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ISSN 1982-5994

Altamira

Cresce violência sexual contra crianças Páginas 10 e 11.

UFPa • aNo XXViii • N. 115 • oUTUBro e NoVeMBro, 2013

nutrição

Dieta preventiva Educação alimentar ajuda a evitar doenças crônicas. Páginas 12 e 13. Educação

Do Marajó a Paris UFPA fortalece parceria com o Instituto nacional de Jovens surdos. Página 14.


ASSeSSORiA de cOMUnicAÇÃO inSTiTUciOnAL JORNAL BEIRA DO RIO cientificoascom@ufpa.br Coordenação: Prof. luiz Cezar silva dos santos Edição: Rosyane Rodrigues (2.386-dRT/PE) Reportagem: Helder Ferreira, Paloma Wilm e Vitor Barros (Bolsistas), Jéssica souza (1.807-dRT/PA) e Walter Pinto (013.585-dRT/MG) Fotografia: Alexandre Moraes e Laís Teixeira Fotografia da capa: Alexandre Moraes Projeto Beira On-line: danilo santos Atualização Beira On-line: Rafaela André Revisão: Júlia lopes e Cintia Magalhães Projeto gráfico e diagramação: Rafaela André Marca gráfica: Antônio Macêdo secretaria: silvana Vilhena Impressão: Gráfica UFPA Tiragem: Mil exemplares

UniVeRSidAde FedeRAL dO PARÁ Reitor: Carlos Edilson Maneschy Vice-Reitor: Horácio schneider Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos Pró-Reitor de Planejamento: Raquel Trindade Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto sidrim nassar Assessoria de Comunicação Institucional - AsCOM/UFPA Cidade Universitária Prof. José silveira netto Rua Augusto Corrêa n.1 - Prédio da Reitoria - 1º andar CEP: 66075-110 - Guamá - Belém - Pará Tel. (91) 3201-8036 www.ufpa.br


Altamira já está sentindo os efeitos do crescimento desordenado. A construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte fez aumentar o índice de migração, o custo de vida e a violência. A UFPA, em parceria com a Fundação Tocaia e o Sociart, elaborou relatório com diagnóstico sobre os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes no município. A reportagem de Paloma Wilm traz os principais resultados da pesquisa coordenada pelos professores Assis Oliveira e Vilma Pinho. Garantir um prato nutritivo e saboroso é o desafio das oficinas realizadas pela Faculdade de Nutrição. O público formado por profissionais, estudantes e pacientes, aprende a combinar ingredientes de modo que a alimentação seja o remédio contra hipertensão, diabetes e obesidade. Na página 13, o leitor encontra as medidas ideais para uma refeição balanceada. Também nesta edição: o alerta do Grupo de Ecologia Aquática para os cuidados que devemos ter com o pescado regional e a entrevista com Lúcia Maria da Costa e Silva, sobre o destaque nacional da UFPA nas pesquisas da Geofísica. Boa leitura! Rosyane Rodrigues Editora

Índice HINDIA estimula pesquisas sobre índios da Amazônia ...............4 Pescado regional apresenta alto teor de mercúrio ...................5 Roteiro turístico atrai visitantes para o ITEC Cidadão ...............6 Pesquisas em Geofísica ganham destaque nacional ..................8 Cresce violência sexual em Altamira ................................. 10 Alimentação balanceada previne doenças .......................... 12 Intercâmbio entre Marajó e Paris .................................... 14

Entre os símbolos do outubro paraense, está o colorido dos brinquedos de miriti que invade as ruas da cidade durante o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. A imagem de Alexandre Moraes é uma homenagem ao município de Abaetetuba, que abriga o Campus Universitário do Baixo Tocantins desde 1987.


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oPiNiÃo lAís TEIxEIRA

HINDIA estimulará pesquisas sobre povos indígenas da Amazônia (*)

Márcio Couto Henrique Doutor em Ciências Sociais, professor da Faculdade de História e do Programa de PósGraduação em História da UFPA marciocouto1@ oi.com.br

de longa data, a Amazônia carrega a imagem de “terra de índio”. Muito embora essa expressão seja generalizante e venha acompanhada de tom geralmente pejorativo, não se pode negar que numerosas etnias indígenas enriquecem o patrimônio cultural da região. Os índios fazem parte de nosso passado, de nosso presente e, certamente, também de nosso futuro, queiramos ou não, respeitemos ou não seu modo de vida. na escola, aprendemos que as grandes contribuições dos índios para nossa cultura foram a rede e a farinha. Mas eles nos deram muito mais que isso: caju, maracujá, milho, açaí, abacaxi, castanha do Pará, abacate, cacau, guaraná, batata, abóbora, pupunha, borracha... Basta imaginar que, por trás de cada um desses produtos, existe um longo processo de conhecimento que envolve observação e experimentação, para se ter ideia do tamanho da contribuição indígena para nossa cultura. Isso sem falar nos remédios produzidos a partir do conhecimento dos indígenas sobre plantas! Apesar de toda sua importância, os índios brasileiros não mereceram o devido lugar de destaque na história do Brasil. Quando muito, estudamos sobre eles nos anos iniciais da colonização do País. Depois, desaparecem como num passe de mágica das narrativas históricas, nas quais são definidos como vítimas, derrotados, dizimados até, mesmo que sua presença atual revele o contrário. Essa pouca atenção dada aos índios na história do Brasil também pode ser constatada nas universidades do País. Qualquer pessoa que faça uma busca sobre grupos de pesquisa (GP) que se referem a índios no Diretório de Grupos de Pesquisa do CnPq, hoje, constatará o seguinte: buscando pela palavra-chave “índios”, aparecerá um total de 61 grupos de pesquisa. desse total, 06 grupos são da UFPA, sendo que apenas um é da área de História. Visando diminuir esse vazio, um grupo de historiadores da Universidade Federal do Pará criou, em agosto de 2013, o GP HINDIA – Grupo de Pesquisa de História Indígena e do Indigenismo na Amazônia, dedicado exclusivamente aos estudos sobre história indígena e do indigenismo na Amazônia e Pan-Amazônia. O GP reúne professores e estudantes de cursos de pós-graduação, além de estudantes de graduação, inclusive indígenas de diferentes cursos da Universidade Federal do Pará, como Rosani Fernandes, da etnia Kaingang, atualmente cursando doutorado em Antropologia (UFPA), e Juma xipaia, estudante da Graduação em Direito (UFPA). A presença de indígenas no Grupo de Pesquisa constituirá espaço de troca de experiências entre pesquisadores e índios que atualmente estudam na UFPA, contribuindo para que a universidade se torne mais inclusiva e que os índios tenham um espaço de discussão de suas ideias. Quanto aos não índios, certamente constituirá excelente oportunidade de aprender com os índios, a partir das múltiplas experiências que estes trazem de suas trajetórias no chamado “mundo dos brancos”. O GP HIndIA possui cinco linhas de pesquisa: 1. História indígena e etno-história; 2. Espacialidades e relações interétnicas; 3. Políticas indígenas e indigenistas;

4. Formas de expressão indígena e representações sobre os indígenas; 5. Ensino de História e história indígena. Importante atenção será conferida à formação e orientação de estudantes de graduação e pós-graduação, realizando-se seminários acadêmicos, bem como a produção de material didático que permita estender as contribuições do Grupo de Pesquisa aos níveis de Ensino Fundamental e Médio. A presença de estudantes indígenas pode, inclusive, favorecer a interlocução do GP com organizações indígenas e/ou indigenistas, ensejando a possibilidade de trabalhos conjuntos. Em setembro, integrantes do GP HINDIA estiveram ministrando oficinas aos índios Tembé da aldeia São Pedro, próximo a Capitão Poço. O evento, organizado por José Rondinelle lima Coelho, integrante do GP HIndIA e mestrando em Antropologia, na Universidade Federal do Amazonas, reuniu professores indígenas e não-índígenas e foi realizado na escola da aldeia. Com relação aos critérios para ingresso no HIndIA, a condição principal é que o candidato desenvolva pesquisas sobre história indígena e /ou do indigenismo, tendo os índios como foco de sua pesquisa. O grupo é coordenado pelos professores Márcio Couto Henrique (Faculdade de História e Programa de Pós-Graduação em História) e décio Guzman (Faculdade de História da UFPA). Além dos coordenadores, reúne nomes de experientes pesquisadores da história indígena, tais como Serge Gruzinski (École des Hautes Études em sciences sociales - França e Princeton University - Estados Unidos), Rafael Chambouleyron, Mauro Cezar Coelho, Karl Heinz Arenz (UFPA) e Almir diniz de C. Júnior (UFAM). O GP HIndIA está devidamente cadastrado no diretório de Grupos de Pesquisa do CnPq e certificado pela UFPA. num futuro próximo, pretende disponibilizar um site de divulgação de suas atividades. no momento, contatos podem ser feitos pela página do GP no Facebook (grupo de pesquisa hindia) ou pelo e-mail: gphindia@hotmail.com. n (*) coautoria de décio Guzman, mestre em História e professor da Faculdade de História da UFPA. índIO TEMBÉ. REVIsTA dA ExPOsIÇÃO AnTHROPOlOGICA BRAZIlEIRA, RIO dE JAnEIRO, 1882, P. 20.


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Saúde

Peixes com alto teor de mercúrio Pescada está entre aqueles com maior nível de contaminação Alexandre Moraes

Helder Ferreira

De acordo com os pesquisadores, não há razão para evitar o alimento, mas é necessário identificar os locais de pesca com maior risco de contágio.

C

om o número atômico 80, o mercúrio é um metal que se apresenta sob a forma líquida. Na indústria, é utilizado na fabricação de termômetros, barômetros, amálgama dentário e empregados como antisséptico em ferimentos. No entanto o grande risco para a população é quando este metal está presente nos alimentos e, no caso de Belém, o perigo materializa-se em um alimento bastante consumido na cidade e um dos mais suscetíveis à contaminação por mercúrio: o peixe. Pesquisa realizada pelo Grupo de Ecologia Aquática da Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com o Instituto Evandro Chagas, indica que algumas espécies de peixes consumidos em mercados e feiras de Belém apresentam alto teor de mercúrio, chegando a níveis acima da quantidade recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O estudo foi realizado por Juliana Araújo, aluna de Graduação

em Ciências Biológicas da UFPA, sob a coordenação do professor Tommaso Giarrizzo, contou com a colaboração do pesquisador do Instituto Evandro Chagas (IEC) Marcelo de Oliveira Lima. Segundo Juliana, o fato de não haver pesquisas sobre o tema em Belém funcionou como um incentivo inicial, “aqui, no laboratório, já desenvolvemos trabalhos sobre a contaminação de mercúrio. Pesquisamos e descobrimos que, na

capital, ninguém havia feito essa análise antes”. No processo, foram coletadas amostras de peixes carnívoros, onívoros e importados.“Escolhemos os principais mercados e supermercados de Belém para fazer a amostragem. Decidimos ir aos mesmos lugares frequentados pelo consumidor. Nossa opção foi coletar a maior diversidade e trazer para o laboratório”, explica Juliana Araújo.

Metal é varrido do solo pela água da chuva Os pescados que apresentaram índices de mercúrio acima do recomendado foram tucunaré, cação e pescada branca (peixes carnívoros) e a tainha–curimã (peixe onívoro). A razão apontada pela estudante para a contaminação é o solo da região, rico em mercúrio em razão da antiga formação geológica. Presente no solo, o metal é varrido para os rios pela água da chuva e sofre um processo químico transformando-se em um componente orgânico consumido pelos peixes. “Os peixes herbívoros consomem plantas que contêm uma pequena quantidade de mercúrio acumulada e tendem a apresentar baixos índices de contaminação.

Por sua vez, os onívoros consomem alimentos com índices de mercúrio levemente mais elevados, como: insetos, algas, moluscos e outros peixes. Os carnívoros alimentam-se de peixes já contaminados, por isso apresentam índices mais altos de contaminação”, esclarece Juliana Araújo. Embora esteja comprovada a contaminação de algumas espécies de pescados da Bacia Amazônica, não há registros comprovados do “mercurialismo”, termo utilizado para denominar o conjunto de sintomas proveniente da alta ingestão do metal. “Há diagnósticos de absorção em comunidades ribeirinhas, mas não há relatos de contaminação extrema”, ressalta a estudante.

Segundo Tommaso Giarrizzo, é necessário haver maior controle e vigilância sobre o pescado no Brasil. O professor adverte que não há razão para uma dieta restritiva aos pescados, mas é necessário identificar os locais de pesca onde há risco de contaminação. “Neste sentido, o estudo foi uma provocação para que as autoridades sanitárias tenham maior cuidado com a fiscalização da qualidade do pescado que está sendo consumido pelos paraenses. A carne bovina, por exemplo, passa por inspeções estadual e federal, além do Controle de Inspeção e Fiscalização (CIF), que se configura como um selo de qualidade do produto”, avalia. n


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Turismo

Espaço público, espaço turístico Roteiro de visitação leva visitantes ao ITEC Cidadão Inaugurado em 2011, o espaço ITEC Cidadão envolve os Bosques Camilo Viana e Benito Calzavara no Campus Profissional da Cidade Universitária.

Fotos Alexandre Moraes

Paloma Wilm

U

ma área verde composta por dois bosques sustentáveis, Camilo Viana e Benito Calzavara, localizados no Campus Profissional da Universidade Federal do Pará (UFPA). O ITEC Cidadão foi inaugurado em março de 2011, sob coordenação de Gina Calzavara, para ser um espaço de convivência e de atividades socioambientais, com o auxilio de projetos e instituições parceiras. O projeto paisagístico do Espaço ITEC Cidadão fez uso das paisagens naturais que compõem o ambiente da Cidade Universitária, garantindo, também, a preservação da sua biodiversidade. Além disso, a criação de jardins temáticos ajuda a

estimular o engajamento de alunos na participação em projetos com o enfoque socioambiental e introduzir o sentimento de pertencimento ao espaço público e de responsabilidade com ele, incorporando valor aos espaços dos bosques. Neste sentido, Érika Matos, uma das idealizadoras do Espaço ITEC Cidadão, apresentou como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Graduação de Turismo da UFPA a pesquisa Otimização de Espaços Públicos e Compromisso Ambiental: Análise sobre a Proposta de Roteirização Turística aplicada no Espaço ITEC Cidadão/ UFPA, que aborda a importância da valorização de espaços públicos e do estímulo à sensibilização ambiental, por meio da roteirização turística.

Segundo a autora, a pesquisa teve como objetivo analisar a importância de um espaço público que possibilite a execução de atividades de lazer e o exercício da interdisciplinaridade dentro da Universidade, além de analisar as propostas de roteirização do espaço e de que maneira elas aumentariam o número de visitas aos bosques. “De uma maneira geral, o trabalho aborda a questão do espaço público e a proposta de turismo dentro desse espaço. O objeto foi o Espaço ITEC Cidadão, porque, desde que ele surgiu, começamos a trabalhar com um roteiro turístico no local, por meio dos projetos que viraram parceiros, trouxeram novos voluntários, novos parceiros e novos visitantes”, explica Érika Matos.


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Atividades estimulam práticas sustentáveis

Iniciada com uma pesquisa bibliográfica sobre temas que permeiam o espaço público, o meio ambiente e o turismo, o estudo também envolveu a aplicação de questionários entre bolsistas, voluntários e visitantes do Espaço ITEC Cidadão, visando coletar informações pertinentes à análise em questão. Os dados coletados na pesquisa de campo passaram por análise qualitativa e quantitativa. Com esses dados, foi possível notar que a maioria dos visitantes do

espaço eram pessoas que estavam em eventos da Universidade, que possuíam vínculos com a UFPA ou tinham o Espaço ITEC Cidadão como “caminho” dentro do Campus. Érika Matos observou que 39% dos bolsistas do espaço têm entre 15 e 19 anos; 77% dos voluntários têm entre 20 e 24 anos; e 44% de visitantes têm, também, entre 20 e 24 anos, demonstrando, assim, que o público é predominantemente jovem. “A visitação do Espaço ITEC

Cidadão funciona, também, no sentido de estimular novas parcerias com pessoas que acabavam se interessando em contribuir com a proposta do Espaço. Com isso, trabalhei, principalmente, sobre os efeitos do roteiro turístico em um espaço público, verificando se ele contribui para a disseminação dos conceitos de sustentabilidade, cidadania, qualidade de vida e se, realmente, pode ser considerado turístico”, conta Érika Matos.

Flora amazônica é um dos atrativos do local A pesquisa teve um resultado positivo, pois ficou constatado que a roteirização do espaço público estimula a visitação local. No caso do Espaço ITEC Cidadão, o grande atrativo é ser um espaço de área aberta, que reúne dois bosques com muitos exemplos das riquezas naturais da região, além de apresentar propostas para o reaproveitamento de materiais, algumas bastante inovadoras, que despertam o interesse da população. “As pessoas entravam em contato com as atividades que eram feitas nos bosques e se inspiravam a

reaproveitar materiais, passando a fazer o mesmo em suas casas. Nesse ponto de vista, a disseminação realmente acontecia e o Espaço ITEC Cidadão foi considerado um espaço turístico por possuir parte da biodiversidade amazônica. Ao entrevistar os visitantes, confirmamos a hipótese de que o roteiro e as atividades do espaço realmente atraíam a atenção do público”, ressalta Érika Matos. Entre os projetos que existem no Espaço ITEC Cidadão, estão: Vida no Rio; Bosques e os caminhos da leitura; Jardim da Saúde; Jardim

Tecnológico; Convívio no pomar; Terceira Idade na Amazônia e a demonstração de algumas instalações, como os jardins verticais. “No Espaço ITEC Cidadão, foi possível aplicar um roteiro, o que fez com que o espaço fosse valorizado em termos de visitação. Assim, é possível aplicar o roteiro turístico em outros espaços públicos. Em Belém, muitas áreas abertas são subutilizadas, apesar de possuírem potencial turístico. Uma alternativa para dinamizá-las é fazer uma proposta de roteirização, dando um novo significado a elas”, conclui. n

Público Jovem 39% dos bolsistas têm entre 15 e 19 anos 77% dos voluntários têm entre 20 e 24 anos 44% dos visitantes têm entre 20 e 24 anos


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Entrevista

Lucia Maria Costa e Silva

Pesquisas em Geofísica ga Sob a coordenação de Lúcia Maria Costa e Silva, trabalhos Alexandre Moraes

Walter Pinto

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área de Geofísica da Universidade Federal do Pará vem expandindo sua aplicação por diferentes campos de investigação, relacionados, sobretudo, a atividades forense, antropológica e de resgate. À frente do grupo de pesquisa, encontra-se a professora Lúcia Maria Costa e Silva, doutora em Geofísica. Na entrevista abaixo, ela fala da aplicabilidade da Geofísica a recentes investigações, como nas buscas por corpos dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Segundo a pesquisadora, o desconhecimento desta aplicação ainda é grande por parte das autoridades brasileiras.

Beira do Rio – A UFPA vem se destacando em três áreas da Geofísica, a Forense, a Antropológica e a de Resgate, fato, inclusive, noticiado no portal especializado Geofísica Brasil. Quais as contribuições da Geofísica para essas áreas? Lúcia Costa e Silva - A Geofísica Forense pode mostrar as zonas prováveis de conter materiais diversos, como armas e drogas escondidas e até corpos ocultados em subsolo, chão e túneis construídos com paredes de alvenaria. A prospecção emprega tecnologia de ponta, o GPR, um radar de penetração do solo. A investigação forense também lida com crimes ambientais. Os professores José Geraldo Alves, Marcos Welby e José Gouvêa, da UFPA, acumulam experiência na área. A Geofísica Antropológica, tradução de Anthropological Geophysics, refere-se a estudos geofísicos de interesse antropológico, comumente voltado à procura de grupos humanos. De certa

forma, ela relaciona-se à Geofísica Forense. Finalmente, a Geofísica de Resgate lida com o resgate de corpos (ainda com vida ou não) e de objetos diversos, alguns de registro perdido, como canalizações. O radar também se destaca neste setor. Uma variedade dele permite verificar se há vida oculta na área trabalhada. Beira do Rio – O seu grupo é responsável pelos primeiros trabalhos acadêmicos realizados no País, nessas áreas de abrangência da Geofísica. E no resto do Brasil, há outros tra-

balhos em desenvolvimento? Lúcia Costa e Silva - Sim, mas pouquíssimo, ao contrário do que ocorre em outros países. Recentemente, os meios de comunicação mostraram as investigações realizadas para encontrar os restos de Eliza Samudio (Geofísica Forense) e os restos dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia (Antropologia Forense), ambas com utilização do GPR. Mas a polícia ainda utiliza meios artesanais em suas diligências, se bem que inteligentes, como escavação com draga e verificação de odor, como ocorreu

na busca pelo corpo de uma mulher enterrada em Marituba, após ter-lhe sido retirada a criança que estava gerando. A busca pelos corpos dos irmãos Novelino, jogados na Baía do Guajará, acorrentados a blocos de cimento, só teve sucesso após o uso de embarcação dotada de equipamento geofísico. Neste caso, a contratação da investigação geofísica para ajudar o trabalho do Corpo de Bombeiros foi de responsabilidade da família das vítimas. O que se evidencia, porém, é a falta de recursos financeiros e tecnológicos da polícia para re-


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anham destaque nacional envolvem a Geofísica Forense, Antropológica e de Resgate alizar seu trabalho. Em Brasília, a Polícia Federal está equipada para o trabalho, mas falta-lhe pessoal qualificado. Quando um edital de concurso é publicado, como ocorreu recentemente, a vaga é destinada à contratação de geólogo, o que indica o desconhecimento dos administradores, pois a Pesquisa Geofísica Forense exige um geofísico habilitado. Beira do Rio – O seu grupo participou das investigações dos desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Conte um pouco desta experiência. Lúcia Costa e Silva - Representamos a UFPA, juntamente com o professor Diógenes Brasil, neste que foi o maior trabalho de Geofísica Antropológica já realizado no País. Participaram vários geofísicos de diferentes instituições, coordenados por Weliton Borges, da UnB. Entre eles, destaco Marcelo de Lawrence Bassay Blum, da Polícia Federal, Raimundo Mariano Castelo Branco e a equipe da UFCE, além de professores da USP e da UFBA. Obviamente, além dos geofísicos, muitos outros profissionais formaram o Grupo de Trabalho do Araguaia (GTA), instituído pelos Minis-

“Faltam recursos tecnológicos para que a polícia realize o seu trabalho”

térios da Justiça e da Defesa e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em cumprimento à decisão judicial. Mais de uma centena de pessoas trabalharam nas expedições, de Marabá, no sul do Pará, a Xambioá, no norte do Tocantins. Também puderam acompanhar as expedições os familiares de desaparecidos na Guerrilha, além de jornalistas, historiadores, entre outros. Beira do Rio – Como foi realizado o trabalho? Lúcia Costa e Silva - Foram eleitos locais, com base em informações de testemunhas tomadas em depoimentos. Equipe de georreferenciamento do Exército fez a delimitação e a preparação da área. A partir daí, foi realizado o rastreamento geofísico de toda a área durante o dia e o processamento e a interpretação dos dados durante a noite. Um trabalho exaustivo. No dia seguinte, os locais mais propícios para conter ossadas, segundo os radargramas obtidos com a Geofísica, eram escavados por peritos do Instituto Médico Legal e do setor de Antropologia Forense, com um enorme cuidado, em razão do estágio de decomposição avançado dos corpos. Beira do Rio – Quais os resultados alcançados? Lúcia Costa e Silva - Foi um trabalho gigantesco, realizado sob uma pressão intensa dada à desconfiança dos acompanhantes. O resultado em termos de descobertas, porém, foi pífio. Beira do Rio – Quais os fatores que podem ter contribuído para que não fossem detectados os corpos desaparecidos?

“No caso da Guerrilha do Araguia, o trabalho foi gigantesco e o resultado pífio” Lúcia Costa e Silva - Podemos enumerar três hipóteses: 1) a localização dada pelas testemunhas estaria errada, pois a região mudou muito de 1973 para cá; 2) as condições ambientais não propiciaram a preservação dos restos e 3) a “Operação Limpeza” existiu de fato. Beira do Rio – Recentemente, foi realizado um estudo em cemitério localizado no Distrito de Mosqueiro, onde teriam sido enterrados cabanos paraenses. Quais os resultados deste estudo? Lúcia Costa e Silva - Trata-se de uma das três partes da Dissertação Investigação Geofísica Forense e Antropológica com o método GPR no cemitério do Tapanã e no cemitério perdido de Mosqueiro (Belém. Pará), do professor Diógenes. O trabalho iniciou com o reestudo da assinatura do radar, dessa vez, tridimensional, sobre corpo cedido pelo IMP e enterrado no nosso campo de testes geofísicos controlados de estudos Forense, Ambiental e de Resgate (FORAMB). Em seguida, foi realizado o estudo da assinatura de corpos enterrados, há mais tempo, sob concreto. Por fim, a pesquisa realizou prospecção em um cemitério perdido,

em Mosqueiro, onde ossaturas afloram, apesar destas terem mais de 80 anos. Imaginávamos que obteríamos assinaturas que revelassem corpos enterrados há mais tempo e até mesmo algum sinal dos restos aflorantes a subaflorantes. No entanto constatou-se que alvos antigos não permitem detecção fácil, quando isso, porventura, é possível. Neste caso, o alvo passa a ser não o corpo, mas a descontinuidade das camadas de sedimentos resultantes da abertura da cova ou de escavação nas paredes da cova, ou seja, um alvo indireto. Beira do Rio – Apesar de ser uma área recente de estudos, já há pesquisas desenvolvidas na pós-graduação da UFPA. O que abordam esses trabalhos? Lúcia Costa e Silva - Sobre a dissertação de Diógenes Brasil, já nos referimos anteriormente. A dissertação de Waldemir Gonçalves do Nascimento lidou com rastreamento geofísico de nível hidrostático no Cemitério do Bengui e experiências no FORAMB que evidenciaram o processo de saponificação cadavérica. Também fez um paralelo entre exigências das diferentes leis ambientais sobre cemitérios. A dissertação de Clístenes Pamplona Catete realizou o rastreamento do nível hidrostático do Cemitério do Tapanã e outras experiências no FORAMB, evidenciando a utilidade da eletrorresistividade no trabalho forense. O TCC de Anderson Santiago, realizado no nosso campo experimental, utilizou métodos geofísicos mais simples para detecção de corpos humanos, túneis subterrâneos e armas enterradas. n L e i a m a i s : h t t p : / / w w w. jornalbeiradorio.ufpa.br/novo/


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Direito

Cresce violência sexual em Altamira Relatório constata a precariedade do atendimento às vítimas Fotos Alexandre Moraes

De acordo com o relatório, agressores são pessoas com as quais as vítimas mantêm relação de confiança: pai, padrastos e vizinhos.

Paloma Wilm

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os últimos anos, os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, sobretudo os de abuso sexual, tiveram crescimento acentuado. Em Altamira, a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte fez aumentar a taxa de migração, o custo de vida e a violência. A partir desse cenário, o Projeto “Rodas de Direito: diálogo, empoderamento e prevenção no enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes”, coordenado pelos professores Assis Oliveira e Vilma Pinho, da Universidade Federal do Pará, em parceria com a Fundação Tocaia e o Sociart, desenvolveu o diagnóstico

denominado “Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes no Município de Altamira”. Por meio da pesquisa, foi possível constatar o aumento considerável dos casos de violência sexual no município e a situação de precariedade das instituições públicas, no que diz respeito à prevenção e ao atendimento das crianças e dos adolescentes. Além disso, o relatório traz propostas de como solucionar esses problemas, abordando maneiras de analisar, identificar e discutir esses assuntos dentro de políticas públicas. Segundo o professor Assis Oliveira, “é necessário que haja uma política de fixação e valorização dos servidores públicos em Al-

tamira. Isso é necessário para que as instituições tenham uma atuação mais qualificada, conseguindo atender as demandas necessárias”. As principais fontes de dados consultadas foram o Conselho Tutelar de Altamira, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) do município e o Tribunal de Justiça local, além de contar com o apoio da Secretaria de Direitos Humanos, do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente e do Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira – Campo e Cidade. Além de 25 instituições, os pesquisadores percorreram, também, 16 bairros para coletar informações sobre como a população percebe os casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes.


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Diagnóstico apresenta estratégias de combate De acordo com o professor Assis Oliveira, o diagnóstico é dividido em quatro momentos: análise das instituições; análise da situação da violência sexual; identificação dos cenários nos bairros e empresas e, por fim, a elaboração de mapas que trazem o geoprocessamento da demanda e o georreferenciamento das instituições, identificando os locais de maior vulnerabilidade. “Fizemos isso para ter a dimensão de como está a situação da violência sexual e como as instituições locais lidam com isso. Também é nosso objetivo pensar em estratégias de enfrentamento. Este relatório busca servir de referência para que os gestores possam buscar subsídios para melhorar ou implantar políticas públicas na região”, explica o professor Assis. O diagnóstico mostra que a maioria das vítimas de abuso sexual são mulheres na faixa etária entre 12 e 15 anos, de todas as classes sociais, que sofriam agressão de companheiros e namorados, pai, padrasto e vizinhos, portanto, de pessoas com quem tinham algum laço de confiança ou de relação afetiva. Os agressores são de uma faixa etária mais diversa, entre 17 e 85 anos. O professor chama atenção para duas faixas mais críticas: dos 21 aos 24 anos e dos 31 aos 35 anos. Entre as propostas de enfrentamento, está a efetivação do Plano Municipal de Enfrentamento

Ampliação do atendimento às vítimas pode ser feita com a implantação de mais dois conselhos tutelares na região.

da Violência Sexual contra a Criança e o Adolescente, assinado em maio de 2012. O Plano prevê a criação de mais dois Conselhos Tutelares no município e a criação de um banco de dados unificado, possibilitando o compartilhamento das informações pelas instituições envolvidas. “Sabemos que o diagnóstico

gera uma pressão política, uma vez que fundamenta as reivindicações da comunidade. Hoje, há uma grande mobilização social pela melhoria das instituições que prestam apoio e combatem a violência sexual, reforçando a importância de melhorias sociais no município”, destaca Assis Oliveira.

Exploração sexual envolve rede de aliciadores Além do abuso, os pesquisadores também observaram indícios de exploração sexual. Neste caso, há uma rede envolvendo boates e aliciadores que participam do mercado do sexo. No entanto esses dados ainda são superficiais. Considerando essa informação, o Projeto “Rodas de Direito” propôs um segundo diagnóstico, voltado especificamente para a exploração sexual. “Sabemos que os casos de exploração sexual existem, mas não há dados oficiais que consigam visibilizar o grau de

incidência no município, sendo necessário conhecer não apenas os locais de prostituição, mas também as dinâmicas e os perfis dos agentes envolvidos nessa rede, assim como as articulações estabelecidas entre diferentes agentes e redes inter-regionais e, por vezes, transnacionais”, revela o professor. Os diagnósticos têm papel fundamental na análise sobre a violência sexual na Amazônia. Eles mostram a influência das políticas de desenvolvimento para as condições de vida local. “Esse modelo de

desenvolvimento reproduz a lógica de exclusão social, de marginalização e de espoliação social, torna adolescentes, crianças, mulheres e povos tradicionais principais vitimas de violência. Precisamos discutir ações que possam melhorar e corrigir esse modelo. É importante que a população e, principalmente, as vítimas entendam que existem instituições preocupadas com essa situação de violência sexual. Existe um compromisso ético e político para a melhoria desse problema”, conclui o professor Assis. n


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Nutrição

Um prato nutritivo e saboroso Oficinas de educação alimentar ajudam a evitar doenças crônicas Fotos Alexandre Moraes

O consumo de alimentos saudáveis, como verduras e legumes, é o principal aliado na prevenção de doenças crônicas como hipertensão e diabetes.

Vitor Barros

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ditado “prevenir é melhor do que remediar” nunca foi tão útil em relação à saúde da população mundial. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) tem aumentado e constitui um grande desafio para a saúde pública. No Brasil, 72% das causas de morte decorrem desses tipos de agravos. Os estudos indicam que, em 2020, as Doenças Crônicas Não Transmissíveis serão responsáveis por 80%

dos males na saúde, nos países em desenvolvimento. Atualmente, apenas 20% da população desses países realiza o tratamento prescrito. A alimentação é parte significativa na prevenção e na redução dos sintomas de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes, obesidade, e de doenças inflamatórias e relacionadas a transtornos mentais. Pensando nisso, o Projeto de Extensão “Educação alimentar e nutricional em doenças e agravos não transmissíveis (EDANT)”, da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal do Pará (UFPA), oferece

formação nutricional em DCNT, nas diferentes faixas etárias, para profissionais e estudantes de Nutrição. Coordenado pela professora Irland Martens, o EDANT é um projeto de desenvolvimento de recursos humanos na assistência e no atendimento em nutrição, por meio de oficinas, para promoção da saúde, prevenção e controle dessas doenças. A intenção é que os agentes envolvidos nas atividades possam multiplicar os conhecimentos adquiridos no projeto. Entre as metas do EDANT, está a elaboração de cartilhas para obesos, diabéticos e hipertensos. A iniciativa é um seguimento do Programa de Atenção e Saúde em Nutrição, que funciona desde 2008, na UFPA. O programa atende pacientes portadores de doenças e agravos não transmissíveis, com avaliações e orientações nutricionais. Segundo Irland Martens, embora orientados, esses pacientes apresentam dificuldades para colocar em prática as recomendações feitas pelos profissionais que os atendem. “A partir dessa dificuldade, o EDANT também é um lugar de treinamento para que esses pacientes adotem hábitos saudáveis”, explica a professora.

Cardápio valoriza cultura alimentar regional

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O projeto realiza duas oficinas por semestre, que acontecem no Laboratório de Técnica Dietética. Nesse momento, profissionais, estudantes e pacientes recebem palestras sobre educação alimentar e nutricional e aprendem a elaborar sucos, saladas e carnes, com ingredientes que tornam o prato mais saudável. As receitas privilegiam alimentos regionais, como batata-doce, jambu, cheiro-verde, castanha-do-pará, tendo em vista a valorização da cultura alimentar regional. De acordo com a professora, uniformizar um conteúdo em edu-

cação alimentar e nutricional para pessoas diferentes e traduzir esse conhecimento em uma linguagem que motive os participantes é um desafio. “É preciso preservar os valores culturais da região e respeitar os hábitos alimentares dos pacientes. O papel do nutricionista é apresentar possibilidades, por exemplo, se o paciente não gosta de couve, o profissional deve apresentar uma opção que também seja saudável”, avalia Irland Martens. De modo geral, os pacientes não sabem combinar verduras e legumes para o preparo de saladas. O paciente fica preocupado com

a possibilidade de ter uma dieta restrita a “folhas”, “o que não é verdade, existem preparações e variedades saborosas que incluem frutas e verduras”, diz a professora. As orientações nutricionais dadas são economicamente viáveis e fáceis de cumprir. “Queremos mostrar que seguir uma alimentação saudável não é um fardo”, incentiva Irland. Toda essa experiência é discutida com os alunos da disciplina “Educação Alimentar e Nutricional”, com o objetivo de modificar comportamentos alimentares equivocados e melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas, explica.


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Em Belém, 50,4% da população tem sobrepeso Belém é uma das cidades brasileiras que menos consomem frutas, verduras e hortaliças. Além disso, a ingestão de produtos industrializados e a falta de disposição para atividades físicas fazem a população da capital ficar em situação desfavorável no quesito obesidade, de acordo com dados da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. A pesquisa aponta Belém com 50, 4% da população com excesso de peso. Setenta por cento dos pa-

cientes que procuram o Programa de Atenção e Saúde em Nutrição têm esse perfil. No entanto os que permanecem no programa e seguem as recomendações passam para um quadro de saúde estável, com redução de peso, dentro de dois meses. “Esses pacientes apresentam resultados expressivos. Mesmo a criança, que apresenta mais dificuldade para emagrecer, ainda que não reduza o peso como deveria, melhora o quadro bioquímico na redução do colesterol e na estabilização dos triglicerídeos”, afirma Irland Martens.

As dificuldades para seguir as recomendações são as mais diversas. Entre os fatores mais comuns, estão a falta de tempo, os recursos financeiros e a negação do comportamento alimentar inadequado. “Os hábitos precisam de disciplina para serem modificados. Alguns pacientes param de se alimentar adequadamente quando chegam ao peso ideal, o que é um erro comum entre as pessoas que não se preocupam com fatores bioquímicos do corpo, cuja disfunção levará ao agravamento de doenças crônicas não transmissíveis”, adverte.

Bons hábitos devem iniciar ainda na infância A conscientização é mais difícil entre as crianças, mas, quando são incentivadas à boa alimentação desde cedo, elas correm menos risco de adoecer. “É mais difícil modificar um hábito alimentar que já passou pela infância e pela adolescência, do que introduzir este hábito em casa, desde cedo”, aconselha a coordenadora do EDANT. Irland Martens aponta para uma situação muito frequente: “Há muitas pessoas de 30 a 40 anos manifestando genes cancerígenos, porque não têm um fator protetor, muitas vezes, relacionado à má alimentação, e porque não praticam

Carboidrato: 1/4 do prato

hábitos saudáveis. Esse gene, que talvez fosse se manifestar apenas na velhice, acaba ocorrendo cedo, por conta da alimentação inadequada”. Para incentivar as crianças ao consumo de verduras, hortaliças e frutas, é preciso apresentar preparações atraentes. Arroz com temperos naturais, coloridos, bolinhos de carne misturados com legumes, bolinhos de peixe são formas de fazer com que criança aceite um alimento com o qual ela não está costumada. Como fazer parte – O EDANT atende pacientes por demandas espontâne-

as, os quais passam por avaliação física, de consumo alimentar, de dados bioquímicos e por orientação nutricional. Os pacientes são convidados a participar da oficina para aprender receitas saudáveis. As oficinas têm vagas limitadas, no máximo 25 pessoas. Qualquer pessoa pode participar do projeto desde que tenha interesse, disponibilidade e necessidade, de acordo com a patologia diagnosticada. Para isso, basta marcar uma avaliação no consultório de Avaliação Nutricional da Faculdade de Nutrição, localizado no Campus do Guamá, em Belém.n

Duas colheres de feijão

Proteína: proporcional à palma da mão

Salada: deve ocupar metade do prato

Sobremesa: uma porção de fruta

Medidas para uma refeição balanceada

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Educação

Intercâmbio entre Marajó e Paris UFPA fortalece parceria com o Instituto Nacional de Jovens Surdos Laís Teixeira

Licenciatura em Libras é ofertada na forma bilíngue, com a Lingua Brasileira de Sinais ensinada como primeira lingua e o Português, como segunda.

Jéssica Souza

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ermitir que estudantes, professores e pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) troquem experiências e tenham contato com técnicas desenvolvidas pelo mais importante Instituto do mundo na educação de surdos e, por meio dessas experiências, contribuir para o avanço das políticas públicas voltadas para deficientes auditivos no Estado do Pará e no Brasil. É com esse objetivo

que a UFPA mantém parceria com o Instituto Nacional de Jovens Surdos de Paris (INJS), por meio da Pró-Reitoria de Relações Internacionais (Prointer). O INJS foi criado para atender as demandas por educação e inclusão social de jovens surdos-mudos. O instituto foi fundado pelo francês Charles-Michel de l’Épée como a primeira escola gratuita para surdos em Paris e, em 1991, tornouse uma instituição governamental. Hoje, é dirigido por Jean-François

Dutheil e também mantém parceria com diversas universidades e instituições estrangeiras. O instituto atua sob a supervisão do Ministério de Pessoas com Deficiência, sendo referência mundial como lugar de aprendizagem, educação e vida em comunidade. O objetivo é garantir a formação do cidadão para inserção, integração social e profissional de jovens surdos na sociedade. A parceria da UFPA com o INJS vem desde 2009, tendo sido reafirmada em 2012, pelo reitor Carlos Maneschy. Segundo explica Lindalva Canaan Moraes, assessora da Prointer, há um acordo de cooperação institucional que permite atividades comuns ao INJS e à UFPA de modo a facilitar o intercâmbio entre os grupos. Por meio da parceria, as professoras do Campus do Marajó – Soure Luizete Carliez e Ellen Susan Formigosa, ambas atuantes na Licenciatura em Libras/ Português L2, realizaram estágios no INJS e no Hospital Necker, em Paris. Além disso, profissionais do INJS participaram dos Fóruns de Inclusão, realizados pelo Campus do Marajó.

Alunos aprendem Libras, Braille e Sorobã

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De acordo com a professora Luizete Carliez, o intercâmbio com o INJS permitiu o fortalecimento das ações da UFPA com as comunidades surdas, o que contribuiu para o avanço das políticas públicas no Estado. “Graças a esse acordo, vários profissionais da Universidade aprofundaram seus conhecimentos na área da saúde e da educação de surdos, o que culminou na criação da Licenciatura em Libras/Português L2 na UFPA, em 2011”, conta. O curso é ofertado na forma bilíngue, com a Língua Brasileira de Sinais (Libras) sendo ensinada como primeira língua e o Português, como segunda. Também há carga horária reservada para o ensino de Braille - modo de leitura para deficientes

visuais - e do Sorobã, calculadora japonesa em que os números são contas. A UFPA foi a terceira universidade a ofertar uma licenciatura voltada para a política nacional que enfatiza a responsabilidade das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) na qualificação de profissionais para atender os mais de oito milhões de surdos existentes no Brasil. O intercâmbio resultou ainda na criação do Projeto Libras para Todos, que promoveu palestras e cursos de Libras, retransmitidos online para mais sete campi da Universidade. A expectativa é que, até 2015, todas as graduações de licenciatura da UFPA tenham Libras no

Projeto Pedagógico do Curso (PPC). No INJS, a formação de surdos vai além da sala de aula. “A formação é de dois anos, depois dela os surdos estão preparados para atuar no campo profissional de sua escolha: metalurgia, gráfica, música, marcenaria, cabeleireiro, entre outras”, explica Luizete Carliez. Já Ellen Formigosa, que é surda oralizada/sinalizada, observou que a Língua de Sinais (LS), na França, tem um lugar importante na educação dos surdos, tornando-os indivíduos mais participativos na sociedade. “Há uma conscientização da importância da LS para os surdos e os sinais são criados pela própria comunidade surda, que respeita muito a diversidade”, destaca. n


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A História na Charge

Em Tempo Extensão

Naea

Guamá Business

De 26 a 28 de novembro, a UFPA realiza a XVI Jornada de Extensão. A programação inclui oficinas, minicursos, serviços, mostra de filmes e exposição. As atividades serão realizadas na Praça da República, no Espaço Cultural Nossa Biblioteca, no Centro Comunitário Bom Jesus e na Cidade Universitária José da Silveira Netto. Inscrições pelo e-mail: proex.dpp@gmail.com

O Núcleo de Altos Estudos Amazônicos comemora seu aniversário com o Simpósio Naea 40 anos. A programação irá discutir os principais temas de pesquisa ao longo desse tempo: políticas públicas, sustentabilidade e desenvolvimento na Amazônia. O evento será realizado de 6 a 8 de novembro, no Hotel Sagres, em Belém. Inscrições: secretaria_naea@ufpa.br

Acaba de ser lançada a Unidade de Negócios do Parque de Ciência e Tecnologia Guamá. O espaço irá atender empreendedores que têm negócios ou projetos que demandam suportes nestas áreas e em Gestão da Inovação. Os interessados podem agendar atendimento: ascom@fundacaoguama.org.br/ (91) 3321-8912

Calendário

Calendário II

Calendário III

O Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPA aprovou o Calendário Acadêmico de 2014. Serão 200 dias para as atividades curriculares dos cursos de graduação em regime extensivo, distribuídos na sua metade entre o 2º e o 4º períodos letivos. Além dos feriados nacionais, constam, ainda, feriados locais indicados por cada campus.

O 1º período letivo do regime intensivo (intervalar) terá 50 dias de atividades curriculares, que serão realizadas no período de 2 de janeiro a 28 de fevereiro. O 3º período inicia no dia 1º de julho e termina no dia 30 de agosto, excluindo o dia 15 de agosto como feriado estadual, em comemoração à Adesão do Pará à Independência.

Foram incluídos no Calendário Acadêmico 2014 dois dias que poderão ser pontos facultativos, os quais deverão ser indicados pelas Unidades Acadêmicas, como o Dia do Professor e a Copa do Mundo, nas datas em que ocorrerem os jogos do Brasil. A Semana do Calouro ocorrerá no período de 24 a 28 de fevereiro de 2014.



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