Lourival Gomes Machado Por Ana Cândida de Avelar
O tema da Bienal de São Paulo deste ano, “Em vivo contato”, é um trecho do texto escrito pelo crítico de arte e diretor-artístico da 1ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Lourival Gomes Machado, para o catálogo daquela mostra, em 1951. Aquele evento se tornaria, alguns anos depois, a Bienal de São Paulo. No texto, o crítico estabelecia os objetivos da exposição que ajudou a conceber: promover o convívio, ou seja, “o vivo contato”, da arte brasileira com a internacional e conquistar espaço para São Paulo na cena artística mundial. Gomes Machado era um intelectual extremamente ativo no meio artístico brasileiro desde os anos 40. Na época da criação da Bienal, o crítico paulista era diretor do MAM de São Paulo, assumindo o cargo em 1949, logo após a saída do crítico belga Léon Degand, primeiro diretor do museu. Gomes Machado era também professor de Ciência Política na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), e, pouco tempo depois, viria a dar aulas de História da Arte e Estética na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da mesma universidade. Ainda participou da renovação do currículo desse curso durante a década de 60. Como crítico, publicou artigos em jornais e revistas paulistas especializados em arte, além de capítulos em livros e catálogos de exposição. Na década de 40, formou-se em dois cursos na USP, Direito e Ciências Sociais. Este último cursou junto dos amigos Antonio Candido e Gilda de Mello e Souza, Décio de Almeida Prado, Paulo Emílio Salles Gomes, entre outros. O grupo uniu-se a Alfredo Mesquita, da família proprietária do jornal O Estado de S. Paulo, e criou a revista Clima, cujo primeiro diretor foi Gomes Machado. No primeiro número da revista, o escritor Mário de Andrade demonstrava seu apoio ao grupo publicando o artigo “Elegia de Abril”. Os idealizadores da Clima pretendiam renovar a maneira de se fazer crítica no Brasil, unindo o rigor acadêmico ao estilo ensaístico, com uma linguagem bastante acessível. Lá estabeleceram qual seção caberia a cada um: Gomes Machado ficou responsável pelas críticas de artes plásticas; Antonio Candido escrevia sobre literatura; Almeida Prado tratava de teatro e Salles Gomes, cinema. Mais tarde, todos eles vieram a ser professores da universidade na qual se formaram, além de críticos renomados. Na mesma década, Gomes Machado publicava Retrato da Arte Moderna no Brasil (1947), um ensaio premiado sobre o modernismo paulista e a Semana de Arte Moderna de 1922 – foi ele o pioneiro entre os colegas a publicar um trabalho sobre o modernismo e a tornar-se crítico da grande imprensa, atuando nos jornais Folha da Manhã e Folha da Noite. Em 1953, escreveria Teorias do Barroco, um balanço crítico dos trabalhos de vários autores que trataram do tema, como Heinrich Wölfflin, Wilhelm Worringer, Alois Riegl e Arnold Hauser, entre outros.
ana cândida de avelar é doutoranda em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da USP (ECA-USP) e mestre em Literatura Brasileira pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP). Também é pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais.
28b ----5++++ sexta-feira 21.11.2008
Lourival Gomes Machado, na década de 50 foto Arquivo Histórico Wanda Svevo
O crítico tornou-se responsável, a partir de 1956, pela seção de artes plásticas do Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Nesse suplemento, Gomes Machado publicava artigos críticos sobre temas variados – a própria Bienal, arte moderna, barroco mineiro, Renascimento, Concretismo e Neoconcretismo, crítica de arte, entre inúmeros outros. Além disso, era ele quem dava a palavra final na escolha das ilustrações da capa e da terceira página – nesta, desenhos e gravuras eram encomendados para acompanhar contos e poemas. Outros críticos, como Mario Pedrosa e Geraldo Ferraz, também publicaram textos na seção de artes sob responsabilidade de Gomes Machado.
Em 1959, Gomes Machado dirigiu a Bienal pela segunda e última vez. Porém, mesmo quando não atuava na direção, o crítico participava do evento como membro do conselho de administração, do júri de seleção e do conselho e comissão artísticos. Os estudos sobre o barroco mineiro levaram Gomes Machado a organizar, em 1961, a exposição “Barroco no Brasil”, no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado. Ao deixar o Suplemento, Gomes Machado transferiu-se para Paris, onde assumiu o cargo de diretor de Assuntos Culturais da UNESCO, em 1962. Quando trabalhava em Milão, na campanha de preservação dos monumentos e obras de arte de Veneza e de Florença, morreu subitamente em 17 de março de 1967, aos 49 anos. Em 1969, foi publicado o livro Barroco mineiro, uma coletânea póstuma de artigos do crítico que ainda hoje é referência fundamental em cursos de História da Arte no Brasil.
O PERSONAGEM
20