24ª Bienal de São Paulo (1998) - Representações Nacionais / National Representations

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Desde a XXIII Bienal estabeleceu-se que as Representações Nacionais seriam compostas por um artista por país. A uniformização buscou racionalizar o processo, propiciando o dado concreto da calculabiliadade do espaço expositivo. Tradicionalmente as bienais requeriam a construção de pavilhões adicionais para abrigar o conjunto. Essa uniformização, ademais, trouxe uma sensível melhoria no processo de montagem, diminuindo as famosas guerras por escadas, martelos e pregos na "arena pacífica" da artes. No entanto, o novo esquema também traz perdas se considerarmos, por exemplo, as representações coletivas da Grã-Bretanha na tradição do British Council: Bacon, Hayter e Hepworth em '959, Cragg, Deacon, Gormley, Kapoor, Wilding e Woodrow em '983. Por outro lado, a XXIII Bienal exibiu arte de 75 países, refletindo um esforço tradicional de que cada mostra deveria superar o número de países da anterior. Ainda que tenha sido possível retomaras importantes participações de Canadá, Holanda 6 e Rússia, ausentes da última edição do evento, este ano compreendeu-se que ao atingir um número tão elevado de países, a Fundação Bienal de São Paulo encontrava-se agora em condição de iniciar uma reversão desta tendência quantitativa. O objetivo era e continua sendo o de refletir criticamente sobre as transformações que o modelo tradicional das Representações Nacionais necessitará sofrer nos próximos anos. O mundo viu crescer o número de bienais nas últimas décadas. Na América Latina, além da Bienal de São Paulo, existem as bienais de La Habana, da Gravura de San Juan, de pintura das Américas de Cuenca no Equador, de Lima e do Mercosul em Porto Alegre no Brasil, estando desativadas as de Vai paraíso e de Medellín. Depois de Cuba, Cuenca e Sydney, criadas nos anos 80, surgiram Johannesburgo, Berlim, Istambul, Lyon e Kwangju nos anos 90. O que importa é perceber que no processo de globalização e simultânea reorganização do mundo em blocos geo-econômicos as bienais surgem com funções as mais diversas. Algumas cidades buscam construir uma imagem internacional, demarcar uma hegemonia, ou firmar-se como centro de arte num dado bloco econômico. Outras consideram o modelo de exposição bienal como um canal de fácil identificação e de apoio. Ainda outras cidades compreendem a Bienal como uma perspectiva específica, tal como o projeto inicial de La Habana de articular extra-oficialmente a arte do Terceiro Mundo. A última Bienal de Istambul desenvolveu seu tema a partirdo sistema cultural da Turquia, além do significado na história e da localização estratégica da cidade, enquanto Kwangju partiu de uma complexa visão cosmogônica para trabalhar os cinco elementos (água, terra, ar, fogo e tempo) mediante cinco curadores do hemisfério Norte. A I Bienal do Mercosul teve seu ponto forte na apresentação panorâmica da história da arte na América do Su I. A tendência atual é compreender que o papel das Representações Nacionais já não se vê pelo antigo prisma de fornecer os novos padrões vigentes da arte para propiciar a hipótese mais rica de diálogo. Como um jovem artista de qualqueroutra parte, os jovens artistas do Brasil continuam buscando referência na arte que circula hoje pelo mundo, mas a Bienal já não é nem almeja ser o lugar dessa referência ou do mero espaço de atualização. O que a Bienal passa a buscar mais é a articulação da produção. Estrategicamente, com WalterZanini se institui a idéia de tema como possibilidade idealística de

24 XXIV Bienal Representações Nacionais


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