Bem Público - Edição 49

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A taxa média de juros paga na economia pelos comerciantes e pelos consumidores é de 58% ao ano. Os bancos que financiam esses empréstimos ganham 52% de lucro líquido, com a inflação em torno de 6% ao ano

João Pedro Stedile

lucro líquido, com a inflação em torno de 6% ao ano. Não existe paralelo no mundo para a lucratividade dos bancos com crédito no Brasil. Com isso, os brasileiros ficam endividados no cartão de crédito ou no cheque especial, que têm taxas que ultrapassam em média 100% ao ano… Ou seja, é um verdadeiro assalto. Para efeito de comparação, a taxa média de lucro nas economias centrais é de 13% ao ano. Essa taxa já faz brilhar os olhos dos capitalistas nesses países… Nenhum porta-voz da burguesia brasileira protesta nos jornais, revistas e nas TVs contra esse assalto aos brasileiros que o capital financeiro pratica todos os dias. Ao contrário. Esses ideólogos defendem aumentos das taxas de juros como uma pretensa medida para controlar o consumo das massas e impedir o tal descontrole da inflação. A terceira hipocrisia da burguesia é omitir que a taxa de câmbio da nossa moeda em relação ao dólar é irreal. A comparação dos preços das mercadorias em dólar nos Estados Unidos e em real no Brasil indica uma taxa de câmbio necessária ao redor de U$S1,00 por R$3,00. Essa posição é defendida por diversos especialistas da área. A atual taxa de câmbio próxima a U$S 1,00 por R$2,00 está provocando um processo de desindustrialização da economia brasileira e reprimarização

das exportações. A produção das manufaturas, que geram emprego e valor agregado, não consegue mais competir no mercado internacional. Essa taxa de cambio é provocada pela emissão descontrolada do papel dólar pelo governo dos Estados Unidos e pela avalanche de capital financeiro especulativo em nosso país, que vem para cá se proteger da crise. Nenhuma palavra dos porta-vozes da burguesia sobre o “descontrole” da taxa de câmbio. Ou seja, a mídia da classe dominante sequer protege sua fração industrial. Controle dos alimentos A quarta hipocrisia é esconder que grande parte dos produtos agrícolas que se transformam em alimentos no mercado interno é controlado por um oligopólio formado por empresas transnacionais. Depois da crise de 2008, houve uma corrida do capital financeiro internacional e das empresas transnacionais sobre as chamadas commodities para se proteger da perda de dinheiro. Assim, fizeram um brusco movimento especulativo, que fez com que os preços das commodities aumentassem em três anos, em todo mundo, nada menos do que 200%. Esse aumento de preço foi repassado para os consumidores de alimentos. Portanto, o aumento de certos produtos alimentícios tem como

responsáveis os que multiplicaram os seus ganhos: as grandes empresas do agronegócio, como Bunge, Monsanto, Unilever, Cargill, Nestlé, Danone, entre outras. A quinta hipocrisia da mídia burguesa é ignorar que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de milho, enquanto a falta de alimentos dizima 18 milhões de cabeças de bois, vacas, porcos e bodes no Nordeste. Foram colhidas 60 milhões de toneladas de milho na última safra. No entanto, diante da pior seca no Nordeste, morrem os animais criados por camponeses da região. A morte desses animais será uma perda irreparável para a população nordestina, que pode demorar uma geração para repor o rebanho dizimado. As famílias se salvaram da fome graças a saques, aos benefícios do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e ao programa Bolsa Família, que garantiram renda para fazer a feira e se alimentar. Diante dessa situação, a presidenta Dilma Rousseff mandou seus ministérios tomarem providências. O Ministério do Desenvolvimento Agrário resolveu doar tratores produzidos no Sul para as prefeituras do Nordeste. Foi só um negócio que não alterou questões estruturais. Independente da situação, o Ministério da Integração Nacional continuou com a distribuição de lotes de 2014 - edição 49 - 23


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