Livro praias pt:esp web 2

P R A I A S PRINCÍPIOS E DIRETRIZES PARA GESTÃO

P L A Y A S PRICIPIOS Y DIRECTRICES PARA LA GESTIÓN

2016

A p oi o e F i na n c i a d o r C A PE S Pro c u rado ri a G e r a l d o Es t a d o d e S a nt a Ca t a rina ) Or g a ni z a çã o e R e a l i z a ç ã o U N IVA L I UDELAR Or g a ni z a d or e s B ri an a A n gélic a B om b a na C ami l a L o n g a re t e M arc u s Po l e t t e C oor d ena d o r e s M arc u s Po l e t t e D an i e l Co n d e Pr of es s or es P a r t i c i p a n t e s D an i e l Co n d e M arc u s Po l e t t e R o se me ri M a re nz i O ri e n tado r d o J ua n ( N om e ) B ol s i s ta s B ri an a A n gélic a B om b a na G abri e l a F e lix G u i l h e r m e d e G od oy B a r a t e lla J u an A n to n io A lv e s A utor es J u an Pabl o L oz oya D an i e l de Á la v a E ste l a D e l ga d o B ri an a A . B om b a na G u i l h e r m e G. B a r a t t e la C ami l a L o n g a re t e L u i dgi M arc he s e Diagramador B o b M o rae s A g r a d eci m e n t o s C ami l o - M at e o B ot e ro S a lt a r é n S é r gi o N e t to Pro mo to r A nd r é O t á v io V ie ir a d e M e llo

S UM ÁRI O P o rt u gu ê s 1 . A PRESENTAÇ ÃO................ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...........2 2. INTRODUÇÃO......................................................................................................5 3 . A S Z ONAS C OSTEI RAS NO A N T RO PO C E N O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ............5 4 . O SI STEM A C OSTEI RO EM M U DA N Ç A C O N T ÍN U A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .........1 1 5 . A BI OTA D AS P RAI AS AREN O SA S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........1 7 6 . A S P RAI AS C OM O SI STEM A S SO C IO E C O L Ó G IC O S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........2 2 7 . A S PRAI AS AO LONGO D O T E MPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........2 9 8 . O TURI SM O D E SOL E PRAI A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........4 6

E s p a n h o l 1 . A PRESENTAÇ ÃO................ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ...........2 2. INTRODUÇÃO......................................................................................................5 3 . A S Z ONAS C OSTEI RAS NO A N T RO PO C E N O . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ............5 4 . O SI STEM A C OSTEI RO EM M U DA N Ç A C O N T ÍN U A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .........1 1 5 . A BI OTA D AS P RAI AS AREN O SA S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........1 7 6 . A S P RAI AS C OM O SI STEM A S SO C IO E C O L Ó G IC O S. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........2 2 7 . A S PRAI AS AO LONGO D O T E MPO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........2 9 8 . O TURI SM O D E SOL E PRAI A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ..........4 6

3

1.A PR ESE N T A Ç Ã O Camilo-Mateo Botero Saltarén, PhD

G r u po d e In v esti g ac i ón en Si stema s C o st e ro s - P l a ya s co l C o r po r a t i o n (C o l ô m b ia ) R e d Ib ero am eri c ana de Gesti ón y Ce r t i fi ca ci ó n de P l a ya s Tu r í s t i ca s - P ROP L AYA S As praias são um ecossistema que tem ganhado im-

descobrir as origens deste conceito e os fatores de

portância dentro da literatura científica nas últimas

mudança que permitem afirmar que estamos frente

duas décadas. Efetivamente, outros ambientes natu-

uma nove era do planeta. Posteriormente, Juan Pablo

rais marinho costeiros têm recebido mais atenção pela

apresenta as forçantes que geram impacto nas praias,

comunidade científica internacional, como os recifes

fazendo uma exposição suficiente para compreender

de coral e os manguezais, aos quais correspondem

fenômenos como o uso recreativo, a contaminação e

centenas de livros e manuais que os descrevem, ava-

as espécies invasoras, entre outros. Em síntese, este

liam e, inclusive, guiam seu manejo. Enquanto isso,

capítulo permite ao leitor submergir-se em uma for-

ecossistemas como as praias, as falésias e as prada-

ma não convencional de estudar as praias, sendo ao

rias de fanerógamas marinhas, apenas recentemente

mesmo tempo uma base sólida para compreender o

começaram a receber a atenção devida.

impacto humano sobre estes ecossistemas.

O livro que, neste momento, o leitor tem em mãos é

A continuação, o professor Dr. Daniel de Álava apre-

uma resposta oportuna à baixa atenção que foi dada

senta um capítulo completo sobre o sistema costeiro

a este importante ecossistema, as praias, especial-

em mudança contínua. Nesta seção, são abarcados

mente pela perspectiva de sua governança. A equipe

conceitos chave, como a Zona Litorânea Ativa (ZLA),

conformada pela Universidade do Vale do Itajaí (Brasil)

que depois permearão as demais contribuições do li-

e a Universidad de la República (Uruguai), catalisada

vro. De forma ampla, Daniel apresenta as característi-

pelo financiamento do Programa CAPES/UDELAR, ge-

cas das costas arenosas, sua dinâmica e o zoneamen-

raram esta publicação de referência obrigatória.

to funcional que permite estudá-las como unidades geomorfológicas. Finalmente, define três sistemas de

Embora alguns dos capítulos possuam um enfoque

interação no sistema costeiro, chegando à conclusão

especial nas praias arenosas, seu conteúdo é amplo e

muito relevante que a conservação do estado dinâ-

abrange suficientemente esta faixa de interação entre

mico da ZLA é a forma mais econômica e, portanto,

o mar e o continente, caracterizada por sua relativa

conveniente para a proteção costeira.

baixa declividade e por sua formação por sedimentos não consolidados. É assim que, a partir de seis capítulos bem estruturados, o leitor poderá ampliar seus conhecimentos sobre as praias como ambiente sócioecológico no mundo atual.

O primeiro capítulo é uma perfeita introdução ao conceito, cada vez mais aceitado, do Antropoceno, realizada de forma clara e transparente pelo professor Dr. Juan Pablo Lozoya. Nesta seção, o leitor poderá

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O terceiro capítulo é uma contribuição conjunta da

argumentando a relação sociedade – natureza e como

professora Dra. Estela Delgado e o professor Dr. Juan

a primeira não é possível sem a existência da segunda

Pablo Lozoya, os quais se concentram em descrever

e vice-versa. Continua com uma descrição fluida da

a biota das praias arenosas. Inicialmente sustentam

gestão integrada das zonas costeiras e as três disci-

como as espécies que habitam esse ecossistema são

plinas fundamentais que a conformam, para chegar à

altamente adaptadas anatômica e fisiologicamente às

análise dos serviços ecossistêmicos como o benefí-

condições oceanográficas em constante modificação,

cio que obtém o homem dos ecossistemas. Finaliza

além de estar distribuídas de forma diferenciada na

o capítulo com a enumeração dos principais serviços

ZLA, tanto vertical quanto horizontalmente. Da mes-

ecossistêmicos que são oferecidos pelas zonas cos-

ma forma, os autores descrevem aspectos ecológicos

teiras e, em especial, as praias.

como o nível das comunidades macrofaunísticas e a diversidade das espécies, chegando a conclusões, tal

O quinto capítulo é um aporte da Oc. Briana A. Bom-

como que a abundância total e a biomassa aumentam

bana e do Oc. Luidgi Marchese, os quais sintetizam a

das praias refletivas às dissipativas.

evolução histórica das praias, incluindo um olhar interessante das ciências ambientais.

A quarta seção é realizada novamente pelo Dr. Juan Pablo Lozoya, quem aborda o tema interessante e atual das praias como sistemas socioecológicos. Inicia

5

A partir do dinamismo das praias em termos morfológicos e de uso humano, a Briana e o Luidgi levam o leitor a descobrir como estes espaços costeiros passaram do desconhecimento geral ao tratamento médico de banho de mar e, finalmente, ao atual desejo das férias de banho de sol. Destacam-se, neste capítulo, imagens históricas, que lembram um uso social e, incluso, aristocrático da praia, o qual foi dando lugar a um uso mais massivo e consumista, que predomina hoje em dia. O aporte pela evolução deste tema no Uruguai e no Brasil é outro aspecto que faz deste capítulo muito valioso.

Por último, os oceanográfos Guilherme G. Barattela, Camila Longarete e Luidgi Marchese apresentam um capítulo concentrado no Turismo de Sol e Praia, da motivação desta tipologia turística, até pontos concretos sobre a sua gestão. Enlaçam com mestrança aspectos como o caráter massivo deste tipo de turismo e o paradoxo entre os benefícios (desenvolvimento urbano e econômico) e os múltiplos efeitos negativos (concentração de riqueza, apropriação de espaços públicos, segregação social e degradação ambiental).

Terminam o capítulo com algumas conclusões de gestão relevantes, como o aumento repentino do número de turistas não sempre é acompanhado pela disponibilidade ou existência de infraestruturas para sua aten-

F O N T E : s k y s cr a pe rc i t y.c o m .

ção.

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Como o leitor poderá observar, o conjunto de autores realizou um esforço destacado para incluir temas múltiplos relacionados às praias, mas sem perder de vista o seu fio condutor comum. Este resultado é totalmente compatível com o projeto de cooperação que permitiu sua execução, enfocado na análise comparativa do processo de governança de praias urbanas entre Brasil e Uruguai. Um exemplo a seguir de cooperação sul-sul.

Este aporte à literatura científica seguramente será útil para a comunidade acadêmica da América Latina, tanto pelo idioma no qual está escrito, como pela pertinência do enfoque selecionado pelos autores. Adicionalmente, o fato de que a maioria dos autores estão integralmente em suas carreiras científicas lhe agrega um valor imenso, assim podendo assegurar que este livro será um catalizador de novas publicações que permitam posicionar as praias em um âmbito de pleno reconhecimento. Definitivamente, uma obra cientifica so continente.

F O N T E: A l e x an d re Pe ro t t o .

FO N TE : Bob Mor a e s.

que continua fortalecendo as ciências do mar no nos-

7

2. AS ZO N A S C OS T EI R AS N O AN TR O P O C E N O Juan Pablo Lozoya, Dr.

Ce n t ro In t erd isc i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r Ce n t ro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Est e – U n i v e r s i da d de l a Re pú bl i ca (U r u gua i)

O

planeta Terra é um planeta de zonas costeiras,

do, que chegam até elas por via marítima, principal

onde a superfície aquática (360M km2, 71%)

rota de transporte de mercadorias. No entanto, estas

e a terrestre (150M km2) interagem intensa-

megacidades também geram grandes volumes de re-

mente ao longo de 1.634.701km que, em sua maioria,

síduos (domésticos, industriais, etc.) que muitas ve-

são praias arenosas (Burke et al., 2001, McLachlan &

zes também são despejados no mar (Tett et al., 2011).

Brown 2006, Martínez et al., 2007).

Embora menos de 4% da população mundial reside atualmente nestas megacidades costeiras, seu rápido

Em 2004, cerca de 3 bilhões de seres humanos ha-

desenvolvimento, a grande densidade de habitantes

bitavam os primeiros 230km da faixa costeira, o que

que possuem e os altos níveis de consumo que ca-

implica que quase 50% da nossa espécie estaria mo-

racterizam o cotidiano de tais habitantes, fazem com

rando em apenas 10% da área terrestre, com densida-

que estes assentamentos gerem grandes impactos no

des médias 2,5 vezes maiores que as observadas no

meio-ambiente costeiro (Sekovsky et al., 2012).

restante das zonas costeiras do planeta (UNEP, 2004 in Tett et al., 2011). Neste sentido, no ano de 2012, as

Esta concentração generalizada na zona costeira está

cinco áreas metropolitanas mais populosas do mundo

marcada na rápida expansão da população humana e

se situavam na zona costeira tendo importantes portos

no modelo atual predominante de desenvolvimento e

industriais: Tóquio (31,5 milhões de habitantes), Jakar-

crescimento global. Ambos os fatores têm sido os prin-

ta (28 milhões de habitantes), Seul (25,5 milhões de

cipais responsáveis por enormes impactos nos ecos-

habitantes), Karachi (24,1 milhões de habitantes) e Ma-

sistemas costeiros e, assim, nas praias (McLachlan &

nila (21,9 milhões de habitantes) (Figura 1).

Brown, 2006; Defeo et al., 2009; Tett et al., 2011). Esta tendência formaria parte do que - a escala global - tem

Estas megacidades costeiras são vórtices gigantes

sido batizada por diversos cientistas como Antropo-

que atraem e concentram grandes quantidades de ali-

ceno, uma nova época geológica na qual estaríamos

mento, água, energia e matérias prima de todo o mun-

entrando (Crutzen & Stoermer, 2000; 2010).

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FON TE: sven -sch e u e rme i e r F O N T E: i k no w t he pi l o t . c o m

F i g u r a 1 : A s c i n c o c i da des m á s po p u l o s a s d o m u n do s e e n c o n t r a m l o c a l i za da s n a zo n a c o s t e i r a s ( m e g a c i d a d e s co s t ei r as , re s p e c t i v a m e n t e , T ó qu i o co m 3 1 ,5 m i l h õ e s de h a b i t a n t e s e Man i l a c o m 2 1 , 9 m i l h õ e s de h a b i t an t es ).

9

O Antropoceno se refere ao intervalo de tempo con-

necessidades, também gerou uma grande deteriora-

temporâneo no qual muitos processos e condições

ção ambiental (Carballo & Villasante, 2009). Isto é de-

geologicamente significativas (e.g. ciclo da água, ci-

vido a que o crescimento econômico mencionado se

clos dos gases e elementos fundamentais) estão sen-

fez a partir de uma perspectiva que defende que o ca-

do profundamente alterados pelas atividades humanas

pital natural pode ser substituído pelo capital humano.

(Figura 2). Embora infalivelmente todas as atividades

Neste sentido, o modelo atual de crescimento não tem

realizadas pelos seres

considerado que certos

vivos afetem de alguma

recursos não são re-

maneira

entor-

nováveis ou que certos

no, a humanidade tem

bens e serviços ambien-

provocado

rompimen-

tais são insubstituíveis

tos nos grandes ciclos

(e.g. camada de ozônio,

biológicos, químicos e

regulação

geológicos, através dos

Igualmente, também não

quais elementos funda-

tem observado que este

mentais como o Carbo-

desenvolvimento produz

no e o Nitrogênio circu-

dejetos que devem ser

lam entre a terra, o mar

absorvidos por algum

e a atmosfera. Desta

sumidouro natural que,

maneira, o ser humano

sem dúvidas, tem uma

influencia no funciona-

capacidade

mento do planeta Terra

(EEA, 2006).

nosso

do

clima).

limitada

de modo equiparável às grandes forças da Natureza (Welcome to the AnF O N T E : J o n B er k e l e y.

thropocene, http://www. anthropocene.info).

Nas últimas décadas um importante

crescimen-

to econômico em todo o planeta está sendo produzido. Ainda que de forma desigual, beneficiando principalmente os países desenvolvidos, permitiu aos habitantes ter acesso a mais recursos, incluindo os recursos naturais, e dispor de mais serviços. Apesar de que isto tenha contribuído para que seja possível satisfazer um maior número de

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F i g u r a 2 : O A n t ro po c e n o , u m a n o v a é po c a g e o l ó g i c a n a qu a l o pl a n e t a Te r r a estaria entrando como re s u l t a do d a i n f l u ê n c i a do ser humano, o que seria e q u i pa r á v e l à s g r a n de s forças naturais.

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FON TE: J oh n n y C h a u .

Este cenário é agravado se consideramos que certos impactos ambientais se acumulam e transcendem o âmbito geográfico no qual são efetuados, transformando-se em problemas planetários (e.g. mudanças climáticas).

Neste âmbito, a degradação da zona costeira é devida a diversos fatores, alguns de origem local ou regional, e outros que não são específicos do litoral nem de seus habitantes, mas consequência de atividades e decisões a escala mundial (Carballo & Villasante, 2009). Os processos de globalização têm crescido significativamente com uma intensificação do movimento de mercadorias e pessoas, que tem sido incentivado por diversos avanços tecnológicos, entre outros. Por outro lado, os modelos atuais de desenvolvimento, baseados principalmente em critérios de rentabilidade econômica, tem contribuído ao desaparecimento de atividades centenárias tradicionais que embora atualmente não seriam rentáveis economicamente, podiam sê-lo do ponto de vista da sustentabilidade ambiental. Estes três fatores (globalização, crescimento econômico e desaparecimento/modificação de atividades tradicionais) têm gerado mudanças nos comportamentos humanos e, portanto, no desenvolvimento e na gestão das zonas costeiras (Carballo & Villasante, 2009). Assim, o desenvolvimento costeiro se converteu em um problema global, modificando os ecossistemas costeiros e afetando, por sua vez, os recursos que sustentam seu próprio funcionamento (Sardá, 2009).

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Especificadamente, para as praias, e estreitamente vinculadas aos três fatores antes mencionados, foram descritas diversas forçantes que - ao atuarem em distintas escalas espaciais e temporais - seriam as principais geradoras de impacto (Defeo et al., 2009):

USO RECREATIVO: as atividades recreativas da zona costeira se encontram, em sua maioria, concentradas nas praias. Nas últimas décadas, estas atividades foram potencializadas pelo crescimento exponencial das populações humanas nas zonas costeiras, o aumento da mobilidade das pessoas e a disponibilidade de tempo livre (De Ruyck et al., 1997; Caffyn & Jobbins, 2003; Fanini et al., 2006 em Defeo et al., 2009); LIMPEZA DE PRAIAS: a limpeza das praias é uma prática muito habitual, sobretudo em praias com alto uso turístico. Exceto por algumas exceções, onde a coleta se realiza de forma manual, a limpeza costuma ser mecânica, raspando e tamisando a areia. Embora existam equipamentos diferentes que limitam a quantidade de areia perdida, além de retirar os resíduos, a coleta mecânica costuma remover também os propágulos de plantas características de dunas e outras espécies e perturbam os organismos que habitam na areia (e.g. Dugan et al., 2003; Davenport & Davenport 2006 em Defeo et al., 2009); REGENERAÇÃO (Nourishment): Mais de 70% das praias do mundo atualmente sofrem com problemas de erosão, e considerando a pouca efetividade das “obras duras” (e.g. espigões, quebra mares) para resolver este problema, a regeneração de praias (em inglês, nourishment) tem sido a ferramenta mais utilizada. Ainda que esta solução possa ser a mais aconselhada do ponto de vista econômico e da conservação do solo, a regeneração pode ter sérias consequências nas praias (hábitats e biota) (e.g. Goldberg 1988, Speybroeck et al., 2006 em Defeo et al., 2009);

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CONTAMINAÇÃO: A contaminação é uma questão séria para as praias, especialmente considerando seus valores recreativos. Os contaminantes incluem uma grande diversidade de materiais de origem humana, desde a escala molecular a grandes resíduos, afetando a fisiologia, sobrevivência, reprodução e comportamento das distintas espécies, incluindo o ser humano (e.g. McLachlan 1977, Noble et al., 2006 em Defeo et al., 2009). Esta contaminação pode gerar, da mesma forma, grandes impactos na percepção dos usuários sobre as praias, o que poderia gerar importantes perdas para a indústria do turismo (Tudor & Williams 2006, Roca et al., 2009, Lozoya et al. na imprensa); ESPÉCIES INVASORAS: As atividades humanas que podiam ser vetores para a introdução de espécies invasoras nas praias não são algo recente como, por exemplo, o intercâmbio de grandes quantidades de água de lastre na zona costeira para a manutenção de navios. Como resultado destas introduções, espécies invasoras de micrófitos colonizaram zonas intermareais em diversas regiões costeiras do mundo (Inderjit et al., 2006 em Defeo et al., 2009); EROSÃO COSTEIRA: O uso crescente da zona costeira por parte das populações humanas tem como consequência uma intensificação do desenvolvimento urbano na Zona Litoral Ativa, sugerindo uma adequada gestão desta zona (ver mais detalhes sobre a ZLA na seção 2). Não obstante, estes desenvolvimentos geralmente implicam a alteração do balanço sedimentar que nutre as praias. Como resultado, a maioria das zonas costeiras modernas do mundo sofre, na atualidade, um incremento nas taxas de erosão (e.g. Nordstrom, 2000, Cooper & McKenna, 2008 em Defeo et al., 2009, Jiménez et al., 2011); MUDANÇAS CLIMÁTICAS: Ainda que a magnitude das mudanças climáticas e suas consequências seguem sendo incertas, as respostas ecológicas são cada vez mais evidentes no caso das praias (Brown & McLachlan

FO N T E: F e d e ri c o G i a mp i e r i .

2002; Jones et al., 2007a em Defeo et al., 2009).

13

FO N TE: Ze n y R osa l i n a .

Entretanto, paralelamente a esta crescente pressão sobre os ecossistemas naturais, as sociedades humanas e as economias globais dependem cada vez mais dos serviços e benefícios ambientais que estes ecossistemas nos fornecem gratuitamente. É por isto que se torna fundamental que estes ecossistemas se restaurem e se conservem saudáveis, funcionais e resilientes (ver Box 1).

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BOX 1- “CIÊNCIA DA SURPRESA” A Resiliência é um atributo de cada sistema, vinculado à capacidade de amortecer, à habilidade de absorver perturbações ou à magnitude do distúrbio que pode ser absorvida por um sistema antes que este mude sua estrutura alterando as variáveis e os processos que controlam seu comportamento (Holling et al., 1995). Um ecossistema resiliente pode suportar choques e se reconstruir quando seja necessário (Resilience Alliance http://www.resalliance.org). Em 1986, Holling levanta a existência de padrões generalizados de mudanças inesperadas e crises em diversos recursos naturais. Este foi o começo da “ciência da surpresa”. Isto corresponde com o período histórico onde a gestão dos recursos naturais exploráveis se baseava em maximizar a produção e satisfazer assim as demandas dos mercados e os objetivos econômicos. A gestão pretendia controlar o recurso natural, reduzir sua variabilidade natural e melhorar assim a eficiência de exploração. Estas políticas de gestão foram exitosas em curto prazo, mas geraram mudanças imperceptíveis no funcionamento dos ecossistemas, facilitando a ocorrência destas “surpresas”. A ocorrência destas “surpresas” estaria vinculada à perda de resiliência ecológica. Esta gestão em curto prazo teria imobilizado o ecossistema, bloqueando sua variabilidade natural e pequenos processos de retroalimentação (feedbacks) que seriam fundamentais para amortecer estas mudanças. Como resultado, feedbacks maiores e menos previsíveis hão de ocorrer finalmente, afetando a funcionalidade do ecossistema e assim os recursos e serviços que este provê (Berkes and Folke 1998).

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3. O SISTEMA COSTEIRO EM MUDANÇA CONTÍNUA Daniel de Álava, Dr.

C e n tro In t erd is c i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r C e n tro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Es t e – U n i v e r si da d de l a Re pú bl i ca (U r u gu a i)

O

que percebemos como “a zona costeira” é o

que continuam esculpindo-a – especialmente desde o

resultado de um delicado e complexo estado

Holoceno nos últimos 10 mil anos até a atualidade - re-

dinâmico, produto da interação de energias,

lacionam-se com fatores climáticos e geomorfológicos

materiais, formas estruturais e também culturas. Se

de escala regional. Em especial, devemos considerar a

observarmos a zona costeira em escala global, vamos

presença de extremidades rígidas e suas dimensões –

encontrar uma alta diversidade e interação entre uni-

como os promontórios rochosos -, o tipo de materiais

dades ambientais. Zonas costeiras com gelo em altas

que se encontra presente (ex. rochas, areias, siltes,

latitudes, com falésias, costas rochosas, coralíneas,

argilas), a topografia exposta e submarina, o regime e

estuários, costas com manguezais... Costas arenosas.

potência dos ventos, a altura e incidência das ondas, a

Inclusive, atualmente, podemos observar zonas costei-

disponibilidade de sedimentos e também as atividades

ras totalmente transformadas por distintas atividades

humanas. Estas últimas, em particular, constituem for-

humanas, até “zonas costeiras de infraestruturas”, por

çantes com potencial de alterar a estrutura do sistema

exemplo, no caso de grandes portos onde o litoral pré-

costeiro, de gerar distúrbios e pressões que finalmen-

vio às atividades e suas transformações é agora irre-

te podem chegar a constituir importantes impactos

conhecível. Então, o litoral pode ser percebido também

ambientais negativos e impossíveis de reverter.

como um espaço problemático e conflitivo.

A título de exemplo, para compreender os processos e A zona costeira é, portanto, um sistema altamente di-

as dinâmicas que ocorrem no sistema costeiro e ten-

nâmico, onde as atividades humanas nem sempre se

do em conta a nossa região, nos concentraremos no

ajustam às forças ou forçantes que determinam sua

caso das costas conformadas por praias arenosas.

estrutura. É possível reconhecer que em qualquer país, a zona costeira se estende desde o limite ma-

Deste modo, as costas formadas por praias arenosas

rinho (plataforma continental e mar territorial que im-

estão constituídas, desde o ponto de vista ecológico,

plicam fronteiras ecossistêmicas e jurídicas) até seus

por dois componentes: 1. Um ecossistema marinho

limites geopolíticos no interior do continente (fronteira

controlado pela ação das ondas e habitado pela bio-

sócio demográfica). Existem numerosas definições so-

ta marinha; e 2. Um ecossistema terrestre controla-

bre a zona costeira, uma delas a considera como uma

do pela ação do vento, habitado pela biota terrestre

eco região de interações físicas, biológicas e socioe-

(McGwynne & McLachlan 1992). Ambos os sistemas,

conômicas, onde ocorre um intercâmbio de energia e

ainda que diferentes, interagem em uma única unida-

materiais entre ecossistemas terrestres, as bacias que

de geomorfológica chamada “Zona Litoral Ativa” (a se-

drenam a água doce, a atmosfera e o oceano.

guir ZLA, fig.3). A ZLA constitui uma interface entre o oceano e o continente, em um estado de equilíbrio

Porém, o que faz que a zona costeira seja o que é

dinâmico de acordo com o produto deste intercâmbio

e esteja no estado que a percebemos? Podemos en-

de materiais e energia entre o mar e a terra, onde os

contrar uma resposta se nos detemos a observar e a

sedimentos se mantêm constantemente em movimen-

compreender as variáveis, forças ou forçantes mais

to (Tinley 1985, McGwynne & McLachlan 1992). Pode-

importantes que a modelam. Os processos dinâmicos

mos diferenciar a ZLA em três unidades que mantêm

16

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

certa homogeneidade, tanto física como biológica: 1.

uma interação da energia das ondas e a eólica; e 3.

ZLA inferior (ZLA-INFRA), que se estende desde onde

ZLA superior (ZLA-SUPRA), que se estende desde as

as ondas quebram na praia (swash) até as zonas mais

dunas frontais até o interior do continente, onde finali-

profundas onde predomina a energia das ondas e com

za o transporte de areia pelo vento, com um predomí-

capacidade de mobilizar os sedimentos do fundo; 2.

nio das energias eólicas e dinâmicas de vias fluviais e

ZLA média (ZLA-MESO), compreendida entre o swash

pluviais (de Álava, 2007) (Figura 2).

e as dunas frontais (cordão litorâneo primário), com

ZLA INFRA

ZLA MESO

ZLA SUPRA

U N I D A D E G E OM OR FOLÓGI CA - ZLA de Álav a 2 007, a da pta do de T i nl ey (1985) e Me c Gwynne & M cLa chl a n (1992)

Figu ra 3: C onc e ito d e Zona Litor a l Ativa ( Z L A ) . Z L A I N F RA : de s de a zo n a d e s w a s h a t é o n d e a e n e rg i a das on das te m c a p a c id a d e d e m ob iliz a r o s s e di m e n t o s do f u n do ( p re do m i n a a e n e rg i a m a r i n h a ) . Z L A M ESO: comp re e nd id a e ntre a z ona d e s w a s h e a s d u n a s f ro n t a i s ( i n t e r a ç ã o da e n e rg i a m a r i n h a e eólica). ZL A S UP R A: e ste nd e - se d e sd e a s du n a s f ro n t a i s a t é o i n t e r i o r d o c o n t i n e n t e ( p re do m i n a a en ergia eólic a e a d inâ mic a d e via s p luvia i s e f l u v i a i s ) o n de f i n a l i za o t r a n s po r t e de a re i a p e l o v e n t o .

Fonte : Ad a p ta d o d e Tinley ( 1 9 8 5 ) e M c G w y n n e & M c L a c h l a n ( 1 9 9 2 ) .

17

Tanto no tempo como no espaço, este modelo expres-

É possível compreender a evolução e as mudanças

sa dinamismo, mobilidade, plasticidade e mudanças

da ZLA tomando como exemplo a posição da linha de

nas estruturas geomorfológicas como produto da in-

costa por erosão ou acreção, que depende do balan-

teração de energias entre o oceano, a atmosfera e o

ço de sedimentos que podem ser transportados (fluxo)

continente. É possível modelar em três grandes siste-

entre sistemas. Aqui intervêm quatro dinâmicas funda-

mas esta interação (Figura 4):

mentais (Figura 4):

1. O transporte eólico de sedimentos desde o sis-

SISTEMA MARINHO-COSTEIRO: inclui bancos

arenosos e interfaces submarinas e aéreas;

tema dunar até as vias de drenagem (seta 1 superior, Figura 4);

2. O transporte eólico de sedimentos entre o siste-

SISTEMA FLUVIO-PLUVIAL: representado por vias

permanentes e semipermanentes (rios, arroios e

ma dunar e a zona de praia (seta 1 inferior, Figura

canhadas);

4).

3. O transporte de sedimentos desde as vias perSISTEMA DUNAR: dunas móveis e cordões

manentes e semipermanentes até a zona de praia

litorâneos ou frontais de praia.

e a zona submarina contígua (seta 2, Figura 4).

4. O transporte de sedimentos (areias e bioclastos, Os fluxos de energia entre estes três sistemas em con-

materiais de degradação das frentes rochosas

junto com as forçantes antes descritas (extremidades

e barrancos costeiros) por correntes de deriva

rochosas, clima de ondas, regime de ventos, disponi-

litorâneas (CDL) no nível dos arcos de praia e

bilidade de sedimentos, atividades antrópicas) consti-

das unidades fisiográficas (Silvester & Hsu 1993)

tuem processos dinâmicos que continuam esculpindo

(seta 3, Figura 4).

a zona costeira na atualidade.

SISTEMA DUNAR SDI: Dunas Transversais SD2: Dunas frontais

1

3

TRANSPORTE EÓLICO

1

SISTEMA FLUVIAL - PLUVIAL SFP1: Canais Permanentes SFP2: Canais Semipermanentes

TRANSPORTE CORRENTES DERIVA LITORAL SISTEMA MARINHO - COSTEIRO Bancos rebentação Interfaces submarinas e áreas

Configuração espacial e evolução da ZLA

3

2

Balanço Sedimentar

de Á l a v a , 2 0 0 2 , 2 0 0 7 .

Figura 4 : M ode lo d e f luxos e ntre os siste ma s a t u a n t e s n a e s c a l a de p a i s a g e m c o s t e i r a . A s f l e c h a s i n di c a m o s transportes de se d im e ntos e ntre os siste ma s : 1 . Tr a n s p o r t e e ó l i c o , 2 . Tr a n s p o r t e f l u v i o -pl u v i a l , 3 . Tr a n s p or t e por corren tes d e d e r iva litor â ne a . Duna s tr a n s v e r s a i s ( SD 1 ) , du n a s f ro n t a i s ( SD 2 ) , v i a s pe r m a n e n t e s ( SF P1 ), via s se mip e r ma ne nte s (S FP 2 ) . F o n t e : A d a p t a do d e d e Á l a v a ( 2 0 0 2 , 2 0 0 7 ) .

18

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P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

Surge, então, que as praias dependem desses fluxos

as obras de infraestrutura

(representados pela seta na figura 4) e de que esse

e a fixação de dunas por

ciclo não se interrompa. Mediante este modelo é pos-

florestamento. Em geral e em

sível compreender o estado atual de um arco de praia

situações “normais”, durante

partindo de uma situação prévia e também prever

períodos de verão predo-

como pode evoluir frente a possíveis mudanças, dis-

minam os processos de

túrbios e alterações nos fluxos de energia e, por tanto,

acreção

de materiais. Um exemplo que podíamos marcar como

praia) já que a energia marinha

“clássico” é o caso do florestamento e da urbanização

é menor e predomina a deposi-

sobre as dunas, que reduzem a plasticidade e a ca-

ção de sedimentos, enquanto

pacidade de adaptação da ZLA às forçantes naturais

em períodos de inverno, onde a

(endurecimento da costa), culminando em um déficit

energia marinha é maior, predomi-

de sedimentos disponíveis em todo o sistema. Com o

nam os processos erosivos (retra-

passar do tempo, um dos resultados é, por exemplo,

ção da praia).

(crescimento

da

a erosão de praias.

A conservação do estado dinâÉ possível reconhecer duas situações ou tipologias de

mico da ZLA é a forma mais

praias bem contrastadas, que dependem de como se

econômica

realiza a perda de energia pelas ondas que chegam à

frente a possíveis impactos

costa. É um processo dissipativo por unidade de área

como, por exemplo, a possível

e a energia das ondas que chega vai diminuindo à me-

adaptação a mudanças cli-

dida que se aproximam da costa. Essa energia que se

máticas que nestas latitudes

dissipa é a que tem potencial de transportar materiais

implicam na elevação do ní-

como é o caso das praias arenosas.

vel do mar e o incremento de

de

proteção

eventos de alta energia como A ZLA atua também como uma matriz dissipativa das

os

ondas, no sentido que estas ao quebrar vão descar-

que geralmente vão acom-

regando sua energia. Os tipos de praia, neste sentido,

panhados de intensas pre-

vão de um estado de alta dissipação de energia das

cipitações. Compreender as

ondas, como por exemplo, em praias expostas onde

complexas dinâmicas que têm

a área de dissipação da energia marinha é reduzida,

interagido por milhares de anos

até outra de baixa dissipação, como no caso de praias

entre a atmosfera, oceano e ter-

protegidas por uma extremidade rochosa, ou onde

ra e que resultaram nas praias

existe uma área extensa para a perda de energia mari-

que hoje vivemos, apresenta-se

nha. As características de cada uma destas tipologias

como um verdadeiro desafio

e suas formas intermediárias condicionam também as

com relação a se é possí-

características e a distribuição da biota.

vel compatibilizar nossas

ciclones

extratropicais

atitudes e atividades com As praias mudam de forma e de estado, é possível

sua conservação, ago-

reconhecer ciclos se não há distúrbios humanos como

ra e no futuro.

19

4. A BIOTA DAS PRAIAS ARENOSAS Estela Delgado, Dra. & Juan Pablo Lozoya, Dr.

C e n tro In t erd isc i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r C e n tro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Est e – U n i v e r s i da d de l a Re pú bl i ca (U r u guai)

A

s praias arenosas são ambientes fisicamente rigorosos (ver capítulo 2), cujas características morfodinâmicas podem variar entre estados de alta e baixa dissipação de energia de onda (Short & Wright, 1983; Short, 1996).

Portanto, constituem hábitats muito dinâmicos em suas condições físicas, tanto a mesoescala (desde o mar até as dunas), como a macroescala (entre praias diferentes). Isto determina que as espécies que aí habitam estejam altamente adaptadas tanto anatomicamente como fisiologicamente. A grande capacidade de mobilidade, estruturas anatômicas que permitem um rápido enterramento, exoesqueletos resistentes, comportamentos rítmicos, mecanismos de orientação e a plasticidade comportamental e reprodutiva são algumas das adaptações que apresentam as espécies a estas condições (Brown, 1996; Scapini et al., 2006; Delgado & Defeo, 2007; Delgado & Defeo, 2008; Defeo et al., 2009; McLachlan & Defeo, 2013).

A Zona Litoral Ativa (ZLA) destes ecossistemas, resultante da interação entre o componente marinho e terrestre, apresenta três unidades fisicamente diferenciáveis: infra, meso e supralitoral. Este gradiente físico existente desde o mar até as dunas, é o principal estruturados dos padrões de zoneamento e distribuição de espécies tanto espacial como temporalmente. Em geral, a macrofauna tende a agrupar-se em manchas e mostra um gradiente decrescente de distribuição e composição de espécies desde o infralitoral ao supralitoral. Estas agregações se mantem no tempo, mas podem variar no espaço em função da susceptibilidade de cada espécie, de suas componentes populacionais e das variações ambientais (Brazeiro & Defeo, 1996). Assim como as interações bióticas podem ser significativas, determinando

20

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

a distribuição das espécies, principalmente em ambientes mais benignos como as praias arenosas de extremo dissipativo. Existem casos documentados onde a competência intraespecífica produz segregação espacial entre adultos e juvenis (Habitat Favorability Hypothesis, Defeo, & McLachlan, 2005) e a competência interespecífica geraria a segregação espacial de espécies (e.g. Excirolana armata e E. brasiliensis em praias dissipaticas) (Martinéz & Defeo, com. pers.).

Na ZLA inferior, no infralitoral se encontram os produtores primários das redes tróficas destes ecossistemas, representados principalmente por fito plâncton, macroalgas e fanerógamas (McLachlan & Brown, 2006). Onde 95% do fito plâncton é constituído por diatomáceas (algas silicatadas) que flutuam livremente na coluna d’água (McGwynne & McLachlan, 1992) e constituem o alimento de moluscos e crustáceos filtradores coabitantes desta zona. A maioria das praias de extremo dissipativo apresentam uma grande abundância de fito plâncton na zona de “surf” devido à ação combinada dos mecanismos de circulação locais, e à topografia da zona de “surf” que favorecem a retenção do fito plâncton (Lewin & Schaefer, 1983) (Figura 5). Enquanto as praias refletivas se constituem, em sua maioria, de ecossistemas subsidiados com baixa produtividade primária. (McLachlan, 1980; Lewin & Schaefer, 1983; Defeo & Scarabino, 1990; Campbell, 1996; Dugan et al., 1994). Também no infralitoral, o zoo plâncton e alguns macro invertebrados (ex. camarões) podem ser muito abundantes, propiciando que esta (Defeo et al., 2009).

F O N T E: M il a d a Vi g ero va .

zona de rompimento seja uma importante área de alimentação para os peixes

21

A ZLA media, ou mesolitoral, compreende entre o swash e as dunas frontais, onde existe interação entre a energia das ondulações e a energia eólica, abrigando uma grande diversidade de organismos, desde bactérias até macro invertebrados (ex. crustáceos, moluscos, poliquetas, insetos), abrangendo a maioria dos grupos tróficos (Defeo et al., 2009). Os interstícios entre

Asterionella

os grãos de areia fornecem um ambiente relativamente estável habitado por bactérias, fungos, protozoários e meio fauna. A produção primária nesta zona é baixa devido ao fato de que a luz solar pode penetrar muito pouco na superfície da camada arenosa e, portanto, a trama trófica está sustentada pela matéria orgânica particulada e dissolvida originada pela ação das marés e ondulações (Brown & McLachlan, 1990; McGwynne & McLachlan, 1992).

As bactérias aderidas aos grãos de areia ou livres entre eles, utilizam a matéria orgânica e se reproduzem rapidamente, o que serve de alimento para ciliados, amebas e zoo flagelados, os quais também se alimentam de outros protozoários ou componentes pequenos da meio fauna (McGwynne & McLachlan, 1992). A meio fauna está constituída por pequenos metazoários (45-500 um) (McGwynne & McLachlan, 1992) principalmente por turbelários (vermes planos ou platelmintos), nematódeos (vermes cilíndricos), oligoquetos (anelí-

F i g u r a 5 : A g re g a ç õ e s d e a l t a de n s i d a d e d e d i a t o m á c e a s d o G ê n e ro A s t e r i o n e l l a pro du zi n do c o l o r a ç ã o a m a r ro n za d a n a p r a i a di s s i pa t i c a d e Ba r r a d e l C h u y, U r u g u a i . F o n t e : C o r t e s i a U N D E C I M A R.

deos), copépodes e mistacocáridos (crustáceos) que cumprem um papel fundamental como degradadores de matéria orgânica, fixação e reciclagem de nutrientes, aportando energia à trama trófica (McGwenny & McLachlan, 1992).

Os macroinvertebrados habitantes da zona de swash estão anatomicamente adaptados para cumprir funções vitais de respiração, alimentação e reprodução em tais condições (Figura 6). Muitas espécies de moluscos bivalves e crustáceos decápodes são habitantes típicos da zona de swash das praias arenosas (McGwenny & McLachlan, 1992). Os moluscos bivalves habitantes dos substratos arenosos apresentam um pé muscular bem desenvolvido que os permite um rápido enterramento na areia logo que a onda se retira. Assim mesmo, um grande número de espécies apresenta sifões inalantes e exalantes (de maior ou menor longitude) que permitem o ingresso de água rica em oxigê-

22

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

nio e fito plâncton à cavidade do manto e também às brânquias. Desta forma, podem realizar o intercambio gasoso e captar os nutrientes enquanto permanecem enterrados no sedimento. As espécies de bivalves do gênero Donax dominam a comunidade macro faunística em termos de biomassa em praias oceânicas expostas de todo o mundo (revisão em McLachlan et al., 1996). Estes organismos filtradores apresentam uma distribuição intermareal (centrada na zona de swash da onda) o submareal rasa, desempenhando um importante papel na estrutura trófica das praias (Ansell, 1983; McLachlan et al., 1996).

As espécies do gênero Emerita são crustáceos característicos de praias arenosas expostas desde climas temperados a tropicais (McLachlan, 1983; Contreras et al., 1999; Defeo & Cardoso, 2002-2004). Muitas es-

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

A

B

C D

F i g u r a 6 : A ) v i s t a do mesolitoral da Zona L i t o r a l A t i v a d a Pr ai a da Ba r r a d e l C h u y, U ru g u ay.

B) D o n a x h a n l e y a n u s ; C ) M e s o de s m a m a c t ro i des ; e D ) E m e r i t a s br a s il i en s i s , m a c ro i n v e r t e br a d os h a bi t a n t e s d a zo n a de s w a s h . F o n t e : A u to r a

pécies do gênero Emerita constituem os invertebra-

forma, a espécie assegura que as crias recém paridas

dos melhor adaptados aos ambientes de swash de

tenham um maior tamanho e desenvolvimento que as

praias arenosas. Sua exitosa adaptação a este tipo de

permita sobreviver nestas condições inóspitas (Mar-

habitat é dada tanto por seu comportamento esca-

tinéz & Defeo, 2006).

vador e sua alimentação por filtração (mediante a um par de antênulas plumosas), como também por sua

No contexto de ecologia de praias arenosas, o paradig-

particular biologia reprodutiva e seu complexo padrão

ma central prediz que, a nível de comunidades macro-

de ciclo de vida (Subramonuam, 1987; Subramoniam

faunísticas, a diversidade de espécies, a abundância

& Gunamalai, 2003; Delgado & Defeo, 2006; Delgado

total e a biomassa, aumentam desde praias refletivas

2007; Delgado & Defeo, 2008).

a praias dissipativas (McLachlan & Dorvlo, 2005). Este paradigma é fundamentado principalmente pela Hi-

A ZLA superior, ou supralitoral, compreendida desde

pótese Autoecológica (HA) (Noy-Meir, 1979) aplicada

as dunas frontais até o interior do continente, pode

a praias arenosas (MCLachlan, 1990) e a Hipótese

apresentar comunidades herbáceas de porte muito

de Exclusão de Swash (HES) (McArdle & McLachlan,

baixo, adaptadas às condições de dessecação e com

1991; McLachlan et al., 1993). A HA estabelece que

grande desenvolvimento radicular, que cumprem um

as comunidades estão estruturadas pelas respostas

importante papel na estabilização das dunas. Além

individuais de cada espécie frente as variações no am-

disso, o supralitoral usualmente é uma zona importan-

biente físico, sendo mínimas as interações biológicas.

te para a nidificação de tartarugas e de aves costeiras.

Em consonância com a HA e restringindo-se à zona de

Nas praias refletivas, o supralitoral constitui um hábitat

swash, a HES prediz que a exclusão de espécies até o

favorável para os invertebrados (Habitat Safety Hypo-

extremo refletivo do gradiente morfodinâmico é devido

thesis, Defeo &Gómez, 2005). Por exemplo, os crus-

à rigorosidade do ambiente intermareal e ao tamanho

táceos isópodes da espécie Excirolana braziliensis

do sedimento, o que reflete a estreita relação entre os

apresentam um ciclo de vida direto como adaptação

atributos comunitários e as variáveis físicas (McLa-

a este tipo de ambiente. As fêmeas incubam poucos

chlan, 1990; Defeo et al., 1992; McLachlan et al, 1993;

embriões em uma estrutura semelhante ao “marsú-

Jaramillo et al., 2000; Rodil & Lastra, 2004; McLachlan

pio” formada por prolongações corporais (osteguitos),

& Dorvlo, 2005; Lercari & Defeo, 2006).

onde ocorre todo o desenvolvimento das crias; desta

23

5. AS PRAIAS COMO SISTEMAS SOCIOECOLÓGICOS Juan Pablo Lozoya, Dr.

C e n tro In t erd isc i pl i nári o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r C e n tro Un iv ersi tári o de l a Regi ón Est e – U n i v e r s i da d de l a Re pú bl i ca (U r u guai)

F

rente à necessidade iminente de alcançar um

e co-evolucionam constantemente em diferentes es-

modelo de desenvolvimento sustentável base-

calas espaciais e temporais. Um SES está composto

ado em um enfoque sistêmico integral (ex. En-

por uma unidade bio-geo-física e pelos atores sociais

foque Ecossistêmico, Gestão Baseada nos Ecossiste-

e institucionais associados a esta unidade. São sis-

mas), e considerando o vínculo intrínseco que existe

temas complexos e adaptativos, e estão delimitados

entre a Sociedade e Natureza, surge o conceito de

por fronteiras espaciais ou funcionais que rodeiam de-

Sistema Sócio-Ecológico (SES; Berkes & Folke, 1998).

terminados ecossistemas e as problemáticas de seu contexto (Glaser et al., 2008). Desta maneira, os ecos-

Este conceito enfatiza a perspectiva “do ser humano

sistemas saudáveis e funcionais fornecem a matriz

e a natureza”, com os ecossistemas integrados na

biofísica e os serviços ecossistêmicos que permitem

sociedade humana. Atualmente é impossível conce-

o desenvolvimento social e econômico. Entretanto, es-

ber “Natureza sem Sociedade e Sociedade sem Na-

tes ecossistemas são hoje (e têm sido ao longo do

tureza”, não existindo nenhum sistema natural sem

tempo), por sua vez, modificados e adaptados pelas

impacto humano e nenhum sistema social sem natu-

decisões e pelas ações humanas (diretas e indiretas),

reza. Os sistemas sociais e ecológicos não estão so-

que, em definitiva, afetam as capacidades do sistema

mente vinculados, estão realmente interconectados

de sustentar o desenvolvimento social (Figura 7).

SISTEMAS SOCIECOLÓGICOS

PRESSÕES

SISTEMAS SOCIAIS

SISTEMAS NATURAIS

Instituiões

Estruturas dos ecossistemas

Organizações

Funcionamento dos ecossistemas

Desenvolvimento Humano PULSOS

BENS E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

F i g u r a 7 : D i a g r a ma e s q u e m á t i c o de u m s i s t e m a Só c i oecológico. Fonte: A da pt a d o de Sa rdá R. c o m . pe r s .

24

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

FO N TE

M a s s i m o Vi t a l i

25

dimensões e que incluam todos os atores envolvidos

na gestão dos sistemas sócio-ecológicos e, em es-

(ex. população, setor privado, distintos níveis de go-

pecial, daqueles localizados nas zonas costeiras de-

verno e academia). Neste sentido, a comunicação tem

vido à diversas coincidência de interesses, atores e

sido destacada como uma instância fundamental, mas

jurisdições, deveria aspirar a “encontrar soluções

com especial ênfase na consulta já que este diálogo

ecologicamente sustentáveis, socialmente equitativas

deve ser bidirecional e não meramente comunicativo

e economicamente rentáveis”. Por isso, a compre-

desde gestores a atores. A GIZC tem sido conhecida

ensão e gestão das zonas costeiras e, em particular,

como um componente inerente e necessário do de-

das praias, requerem esforços conjuntos de ao menos

senvolvimento sustentável das praias e outras zonas

três disciplinas acadêmicas, cada uma delas com vis-

costeiras, e vice-versa (Chua, 1993; Vallega, 1993; Ci-

tas muito particulares: i) a Economia: que consiste na

cin-Sain et al., 1995). Com o objetivo de alcançar um

maneira em que os seres humanos produzem e utili-

balanço sustentável entre o desenvolvimento das so-

zam os recursos para satisfazer suas necessidades de

ciedades humanas e a qualidade e saúde dos ambien-

bem estar, ii) a Sociologia: que descreve e analisa as

tes costeiros, o principal objetivo da GIZC é “melhorar

atividades sociais humanas e suas instituições, e iii)

a qualidade de vida das comunidades humanas que

a Ecologia: que pretende compreender o papel dos

dependem dos recursos costeiros, mantendo a diver-

seres vivos no funcionamento do mundo natural (Tett

sidade biológica e a produtividade dos ecossistemas

et al., 2011).

costeiros” (GESAMP, 1996, Olsen et al., 1997).

Estas estratégias integradas surgem como resultado de uma evolução dos principais paradigmas da gestão ambiental. Por estar centrada exclusivamente nos recursos explotados (gestão tradicional, anos 19701980) a gestão passou a enfocar-se nas fontes que geram ditos recursos (Gestão Baseada nos Ecossis-

FO N TE : J ul i a C a mp os.

É neste sentido que Tett et al. (2011) descrevem que

temas, EBM anos 1990) e além dos vínculos com as sociedades que utilizam (e também afetam) os mesmos (SSE, anos 2000) (ex. Colby, 1991; Grumbine, 1997; Cheong, 2008; Curtin & Prellezo, 2010). Por sua vez, nestas últimas décadas a gestão e governança de bens públicos se tornaram progressivamente mais complexas. As agências governamentais continuam tendo o protagonismo nesta gestão, começando a ser somente um dos seus múltiplos atores. Estes processos de gestão são, assim, mais equitativos, mas também mais complexos, devido à abordagem interdisciplinar imprescindível e necessária para analisar e incorporar todas as dimensões do sistema.

A necessidade de integração na gestão é uma característica da Gestão Integrada de Zonas Costeiras (GIZC, ou ICZM na sigla em inglês) que, desde seu início, e sobretudo desde a década de 90, quando foi respaldada pela Convenção do Rio (1992), destaca a necessidade de processos integrados que considerem todas as 26

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

A s p r aias e os Se rvi ços Ecossi stê mi cos Os ecossistemas costeiros resultam fundamentais para

proposto pela EM, tem sido pioneira na investigação

as sociedades humanas, brindando diversos bens e

do meio ambiente (ver box 2). A partir desta aproxi-

serviços que contribuem diretamente ao bem-estar do

mação, as consequências a nível econômico, social e

ser humano. Conhecidos como serviços ecossistêmi-

do bem-estar humano dos danos sobre o ecossiste-

cos (SE), estes são definidos como “o benefício direto

ma parecem mais claras. Incorporando além de uma

ou indireto que o homem obtém dos ecossistemas”

dimensão econômica, este conceito provê informação

(MEA, 2005). A Avaliação dos Ecossistemas do Milê-

fundamental para os gestores frente a implementação

nio (EM) foi fundamental para o desenvolvimento deste

de políticas efetivas de conservação que contribuam

conceito, sendo uma das principais conquistas a in-

ao bem-estar social e desenvolvimento sustentável (de

clusão do SE na agenda global sobre sustentabilidade.

Groot 1992, 2010, Constanza et al., 1997, Boyod & Ba-

A análise da gestão de recursos naturais através dos

nhaf 2006, Fisher & Tuner 2008, Nahlik et al., 2012).

F O N T E: Ma s s i m o Vi t a li .

SE e sua vinculação direta com o bem-estar humano

27

BOX 2- OS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS E O BEM-ESTAR HUMANO A Avaliação dos Ecossistemas do Milênio (EM) define os serviços ecossistêmicos como os benefícios que as pessoas obtêm dos ecossistemas, distinguindo quatro grandes categorias: i) os serviços de fornecimento, ii) os serviços de regulação, iii) os serviços culturais, e iv) os serviços de suporte. Embora a espécie humana amorteça os efeitos das mudanças ambientais através da cultura e dos avanços tecnológicos, suas sociedades seguem na atualidade dependendo do fluxo de serviços que proveem os ecossistemas (MEA, 2005).

Serviços dos ecossistemas Aprovisionamento Alimento Água doce Madeira e fibra Combustível

De apoio

Ciclo de nutrientes Formação do solo Produção primária

Regulação

Regulação de clima Regulação de inundação Regulação doenças Purificação da água

Componentes do Bem-estar Segurança

Segurança pessoal Acesso seguro aos recursos Segurança frente a desastres

Materiais essenciais para uma vida decente

Suministros adequados Alimento nutritivo suficiente Acesso a bens

Liberdade e eleição e ação Oportunidade para poder alcançar o que um indivíduo valora fazer e ser

Saúde

Culturais

Estéticos Espirituais Educacionais Recreativos

Vida sobre a terra - Biodiversidade

Cor das Flechas Potencial para que medirem fatores econômicos

Fortaleza Sentir-se bem Acesso à ar e água limpos

Boas relações sociais

Coesão social Respeito mútuo Capacidade para ajudar a outros

Espessura das Flechas

Intensidade das conexões entre serviços dos ecossistêmicos e bem-estar humano

Fonte : Ava lia ç ã o d o s E c o s s i s t e m a s d o M i l ê n i o ( 2 0 0 5 ) .

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P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

O marco conceitual proposto pela EM coloca o ser humano como parte integral dos ecossistemas, propondo uma interação dinâmica entre eles, onde as mudanças produzidas pelas atividades humanas afetam (direta ou indiretamente) aos ecossistemas, modificando, assim, o bem-estar das próprias sociedades (MEA, 2005).

Engenharia ecológica

Serv iços Ecossistêmicos

Serviços de Aprovisionamento

Processos ecossistêmicos

Bem-estar humano

Serviços de Regulação

Serviços culturais

Restrições no acesso e uso

Fonte : Ad a pt a d o de Be n n e t t e t a l . 2 0 0 9 .

29

Uma praia sadia e funcional brinda uma gran-

funcionalidade natural da praia estaria vinculada

de quantidade de SE que são essenciais para o

a garantir as condições que permitam o desenvol-

uso humano destes sistemas que, usualmente,

vimento de ditas comunidades. A função recrea-

agrupam-se em três grandes categorias: de Pro-

tiva das praias está relacionada com o papel de

teção, Natural e Recreativa (Ariza et al., 2010). A

suporte físico das distintas atividades recreativas

função de proteção das praias está diretamente

e de exploração turística que desempenham es-

relacionada com a segurança das infraestruturas

tes sistemas. Para que sejam funcionais, as praias

que se encontram na parte traseira da praia (ou

devem cumprir uma série de condições como ser

hinterland). A Praia dissipa/absorve a energia da

larga o suficiente, prover condições seguras de

onda incidente durante o impacto de tormentas

banho ou vistas e paisagens atrativas.

protegendo assim o hinterland e as infraestruPara as áreas costeiras e, especificadamente,

mente funcional, sua porção emergida deve ter

para as praias, são descritos diversos SE (e.g.

uma largura suficiente para que possa prover

MEA, 2005; Beaumont et al., 2007; Defeo et al.,

esta proteção (Jimènez et al., 2011). Como men-

2009; Brenner et al., 2010; Lozoya et al., 2011).

cionado anteriormente, existem diversas comuni-

Talvez como os mais característicos, poderiam

dades biológicas que habitam estes sistemas. A

ser destacados:

F O N TE : J ul i a C am p os .

turas. Neste sentido, para que a praia seja real-

30

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AMORTECIMENTO DE EVENTOS EXTREMOS

Fundamental na proteção de infraestruturas da parte interior da praia frente a grandes flutuações ambientais (ex. tempestades, erosão, inundações). É particularmente importante nas zonas urbanas e está determinado pelas in-

FON TE: L u i s Acost a .

FON TE: Ti mot h y M ei n b erg.

fraestruturas existentes.

HÁBITAT

Este serviço se relaciona com a matriz física que as praias proporcionam, onde se desenvolvem distintas comunidades biológicas (ex. invertebrados bentônicos, aves locais e migratórias, tartarugas, mamíferos marinhos), incluindo

F O N TE : S e t h D oyl e .

F ON TE : Bob Mor a e s.

o próprio hábitat que estes podem gerar.

ALIMENTO

As zonas costeiras e as praias são tradicionalmente zonas muito ricas em alimentos, dando origem a diversas pescarias artesanais (ex. bivalves, peixes), mas também em épocas mais atuais há um grande desenvolvimento da

F O NT E: C h a rl o t t e C o n ey be e r.

F O N T E : B ri an Er i c k s o n .

pesca esportiva.

31

RECREAÇÃO

Este serviço está diretamente relacionado às oportunidades de lazer, relaxamento e ao estímulo do corpo e da mente impulsionados pelos ecossistemas. Além disso, este serviço é a base da uma imensa indústria de escala

FON TE: B ob M ora es.

FON TE: M a ssi mo Vi t a l i .

mundial que resulta fundamental para o desenvolvimento econômico de muitos países.

ESPIRITUAL, CULTURAL OU HISTÓRICO

Embora este serviço nem sempre seja considerado e valorizado em sua totalidade, os ecossistemas provêm uma

FO N TE : Bob Mor a e s.

FO N TE : c l oud vi sua l .

grande informação cultural, espiritual e histórica através de suas características naturais.

ESTÉTICO

Este serviço está vinculado às características da paisagem que os tornam atrativos a partir do desfrute sensorial de

F O N T E: B o b Mo r ae s .

um sistema ecológico funcional.

A zona litoral é particularmente atrativa para o ser humano, já que além de fornecer todos estes serviços, é também um lugar estratégico para a indústria, a atividade comercial e o transporte (Tett et al., 2009).

32

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7. AS PRAIAS AO LONGO DO TEMPO

Briana Angélica Bombana & Luidgi Marchese

¹ Laboratóri o de Co n s e r v a çã o e G e s t ã o C o s t e i r a C e nt ro d e C iênc i as Tec nol óg i c as da Te r r a e do M a r – C T T M a r – U n i v e r si dad e d o Val e do I t a j a í – U N I VA L I

33

On d e t u do come çou...

H

eráclito, criador da dialética, defendia que

lações de sua margem. Corbin (1993) revisa inclusive

“nada é permanente, a não ser a mudança”.

as visões dos gregos e romanos, encontrando muitas

De fato, as praias tanto do ponto de vista de

citações na teologia e na literatura clássica deste te-

sua morfologia quanto do seu uso pela população, po-

mor e inapetência pelo mar e pelas praias.

dem ser encaixadas nessa definição uma vez que tem sofrido diversas modificações ao longo do tempo.

Além disto, as terras costeiras também eram consideradas inúteis para as atividades produtivas desenvolvi-

Salvo alguns esparsos momentos da antiguidade -

das na época, com destaque para os solos inférteis e

como na Roma antiga, com suas vilas balneárias ao

muito salinos à agricultura.

lado do mar que remetiam a fins de higiene e esportivos - as costas dos territórios com característica exposta

Após o descobrimento do novo continente, no final do

foram principalmente vistas como um local inóspito

século XV, foi dado o início a uma modificação des-

que representava perigo às pessoas. Esta percepção

ta concepção e as zonas litorâneas europeias come-

permaneceu por centenas de anos e começou a mu-

çaram a ser povoadas, principalmente os litorais de

dar a partir do período das grandes navegações.

característica abrigada, ideais para o estabelecimento de portos, seguidos posteriormente pelo desenvolvimento das atividades industriais (Martins & Vasconse-

história da praia no imaginário ocidental, no Ocidente,

los, 2011). Muito embora, os vilarejos e cidades ainda

antes do século XVII, a praia era um lugar tenebroso

apresentavam um olhar voltado aos continentes, cons-

e pouco cobiçado. Os conceitos teológicos predomi-

truídos de costas para o mar. Tal fato se faz ainda mais

nantes nessa época insinuavam imagens monstruosas

importante no continente americano dado que, consti-

do oceano, relacionando o mar com os restos de um

tuído de países povoados ou colonizados, a ocupação

dilúvio enviado como um castigo divino. As caracte-

deste território começou, quase sempre, pelas praias,

rísticas mutáveis do oceano, seu poder de destruição

com as embarcações como o principal meio de trans-

durante os temporais e, em geral, sua impossibilidade

porte para novas conquistas territoriais (Sabel apud

de domínio por parte do homem, distanciava as popu-

Urry, 2001).

F O N T E: o o s u n Wo n .

Segundo Corbin (1993), historiador francês que traça a

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VOCÊ SABIA QUE ...

Em Montevidéu, no Uruguai, a primeira “planta” da cidade, onde atualmente se localiza a “Ciudad vieja”, foi pensada para estar dentro de uma muralha com casas que não se direcionavam as suas frentes à região costeira e portuária? Esta, então, era tida como fonte de sujeira, doenças e “promiscuidade”.

Atualmente, na capital uruguaia, o turismo de sol e praia é uma forma de ingresso econômico durante os meses de verão.

Paralelamente, o litoral também começou a causar curiosidade, o mar acaba visto como caminho para chegar a lugares desconhecidos, de novos conhecimentos e conquistas (Martins & Vasconselos, 2011).

No fim do século XVII, surgem os estudos da oceanografia que permitem conhecer melhor esse grande inimigo chamado oceano. Na metade do século XVIII: “a beira-mar readquire uma antiga função, faz-se de novo lugar privilegiado dos enigmas do mundo. Vai-se a ela para interrogar sobre o passado da terra e as origens da vida. Melhor do que em qualquer outra parte, ali é possível, de fato, efetuar a leitura da multiplicidade dos ritmos temporais, perceber o alongamento da duração geológica, observar a indecisão das fronteiras biológicas, a incerteza dos reinos e as curiosas transições entre eles” (Corbin, 1988).

Segundo o mesmo autor (Corbin, 1993), também pela corrente teológica natural, a tendência de repulsão da costa começa a variar. A mentalidade muda em relação à costa e especialmente às praias, passando de ser um lugar de rejeição para outro de desejo profundo. Desta maneira, começa a apreciação da paisagem ampla, sutil e relaxante da praia. Os homens da época começam a incluir em seus textos e diários de viagens a beleza da costa, outorgando-a um valor estético e artístico predominante.

35

A CHEGAD A DO BA NHO DE MA R...

Por t ob el lo Be a ch, E d i nbu rg h. Ci rc a 19 0 5

No continente europeu, a medicina foi a responsável por aproximar o homem à beira do mar, atribuindo

F i g u r a 8 : Po r t o Bel o Beach , E s c ó c i a - 1 9 0 5 . F o n t e: F o t o s o bt e n i da s en i n t er n et .

propriedades terapêuticas à água marinha. Muito se falava sobre as propriedades benéficas da água e do ar marinho, estimulando a caminhada e a cavalgada nesse ambiente. A partir de 1750, o banho de mar é quase um remédio infalível para inúmeras doenças.

Assim, em meados do século XIX começou-se um forte costume, associado à aristocracia, de utilizar a praia para banhos medicinais para diversos fins. Segundo Rubio (2005), esta tendência iniciada no norte da Europa, rapidamente se dispersou no Mediterrâneo. Desta forma, o uso contemplativo da praia que já existia pela praia se une ao uso terapêutico, proporcionado pelo ar limpo e as águas marinhas.

O banho de mar como atividade humana em costas expostas aparece, portanto, em meados do século

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XVIII, quando recomendado para fins medicinais, com receitas e programações feitas por médicos da época, apresentava duração precisa e era acompanhado por um profissional especializado em banhos curativos (Figuras 8 e 9). Inglaterra e França foram os países pioneiros, estendendo-se posteriormente a outros países europeus. Este benefício do uso das praias como “medicamento” - que corroborava com práticas muito mais antigas, defensoras da água fria como favorecedora da longevidade - fez com que os balneários fossem procurados por todas aquelas pessoas que sofriam de alguma doença e que conviviam com condições de insalubridade nos ambientes urbanos.

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Tal atividade acabou ganhando uma função de lazer quando o mar, o sol e a paisagem costeira começam a ser percebidos como cenários capazes não só de res-

F i g u r a 1 0 : Po s t a l da Prai a de Po c i t o s , M o n t e v i dé u , Ur u g u ai - 1 9 1 0 . F o n t e : w w w. pa r l an ch . b l o g s p o t . c o m . br

tabelecer as condições físicas, mas também mentais das pessoas: “A essa altura, a figura da praia se turva, os mitos se entrecruzam, os estereótipos se acumulam em uma confusa concorrência.

As qualidades respectivas dos elementos, as características da topografia, a eficácia do equipamento hospitalar, a amplitude da rede de sociabilidade e a riqueza da vida cultural engendram uma instável distribuição de méritos respectivos” (Corbin, 1988).

Ainda que a fruição da água do mar pelos banhistas já houvesse começado – inclusive antes dos padrões britânicos, em comunidades de pescadores ou insulares – neste momento, não havia a busca das mesmas para

F i g u r a 9 : Po s t a l d e C o n e y I s l a n d , N o v a Yo r k , EUA - 1856. Fonte: c o n e y i s l a n dre a d e r. c o m

o banho de sol, pois a queima da pele a ressecava.

As atividades até então contempladas incluíam principalmente a caminhadas e conversas entre as pessoas (Figura 10).

37

... E, DO BA NHO DE SOL No século XIX, no continente europeu, a praia então assume definitivamente o papel de vilegiatura balnear e o banho de sol é evidenciado como benéfico (Figura 11), especialmente em países como a Inglaterra, França, Itália e Espanha, por intermédio dos spas, do iatismo, dos bailes e dos passeios à beira-mar (MinTur, 2010). Há um pouco mais de um século atrás, o “boca-a-boca” provavelmente trouxe algumas praias à tona, à medida que as parcelas endinheiradas da população europeia realizavam o “Grand Tour” da Europa.

Por exemplo, Deauville, Monte Carlo e Nice na França, a costa Amalfitana na Itália e o Algarve em Portugal estavam todos no itinerário dos viajantes (Williams &

Primeiramente, a consolidação deste fenômeno se dá através da elite britânica que apresentava um poder

*Figuras 12

Micallef, 2009).

de criar tendências nas camadas sociais mais baixas, como os burgueses, acabando por se estender à população de um modo geral.

A industrialização e as mudanças sociais no proletariado, especialmente o melhoramento das vias de transporte (Figuras 12 e 13), e o advento das férias, proporciona o acesso às cidades litorâneas e o visitante já não é somente originário das classes abastadas, a praia se populariza (MinTur, 2010). O boom das ferrovias no século XIX trouxe os resorts costeiros à moda, permitindo que grandes massas trabalhadoras passassem suas férias na costa (Williams & Micallef, 2009).

Neste contexto, cabe destacar o fenômeno da segregação social, o qual passou a existir por parte da aristocracia industrial europeia, pois a esta não lhe apetecia compartilhar do mesmo balneário com outras classes, fazendo-a selecionar um novo local ou, no caso de decidir manter sua permanência, instituindo uma clara divisão de localização indicada pela diferença das estruturas para os banhos de mar. Esta segregação, inclusive, permaneceu no tempo e pode ainda ser vista em diversos destinos praieiros.

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F igura 1 1: “Don’t be a palef ace!”: Propagan da do prot etor solar Coppert one Década de 5 0.

Font e:Cardcow.

VOCÊ SABIA QUE ...

No início, o usufruto pessoal das praias era feito com a ajuda de terceiros? O prazer que nascia da água fria, salgada, turbulenta e violenta, implicava cuidados com a salvaguarda. Portanto, havia a necessidade da prescrição médica, da companhia de um banhista auxiliar e de uma praia com declive cuidadosamente reconhecido.

Figuras 12* e 13: Anúncios das linhas de t re m br i t â n i c a s pa r a a s c i d a d e s costeiras na metade do s é c u l o X X . F o n t e : Pi n t e re s t .

39

A F ONTE DE L A Z ER

O início do prestigio da faixa litorânea com relação ao ócio se salienta ainda mais nos países fronteiriços com o mar Mediterrâneo – de águas mais quentes, por

F i g u r a 1 4 : Pr ai a d o C a j u , Rio de J a n e i ro , Br a s i l .

F o n t e : s o br as a.o rg

exemplo, em relação ao Reino Unido - e a praia surge como é concebida ainda hoje (MinTur, 2010). Ocorrida inicialmente para uma demanda seletiva, é a partir dos anos 60, com a factibilidade das viagens aéreas (Williams & Micallef, 2009), que estes países começaram a ser locais de atração turística massiva que perdura até os dias atuais.

O turismo se torna, então, um fenômeno social com o crescimento expressivo dos fluxos turísticos no litoral (MinTur, 2010). Há, até mesmo, quem defenda - como é o caso do próprio Corbin (1988) - que a moda das praias tenha sido um fator importante para consolidar o turismo moderno. Como consequência, atualmente há um maior contingente de pessoas vivendo e passando suas férias na costa, havendo um grande acesso ao ambiente praia (Williams & Micallef, 2009).

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A praia começa a ser visitada e habitada por comunidades humanas cada vez maiores e, nos dias de hoje, mais de 60% da população mundial vive a menos de 50 Km da linha de costa. Essa migração não ocorre apenas pela praia, mas também por porque as pessoas se sentem estimuladas pelas oportunidades de trabalho nas grandes cidades costeiras, já que permitem o ingresso de trabalho em diversos setores, como o caso das zonas portuárias, turismo, entre outras atividades típicas litorais (Barragán, 2003). No final do século XX, a praia já era a grande determinadora do turismo costeiro (Torres, 1997), tendência que também dominou a primeira década do novo milênio.

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No continente americano, há registros do uso das praias para banhos de mar que datam do final do século XIX e início do século XX, como por exemplo, a praia do Caju no Rio de Janeiro (Figura 14) que foi aderida primeiramente por D. João VI e se torna, no século XIX, o primeiro balneário da cidade e do Brasil. Mas, somente na década de 60 e 70 é que se destaca a ampliação e a intensificação do segmento do turismo costeiro da Europa para outros continentes.

VOCÊ SABIA QUE ...

O nascimento da arquitetura voltada ao mar (Figura 15) também ocorre no século XIX, já que a contemplação do encontro do mar com o continente se converte em um desejo coletivo.

F i g u r a 15 : P r ai a de Po c i t o s , Mo n t ev i déu , U r u g u a i - 1 9 3 8 . F o n t e: p u n t av i p.co m

Cabe ressaltar, porém, que no Brasil os primeiros litorâneos foram os índios. Estes vistos como os vários povos tupi–guarani que habitavam as praias do país séculos antes da chegada dos portugueses. Segundo a antropóloga e historiadora Maria Hilda Baqueiro Paraíso, especialista em história indígena, os índios brasileiros vieram dos Andes e, logo, alguns se distribuíram na zona litorânea do país. A vida dos índios na beira do mar era uma delícia: pescaria, coleta, pequenas plantações. Para se locomover, usavam as pirogas, um modelo de canoa escavada em troncos que sobrevive até hoje.

Com a chegada dos portugueses e outros europeus, a calmaria inicial foi interrompida, mesmo com a doação das capitanias hereditárias, deu-se a largada na colonização do Brasil, baseada na escravidão. As praias foram então, palco de massacres inomináveis, mas também de tórridas histórias de amor e alguns encontros cordiais. Os índios foram as primeiras vítimas: assistiram a um desembarcar sem fim de estranhos que

trouxeram novos costumes, sujeira, doenças, progresso, destruição e violência. Como muitos índios tinham um comportamento nômade e/ou morreram em batalhas os europeus começaram a importar novos escravos, que vieram da África, pelo mar.

Os índios sempre tomaram banho de mar. O hábito, no entanto, só foi incorporado pela população não indígena, quando o rei D. João VI precisou se curar com as águas oceânicas, como comentado anteriormente.

Ele, mesmo não possuindo o hábito de tomar banho, por ser uma recomendação médica, teve que ceder.

Construiu sua casa de banho, no litoral carioca e lá curava suas feridas. E, como tudo o que o rei fazia virava moda, diversas casas de banho foram abertas no Rio de Janeiro, inclusive suas roupas de banho também tornavam-se tendências beachwear. A diferença é que, pare eles naquela época, ir à praia era como ir ao campo fazer um piquenique: em pequenos grupos e todos vestidos.

41

Com o passar do tempo e chegado o fenômeno do veraneio, uma grande interessante aconteceu: assim como já faziam os índios, começamos a nos despir. E então, na década de 60 e 70 (Figura 17), ocorre uma ampla intensificação do segmento do turismo costeiro em todos os continentes.

VOCÊ SABIA ?

Um dos últimos redutos que permanecem preservados alguns costumes de praias indígenas é a área norte do estado da Bahia, acima de Salvador, até a divisa com Sergipe.

Atualmente,

apesar

das

indústrias,

dos

esgotos, do lixo, do desmatamento, ainda é possível encontrar por lá locais onde se vive a essência do espírito praiano indígena, inclusive com transportes de canoas adaptadas (Figura 16). Ocupada inicialmente por índios, depois por aldeamentos jesuíticos e vilas – que sobrevivem da pesca e agricultura -, a partir dos anos 70, nessa área, foram surgindo os loteamentos e empreendimentos turísticos.

F i g u r a 1 6 : Re s qu í c i o s do s c o s t u m e s pr a i a n o s i n d í g e n a . F o n t e : i n t e r n et .

42

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R io

d e

Janei ro

Década

de

60

Figu ra 17: Ip a ne m a , Rio de J a ne iro, Brasil - Dé c a d a d e 6 0. Fon te : c ha r ly- sgarage.

43

As di vers a s f unções d a s p r a i a s Hoje, reconhece-se que as praias - além do benefício social e econômico que proporcionam, relacionados principalmente ao descanso, são inspiração para o desenvolvimento de uma cultura associada a elas, traduzida através da arte, música, literatura, cinema, consumo e comportamento (Figuras 18 e 19).

F ig ura 1 8: M aya Beac h, Ta ilâ nd ia , a p r a ia d o f ilme “ T h e Be a c h ” l a n ç a do e m 2 0 0 0 . F o n t e : Ya c h t i n g L i f e s t y l e .

Figur a 19: Ma ya Be a c h , Ta i l â n d i a , a p r a i a do f i l m e “ The B e a c h” la nç a d o e m 2 0 0 0 . F o n a F i g u r a 2 1 : Ca p a d o livro libro s o b re a c u l t u r a do s u r f “ Po p S ur f Culture : Mu s i c , D e s i g n , F i l m a n d F a s h i o n f rom the B ohe m i a n Su r f Bo o m ” . F o n t e : C h d e s t e r & P r iore , 2008. te : Ya c h t i n g L i f e s t y l e .

44

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Ademais, com o avanço dos estudos costeiros, sabe-

praias desempenham, tanto de regulação como cultu-

-se que as praias apresentam diversas outras funções

ral (Chica et al., 2012), seriam outra forma de conceber

e serviços ecossistêmicos, como armazenamento e

sua função como elemento que satisfaz as necessida-

transporte de sedimentos, dissipação da força da hi-

des humanas.

drodinâmica marinha, resposta dinâmica ao aumento do nível do mar, decomposição do material que conta-

Assim, a função recreativa da praia, que parte da per-

mina a areia, filtração e purificação da agua, manuten-

cepção humana deste ambiente como um espaço

ção da biodiversidade e recursos energéticos, áreas

para o uso em seu tempo livre e de lazer, em termos

de criação de peixes juvenis, lugares de nidificação de

históricos, é relativamente recente. Pois, foi só a partir

tartarugas e aves, espaço de presa para aves e fauna

do homem do século XVII que começa a perder os

terrestre (Zielinski & Botero, 2012).

costumes ancestrais de medo e terror (Corbin, 1993) e até meados do século XX, não era reconhecida como

Segundo os autores (Ariza et al., 2008; Jiménez et al.,

um lugar de descanso e relaxamento (Rubio, 2005).

2007; Rubio, 2005), são encontradas três principais

Assim, então, somente agora a praia cumpre uma fun-

necessidades humanas que as praias satisfazem:

ção social, permitindo a coletividade humana desfrutar de um espaço multidimensional, no qual é possível ba-

a. Proteção de zonas interiores da energia das

nhar-se, contemplar a paisagem, solárium, entre várias

ondas, especialmente a paisagem e as infra-

ações próprias do tempo livre.

estruturas humanas e edificações; Dessa forma, é de grande importância a existência de b. Oportunidades de usos recreativos, incluin-

processos e instrumentos de gestão de praias, como

do a natação, o bronzeamento, mergulho, re-

condicionante para que as funções cumpridas por tais

laxamento e várias atividades esportivas;

ambientes possam ser mantidas. Ao adicionar a este contexto que as praias são sistemas naturais que es-

c. A provisão de um cenário natural e reserva

tão atualmente submetidos a uma grande pressão hu-

ecológica, que indica seu valor para a conser-

mana e climática (Sardá et al., 2012) e que o turismo,

vação.

aliado a assentamentos urbanos, aceleram o processo de uso, ocupação e degradação da zona costeira e

Torres (1997) se aventura em estabelecer a imagem

das praias (Harvey & Caton, 2003), destaca-se que a

turística do espaço da praia como o mais relevante,

praia, estando integrada a realidade costeira, necessi-

inclusive superior à sua importância como suporte físi-

ta ser abordada e gerida como um todo, desde uma

co. Mesmo assim, os serviços ecossistêmicos que as

PARA TER EM CONTA:

• Em muitos países, como o Brasil e o Uruguai, as praias são

consideradas patrimônio de toda a população e tal ideia implica que esse patrimônio deve ser passado de geração para geração.

• Há um antigo provérbio dos índios norte-americanos que diz “Nós

não herdamos a terra de nossos pais, nós a emprestamos de nossos filhos”.

• Assim, fica a pergunta: Como vamos entregar as praias para os

nossos filhos no futuro?

45

8. O TURISMO DE SOL E PRAIA Guilherme Godoy Barattela, Camila Longarete & Luidgi Marchese

¹ L a b orat ó rio de Conservaç ão e G e s t ã o C ost eira C e n tro d e C iênc i as Tec nol ógi c as d a Te r r a e d o M ar – CTTMar – U n i v ersid ad e do Val e do I tajaí – U N I VAL I C o m pr een são do concei to

V

árias são as definições utilizadas para o turismo direcionado às áreas litorâneas, tais como Turismo em Praias, Turismo Litorâneo, Turismo

de Sol e Mar, Ecoturismo Litorâneo, Turismo de Sol e Praia ou Turismo Costeiro. Mesmo com a diversidade de nomenclaturas, os impulsionadores destas modalidades turísticas predominantemente são os mesmos: A presença conjunta de Beleza Cênica, Sol, Calor e Água (UNEP, 2009; MinTur, 2010) favorecendo o desenvolvimento das atividades de recreação, descanso e entretenimento (Orams, 2003).

VOCÊ SABIA ?

A origem da palavra TURISMO tem seu nome derivado do francês tour, “volta, circuito, volta ao redor”, de tourner, “fazer a volta”, e também do latim tornare, “fazer dar a volta, polir, girar um torno”. Ou seja, “sair, dar uma volta e retornar”.

Embora os impulsionadores sejam os mesmos, as características geográficas, paisagísticas, culturais e de infraestrutura, particulares de cada localidade, diferenciam as atividades e suas atratividades, gerando fluxos de pessoas distinto das áreas circundantes, em função de seus interesses nos atributos disponíveis para a atividade turística. No entanto, muitas são as iniciativas para prover serviços turísticos a partir da implementação de infraestrutura (ex: Eco equipamentos, Resorts, Hotéis, Bares, Danceterias, e etc.) para que estes somem aos atributos naturais e paisagísticos, aumentando sua atratividade turística (UNEP, 2009). Ou seja, os processos turísticos em regiões litorâneas podem ser alterados no espaço e no tempo, ajustando-se entre oferta e demanda (Zielinski & Botero, 2012). No entanto, as praias podem ser compreendidas como espaços de multiuso, pois podem atrair mais de um perfil de usuário ao mesmo tempo.

46

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CURIOSIDADE: Segundo a Organização Mundial de Turismo em uma de suas publicações sobre turismo urbano, mostra que dentre as 21 das cidades mais visitadas do mundo em 2011, 11 delas

F O N T E: Mi k e W i ls o n .

estão na zona costeira (OMT, 2012).

47

VOCÊ SABIA? 2012), através das atividades de lazer e recreação dis-

Expedia (2013) mostrou que 77% dos brasileiros

poníveis. Neste sentido, são entendidas como ativida-

apontam a praia como destino essencial de férias?

des recreativas do turismo de praia, qualquer atividade

Além de que também não se importam em retornar

que vincule Banho, Surf, Kitesurf, Windsurf, Mergulho,

a uma praia já explorada (92%) quando este lugar os

Equipamentos Náuticos, Esportes, Cultura, Gastrono-

agrada.

mia, entre outras.

O turismo de praias também é reconhecido pelos

Embora o foco principal destes fluxos turísticos seja a

fluxos massivos durante os períodos ensolarados e

praia, a influência exercida neste espaço ultrapassa a

de clima quente ou ameno do ano. Quando grandes

barreira da beira-mar, e se reflete também em diver-

quantidades de pessoas buscam a costa para o re-

sas atividades locais no entorno desta praia. A grande

laxamento e espairecimento associado ao banho de

quantidade de banhistas na faixa de areia, o aumento

mar e infraestrutura disponível, com um cenário pai-

acentuado na procura de hotéis, a maior presença de

sagístico diferente do local originário destes usuários,

pessoas em restaurantes e, o aumento do tráfego nas

muitas vezes, tal comportamento é relatado como

vias de circulação, são exemplos expressivos desta re-

sendo o “escape da vida urbana” (Zielinski & Botero,

alidade.

F O N T E : C a m e ro n St o w.

Uma pesquisa realizada pela empresa de turismo

48

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VOCÊ SABIA ?

O EUA é considerado a destinação turística mais importante do mundo, ao mesmo tempo, uma única Praia estadunidense “Miami Beach” recebe mais visitantes que outras atrações como os parques nacionais de Yellowstone,

F O N T E: Sa ra K au t e n .

FO N T E: Je sse C ol l i ns.

Grand Canyon e Yosimite, todas em conjunto?

MI A MI B

E

A C

H

49

A p ro blemát ica O turismo costeiro pode ser considerado um elemento

frágeis (Zielinski & Botero, 2012). Fato este, prejudicial

paradoxal, pois é responsável pela aceleração do de-

à estabilidade e a função ecológica da orla marítima,

senvolvimento urbano e econômico trazendo inúmeros

manguezais, restinga, matas ciliares, recifes de corais,

benefícios em infraestrutura, assim como de natureza

marismas e áreas inundáveis, aumentando a vulnera-

socioeconômica, por outro lado, é concentrador de

bilidade às catástrofes naturais, perda da biodiversida-

riqueza, de apropriação de espaços, de segregação

de e diminuição dos estoques e recursos ambientais

social e de degradação ambiental (Figura 20).

disponíveis (UNEP, 2009), por meio do desenvolvimento de atividades incompatíveis com o ambiente em que

Os fatores que influenciam sobre a qualidade do turis-

estão inseridas.

mo de praia estão associados aos aspectos de gestão patrimonial, ordenamento territorial, gestão energética, gestão de recursos hídricos, gestão de zonas costeiras e orla marítima, e também, da gestão ambiental, uma vez que esta modalidade turística é um grande consumidor de recursos ambientais. (UNEP, 2009; MinTur, 2010).

Esta indagação é refletida pelo motivo que, essencialmente, o Turismo de Praias se desenvolve, muitas vezes, em áreas consideradas de preservação permanente (Williams & Micallef, 2009) e ecologicamente

F i g u r a 2 0 : N o t í c i a s s o bre p ro b l e m a s de ero s ão o bs e r v a d o s n a s p r a i a s de C a n c ú n – D es t i n o m e x i c a n o de s o l e p r a i a i n t e r n a c i o n al men t e re c o n h e c i d o . F o n t e : m e x i c o t r a v e l n et wo r k .o rg .

50

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VOCÊ SABIA?

A década de 60 foi marcada pela eclosão do turismo de massa quando se registraram e foram reconhecidos os impactos negativos da atividade turística? Nesta época,

FO N TE : Agust i n D i a z .

este segmento foi inclusive desmistificado como a “indústria sem chaminés”.

Não somente em questões ambientais, a gestão dos

Uma das grandes questões que ainda é desfavorável

recursos direcionados as atividades turísticas podem

ao cenário do turismo na costa, é que nem sempre

trazer grandes impactos nas comunidades locais.

o aumento repentino do número de turistas é acom-

Afetam diretamente a estabilidade socioeconômica

panhado pela provisão de infraestrutura necessária.

(Orams, 2003) e as características culturais das po-

Como exemplo disto, a diminuição da eficiência do sa-

pulações residentes, bloqueando estas, ou não, ao

neamento básico durante o período de alta tempora-

desfrute conjunto dos usufrutos gerados pelo turismo

da, pelo maior número de usuários, pode gerar a con-

em suas praias e apreço pelo local (UNEP, 2009). Isto

taminação do solo e água, resultando em um alto risco

requer uma gestão de recursos adequada a modo de

a saúde humana e a integridade ambiental, que por

minimizar os impactos gerados pelas atividades vincu-

sua vez pode influenciar negativamente a percepção

ladas a este setor.

coletiva sobre a qualidade desta praia turística (Roca et al., 2009).

51

A nível global, ainda pode ser notada a tendência da valorização ambiental das praias (Roca et al., 2009; Lozoya et al., 2014). Desta forma, torna-se imprescindível a implementação de ferramentas de gestão que proporcionem ações que garantam as condições ideais de qualidade neste ambiente costeiro (Figura 21).

Algumas alternativas como gestão estratégica, planejamento participativo e fixação de critérios de certificação ambiental, objetivam prover de maneira otimizada, parâmetros de qualidade de água, cobertura de segurança, educação, acesso, qualidade da areia, informações e equipamentos, assim como práticas de uso e ocupação do solo (Williams & Micallef, 2009; Zielinski & Botero, 2012).

Atualmente, para o tema de gestão de praias, alguns pesquisadores têm dedicado devidos esforços para o desenvolvimento de ferramentas que permitam gerir a praia adequadamente, considerando os impactos gerados pela indústria do turismo.

Ferramentas como o Sistema de Informação Geográfica (SIG), uma rede de monitoramento de qualidade ambiental ou a avaliação da percepção dos usuários, geram informações úteis e valiosas, dado que seus resultados serão utilizados como insumos de gestão para uma praia em particular. Porém, apesar de serem uma fonte geradora de informação, as ferramentas de gestão de praias, propriamente ditas, não tem função de gerar informação que apoie a gestão, e sim fazer gestão em si mesma, por isso sua menção de gestão.

Como exemplos destas ferramentas é possível citar: a capacidade de carga turística, o zoneamento bidimensional de praias, a classificação das tipologias praias e os esquemas de certificação de praias.

BOX 3

O q ue f azer ?

As certificações de qualidade de praias, ambientais ou turísticas, são ferramentas relativamente modernas, que podem ser consideradas também como ferramentas de gestão de praias. Foi em meados da década de 1980, na

França que se criou a primeira certificação de praias do mundo, chamada de Bandeira Azul.

As certificações de praias são esquemas que procuram avaliar as características de uma praia em particular, geralmente turística, através do cumprimento de critérios mensuráveis. Estes esquemas são promovidos como uma metodologia para a gestão de praias pelas organizações que fornecem as certificações e pelas autoridades locais que as solicitam (FEE, 2006).

São denominados esquemas de certificação de praias (ECP) (Beach Certification Schemes) todos os programas e iniciativas que buscam o reconhecimento público de uma ou várias praias turísticas. Segundo Botero (2013), um esquema de certificação de praias é um conjunto de elementos administrativos e operacionais, que através de um processo de avaliação sistemática de requisitos pré-estabelecidos, avaliam a melhoria contínua das condições holísticas da praia e reconhecem publicamente a sua efetiva gestão. Esta definição, portanto, concentra-se na avaliação contínua dos aspectos de conformidade (requisitos predefinidos) e a existência de um quadro de gestão que vai além do simples processo de auditoria.

Quanto às características mais comuns aos ECPs, Zielinski e Botero (2012) estabelecem as quatro seguintes: a. Aplicação voluntária;

b. Outorga de selo (logotipo);

c. Fomento ao cumprimento da legislação e; d. Avaliação por meio de terceira parte

independentes em forma de auditorias. É possível dizer que os ECPs são uma das respostas que a sociedade gerou frente ao crescimento vertiginoso que o turismo vem tendo desde os anos cinquenta e sessenta. A partir dessa massificação do turismo os destinos turísticos necessitaram diferenciarem-se quando à qualidade de seus atrativos, e desta forma cuidar melhor dos aspectos que lhes tornam um destino procurado pela sociedade. Também por parte do 52

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desenvolvimento da sociedade civil com maior preo-

certificações de praias atuantes, estas estão disper-

cupação pelo cuidado ambiental e a exigência de pro-

sas em todos os continentes do globo e especialmen-

dutos e serviços de qualidade por parte dos consumi-

te concentradas no continente Europeu, na Austrália

dores, propiciou a aparição desses esquemas.

e na América do Norte. Entretanto, no contexto Latinoamericano, existem nove programas de certificação

Em outras palavras as certificações têm o objetivo

de praias (Figura 21), incluindo a Bandeira Azul, que

de estabelecer a qualidade da praia, para Williams e

inclusive, é o programa que atualmente atua no Brasil

Micallef (2009), esta qualidade é definida pela habi-

(Castro et al., 2012).

lidade de promover altos níveis de segurança, qualidade ambiental, equipamentos e serviços, paisagem

As certificações, fazem parte então, do processo de

e limpeza do espaço praial. Contudo, cada esquema

gestão costeira e/ou ambiental. Desta forma, a im-

de certificação de praia tem seus próprios requisitos

plantação da certificação pode ser oriunda tanto da

pré-estabelecidos para garantir um nível de qualidade

iniciativa pública quanto da privada. Esta última pode

ótimo para o visitante da praia, assim como para o

ser representada por clubes de praias, restaurantes,

ambiente natural e a cultura local. No mundo hoje exis-

quiosques, e estabelecimentos comerciais no geral

tem aproximadamente mais de 24 diferentes tipos de

que estejam abertos à se adaptarem a algumas medi-

Insti tuto C ol omb i a no d e Nor ma s Técni ca s y C er ti f i ca ci ón NTS-TS-0 0 1 -2

In s t i t u t o M e x i c a n o d e N orm a l i z a c i ó n y Cer t i f i c a c i ó n MNX-A A - 1 2 0 SC F I - 2 0 0 6

Ministerio de Ciencia, Tecno lo g ía y Medio A mbiente PLAYA AM BIEN TAL

Fo unda ti on f or E nviron me n ta l E ducati on BAN D ER A A ZU L

I n s t i t uto C o s t a r r i c e n se de Acueductos y A l c an t ar i l l ad os BANDERA AZUL E C O L Ó G I CA

C e r t i f i c aç ão Tu r í s t i ca d e P r ai a – E q u a d or INEN 2631 – E C O P L AYA S

F i g u r a 2 1 : C er t i fi cação d e p r a i a s n a Amér i ca L a t i n a . F o n t e: Zi el i n s k i & Bo t ero , 2 0 1 2 .

Or ga ni z a ci ón Ecol ógi ca Pl a y a s Per ua na s E CO PL AYAS

Insti tuto Ar genti no d e Nor ma l i z a ci ón y C er ti f i ca ci ón I R AM 4 2 .1 0 0

Ministerio de Turismo PLAYA N ATU R A L

53

A aplicabilidade do planejamento e gestão para o tu-

O emprego efetivo de ações de gestão estratégica

rismo de Sol e Praia busca acompanhar e monitorar os

pode gerar um grande poder de circulação de capi-

fluxos de visitantes e seu destino, por meio da defini-

tal associada a conservação dos atributos ambientais.

ção de diretrizes, políticas e estratégias comuns para

Fato este, que possibilita o desenvolvimento econômi-

lidar com os problemas, também comuns a todos que,

co gerado propiciado a partir da geração de emprego

de alguma maneira, estão vinculados ao ambiente

e renda, associada à manutenção da integridade do

praial. De forma a alcançar expectativas ótimas para

ecossistema local, que implica na melhoria e manuten-

a utilização deste espaço de maneira ecologicamen-

ção da qualidade de vida, e consequente valorização

te sustentável e economicamente viável (UNEP, 2009;

do território.

Peral et al., 2010). Neste sentido, torna-se de extrema importância o trabalho integrado dos setores públi-

F i g u r a 2 2 : F o t o s das pr a i a s a m b ien t al men t e c e r ti fi cadas de Ba rc e l o n a, Es pan h a.

F on t e: Br i an a Bo mban a.

cos, privados e sociedade civil organizada, no estabelecimento de parcerias como parte essencial para o posicionamento dos distintos locais a uma posição competitiva dentro do mercado turístico (Iñiguez et al., 2007).

Entretanto, não há regra básica para a elaboração deste planejamento.

Tornando-se, por assim dizer,

necessária a consideração das particularidades sociais e ambientais, que as praias estão inseridas, na tentativa de identificar os principais vetores de desenvolvimento a nível local, dos quais possibilitam às gerações futuras os mesmos benefícios e qualidade natural, desprendidos do desfrute atual.

Por conseguinte, para a realização de um planejamento ou gestão em uma praia turística, torna-se fundamental a elaboração de processos que articulem informações e estratégias almejadas por todos, dentro da área de abrangência de cada localidade, tanto em sua estrutura como em sua funcionalidade, trabalhando de forma integrada, do regional ao local, identificando os pontos críticos a serem superados e os desafios a serem vencidos.

54

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BA RCEL ONA P

L

A Y A

55

P R A I A S PRINCÍPIOS E DIRETRIZES PARA GESTÃO

56

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P L A Y A S PRICIPIOS Y DIRECTRICES PARA LA GESTIÓN

57

1. PR ESENT A C I ÓN Camilo-Mateo Botero Saltarén, PhD

G r u po d e In v esti g ac i ón en Si stema s C o st e ro s - P l a ya s co l C o r po r a t i o n (C o l o m b ia ) R e d Ib ero am eri c ana de Gesti ón y Ce r t i fi ca ci ó n de P l a ya s Tu r í s t i ca s - P ROP L AYA S Las playas son un ecosistema que ha ido ganando im-

descubrir los orígenes de este concepto y los factores

portancia dentro de la literatura científica en las dos

de cambio que permiten afirmar que estamos ante una

últimas décadas. En efecto, otros ambientes natura-

nueva era del planeta. Posteriormente, Juan Pablo pre-

les marino-costeros han tenido más atención por la

senta los forzantes que generan impacto en las playas,

comunidad científica internacional, como los arrecifes

haciendo una exposición suficiente para comprender

de coral y los manglares, los cuales tienen cientos de

fenómenos como el uso recreativo, la contaminación

libros y manuales que los describen, evalúan e incluso

y las especies invasoras, entre otras. En síntesis, este

guían su manejo. Mientras tanto, ecosistemas como

capítulo permite al lector sumergirse en una forma no

las playas, los acantilados y las praderas de faneró-

convencional de estudiar las playas, siendo a la vez

gamas marinas apenas recientemente han recibido la

una base sólida para comprender el impacto humano

debida atención.

sobre estos ecosistemas.

A continuación, el profesor Daniel de Álava presenta

El libro que en este momento tiene el lector es una

un completo capítulo sobre el sistema costero en con-

oportuna respuesta a la baja atención por este impor-

tinuo cambio. En esta sección se abordan conceptos

tante ecosistema, las playas, especialmente desde la

tan claves como la Zona Litoral Activa (ZLA), que luego

perspectiva de su gobernanza. El equipo conformado

permearán las demás contribuciones del libro. De for-

por la Universidad do Vale do Itajaí (Brasil) y la Uni-

ma amplia, Daniel presenta las características de las

versidad de la República (Uruguay), catalizado por la

costas arenosas, su dinámica y la zonificación funcio-

financiación del Programa CAPES/UDELAR, han ge-

nal que permite estudiarlas como unidad geomorfoló-

nerado esta publicación de obligatoria referencia.

gica. Finalmente, define tres sistemas de interacción en el sistema costero, llegando a la muy relevante con-

Si bien algunos de los capítulos tienen un enfoque es-

clusión que la conservación del estado dinámico de la

pecial en las playas arenosas, su contenido es amplio

ZLA es la forma más económica, y por tanto conve-

y abarca con suficiencia esta franja de interacción en-

niente, de protección costera.

tre el mar y el continente, caracterizado por su relativa baja pendiente y conformación por sedimentos no consolidados. Es así que a partir de seis capítulos bien estructurados, el lector podrá ampliar sus conocimientos sobre las playas como ambiente socioecológico en el mundo actual.

El primer capítulo es una perfecta introducción al concepto cada vez más aceptado del Antropoceno, realizada de forma clara y transparente por el profesor Juan Pablo Lozoya. En esta sección el lector podrá

58

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El tercer capítulo es una contribución conjunta de la

Inicia argumentando la relación sociedad - naturaleza

profesora Estela Delgado y el profesor Juan Pablo Lo-

y cómo la primera no es posible sin la segunda y vice-

zoya, quienes se concentran en describir la biota de

versa. Continua con una fluida descripción de la ges-

las playas arenosas. Inicialmente sustentan como las

tión integrada de zonas costeras y las tres disciplinas

especies que habitan este ecosistema son altamente

fundamentales que la conforman, para llegar al análisis

adaptadas anatómica y fisiológicamente a las cam-

de los servicios ecosistémicos como el beneficio que

biantes condiciones oceanográficas, además de es-

obtiene el hombre de los ecosistemas. Finaliza el ca-

tar distribuidas de forma diferenciada en la ZLA, tanto

pítulo con la enumeración de los principales servicios

vertical como horizontalmente. Así mismo, los autores

ecosistémicos que ofrecen las zonas costeras y, en

describen aspectos ecológicos como el nivel de co-

especial, las playas.

munidades macrofaunísticas y la diversidad de especies, llegando a conclusiones como que la abundancia

El quinto capítulo es un aporte de Ma. Briana A. Bom-

total y biomasa aumentan desde las playas reflectivas

bana y Me. Luidgi Marchese, que sintetizan la evolu-

a las disipativas.

ción histórica de las playas, incluyendo una interesante mirada desde las ciencias ambientales.

La cuarta sección es realizada nuevamente por Juan Pablo Lozoya, quien aborda el interesante y actual tema de las playas como sistemas socioecológicos.

59

A partir del dinamismo de las playas en términos morfológicos y de uso humano, Briana y Luidgi llevan al lector a descubrir cómo estos espacios costeros pasaron del desconocimiento general al tratamiento médico del baño de mar y finalmente al actual deseo vacacional del baño de sol. Destacan en este capítulo las imágenes históricas, que recuerdan un uso social e incluso aristocrático de la playa, el cual fue dando paso a un uso más masivo y consumista, que es el que domina hoy en día. El aporte desde la evolución del tema en Uruguay y Brasil es otro aspecto que hace muy valioso este capítulo.

Por último, Oc. Guilherme G. Barattela, Oc. Camila Longarete y Me. Luidgi Marchese presentan un capítulo concentrado en el turismo de sol y playa, desde la motivación de esta tipología turística, hasta apuntes concretos sobre su gestión. Enlaza con maestranza aspectos como el carácter masivo de este tipo de turismo y la paradoja entre los beneficios (desarrollo urbano y económico) y los múltiples efectos negativos (concentración de riqueza, apropiación de espacios públicos, segregación social y degradación ambiental). Termina el capítulo con algunas conclusiones de gestión relevantes, como que no siempre el aumento repentino del número de turistas es acompañado por la disponibilidad o existencia de infraestructuras para

F O N T E : s k y s cr a pe rc i t y.c o m .

su atención.

60

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Como el lector podrá observar, el colectivo de autores ha realizado un destacado esfuerzo por incluir múltiples temas ligados a las playas, pero sin perder de vista el hilo conductor común. Este resultado es totalmente afín con el proyecto de cooperación que permitió su ejecución, enfocado en el análisis comparativo del proceso de gobernanza de playas urbanas entre Brasil y Uruguay. Un ejemplo a seguir de cooperación sur-sur.

Este aporte a la literatura científica seguramente será útil para la comunidad académica de América Latina, tanto por la lengua en que viene escrito, como por la pertinencia del enfoque seleccionado por los autores.

Adicionalmente, agrega un valor inmenso el hecho que todos los autores están en el pleno de sus carreras científicas, con lo cual puedo augurar que éste libro será un catalizador de nuevas publicaciones que permitan posicionar a las playas en un ámbito de amplio reconocimiento. En definitiva, una obra científica que continente.

F O N T E: A l e x an d re Pe ro t t o .

FO N TE : Bob Mor a e s.

continúa fortaleciendo las ciencias del mar en nuestro

61

2. L AS ZON A S C OS T E R AS E N E L AN TR O P O C ENO Juan Pablo Lozoya, Dr.

Ce n t ro In t erd isc i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r Ce n t ro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Est e – U n i v e r s i da d de l a Re pú bl i ca (U r u gua y )

E

l planeta Tierra es un planeta de costas, don-

caderías. Sin embargo, estas mega-ciudades también

de la superficie acuática (360 M km2, 71%) y la

generan grandes volúmenes de residuos (domésticos,

terrestre (150 M km2) interactúan intensamente

industriales, etc.) que muchas veces también son des-

a lo largo de 1.634.701 km que en su mayoría son pla-

echados a través del mar (Tett et al., 2011). Si bien me-

yas arenosas (Burke et al., 2001; McLachlan & Brown,

nos del 4% de la población mundial reside actualmente

2006; Martínez et al., 2007).

en estas mega-ciudades costeras, su rápido desarrollo, la gran densidad de habitantes que generan y los

En 2004 cerca de 3 mil M de seres humanos habita-

altos niveles de consumo que caracterizan a dichos

ban en los primeros 230 km de la franja costera, lo

habitantes, hacen que estos asentamientos generen

que implicaría que casi un 50% de nuestra especie

grandes impactos en el medioambiente costero (Seko-

estaría residiendo en apenas el 10% del área terrestre,

vsky et al., 2012).

con densidades medias 2,5 veces mayores que las del resto de las zonas terrestres del planeta (UNEP, 2004

Esta concentración generalizada en la zona costera

en Tett et al., 2011). En este sentido, en el año 2012 las

está enmarcada en la rápida expansión de la pobla-

cinco áreas metropolitanas más populosas del mun-

ción humana y en el modelo de desarrollo y crecimien-

do se situaron en la zona costera teniendo importan-

to global actual predominante. Ambos factores han

tes puertos industriales: Tokio (31,5 M de habitantes),

sido los principales responsables de enormes impac-

Yakarta (28 M de habitantes), Seúl (25,5 M de habitan-

tos en los ecosistemas costeros y por ende en las pla-

tes), Karachi (24,1 M de habitantes) y Manila (21,9 M de

yas (McLachlan & Brown, 2006; Defeo et al., 2009; Tett

habitantes) (Figura 1).

et al., 2011).Esta tendencia formaría parte de lo que a escala global ha sido bautizado por diversos científi-

Estas mega-ciudades costeras son gigantes vórti-

cos como Antropoceno, una nueva época geológica

ces que atraen y concentran grandes cantidades de

en la que estaríamos entrando (Crutzen & Stoermer,

alimento, agua, energía y materias primas de todo el

2000; 2010).

mundo, que llegan hasta ellas por vía marítima que al día de hoy es la principal ruta de transporte de mer-

62

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

FON TE: sven -sch e u e rme i e r F O N T E: i k no w t he pi l o t . c o m

F i g u r a 1 : L a s c i n c o c i u d a des m รก s po p u l o s a s d e l m u n d o s e e n c u e n t r a n u b i c a d a s e n l a zo n a c o s t e r a ( m e g a -c i u d a d e s co s t er as : de To k i o : 3 1 , 5 M d e h a bi t an t es a M a n i l a : 2 1 , 9 M de h a b i t an t es ).

63

Este término se refiere al intervalo de tiempo actual

satisfacer más necesidades, también ha generado un

en el que muchos procesos y condiciones geológica-

gran deterioro medioambiental (Carballo & Villasante,

mente significativas (e.g. ciclo del agua, ciclos de los

2009). Esto se debe a que dicho crecimiento econó-

gases y elementos fundamentales) están siendo pro-

mico se ha hecho desde una perspectiva que sostiene

fundamente alterados por las actividades humanas (Fi-

que el capital natural puede ser sustituible por el capi-

gura 2). Si bien indefectiblemente todas las actividades

tal humano. En este sentido, el actual modelo de creci-

realizadas por los seres

miento no ha considera-

vivos afectan de algu-

do que ciertos recursos

na manera nuestro en-

no son renovables, o

torno, la Humanidad ha

que ciertos bienes y ser-

provocado disrupciones

vicios ambientales son

en los grandes ciclos

insustituibles (e.g. capa

biológicos, químicos y

de ozono, regulación del

geológicos, a través de

clima). Asimismo, tam-

los

elementos

poco ha reparado en

fundamentales como el

que este desarrollo pro-

Carbono o el Nitrógeno

duce desechos que de-

circulan entre la tierra,

ben ser absorbidos por

el mar y la atmósfera.

algún sumidero natural

De esta manera el ser

que

humano a influido de tal

tiene una capacidad li-

manera en el funciona-

mitada (EEA, 2006).

cuales

indefectiblemente

miento del planeta Tierra que sería equiparable a las grandes fuerzas de to

the

F O N T E : J o n B er k e l e y.

la Naturaleza (Welcome Anthropocene,

http://www.anthropocene.info).

En las últimas décadas se ha producido un importante crecimiento económico en todo el planeta. Si bien ha sido desigual, beneficiando sobre todo a los países desarrollados, ha permitido a los habitantes acceder a más recursos, incluyendo recursos naturales, y disponer de más servicios. Si bien esto ha contribuido a que cada vez se puedan

64

P R A I A S | PR I NCÍ PI OS E DI R ETR I ZES PAR A GESTÃO

F i g u r a 2 : E l A n t ro p o c e n o , una nueva época geológica a l a q u e e s t a r í a e n t r a n do el planeta Tierra como re s u l t a do d e l a i n f l u e n c i a d e l s e r h u m a n o , qu e s e r í a e q u i pa r a b l e a l a s g r a n de s f u e r za s n a t u r a l e s .

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

FON TE: J oh n n y C h a u .

Este escenario se agrava si consideramos que ciertos impactos ambientales se acumulan y trascienden el ámbito geográfico en el que se efectúan, transformándose en problemas planetarios (e.g. cambio climático). En este sentido, la degradación de la zona costera es debida a diversos factores, algunos de origen local o regional, y otros que no son específicos del litoral ni de sus habitantes sino consecuencia de actividades y decisiones a escala mundial (Carballo & Villasante, 2009). Los procesos de globalización han crecido significativamente, con una intensificación del movimiento de mercancías y personas, que ha sido fomentado entre otros, por diversos adelantos tecnológicos. Por otra parte, los actuales modelos de desarrollo, basados principalmente en criterios de rentabilidad económica, han contribuido a la desaparición de actividades tradicionales centenarias que si bien actualmente no serían rentables económicamente, podrían serlo desde el punto vista de la sostenibilidad ambiental. Estos tres factores (globalización, crecimiento económico y desaparición/modificación de actividades tradicionales) han generado cambios en los comportamientos humanos y por ende en el desarrollo y la gestión de las zonas costeras (Carballo & Villasante, 2009). Así el desarrollo costero se ha convertido en un problema global, modificando los ecosistemas costeros y afectando a la vez los recursos que sostienen su propio funcionamiento (Sardá, 2009).

65

Específicamente a nivel de las playas, y estrechamente vinculados a los tres factores antes mencionados, se han descrito diversos forzantes que actuando a distintas escalas espaciales y temporales serían los principales generadores de impacto (Defeo et al., 2009):

USO RECREATIVO: las actividades recreativas en la zona costera se encuentra mayoritariamente concentradas en las playas. En las últimas décadas estas actividades se han visto potenciadas por el crecimiento exponencial de las poblaciones humanas en la costa, el aumento de la movilidad de las personas y la disponibilidad de tiempo libre (De Ruyck et al., 1997; Caffyn & Jobbins, 2003; Fanini et al., 2006 en Defeo et al., 2009); LIMPIEZA DE LAS PLAYAS: la limpieza de las playas es una práctica muy habitual, sobre todo en playas con alto uso turísticos. Salvo algunas excepciones donde la recolección se realiza de forma manual, la limpieza suele ser mecánica, rastrillando y tamizando la arena. Si bien existen distintos equipamientos que limitan la cantidad de arena perdida, además de retirar los residuos la recolección mecánica suele remover también los propágulos de plantas dunares y otras especies, además de perturbar los organismos que habitan en la arena (e.g. Dugan et al., 2003; Davenport & Davenport, 2006 en Defeo et al., 2009); REGENERACIÓN (Nourishment): más del 70% de las playas del mundo actualmente sufren problemas de erosión, y considerando la poca efectividad de las “obras duras” (e.g. espigones, rompeolas) para resolver este problema, la regeneración de playas (i.e. nourishment) ha sido la herramienta más utilizada. Si bien esta solución puede ser la más aconsejable del punto de vista económico y de conservación del suelo, la regeneración puede tener serias consecuencias a nivel de las playas (hábitats y biota) (e.g. Goldberg, 1988; Speybroeck et al., 2006 en Defeo et al., 2009);

66

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CONTAMINACIÓN: La contaminación es una cuestión seria para las playas, especialmente considerando sus valores recreativos. Los contaminantes incluyen una gran diversidad de materiales de origen humano, desde lo molecular a grandes residuos, afectando la fisiología, supervivencia, reproducción y el comportamiento de las distintas especies, incluyendo el ser humano (e.g. McLachlan, 1977; Noble et al., 2006 en Defeo et al., 2009). Esta contaminación puede generar así mismo grandes impactos en la percepción de los usuarios acerca de las playas, lo que podría generar importantes pérdidas a nivel de la industria del turismo (Tudor & Williams, 2006; Roca et al., 2009; Lozoya et al., 2014); ESPECIES INVASORAS: Las actividades humanas que podrían ser vectores para la introducción de especies invasoras en las playas no son algo reciente, como por ejemplo el intercambio de grandes cantidades de arena de lastre en la orilla durante el mantenimiento de buques.Como resultado de estas introducciones, especies invasoras de micrófitos han colonizado zonas inter-mareales en diversas regiones costeras del mundo (Inderjit et al., 2006 en Defeo et al., 2009); EROSIÓN COSTERA: el creciente uso de la zona costera por parte de las poblaciones humanas tiene como consecuencia una intensificación del desarrollo urbano en la Zona Litoral Activa, implicando una adecuada gestión de esta zona (ver más detalles sobre la ZLA en sección 2). Sin embargo estos desarrollos generalmente implican la alteración del balance sedimentario que debería nutrir las playas. Como resultado la mayoría de las zonas costeras modernas del mundo sufren en la actualidad un incremento en las tasas de erosión (e.g. Nordstrom, 2000; Cooper & McKenna, 2008 en Defeo et al., 2009; Jiménez et al., 2011).

CAMBIO CLIMÁTICO: si bien la magnitud de las alteraciones debidos al cambio global y específicamente al cambio climático aún siguen siendo inciertas, las respuestas ecológicas son cada vez más evidentes en el caso de

FO N T E: F e d e ri c o G i a mp i e r i .

las playas (Brown & McLachlan, 2002; Jones et al., 2007a en Defeo et al., 2009).

67

FO N TE: Ze n y R osa l i n a .

Sin embargo, en paralelo a esta creciente presión sobre los ecosistemas naturales, las sociedades humanas y las economías globales dependen cada vez más de los servicios y beneficios ambientales que estos ecosistemas nos proveen gratuitamente. Es por ello que resulta fundamental que estos ecosistemas se restauren y conserven sanos, funcionales y resilientes (ver Box 1).

68

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BOX 1- “CIENCIA DE LA SORPRESA” La Resiliencia es un atributo de cada sistema, vinculado a la capacidad de amortiguar, la habilidad de absorber perturbaciones o la magnitud de disturbio que puede ser absorbida por un sistema antes de que éste cambie su estructura alterando las variables y procesos que controlan su comportamiento (Holling et al., 1995). Un ecosistema resiliente puede soportar choques y reconstruirse cuando sea necesario (Resilience Alliance http://www.resalliance.org). En 1986 Holling plantea la existencia de patrones generalizados de cambios inesperados y crisis en diversos recursos naturales. Este fue el comienzo de la “ciencia de la sorpresa”. Esto se corresponde con el período histórico donde la gestión de recursos naturales explotables se basaba en maximizar la producción y satisfacer así las demandas de los mercados y los objetivos económicos. La gestión pretendía controlar el recurso natural, reducir su variabilidad natural y mejorar así la eficiencia de explotación. Estas políticas de gestión fueron exitosas a corto plazo, pero generaron cambios imperceptibles en el funcionamiento de los ecosistemas, facilitando la ocurrencia de estas “sorpresa”. La ocurrencia de estas “sorpresas” estaría vinculada a la perdida de Resiliencia ecológica. Esta gestión a corto plazo habría inmovilizado al ecosistema, bloqueando su variabilidad natural y pequeños procesos de retroalimentación (feedbacks) que serían fundamentales para amortiguar los cambios. Como resultado, feedbacks más grandes y menos predecibles habrían ocurrido finalmente, afectando la funcionalidad del ecosistema y así los recursos y servicios que este provee (Berkes & Folke, 1998).

69

3. EL SISTEMA COSTERO EN CONTINUO CAMBIO Daniel de Álava, Dr.

C e n tro In t erd is c i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r C e n tro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Es t e – U n i v e r si da d de l a Re pú bl i ca (U r u gu a y )

L

o que percibimos como “la costa” es el resultado

el Holoceno en los últimos 10 mil años-, hasta la ac-

de un delicado y complejo estado dinámico, pro-

tualidad, se relacionan con factores climáticos y ge-

ducto de la interacción de energías, materiales,

omorfológicos de escala regional. En especial debe-

formas estructurales y también culturas. Si observa-

mos considerar la presencia de extremidades duras

mos la costa a escala global, vamos a encontrar una

y sus dimensiones -como las puntas rocosas-, el tipo

alta diversidad e interacción entre unidades ambienta-

de materiales que se encuentra presente (i.e. rocas,

les. Costas con hielos en altas latitudes, con acantila-

arenas, limos, arcillas), la topografía expuesta y sub-

dos, costas rocosas, coralinas, estuarios, costas con

marina, el régimen y potencia de vientos, la altura e

manglares…. costas arenosas. Inclusive podemos ac-

incidencia del oleaje, la disponibilidad de sedimen-

tualmente observar costas totalmente transformadas

tos y también las actividades humanas. Estas últimas

por distintas actividades humanas, hasta “costas de

en particular, constituyen forzantes con potencial de

infraestructuras”, por ejemplo en el caso de grandes

alterar la estructura del sistema costero, de generar

puertos donde la costa previa a las actividades y sus

disturbios y presiones que finalmente pueden llegar a

transformaciones es ahora irreconocible. Entonces la

constituir importantes impactos ambientales negativos

costa puede percibirse también como un espacio pro-

e imposible de revertir.

blemático y conflictivo. La zona costera es por tanto un sistema altamente dinámico, donde las activida-

A modo de ejemplo para comprender los procesos y

des humanas no siempre se ajustan con las fuerzas

dinámicas que tienen lugar en el sistema costero y te-

o forzantes que determinan su estructura. Es posible

niendo en cuenta nuestra región, nos concentraremos

reconocer que en cualquier país la zona costera se ex-

en el caso de las costas conformadas por playas are-

tiende desde el límite marino (plataforma continental

nosas. De este modo, las costas formadas por playas

y mar territorial que implica fronteras ecosistémicas y

arenosas están constituidas, desde el punto de vista

jurídicas) hasta sus límites geopolíticos al interior del

ecológico, por dos componentes: (1) un ecosistema

continente (frontera socio-demográfica). Existen nu-

marino controlado por la acción del oleaje y habitado

merosas definiciones en cuanto a la zona costera, una

por biota marina; y (2) un ecosistema terrestre con-

de ellas la considera como una ecoregión de interac-

trolado por la acción del viento, habitado por biota

ciones: físicas, biológicas y socioeconómicas, donde

terrestre (McGwynne & McLachlan, 1992). Ambos sis-

ocurre un intercambio de energía y materiales entre

temas, si bien distintos, interactúan en una única uni-

ecosistemas terrestres, las cuencas que drenan agua

dad geomorfológica llamada “Zona Litoral Activa” (en

dulce, la atmósfera y el océano.

adelante ZLA, fig.3). La ZLA constituye una interface entre el océano y el continente, en un estado de equi-

Pero qué hace que la costa sea lo que es y esté en el

librio, pero dinámico de acuerdo a cómo resulta ese

estado que la percibimos? Una respuesta la podemos

intercambio de materiales y energía entre mar y tierra,

encontrar si nos detenemos a observar y compren-

donde los sedimentos se mantienen constantemente

der las variables, fuerzas o forzantes más importantes

en movimiento (Tinley, 1985; McGwynne&McLachlan,

que modelan la costa. Los procesos dinámicos que

1992). Podemos diferenciar en la ZLA tres unidades

continúan esculpiendo la costa -especialmente desde

que mantienen cierta homogeneidad, tanto física como

70

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biológica: (1) ZLA inferior (ZLA-INFRA), que se extiende

y (3) ZLA superior (ZLA-SUPRA), que se extiende des-

desde donde rompen las olas en la playa (swash) hacia

de las dunas frontales hacia el interior del continente,

zonas más profundas donde predomina la energía del

donde finaliza el transporte de arena por el viento, con

oleaje y con capacidad de movilizar los sedimentos del

un predominio de las energías eólicas y dinámicas de

fondo; (2) ZLA media (ZLA-MESO), comprendida entre

cauces fluviales y pluviales (de Álava, 2007) (Figura 3).

el swash y las dunas frontales (cordón litoral primario), con una interacción de la energía del oleaje y la eólica;

ZLA INFRA

ZLA MESO

ZLA SUPRA

U N I D A D G E OM OR FOLÓGI CA - ZLA de Álav a 2 007, a da pta do de T i nl ey (1985) e Me c Gwynne & M cLa chl a n (1992)

Figu ra 3: C onc e p to d e Zona Litor a l Ac tiva ( Z L A ) . A d a p t a do d e T i n l e y ( 1 9 8 5 ) y M c G w y n n e & M c L a c h l a n (19 92 ). ZLA I NFR A: d e sd e la z ona d e sw a s h h a s t a d o n d e l a e n e rg í a d e l o l e a j e t i e n e c a pa c i da d de movilizar se d im e ntos d e l f ond o ( p re d om i n a l a e n e rg í a m a r i n a ) . Z L A M E SO : c o m p re n d i d a e n t re l a zon a de sw a sh y d una s f ronta le s ( inte r a cc i ó n de e n e rg í a m a r i n a y e ó l i c a ) . Z L A SU PRA : s e e x t i e n d e desde las duna s f ronta le s ha c ia e l inte r i o r de l c o n t i n e n t e ( p re do m i n a l a e n e rg í a e ó l i c a y d i n á m i c a s de c a uc e s p luvia le s y f luvia le s) do n de f i n a l i za e l t r a n s po r t e d e a re n a p o r e l v i e n t o .

71

Tanto en el tiempo como en el espacio, este modelo

Es posible comprender la evolución y los cambios de

expresa dinamismo, movilidad, plasticidad y cambio

la ZLA tomando por ejemplo la posición de la línea de

en las estructuras geomorfológicas como producto de

costa por erosión o acreción, que depende del balan-

la interacción de energías entre el océano, la atmósfe-

ce de sedimentos que pueden ser transportados (flujo)

ra y el continente. Es posible modelar en tres grandes

entre sistemas. Aquí intervienen cuatro dinámicas fun-

sistemas esta interacción (Figura 4):

damentales (Figura 4):

1. El transporte eólico de sedimentos desde el sis-

SISTEMA MARINO-COSTERO: incluye bancos de

rompiente e interfaces submarinas y aéreas;

tema dunar a las vías de drenaje (flecha 1 superior, Figura 4);

2. El transporte eólico de sedimentos entre el sis-

SISTEMA FLUVIO-PLUVIAL: representado por

cauces permanentes y semipermanentes (ríos arroyos

tema dunar y la zona de playa (flecha 1 inferior,

y cañadas);

Figura 4);

3. El transporte de sedimentos desde los cauces SISTEMA DUNAR: dunas móviles y cordones litorales

permanentes y semipermanentes hacia la zona

o frontales de playa.

de playa y zona submarina contigua (flecha 2, Figura 4);

Los flujos de energía entre estos tres sistemas en con-

4. El transporte de sedimentos (arenas y bioclastos,

junto con las forzantes antes descriptas (i.e: extremi-

materiales de degradación de los frentes roco-

dades rocosas, clima de oleaje, régimen de vientos,

sos y barrancas costeras) por corrientes de deri-

disponibilidad de sedimentos, actividades antrópicas)

va litoral (CDL) a nivel de los arcos de playa y de

constituyen procesos dinámicos que continúan escul-

las unidades fisiográficas (Silvester & Hsu, 1993)

piendo la costa en la actualidad.

(flecha 3, Figura 4).

SISTEMA DUNAR SDI: Dunas Transversais SD2: Dunas frontais

1

3

TRANSPORTE EÓLICO

1

SISTEMA FLUVIAL - PLUVIAL SFP1: Canais Permanentes SFP2: Canais Semipermanentes

TRANSPORTE CORRENTES DERIVA LITORAL SISTEMA MARINHO - COSTEIRO Bancos rebentação Interfaces submarinas e áreas

Configuração espacial e evolução da ZLA

3

2

Balanço Sedimentar

de Á l a v a , 2 0 0 2 , 2 0 0 7 .

Figura 4: M ode lo d e f lujos e ntre los siste ma s a c t u a n t e s a e s c a l a de pa i s a j e c o s t e ro . L a s f l e c h a s i n d i c a n l o s transportes de se d im e ntos e ntre siste ma s: ( 1 ) t r a n s po r t e e ó l i c o , ( 2 ) t r a n s p o r t e f l u v i o -p l u v i a l , ( 3 ) t r a n s po r t e por corrient es d e d e r iva litor a l. Duna s tr a n s v e r s a l e s ( SD 1 ) , d u n a s f ro n t a l e s ( SD 2 ) , c a u c e s pe r m a n e n t es ( S FP 1) , c a uc e s se mip e r ma ne n t e s ( SF P2 ) . A d a p t a do d e d e Á l a v a ( 2 0 0 2 ; 2 0 0 7 ) .

72

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Surge entonces que las playas dependen de que esos

forestación.

flujos (representados por flechas en la figura 4) y de

y en situaciones “norma-

que ese ciclo no se interrumpa. Mediante este modelo

les”, durante períodos estiva-

es posible comprender el estado actual de un arco de

les predominan los procesos

playa partiendo de una situación previa y también pre-

de acreción (crecimien-

decir cómo puede evolucionar frente a posibles cam-

to de la playa) ya que la

bios, disturbios y alteraciones en los flujos de energía

energía marina es menor y

y por tanto de materiales. Un ejemplo que podríamos

predomina la deposición de se-

marcar de “clásico” es el caso de la forestación y la ur-

dimentos, mientras en períodos

banización sobre dunas, que reducen la plasticidad y

invernales donde la energía

capacidad de adaptación a las forzantes naturales de

marina es mayor predominan

la zona litoral activa (endurecimiento de la costa), lle-

los procesos erosivos (retracción

vando a un déficit de sedimentos disponibles en todo

de la playa).

En

general

el sistema. Con el paso del tiempo, uno de los resultados es por ejemplo la erosión de playas.

La conservación del estado dinámico de la ZLA es la forma más eco-

Es posible reconocer dos situaciones o tipologías de

nómica de protección frente a

playas bien contrastadas y esto depende de cómo se

posibles impactos, como por

realiza la pérdida de energía por el oleaje que llega a

ejemplo, la posible adapta-

la costa. Es un proceso disipativo por unidad de área

ción a cambios climáticos que

y la energía de las olas que llegan van disminuyendo

en estas latitudes implican la

en la medida que se aproximan a la costa. Esa energía

elevación del nivel del mar

que se pierde es la que tiene potencial de transportar

y el incremento de eventos

materiales como es el caso de las playas arenosas.

de alta energía como las de-

La ZLA actúa también como una matriz disipativa del

presiones extra-tropicales que

oleaje, en el sentido que al romper las olas van des-

generalmente van acompa-

cargando su energía. Los tipos de playa en este sen-

ñadas de intensas precipi-

tido van de un estado de alta disipación de energía

taciones.

del oleaje, como por ejemplo en playas expuestas o

complejas dinámicas que han

donde el área de disipación de la energía marina es

interactuado por miles de años

reducido, hasta otro de baja disipación, como en el

entre atmósfera, océano y tierra y

caso de playas protegidas por una extremidad roco-

que resultaron en las playas que

sa, o donde existe un área extensa para la pérdida

hoy vivimos, nos presenta un ver-

de energía marina. Las características de cada uno de

dadero desafío en cuanto a si es

estas tipologías y sus formas intermedias condicionan

posible compatibilizar nues-

también las características y la distribución de la biota.

tras actitudes y activida-

Comprender

las

des con su conservación, Las playas cambian de forma y de estado, es posible

ahora y en el futuro.

reconocer ciclos si no hay disturbios humanos como las obras de infraestructura y la fijación de dunas por

73

4. LA BIOTA DE LAS PLAYAS ARENOSAS Estela Delgado, Dra. & Juan Pablo Lozoya, Dr.

C e n tro In t erd isc i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r C e n tro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Est e – U n i v e r s i da d de l a Re pú bl i ca (U r u guay )

L

as playas arenosas son ambientes físicamente rigurosos (ver sección 2) cuyas características morfodinámicas pueden variar entre estados de alta y baja disipación de energía del oleaje (Short & Wright, 1983; Short, 1996). Por tanto, cons-

tituyen hábitats muy dinámicos en sus condiciones físicas, tanto a meso-escala (desde el mar hasta las dunas) como a macro-escala (entre playas diferentes). Esto determina que las especies que los habitan estén altamente adaptadas tanto anatómica como fisiológicamente. La capacidad de gran movilidad, estructuras anatómicas que permiten un rápido enterramiento, exoesqueletos resistentes, comportamientos rítmicos, mecanismos de orientación, plasticidad conductual y reproductiva son algunas de las adaptaciones que presentan las especies a estas condiciones (Brown, 1996; Scapini et al., 2006; Delgado & Defeo, 2007, Delgado & Defeo, 2008, Defeo et al., 2009; McLachlan & Defeo, 2013).

La Zona Litoral Activa (ZLA) de estos ecosistemas, resultante de la interacción entre el componente marino y terrestre, presenta tres unidades físicamente diferenciables, infra, meso y supralitoral. Este gradiente físico existente desde el mar hacia las dunas, es el principal estructurador de los patrones de zonación y distribución de especies tanto espacial como temporalmente. En general, la macrofauna tiende a agruparse en parches y muestra un gradiente decreciente de distribución y composición de especies desde el infralitoral al supralitoral. Estas agregaciones se mantienen en el tiempo, pero pueden variar en el espacio en función de la susceptibilidad de cada especie, de sus componentes poblacionales y de las variaciones ambientales (Brazeiro & Defeo, 1996).

También las interacciones bióticas pueden ser significativas determinando la distri-

74

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bución de las especies, sobre todo en ambientes más benignos como las playas arenosas del extremo disipativo. Existen casos documentados donde la competencia intra-específica produce segregación espacial entre adultos y juveniles (Habitat Favorability Hypothesis, Defeo & McLachlan, 2005) y competencia inter-específica que estaría generando segregación espacial de especies (e.g. Excirolana armata y Excirolana brasiliensis en playas disipativas) (Martínez &D efeo, com. pers.)

En la ZLA inferior o infralitoral se encuentran los productores primarios de las redes tróficas de estos ecosistemas, representados principalmente por fitoplancton, macroalgas y fanerógamas (McLachlan & Brown, 2006). El 95% del fitoplancton está constituido por diatomeas (algas silíceas) que flotan libremente en la columna de agua (McGwynne & McLachlan, 1992) y constituyen el alimento de moluscos y crustáceos filtradores co-habitantes de esta zona. La mayoría de las playas del extremo disipativo presentan una gran abundancia de fitoplancton en la zona de “surf” debido a que la acción combinada de los mecanismos de circulación locales y la topografía de la zona de “surf” favorecen la retención de fitoplancton (Lewin & Schaefer, 1983) (Figura 5). Mientras que las playas reflectivas constituyen en su mayoría ecosistemas subsidiados con baja productividad primaria (McLachlan, 1980; Lewin & Schaefer, 1983; Defeo & Scarabino, 1990; Campbell, 1996; Dugan et al., 1994).

También en el infralitoral el zooplancton y algunos macro-invertebrados (e.g. camarones) pueden ser muy abundantes, propiciando que esta zona de rompiente sea F O N T E: M il a d a Vi g ero va .

importante como área de alimentación para los peces (Defeo et al., 2009).

75

La ZLA media o mesolitoral, comprendida entre el swash y las dunas frontales, donde existe interacción entre la energía del oleaje y la eólica alberga una gran diversidad de organismos, desde bacterias hasta macroinvertebrados (e.g. crustáceos, moluscos, poliquetos, insectos), abarcando la mayoría de los grupos tróficos (Defeo et al., 2009). Los intersticios entre los

Asterionella

granos de arena proveen un ambiente relativamente estable habitado por bacterias, hongos, protozoos y meiofauna. La producción primaria en esta zona es baja debido a que la luz solar puede penetrar muy poco la superficie de la arena por lo tanto la trama trófica está sustentada por la materia orgánica particulada y disuelta originada por la acción de las mareas y el oleaje (Brown & McLachlan, 1990; McGwynne & McLachlan, 1992).

Las bacterias adheridas a los granos de arena o libres entre ellos utilizan la materia orgánica y se reproducen rápidamente lo que sirve de alimento para ciliados, amebas y zooflagelados, los cuales también se alimentan de otros protozoos o componentes pequeños de la meiofauna(McGwynne & McLachlan, 1992).La meiofauna está constituida por pequeños metazoarios (45-500 µm) (McGwynne & McLachlan, 1992) principalmente por turbelarios (gusanos planos o platelmintos), nemátodos (gusanos cilíndricos), oligoquetos (anélidos), co-

F i g u r a 5 : A g re g a c i o n e s de a l t a de n s i d a d d e d i a t o m e a s d e l g é n e ro A s t e r i o n e l l a p ro d u c i e n d o c o l o r a c i ó n a m a r ro n a d a e n l a pl a y a d i s i p a t i v a d e Ba r r a d e l C h u y, U r u g u a y. F o t o g r a f í a c o r t e s í a U N D E C I M A R.

pépodos y mistacocáridos (crustáceos) que cumple un rol fundamental como degradadores de materia orgánica, fijación y reciclaje de nutrientes, aportando energía a la trama trófica (McGwynne & McLachlan, 1992).

Los macroinvertebrados habitantes de la zona de swash están anatómicamente adaptados para cumplir sus funciones vitales de respiración, alimentación y reproducción en dichas condiciones (Figura 6). Muchas especies de moluscos bivalvos y crustáceos decápodos son típicos habitantes de la zona de swash de las playas arenosas (McGwynne & McLachlan, 1992). Los moluscos bivalvos habitantes de sustratos arenosos presentan un pie muscular bien desarrollado que les permite un rápido enterramiento en la arena luego que la ola se retira. Asimismo un gran número de especies presentan sifones inhalantes y exhalantes (de mayor o menor longitud) que permiten el ingreso de agua rica en oxígeno y fitoplancton a la cavidad paleal y a las

76

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branquias. De esta forma pueden realizar el intercambio gaseoso y captar los nutrientes mientras permanecen enterrados bajo el sedimento. Las especies de bivalvos del género Donax dominan la comunidad macrofaunística en términos de biomasa en playas oceánicas expuestas de todo el mundo (revisión en McLachlan et al., 1996). Estos organismos filtradores presentan una distribución intermareal (centrada en la zona de swash de la ola) o submareal somera, cumpliendo un importante rol en la estructura trófica de las playas (Ansell, 1983; McLachlan et al., 1996).

Las especies del género Emerita son crustáceos característicos de playas arenosas expuestas desde climas templados a tropicales (McLachlan, 1983; Contreras et al., 1999; Defeo & Cardoso, 2002; 2004). Muchas especies del género Emerita constituyen los inverte-

P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

A

B

C D

F i g u r a 6 : a . Vi s t a d el Mesolitoral de la Zona L i t o r a l A c t i v a d e la P l ay a d e Ba r r a d e l C h u y, U r u g u ay, b . D o n a x h a n l e y a nu s ; c.

M e s o de s m a m a c t ro i des ; d . E m e r i t a b r a s i l i en s i s , m a c ro i n v e r t e br a d os h a bi t a n t e s d e l a z o n a de swash.

brados mejor adaptados a los ambiente de swash de

tengan un mayor tamaño y desarrollo que les permita

playas arenosas. Su exitosa adaptación a este tipo de

sobrevivir en estas condiciones inhóspitas (Martínez &

hábitat está dada tanto por su comportamiento ex-

Defeo, 2006).

cavador y su alimentación por filtración (mediante un par de anténulas plumosas) como por su particular

En el contexto de ecología de playas arenosas, el para-

biología reproductiva y su complejo patrón de historia

digma central predice que, a nivel de las comunidades

de vida (Subramoniam, 1987; Subramoniam & Guna-

macrofaunísticas, la diversidad de especies, la abun-

malai, 2003; Delgado & Defeo, 2006; Delgado, 2007;

dancia total y la biomasa, aumentan desde playas re-

Delgado & Defeo, 2008).

flectivas a disipativas (McLachlan & Dorvlo, 2005). Este paradigma ha sido fundamentado principalmente por

La ZLA superior o supralitoral, comprendida desde las

la Hipótesis Autoecológica (Noy-Meir, 1979) aplicada a

dunas frontales hacia el interior del continente, puede

playas arenosas (HA: McLachlan, 1990) y la Hipótesis

presentar comunidades herbáceas de muy bajo por-

de Exclusión de Swash (HES: McArdle & McLachlan,

te, adaptadas a las condiciones de desecación y con

1991; McLachlan et al., 1993). La HA establece que las

gran desarrollo radicular, que cumplen un importante

comunidades están estructuradas por las respuestas

rol en la estabilización de las dunas. Además el su-

individuales de cada especie a las variaciones en el

pralitoral suele ser una zona importante de anidación

ambiente físico, siendo mínimas las interacciones bio-

de tortugas y aves costeras. En las playas reflectivas

lógicas. En consonancia con la HA y restringiéndose a

el supralitoral constituye un hábitat favorable para los

la zona de vaivén de la ola (swash), la HES predice que

invertebrados (Habitat Safety Hypothesis, Defeo &

la exclusión de especies hacia el extremo reflectivo del

Gómez, 2005). Por ejemplo los crustáceos isópodos

gradiente morfodinámico es debida a la rigurosidad

de la especie Excirolana braziliensis presentan un ci-

del ambiente intermareal y al tamaño del sedimento,

clo de vida directo como adaptación a este tipo de

lo que refleja la estrecha relación entre los atributos

ambiente. Las hembras incuban pocos embriones en

comunitarios y las variables físicas (McLachlan, 1990;

una estructura semejante a un “marsupio” formada

Defeo et al., 1992; McLachlan et al., 1993; Jaramillo et

por prolongaciones corporales (osteguitos), donde se

al., 2000; Rodil & Lastra, 2004; McLachlan & Dorvlo,

cumple todo el desarrollo de las crías; de esta for-

2005; Lercari & Defeo, 2006).

ma la especie se asegura que las crías recién paridas

77

5. LAS PLAYAS COMO SISTEMAS SOCIO-ECOLÓGICOS Juan Pablo Lozoya, Dr.

C e n tro In t erd isc i pl i nari o Manejo Co s t e ro I n t e gr a do de l C o n o Su r C e n tro Un iv ersi tari o de l a Regi ón Est e – U n i v e r s i da d de l a Re pú bl i ca (U r u guay )

F

rente a la inminente necesidad de lograr un mo-

nan constantemente en diferentes escalas espaciales

delo de desarrollo sostenible basado en un enfo-

y temporales. Un SES está compuesto por una unidad

que sistémico integral (i.e. Enfoque Ecosistémico,

bio-geo-física y los actores sociales e instituciones

Gestión Basada en los Ecosistemas), y considerando

asociados. Son sistemas complejos y adaptativos, y

el vínculo intrínseco que existe entre Sociedad y Natu-

están delimitados por fronteras espaciales o funciona-

raleza, surge el concepto de Sistema Socio-ecológico

les que rodean determinados ecosistemas y las pro-

(SES, Berkes & Folke, 1998).

blemáticas de su contexto (Glaser et al., 2008). De esta manera los ecosistemas sanos y funcionales proveen

Este concepto enfatiza la perspectiva “del ser humano

la matriz biofísica y los servicios ecosistémicos que

en la naturaleza”’, con los ecosistemas integrados en

permiten el desarrollo social y económico. Sin embar-

la sociedad humana. Actualmente es imposible con-

go, estos ecosistemas son (y han sido) a su vez modi-

cebir “Naturaleza sin Sociedad y Sociedad sin Natura-

ficados y adaptados por las decisiones y las acciones

leza”, y no existen ningún sistema natural sin impacto

humanas (directas o indirectas), las que en definitiva

humano y ningún sistema social sin naturaleza. Los

afecta las capacidades del sistema de sustentar el de-

sistemas sociales y ecológicos no solo están vincula-

sarrollo social (Figura 7).

dos, están realmente interconectados y co-evolucio-

SISTEMAS SOCIECOLÓGICOS

PRESSÕES

SISTEMAS SOCIAIS

SISTEMAS NATURAIS

Instituiões

Estruturas dos ecossistemas

Organizações

Funcionamento dos ecossistemas

Desenvolvimento Humano PULSOS

BENS E SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS

F i g u r a 7 : D i a g r a ma e s q u e m á t i c o de u n Si s t e m a So c i oe c o l ó g i c o ( a da pt a do d e Sa rd á , 2 0 1 3 ) .

78

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P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

FO N TE

M a s s i m o Vi t a l i

79

Es en este sentido, que Tett y colaboradores (2011)

sideren todas las dimensiones y que incluyan todos

plantean que la gestión los sistemas socio-ecológi-

los actores involucrados (i.e. población, sector priva-

cos, y en especial de aquellos ubicados en las zonas

do, distintos niveles de gobierno y academia). En este

costeras debido a la diversa coincidencia de intereses,

sentido, la comunicación ha sido destacada como una

actores y jurisdicciones, debería aspirar a “encontrar

instancia fundamental, pero con especial énfasis en la

soluciones ecológicamente sostenibles, socialmente

consulta ya que este diálogo debe ser bidireccional y

equitativas y económicamente rentables”. Es por ello

no meramente comunicativo desde gestores a acto-

que la comprensión y gestión de las zonas costeras, y

res. La GIZC ha sido reconocida como un componen-

en particular las playas, requieren esfuerzos conjuntos

te inherente y necesario del desarrollo sostenible de

de al menos tres disciplinas académicas, cada una de

las playas y otras zonas costeras, y viceversa (Chua,

ellas con miradas muy particulares: i) la Economía: que

1993; Vallega, 1993; Cicin-Sain et al., 1995). Con el ob-

concierne la manera en que los seres humanos pro-

jetivo de alcanzar un balance sostenible entre el desar-

ducen y utilizan los recursos para satisfacer sus nece-

rollo de las sociedades humanas y la calidad y salud

sidades de bienestar, ii) la Sociología: que describe y

de los ambientes costeros, el principal objetivo de la

analiza las actividades sociales humanas y sus institu-

GIZC es “mejorar la calidad de vida de las comunida-

ciones, y iii) la Ecología: que pretende comprender el

des humanas que dependen de los recursos costeros,

rol de los seres vivos en el funcionamiento del mundo

manteniendo la diversidad biológica y la productividad

natural (Tett et al., 2011).

de los ecosistemas costeros” (GESAMP, 1996; Olsen et al., 1997).

Estas estrategias integradas surgen como resultado gestión ambiental. De estar centrada exclusivamente en los recursos explotados (gestión tradicional, 70s-80s) la gestión ha pasado a enfocarse en las fuentes que generan dichos recursos (Gestión Basada en los Ecosistemas, EBM 90s) y además en los vínculos

FO N TE : J ul i a C a mp os.

de una evolución en los principales paradigmas de la

con las sociedades que utilizan (y a su vez afectan) los mismos (SSE, 2000s) (e.g. Colby, 1991; Grumbine, 1997; Cheong, 2008; Curtin & Prellezo, 2010). A su vez, en estas últimas décadas la gestión y gobernanza de bienes públicos se ha complejizado progresivamente.

Si bien las agencias gubernamentales continúan teniendo el protagonismo en esta gestión, comienzan a ser sólo uno de múltiples actores. Estos procesos de gestión son por ende más equitativos, pero también más complejos, debido al imprescindible abordaje interdisciplinario necesario para analizar e incorporar todas las dimensiones del sistema.

La necesidad de integración en la gestión es una característica de la Gestión Integrada de Zonas Costeras (GIZC ó ICZM por sus siglas en inglés) que desde sus inicios, y sobre todo desde la década de los 90´s cuando fue respaldada por la Convención de Río (1992), plantea la necesidad de procesos integrados que con80

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La s p lay as y los Servi ci os Ecosi sté m i cos directa con el bienestar humano propuesto por la EM

para las sociedades humanas, brindando diversos

ha sido pionero en la investigación medioambiental

bienes y servicios que contribuyen directamente al

(ver Box). A partir de esta aproximación resultan mu-

bienestar del ser humano. Conocidos como servicios

cho más claras las consecuencias a nivel económico,

ecosistémicos (SE) han sido definidos como “el be-

social y del bienestar humano de los perjuicios sobre

neficio directo o indirecto que el hombre obtiene de

los ecosistemas. Incorporando además una dimensión

los ecosistemas” (MEA, 2005). La Evaluación de los

económica, este concepto provee información funda-

Ecosistemas del Milenio (EM) fue fundamental para el

mental para los gestores frente a la implementación

desarrollo de este concepto, siendo uno de sus prin-

de políticas efectivas de conservación que contribuyan

cipales logros la inclusión de los SE en la agenda glo-

al bienestar social y desarrollo sostenible (de Groot,

bal sobre sostenibilidad. El análisis de la gestión de

1992; 2010; Costanza et al., 1997; Boyd & Banzhaf,

recursos naturales a través de los SE y su vinculación

2006; Fisher & Turner, 2008; Nahlik et al., 2012).

F O N T E: Ma s s i m o Vi t a li .

Los ecosistemas costeros resultan fundamentales

81

BOX 2- LOS SERVICIOS ECOSISTÉMICOS Y EL BIENESTAR HUMANO La Evaluación de los Ecosistemas del Milenio (EM) define los servicios ecosistémicos como los beneficios que las personas obtienen de los ecosistemas, distinguiendo cuatro grandes categorías: i) los servicios de aprovisionamiento, ii) los servicios de regulación, iii) los servicios culturales, y iv) los servicios de soporte. Si bien la especie humana amortigua los efectos de los cambios ambientales a través de la cultura y los adelantos tecnológicos, sus sociedades siguen en la actualidad dependiendo del flujo de servicios que proveen los ecosistemas (MEA, 2005).

Serviços dos ecossistemas Aprovisionamento Alimento Água doce Madeira e fibra Combustível

De apoio

Ciclo de nutrientes Formação do solo Produção primária

Regulação

Regulação de clima Regulação de inundação Regulação doenças Purificação da água

Componentes do Bem-estar Segurança

Segurança pessoal Acesso seguro aos recursos Segurança frente a desastres

Materiais essenciais para uma vida decente

Suministros adequados Alimento nutritivo suficiente Acesso a bens

Liberdade e eleição e ação Oportunidade para poder alcançar o que um indivíduo valora fazer e ser

Saúde

Culturais

Estéticos Espirituais Educacionais Recreativos

Vida sobre a terra - Biodiversidade

Cor das Flechas Potencial para que medirem fatores econômicos

Fortaleza Sentir-se bem Acesso à ar e água limpos

Boas relações sociais

Coesão social Respeito mútuo Capacidade para ajudar a outros

Espessura das Flechas

Intensidade das conexões entre serviços dos ecossistêmicos e bem-estar humano

Fue nte : Eva lua c ión d e l o s E c o s i s t e m a s d e l M i l e n i o ( 2 0 0 5 )

82

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El marco conceptual propuesto por la EM ubica al ser humano como parte integral de los ecosistemas, planteando una interacción dinámica entre ellos, donde los cambios producidos por las actividades humanas afectan (directa o indirectamente) a los ecosistemas, modificando por ende el bienestar de las propias sociedades (MEA, 2005).

Engenharia ecológica

Serv iços Ecossistêmicos

Serviços de Aprovisionamento

Processos ecossistêmicos

Bem-estar humano

Serviços de Regulação

Serviços culturais

Restrições no acesso e uso

Fue nte : Ad a p t a do d e Be n n e t t e t a l . 2 0 0 9 .

83

Una playa sana y funcional brinda una gran canti-

garantizar las condiciones que permitan el desa-

dad de SE que son esenciales para el uso huma-

rrollo de dichas comunidades. La función recrea-

no de estos sistemas, que suelen agruparse en

tiva de las playas está relacionada con el papel

tres grandes funciones: de Protección, Natural y

de soporte físico de las distintas actividades re-

Recreativa (Ariza et al., 2010). La función de pro-

creativas y de explotación turística que cumplen

tección de las playas está directamente relacio-

estos sistemas. Para que sean funcionales desde

nada con la seguridad de las infraestructuras que

este punto de visa, las playas deben cumplir una

se encuentran en la parte trasera de la playa (o

serie de condiciones como ser ancho suficiente,

hinterland). La playa disipa/absorbe la energía del

condiciones seguras de baño o atractivas vistas

oleaje incidente durante el impacto de tormentas

y paisajes.

protegiendo así el hinterland y las infraestructuras.

En este sentido, para que la playa sea realmente

Si bien para las áreas costeras y específicamente

funcional, su porción emergida debe tener un an-

para las playas se han descrito diversos SE (e.g.

cho suficiente que logre proveer esta protección

MEA, 2005; Beaumont et al., 2007; Defeo et al.,

(Jiménez et al., 2011). Como se ha mencionado

2009; Brenner et al., 2010; Lozoya et al., 2011),

anteriormente, existen diversas comunidades bio-

quizás como los más característicos podrían des-

lógicas que habitan en estos sistemas. La fun-

tacarse:

F O N TE : J ul i a C am p os .

cionalidad natural de la playa estaría vinculada a

84

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AMORTIGUACIÓN DE EVENTOS EXTREMOS

Fundamental en la protección de infraestructuras en la parte trasera de la playa, frente a grandes fluctuaciones ambientales (e.g. tormentas, erosión, inundaciones).Es particularmente importante en zonas urbanas y está deter-

FON TE: L u i s Acost a .

FON TE: Ti mot h y M ei n b erg.

minado por las infraestructuras existentes.

HÁBITAT

Este servicio se relaciona con el matriz física que las playas proporcionan donde se desarrollan distintas comunidades biológicas (e.g. invertebrados bentónicos, aves locales y migratorias, tortugas, mamíferos marinos), incluyendo

F O N TE : S e t h D oyl e .

F ON TE : Bob Mor a e s.

el propio hábitat que estas puedan generar.

ALIMENTO

Las zonas costeras y las playas han sido tradicionalmente zonas muy ricas en alimentos, dando origen a diversas pesquerías artesanales (e.g. bivalvos, peces) pero también en épocas más actuales a un gran desarrollo de la pesca

F O NT E: C h a rl o t t e C o n ey be e r.

F O N T E : B ri an Er i c k s o n .

deportiva.

85

RECREACIÓN

Este servicio está directamente relacionado a la oportunidad de descanso, relajación y la estimulación del cuerpo y la mente que estos ecosistemas proveen. Este servicio además es la base de una inmensa industria a nivel mundial

FON TE: B ob M ora es.

FON TE: M a ssi mo Vi t a l i .

que resulta fundamental para el desarrollo económico de muchos países.

ESPIRITUAL, CULTURAL O HISTÓRICO

Si bien este servicio no siempre es considerado y valorado en su totalidad, los ecosistemas proveen una gran infor-

FO N TE : Bob Mor a e s.

FO N TE : c l oud vi sua l .

mación cultural, espiritual e histórica a través de sus características naturales.

ESTÉTICO

Este servicio está vinculado a las características del paisaje que lo hacen atractivo a partir del disfrute sensorial de

F O N T E: B o b Mo r ae s .

un sistema ecológico funcional.

La zona litoral han sido particularmente atractiva para el ser humano ya que además de proveer todos estos servicios, ha sido un lugar estratégico para la industria, la actividad comercial y el transporte (Tett et al., 2009).

86

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6. LAS PLAYAS A LO LARGO DEL TIEMPO

Briana Angélica Bombana & Luidgi Marchese

¹ Laboratóri o de Co n s e r v a çã o e G e s t ã o C o s t e i r a C e nt ro d e C iênc i as Tec nol óg i c as da Te r r a e do M a r – C T T M a r – U n i v e r si dad e d o Val e do I t a j a í – U N I VA L I

87

D o n de t odo h a emp ezad o…

H

eráclito, creador de la dialéctica, sostenía que

del hombre, distanciaba las poblaciones de su mar-

“nada es permanente, salvo el cambio”. En

gen. Corbin (1993) revisa inclusive las visiones de los

este sentido, las playas tanto del punto de vis-

griegos y romanos, encontrando muchas citas en la

ta de su morfología como de su uso por la población,

teología y en la literatura clásica sobre este temor y re-

se ajustarían a esta afirmación habiendo sufrido diver-

chazo por el mar y por las playas. Asimismo, las tierras

sas modificaciones a lo largo de la Historia.

costeras también eran consideradas inútiles para las actividades productivas desarrolladas en esta época,

A excepción de algunos períodos dispersos

por tratarse de suelos infértiles y muy salinos para la

de la antigüedad, como en la Roma antigua dónde

agricultura.

las villas balnearias al borde del mar eran utilizadas

para fines terapéuticos y deportivos, la costa de ca-

finales del siglo XV, esta concepción de la zona coste-

racterística expuesta ha sido mayormente vista como

ra ha empezado a modificarse y las zonas litorales eu-

un sitio inhóspito y hasta peligroso para las personas.

ropeas han comenzado a poblarse, principalmente las

Esta percepción se mantuvo por centenas de años y

costas más protegidas, ideales para el establecimiento

ha empezado a cambiar a partir del período de las

de puertos, que posteriormente fueron seguidos por el

grandes navegaciones.

desarrollo de actividades industriales (Martins & Vas-

Según Corbin (1993), historiador francés que cuenta

conselos, 2011). A pesar de esto, los pueblos y ciuda-

la historia de la playa en el imaginario occidental, an-

des aún tenían su mirada puesta hacia los continentes

tes del siglo XVII, la playa en Occidente era un lugar

y su construcción continuaba siendo “de espaldas al

tenebroso y poco codiciado. Los conceptos teológi-

mar”. Este hecho fue aún más importante en el con-

cos predominantes en esta época insinuaban imáge-

tinente americano dado que su ocupación y coloni-

nes monstruosas del océano, relacionando el mar con

zación comenzó generalmente desde las playas, utili-

los restos de una inundación enviada como un cas-

zando otras embarcaciones como principal medio de

tigo divino. Las características cambiantes del océa-

transporte para nuevas conquistas territoriales (Sabel

no, su poder de destrucción durante los temporales

en Urry, 2001).

Con el descubrimiento del nuevo continente, a

F O N T E: o o s u n Wo n .

y, en general, su imposibilidad de dominio por parte

88

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P L A Y A S | PRIC IPIOS Y DIREC TRIC ES PARA L A GE S T I Ó N

¿SABÍAS QUE… En Montevideo (Uruguay) la primera “planta” de la ciudad –dónde actualmente se ubica la “Ciudad Vieja”– fue pensada para ubicarse dentro de una muralla con casas que no miraban hacia la zona costera y portuaria porque ésta era entendida como una fuente de suciedad, enfermedades y “promiscuidad”?

Actualmente, en la capital uruguaya, el turismo de sol y playa es una importante fuente de ingreso económico durante los meses de verano.

En paralelo, el litoral había comenzado a causar curiosidad y el mar comenzaba a ser visto como un camino para llegar a lugares desconocidos, a nuevos conocimientos y nuevas conquistas (Martins & Vasconselos, 2011). A finales del siglo XVII surgieron los primeros estudios de oceanografía que han permitido conocer ese gran “enemigo” llamado océano. En la mitad del siglo XVIII: “el borde costero vuelve a adquirir una de sus antiguas funciones, siendo un nuevo lugar privilegiado de los enigmas del mundo.

Se frecuentaban estas zonas litorales para indagar sobre la evolución del planeta Tierra y los orígenes de la vida. Es en la costa donde mejor se puede leer la multiplicidad de ritmos temporales, percibir lo amplio de la escala temporal geológica, observar la indecisión de las fronteras biológicas y la incertidumbre de los reinos, así como las curiosas transiciones entre ellos” (Corbin, 1988).

Según el mismo autor (Cobin, 1993), también por la corriente teológica natural, la tendencia de rechazo frente a la costa empieza a cambiar. La mentalidad cambia en relación a la costa y especialmente a las playas, dejando de ser un lugar que produce rechazo y pasando a generar un deseo profundo.

De esta manera, se inicia la contemplación del amplio, sutil y relajante paisaje de playa. Un ejemplo de ello es que los autores de la época empiezan a incluir en sus textos y diarios de viajes la belleza de la costa, concediéndole un valor estético y artístico predominante.

89

LA LLEGADA DE L BA ÑO DE MA R

Por t ob el lo Be a ch, E d i nbu rg h. Ci rc a 19 0 5

En el continente europeo, la medicina fue la responsable por acercar el hombre al borde costero, atribuyen-

F i g u r a 8 : Po r t o Bel o Beach , E s c o c i a - 1 9 0 5 . F u en t e: F o t o s o bt e n i da s en i n t er n et .

do propiedades terapéuticas al agua marina. Mucho se hablaba sobre las propiedades benéficas del agua y del aire marino, estimulando las caminatas y cabalgatas en este ambiente. A partir de 1750, el baño de mar es considerado casi una medicina infalible para numerosas enfermedades. De esta manera, a mediados del siglo XIX se inició una fuerte costumbre, asociada a la aristocracia, de utilizar la playa para baños medicinales con diversos objetivos. Según Rubio (2005) esta tendencia iniciada en el norte de la Europa, rápidamente se extendió en el Mediterráneo. Por consiguiente, al uso contemplativo de la playa que ya existía se sumó el terapéutico, proporcionado por el aire limpio y las aguas marinas.

En este sentido, el baño de mar con fines terapéuticos en los litorales expuestos, surge en Francia e Inglaterra a mediados del siglo XVIII. Estos baños eran recetados y programados por los médicos, tenían una duración precisa y siempre debían tomarse acompañado por un profesional especializado en baños curativos (Figuras 10 y 11). Este uso terapéutico de las playas –que retomaba prácticas mucho más antiguas, defensoras del agua fría como favorecedora de la longevidad– se extendió a otros países europeos, provocando que estos balnearios fuesen codiciados por todas aquellas personas que sufrían alguna enfermedad, y que convivían en las condiciones de insalubridad características de los ambientes urbanos de esa época.

90

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Los baños en el agua de mar y la frecuentación de estas zonas se convirtieron en actividades recreativas y de ocio, cuando el mar, el sol y el paisaje costero co-

F i g u r a 1 0 : Po s t a l de l a P l ay a Po c i t o s , M o n t e v i de o , Ur u g u ay - 1 9 1 0 . F u e n t e : w w w. par l an ch . b l o g s p o t . c o m . br

menzaron a ser percibidos como escenarios capaces no solamente de restablecer las condiciones físicas, pero también las condiciones anímicas, espirituales y mentales de las personas. “en este momento, la figura de la playa se desdibuja, los mitos se entrecruzan, los estereotipos se acumulan en una confusa competencia. Las calidades respectivas de los elementos, las características de la topografía, la eficacia del equipamiento hospitalario, la amplitud de la red de sociabilidad y la riqueza de la vida cultural engendran una inestable distribución de méritos respectivos” (Corbin, 1988).

Si bien la utilización y el disfrute del agua del mar por parte de los bañistas ya había comenzado incluso antes de los estándares británicos, por ejemplo en co-

F i g u r a 9 : Po s t a l d e ConeyIsland, Nueva Yo r k , E E U U - 1 8 5 6 .

F u e n t e : c o n e y i s l a n dre a d e r. c o m

munidades de pescadores, en esa época las actividades eran principalmente el paseo y las conversaciones al borde del mar (Figura 10). En ese entonces el “baño de sol” no era tan importante, sobre todo debido a sus efectos nocivos sobre la piel, como la resequedad y las quemaduras.

91

… Y DEL BA ÑO DE SOL En el siglo XIX, en el continente europeo la playa asume definitivamente el rol de destino de las vacaciones, anunciando el “baño de sol” como benéfico (Figura 13). Este fenómeno se da especialmente en países como Inglaterra, Francia, Italia y España, a través de los Spas, de la práctica del yachting, de los bailes y de los paseos en la ribera del mar (MinTur, 2010). Según Williams & Micallef (2009), hace poco más de un siglo, la divulgación informal probablemente le dio trascendencia a algunas playas, en la medida que las clases ricas europeas realizaban el “Grand Tour” de Europa.

En estos itinerarios se incluían por ejemplo Deauville, Monte Carlo y Nice en Francia, la costa Amalfitana en

Primeramente, la consolidación de esta tendencia se da a través de la elite británica, que cuenta con un poder capaz de influir en las clases sociales más ba-

*Figuras 12

Italia y el Algarve en Portugal.

jas, como los burgueses, extendiéndose finalmente a la población en general. Por otra parte, la industrialización y los cambios sociales en el proletariado, especialmente con el advenimiento de las vacaciones y la mejora de las vías de transporte (Figuras 14 y 15), facilita el acceso a las ciudades litorales por lo que el visitante ya no es solamente de las clases más altas, popularizándose así la playa (MinTur, 2010). El boom de las vías férreas en el siglo XIX trajo la moda de los resorts costeros, permitiendo que una gran cantidad de trabajadores pudiesen pasar sus vacaciones en la costa (Williams & Micallef, 2009).

En este contexto, cabe señalar que frente a esta popularización del uso de las playas, surge un fenómeno de segregación social en dicho uso. Esto ocurre principalmente por parte de la aristocracia industrial europea, que no estaba dispuesta a compartir el mismo balneario con otras clases sociales. Así los usuarios de clases sociales “más altas” tendieron a seleccionar nuevos lugares, o en el caso de permanecer en el mismo, exigieron o fomentaron su clara separación, garantizada principalmente por las diferencias en las infraestructuras para los baños de mar. Esta segregación se mantuvo en el tiempo, e incluso en la actualidad es posible verla claramente en diversos destinos turísticos de sol y playa.

92

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F igura 1 1: “Don’t be a palef ace!”: P ublicidad de la crema protectora so lar Coppertone - D écada de 19 50 .

F uent e: Cardcow.

¿SABÍAS QUE...

En un principio, el uso de las playas para uso personal era realizado con la ayuda de una tercera persona? Puesto que los beneficios de este uso radicaban en el agua fría, salada, turbulenta y violenta, se contaba con los cuidados de un guardavida. Por lo tanto, era necesaria una prescripción médica, la compañía de un bañista auxiliar y una playa con una pendiente cuidadosamente seleccionada.

Figuras 12* e 13: Anuncios de las l í n e a s d e t re n br i t á n i c a s p a r a las ciudades costeras en la mitad del siglo XX. F u e n t e : Pi n t e re s t .

93

LA FUENTE DE OCIO

El inicio del prestigio de la faja litoral con relación al ocio aumenta aún más en los países del mar Mediterráneo donde, gracias a sus aguas más cálidas (en

F i g u r a 1 4 : P l ay a d e l C a j u , Ri o de J a n e i ro , Br as i l .

F u e n t e : s obr as a.o rg

relación al Reino Unido por ejemplo), la playa surge como es concebida en la actualidad (MinTur, 2010).

Pensado inicialmente para una demanda selectiva, es a partir de los años 60, con la factibilidad de los viajes aéreos (Williams & Micallef, 2009) que estos países empezaron a convertirse en lugares de atracción turística masiva, lo que perdura hasta la actualidad.

El turismo, de esta forma, se transforma entonces en un fenómeno social, con un crecimiento significativo de los flujos turísticos hacia el litoral (MinTur, 2010). Incluso, ciertos autores como Corbin (1988), argumentan que la moda de las playas ha sido un factor importante para consolidar el turismo moderno. Como consecuencia, hoy por hoy se percibe un gran contingente de personas viviendo y pasando sus vacaciones en la

La playa empieza a ser cada vez más visitada y habitada por comunidades humanas, y en la actualidad más del 60% de la población mundial vive en menos de 50 Km de costa. Sin embargo esa migración no ocurre exclusivamente debido a la playa, sino por el estímulo resultante de las oportunidades laborales ofrecidas en las grandes ciudades costeras que permiten el trabajo en los más diversos sectores, como puertos, turismo, entre otras actividades típicas (Barragán, 2003). A finales del siglo XX, la playa ya era la grande determinadora del turismo costero (Torres, 1997), una tendencia que ha dominado la primera década del nuevo milenio.

costa, es decir, teniendo un gran acceso al ambiente playa (Williams & Micallef, 2009).

94

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Respecto al continente americano, si bien existen registros del uso de las playas para baño de finales del siglo XIX y principios del siglo XX (e.g. playa de Caju en Río de Janeiro, Figura 17, que es el primer balneario de la ciudad y de Brasil), es durante la década del 60 y 70 (Figura 19) que se da el gran crecimiento e intensificación de esta actividad, asociado a la expansión de este turismo costero europeo hacia otros continentes.

Sin embargo, cabe destacar que en Brasil los primeros

¿SABÍAS QUE… El nacimiento de la arquitectura mirando al mar también ocurre en Siglo XIX (Figura 15), puesto que la contemplación del encuentro entre el mar y el continente se convierte en un deseo colectivo.

en utilizar las playas fueron pueblos originarios, como

F i g u r a 15 : P r ai a de Po c i t o s , Mo n t ev i déu , U r u g u a i - 1 9 3 8 . F o n t e: p u n t av i p.co m

los tupi-guarani que habitaban las playas de este país siglos antes de la llegada de los conquistadores portugueses. De acuerdo con la antropóloga e historiadora Marian Hilda Baqueiro Paraíso, especialista en historia indígena, estos pueblos vinieron de los Andes: algunos desde el sur y otros desde el norte. La vida de los indígenas en el borde del mar era exquisita: pesca, cosecha y pequeñas plantaciones; utilizando para moverse las Pirogas, una embarcación que sobrevive hasta nuestros días.

Con la llegada de los portugueses y otros europeos, la calma inicial se interrumpe, y combinado con la donación de las capitanías hereditarias, se inicia la colonización del Brasil basada en la esclavitud. Las playas fueron en ese entonces escenario de atroces matanzas, pero también de tórridas historias de amor y de algunos encuentros cordiales. Los indígenas fueron las primeras víctimas. Estos pueblos asistieron a la ocupación de sus tierras por parte de desconocidos que trajeron nuevas costumbres, suciedad, enfermedades, “progreso”, destrucción y violencia. Debido al comportamiento nómade de los indígenas y/o a las grandes

matanzas, los europeos comenzaron a comerciar y traer esclavos de África, que llegaron a las costas de América por el mar.

Si bien los indígenas siempre tomaran baño de mar, este hábito solamente fue incorporado por la población no indígena cuando, como comentado anteriormente, el rey D. João VI necesitó curarse con las aguas oceánicas. Él mismo, sin tener el hábito de los baños de mar, tuvo que ceder por tratarse de una recomendación médica, construyendo una residencia para sanar sus heridas en la costa carioca. De esta manera se impuso una moda, y a raíz de ello abrieron diversas casas de baño en Rio de Janeiro, e incluso las ropas utilizadas para los baños se transformaron en tendencias del beachwear. La diferencia es que, para ellos, en aquella época, ir a la playa era como ir al campo hacer un picnic, yendo en pequeños grupos y completamente vestidos.

95

Con el paso del tiempo y la llegada del fenómeno del “veraneo”, una cosa interesante sucedió: así como ya hacían los indios, empezamos a desnudarnos. De esta manera, a partir de los años 1960 y 1970, en la costa ocurre una amplia intensificación del segmento del turismo costero en todos los continentes del globo.

¿SABÍAS QUE...?

Uno de los últimos refugios en que permanecen preservadas algunas costumbres de las playas indígenas es en el área norte del estado de Bahia, al norte de Salvador, hasta la frontera con el estado de Sergipe. Actualmente, a pesar de las industrias, el alcantarillado, la basura, y la desforestación aún es posible encontrar lugares donde se vive la esencia del espirito playero indígena, incluso con transporte por barcos adaptados (Figura 18). Ocupada inicialmente por indígenas, después por aldeas jesuíticas y pueblos – que sobreviven de pesca y agricultura.

Figura 16: Re s qu í c i o s do s costumes praianos indígena.

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R io

d e

Janei ro

Década

de

60

Figu ra 17: Ip a ne m a , Rio de J a ne iro, Brasil - Dé c a d a de 19 60 . Fue nte : ch arly- s- ga r a ge .

97

La s d i versa s f unci ones d e l a s p l a y a s En la actualidad se reconoce que las playas, más allá del beneficio social y económico indudable que traen, principalmente relacionado al ocio, ellas también representan inspiración para el desarrollo de una cultura asociada, evidenciada a través del arte, la música, la literatura, el cine, el consumo y el comportamiento (Figuras 18 y 19).

F ig ura 1 8: M aya Beac h, Ta ila nd ia , la p la ya d e la p e l í c u l a “ T h e Be a c h ” qu e e s t re n ó e n 2 0 0 0 . F u e n t e : Ya c h t i n g L i fes t y l e.

Figur a 19: P or ta da de l l i bro s o b re l a c u l t u r a de l sur f “ P op S ur f Cu l t u re : M u s i c , D e s i g n , F i l m a n d Fa shion f rom the Bo h e m i a n Su r f Bo o m ” , C h d e s t e r & P r iore ( 2008) . Fu e n t e : C h d e s t e r & Pr i o re , 2 0 0 8 . t e : Ya c hting Lif e styl e .

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Además, presentan diversas otras funciones y ser-

za a perder sus costumbres ancestrales de miedo

vicios ecosistémicos, como el almacenamiento y

y terror (Corbin, 1993) y hasta mediados del siglo

transporte de sedimentos, disipación de la fuerza del

XX no era reconocida como un lugar de descanso y

oleaje, respuesta dinámica al aumento del nivel del

relajación (Rubio, 2005). De esta manera, en térmi-

mar, descomposición del material que contamina la

nos generales, es solamente en el presente que la

arena, filtración y purificación del agua, manutención

playa despliega una función social, permitiendo a la

de la biodiversidad y recursos energéticos, áreas de

colectividad humana disfrutar de un espacio multidi-

creación de peces juveniles, lugares de nidificación

mensional en el cual es posible bañarse, admirar el

de tortugas y aves, espacio de presa para aves y

paisaje, solárium, entre otras varias acciones.

fauna terrestre (Zielinski & Botero, 2012).

Finalmente, se señala la importancia de los proceTorres (1997) se aventura en establecer la imagen tu-

sos y herramientas de gestión de playas como con-

rística de espacio de la playa como la más relevante,

dicionante para las funciones de las mismas puedan

inclusive superior a su importancia como soporte fí-

ser mantenidas. Al agregar a este contexto que las

sico. Asimismo, los servicios ecosistémicos que las

playas son sistemas naturales que están actual-

playas presenta, tanto de regulación cuanto cultu-

mente sometidos a una grande presión humana y

rales (Chica et al, 2012), son otra forma de interpretar

climática (e.g. Sardá et al. 2012) y que el turismo,

su función como elemento que cumple con las nece-

combinado con los asentamientos urbanos aceleran

sidades humanas.

el proceso de uso, ocupación y degradación de las zonas costeras y de las playas (e.g. Harvey & Caton,

Así, la función recreacional de la playa, que viene de

2003), resulta evidente que este ambiente necesi-

la percepción humana de este ambiente como un es-

ta ser abarcado y gestionado como un todo, desde

pacio a ser utilizado en su tiempo libre y de ocio en

una perspectiva sistémica, y bien como de paradig-

términos históricos, es relativamente reciente. Pues,

ma científico.

solamente a partir del XVII que el hombre comien-

PARA TENER EN CUENTA...

• En muchos países, como Brasil y Uruguay, las playas son

consideradas patrimonio de toda población y entonces conlleva a la idea de que este patrimonio debe ser pasado de generación para generación.

• Hay un antiguo proverbio de los indígenas norte-americanos que

destaca “Nosotros no heredamos la tierra de nuestros padres, nosotros se la prestamos de nuestros hijos”.

• Por lo tanto, nos preguntamos: ¿Cómo vamos a entregar las playas

para nuestros hijos en el futuro?

99

7. EL TURISMO DE SOL Y PLAYA Guilherme Godoy Barattela, Camila Longarete & Luidgi Marchese

¹ L a b orat ó rio de Conservaç ão e G e s t ã o C ost eira C e n tro d e C iênc i as Tec nol ógi c as d a Te r r a e d o M ar – CTTMar – U n i v ersid ad e do Val e do I tajaí – U N I VAL I C o m pr en sión del concep to

M

uchas son las definiciones utilizadas para el turismo direccionado a las áreas litorales, tales como Turismo de Playas, Turismo Litoral,

Turismo de Sol y Mar, Ecoturismo Litoral, Turismo de Sol y Playa o Turismo Costero. Sin embargo, detrás de todas estas definiciones y posibles nombres, los objetivos y las motivaciones de todas estas modalida-

des turísticas son generalmente muy similares: la búsqueda de Belleza Escénica, del Sol, el Calor y el Agua (UNEP, 2009; MinTur, 2010), favoreciendo todas ellas el desarrollo de las actividades de recreación, descanso y entretenimiento (Orams, 2003).

No obstante, si bien los objetivos y las motivaciones

¿SABÍAS QUE...

La palabra TURISMO tiene su origen en las palabras tour et tourner que en francés significan “vuelta, circuito, vuelta alrededor” y “hacer la vuelta”, respectivamente; y del Latin tornare, “hacer dar la vuelta, pulir, girar en torno”, es decir, salir, dar una vuelta y retornar.

son las mismas, las características geográficas, paisajísticas, culturales y de infraestructura, particulares de cada localidad, distinguen las actividades y sus atractivos. A su vez, esto genera flujos distintos de personas en cada una de las áreas litorales, de acuerdo con sus intereses en los atributos disponibles para la actividad turística. Sin embargo, distintas iniciativas han promovido la implementación de infraestructuras y servicios turísticos (e.g. eco equipamientos, resorts, hoteles, bares, clubes nocturnos), combinándolas con los atributos naturales y paisajísticos, intentando así aumentar su atractivo turístico (UNEP, 2009). De esta manera, ciertos procesos turísticos en regiones litorales pueden variar en el espacio y tiempo, en función de la oferta y la demanda (Zielinski & Botero, 2012), convirtiendo a las playas en espacios de multiuso, logrando atraer simultáneamente más de un perfil de usuario.

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UNA CURIOSIDAD...

Según última publicación sobre el turismo urbano publicada por la Organización Mundial de Turismo (OMT, 2012), 11 de las 21 ciudades más visitadas del mundo en 2011 están

F O N T E: Mi k e W i ls o n .

ubicadas en la zona costera.

101

¿SABÍAS QUE...

Una investigación realizada por la empresa de turismo Expedia (2013) demostró que el 77% de los brasileños consideran la playa como su destino esencial en las vacaciones? Además, según esta investigación, al 92% de estos usuarios no les importa retornar a una playa ya explorada si este lugar les agradó.

El turismo de playas también es reconocido por los flujos masivos durante los períodos estivales y de clima caluroso o ameno del año, en donde grandes cantidades de personas buscan las costas para el relajamiento y el esparcimiento, asociados generalmente al baño de mar y a las infraestructuras disponibles. El paisaje buscado por estos usuarios de la playa suele ser absolutamente distinto del cotidiano, representan-

y recreación disponibles. En este sentido, son entendidas como actividades recreativas del turismo de playa aquellas actividades que impliquen el Baño, Surf, Kitesurf, Windsurf, Buceo, Equipamientos Náuticos, Deportes, Cultura y Gastronomía, entre otras.

Aunque el foco principal de estos flujos turísticos sea la playa, la influencia ejercida en este espacio sobrepasa los límites estrictos de las playas y se refleja también en diversas actividades locales en el entorno del sistema.

La gran cantidad de bañistas en la faja de arena, el crecimiento acentuado en la demanda hotelera, la mayor actividad en restaurantes, así como el aumento del tránsito en las vías de circulación son claros ejemplos de esta realidad.

F O N T E : C a m e ro n St o w.

do un “escape de la vida urbana” (Zielinski & Botero,

2012), muchas veces basado en las actividades de ocio

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¿SABÍAS QUE… Los EEUU es considerado la destinación turística más importante del mundo, y que una única playa estadunidense “Miami Beach” recibe más visitantes que otras grandes atracciones como los parques nacionales de Yellowstone, Grand Canyon y Yosimete

F O N T E: Sa ra K au t e n .

FO N T E: Je sse C ol l i ns.

juntas?

MI A MI B

E

A C

H

103

La p roblemát ic a El turismo costero puede ser considerado un elemento paradojal. Por un lado esta industria es responsable por la aceleración del desarrollo urbano y económico, con sus innumerables beneficios en infraestructura y aspectos socioeconómicos, pero por otro lado provoca la concentración de la riqueza, la apropiación de espacios, la segregación social y la degradación ambiental (Cicin-Sain & Knecht, 1998; Oram, 2003) (Figura 20).

Lo que difiere esta contradicción viene del fundamento legal que incide, aunque indirectamente, sobre el Turismo de Sol y Playa. El tipo y el grado del impacto generado por el turismo playero está asociado principalmente a los aspectos de gestión del patrimonio y ordenamiento territorial, gestión energética, gestión de recursos hídricos, gestión de zonas costeras y marítima y, así como, de gestión ambiental, en virtud de esta modalidad turística ser un gran consumidor de estos recursos (MinTUR, 2010; UNEP, 2009).

F i g u r a 2 0 : N o t i c i a s o bre p ro b l e m a s de ero s i ó n o b s e r v a do s e n l a s pl a y a s de C a n c ú n – D es t i n o m e x i c a n o d e s o l y pl a y a i n t e r n a c i o n al men t e re c o n o c i do . F u e n t e : m e x i c o t r a v e l n et wo r k .o rg .

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¿SABÍAS QUE...

La década de 60 fue señalada como “el boom” del turismo de masa, cuando se empezó a especular sobre los posibles daños socio-ambientales generado por los impactos de la actividad turística. En esta época, la industria del turismo fue inclusive nombrada como la

FO N TE : Agust i n D i a z .

“industria sin chimeneas”.

No solamente en los aspectos ambientales, el manejo

es que no siempre el aumento repentino en el número

de los recursos direccionados a las actividades turísti-

de turistas es acompañado por la disponibilidad o exis-

cas puede traer grandes impactos a las comunidades

tencia de infraestructuras necesaria. Un claro ejemplo

locales, pudendo afectar directamente la estabilidad

de ello sería la disminución en la eficiencia del trata-

socioeconómica y características culturales de las po-

miento de efluentes domésticos durante el periodo de

blaciones residentes (Orams, 2003). Es por ello que se

alta temporada debido al mayor número de usuarios,

vuelve fundamental una gestión de recursos adecua-

que puede generar una contaminación del suelo y el

da, minimizando los impactos generados por las acti-

agua, y por ende un alto riesgo para la salud humana y

vidades vinculadas a al turismo, permitiendo el disfrute

a la integridad ambiental. A su vez esta situación pue-

mutuo de los usufructos generados (UNEP, 2009).

de influir negativamente sobre la percepción colectiva

Una de las grandes problemáticas que aún perjudica

de los usuarios y sobre la calidad de la playa turística

los ambientes donde el turismo costero se desarrolla,

(e.g. Roca et al., 2009; Lozoya et al., 2014).

105

Son denominadas esquemas de certificación de playas (ECP), del inglés Beach Certification Schemes, todos los programas e iniciativas que buscan el reconoci-

¿ Qu é h acer ?

miento público por la calidad de una o varias playas

A nivel global, es clara la valoración de los as-

ficación de playas es un conjunto de elementos admi-

pectos ambientales por parte de los usuarios de

nistrativos y operacionales, que a través de un proceso

las playas (Roca et al., 2009; Lozoya et al., 2014),

de evaluación sistemática de requisitos pre-estableci-

siendo imprescindible la implementación de pa-

dos, evalúan la mejora continua de los aspectos de

rámetros y acciones que garanticen las condicio-

conformidad (requisitos predefinidos) y la existencia de

nes ideales de calidad de este ambiental marino-

un cuadro de gestión que es más complejo que un

-costero (Figura 22). En este sentido, la gestión

simple proceso de auditoría.

turísticas. Según Botero (2013), un esquema de certi-

estratégica, planeamientos participativos y el acuerdo de criterios de certificación ambiental

Cuanto a las características más comunes a los ECPs,

parecen ser una vía de asegurar dicha calidad.

Zielinski y Botero (2012) establecen las cuatro siguien-

Estas herramientas pretenden garantizar una

tes:

óptima calidad del agua, seguridad, educación, accesos, calidad de las arenas, información y equipamientos, así como una ordenación de los usos y las actividades (Williams & Micallef, 2009; Zielinski & Botero, 2012).

a. Aplicación voluntaria;

b. Otorga del sello (logotipo);

c. Fomento al cumplimento de la legislación y; d. Evaluación por medio de una tercera parte independiente en forma de auditorías.

Es posible decir que los ECPs son una de las respuestas que la sociedad generó antes al crecimiento vertiginoso que el turismo ha tenido desde los años cincuenta y sesenta. A partir de esa masificación del turismo los destinos turísticos necesitaran diferenciarse cuanto a la calidad de sus atractivos, y de esta ma-

BOX 3

nera cuidar mejor de los aspectos que les convierten Las certificaciones de calidad de las playas, ambientales o turísticas, son herramientas relativamente modernas que pueden también ser consideradas como herramientas de gestión de playas. Fue en mediados de 1980, en Francia,

que se creó la primera certificación de playas del mundo, llamada Bandera Azul.

Las certificaciones de playas son esquemas que buscan evaluar las características de una playa particular, en general turísticas, por medio del cumplimento de criterios mensurables. Estos esquemas son promovidos como una metodología para la gestión de playas por las organizaciones que fornecen las certificaciones y por la autoridades locales que las solicitan (FEE, 2006).

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en un destino buscado por la sociedad. El desarrollo de la sociedad civil, que hoy por hoy se preocupa más por el cuidado ambiental y presenta consumidores que exigen productos y servicios de mayor calidad, propició también la aparición de esos esquemas.

En otras palabras las certificaciones tienen el objetivo de establecer la calidad de las playas. Para Williamns y Micallef (2009), esta calidad es definida por la habilidad de promocionar altos niveles de seguridad, calidad ambiental, equipamientos y servicios, paisaje y limpieza del espacio de la playa. A su vez, cada esquema de certificación de las playas tiene sus propios requisitos previamente establecidos para garantizar un nivel de calidad óptimo para el visitante de la playa, así como para el ambiente natural y la cultura local.

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Actualmente, en el mundo, existen aproximadamente más de 24 distintos tipos de certificaciones de playas actuantes. Éstas están dispersas en todos los continentes del globo y especialmente concentradas en el continente Europeo, en Australia y en América del

Por lo tanto, las certificaciones hacen parte del proceso de gestión costera y/o ambiental. De esta forma, la implementación de la certificación puede ser origida tanto de la iniciativa pública como de la privada. Esta última puede estar representada por clubes de playas,

Norte.

restaurantes, bares de playa y establecimientos co-

Sin embargo, en el contexto Latinoamericano, existen

se a algunas de las medidas a beneficiar su imagen y

merciales en general, que estén abiertos a adaptar-

nueve programas de certificación de playas (Figura

también la playa y su entorno.

22), incluyendo la Bandera Azul. Éste último, incluso, es el programa que en la actualidad actúa en Brasil (Castro et al., 2012).

Insti tuto C ol omb i a no d e Nor ma s Técni ca s y C er ti f i ca ci ón NTS-TS-0 0 1 -2

In s t i t u t o M e x i c a n o d e N orm a l i z a c i ó n y Cer t i f i c a c i ó n MNX-A A - 1 2 0 SC F I - 2 0 0 6

Ministerio de Ciencia, Tecno lo g ía y Medio A mbiente PLAYA AM BIEN TAL

Fo unda ti on f or E nviron me n ta l E ducati on BAN D ER A A ZU L

I n s t i t uto C o s t a r r i c e n se de Acueductos y A l c an t ar i l l ad os BANDERA AZUL E C O L Ó G I CA

C e r t i f i c aç ão Tu r í s t i ca d e P r ai a – E q u a d or INEN 2631 – E C O P L AYA S

F i g u r a 2 1 : Cer t i fi caci ó n d e pl ay as en L a t in o amér i ca.

F u e n t e : Zi el i n s k i & Bo t ero , 2 0 1 2 .

Or ga ni z a ci ón Ecol ógi ca Pl a y a s Per ua na s E CO PL AYAS

Insti tuto Ar genti no d e Nor ma l i z a ci ón y C er ti f i ca ci ón I R AM 4 2 .1 0 0

Ministerio de Turismo PLAYA N ATU R A L

107

La aplicabilidad del planeamiento y la gestión para el

El uso efectivo de las medidas de gestión estratégica

turismo de Sol y Playa, busca acompañar y monitore-

puede generar una significativa circulación de capital

ar los flujos de visitantes y el destino como un todo,

relacionada a la conservación de los atributos natu-

definiendo directrices, políticas y estrategias comunes

rales. Esto a su vez permitiría el desarrollo económico

para lidiar con los conflictos vinculados al ambiente

de la región, la creación de empleo y la mejora en la

playa. Dicha gestión pretende alcanzar optimas ex-

calidad de vida. Todo ello estaría vinculado al mante-

pectativas para el uso de este espacio, de una manera

nimiento y conservación de la integridad de los eco-

ecológicamente sustentable y económicamente viable

sistemas, logrando simultáneamente la valoración del

(UNEP, 2009; Peral et al., 2010). Es en este marco que

territorio (Cicin-Sain & Knecht, 1998; Sánchez, 2011).

el trabajo integrado de los sectores públicos, privados y de la sociedad civil organizada se convierte en pie-

za fundamental. Esta integración determinará el posicionamiento de los distintos destinos de una manera competitiva dentro del mercado turístico (Iñiguez et al, 2007).

F i g u r a 2 2 : F o t o s das pr a i a s a m b ien t al men t e c e r ti fi cadas de Ba rc e l o n a, Es pan h a.

F on t e: Br i an a Bo mban a.

No obstante, no existe una regla básica para esta planificación. Es por ello que resulta necesaria la consideración de las particularidades sociales y ambientales de cada playa, intentando identificar los principales vectores de desarrollo a nivel local, asegurando que las generaciones futuras reciban los mismos beneficios y la misma calidad natural que hace posible el disfrute actual.

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BA RCEL ONA P

L

A Y A

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