalves, da PUC/MG: “Para vencer as críticas, é necessário mostrar a qualidade de ensino da EaD.”

Acima, Frederic Litto, presidente da Abed; ao lado, videoconferência com Carlos Bielschowsky, do MEC.

é uma realidade necessária em nosso país de dimensões continentais” disse Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE. Na videoconferência. Um dos momentos marcantes do evento foi a palestra via vídeoconferência, direto de Brasília, de Carlos Bielschowsky, secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação (MEC). Ele deixou claro que a EaD conta com o apoio do governo federal. “O presidente da República, assim como o ministro da Educação, Fernando Haddad, acredita no ensino a distância.” Durante a palestra, o secretário revelou os motivos que levaram o MEC a autuar algumas instituições que aplicavam cursos a distância. Segundo ele, foram encontrados problemas de estrutura em alguns dos cursos avaliados, como a falta de tutores especializados. “A instituição tem de estar em contato com o estudante.” Para o presidente da Abed, é importante que o MEC faça a fiscalização e monitoramento dos cursos. “No entanto, eles precisam entender que não pode haver um modelo único, pois os cursos são bastante diferentes entre si”, afirmou. jan/fev 2009

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EVENTOS O futuro dos cursos técnicos A trajetória do ensino técnico profissionalizante no Brasil tem seus altos e baixos. Segundo Almério Melquíades de Araújo, coordenador de Ensino Médio e Técnico do Centro Paula Souza, esses cursos tiveram, entre os anos 1970 e 1980, grande importância, caracterizada, principalmente, pela quantidade de alunos matriculados. No início da década de 1990, porém, houve um recesso em termos de propostas e qualidades dos cursos, o que provo-

cou desinteresse dos estudantes. A solução apontada pelo especialista durante a palestra O futuro dos Cursos Técnicos do Brasil, proferida no último Encontro com Educadores de 2008, é o uso de novas tecnologias como a educação a distância, que pode auxiliar as escolas de ensino técnico a atender todos os interessados. Araújo apresentou o programa Telecurso Tec, oferecido pelo Centro Paula Souza em parceria com a Fundação Roberto Marinho, que oferece cursos profissionalizantes em três modalidades: aberta (por meio de programas televisivos), presencial e on-line. 28/11 - Auditório Ernesto Igel do CIEE/SP

Em busca do brilho nos olhos “Inovação só se consegue por meio de pessoas”, afirmou Celso Marques, diretor de Recursos Humanos da Votorantim Finanças, encerrando o Ciclo CIEE de Palestras sobre RH de 2008. Acompanhado de Rosemary Deliberato, superintendente de RH da empresa, ele apresentou um modelo de gestão de pessoas, baseado em dois conceitos: clima organizacional e remuneração variável. Com isso, Marques busca incitar, nos funcionários, o trabalho com “brilho nos olhos”. De acordo com o diretor, para implantar o primeiro item na Votorantim Finanças, eles fizeram uma pesquisa de clima, o que possibilitou uma análise do ambiente e o grau de satisfação. Com os resultados, foi possível implantar ações para aprimorar o ambiente organizacional. Outra medida foi tornar mais claros certos processos da empresa, como a meritocracia. “Isso deixa claro aos funcionários que quando uma pessoa é promovida, 62

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foi por mérito próprio”, argumentou. Segundo ele, a educação corporativa é um meio efetivo para conquistar um bom ambiente organizacional. Entre as ações, estão os programas de estágio e trainee e o serviço de coaching, espécie de consultor de carreiras. A remuneração variável

também gera comprometimento, mas exige clareza. “Esse modelo bem aplicado estimula a valorização do trabalho em equipe, a integração das pessoas e áreas, e a busca de resultados por meio do empreendedorismo”, diz. 2/12 - Auditório Ernesto Igel do CIEE/SP


Para manter o equilíbrio social A partir da II Guerra Mundial, com a necessidade da reconstrução das cidades destruídas pelo conflito, a industrialização teve um papel importante, numa onda de crescimento mundial movida pelo petróleo, fonte de energia barata na época. No Brasil, a industrialização teve seu auge entre os anos 1950 e 1970, aproveitando a mesma esteira. No entanto, em 1973, ocorreu a crise do petróleo, quando os países fornecedores decidiram diminuir a oferta para aumentar o preço do combustível. A crise do petróleo teve reflexos graves na economia mundial. As nações tiveram de buscar outras fontes de energia, dedicando seus estudos ao desenvolvimento tecnológico, ligado à informática. Com o avanço dos computadores, os trabalhadores braçais

da indústria perderam espaço no mercado de trabalho. Com isso, uma parcela da população teve de ir para a informali-

dade, massificando a população carente das grandes cidades. “Foi essa necessidade que permitiu o desenvolvimento das entidades de 3º Setor, com a intenção de manter o equilíbrio social”, revelou Ana Amélia Mascarenhas Camargos, professora de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), durante o 55º Encontro CIEE do 3º Setor. Na ocasião, a professora apresentou um histórico sobre o 3º Setor, sua importância na sociedade e as novidades trabalhistas que as cercam. Segundo a jurista, essas entidades podem contratar todo tipo de atividade trabalhista, mas devem tomar cuidado com as terceirizações e os autônomos, para não correr riscos de futuros processos judiciais. 12/12 – Auditório Ernesto Igel do CIEE/SP

AGENDA Comunicação nas organizações foi o tema abordado por J.B. Oliveira, presidente da Associação Paulista de Imprensa (API), na palestra realizada em 20 de novembro, na Pousada da Conquista Resort Spa, em Vitória da Conquista/BA.

Marta Misina, diretora de RH do Zambon Laboratórios Farmacêuticos, proferiu a palestra A contratação de pessoal capacitado para as empresas, no dia 12 de novembro, no Hotel Escola Senac Barreira Roxa, em Natal/RN.

Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE, proferiu a palestra A nova Lei do Estágio – Avanço ou retrocesso?, em 2 de dezembro, no auditório Victor Lanza, da Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior (Abmes), em Brasília/DF.

No dia 25 de novembro, João Jonas Veiga Sobral, professor de Língua Portuguesa no Colégio Rio Branco e na Escola Móbile/SP abordou o tema Redação corporativa, no Instituto Mantenedor de Ensino Superior da Bahia, em Itabuna/BA. No dia 3 de dezembro, Margareth Bianchini, diretora da MBianchini Consultoria Empresarial, proferiu a palestra Novas tendências da liderança, no auditório do Correio Braziliense, em Brasília/DF.

A comunicação e a eficiência da gestão foi o tema apresentado por Odilon Soares Leme, responsável pela vinheta S.O.S. Língua Portuguesa da Rádio Jovem Pan AM, no dia 9 de dezembro, no Del Mar Hotel, em Aracaju/SE

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Portugal a velas plenas Paulo Nathanael Pereira de Souza Estive em outubro passado em Coimbra, a convite da quase milenar universidade para duas participações: assinar o protocolo entre ela e o CIEE, para a mútua atuação em programas diversos de interesse de ambas as partes; e proferir conferência no seminário, que a universidade sediava, sobre o tema Futuro das Universidades: o Mercado e a Sociedade. Acompanhou-me Antonio Penteado Mendonça, jornalista brasileiro e membro do Conselho Administrativo do CIEE, que, aliás, brindou os acadêmicos conimbricenses com uma excelente palestra sobre a natureza e os fins do CIEE. Diversas foram, ao longo da vida, minhas viagens a Portugal. Umas, ao tempo da velha terrinha, com as suas intocadas tradições nos vilarejos e quintas (palavra de onde saiu o nosso quintal), com estradas ruins e custo de vida baixíssimo. Outras, na transição para a integração do país na Comunidade Européia e as primeiras modernizações viárias, aeroviárias e monetárias (estas, com reflexos no custo de vida, que se euroficou e não parou de subir). E esta última, que revelou um país em pleno desenvolvimento, com rodovias que nada devem às melhores do primeiro mundo, e transformações urbanas jamais sonhadas pelos que lá estiveram 20 ou 30 anos atrás e não mais retornaram. Portugal navega 64 64

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A universidade de Coimbra avança na área de ciência e tecnologia, a serviço do ensino voltado para a formação de jovens com ações empreendedoras e para inserção na era do conhecimento.

hoje na modernidade a velas plenas. Outra surpresa agradável, tive-a na Universidade de Coimbra, com suas edificações medievais no alto do morro em que o rei D. Diniz construíra sua casa (a reitoria ainda hoje

ANÁLISE funciona exatamente nessa conservadíssima e majestática mansão de 1307, quando a universidade, fundada em 1290, em Lisboa, foi para lá transferida) e a imensa cidade universitária, com seus edifícios modernos, que se derramam pelos taludes da elevação e se ampliam para os bairros periféricos, onde se instalaram os três hospitais da entidade e vários de seus institutos de pesquisa e extensão. Também me deixaram boquiaberto os avanços de modernidade, que pude observar em seus programas, em total integração com a universidade do futuro, de todos os países de ponta da Europa e da América do Norte (Estados Unidos e Canadá). A ciência e a tecnologia estão a serviço do ensino, que se volta para a formação empreendedora dos alunos, e a sua inserção pragmática nas exigências da era do conhecimento, em que se vive. Cada área profissional se instrumenta com o recurso das incubadoras, para a iniciação prática dos formandos nas mais sofisticadas e avançadas pesquisas sobre a aplicabilidade mercadológica dos saberes disponibilizados pela universidade a seus alunos. Fomos, eu e o conselheiro Penteado, passar tardes inteiras em dois tipos dessas incubadoras: uma, o Instituto Pedro Nunes, que aloca espaço, assistência técnica, metodo-

PAULO NATHANAEL PEREIRA DE SOUZA É DOUTOR EM EDUCAÇÃO, PRESIDENTE DO CONSELHO DIRETOR DO CIEE NACIONAL E DO


logias modernas (com predominância de TI), laboratórios e horários de atividades aos alunos das ciências humanas aplicadas. Saem da incubadora ou com a própria empresa organizada e em pleno funcionamento, ou com empregos bem remunerados, nas empresas que adotaram os seus projetos de incubação; outra, instalada na freguesia de Contanhede, denominada Biocant Park, algo tão espantosamente futurista – nas pesquisas de células-tronco, genomas, etc. e nos equipamentos postos à disposição dos ali matriculados – que parecia estarmos num mundo inteiramente concebido pela ilimitada imaginação de Arthur Clark. É a materialização da ficção científica, nas suas mais inesperadas concepções. Por toda parte desse prédio de vários pavimentos, todo em vidro e concreto, leem-se nas projeções luminosas e nos painéis: 1 – O Biocant Park é o primeiro parque de biotecnologia do país, cujo objetivo é patrocinar, desenvolver e aplicar o conhecimento

Portugal navega hoje na modernidade. Um país em pleno desenvolvimento, com rodovias que nada devem às melhores do primeiro mundo, e transformações urbanas jamais sonhadas há 20 ou 30 anos.

avançado na área das ciências da vida, apoiando iniciativas empresariais de elevado potencial; 2 – Disponibilizamos em ambiente propício à inovação e à aplicação do conhecimento de ponta na criação da riqueza; 3 – O centro de investigação Biocant é o principal protagonista do Biocant Park, sendo responsável pela criação e transferência de conhecimento, essencial para o arranque e a exploração comercial de iniciativas inovadoras em Biotecnologia. 4 – As incubadoras promovem a criação de empresas spin-offs através do apoio a idéias inovadoras e de base tecnológica vindas dos seus próprios laboratórios, de instituições de ensino superior, em particular a Universidade de Coimbra, do setor privado e de projetos de I e DT em consórcio com empresas. Há fácil acesso ao sistema científico e tecnológico e de um ambiente propício ao alargamento de conhecimentos e sua aplicabilidade. Nos folders em inglês, que nos foram distribuídos, pode-se saber quais os principais campos trabalhados pelos usuários dessa incubadora, a saber: Bioinformatics, Cell Biology, Genomics, Microbiology, Molecular Biotecnology, Sistems Biology e Advanced Services. A maior vantagem inscrita no protocolo assinado está na troca de expertise entre os signatários: o CIEE poderá exportar a Coimbra seu know-how sobre estágios de estudantes com vistas ao mercado de trabalho, e de lá importar modelos, como o das incubadoras, para passá-los a escolas e empresas, com vistas à qualificação de estagiários, habilitando-os a abrir seus próprios negócios (empreendedorismo). A

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO CIEE/SP E PRESIDENTE DA ACADEMIA CRISTÃ DE LETRAS (ACL).

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CULTURAL

Sexta reforma ortográfica entra em vigor no Brasil, altera 0,5% do vocabulário, e deverá estar totalmente adotada até 2012. Os brasileiros comuns parecem aturdidos, sem entender bem o que está ocorrendo. Estudantes em séries mais avançadas reclamam ao ter de reaprender lições que já consideravam perfeitamente absorvidas. Editoras estudam como compensar os custos necessários para atualizar o conteúdo de livros a serem lançados ou reeditados. Empresas de softwares já começam a adaptar as ferramentas de seus programas de processamento de texto em computador, como o corretor ortográfico, o hifenizador e o dicionário de sinônimos. Até quem produz tecnologia para celulares está modificando os parâmetros para softwares que completam palavras quando o usuário escreve um torpedo. Enquanto isso, acalorados embates, antes restritos ao rarefeito universo de especialistas, ganham repercussão pública, com jornais, rádios, revistas e televisões divulgando as divergências de opinião, que envolvem a vetusta Academia Brasileira de Letras (ABL), guardiã oficial do idioma, escritores, filólogos, educadores, jornalistas e outros interessados. O fato que atraiu a escrita para o centro das atenções foi a recente aprovação da sexta reforma da grafia do idioma português realizada nos 509 anos do descobrimento. Essa é a primeira reforma pilotada a partir do Brasil e atinge apenas 0,5% das palavras registradas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), uma lista publicada pela ABL e adotada como a bíblia do idioma. Com previsão de lançamento no final de 66

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janeiro, o Volp vem com a assinatura do linguista Evanildo Bechara, membro da ABL que recebeu o título de Professor Emérito 2008, atribuído anualmente pelo CIEE e pelo jornal O Estado de S. Pau-

lo. Bechara ocupa a cadeira 33 da ABL desde 2000 e é considerado por muitos como o maior filólogo brasileiro. Aos 80 anos, tem a espinhosa missão de decidir as inevitáveis dúvidas, questionamentos e pendências. “Não me sinto confortável nessa posição. É muito incômodo e é claro que a interpretação que fiz está sujeita a erros. Só não erra quem não faz”,

LIGADO OS POR UM SÓ ID DIOM A Conheçam agora os oito países que se adequarão ao Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, reúnem 230 milhões de pessoas:

o Verde Cabo

Continente África Capital Praia População 530 mil Extensão 4,03 mil km²

AS LÍNGUAS MAIS FALADAS NO MUNDO Português ocupa a sexta posição do ranking, com 230 milhões de falantes. 1. Mandarim 2. Espanhol 3. Inglês 4. Árabe 5. Hindi 6. Português

Guiné G uiné-Bis Bis Guiné-Bissau Continente África Capital Bissau Popu População 1,7 milhão E Extensão 36,1 mil km²

Brasil

Continente América do Sul Capital Brasília População 190 milhões Extensão 8,5 milhões de km²


declarou em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, na qual é apresentado como o senhor das letras. Bechara, entretanto, tem como bagagem uma das mais ativas participações na reforma que afetará 230 milhões de falantes, espalhados por oito países, número que torna o português o sexto idioma mais falado no mundo e o terceiro do Ocidente. Concessões de Portugal. É exatamente a dimensão geográfica que fundamenta uma das raras unanimidades que

cercam o acordo: sua importância é muito mais de ordem política do que de ordem linguística, pois até agora, o português era o único idioma ocidental com duas ortografias oficiais: a brasileira, e outra usada no país europeu e nas ex-colônias asiáticas e africanas. Antes, qualquer texto redigido nos outros sete países tinha de ser refeito ao chegar ao Brasil, para adaptação às normas aqui vigentes, e vice-versa. Desta vez, Portugal fez a maior concessão, ao abrir mão das consoantes mudas, uma herança do

latim que era mantida na escrita, mas não pronunciada na leitura. Daqui para frente, elas devem ser esquecidas, como parte do 1,6% das palavras do vocabulário oficial português que será alterado. Um exemplo: até a aprovação do acordo, “o director de uma escola de Lisboa faria uma óptima viagem ao Egipto, adoptando uma económica agenda de actividades pagas”. Já “o diretor de uma escola de São Paulo faria uma ótima viagem ao Egito, adotando uma econômica agenda de atividades

Há mais seis locais onde o português é falado, mas não é a língua oficial.

Portugal

MACAU

Continente Europaa Capital Lisboa hões População 10,6 milhões Extensão 92.389 km²

(Região Administrativa da China) Continente Ásia População 538 mil Extensão 28,6 km²

GOA OA

(estado da Índia) Continente Ásia População 1,4 milhão Extensão 3,7 mil km²

Angolla Angola

Continente África Capital Luanda População 17 milhões Extensão 1,2 milhão de km²

DAMÃO

Moçambique

Tii Timor Leste

Continente África Capital Maputo População 21,4 milhões Extensão 801,5 km²

São Tomé e Príncipe

Continente África Capital São Tomé População 158 mil Extensão 964 km²

Continente Ásia Capital Dili População 1,2 milhão Extensão 14,8 mil km²

Aplicação lenta e gradual A lei estabelece vários prazos até a adoção integral da reforma ortográfica. Uma das vantagens será aproveitar milhões de livros.

(cidade da Índia) Continente Ásia População 114 mil Extensão 72 km²

DIU

(cidade da Índia) Continente Ásia População 21,6 mil Extensão 40 km²

DADRÁ E NAGAR ÁVELI (territórios da Índia) Continente Ásia População 220 mil Extensão 487 km²

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CULTURAL

ANDRÉ LUIZ MELLO

verbo ter) e têm (3ª pessoa do plural do presente do indicativo), o mesmo valendo para vem e vêm.

Evanildo Bechara tem a missão de decidir as dúvidas e pendências da nova reforma.

pagas”. Agora, a grafia será a mesma nos oito países da Comunidade de Países da Língua Portuguesa que inclui, além de Brasil e Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor Leste e São Tomé e Príncipe. As diferenças eram ainda maiores em 1911, quando Portugal fez a primeira reforma ortográfica do século passado, eliminando o ph de “pharmacia” e alguns outros complicadores – e o Brasil não acompanhou, só vindo a aceitar parcialmente as mudanças na reforma de 1943 e completá-las em 1971, quando eliminou os acentos diferenciais e subtônicos em palavras como “êles” e “simbòlicamente”. Mesmo assim, permaneceram algumas exceções, agora erradicadas, como os acentos diferenciais em “pára” (verbo), “pêlo” (substantivo) e “pólo” (substantivo), cujo sentido deverá ser entendido no contexto da frase. Mas outras continuam mantidas, como pôde (3ª pessoa do pretérito perfeito do indicativo do verbo poder) e pode (3ª pessoa do presente do indicativo) ou tem (3ª pessoa do singular presente do indicativo do 68

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Inevitáveis divergências. Os mais céticos quanto aos efeitos da reforma dizem, meio em tom de blague, que ela servirá apenas para denunciar a idade de quem escreve: se, dentro de alguns anos, alguém escorregar e pespegar um acento agudo na palavra heroico, só pode ter aprendido a escrever antes de 2009. Os mais radicais descartam a necessidade de reforma, sob o argumento que França e Inglaterra nunca pensaram em mudar grafias, apesar das diferenças que existem entre o berço do idioma e outros países que o adotam. O mesmo argumento vale para os ardorosos defensores de mudanças, que utilizam outro exemplo: o espanhol, idioma mais falado no Ocidente e o segundo do mundo, tem a mesma grafia em todos os países da comunidade

linguística, embora cada um mantenha sua maneira de falar. O acordo não afetará a pronúncia das palavras, como lembrou o escritor angolano José Eduardo Agualusa, em entrevista à revista Época: “Vamos continuar falando ônibus no Brasil, autocarro em Portugal e xibombo em Angola.” Como ponto positivo, “o acordo mostra, simbolicamente, que existe um elemento de unidade entre os povos de língua portuguesa”, declarou, na mesma reportagem, José Luiz Fiorin, professor da Universidade de São Paulo e membro da Comissão de Língua Portuguesa (Colip), que participou das discussões sobre o acordo, aprovado em 1990, assinado em 2006 por três países (Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Princípe) e firmado por Portugal em 2008, após muita resistência. As críticas mais procedentes às mudanças passam longe do viés político e têm caráter bem prático, apontando principalmente os pontos obscuros.

A LÍNGUA DO DIABO Numa aplaudida conferência na Academia Brasileira de Letras (ABL), o escritor José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, afirmou convictamente que “a língua portuguesa é muito linda.” Concordamos, acrescentando: linda e difícil. Ninguém pode se iludir com a musicalidade do nosso idioma, oriundo do latim vulgar. Hoje, falado por 235 milhões de pessoas, espalhadas pelo mundo inteiro. No último levantamento feito por filólogos brasileiros, como se expressa no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela ABL, trabalhamos com 360 mil verbetes. Quem tiver o pleno domínio de 10% desse total será capaz de escrever adequadamente, como exige a norma culta, nem sempre bem

compreendida, do nosso cotidiano. Estamos começando a adotar os critérios do Acordo Ortográfico de Unificação da Língua Portuguesa. Jornais como O Estado de S. Paulo, de longa tradição em nossa imprensa, prometem respeitar os novos termos, com a grafia unificada que terá grande importância, no concerto internacional, do ponto-de-vista estratégico. Por isso mesmo, o sucesso dessa implementação dependerá fundamentalmente da adesão dos professores. Se houver relaxamento na matéria, pode-se estimar uma grande bagunça no trato da língua. Outro dia, conversando com alguns acadêmicos, surgiu uma acesa discussão sobre o emprego do “internetês”. Um deles chegou a proclamar que se trata da “língua do diabo”, tal a sua indignação com


Por exemplo, um dos itens estabelece que palavras compostas “cuja noção de composição se perdeu” não devem ser ligadas por hífen. Ora, quantos falantes comuns entenderão tal regra? Certamente, a grande maioria continuará sem saber como informar à seguradora que, num acidente, o parabrisa (ou será para-brisa?) dianteiro se quebrou. Entre outras exceções, a regra que manda usar hífen nas palavras compostas em que o primeiro termo termina com a mesma vogal que inicia o segundo não vale para cooperar, coordenar, reeditar, reeleger e seus derivados. Reconheça-se, a bem da verdade, que há pontos bem claros, como a eliminação sumária do trema. Bem entendido, sumária, com exceções: os dois pontinhos continuam no teclado e nas palavras de origem estrangeira com trema no original, caso de Gisele Bündchen, Müller e Ravensbrück.

Entendimento amplo. Afinal, por que tanta preocupação com dois pontinhos, tracinhos, letras dobradas, acentos? Acontece que a linguagem é essencial para o relacionamento, a formação e a formulação do pensamento entre os seres humanos. Se, como admitem os cientistas, as pessoas nascem com o cérebro preparado para a fala, ninguém sai do berço sabendo que palavras proparoxítonas devem ter as sílabas tônicas obrigatoriamente acentuadas. Isso é uma convenção, que uniformiza a escrita e indica a pronúncia dos vocábulos, de forma a facilitar a comunicação, a compreensão e a transmissão dos saberes entre as gerações, tanto futuras e antigas, como as contemporâneas. Por tal razão, é importante aprender, reaprender e recapitular a ortografia. Afinal, se é falando que a gente se entende, também é verdade que escrever de acordo com os padrões aceitos por todos tem o condão de evitar confusões e facili-

tar a comunicação entre os falantes do mesmo idioma, preservando a identidade cultural sem deixar de absorver a riqueza da diversidade dos ramos que nasceram do mesmo tronco. No nosso caso, de Portugal. A

o que algumas escolas têm estimulado no espírito dos alunos que passaram a dominar o uso do computador. Nossa opinião não é tão radical, mas é preocupante que os adolescentes estejam usando, na sua intercomunicação, vocábulos inventados, sob o pretexto discutível de facilitar as coisas. Isso não os afasta irremediavelmente dos padrões cultos que serão exigidos nas provas e concursos posteriores? A propósito, permitimo-nos discordar da polêmica levantada pelo professor João Wanderley Geraldi, da Unicamp/ SP. Em conferência na cidade gaúcha de Santa Cruz do Sul, com o brado de “mais textos, menos gramática”, defendeu que a forma de comunicação usada na Internet “é um fenômeno lingüístico muito mais importante do que qualquer acor-

do ortográfico que o Brasil assine com Portugal”. E exagerou: “Esse acordo não representa nada do ponto-de-vista linguístico. As mudanças objetivam apenas atender aos interesses de mercado.” É uma acusação despropositada. O assunto está sendo tratado há mais de 20 anos. De parte do Brasil, a liderança sempre foi do insuspeito filólogo e acadêmico Antonio Houaiss. Em sua argumentação, ele sempre procurou agir de forma a respeitar a soberania, os usos e costumes dos países da comunidade lusófona. As modificações propostas não chegam a abranger 1,5% dos vocábulos em uso nas Comunidades dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o que torna

absurda a argumentação do professor da Unicamp de que “as alterações são desnecessárias e alteram, fundamentalmente, a ortografia de Portugal”. De onde terá saído essa idéia? Comparando o fenômeno com o uso de gírias e estrangeirismos, o prof. Geraldi acha que a principal inovação, hoje, é o modo como os jovens escrevem nos chats, na Internet. Proclama: “É uma nova ortografia que está surgindo.” Na nossa opinião é um exagero, modismo importado, que só dificulta a apreensão dos conhecimentos necessários. Isso ainda vai render muita discussão.

PRAZO DE TRANSIÇÃO PARA O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO A população terá até 2012 para se adequar às novas regras do Acordo Ortográfico. O mesmo prazo, porém, não é válido para as editoras. A partir de 2010 serão regularizados os livros do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, e em 2011, do sexto ao nono ano. Por fim, no ensino médio a medida tem início a partir de 2012. Até lá, os alunos dos dois ciclos conviverão com a grafia antiga e a nova. Apesar disso, todos os demais textos produzidos a partir de 2009 deverão seguir as novas regras.

ARNALDO NISKIER É MEMBRO DA ABL E PRESIDENTE DO CIEE/RIO. jan/fev 2009

Agitação

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DICAS DE PORTUGUÊS

Reforma ortográfica Está lembrado? No primeiro dia de 2009 entraram em vigor as novas regras ortográficas da língua portuguesa. Até 31 de dezembro de 2012, conviverão as duas grafias. Em concursos, vestibulares, correspondências, você pode jogar na equipe do passado ou na do presente. Em 2013, só a novidade terá vez. As mudanças são poucas. Mas serão exigidas no português nosso de todos os dias. Que tal adotá-las desde já? A seguir, você tem um resumo das alterações. Guarde-o para consulta. Quando pintar a dúvida, oba! Ele será pra lá de bem-vindo.

O QUE MUDA? Alfabeto: entram as letras k, w e y. O trema desaparece, mas a pronúncia se mantém. Freqüente, tranqüilo, lingüeta, lingüiça passam a se grafar frequente, tranquilo, lingueta, linguiça. O chapéu do hiato ôo se despede. Vôo, abençôo, perdôo viram voo, abençoo, perdoo. O circunflexo do hiato êem diz adeus. Vêem, crêem, dêem, lêem ganham a forma veem, creem, deem, leem. O agudo do u tônico dos verbos apaziguar, averiguar, argüir & cia. some. Apazigúe, averigúe e argúe ganham a forma apazigue, averigue, arguem. O i e u antecedidos de ditongo perdem o grampo. Feiúra, baiúca, Sauípe viram feiura, baiuca, Sauipe. Os ditongos abertos éi e ói se despedem do acento nas paroxítonas. Idéia, jóia, jibóia exibem a forma ideia, joia, jiboia. (O grampinho permanece nas oxítonas e monossílabos tônicos: papéis, herói, dói.) Os acentos diferenciais das paroxítonas se vão. Pêlo, pélo, pára, pólo, pêra se transformam em pelo, para, polo, pera. (Mantém-se o chapéu de pôde, passado do verbo poder, e do verbo pôr).

TESTE Adapte o texto abaixo para as novas normas: “As conseqüências”, diz o conselheiro Acácio, “vêm depois.” O personagem de Eça de Queiroz era o mestre das obviedades. Por isso, ficaria chocado com os chutes que se fazem sobre a crise internacional. Sem idéia clara do que virá, economistas se aventuram a vôos sem rumo. Alguns vêem recessão próxima. Outros, depressão. São metros e metros de papéis gastos em futurologia. Talvez, se tivessem bola de cristal, pudessem ver cenário mais definido capaz de diminuir a feiúra assustadora que se desenha. É possível que a verdade apazigúe os ânimos. 70

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DAD SQUARISI

DICA

1

A ref orma é ort Refer ográf e-se ica. s ó à g das p rafia alavr a s. Pr conco onúnc rdânc ia, ia, r crase egênc conti i a , n uam c dante omo s no q u artel Abran tes. de

HÍFE

N EXIGEM O HÍFEN SEMPRE Prefixos seguidos de h: anti-higênico, superhomem, micro-história, extra-humano, coherdeiro, proto-história, sobre-humano, ultraheróico. Exceção: subumano

Além, aquém, ex, pós, pré, pró, recém, sem, vice: além-mar, aquémmuros, ex-presidente, pós-graduação, préprimário, pró-reitor, recém-chegado, semterra, vice-presidente.


DICA

O LEITOR PERGUNTA

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A muda nça no s acen só ati tos ngiu a s paro Propar xítona oxíton s. as, ox e mono ítonas ssílab o s tôni não fo cos ram ne m arra Mantêm nhados -se co . mo sem foram. pre

Como é? Li com cuidado a coluna que tratou do emprego dos pronomes demonstrativos (Agitação de setembro/outrubo de 2008). Tinha muitas dúvidas sobre o assunto. A abordagem deixou o tema claro. Só um item continua obscuro na minha cabeça. Trata-se da estrutura fechada. Fiquei em dúvida na frase “Maria e Joana são jornalistas. Esta trabalha na revista Agitação. Aquela, na Veja”. Afinal, quem faz o quê?

DICA 3 vo! Olho vi ento. ão é ac n a m na e Tr iscrimi d o não ou s a Por iss n xíto s, paro s a oxítona d o T . xítonas proparo rco. a b o n estão

Vera Apareccida Cunha

DICA 4 No caso dos hifens, impera a regra os iguais se rejeitam; os diferentes se atraem: contra-regra, tele-entrega, microondas, semi-internato, super-região, subbloco. Mas: aeroespacial, agroindústria, antieducação, autoescola, infraestrutura, plurianual, semiopaco; hipersensível, internacional, subsolo, supermercado.

Prefixo terminado por consoante seguido de palavra começada pela mesma consoante: hiper-rico, inter-racial, sub-bloco, super-resistente, super-romântico. Olho vivo: Sub: pede hífen com palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça. Os sufixos de origem tupiguarani açu, guaçu e mirim: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.

Costumo pôr no currículo um item que denomino “experiência anterior”. Outro dia, li que a duplinha forma baita pleonasmo. É verdade? João Marcelo

DICA 5 terminados Nos prefixos se juntam a em vogal que çadas por r palavras come -se o r e o am ic ou s dupl a pronúncia: s pra manter antirrugas, antirrábico, biorritmo, antissocial, infrassom, , so en contrass a, minissaia, microssistem ismo, s, neossocial multissecula so, ro go , ultrarri semirrobusto ultrassom.

É. Experiência anterior joga no time do subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora, elo de ligação, panorama geral, países do mundo. Só se sobe pra cima, só se desce pra baixo, só se entra pra dentro, só se sai pra fora, todo elo é de ligação, todo panorama é geral e todos os países são do mundo. Ora, experiência é prática de vida. Só pode ser anterior. O adjetivo sobra. Basta escrever “experiência”.

RESPOSTA “As consequências”, diz o conselheiro Acácio, “vêm depois.” O personagem de Eça de Queiroz era o mestre das obviedades. Por isso ficaria chocado com os chutes que se fazem sobre a crise internacional. Sem ideia clara do que virá, economistas se aventuram a voos sem rumo. Alguns veem recessão próxima. Outros, depressão. São metros e metros de papéis gastos em futurologia. Se tivessem bola de cristal, talvez pudessem ver cenário mais definido capaz de diminuir a feiura assustadora que se desenha. É possível que a verdade apazigue os ânimos.

Os prefixos terminados em vogal seguidos por palavra começada pela mesma vogal: anti-inflamatório, autoobservação, contra-ataque, micro-ondas, semi-internato. Exceção: o prefixo co se junta ao segundo elemento mesmo quando ele começa com o: coordenar, coobrigação

Vera, você tem razão. O esta se refere ao nome que está mais próximo do pronome. O aquele, ao mais distante. No caso, Joana está mais perto do pronome esta. Maria, mais longe. Conclusão: Joana exibe o talento na revista Agitação; Maria, na Veja.

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ELEIÇÃO

PAULO NATHANAEL, ACADÊMICO Educador, com vasta obra sobre ensino e inclusão profissional de estudantes, vai ocupar a cadeira 12. No ano em que a Academia Paulista de Letras (APL) comemora seu centenário, o professor Paulo Nathanael Pereira de Souza, presidente do Conselho de Administração do CIEE, é eleito para ocupar a cadeira número 12, ocupada até o ano passado pelo ensaísta e poeta Benedicto Ferri de Barros, e que tem como patrono Paulo Egídio. Educador e autor de extensa bibliografia, principalmente na área de educação e cultura, Paulo Nathanael ocupou relevantes cargos no setor público, com destaque para sua atuação na Secretaria de Educação e Cultura de São Paulo e como presidente do Conselho Nacional de Educação. Foi também superintendente geral da Fundação Bienal de São Paulo, diretor e curador de diversas fundações, como a Padre Anchieta de Rádio e Televisão. É o atual presidente da Academia Cristã de Letras (ACL) e membro das Academias de Educação e de História.

O desembargador José Renato Nalini, presidente da APL, acredita que a escolha do professor reforça a tendência de maior abertura da academia para a sociedade. “O professor tem uma bagagem muito rica que evidencia suas qualidades para assumir uma cadeira na APL, ajudando a torná-la uma casa pluralista, com representações de todos os setores da intelectualidade paulista.” Decano da academia, o poeta e escritor Paulo Bonfim vê com alegria a entrada de Paulo Nathanael na APL. “Ele tem o perfil de um grande acadêmico – obras publicadas, vida produtiva e uma bagagem cultural importante – , enriquecendo sobremaneira os nossos quadros”, avalia. Por sua atuação de incentivo à cultura, Paulo Nathanael recebeu vários prêmios, dentre eles, as medalhas João Ribeiro e Livreiro Francisco Alves, da Academia Brasileira de Letras (ABL). Também foi condecorado pelo governo francês com a Legião de Honra e a Ordem Nacional do Mérito.

No CIEE, Paulo Nathanael foi eleito para presidir o Conselho de Administração no triênio 2003-2006, e reeleito para o mandato 2006-2009, com inúmeras iniciativas em favor do jovem. Vida dedicada à educação. O advogado e cronista Antonio Penteado Mendonça, primeiro secretário da academia, destaca que a escolha de Paulo Nathanael preenche o espaço deixado pela educadora Esther de Figueiredo Ferraz, professora emérita CIEE/Estadão 1999, a primeira mulher a ocupar o Ministério da Educação e ex-reitora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, que morreu em setembro do ano passado. “Paulo traz uma vida dedicada à educação, vindo preencher essa lacuna importante.” Para as comemorações de cem anos da academia, o presidente José Nalini pretende angariar recursos, via Lei Rouanet, para restaurar a histórica sede da APL, que fica no tradicional Largo do A Arouche, no centro de São Paulo.

LIVROS PUBLICADOS Ginásio Pluricurricular em São Paulo - Cia. Editora Nacional - 1967 Normas Regimentais Unificadas do Ensino Secundário - Cia. Editora Nacional - 1970 Desafios Educacionais Brasileiros - Livraria Pioneira Editora - 1978 Educação, Escola e Trabalho - Livraria Pioneira Editora - 1984 A Pré-escola: Nova Fronteira Educacional - Livraria Pioneira Editora - 1984 Educação na Constituição e Outros Estados - Livraria Pioneira Editora - 1986 Educação: Uma Visão Crítica - Livraria Pioneira Editora - 1989 Estrutura e Funcionamento do Ensino Superior Brasileiro - Livraria Pioneira Editora - 1991 ABC da LDB - Editora Unimarco / Loyola - 1993 Problemas (Sempre) Atuais da Educação Brasileira - Editora Unimarco - 1995 Falas (De História, de Circunstância, de Educação) - Editora Pancast - 1996 LDB e Educação Superior - Pioneira - Thomson Learning - Editora - 2001 Educação, Estágio & Trabalho - Integrare Editora - 2006 Paulo Nathanael Pereira de Souza e José Renato Nalini: academia comemora cem anos em 2009.

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CIEE CULTURAL

Atrações em dobro no Teatro CIEE Número de peças teatrais e apresentações musicais cresceram em 2008. O cardápio cultural do CIEE, em 2008, foi farto e trouxe atrações gratuitas para todos os gostos: de shows de rock a concertos clássicos, e de um divertido espetáculo de comédia a monólogos que instigavam a reflexão. A diversidade das opções é reflexo direto da quantidade de eventos. Foram realizadas 20 apresentações musicais e três peças teatrais, assistidas por sete mil espectadores, no Teatro CIEE, em São Paulo/SP. Em 2007, a programação cultural foi composta por dez apresentações musicais que atraíram 3,8 mil espectadores. Cada evento oferecido aos jovens se lastreia na certeza de que o mercado não procura apenas pessoas com competências técnicas, mas indivíduos com formação humanística e ampla cultura geral. Assim, enriquecer o repertório dos candidatos a estágio é também au-

mentar sua empregabilidade. Por exemplo: lidas nas entrelinhas, cada uma das três peças trazia mensagens de incentivo aos jovens. “Não existe ensino, mas, sim, aprendizado: quem quer aprender vai atrás”, vaticinou Antônio Abujamra (autor, diretor e ator) em seu monólogo A voz do provocador, apresentada em 10 de setembro. Inspirado em peça do ator e dramaturgo Spalding Gray – que também desfiava observações pessoais sentado à mesa, solitário, no meio do palco – Abujamra contou histórias e, como quem nada quer, declinou uma plêiade de autores para aguçar o interesse dos jovens mais atentos: Eurípedes,

Vladimir Nabokov, Aleksandr Pushkin, Liev Tolstói, Nicolai Gogol e Bertolt Brecht. Clarisse Abujamra, sobrinha do provocador, também adotou a mesma estratégia ao apresentar sua autobiografia na peça Antonio, encenada no Teatro CIEE, em 29 de outubro. Ela declamou poesias dos brasileiros João Cabral de Melo Neto, Elisa Lucinda, Olga Savary, Florbela Espanca e Hilda

Antônio Abujamra usa fórmula de Spalding Gray e desfia observações pessoais no palco.

O PARALELO ENTRE TEATRO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO Paulo Goulart*

Pode parecer absurda a ideia de que o teatro – além de ser uma arte viva, de comunicação vastíssima que abrange todos os questionamentos existenciais, filosóficos, políticos, literários – é a arte da palavra, do pensamento, da dinâmica, da criatividade, da linguagem e do infinito da evolução permanente de se comunicar. Onde quer que aconteça: na rua, no palco, na sala de aula, na tribuna, num hospital, na indústria, no comércio, enfim, na 74

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vida! Em primeiro lugar, quero falar do amor ao seu ofício, seja ele qual for. Amar o que se faz, é evoluir sempre. Hoje, mais do que nunca, nada é estático, vagaroso, acomodado, solitário. Não se pode entregar tudo nas mãos de Deus; cada qual tem de fazer sua parte. No espetáculo do cotidiano, existem paralelos singulares em todas as profissões. Na indústria, por exemplo, todo industrial que ama sua maneira de ser, de criar, de evoluir, não se acomoda nunca.

Traz em sua vida a essência do novo, do amanhã, do futuro. Quanto mais cresce, mais está investido na evolução: é a matéria prima do progresso, do trabalho, do social e da participação. No teatro, nossa matéria prima também não aparece: são os anônimos. A começar pelo escritor, o autor, o dramaturgo ou o poeta – os imortais, os que ficam através dos tempos. Sócrates, Platão, Aristóteles. Desde a Grécia Antiga, a Inglaterra de Shakespeare, a França de Mo-


Hilst. Já a terceira peça, A descoberta das Américas, adotou um caminho menos ortodoxo para provar como é importante ser flexível e estar preparado para enfrentar situações adversas. Baseado em improviso do dramaturgo italiano Dario Fo, o monólogo traça a trajetória de um malandro que, com muito jogo de cintura, consegue embarcar em uma das caravelas de Colombo, sobrevive a um ataque de canibais e lidera o levante de toda uma tribo, indignado pelas injustiças perpetradas pelos espanhóis. As três peças fizeram parte da quarta edição do Teatro nas Universidades, projeto criado pelo ator Paulo Goulart

que, em dezembro do ano passado, renovou parceria para outras apresentações teatrais em 2009.

lière ou o Brasil de Machado de Assis. Sempre se renovando, sempre na vanguarda, sempre com uma nova leitura com os parceiros da encenação: os diretores, cenógrafos, figurinistas, iluminadores, músicos. Toda parte técnica que não aparece, mas que, sem eles, não pode existir espetáculo. São nossas matérias primas de criação e de produção! O que é o cenário, senão a embalagem de um produto? As cores e dinâmica das roupas se assemelham ao bom gosto de qualquer produto! A decisão da escolha hoje com vários departamentos de assessoria, como pu-

blicidade e marketing, são muito próximas de nossa maneira de estimular o espectador a sair de casa, comprar um ingresso para nos assistir. Quem decide? O produtor! Quem decide na indústria? O empresário, o empreendedor. Hoje não é só o patrão, o dono ou o chefe e, sim, o mentor, em todos os segmentos da sociedade. Nada mais acontece sem a parceria. E o que somos, os atores, nesse contexto? Somos os técnicos da comunicação; nós que passamos para quem nos assiste o conteúdo da obra!

Música de qualidade. Quem também volta é o maestro João Carlos Martins, que regerá a terceira temporada da Orquestra Bachiana Jovem, no Teatro CIEE. Responsável por atrair uma média de 450 espectadores em cada uma das quatro apresentações mensais, a orquestra é composta por 40 estudantes de música e conta com instrumentos de sopro, cordas, metais e madeiras. A primeira das quatro apresentações deste ano está marcada para 18 de abril e será

Atrações ecléticas: de rock clássico da banda Ready Teds a concertos de João Carlos Martins, que regeu a segunda temporada da orquestra Bachiana Jovem.

precedida, dois dias antes, por um concerto da Orquestra Bachiana Filarmônica, também sob regência de Martins, somente para convidados. O Teatro CIEE também recebeu o recital da pianista clássica Eudóxia de Barros, o show internacional do italiano Ivano Battiston, professor de acordeão erudito do Conservatório Luigi Cherubini de Florença, e o trio Ready Teds, que resgatou músicas da era de ouro do rock, tocando clássicos de Elvis A Presley e Little Richard.

Somos os expositores, nessa aparente complicada obra coletiva. Cada qual fazendo sua parte, para que o público aprecie, goste, aplauda e saia comentando o que viu. Com um produto industrial é a mesma coisa, desde um sabonete a um automóvel ou cerveja!

*PAULO GOULART É ATOR E PRODUTOR TEATRAL. jan/fev 2009

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CARTAS Análise O artigo Os 20 anos de uma Constituição, escrito pelo professor Paulo Nathanael Pereira de Souza e publicado em Agitação (edição 84, p.58), foi o melhor que já li sobre a Constituição Brasileira. Discutir o assunto é de extrema importância para a manutenção da democracia em nosso país. José Pontes Júnior São Paulo/SP Reconhecimento pelo esforço Achei relevante o trabalho da revista Agitação em esclarecer aos seus leitores as mudanças vindas com a nova Lei do Estágio de forma clara e objetiva. Mas não esperaria menos. Abordagens de assuntos como esse revelam a importância dada pela publicação aos seus leitores. Esse cuidado é um grande diferencial da revista. Obrigado. José Maria Garcia Belo Horizonte/MG O valor da educação Conheci a revista Agitação há pouco tempo e fico lisonjeada, como leitora, de ver o empenho de seus colaboradores em produzir conteúdos de qualidade, atuais e de bastante utilidade. Como professora de escola pública, me agrada ter conhecimento de pessoas que entendem a importância da educação na melhoria da qualidade de vida de um povo. Helena Pereira Neves Salvador/BA À frente de seu tempo Duas edições atrás, acompanhei a matéria de capa Nosso gênio da língua (edição 83, p.24). Essa leitura me proporcionou ser apresentado ao brilhante acadêmico Evanildo Bechara – nomeado Professor Emérito 2008. Mas, recentemente, estou vendo diversas matérias sobre a reforma ortográfica, em que a maior parte delas cita o professor Bechara e fiquei feliz de saber que, agora sim, estou por dentro do assunto. Graças a Agitação, hoje conheço a trajetória desse importante linguista e estou mais confortável para participar de discussões sobre o assunto. Mais uma vez, a revista está à frente de seu tempo, se mostrando uma excelente fonte de informação. Gabriel Vaz de Oliveira Santos/SP 76

Agitação

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Assuntos de interesse Tive a oportunidade de ler na revista Agitação uma reportagem bem animadora sobre a carreira dos contabilistas (edição 82, p.32). Curso Ciências Contábeis, e a forma utilizada para abordar assuntos e temas interessantes despertou minha curiosidade, me motivou a conhecer melhor essa área de atuação. Sem dúvida, a revista é uma excelente fonte de informações para jovens que, como eu, procuram boas perspectivas de mercado. Francine Soâne Magalhães Por e-mail Missão cumprida Sou grato ao CIEE por seu trabalho, ajudando jovens como eu a conquistar espaço no mercado de trabalho. Fui beneficiado pelos serviços da instituição e conquistei meu primeiro estágio. Afinal, não é fácil para jovens como eu encontrar um espaço no mercado de trabalho, principalmente porque não temos muita experiência profissional. Victor Soares dos Santos Parelheiros/SP Fonte de informação Sinto-me lisonjeado em receber a revista Agitação. Por ser estagiário, vejo a publicação como uma ótima fonte de conhecimento sobre o mercado de trabalho, suas tendências e exemplos de profissionais de destaque em seus ramos de atividade que, assim como eu, começaram pelo estágio. Parabéns aos responsáveis pela revista. Rodrigo Gonçalves Dias São Paulo/SP

Concedendo conhecimento Dificilmente temos a oportunidade de ter acesso a bons conteúdos informativos, principalmente em adquirir uma assinatura sem precisar pagar por esse material. Mesmo Agitação, que tem uma qualidade superior, reflete o trabalho do CIEE de inclusão e capacitação do jovem, porque dá a chance de todos terem acesso às suas matérias. Obrigada ao CIEE por proporcionar a estudantes como eu o que há de melhor para oferecer, ou seja, conhecimento. Edivane Barbosa São Paulo/SP Legislação Sou estagiária de economia e assim que soube da nova Lei de Estágio fiquei preocupada com a minha situação junto à empresa. Mas o CIEE tem oferecido um ótimo suporte tanto para as organizações como para os estudantes. Acho legal me manter informada sobre os meus direitos e, pelo que pude observar, o CIEE pensa o mesmo, porque basta acompanhar Agitação para ter as principais notícias sobre o assunto. Letícia Fraga Salvador/BA Dicas de português Tive agradáveis surpresas com a coluna Dicas de Português, escrita por Dad Squarisi. Além de saber tudo sobre nossa língua, Dad tem um estilo leve, divertido e muito didático. Só não aprende as regras de gramática quem não quer. Parabéns a todos os envolvidos nesse importante trabalho. Maria da Luz Calegari São Paulo/SP

Sobre o livro “A educação brasileira e o mercado de trabalho” As diretrizes para a instrução qualificada e a formação profissional dos jovens, tão carentes nestes tempos difíceis, estão bem traçadas. A obra não é apenas uma coletânea de artigos, mas uma antologia na área da educação. Edmeu Carmesini Desembargador aposentado do TJ/SP (O livro A educação brasileira e o mercado de trabalho é de autoria de Luiz Gonzaga Bertelli, presidente executivo do CIEE.)


Melhores para estagiar Felicito o CIEE pela iniciativa do prêmio As Melhores Empresas para Estagiar. É sempre importante dar ênfase a programas que dão certo, mostrando aos empresários a importância de capacitarem jovens para no futuro, existirem profissionais competentes e que contribuam com o desenvolvimento do país. Continuem com o excelente trabalho. Ana Caroline dos Santos Silva Santa Bárbara do Oeste/SP Estágio de qualidade Gostaria de felicitá-los pela matéria sobre o prêmio Melhores empresas para estagiar 2008, na qual a Prefeitura Municipal de Reginópolis está entre as 50 mais bem colocadas do ranking, órgão em que trabalhei como coordenadora de estágios. A matéria apresenta uma relação completa das principais organizações, destacando o que há de melhor nos programas de estágio. Uma bela lista para os estudantes que estiverem interessados em melhorar suas qualificações e expandir suas possibilidades e excelente apresentação para as instituições citadas, mostrando como vale a pena trabalhar sério. Wilma Custódio Reginópolis/SP

RECEBEM AGITAÇÃO E AGRADECEM: Recebem a Agitação e agradecem: Isepro - Instituto Superior de Educação Programus (Água Branca/PI); Faculdade Maringá (Maringá/PR); Cefet SVS - Centro Federal de Educação Tecnológica de São Vicente do Sul (Rio Grande do Sul/RS); Unisa - Universidade Santo Amaro (São Paulo/SP); Uern – Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Mossoró/RN);UFPA – Universidade Federal do Pará (Guamá/PA); UnC – Universidade do Contestado (Concórdia/SC); Uniflor – União das Faculdades de Alta Floresta (Alta Floresta/ MT); OAB-SP – Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo (São Paulo/SP);Unesp – Universidade Estadual de São Paulo (Franca/SP); Fito – Fundação Instituto Tecnológico de Osasco (Osasco/SP); Associação Educacional Toledo (Presidente Prudente/SP); Iesam – Instituto de Estudos Superiores da Amazônia (Belém/PA).

SISTEMA CIEE NACIONAL CIEE NACIONAL: Brasília (Sede) (61) 3226-9919 Postos de Atendimento administrados pelo CIEE/SP SÃO PAULO / CAPITAL Instituto Presbiteriano Mackenzie I • PUC - Pontifícia Universidade Católica • Uniban - Universidade Bandeirante / Campo Limpo • Unicsul - Universidade Cruzeiro do Sul / São Miguel Paulista • Uninove - Universidade Nove de Julho / Santo Amaro • Unip - Universidade Paulista / Marquês de São Vicente • Unisa - Universidade de Santo Amaro • UniSantanna - Centro Universitário Sant’Anna • Universidade São Judas Tadeu / Mooca SÃO PAULO / INTERIOR Araraquara: Uniara - Centro Universitário de Araraquara • Campinas: PUCCamp - Pontifícia Universidade Católica de Campinas • Hortolândia: Faculdades Hoyler • Guarulhos: UNG - Universidade Guarulhos • Mococa: Fundação de Ensino de Mococa • Mogi das Cruzes: UMC - Universidade Mogi das Cruzes • Ourinhos: FIO - Faculdades Integradas de Ourinhos • Piracicaba: Unimep - Universidade Metodista de Piracicaba • Ribeirão Preto: Unaerp - Universidade de Ribeirão Preto • Santo André: UniABC - Universidade do Grande ABC • São João da Boa Vista: UniFeob - Centro Univ. da Fundação de Ensino Octavio Bastos • São José do Rio Preto: Unip - Universidade Paulista • Vinhedo: Mac Poli OUTROS ESTADOS Amazonas: ULBRA - Centro Universitário Luterano de Manaus (Manaus) • Bahia: Unijorge - Centro Universitário Jorge Amado (Salvador) • Unime - Universidade Metropolitana de Educação e Cultura (Lauro de Freitas) • Distrito Federal: Uniceub - Centro Universitário de Brasília (Brasília) • Unieuro - Universidade Euro Americana (Brasília) • Unip (Brasília) • Universidade Católica de Brasília (Taguatinga) • Ceará: Faculdade Católica Rainha do Sertão (Quixadá) • Unifor - Universidade Fortaleza (Fortaleza) • Goiás: PUC/Gioânia - Pontifícia Universidade Católica de Goiânia • ULBRA - Universidade Luterana do Brasil (Itumbiara) • Mato Grosso: UNIC - Universidade de Cuiabá (Cuiabá) • Mato Grosso do Sul: UCDB - Universidade Católica Dom Bosco (Campo Grande) • Maranhão: UFMA - Universidade Federal do Maranhão (Imperatriz) • Rio Grande do Norte: UERN - Universidade do Rio Grande do Norte (Mossoró) • Pará: ILES - Instituto Luterano de Ensino Superior (Santarém)

CIEE/SP e Unidades Administradas SÃO PAULO: Capital (Sede) (11) 3040-9800 • Alphaville (11) 4134-3600 • Americana (19) 3405-6621 • Araçatuba (18) 3625-1088 • Araraquara (16) 3333-4441 • Assis (18) 3323-6396 • Atibaia (11) 4418-4848 • Avaré (14) 3732-9504 • Barretos (17) 3322-4178 • Batatais (16) 3661-0069 • Bauru (14) 3104-6000 • Botucatu (14) 3814-3781 • Campinas (19) 3705-1513 • Catanduva (17) 3525-1143 • Diadema (11) 4044-9791 • Franca (16) 3724-3636 • Guaratinguetá (12) 31254593 • Guarulhos (11) 6468-7000 • Hortolândia (19) 3865-5504 • Ituverava (16) 3729-2949 • Jaboticabal (16) 3202-8884 • Jacareí (12) 3961-3449 • Jaú (14) 3626-7573 • Jundiaí (11) 4586-4607 • Limeira (19) 3038-8785 • Lorena (12) 31578309 • Marília (14) 3413-1883 • Mococa (19) 3665-5251 • Mogi das Cruzes (11) 4799-2500 • Olímpia (17) 3279-8987 • Ourinhos (14) 3326-4434 • Piracicaba (19) 3424-5242 • Presidente Prudente (18) 3222-9733 • Ribeirão Preto (16) 39131050 • Santos (13) 3234-8929 • São Bernardo do Campo (11) 4126-9200 • São Carlos (16) 3364-2333 • São João da Boa Vista (19) 3623-3344 • São José do Rio Preto (17) 3234-2966 • São José dos Campos (12) 3234-2966 • São Sebastião (12) 3893-2453 • Sorocaba (15) 3212-2900 • Tambaú (19) 3673-2360 • Taubaté (12) 3631-2320 • Tupã (14) 3491-3798 - ACRE: Rio Branco (68) 3224-8794 - ALAGOAS: Maceió (82) 3338-2650 - AMAPÁ: Macapá (96) 3225-3914 - AMAZONAS: Manaus (92) 2101-4250 - BAHIA: Salvador (71) 2108-8900 • Camaçari (71) 3622-4848 • Feira de Santana (75) 3623-2866 • Ilhéus (73) 3634-1408 • Itabuna (73) 3613-8469 • Lauro de Freitas (71) 3288-2530 • Vitória da Conquista (77) 34244714 - DISTRITO FEDERAL: Brasília (61) 3701-4800 - CEARÁ: Fortaleza (85) 4012-7600 • Juazeiro do Norte (88) 35125995 • Sobral (88) 3613-3166 - GOIÁS: Goiânia (62) 4005-0750 • Anápolis (62) 3321-3500 • Itumbiara (64) 3431-5944 MARANHÃO: São Luís (98) 3221-3003 • Imperatriz (99) 3523-4167 - MATO GROSSO: Cuiabá (65) 2121-2450 • Sinop (66) 3532-4887 - MATO GROSSO DO SUL: Campo Grande (67) 3382-3533 • Dourados (67) 3421-7555 - PARÁ: Belém (91) 3202-1450 • Marabá (94) 3322-4007 • Santarém (93) 3524-0202 - PARAÍBA: João Pessoa (83) 2107-0450 • Campina Grande (83) 3341-2212 - PIAUÍ: Teresina (86) 3223-8885 - RIO DE JANEIRO: Capital (Sede) (21) 2505-1266 • Barra Mansa (24) 3323-4835 • Campos (24) 2722-6529 • Campo Grande (21) 2415-1282 • Duque de Caxias (21) 2671-7756 • Macaé (22) 2762-4616 • Madureira (21) 3350-5050 • Nova Friburgo (22) 2523-7438 • Nova Iguaçu (21) 2667-3405 • Niterói (21) 2719-4019 • Petrópolis (24) 2243-4873 • Realengo (21) 31594625 • Resende (24) 3360-6200 • Três Rios (22) 2255-1499 • Volta Redonda (24) 3342-0816 - RIO GRANDE DO NORTE: Natal (84) 3089-7709 • Mossoró (84) 3312-2084 - RONDÔNIA: Porto Velho (69) 3221-3687 - RORAIMA: Boa Vista (95) 3624-2760 - SERGIPE: Aracaju (79) 3214-4447 - TOCANTINS: Palmas (63) 3215-5267

CIEEs AUTÔNOMOS ESPÍRITO SANTO (CIEE/ES) - Vitória (Sede) (27) 3232-3200 - MINAS GERAIS (CIEE/MG) - Belo Horizonte (Sede) (31) 3429-8106 - PARANÁ (CIEE/PR) - Curitiba (Sede) (41) 3313-4333 - PERNAMBUCO (CIEE/PE) - Recife (Sede) (81) 31316000 - RIO GRANDE DO SUL (CIEE/RS) - Porto Alegre (Sede) (51) 3284-7000 - SANTA CATARINA (CIEE/SC) - Florianópolis (Sede) (48) 3216-1400 jan/fev 2009

Agitação

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O resgate de Paciolo Antoninho Marmo Trevisan O Tratactus de computis et scripturis (“Contabilidade por partidas dobradas”), do pai da contabilidade, o padre Luca Paciolo, publicado em 1494, estabeleceu um conceito inexorável: para cada débito deve existir crédito equivalente. No contexto da sofisticada economia contemporânea, sua releitura é ainda mais pertinente: para cada aplicação de recursos é preciso haver fonte identificada. O desrespeito ao clássico ensinamento sintetiza a causa da pandêmica crise do subprime. Para um mesmo bem, representado pelo recurso aplicado na compra do imóvel, foram criadas inúmeras fontes de recursos, mas sem o necessário lastro físico. O socorro estatal, à custa do agravamento do déficit público norte-americano e da sangria de reservas européias e asiáticas, está restabelecendo os sistemas financeiros e de crédito. Resta a dura luta contra a recessão. Na recomposição dos mercados, fica dolorosa lição: o exagero da omissão estatal na regulação e fiscalização dos fluxos financeiros está exigindo a mais perversa das intervenções governamentais: a utilização do dinheiro dos impostos para evitar o caos. Ruim dessa forma, pior sem ela. É natural, portanto, o ceticismo global no tocante à ordem econômica prevalente nas últimas três décadas. Paira um quê de desconfiança sobre os atores determinantes nesse período 78

Empresas voltam-se à produção e à racionalidade, retornando o velho e conservador. (governos, mídia, analistas, sistema financeiro, certificadores, consultores e determinada linha acadêmica). É possível alguma reação contra esses protagonistas pelos que se sentiram lesados e um olhar positivo aos partidários da geração de riqueza a partir da produção. A fragorosa derrota dos republicanos nas eleições presidenciais dos Estados Unidos é exemplo desse movimento. No Brasil, o governo atua para irrigar o crédito, manter os juros em patamares que estimulem os investimentos e segurar o câmbio próximo de dois reais por dólar. Também deverá acompanhar o nível do desemprego e a pressão sobre os mais pobres, de modo a não se configurar a idéia de que os lucros são privatizados e os prejuízos socializados. O fato é que há uma expectativa por soluções que minimizem os efeitos da crise. Enquanto isso, prevalece o instinto de sobrevivência, e essa virtude atávica faz com que os empresários se lancem na busca de novos parceiros comerciais, instituições

PONTO FINAL financeiras e consultores profissionais, reconhecidos pela seriedade, tradição, senso ético e capacidade. No universo corporativo, isso significa excelente oportunidade de prospectar novos negócios e, sobretudo, de fidelizar os relacionamentos b2b. É hora de renegociar com clientes e fornecedores. O presente teatro de operações é propício aos bons guerreiros, aqueles capazes de produzir receitas em vez de buscar dinheiro nos ainda céticos bancos. É preciso ter em mente que há uma nova ordem econômica, na qual produtos e serviços diferentes e inovadores serão demandados. As empresas voltam-se à produção e à racionalidade, retomando o velho e conservador papel da tesouraria. As finanças criativas perderão terreno para a gestão contábil de recursos. Em todos os segmentos, propostas comerciais prudentes e realistas deverão ser as vencedoras. Frade Paciolo descrevia ser comum entre os negociantes católicos medievais marcar os livros contábeis com o sinal da cruz para afugentar o demo. Pois bem, para exorcizar os fantasmas do subprime e livrar as empresas de suas maldições, é preciso fé e ação no trabalho e na ética, atitude gerencial focada na instabilidade e confiança nas boas práticas empresariais, incluindo a velha e boa contabilidade. A

ANTONINHO MARMO TREVISAN É PRESIDENTE DO CONSELHO CONSULTIVO DA BDO TREVISAN, DA TREVISAN CONSULTORIA E OUTSOURCING, DIRETOR DA TREVISAN ESCOLA DE NEGÓCIOS E PRESIDENTE DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS.



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