BioAtivo - 15ª Edição

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BioAtivo


editori al

2 editorial Caros leitores, A 15ª edição da revista BioAtivo chega no final de 2013 comemorando os 20 anos da Farma Júnior (FJ), a primeira empresa júnior da área da saúde no Brasil e a pioneira no ramo das juniores de farmácia no mundo. No Institucional, vocês verão uma breve história da FJ e compreenderão quais são os seus maiores desafios e conquistas, bem como as atividades desenvolvidas por ela duas décadas depois de sua inauguração. A seção Pesquisa & Inovação traz um trabalho feito pelo Instituto Butantan em que descobriu-se uma molécula presente no veneno da cascavel que tem propriedades com o potencial de combater o câncer do tipo melanoma. Já no Especial, trazemos uma cobertura a respeito dos museus de biologia existentes em São Paulo, de modo a mostrar algumas opções para os interessados nas ciências biológicas. E, para fechar a publicação, em Mercado desse bimestre traçamos as diversas perspectivas do mercado de trabalho dos biólogos. Agradecemos a vocês que nos acompanharam durante todo o ano e, em 2014, temos em vista muitas novidades. Boa leitura! Bruna Rodrigues Diretora de Jornalismo Científico Jornalismo Júnior

bioativo Institucional Farma Jr. comemora 20 anos da empresa

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Notícias Mostra sobre a Amazônia está em cartaz no Sesc Itaquera

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Biblioteca digital que traz dados sobre biovigilância chega ao Brasil

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Anticoncepcional masculino é criado

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Tubarão-limão reencontra local de nascimento para dar à luz

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DNA de mais antigo humano primitivo é decodificado

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Ministério da Saúde anuncia produção nacional de itens imprescindíveis para o SUS 6 pESQUISA E INOVAÇÃO O veneno que traz vida

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EsPECIAL Uma noite no museu...de biologia!

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mercado Profissão: biólogo

BIO JÚNIOR - Diretoria: Davi Martinelli, Edmar Oliveira, Gabriela Christine Santos, Larissa Assis, Mathias Jorquera. Suplente: Bruna Bombarda. Presidente e Responsável pela BioAtivo: Priscilla Shiota Fedichina. Contato: biojr.usp@ gmail.com. FARMA JÚNIOR - Diretoria: Jéssica Rocha, Jessyca Kuba, Juliana Medeiros, Marcos Moretto, Paulo Souza, Thais Mikami, Vivian Borali. Responsável pela BioAtivo: Marcos Moretto. Presidente: Vivian Borali. Endereço: Av. Prof. Lineu Prestes, 580 - Centro de Vivência, sala 14, Cidade Universitária. Contato: (11) 6901-5926, farmajr@usp.br. JORNALISMO JÚNIOR - Edição: Bruna Rodrigues e Gabriela Fachin. Equipe: Arthur Aleixo, Bruna Larotonda, Maria Beatriz Melero e Otávio Fernandes Nadaleto. Diagramação e Projeto Gráfico: equipe de Comunicação Visual da Jornalismo Júnior. Contato: (11) 3091-4085, jjr@usp.br, @jornalismojr. Foto da capa: Wikimedia Commons

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Farma Jr. comemora 20 anos da empresa Por Gabriela Fachin A Farma Jr. completou duas décadas de existência em 2013. Ela foi fundada em agosto de 1993, sendo pioneira no Brasil na área da saúde e a primeira empresa júnior de Farmácia do mundo. Apesar de um marco na história da empresa, os 20 anos da FJ também demarcam momentos de dificuldade. “Os membros mais experientes, envolvidos basicamente desde 2010 e 2011, não têm a mesma disponibilidade que antigamente. Então, a falta de renovação impediu o desenvolvimento de muitos planos nesse ano especial”, explica Paulo Souza, que foi diretor de Pesquisa e Desenvolvimento e de Projetos. “Acho que os tempos mudaram, as novas turmas perderam um pouco o interesse por atividades de extensão como participar de uma EJ”, acrescenta. “Mas continuamos com muito carinho pela Farma Júnior,apoiando a todos que desejam continuar na empresa, mesmo sendo poucas pessoas”, diz Vivian Borali, atual presidente. A empresa júnior é formada e gerida por alunos de graduação da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Seus serviços

Antigo logo da empresa (acima) e o novo e atual logo da FJ (abaixo)


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envolvem projetos e consultoria farmacêutica para micro e pequenas empresas. As atividades da júnior, assinadas por um farmacêutico responsável, recebem orientação de um professor da área. Com o objetivo de funcionar como ponte entre os alunos de Farmácia, especialmente os da FCF/USP, e o mercado, a júnior também promove eventos. O mais consagrado deles é a Semana de Cosmetologia (SEMCO), que acontece anualmente desde 2003 e se tornou um evento tradicional da empresa e da faculdade (veja figura abaixo). Além da SEMCO, outros momentos de destaque na trajetória da Farma Jr. são as parcerias: primeiramente, com o Disque Tecnologia, da Agência USP de Inovação, que permitiu um crescimento no número de projetos realizados, e em segundo lugar com a RL&Associados, “que nos oferece a oportunidade de desenvolver diversos cursos e palestras, complementando o cur-

rículo dos alunos da FCF”, conta Vivian. O planejamento estratégico de 20102012 também é uma ocasião significativa, pois permitiu aos membros da Farma Jr. “aprender muito sobre a empresa e a fazer planejamentos mais coerentes a partir de nossa realidade”, completa a presidente. “Nos próximos anos, com a regulamentação USP e uma maior proximidade de professores tutores, acredito que haverá um crescimento no número de consultas. No eixo de eventos, devemos focar na SEMCO, já tradicional, e inovar no seguimento de mercado e carreira”, diz Souza sobre as expectativas para o futuro. “Estamos buscando nos encaixar melhor na faculdade, para despertar maior interesse dos alunos”, acrescenta Vivian. “20 anos de Farma Júnior representam uma participação essencial no MEJ, muitos erros e aprendizados, alguns tombos e a esperança de dias mais prósperos”, sintetiza a presidente.

Cartaz da 9ª Semana de Cosmetologia, em 2011


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Por Bruna Rodrigues e Gabriela Fachin

GRUPOAMAZONIA.COM.BR

Mostra sobre a Amazônia está em cartaz no Sesc Itaquera

Biblioteca digital que traz dados sobre biovigilância chega ao Brasil

A exposição Amazônia Mundi oferece ao visitante a oportunidade de conhecer várias características da floresta, como seus rios, sua fauna e as populações locais. Em cartaz no Sesc Itaquera até o início de 2015, a mostra é organizada em dois ambientes. Do lado de fora, o expectador encontra um cenário que representa as vilas da região amazônica. Já na segunda parte, instalações explicativas sobre o ciclo das águas e esculturas de animais da região preenchem o espaço, além dos sons de aves e de insetos da Amazônia. Para mais informações, clique aqui. Fonte: http://guia.folha.uol.com.br/

Anticoncepcional masculino é criado

A Organização Mundial da Saúde começou a desenvolver o projeto no Brasil neste mês. A iniciativa, conhecida como Notify Library, tem o objetivo de ser um banco de dados que reúne casos emblemáticos de eventos adversos na área de sangue, tecidos, células e órgãos, de modo a facilitar o trabalho da vigilância sanitária. A biblioteca virtual está neste site. O acesso é livre a todos, contudo, a publicação dos relatos pode ser feita após seleção organizada por um comitê editorial. Cerca de 90 países já utilizam o Notify Library.

Grupo de cientistas australianos da Universidade de Melbourne afirma ter desenvolvido uma pílula anticoncepcional masculina. A droga em questão tem o poder de bloquear o transporte de espermatozoides sem afetar a sua produção. A atuação dela está na inativação de duas proteínas que são essenciais para permitir que o espermatozoide se desloque através dos órgãos reprodutores masculinos. Elas deverão ser ingeridas diariamente e, caso o homem queira ter filhos, terá apenas que deixar de tomá-las, sem nenhum perigo de infertilidade.

Fonte: http://portal.crfsp.org.br

Fonte: http://portal.crfsp.org.br/


6 notícias Tubarão-limão reencontra local de nascimento para dar à luz

DNA de mais antigo humano primitivo é decodificado

Um estudo do Field Museum mostra que fêmeas de tubarão-limão, espécie vivípara, retornam ao seu local de nascimento para dar à luz os filhotes. A pesquisa desse museu de história natural de Chicago, foi feita nas Bahamas, na região de Bimini, com mais de dois mil exemplares da espécie. A análise, que se iniciou em 1995, explica que, mesmo que tenham se afastado para outras ilhas, as fêmeas são capazes de encontrar o lugar onde nasceram. Os tubarões-limão (Negaprion brevirostris) são encontrados no Oceano Atlântico, em áreas mais quentes da América do Norte e do Sul.

Um grupo de pesquisadores de vários países recuperou e decodificou o DNA de um humano primitivo morto há cerca de 500 mil anos. Trata-se de um hominídeo de Sima de Los Huesos, na Espanha, onde já foram encontrados restos de pelo menos 28 humanos primitivos, classificados como pertencentes à espécie Homo heidelbergensis. A análise do DNA mostrou que o espécime espanhol, de 400 mil anos, apresenta várias semelhanças com os denisovanos, humanos primitivos da Sibéria, que viveram há 40 mil anos. A descoberta, que intriga os pesquisadores, pode ajudar a compreender as relações entre as diversas espécies.

Fonte: http://g1.globo.com/

Fonte: http://www.folha.uol.com.br/

Foto: Wikimedia Commons

Ministério da Saúde anuncia produção nacional de itens imprescindíveis para o SUS Neste mês, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou que o Brasil irá produzir 19 itens estratégicos para o Sistema Único de Saúde (SUS). São 15 equipamentos e 4 medicamentos, usados principalmente em tratamentos cardíacos e renais. Eles também serão utilizados nas áreas oftalmológica, oncológica, de transplante, diagnóstico e monitoração. Estima-se que, com isso, o governo tenha uma economia de até R$ 5,5 bilhões em cinco anos. Para essa produção, serão realizadas parcerias entre instituições públicas e privadas. Fonte: http://portal.crfsp.org.br


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pesquisa e inovação 7

O veneno que traz vida Pesquisas apontam molécula presente no veneno de cascavel com propriedades de combate ao câncer do tipo melanoma Por Arthur Aleixo A serpente é usada como um dos símbolos das áreas da saúde. Na Medicina e na Farmácia podemos ver esse réptil entrelaçando uma taça que simboliza a cura. Mais do que simbólico, agora o seu veneno pode ser fonte de remédio - como já dizia Paracelso, médico e alquimista do século 16, “A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”. A professora Irina Kerkis e seus colaboradores vêm desenvolvendo no Laboratório de Genética do Instituto Butantan pesquisas que envolvem a utilização do veneno de cascavel no tratamento de câncer, mais especificamente do melanoma (um tipo da doença que é famoso pela sua agressividade).

O remédio por trás do veneno Venenos são substâncias que alteram ou lesam funções ou tecidos dos organismos vivos quando em contato com os mesmos, o que pode levar à morte. Assim, podese imaginar como elas são efetivas ao se colocarem no meio de nossas reações metabólicas. Alguns venenos podem ser formados por apenas um elemento químico, como o arsênico ou o mercúrio, enquanto outros podem ser sintetizados

por plantas, animais e até mesmo pelo homem. No caso do veneno sintetizado pelas serpentes conhecidas como cascavéis, não se trata de uma substância simples, mas sim de uma junção de muitas moléculas bioativas e que podem ser usadas em vários tipos de terapias. Contudo o que chamou mesmo a atenção dos pesquisadores foi um dos seus componentes chamado “crotamina”: um polipeptídeo capaz de atravessar não só a parede da célula, como também apto a entrar no seu núcleo. A crotamina é composta de aproximadamente 42 aminoácidos, carregada positivamente, e foi o primeiro “polipeptídeo célula-penetrante” na literatura mundial que foi isolado de veneno de serpente. Dessa forma, ela é um composto natural e muito maior do que as outras moléculas célulaspenetrantes que se tinha conseguido isolar até então.

A crotamina e sua ação Apesar de ser uma toxina, a crotamina não chega a matar a célula por si só. Ao invés disso, ela possui uma propriedade de interferir no ciclo celular. Através de técnicas de marcação e observação do composto foi possível perceber que a


8 pesquisa e inovação molécula entra facilmente pela parede celular, se difunde pelo seu interior, entra no núcleo e reage com o mesmo. Devido ao caráter negativo das moléculas de DNA e RNA, o polipeptídeo interage fortemente com eles e gera uma espécie de paralisia, impedindo que o ciclo celular de desenvolva por completo e, assim, impossibilitando a divisão celular e a proliferação das células tumorais. Também é possível acoplar algum composto de interesse à crotamina. Ela então passa a fazer um papel de carreadora celular. Ligada ao medicamento ou outra substância de interesse, ela entraria na célula, no núcleo e se desintegraria, enquanto o medicamento a ela associado, já dentro do núcleo, passaria a agir. Isso possibilitaria a modificação e interferência no DNA e no ciclo celular de muitas maneiras. Outra vantagem da crotamina é a sua afinidade por células que já estão em processo de divisão celular. Uma vez que células cancerígenas apresentam um alto teor de mitose e elevada tendência de proliferação, a crotamina age pontual e eficientemente contra os tumores do melanoma. Em conjunto com isso, quando utilizada em doses reduzidas, ela apresenta baixa toxicidade para as células normais, além de não induzir uma resposta imunológica no organismo. É uma molécula que não leva o paciente a se acostumar com ela, evitando que se manipule doses cada vez mais altas para a efetivação do tratamento. Ao se comparar a crotamina com os medicamentos quimioterápicos utilizados

bioativo no tratamento do câncer percebe-se uma vantagem. Apesar dos dois afetarem o ciclo celular das células cancerígenas, os quimioterápicos clássicos apresentam ainda uma grande toxicidade no que se refere às células normais. É válido lembrar também que, apesar da crotamina entrar e paralisar a célula tumoral, ela não chega a matá-la. Isso deve ser levado em conta para que a molécula não seja utilizada como tratamento único, mas sim como contenção do câncer para que se evite a metástase e para que ajude na localização dos tumores e retirada dos mesmos.

Nova fase de pesquisa Comprovada sua eficiência e suas propriedades terapêuticas, a crotamina agora vem sendo estudada a um nível molecular para que seja possível viabilizar a sua produção em massa, visando abaixar o valor de custo de sua produção. Mesmo que possível, não seria fácil manter um biotério de cascavéis voltado exclusivamente para a extração de crotamina, dado a logística, custo e um fato inusitado: algumas delas não produzem veneno com a presença da molécula, apesar de, mesmo nesses casos, apresentarem o gene responsável pela produção do polipeptídeo em seu DNA. Com o avanço dos estudos, já existem até relatos de “crotamina like peptides”, que se assemelhariam à crotamina na conformação e no mecanismo de ação e que também podem ser encontrados na natureza. Inclusive se descobriu moléculas semelhantes em venenos


bioativo produzidos por animais muito distantes em suas árvores genealógicas como, por exemplo, o ornitorrinco. Dessa forma, o que se busca agora é uma análise esmiuçada da composição da molécula, aminoácido por aminoácido, afim de que se consiga sintetizar em

pesquisa e inovação 9 laboratório e em grandes quantidades uma espécie de crotamina sintética. Outra busca é amplificar as pesquisas de moléculas baseadas na crotamina e semelhantes a ela para que se possa sintetizar compostos ainda menores e mais eficientes ou, no mínimo, com o mesmo poder de ação. Infográfico: Camila Berto. Montagem sobre foto Wikimedia Commons.


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Uma noite no museu... de biologia! Por Maria Beatriz Melero e Otávio Fernandes Nadaleto

Foto: Marcos Santos - USP Imagens

A pujança econômica de São Paulo, maior e mais rica cidade da América do Sul, se estende para todos os campos de atividade. Em seus mais de 1,5 mil quilômetros quadrados de área, há cerca de 110 museus espalhados, contemplando praticamente todas as áreas do conhecimento. No campo das ciências biológicas não é diferente. Para os que se interessam pelo tema, existem muitas opções. A revista BioAtivo visitou alguns desses museus e entrevistou algumas das pessoas responsáveis por eles. Aqui, abrimos espaço para a abordagem de temas relativos à curadoria e à importância desses verdadeiros patrimônios da ciência.

Museu de Zoologia da USP

O curador A produção de uma mostra em museus é de responsabilidade de um profissional muito específico: o curador. Seu trabalho consiste na escolha de objetos a serem expostos, na contratação de profissionais responsáveis pela verificação da autenticidade das peças e na decisão de como elas serão distribuídas na mostra. Geralmente, são profissionais formados em História da Arte, Filosofia e Estética. Entretanto, para museus de ciências naturais essa qualificação pode ser um pouco diferente. No Museu de Zoologia da Unicamp, por exemplo, para a função de curador são aceitos somente “portadores, no míni-


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Foto: USP Imagens

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No museu você pode encontrar desde animais empalhados… mo, do título de doutor”, segundo o artigo 5º do regulamento da instituição. “Na falta de curadores no quadro funcional do museu, essa função será exercida por biólogos ou pesquisadores pertencentes ao quadro de funcionários do Instituto de Biologia, indicados pelo Diretor mediante aprovação da Congregação”, segundo o Parágrafo Único do mesmo artigo. No Museu de Zoologia da USP, os curadores são profissionais formados nas áreas de Biologia ou Zoologia, com especialização em Museologia e Educação.

A montagem da exposição Para a elaboração de uma exposição são utilizadas peças do acervo do museu e também de outras instituições museológicas. Primeiramente, são avaliadas as

condições em que se encontram os objetos requisitados pelo curador. Quando se trata de itens de acervos externos ao museu, é necessária a consulta sobre a sua disponibilidade, documentação e procedimento de registro, além de acionar um seguro de empréstimo. “Todos esses fatores definem o período em que esse processo transcorre, que pode variar muito, combinados à escala do projeto em si”, explica Felipe Alves Elias, especialista em Pesquisa e Apoio de Museu, do Museu de Zoologia da USP. Museus de arte e de história ou de ciências naturais, apesar de terem suas diferenças, também possuem muitas semelhanças. Todos, por exemplo, conduzem a exposição através de uma narrativa sobre um tema central, composta pelos objetos do acervo.


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...até seus órgãos internos mantidos intactos! Tomando o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) como exemplo, é possível notar as diferenças. Neste, divide-se o tema central em subtemas mais voltados para a estética do movimento ou artista trabalhado. “Nas exposições promovidas pelo Museu de Zoologia há grande preocupação em incorporar ao discurso o conhecimento produzido pela instituição que, como outros museus de ciências e de história natural, assume grande responsabilidade na comunicação, educação e conscientização sobre questões ligadas a biodiversidade, evolução e sustentabilidade”, além de alertar principalmente para os problemas gerados pelas atividades humanas e seus efeitos no desaparecimento de centenas de espécies na atualidade. “Cada exposição possui suas especificidades e desafios”, afirma Felipe.

Os itens que compõem as narrativas expositivas do Museu de Zoologia pertencem, em sua maior parcela, ao próprio acervo institucional. “Eventualmente algumas exposições demandam objetos que não fazem parte de nossas coleções, e para esses casos são acionados procedimentos de empréstimo entre instituições, cujo período de vigência pode variar bastante”, afirma o especialista. O Museu de Zoologia tem firmadas parcerias internacionais no que diz respeito à pesquisa. Para suas exposições, convênios com outros museus brasileiros vêm se fortalecendo.

A importância do acervo Elias conta que o museu abriga uma das maiores coleções de fauna neotropical do mundo. “A partir dela, são de-


bioativo senvolvidas importantes pesquisas no campo da Zoologia, em especial a Taxonomia, Sistemática, Biogeografia e Evolução. Ele [o museu] também desenvolve pesquisas no campo da Museologia e da Divulgação Científica”. Outro acervo significativo para as pesquisas é o Museu de Anatomia Veterinária da FMVZ (Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP). Em sua página na internet, a instituição define que “o estudo anatômico é importante para as áreas médicas e depende, em grande parte, da dissecação de animais que morrem por doenças ou causas naturais. As peças anatômicas assim obtidas e conservadas são fundamentais como materiais de estudo e pesquisa”.

Um outro conceito de museu Localizada na Vila Clementino, a Escola Paulista de Medicina (EPM), vinculada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), abriga o Museu de Anatomia e Crânios da Unifesp. O museu surgiu em meados dos anos 1960, momento em que a disciplina de Anatomia Descritiva e Topográfica da faculdade passou a ser chefiada pelo professor Renato Locchi. Neste período, a demanda por um acervo de técnicas de anatomia cresceu devido aos novos cursos inaugurados na escola, como Enfermagem, Fonoaudiologia e Ortóptica. Atualmente, o docente responsável pela disciplina de anatomia é o professor Luis Garcia Alonso. Porém, a escola

especial 13 conta com alguém que é tido como uma lenda viva na área da anatomia: o professor José Carlos Prates. Aposentado desde 1997, ele trabalhou por 37 anos na EPM. Hoje, ainda é possível encontrá-lo em sua sala, no laboratório de anatomia. Com cerca de mil itens, o museu é considerado pequeno. Suas peças provêm, em sua maioria, do próprio Hospital São Paulo, dos cursos de Técnicas Anatômicas promovidos pela Sociedade Brasileira de Anatomia e algumas delas são mais antigas, das décadas de 60 e 70. Porém, o professor Prates explica que o objetivo do museu não é de reunir acervo, mas sim de expor o maior número possível de técnicas de anatomia. “Temos cursos para a preparação de peças que são dados para técnicos do país todo. Inclusive, eles preparam alguns itens que ficam aqui”. Ainda, ele conta que outra função do museu consiste em emprestar parte de seu acervo para que outras escolas possam realizar feiras de ciência e biologia. A relevância acadêmica de um local como esse é incontestável. “Ele [o museu] é interessante para alunos dos nossos cursos da área de saúde. As peças são bem preparadas e servem para aulas, para atividades didáticas”, diz Prates. O museu também é útil para pesquisas de pós-graduação. Com seu acervo de cerca de 400 crânios, de recém nascidos até a idade adulta, pode-se fazer diversos estudos, tanto que o professor conta que eles já serviram para a elaboração de muitas teses de medicina, odontologia e biomedicina


16 mercado 14 especial O público do museu, porém, não se restringe a alunos universitários e técnicos. Prates afirma que “toda a semana há grupos escolares que vêm visitar o museu. Eles olham as peças, se entusiasmam… e uns vêem que têm repugnância por elas e descobrem que não dão para a medicina [risos]”. Apesar de ser sua paixão, Prates relata algumas dificuldades na administração do museu. Ele afirma que a aquisição de itens é um dos maiores entraves. “Temos dificuldade para a obtenção de cadáveres, então temos que nos valer da anatomia patológica, da embriologia e das outras disciplinas [para obter peças]”. Além disso, ele afirma que, devido ao alto custo dos materiais para a preparação dos artigos a serem expostos, obter verba também é um problema. “Para a área de saúde e educação nunca tem dinheiro”, diz ele. “O museu é bastante didático, não só para os alunos da faculdade, como também para os de outras escolas que vêm aqui. Toda universidade de medicina e de odontologia deveria ter um”, conclui Prates.

Outras opções Além dos museus visitados por nossa reportagem, ainda existem diversas outras opções para os aficionados por biologia. Uma delas é o Museu Florestal “Octávio Vecchi”. Ele surgiu nos anos 1920, graças ao engenheiro Octávio Vecchi, que observava preocupado a crescente

bioativo bioativo derrubada de florestas para o desenvolvimento do estado de São Paulo. Seu objetivo é “auxiliar no aumento da conscientização ecológica e pela valorização do homem pela vida no planeta”. Com atividades de lazer e cultura, o instituto prioriza o público estudantil.

Confira abaixo os endereços dos museus citados na reportagem e mais outros: Museu de Anatomia e Crânios da Unifesp: Rua Botucatu, 740 (Edifício Leitão Cunha) - Vila Clementino. Museu Florestal “Octávio Vecchi”: Rua do Horto, 931 - Horto Florestal. Museu de Zoologia da USP: Avenida Nazaré, 481 - Ipiranga. Instituto Biológico: Avenida Conselheiro Rodrigues Alves, 1252 - Vila Mariana. Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP: Avenida Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 - Cidade Universitária.


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Profissão: biólogo Vasto e abrangente, o curso oferece uma infinidade de oportunidades Foto: Walton LaVonda - Wikimedia Commons

Bióloga ensina estudantes a plantar Por Bruna Larotonda

conta as demandas e exigências atuais do mercado de trabalho. As opções de emprego oferecidas a bió Há alguns anos, empresas passalogos são dúvida frequente entre recém- ram a necessitar biólogos para planeja-formados na profissão. Os Conselhos Re- mento sustentável e análise de impacto gional (SP, MT e MS) e Federal de Biologia, ambiental, devido à emergência de aspor exemplo, apresentam uma relação de suntos relacionados ao meio ambiente e possíveis campos de atuação para o pro- à questão da sustentabilidade. Outra posfissional formado em Ciências Biológicas. sibilidade são os concursos públicos, que No entanto, essa descrição não leva em contratam profissionais para trabalhar em


16 mercado prefeituras, órgãos federais e secretarias. Institutos e ONGs também oferecem oportunidades de emprego. Apesar de recente, outro campo de atuação possível é o de turismo ecológico. Os biólogos podem trabalhar em museus, reservas ecológicas ou na execução de projetos de ações educativas. Os setores de Biocombustíveis e Biotecnologia também têm crescido e se destacado bastante no mercado, principalmente na utilização de plantas para a produção de medicamentos e produtos na área alimentícia. Pode-se dizer, porém, que é consenso entre a maioria dos profissionais e especialistas de que a demanda maior ainda está na licenciatura. A carência por professores de ciências e biologia nos ensinos fundamental e médio ainda é grande, sobretudo nas regiões mais afastadas dos centros urbanos. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Ministério da Educação, a falta de profissionais na área é tão grave que, mesmo considerando todos os formados nos próximos sete anos, a demanda por educadores ainda existirá.

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O biólogo Felipe Morillo, que atualmente trabalha na área de Tecnologia Digital da Natura, reforça essa ideia: “empresas que querem contratar para áreas técnicas procuram profissionais com formação mais técnica, específica. O biólogo acaba sendo mais generalista, o que pode ser muito bom em alguns casos, mas nessas situações não é tão bem visto”. Morillo acrescenta que ter noções de Administração, desenvolvimento de projetos e Direito, principalmente a parte contratual, também pode ser muito benéfico. “Por termos uma visão mais generalista e integradora, nos assemelhamos demais aos administradores. Mesmo assim, não temos a mesma visão do mundo corporativo que eles possuem e, por isso, entender metodologias de gestão pode ser muito útil na hora de tentar vagas em grandes empresas”. Morillo conta também um pouco de sua própria experiência com o mercado. Desde seu primeiro ano na graduação começou a trabalhar, sempre em busca da profissão que mais se adequasse às suas expectativas. Durante o período em que trabalhou na área de Inteligência Estratégica da NaDestaque na seleção tura, um cargo tradicionalmente ocupado por engenheiros de produção, ele lembra Como em qualquer profissão, na Biolo- que “há certos tipos de trabalho que não gia aquele que for mais especializado terá necessitam de nenhum conhecimento maiores chances na hora de disputar uma muito especial. É tudo uma questão de vaga. Assim, é necessário investir em pós- bom senso, planejamento, organização e -graduações, principalmente para quem articulação”. Segundo ele, independenvisa à área de pesquisa científica. O aper- temente da formação, sempre ao entrar feiçoamento possibilita uma formação em uma nova empresa deve-se aprender mais técnica, a partir de um curso que é tudo do início. Cada uma delas possui seu tradicionalmente caracterizado como ge- próprio método de trabalho, e isso nivela neralista e abrangente. todos os tipos de profissional. As experiên-


bioativo cias, visões de mundo, talentos e paixões são o que fazem com que um candidato se torne adequado para uma vaga, e não apenas a sua formação.

A universidade e os Programas de Trainee As universidades, em geral, oferecem inúmeras oportunidades extracurriculares para que o aluno possa ter um contato mais próximo com a profissão que irá exercer. Na USP, há programas de monitoria; de pesquisa, como a Iniciação Científica, que permite ao aluno transitar pelos laboratórios e aprender a rotina de um trabalho com “chefes”, entregas e gestão de recursos; e também há as Empresas Juniores. Morillo acredita que “a USP é uma verdadeira escola preparatória para a vida no mercado de trabalho. Tudo é uma questão de enxergar além da rotina vivida no ambiente universitário e compreender que essa dinâmica é muito parecida com a de qualquer empresa”. Quanto aos Programas de Trainee, eles são geralmente patrocinados pelas próprias empresas que os oferecem, as quais visam desenvolver recém-formados para se tornarem futuras lideranças. O biólogo diz que, “além de ter a oportunidade de atuar em diversos setores, ganhando uma visão integrada dos processos e fortalecendo sua rede de contatos, o trainee recebe uma série de treinamentos técnicos e de auto-conhecimento, para contribuir com o seu amadurecimento pessoal e profissional. Normalmente, ele trabalha menos dentro da rotina das diversas áreas e mais

mercado 17 com projetos rápidos, nos quais terá uma visão estratégica do dia-a-dia da empresa”. Portanto, “se formar em Biologia não determina os temas com os quais você deve trabalhar, mas a visão de mundo que você traz ao mercado de trabalho”. Hoje, cada vez mais os biólogos assumem cargos que originalmente seriam ocupados apenas por engenheiros, biomédicos ou farmacêuticos. Isto pelo fato de que, quanto mais especializado o profissional for, maior a atuação dele em áreas de apoio, e quanto mais generalista, em áreas próximas da estratégia. “A formação de biólogo não deveria delimitar nossas opções, mas ampliar a nossa percepção sobre como trazer inovação a profissões mais tradicionais”, encerra Felipe.

As muitas opções para quem se formou em Ciências Biológicas Segundo o Conselho Regional de Biologia (válido para os estados de SP, MT e MS), o profissional formado nessa área pode atuar como responsável técnico ou ocupar cargos técnico-administrativos em diferentes níveis; realizar perícias e emissão de laudos e pareceres; supervisionar, coordenar ou orientar projetos de pesquisa e estudos; realizar consultorias e assessorias técnicas; executar análises laboratoriais e diagnósticos. Já o Conselho Federal de Biologia separa as áreas de atuação do biólogo em três grandes categorias, cada uma delas com mais de 15 subdivisões: Meio Ambiente e Biodiversidade; Saúde; Biotecnologia e Produção.



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