Beira 86

Page 1

issn 1982-5994

12 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010

Entrevista

Quer transformar uma boa ideia em bons negócios?

Muito além da alta definição

Procure a Agência de Inovação Tecnológica da Universidade Federal do Pará.

EMUFPA promove inclusão social

Gisa Bassalo: “o sucesso depende de persistência, disciplina e dedicação”

que novos produtos e processos sejam lançados no mercado ao longo da vida da empresa e não apenas no momento de sua criação. Esses aspectos interferem diretamente no aumento da competitividade, considerada fator de sucesso. Graças ao grande esforço e à competência da equipe do PIEBT, temos conseguido manter o processo de incubação alinhado com essas características e tendências. Como casos de sucesso, podemos citar: Chama da Amazônia, D’Amazônia Chocolates e Ervativa,

Beira do Rio – O Pará tem uma "veia empreendedora"? G.B. – O brasileiro, de modo geral, é tido como um povo empreendedor, mas os números não mostram isso. No Brasil, o empreendedorismo está mais relacionado com a necessidade do que com a oportunidade. E nós Beira do Rio – Vocês atendem dequeremos estimular o caminho da mandas de que regiões do Estado? oportunidade. Incentivar aqueles G.B. – Tivemos demandas de alguns que acham que isso é importante municípios, como Tupara a sua vida, para curuí e Curuçá. Neso desenvolvimento ses casos, aplicamos a da sua carreira pro“incubação de empresa fissional. Esse tipo associada”. Quer dizer, de empreendedorisa empresa tem sua sede mo é mais duradouro, fora do prédio da Incupois as pessoas fazem badora, mas é assistida com o coração. Outra em todos os outros questão importante é a aspectos relaciona"cultura empreendedodos a sua preparação. ra”. De modo geral, as Oferecemos acompauniversidades formam nhamento do Plano de os empregados. NosNão podemos Negócios e serviços sos alunos saem daqui de apoio técnico e gepensando em consedeixar a rencial. guir um emprego que ofereça um bom salário formação do Beira do Rio – O que e nós gostaríamos de empreendedor é necessário para que mudar essa cultura do o processo de incu“ser empregado”. Nós ao acaso bação de empresas não queremos deixar dê certo? Quais bons a formação do empreexemplos podem ser endedor ao acaso. É citados? tarefa da Agência fazer com que essa G.B. – Em primeiro lugar, muita formação seja sistemática e direciodisposição dos empreendedores, nada. Nossa intenção é implantar pois o processo de incubação dura um programa de empreendedorismo. entre 30-36 meses, dependendo da Não queremos propor uma disciplina característica da empresa. Não é fácil obrigatória, mas sugerir uma atividesenvolver um negócio de sucesso. dade extracurricular, que estimule É necessária uma boa dose de persisos alunos a criarem algo que iria tência, disciplina e dedicação. Um levá-los à condição de criadores e bom Plano de Negócios também é geradores de empregos. Isso seria fundamental, assim como garantir uma mudança de paradigma.

Alexandre Moraes

Coleção reúne vocabulário paraense Pág. 4

Pesquisadores analisam formas de popularizar o acesso ao Sistema Brasileiro de TV Digital

A

televisão que conhecemos hoje está passando por uma transformação silenciosa. Até 2014, todas as emissoras deverão ter mudado para o Sistema Brasileiro de TV Digital. Além de melhorar a qualidade de imagem e de som, o sinal digital chega para modificar a postura do telespectador diante do

veículo. Pesquisadores da Engenharia da Computação da UFPA analisam o uso da nova tecnologia para garantir o que ela traz de melhor: a interatividade. Comunicar um foco de dengue e emitir a segunda via de documentos são algumas das ações que poderemos fazer com o controle remoto. Págs. 6 e 7

Castanhal está entre os pesquisados

Pescado

UFPA intensifica pesquisa científica em Bragança

Espanhol

Guamá bilíngue em dez anos

Programa da Faculdade de Letras Estrangeiras da UFPA está mudando a realidade de crianças e jovens moradores do bairro. Pág. 10

Investimentos do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades (Reuni) melhoram a infraestrutura ne-

A professora Gisa Bassalo conversa sobre os projetos da Agência de Inovação Tecnológica da UFPA. Pág. 12

cessária para o avanço das pesquisas. Resultados estão contribuindo para o desenvolvimento sustentável. Pág. 3

Coluna da Reitoria

Comunicação

O pró-reitor Edson Ortiz de Matos fala sobre eficiência administrativa. Pág. 2

História do jornalismo no Pará

Estudo está analisando projeto gráfico e linha editorial dos jornais paraenses desde o início do século XIX. Pág. 8

Entrevista

Alexandre Moraes

os resultados de uma pesquisa. É preciso mostrar que, ao colocarmos essa etapa no nosso cronograma de procedimentos, teremos um retorno intangível muito maior em relação a ganhos econômicos advindos do licenciamento de nossas patentes. A Coordenadoria de Consultorias e Serviços Tecnológicos tem como primeira tarefa atender e resolver gargalos tecnológicos de micro e pequenas empresas. Para isso, precisamos ter um conhecimento amplo da Universidade – saber quem presta serviço e os tipos de laboratórios e equipamentos existentes, identificar quais serviços seriam interessantes para essas empresas nos diversos setores da economia. A empresa faz a demanda e nós atendemos utilizando metodologias já disponíveis, notadamente aquelas eleitas pelo Programa Sibratec, do governo federal.

Linguagem

Alexandre Moraes

Beira do Rio – Um dos objetivos da em relação ao desenvolvimento da Agência é promover esse diálogo sua região. entre Universidade e Sociedade Beira do Rio – A Agência atua em Civil por meio da inovação tecnotrês grandes áreas: Incubação de lógica. Após um ano de atuação, Empresas e Parques Tecnológicos, como vocês avaliam os resultados Consultorias e Serviços Tecnolóalcançados? gicos e Propriedade Intelectual. Gisa Bassalo – A partir da instituComo funciona cada uma delas? cionalização, a Agência passou a ter G.B. – A coordenadoria de Incubação o apoio da Administração Superior. de Empresas e Parques Tecnológicos Como órgão suplementar, passamos é o PIEBT, que existe há 15 anos e a ter a "cara" da Universidade, o que continua com as mesmas funções: contribui para a legitimação da Agênincentivar o empreendedorismo, cia diante da comunidade acadêmica. procurar novas oportunidades de Para estabelecer a relação com a negócio dentro da UFPA e mostrar sociedade, precisamos da participaque é possível transformar ideias em ção dos professores-pesquisadores, negócios competitivos, promovendo porque a Agência pretende contribuir o encontro entre pesquisadores e com o desenvolvimento econômico e investidores. Em nossa Incubadora, social do Estado. O atual governo do que é de base tecnológica, temos atenEstado tem um programa de desenvoldido, principalmente, as empresas do vimento no qual ciência, tecnologia e setor de cosmético e perfumaria, mas inovação são a mola propulsora. Cada também temos projetos nas áreas de agente tem seu papel nesse processo informática, da construção civil. Atide desenvolvimento e o da Univervidades que estimulam a cultura do sidade é construir o conhecimento, empreendedorismo também saem da fazendo com que ele Incubadora. A coordechegue à sociedade. nadoria de Propriedade Nós acreditamos que a Intelectual absorveu o melhor maneira de se setor de mesmo nome, fazer isso é trabalhar anteriormente ligado sem intermediários, à Pró-Reitoria de Pestransferindo conheciquisa e Pós-Graduação mento para as empresas (PROPESP). Essa coincubadas, para emordenadoria trabalha presas parceiras que com a proteção do coprecisam de soluções nhecimento presente para os seus problemas em TCCs, dissertações técnicos, de produção e teses, por exemplo. No futuro, ou de gestão. Além Também é sua função de formar pessoas, a divulgar a importância gostaríamos UFPA precisa intervir da propriedade intelecde mudar essa mais diretamente no tual, mostrando que processo produtivo, não é uma barreira que cultura do "ser não acadêmico. A universiprecisamos transpor dade do século XXI tem antes de fechar um empregado" uma postura mais ativa negócio ou divulgar

Pág. 9

Mácio Ferreira

Há um ano, a Agência de Inovação Tecnológica (Universitec) foi institucionalizada e passou a ser um órgão suplementar dentro da estrutura da UFPA. Longe de ser uma questão meramente burocrática, a institucionalização possibilitou a reunião de iniciativas importantes e estratégicas em um só lugar e com uma política única de ação. Diferente de outras instituições, que transformaram seus escritórios de transferência de tecnologia nos Núcleos de Inovação Tecnológica, a UFPA fez diferente, pois não se pode falar em inovação sem falarmos em empreendedorismo. "Queríamos trabalhar a propriedade intelectual, o empreendedorismo e, obviamente, a relação da Universidade com a sociedade, especialmente com o setor empresarial”, afirma a professora Gisa Bassalo, diretora da Agência. Em entrevista ao Jornal Beira do Rio, a professora falou sobre o papel da Universidade no desenvolvimento da região e da importância de adotarmos uma formação empreendedora sistemática e direcionada.

Música Fotos Alexandre Moraes

Rosyane Rodrigues

JORNAL DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ • ANO XXIV • N. 86 • Setembro, 2010

Opinião Instituto de Estudos Costeiros presta serviços à comunidade

A professora Heliana Baía Evelin discute o trabalho voluntário. Pág. 2


BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010 –

Coluna da REITORIA

Edson Ortiz de Matos - Pró-Reitor de Administração

proad@ufpa.br

Eficiência administrativa se alcança com esforço coletivo

E

Alexandre Moraes

xistem vozes discordantes em relação à necessidade de modernização dos serviços públicos oferecidos? Ou que a "máquina" administrativa deva ser encaixada nas tecnologias e sistemas gerados que implicarão em eficiência, rapidez e, acima de tudo, transparência? Se há unissonância nesses pontos, então, não há por que se excluir de introduzir a chamada era da modernização administrativa no serviço público federal. Estamos nos remetendo ao caso particular da Universidade Federal do Pará. O mundo se aproximou através da internet, trazendo não só facilidades para a comunicação formal, mas também impulsionando a necessária Modernização da Gestão, incluída no Plano de Desenvolvimento Institucional, para uma execução eficiente dos serviços prestados nas várias esferas. Estão em funcionamento programas e sistemas integrados federais e institucionais que gerenciam a tramitação de processos, no cadastramento de bolsistas, no controle do patrimônio, nos estoques de materiais, nas compras a serem realizadas, nos processos de licitações e na homologação de resultados, assim como no controle financeiro e na concessão de diárias e passagens.

P

A Pró-Reitoria de Administração (PROAD) tem uma função ampla, que vai além do conduzir e tornar mais céleres os serviços prestados em suas Diretorias de Contratos e Convênios, Finanças e Contabilidade, Almoxarifado e Patrimônio, Compras e Serviços; na Coordenadoria de Diárias, Passagens e Hospedagens e no Restaurante Universitário. Isso envolve todos os segmentos e as unidades da Instituição, incluindo os campi do Estado. Todo processo de implantação de um sistema informatizado só produz resultados eficientes se vier acompanhado da infraestrutura compatível e capacitação profissional dos servidores e gestores com atuação nos diversos estágios. Nessa administração, vislumbra-se a Instituição muito além da Cidade Universitária Profº José da Silveira Netto. Em maio deste ano, a PROAD realizou a VII Semana Orçamentária, investindo recursos próprios na capacitação de 142 servidores envolvidos nas atividades de gestão de recursos públicos. As oficinas, ministradas por profissionais da Escola deAdministração Fazendária, do Ministério da Fazenda, abordaram Gestão Pública, Planejamento Governamental, Orçamento Público, Contratações Públicas - Legislação e Fundamentos, Contratações

Públicas - Prática, Fundamentos da Execução Orçamentária e Financeira, Práticas de Execução Orçamentária e Financeira (SIAFI), Fundamentos da Contabilidade Aplicada ao Setor Público, Custos e Práticas de Contabilidade Aplicada ao Setor Público e Controle da Gestão Pública. No mês de junho, receberam treinamento específico servidores dos campi de Abaetetuba, Bragança, Breves, Soure, Capanema, Marabá, Cametá e Altamira, quanto à utilização do Sistema de Informação de Materiais (SIMA), que administra on line os processos de aquisição, por meio da Agenda de Compras, Transferência de Bens, Almoxarifado e Patrimônio das Unidades, além de outros procedimentos indispensáveis para a correta instrução de processos administrativos. O governo federal criou e implantou os Sistemas de Divulgação Eletrônica de Compras e Contrações (SIDEC) e o de Controle de Diárias e Passagens (SCDP), ambos de uso obrigatório. Os órgãos e entidades da administração pública federal direta, autárquica e fundacional passaram a utilizar o SCDP para concessão, registro, acompanhamento sistemático e em tempo real, gestão e controle de diárias e passagens, além do envio direto de in-

formações para a Controladoria Geral da União (CGU). Os benefícios que a utilização desses sistemas provoca em uma instituição, como a UFPA, não se percebem apenas na eficiência administrativa que revela, mas, principalmente, na descentralização administrativa e agilidade nos procedimentos, na transparência da prestação de contas e no controle enérgico dos gastos. A palavra “eficiência”, citada inúmeras vezes neste texto, é, para mim, a busca que pretendo imprimir na PROAD, estabelecendo ações e políticas de gestão administrativa, financeira, patrimonial e contábil compatíveis com o nível de crescimento e desenvolvimento da Instituição. Acima de tudo, é imprescindível que se apresentem as peças encaixadas nas engrenagens dessa máquina administrativa, com toda a transparência e seriedade que a comunidade merece ter. Eficiência que deve ser visível não somente ao final de um processo, mas também em todas as etapas que levam à consecução satisfatória dele. Não omitindo, sobremaneira, os atores responsáveis em suas diversas etapas. Mas, esse é um processo contínuo, que deve ser aposto infinitamente e por todos os gestores atuais e futuros.

OPINIÃO Heliana Baía Evelin

hbesoria@ufpa.br

Voluntariado de pertencimento

esquisadores indicam o início do trabalho voluntário no Brasil com a fundação da Santa Casa de Misericórdia, em Santos, em 1532. Contudo, somente no final do século XX, a Lei 9.608/98, publicada no Diário Oficial da União, em fevereiro de 1998, dispõe sobre as condições de exercício do trabalho voluntário. A preocupação básica da Lei é fazer a distinção entre o trabalho voluntário e o trabalho assalariado. O 2º Artigo, dentre os seus cinco, determina o “termo de adesão”, que se constitui em prova documental da não formalização do vínculo de emprego entre o voluntário e a organização. A Lei 10.172, de 9 de janeiro de 2001, que aprovou o Plano Nacional de Educação, prevê que as universidades brasileiras adaptem seus currículos acadêmicos de modo que todos os alunos cumpram 10% dos seus créditos em atividades de extensão. Quando pensamos na UFPA, todos significa 32 mil alunos. Quando pensamos nos escassos recursos destinados à extensão, podemos concluir que a diretriz não poderá ser exercida, como não o foi no tempo previsto para o seu cumprimento: final de 2004. Algumas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ Rua Augusto Corrêa n.1 - Belém/PA beiradorio@ufpa.br - www.ufpa.br Tel. (91) 3201-7577

universidades buscaram solução regulamentando o voluntariado na extensão. Em julho de 2008, a União de Estudantes do Estado de Santa Catarina fez manifestação contra o “trabalho voluntário obrigatório”(sic). Nos conceitos correntes sobre o trabalho voluntário, há, quase sempre, o sentido de doação de tempo a alguma causa de interesse social e comunitário. Deste modo, no Programa Luamim, tinhase uma concepção contrária ao trabalho voluntário, sobretudo porque ainda há, na sociedade, a representação da Arte como atividade realizada descompromissadamente e, por sequência, outros profissionais, não artistas, que trabalham com a Política da Cultura são vistos como alienados da realidade política e socioeconômica. A coordenação do Programa sempre esteve preocupada com a ideia de que os atendidos não vissem a ação interventiva como benesse, o que poderia ocorrer com uma equipe não vinculada ao Programa, motivada pela compaixão e amor aos pobres. No entanto, um grupo de voluntários foi se formando a partir da participação em reuniões de estudo que ocorrem semanalmente no Programa,

nas Semanas Científico-Culturais, nas Jornadas de Extensão, nos seminários de pesquisa realizados na Universidade, nos quais, sistematicamente, a equipe apresenta trabalhos científicos. A partir de depoimentos de estudantes voluntários, consideramos que é possível usar a categoria voluntariado de pertencimento para uma prática em que não aparece a palavra doação de tempo. O estudante voluntário busca espaço onde possa colocar em prática seus conhecimentos, manter-se atualizado e estar em contato com instituições e pessoas que lhe possibilitem a inserção no mercado de trabalho ou o acesso à bolsa de ensino, extensão ou pesquisa. Ele tem ciência de que a sua ação não substitui o Estado nem se choca com o trabalho remunerado e de que, na condição de estudante, recém-graduado ou em pós-graduação, se encontra em um espaço privilegiado para construção de conhecimentos e estabelecimento de relações favoráveis para o seu futuro profissional. Sua ação não se relaciona com os conceitos vinculados aos valores da caridade, compaixão e do amor ao próximo, no sentido historicamente representado pela ação assistencialista. O

11

Meio ambiente

voluntário universitário troca saberes com a comunidade; participa do processo de ensino X aprendizagem; empenha-se em compreender a vida social, econômica, cultural e política da comunidade; dispõese a colaborar para o processo de transformação social; desenvolve habilidades no trato com a equipe interdisciplinar e na produção científica, elaboração de projetos e organização de eventos científicos; visa à formação de currículo e da habilitação profissional. O voluntário de pertencimento atende a missão da Universidade na formação de quadros para o mercado de trabalho e, portanto, deve-lhe ser propiciada a garantia de orientação qualificada para o processo de formação profissional, sendo necessários investimentos para equipar devidamente os programas e projetos para atender a essa demanda, assim como o atendimento à Lei 9.608/98, que determina a alocação de recursos para alimentação e transporte. Heliana Baía Evelin é doutora em Serviço Social, professora no ICSA-UFPA. coordenadora do Programa Luamim.

Reitor: Carlos Edilson Maneschy; Vice-Reitor: Horácio Schneider; Pró-Reitor de Administração: Edson Ortiz de Matos; Pró-Reitor de Planejamento: Erick Nelo Pedreira; Pró-Reitora de Ensino de Graduação: Marlene Rodrigues Medeiros Freitas; Pró-Reitor de Extensão: Fernando Arthur de Freitas Neves; Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Emmanuel Zagury Tourinho; Pró-Reitor de Desenvolvimento e Gestão de Pessoal: João Cauby de Almeida Júnior; Pró-Reitor de Relações Internacionais: Flávio Augusto Sidrim Nassar; Prefeito do Campus: Alemar Dias Rodrigues Júnior. Assessoria de Comunicação Institucional JORNAL BEIRA DO RIO Coordenação: Ana Danin; Edição: Rosyane Rodrigues; Reportagem: Ana Carolina Pimenta (013.585-DRT/MG)/Dilermando Gadelha/Glauce Monteiro (1.869-DRT/PA)/Igor de Souza/ Jéssica Souza(1.807-DRT/PA)/Killzy Lucena/Moenah Castro/Rosyane Rodrigues (2.386-DRT/PE)/Yuri Rebêlo; Fotografia: Alexandre Moraes/Karol Khaled; Secretaria: Silvana Vilhena/Carlos Junior/ Davi Bahia; Beira On-Line: Leandro Machado/Leandro Gomes; Revisão: Júlia Lopes/Cyntia Magalhães; Arte e Diagramação: Rafaela André/Omar Fonseca; Impressão: Gráfica UFPA; Tiragem: 4 mil exemplares.

Livro discute o futuro da espécie humana Poema lança primeiro volume da série "Debate - Barbárie ou O Quê?”

Igor de Souza

É

consenso entre alguns pensadores contemporâneos: existe uma razão, chamada de "instrumental", que orienta os seres humanos rumo ao esfacelamento do homem e do mundo. Uma razão cuja fundamentação reside na pragmática de mensurar utilidades e resultados dentro de um contexto mercantil, em que as ações e os comportamentos servem para adequar a dominação do homem e da natureza sob a égide da barbárie. Um exemplo disso na nossa região: o atual aumento do desmatamento na Amazônia Legal em 35%, quando comparado ao ano de 2009, segundo dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Felizmente, existem aqueles que analisam, criticam, denunciam e, é claro, se preocupam com o futuro da humanidade. O professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e coordenador do Programa Pobreza e Meio Ambiente na Amazônia (Poema), Thomas Mitschein, é um deles. Sua mais nova reflexão sobre o futuro da nossa espécie reside na obra O direito à diversidade socioambiental como utopia andinoamazônica no século XXI, lançada em junho deste ano, pela Biblioteca do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA (Numa), em parceria com o Partido Verde. A obra marca o primeiro número da série "Debate - Barbárie ou O Quê? Sobre o futuro da espécie humana no século XXI", um projeto que nasceu de modo on line no site do Poema, após o Fórum Social Mundial, que aconteceu em 2009, em Belém. Com o objetivo de discutir a questão da racionalidade instrumental presente no mundo inteiro, “uma racionalidade que não tem respeito nem conciliação com o que não se enquadra nas suas fórmulas utilitaristas" nas palavras de Thomas

n Problema ou solução ?

Alexandre Moraes

Karol Khaled

2 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010

Obra reúne artigos que surgiram de discussão iniciada pela internet Mitschein, o debate agregou, em um ano, mais de 2.200 visitas de muitos pesquisadores e professores nacionais e internacionais. A partir de um artigo lançado pelo professor Thomas Mitschein, no site do Poema, sobre a racionalidade instrumental e as suas implicações para o contexto andino-amazônico, vários intelectuais puderam apresentar suas reflexões na plataforma on line. Dessa forma, o professor optou

por organizar alguns dos textos em forma de livro e, assim, surgiu a primeira edição da série. Ao todo, dez ponderações estão presentes na obra, dentre as quais, destacam-se a dos professores da UFPA, Alex Fiúza de Mello, Norbert Fenzl e Romero Ximenes, assim como as do deputado estadual Parsifal Pontes, do economista Maurício Brusadin, entre outros intelectuais preocupados com o futuro das próximas gerações.

n Pensar o homem numa perspectiva global "Barbárie ou Socialismo?". É fazendo referência a esta famosa frase proferida pela socialista Rosa Luxemburgo, na virada do século XIX para o século XX, que Thomas Mitschein desenvolve suas reflexões sobre os desafios enfrentados pelo homem na atualidade, focando, prioritariamente, a questão ambiental e a dizimação das bases naturais para a sobrevivência humana. Passado pouco mais de um século, o mundo se depara com mais de um bilhão de pessoas no mundo passando fome paralelamente à incessante destruição dos ecossistemas tropicais na América Latina, África e Ásia. Para o período em que Rosa Luxemburgo proferiu a frase citada anteriormente, a solução para os problemas do mundo estaria na busca pelo socialismo. E hoje? Qual seria a solução para a barbárie? Para o pesquisador Thomas

Mitschein, com as receitas do século XIX, dificilmente se resolvem os problemas do século XXI. Se o socialismo, como teoria, poderia promover a igualdade entre os homens, na prática, tal sistema político se transformou em teoria da industrialização e não de emancipação do homem, tal como propôs o filósofo Karl Marx. "Nós estamos, hoje, em uma situação histórica em que podemos declarar: não há mais receitas. As receitas precisam ser inventadas de novo de acordo com as especificidades de cada ecossistema, em nivel local/regional, dentro do qual o homem está tentando se adaptar. Este é o grande desafio", complementa. Nesse sentido, pensar os problemas na e da Amazônia, por exemplo, requer uma análise das transformações do mundo e do homem a partir de uma perspectiva global, tal como propõe o professor Alex Fiúza de Mello em sua

ponderação. São interações globais e redes múltiplas que resolverão grandes problemas, como a fome e a exclusão social, os quais, para Thomas Mitschein, possuem condições de resolução do ponto de vista tecnológico e econômico, o empecilho está na insuficiência de novos ideais e vontade política. Para oferecer a contraposição à barbárie na Amazônia Legal, o professor ressalta a valoração e o respeito à diversidade presente na região. "A América Latina está em uma situação muito privilegiada por uma razão muito simples: nós temos as populações tradicionais, esse 'povo-testemunha', como diria Darcy Ribeiro, que tem uma cosmologia andina que não se enquadra na racionalidade instrumental; que tem outra tradição de relação entre homem e natureza. São elementos que nos fazem refletir e aprender com eles”, ressalta Thomas Mitschein.

Se, para alguns, a resolução das contradições na atualidade reside nos ideais do passado, para outros, a aposta na ciência se torna dogma incontestável. Porém, é só voltar um pouco ao passado e perceber o quanto a razão e a ciência estão em descrédito quando passaram a atuar contra o ser humano para fins destrutivos, por exemplo. Prova disso é a utilização dos conhecimentos científicos para o genocídio causado com as bombas ao final da 2ª Guerra Mundial, assim como na anulação da consciência crítica do homem, quando a prática científica passa a ser povoada pela dimensão consumista inerente ao sistema capitalista, criando um mundo de simulações – os videogames são bons exemplos disso – que causam a dematerialização do mundo, tornando as mediações tecnológicas, e não humanas. "A ciência foi colonizada pela racionalidade instrumental e ela precisa se livrar disso. É preciso entendê-la como parte do problema e da solução", pondera Thomas Mitschein. Analisando a história da prática científica na Amazônia, percebe-se uma equivocada concepção da natureza como objeto de exploração, cercada de tentativas de repetição do que é feito nos centros científicos e tecnológicos do mundo, o que, para o deputado Parsifal Pontes, é algo extremamente traumático para a cultura local, que precisa ser respeitada, o que pode ser feito utilizando-se instrumentos científicos próprios e não importados de outro lugar. Uma das soluções apontadas por Thomas Mitschein é a aproximação com as populações tradicionais, no intuito de desenvolver a chamada "biocivilização", caracterizada pela utilização de recursos naturais renováveis. "No que diz respeito à energia, podemos tirá-la do sol, do vento. No caso da Amazônia, a ciência poderia fornecer instrumentos para promover a substituição dos insumos sintéticos por insumos naturais de fibras, por exemplo", complementa o pesquisador. O consenso de que o futuro da humanidade está abalado com o predomínio da razão instrumental reverbera para o consentimento de que algo urgente precisa ser feito. O livro O direito à diversidade socioambiental como utopia andino-amazônica no século XXI enaltece esse consentimento para Amazônia, onde a urgência é maior. Se o consenso sair das páginas de um livro e povoar a mente dos leitores, já é uma consequência satisfatória. O próximo lançamento da série "Debate - Barbárie ou O Quê?" tratará sobre colonialismo na Amazônia e está previsto para o final deste ano. A primeira edição da série pode ser adquirida na Editora da UFPA (Ed.ufpa) ou na sede do Poema.


10 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010 –

Bragança

Guamá bilíngue em 10 anos

C

om a globalização, dia após dia, as distâncias estão diminuindo. Novas tecnologias, como telefone, rádio, televisão, e-mail, celular, mensagens de texto, programas de conversa instantânea e redes sociais, têm contribuído para isso. Mas, como se comunicar com alguém que está em outro país, que possui cultura e língua diferentes da sua? Nesse contexto, a necessidade do aprendizado de línguas estrangeiras se torna cada vez mais presente. Para tentar viabilizar o estudo de línguas estrangeiras no Guamá, bairro vizinho à Universidade Federal do Pará (UFPA), a Faculdade de Letras Estrangeiras Modernas (Falem) sedia o Projeto da PróReitoria de Graduação “Guamá Bilíngue em 10 anos”. O Projeto surge não só como uma forma de promover a educação em outras línguas, mas também para ampliar os horizontes dos alunos participantes. “A ideia original é tirar os adolescentes das ruas e oferecer-lhes uma oportunidade de crescimento e aprendizado usando o ensino de Espanhol como pano de fundo para ampliar seus horizontes pessoais e profissionais, além de criar expectativas positivas com relação à UFPA”, conta a coordenadora do Projeto, professora Rita de Cássia Paiva. Em 2009, a professora, que hoje é coordenadora da Casa de Estudos Hispano-Americanos da UFPA, veio para Belém aprovada em concurso para a Falem e trouxe a ideia consigo. “Tenho, desde 1996, uma empresa de tradução em Belo Horizonte. Nela, eu elaborei um projeto de ensino de Espanhol para adolescentes em situação de risco. Meu sócio gostou e começou a fazer o mesmo com o curso de Inglês”.

Mácio Ferreira

Ensino de Espanhol está mudando a realidade de crianças do bairro

Objetivo das pesquisas é promover a exploração sustentável na região Jéssica Souza

"C

Proposta é ampliar o horizonte dos participantes a partir do ensino de uma língua estrangeira Em Belém, para desenvolver o Projeto, a professora Rita de Cássia contou com a colaboração de Anna Margarida Mendes Leal, aluna de Licenciatura em Língua Espanhola, que a ajudou a adaptar o projeto original à realidade do Guamá. O Projeto conta, ainda, com mais dois alunos atuando na equipe técnica e três alunos em

sala de aula. Hoje, o Projeto atende 30 alunos das escolas Barão de Igarapé Miri e Zacarias Assunção, ambas no bairro do Guamá. Normalmente, as aulas acabam às 17h30. Excepcionalmente, os alunos participantes são liberados às 17h para que eles possam chegar ao Instituto de Letras e

Comunicação (ILC), onde as aulas acontecem das 17h30 às 18h30, três vezes por semana. O Projeto está em funcionamento desde janeiro deste ano, e a previsão é que ele siga até novembro, totalizando dez meses, sendo os dois primeiros de preparação e treinamento dos alunos/professores e o último, de avaliação.

n Parcerias garantem elaboração de material didático Em 2010, o Projeto “Guamá Bilíngue em 10 anos” foi aprovado no Programa de Apoio a Projetos de Intervenção Metodológica (Papim), da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação da UFPA. O Papim fornece recursos para projetos que tenham alguma abordagem metodológica diferente ou inovadora, contribuindo para desenvolver novas metodologias em todas as áreas do conhecimento. A principal diferença metodológica é a forma como as aulas são planejadas. Cada unidade é desenvolvida pela professora Rita de Cássia e pela estudante Anna Margarida Leal. Elas trabalham com textos escolhidos pela equipe técnica do Projeto. A partir desse material, desenvolvem os exercícios e procuram apresentá-los com um visual atraente. “Consegui desen-

UFPA estuda a zona costeira

volver um layout muito interessante apesar de o material ser em preto e branco”, conta Rita de Cássia. Posteriormente, as lições e os exercícios desenvolvidos são revisados pela professora Rocío Aguiar, assessora da embaixada da Espanha e coordenadora do Centro de Recursos Didáticos de Espanhol (CRDE), em Belém, a partir de um convênio coordenado pela Pró-Reitoria de Assuntos Internacionais (PROINTER). Depois disso, os bolsistas são treinados para aplicar o material na semana subsequente. Segundo Rita de Cássia, é nítido o interesse dos alunos, não apenas quanto ao ensino de Espanhol, mas também quanto aos temas escolhidos para cada unidade. “O relacionamento entre eles melhora. Há mais respeito no tratamento

com os colegas e as professoras”. Porém, mais do que isso, a esperança da pesquisadora é o aumento da autoestima e a formação desses alunos como cidadãos. Novas turmas – A perspectiva é que, em 2011, os atuais alunos do curso possam dar continuidade aos estudos e que, a cada ano, uma nova turma, com trinta jovens, inicie as atividades. Se conseguir mais recursos, o Projeto deve preparar os melhores alunos para serem monitores, auxiliando a aprendizagem de outras crianças. Além disso, há planos para transformar o Projeto em um programa da Falem, abrangendo também o ensino de Francês, Inglês e Alemão. Esta proposta será discutida ainda este ano. De acordo com a professora, esse tipo de iniciativa é importante

para provocar mudanças nos bairros próximos à Universidade, os quais, muitas vezes, ficam distantes do desenvolvimento científico promovido pela Instituição. “Creio que a PROEG, por meio do Papim, a PROINTER e a Falem têm nas mãos a possibilidade de fazer uma mudança radical na qualidade de vida e no futuro dos alunos do Projeto. Esse é o mérito intangível da educação: transformar e construir o futuro a partir da desigualdade e injustiça social”, avalia Rita de Cássia. Assim, o objetivo é que, em dez anos, o bairro do Guamá esteja vivendo um período de mudança, com alunos mais cultos, críticos e com o domínio de uma língua estrangeira. Um salto importante e decisivo para que os jovens possam alçar novos horizontes.

omo esteira de luz e bonança / A esplender para nossa emoção / Esta terra ideal de Bragança / É de Deus a melhor criação". Essa é a estrofe inicial do hino escrito pelo poeta Antônio Telles de Castro e Sousa para uma das cidades mais antigas do Pará, localizada no nordeste paraense, a 220 quilômetros da capital Belém. Os versos remetem à biodiversidade típica das terras amazônidas, que, no caso bragantino, se traduz em uma vasta área de manguezal, praias de mar e de água doce, como a formada pelo Rio Caeté, às margens de onde surgiu o primeiro povoado que, há 388 anos, deu origem ao município. O rio, que conferiu à cidade o carinhoso apelido de Pérola do Caeté, suporta uma diversificada ictiofauna (conjunto das espécies de peixes que existem numa determinada região), na qual figuram espécies como pargo, pescada amarela, mero, bagres, garoupa, pescada gó e muitos outros, inclusive, peixes ornamentais. O porto de Bragança é o terceiro do Estado com maior exploração comercial de peixes, produzindo cerca de seis mil toneladas anuais, ficando atrás apenas de Belém (10 mil toneladas) e Vigia (nove mil toneladas). A diversidade natural de pescado na região bragantina não apenas significa um “prato cheio” para a subsistência da população nativa ou para o desenvolvimento da economia local, como também para pesquisas científicas, a exemplo das promovidas pela Universidade Federal do Pará, que, desde 1987, sedia um campus no município. O Campus de Bragança, atualmente coordenado pela professora Rosa Helena Sousa,

Alexandre Moraes

Inclusão social

Yuri Rebêlo

3

Bragança tem a terceira maior exploração comercial de pescado do Estado, com seis mil toneladas anuais é o primeiro no interior paraense a possuir um curso de Engenharia de Pesca, graduação criada em 2006, com recursos do Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). Os investimentos do Reuni, com base nas potencialidades da economia pesqueira da região do

Salgado, tornou possível a estruturação do Instituto de Estudos Costeiros (IECOS), que, no Campus de Bragança, abriga os cursos de Engenharia de Pesca, Ciências Biológicas, com Licenciatura em Ciências Biológicas e Ciências Naturais, e o Programa de Pós-Graduação em Biologia Ambiental, com mestrado e douto-

rado na área. Segundo o professor Pedro Chira Oliva, diretor geral do Instituto, as pesquisas sobre a zona costeira favorecem o desenvolvimento socioeconômico de Bragança e a preservação da biodiversidade nativa, com foco na exploração sustentável. É o primeiro instituto criado em um campus do interior na UFPA.

n Recursos garantem construção de 10 novos laboratórios Os recursos do Programa MEC Expansão e da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) possibilitaram, também, a construção de 10 novos laboratórios e 14 novas salas de aula, infraestrutura necessária ao desenvolvimento científico na região. Os Laboratórios de Pesquisa e Tecnologia da Engenharia de Pesca; Pesca e Navegação; Aquicultura de Peixe Ornamental e Peixe Marinho; Ictiopatologia e Sanidade; Extensão Pesqueira (Socioeconomia); Cartografia, Geoprocessamento e Modelagem; Genética Aplicada à

Pesca e Aquicultura; Tecnologia do Pescado; Microbiologia; Qualidade de Água; Biologia Pesqueira; Geologia Costeira e outros integram a estrutura do Instituto de Estudos Costeiros. No Laboratório de Aquicultura de Peixe Ornamental, por exemplo, desenvolvem-se tecnologias de criação, produção, nutrição e sanidade de peixes ornamentais. Aquários de vidro, sistemas de recirculação e tratamento de água auxiliam na investigação da sustentabilidade dessa cadeia, tanto de pesca quanto da

criação em meio aquático. Segundo o coordenador do Laboratório, professor Rodrigo Fujimoto, o Pará é o segundo Estado brasileiro que mais exporta peixes ornamentais de captura. "Em Bragança, o comércio de peixes ornamentais ainda não é tão forte, mas a UFPA está capacitando pessoas para criarem esses peixes na região", explica. Isso significa investimentos em educação e no desenvolvimento da economia local a partir de atividades de ensino, pesquisa e extensão. No Laboratório de Tecnologia do

Pescado, sob a responsabilidade dos professores Marileide Alves e Carlos Cordeiro, alguns projetos prestam serviço à comunidade. Um deles, coordenado por Carlos Cordeiro, desenvolve estudos comparativos entre a pescada gó e a pescada sete grudes, abundantes na região. "Há suspeitas de fraudes com relação aos filés desses pescados vendidos na Vila dos Pescadores de Bragança. Vende-se o que é mais barato como sendo aquele de maior valor, ou seja, usa-se a sete grudes como se fosse a gó", comenta o professor.

n Sopa de resíduos de pescado tem alto valor nutritivo Além de trabalhos de análise físico-química de ostras e de defumação de pescado de água doce, como o tambaqui e a tilápia, o Laboratório de Tecnologia de Pescado apoia o projeto de pesquisa coordenado pelo professor Francisco Holanda, que recentemente ganhou um prêmio estadual sobre

Inovação Tecnológica. Trata-se do desenvolvimento de uma sopa feita com resíduos de pescado, de alto valor nutritivo e baixo custo. A proposta é incentivar a utilização do alimento como merenda escolar da rede pública de ensino. Atualmente, o projeto concorre ao mesmo prêmio em caráter nacional.

A primeira turma de Engenharia de Pesca do Campus de Bragança conclui o curso ainda em 2010, disponibilizando cerca de vinte novos engenheiros no mercado local. "O curso de Engenharia de Pesca foi muito bem aceito em Bragança, uma vez que o Pará é o segundo maior produtor de pescado

da Amazônia e pode chegar a ser o primeiro. Bragança é o terceiro porto que mais desembarca pescado e onde estão localizadas as principais indústrias de pesca da região", afirma a professora Zélia Pimentel Nunes. A expectativa é que, em breve, o curso seja reconhecido nacional e internacionalmente.


4 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010 –

Linguagem

Desafio

Escola de Música abraça a diferença

Coleção registra vocábulos paraenses

Livros contextualizam uso e significado de palavras e expressões

Abaetetuba, Marajó, Bragança e Castanhal foram alguns dos municípios visitados pelo Projeto

“C

orera”; “Debruado”; “Enfarruscado”; “Munganga”; “Sentina” *. Se você não sabe o que essas palavras querem dizer, a coleção intitulada Vocabulário Terminológico Cultural da Amazônia Paraense te ajudará a esclarecer. São seis livros de autoria da professora da Faculdade de Biblioteconomia da UFPA, Odaisa Oliveira, os quais reúnem termos culturais retirados de narrativas orais coletadas pelo Projeto “O Imaginário nas Formas Narrativas Orais Populares da Amazônia Paraense” (IFNOPAP) em diversos municípios paraenses. Os vocábulos presentes nas obras caracterizam traços socioculturais e naturais: instrumentos de trabalho, doenças, culinária, medicina popular, danças, natureza, habitat, entre outros.

A iniciativa integra o Projeto “A Representação Simbólica das Narrativas Populares da Amazônia Paraense como Linguagem de Informação” (RESNAPAP), que, desde 1998, mapeia, descreve e divulga o vocabulário específico a cada região deste vasto Estado. Para tanto, a coleção está organizada da seguinte maneira: Abaetetuba, Belém e Santarém (vol. 1), Castanhal (vol.2), Bragança (vol.3) e Marajó (vol.4), evidenciando não só aspectos linguísticos, como também antropológicos. Ao todo, a coleção será composta por seis volumes. Dois volumes, correspondentes aos municípios de Altamira e Cametá, ainda serão publicados. Segundo Odaisa Oliveira, coordenadora do Projeto e autora dos livros, a coleção contribui para o entendimento da cultura paraense

ao registrar e valorizar, por meio da história oral, as memórias e recordações de indivíduos. “Muitos termos estão desaparecendo da fala dessas pessoas e o estudo busca, justamente, identificá-los para que as próximas gerações possam conhecê-los”, explica. Assim, um dos aspectos metodológicos do Projeto é registrar palavras ou expressões em desuso, mas que ainda persistem na língua utilizada. É o caso de “jirau”, espécie de pia de madeira bastante rústica, colocada na parte externa da casa, para que o assoalho não fique molhado durante a lavagem da louça. No município de Belém e em outras cidades maiores, o vocábulo tem se tornado obsoleto em virtude da arquitetura das casas modernas. Como o jirau tem caído em desuso, o próprio termo que o designa acaba sofrendo o mesmo processo.

n Vocabulário surge a partir de histórias contadas A matéria-prima para se chegar a esta compilação de termos e expressões é a fala, as histórias contadas que representam o conhecimento acumulado por gerações, com seus mitos, costumes, valores e crenças. “É importante observar que os entrevistados retratam, em suas falas, o lugar onde vivem, o cotidiano, a fauna e a flora...”, explica a professora Odaisa Oliveira. Tendo em vista este esforço de se retratar as riquezas de contexto e significado, é possível vislumbrarmos na coleção, por exemplo, os vários elementos do fantástico que habitam o imaginário do homem da Amazônia. A autora dos livros, inclusive, diz que, por vezes, os pesquisadores acabam sendo levados ao dilema de acreditar

ou não naquilo que é contado. “Mãedo-Rio”, “Mãe-do-Mato”, “Cobra Norato”, “Mapinguari” e “Visagens” permeiam as histórias contadas e são tratados como seres reais pelos narradores. Para exemplificar, o volume III, referente à região de Bragança, traz o substantivo “Ataíde”, explicado como um ser antropomorfo, meio homem, meio macaco, que, segundo a crença, habita os manguezais bragantinos, violentando homens e mulheres que tentam destruir seu ecossistema. De modo a situar melhor o leitor, a autora se preocupa em dar a explicação semântica e sintática e, abaixo, inserir fragmentos das histórias coletadas, nos quais se encontra o vocábulo designado. O termo “Peru”, presente no volume I, por exemplo,

está assim explicado: “s.m. Homem da cidade de Abaetetuba, condenado a transformar-se num peru...”. Abaixo do significado, está o trecho oral do qual foi retirado o vocábulo: “Ele era um peru, se transformava num peru. Ele cumpria um fado. [...] Sempre eles dizem que quem faz alguma coisa errada ou bate em pai e mãe, ou pratica sexo com a filha, mãe [...]” (sic). O curioso é que algumas palavras possuem a mesma grafia, a mesma pronúncia, mas ganham significados diferentes de acordo com a região em que são faladas. Como o termo “Pipira”, que, no Marajó, é uma designação comum a pássaros de coloração preta e vermelha. Já em Belém, o termo é usado para designar mulheres vulgares.

Projeto atende crianças com transtornos de desenvolvimento

Acervo do ICA

Fotos Mácio Ferreira

n Seleção inclui gírias regionais

Ana Carolina Pimenta

9

Como um dicionário tradicional, a coleção classifica as palavras em substantivos, adjetivos, verbos e advérbios. Contudo, a seleção se dá de forma mais ampla e inclui, ainda, gírias regionais, personagens lendários e tabuísmos, que são termos considerados chulos, com apelo erótico ou blasfêmico. Os termos “Chapuleta” (Vol.I) e “Piriquitância” (vol.IV), por exemplo, são formas vulgares de designar os órgãos sexuais masculinos e femininos, respectivamente. Outra categoria de palavras abordadas na obra são aquelas onomatopaicas, ou seja, aquelas que reproduzem sons. Dois bons exemplos são os termos “Brucu”, explicado como o som produzido por quem se deitou na rede, e o “Tachã”, que é a reprodução do som do andar das pessoas que carregam alguma coisa pesada, ambos presentes no vocabulário terminológico de Bragança. Perspectivas - Exemplares dos livros têm sido entregues aos municípios envolvidos e se tornado fontes de pesquisa e memória de diversas comunidades. De acordo com sua coordenadora, a ideia é que o Projeto avance e amplie a área geográfica estudada. Odaisa Oliveira ressalta, também, que, nestes 11 anos de existência, o Projeto tem gerado uma rica produção científica, entre artigos, monografias, livros e trabalhos apresentados em congressos nacionais e internacionais. A perspectiva é que seja criada a biblioteca digital, através da qual o usuário passará a ter acesso às informações coletadas, às publicações e ao acervo terminológico disponível. Outra expectativa é que se crie um tesauro – linguagem documentária controlada e dinâmica que contém termos relacionados genérica e semanticamente, cobrindo um domínio específico do conhecimento, nesse caso da cultura amazônica paraense. Um tesauro não faz definições detalhadas – função do dicionário –, mas relaciona termos e apresenta diferenças mínimas entre eles.

Glossário (*) Corera: s.f. Os restos da mandioca que, por serem muito grossos, não passam na peneira, destinando-se ao preparo de um mingau chamado “carimã”. Debruado: adj. Enfeite ou remate pregueado ou plissado usado em roupas femininas, roupas de cama e mesa, em cortinados etc.; Babados. Enfar ruscado: adj. Zangado, invocado, enraivado. Munganga: s.f. Fazendo trejeito, jeito, modo, maneira. Sentina: s.f. Latrina, vaso sanitário.

Inclusão social: crianças e adolescentes são abrigados nos Projetos "Violoncelo em grupo", "Violino em grupo" e "Viola em grupo"

Yuri Rebêlo

A

música tem acompanhado a história da humanidade ao longo dos tempos, exercendo as mais diferentes funções: de rituais religiosos aos musicais da Broadway; de corais a guitarras; da música clássica ao rock’n roll. Ao utilizar uma linguagem universal, a música ultrapassa o tempo e o espaço. Acreditando nisso, pesquisadores da Escola de Mú-

sica da Universidade Federal do Pará (EMUFPA) estão ajudando crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo e dislexia por meio do Projeto "Transtornos do desenvolvimento e dificuldades na aprendizagem: uma intervenção musical”, coordenado pelo professor Áureo DeFreitas. O Projeto faz parte do Programa "Cordas da Amazônia", da Escola de Música da UFPA, que reúne outros

três Projetos: “Violoncelo em grupo”; “Violino em grupo” e “Viola em grupo”. Segundo o professor Áureo DeFreitas, doutor em Educação Musical, “a ideia surgiu devido a uma necessidade que nós observamos: tantas crianças com transtornos que precisavam de ajuda e oportunidade. Sem contar que a inclusão social é uma exigência mundial". Segundo o pesquisador, a inclusão social é um assunto que está em

pauta em todos os âmbitos da sociedade, e, por meio desse Projeto, a EMUFPA está dando a sua contribuição. Além disso, o Projeto está mudando a mentalidade de algumas pessoas dentro da própria Escola de Música. "Não são todos que entendem a necessidade desse tipo de atividade para esse público. Na verdade, não é a necessidade, mas a obrigatoriedade. Nós temos conseguido mudar a cabeça de alguns professores aqui dentro”, conta Áureo DeFreitas.

n Ponto de partida: identificar e diferenciar as dificuldades Um dos pontos primordiais para dar início ao Projeto foi identificar e diferenciar os problemas. Para isso, foi necessário diferenciar transtornos do desenvolvimento e de dificuldade de aprendizagem. No Projeto, ficou determinado que transtornos são patologias crônicas, como autismo, dislexia e TDAH. Já a dificuldade de aprendizagem tem

relação com os fatores externos, que atrapalham a aprendizagem. “Por exemplo, a nossa sala é muito pequena e superlotada. Eles aprendem, mas aprenderiam muito mais se não existisse essa dificuldade", explica o pesquisador. Exatamente por envolver crianças com transtornos diferentes, Áureo DeFreitas explica que os pro-

fessores precisam ter autocontrole, pois o tratamento dado aos alunos afeta diretamente o processo de aprendizagem. O Projeto também está interessado em estudar grupos heterogêneos, formados por alunos comuns e com transtornos do desenvolvimento para analisar a forma como eles interagem, se existe algum tipo de dificuldade,

de facilidade, de discriminação ou alguma alteração no desenvolvimento musical e técnico dos jovens. Considerando que as dificuldades de aprendizado atingem a todos, a intenção é identificar a existência de alguma diferença nesse grupo “misto”, pois, de acordo com o professor, ao tentar aprender a tocar um instrumento, somos todos iguais.

n Aprendizado musical melhora a qualidade de vida O Projeto funciona como um curso regular. Cada turma com uma média de 10 a 16 alunos, sendo quatro deles com o diagnóstico confirmado. As aulas acontecem no turno da manhã e da tarde. Pesquisadores da Psicologia, Pedagogia, Letras e Música estão desenvolvendo trabalhos com o grupo, como o próprio Áureo DeFreitas, que está interessado em analisar a técnica de ensino e se as crianças aprendem a tocar da mesma forma em uma turma heterogênea. A estudante de Psicologia Paulyane Nascimento

realiza pesquisa sobre a redução de comportamentos inadequados, geralmente apresentados por criança com o diagnóstico de TDAH, a partir da prática musical. Outro aspecto importante que está sendo estudado é como o aprendizado musical pode melhorar a qualidade de vida dessas crianças e como a melhoria na qualidade de vida pode fazer com que elas aprendam melhor. Duas dissertações de mestrado - uma em Psicologia e outra em Música - estão sendo produzidas com esse tema.

O Programa Cordas da Amazônia começou a ser idealizado em 2006 e teve a primeira bolsa aprovada em 2007. Pesquisadores de outras áreas, que hoje atuam no Projeto, começaram a chegar a partir de 2008. A coleta de dados está sendo realizada em polos diferentes de ensino, o que implicará um tempo ainda maior para divulgação dos resultados das pesquisas. O Programa Cordas da Amazônia é aplicado simultaneamente em três polos: na EMUFPA, no polo Jurunas/EMAÚS e no polo

Benguí/EMAÚS, sendo que nos polos EMAÚS, estudam-se somente as dificuldades de aprendizagem. Considerando as diferenças, tanto estruturais quanto logísticas, o trabalho nesses ambientes está analisando as dificuldades que essas crianças e adolescentes têm no aprendizado da música e a forma como eles estão desenvolvendo. E esse é o maior objetivo do Projeto, proporcionar às crianças e aos adolescentes a possibilidade de pensar e se desenvolver, tanto na música quanto fora dela.


8 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010 –

Nosmulheres

Comunicação

As notícias que chegam do Norte Pesquisa revela percurso da mídia impressa no Pará

Alexandre Moraes

n Política era tema predominante

Os arquivos podem ser consultados na Biblioteca Pública Arthur Vianna Dilermando Gadelha

O

s corantos foram os primeiros jornais publicados na Inglaterra, em torno de 1621, com um conteúdo formado por notícias vindas do estrangeiro e sem periodicidade definida. Nas colônias norte-americanas, os primeiros impressos surgiram no século XVIII, devido aos interesses comerciais da classe média, mas não tinham uma grande circulação e eram bastante caros. No Brasil, o precursor do jornalismo foi o Correio Braziliense, editado pelo diplomata Hipólito José da Costa em 1808, em Londres, e enviado ao país por navios. Esses são alguns dados da história do jornalismo mundial encontrados em teses, livros, artigos, compêndios... Contudo, como é tratada a história dos veículos de

comunicação de massa nas regiões com menor evidência do Brasil? É com vistas a reconstituir o percurso histórico dos jornais de Belém e sistematizar as informações já produzidas sobre o tema que a professora Netília dos Anjos Seixas, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal do Pará, idealizou o Projeto “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém”, o qual tem, ainda, a participação do estudante de Comunicação Phillippe Sendas, colaborador da pesquisa como bolsista de Iniciação Científica UFPA-Ações Afirmativas. O Projeto se apoia em publicações de jornalistas e de pesquisadores de outras áreas, principalmente de História, que tem desenvolvido estudos sobre a imprensa. A proposta é dialogar com essas produções já existentes, tentando lançar um olhar

do campo da Comunicação Social sobre o percurso da mídia impressa na cidade. Além da busca bibliográfica de autores, está em andamento a pesquisa documental e a análise dos jornais antigos, disponíveis no acervo da Biblioteca Pública Arthur Vianna. Na primeira fase do Projeto, estão sendo analisados os jornais do século XIX. Como são muitas publicações, as análises são feitas por década e os jornais escolhidos obedecem a critérios, como relevância na sociedade, número de edições e de páginas, periodicidade e, principalmente, disponibilidade dos exemplares, já que, segundo a professora Netília Seixas, as maiores dificuldades do Projeto são o acesso aos jornais, pois os mais antigos possuem poucas edições disponíveis.

n Análise aborda configuração gráfica e conteúdo A análise dos jornais tem como principal objetivo identificar como era constituída a sua configuração gráfica e o seu conteúdo. São observadas categorias, como número de páginas, de colunas, tamanho, letras, existência de ilustrações, gêneros jornalísticos utilizados, entre outros. Para a professora Netília Seixas, “a observação desses tópicos permite acompanhar como se deu a transformação dos jornais até chegarem ao modelo hegemônico que conhecemos hoje”. Quanto ao conteúdo, busca-se observar quais os temas mais recorrentes nas publicações analisadas. Indo além de uma análise de conteúdo, um interesse específico é entender a formação de um discurso

jornalístico sobre a identidade paraense em relação à Amazônia. Até o momento, o Projeto tem como resultados o levantamento de dados sobre a imprensa entre os anos de 1822 e 1900 e a apresentação, em congressos, de dois artigos sobre o início da imprensa em Belém: “A imprensa da Belém do Grão-Pará: o começo de uma história”, apresentado no I Encontro de História da Mídia do Nordeste, e “Imprensa e Política na Belém do início do século XIX”, apresentado no IX Congresso de Ciências da Comunicação da Região Norte, no Acre, ambos no mês de maio. Um terceiro artigo, “Da Synopsis ao Diário: a imprensa de Belém nas décadas de 1840 e 1850”, foi

aprovado para o XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, no início de setembro, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Entre as décadas de 1820 e 1830, em Belém, foram publicados 40 jornais impressos, segundo o catálogo Jornais Paraoaras, editado pela Biblioteca Pública do Pará, em 1985. Alguns deles com apenas uma edição, outros que duraram um longo período. O Paraense, idealizado pelo bacharel Felipe Patroni, foi o primeiro. Saindo pela primeira vez em 22 de maio de 1822, teve 70 edições. Já o Jornal Treze de Maio, por exemplo, existiu por 22 anos, um período relativamente longo para os jornais da época.

Os formatos e conteúdos eram totalmente diferentes dos que conhecemos hoje. As publicações tratavam de assuntos predominantemente políticos, sem a aparência dos gêneros do jornalismo atual. “Encontramos no jornal A Voz das Amazonas e no Treze de Maio o estilo de gazetas, que eram as publicações oficiais da época. Lá eram publicadas as atas e as obras do governo da Província, entre outros assuntos relacionados à política”, explica Phillippe Sendas. Outros temas também eram tratados nesses jornais, como assuntos religiosos, militares, comércio e informações sobre leilões, venda de escravos, chegada e partida de navios nos portos da cidade e aluguel de casas. Mesmo naquela época, as fontes de informação eram diversas, como explica Phillippe Sendas, “uma das principais fontes de notícia eram as cartas, as notícias trazidas pelos navios que aportavam na cidade. Era muito comum eles publicarem ‘chegou aos nossos ouvidos o boato...` ou ´corre em Belém o boato...’ ”. O aparecimento dos jornais impressos em Belém foi um acontecimento importante, pois, de acordo com a professora Netília Seixas, “traduz aquele sentimento de que você faz parte do mundo, crescendo, mudando, acompanhando o que está acontecendo. Ao mesmo tempo, esses jornais eram um instrumento político, criados com a finalidade de projetar um grupo e combater outros”.

n Gram-Pará: o primeiro diário O Diário do Gram-Pará revolucionou o jornalismo paraense do século XIX, pois foi o primeiro jornal diário do Estado, com publicações de terça a sábado. Entre os jornais analisados, o Diário foi também o primeiro a aproximar o modo de construir suas informações com os critérios contemporâneos na confecção de notícias, como a novidade, a concisão e o interesse que deve despertar no leitor. O Projeto “Jornais Paraoaras: percurso da mídia impressa em Belém” foi registrado pela Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPESP) em julho de 2009, com duração inicial de dois anos. Para o futuro, a professora Netília Seixas pretende pesquisar outros temas que aparecem na mídia impressa belenense, por exemplo, quando e como as questões do meio ambiente e da mulher passaram a ser tematizadas e a integrar o discurso jornalístico. Os alunos que têm interesse pelo assunto podem participar do Grupo de Estudo e, também, colaborar com o Projeto.

Grupo discute gênero e diversidade

Entre as atividades, está a capacitação de professores da rede pública

EM DIA

Moenah Castro

A

s mulheres ganham em torno de 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Esse é um dos resultados da pesquisa "Mulher no mercado de trabalho: perguntas e respostas", divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em maio deste ano. E não é só no salário que as mulheres saem perdendo. São várias as estatísticas que mostram as desigualdades na garantia de seus direitos. Se a mulher for pobre, negra e lésbica, a situação se agrava. Ainda de acordo com o estudo divulgado pelo IBGE, podemos perceber que as mulheres têm mais dificuldade para ter sua carteira de trabalho assinada, apesar de, a maioria das vezes, desenvolverem as mesmas funções que os homens. Analisando esses dados, fica evidente a necessidade de estudos e projetos que discutam e pensem formas de mudar tais estatísticas. Foi no bojo dessa discussão que surgiu o Grupo de Pesquisa NOSMULHERES, na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA), fundado pelas professoras Mônica Conrado, Lilian Sales e Denise Cardoso. Em atividade desde abril de 2009, o Grupo, que atualmente conta com cerca de 30 integrantes, entre

Exposições Estão abertas as inscrições para o Programa Exposições 2011 do Museu da Universidade Federal do Pará. O público alvo são artistas e curadores interessados. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas por e-mail museufpa@ gmail.com e museu-ufpa@ufpa.br. Mais informações (91) 3224 - 0871/ 3242 – 8340.

Tecnologia I

Grupo luta pela equidade entre homens e mulheres estudantes, pesquisadores e colaboradores eventuais, é cadastrado no Diretório do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é membro institucional da Associação de Estudos Latinoamericanos (LASA).“O NOSMULHERES luta pela equidade entre homens e mulheres por meio da militância e da produção de

pesquisas acadêmicas. Além disso, o Grupo se preocupa em promover a aproximação entre a Universidade e os movimentos de mulheres e feministas, enfatizando também a inclusão da agenda feminista, da temática de gênero, de raça e/ou etnia e de classe”, explica a antropóloga Mônica Conrado, coordenadora do Projeto.

n Escola é espaço privilegiado para discussão Apesar de recente, o Grupo já realizou várias atividades, muitas conseguiram apoio financeiro e foram realizadas em parceria com organizações não governamentais e com o governo federal, por meio de seus Ministérios. Neste último caso, a primeira iniciativa foi o curso de aperfeiçoamento "Gênero e Diversidade na Escola" (GDE). O curso pretende capacitar professores da rede pública, abordando temáticas, como gênero, sexualidade, gravidez na adolescência, participação juvenil e igualdade étnico-racial. Além de professores, universitários em formação, militantes de mo-

vimentos sociais, mestrandos e doutorandos também podem participar. As inscrições e o material didático são gratuitos. No Estado do Pará, o curso de aperfeiçoamento "Gênero e Diversidade na Escola" nasceu da parceria firmada entre o Grupo NOSMULHERES, a Secretaria Especial de Política para as Mulheres (SPM/PR), a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/MEC) e o Centro Latinoamericano de Sexualidades (CLAM). Com o apoio da Assessoria de Educação a Distância da UFPA, cerca de 300 pro-

fessores participaram da primeira edição. A segunda edição, ainda sem data para iniciar, já conta com mais de 400 inscritos. De acordo com as pesquisadoras, a escola é o melhor espaço para discussão e formação dos cidadãos. Sendo assim, a capacitação dos educadores que atuarão na formação da consciência das crianças e jovens é uma tarefa que deve ser privilegiada. Nesse sentido, o Grupo também oferece o curso "Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça", voltado para gestores da rede pública, a fim de inserir esse importante debate na pauta dos conteúdos escolares.

n Fala, Mulher! traz depoimentos autobiográficos Em parceria com o Fórum de Mulheres da Amazônia e os Conselhos Municipais e Estaduais da Mulher, o NOSMULHERES conseguiu reunir, em uma roda de conversa, 14 militantes, líderes de movimentos atuantes em Belém. Nessa roda, as mulheres expunham fatos relevantes de sua vida, contavam, sobretudo, o que as levou para a militância, seus sonhos e frustrações. Assim, surgiu o “Fala, Mulher!”. A proposta é simples, mas o resultado, surpreendente. Diante da sua importância, os relatos po-

dem se transformar em objetos de estudo. Os diálogos foram gravados e o objetivo é fazer um documentário, que deverá ser lançado até o final de 2011, depois que o Grupo realizar novas edições do evento em outras localidades. A ideia é reunir lideranças ribeirinhas, quilombolas, militantes de outras cidades do Estado. "Nós não interviemos no que elas diziam e não demos nenhum tipo de script que deveria ser seguido. Assim, elas se sentiram livres para falar diante da câmera. O material é tão rico

que nos sentimos no dever de publicá-lo. Usar essa mídia para dar visibilidade a essas mulheres esquecidas pela sociedade", explica Shirlei Florenzano, secretária executiva do Grupo, a qual diz, ainda, “esses movimentos são a fotografia da realidade da mulher na Amazônia e devem servir de estímulo para que pensemos a forma como estamos sendo deixadas de lado”. Dependendo ainda da obtenção de apoio financeiro, o Grupo também pensa em publicar os depoimentos autobiográficos em um livro.

A UFPA adquiriu 25 lousas interativas. Trata-se de um software de informática, sensível ao toque e que deixa a dinâmica de sala de aula muito mais interessante, mudando o conceito tradicional de ensino/aprendizagem. Dentre os recursos que a lousa apresenta, estão teclado virtual, marca-texto sensível ao toque, leitura eletrônica, banco de palavras, banco multimídia e de imagens, opções de áudio e vídeo e acesso à internet.

Tecnologia II O primeiro lote com sete unidades do equipamento já está disponível na Instituição. Os demais lotes devem chegar este mês, quando o software estará instalado e em pleno funcionamento em alguns locais, como a Reitoria, a Secretaria Geral, a Escola de Aplicação, em institutos e faculdades e em alguns campi no interior do Estado.

ProJovem A UFPA recebeu o Prêmio Mérito ProJovem Urbano, concedido pela Coordenação da Secretaria Geral da Presidência da República. O Prêmio homenageia os parceiros que apoiam o Programa ProJovem Urbano, que busca promover a inclusão social de jovens entre 18 e 29 anos que não concluíram o ensino fundamental e se encontram em situação de vulnerabilidade social. A Universidade é parceira do Programa desde 2006, por meio da PROEX e da Escola de Aplicação.

Memória O Centro de Memória da Amazônia disponibilizou em seu site uma página dedicada à Imigração. A iniciativa é resultado de um levantamento sobre a presença de imigrantes que viveram e morreram em Belém a partir de informações colhidas em inventários post mortem, registros de casamento civil e processos criminais entre os séculos XIX e as primeiras décadas do século XX. Para visitar o site, acesse http://www. ufpa.br/cma/

5


6 – BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010

BEIRA DO RIO – Universidade Federal do Pará – Setembro, 2010 –

7

Tecnologia

TV digital: muito além da imagem de alta definição Pesquisadores da UFPA analisam possibilidades e impactos do novo meio de comunicação

V

ocê utiliza a televisão para ver programas de humor, novelas, desenhos animados, filmes e shows. Mas, alguma vez, imaginou que poderia utilizá-la também para informar à Secretaria de Saúde que está com dengue, fazer a matrícula do seu filho na escola, marcar consultas médicas ou mesmo votar pela TV? Todas essas funções poderão ser realidade num futuro próximo, com o uso de uma TV digital. Pesquisadores de Engenharia da Computação (UFPA) analisam os usos desta nova tecnologia e as formas de tornar a televisão efetivamente interativa. No Pará, a TV digital ainda está dando os primeiros passos. Atualmente, três emissoras transmitem em tecnologia digital e, até 2014, todas já terão mudado para o novo padrão. "A principal diferença entre a televisão analógica e a digital é a possibilidade de interatividade, típica de outros meios de comunicação, como a internet ou o telefone, em que a troca de informações acontece em dois sentidos. A proposta do Sistema Brasileiro de TV Digital que está sendo implantado é, além de aumentar a qualidade da imagem e do som, transformar a televisão em um meio de inclusão social com mais espaço, mais conteúdo e formas do telespectador falar com a TV", resume Carlos Renato Francês, professor da Faculdade de Engenharia da Computação da UFPA. Dados do Instituto Brasileiro

n Ligando a TV digital na tomada

Fotos Alexandre Moraes

Glauce Monteiro

Interatividade obriga mudanças de conteúdo nas emissoras e de comportamento do telespectador de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que mais de 90% das residências no País possuem um aparelho de televisão. O desafio tecnológico dos pesquisadores é tornar a TV digital tão acessível quanto a analógica, independente de onde os usuários estejam. Na Faculdade de Engenharia da Computação, dois laboratórios se dedicam a estudos nesta área: o

Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado (LEA) e o Laboratório de Planejamento de Redes de Alto Desempenho (LPRAD). Os professores Gervásio Protásio Cavalcante e Carlos Renato Francês realizam pesquisas experimentais sobre canais de retorno, ou seja, meios pelos quais os telespectadores poderão enviar informações pela televisão.

"Provavelmente, no caso da Amazônia e também das Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sul, precisaremos de um conjunto de tecnologias associadas para que os telespectadores possam utilizar o canal de retorno da TV digital, que pode ser de tecnologia sem fio (Wi-Fi), rede de cabos, rede de telefonia ou mesmo de rede de energia elétrica", acredita Carlos Francês.

n Zonas verdes podem interferir na recepção do sinal O pesquisador Gervásio Protásio Cavalcante, coordenador do Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado (LEA) da UFPA, é referência internacional nos estudos sobre radiodifusão na Amazônia. O professor de Engenharia da Computação é líder do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicações Sem Fio (INCT-CSF) e atualmente estuda a utilização da rede de telefonia, incluindo a telefonia móvel, como base para a interatividade da TV digital e modelos para a implantação do padrão brasileiro de rádio digital, previsto para entrar em operação nos próximos anos. Ainda no início da década de 80, o professor pesquisou como se dá a propagação de ondas eletromagnéticas na Amazônia e sua consequente aplicação para a telecomunicação, observando como os diferentes meios físicos interferem na recepção das mensagens. O "Modelo das Quatro Camadas", criado por Gervásio Cavalcante, revelou que os sinais de radiodifusão são absorvidos em zonas de floresta, em vez de simplesmente atravessarem o espaço. Por isso um sinal previsto para alcançar alguns quilômetros de raio pode não conseguir chegar até uma TV digital a poucas quadras da

Carlos Francês: cabos de energia podem ser solução para que o sinal digital chegue aos lugares mais distantes No Laboratório de Planejamento de Redes de Alto Desempenho (LPRAD), o pesquisador Carlos Renato Francês estuda como estabelecer o canal de retorno simplesmente ao ligar a televisão na tomada, de forma que o sinal se propague através dos cabos de energia. "Criamos um sistema completo que recebe e transmite em HDL, sinal digital, e também converte o sinal digital para o analógico, sempre com o uso do canal de retorno por Wi-Fi ou pela tomada, por meio da utilização de um modem". O sistema de transmissão de

dados pela rede elétrica existe há mais de quatro décadas. É por meio dele que as operadoras de energia verificam se a rede está funcionando bem. "Envia-se um bit de informação de um ponto a outro, se a informação chegar, é porque não há problema com a rede. Com a evolução da microeletrônica, hoje, podemos transmitir dados em larga escala pelos cabos elétricos, em até 100 megabytes, uma velocidade maior do que a utilizada na internet doméstica atualmente", revela o coordenador do LPRAD.

Carlos Renato Francês resume como funcionará a nova rede. "Vamos precisar implantar uma rede de cabos, passar por uma rede sem fio até certo ponto e, depois, utilizar uma das redes de outros serviços já existentes, como a rede de energia elétrica ou o sistema de telefonia. Temos áreas, como os centros urbanos, onde esta nova rede de retorno será mais acessível e fácil de ser implantada com cabos e Wi-Fi, mas também temos áreas carentes, sem internet ou telefonia, que, se tiverem energia elétrica, poderão ter acesso à plenitude da TV digital".

n O que é possível fazer com a TV digital?

Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado analisa transmissão digital a partir da rede de telefonia fixa antena de transmissão. "Isso é um desafio para cidades como Belém, onde a paisagem reúne prédios altos, zonas verdes, como o Bosque Rodrigues Alves, e, ainda, áreas com residências de dois andares em ambientes arborizados. Esta diferença pode se tornar um obstáculo para receber o sinal digital em alguns pontos. É preciso conhecer esses fenômenos para estudarmos como superá-los", defende o pesquisador.

Na região amazônica, a dificuldade está tanto nas barreiras que a transmissão encontra quanto na ausência de redes cabeadas que possam levar o sinal digital até a casa das pessoas. Daí, a proposta de utilizar a rede elétrica como suporte para permitir que os telespectadores consigam se comunicar por meio do aparelho de TV. No Laboratório de Eletromagnetismo Aplicado (LEA), está

instalada uma rede de telefonia fixa completa, que simula desde a central telefônica até o contato que os usuários têm em casa com o sistema. De acordo com Gervásio Cavalcante, esse sistema cabeado, a rede de telefonia móvel e a rede de energia elétrica são ferramentas que estão sendo avaliadas para tornar possível a interatividade com o sinal digital e ajudar a levá-lo a lugares onde haja uma dessas alternativas.

No LPRAD, o pesquisador coordena um sistema de TV digital completo utilizado para pesquisas experimentais. Entre as novas tecnologias estudadas, está a utilização do sistema digital para recolher informações sobre saúde pública. Os especialistas estudam softwares que atuam dentro do conversor, aparelho que permite que TVs analógicas recebam o sinal digital, testando como utilizálo para aplicações, como controle de vacinas ou relato sobre incidência de doenças. "As áreas de saúde e de educação são grandes potenciais de aplicações deste sistema. Já está em teste um sistema para relato de ocorrência de casos de dengue. Basta o telespectador clicar sobre um símbolo em formato de mosquito, localizado no canto do monitor de TV. A informação vai para a Secretaria Municipal de Saúde, que receberá um mapa com todas as ocorrências relatadas. A informação pode ser utilizada, por exemplo, para o planejamento de

campanhas de vacinação ou de atendimento médico domiciliar", revela o professor da UFPA. O que se pode fazer com uma TV digital? "Quase tudo", assegura o pesquisador. "Pais podem acrescentar uma espécie de legenda nas telas dos televisores, com informações educativas que serão vistas por seus filhos enquanto assistem a um desenho animado. Legendas com textos, por exemplo, ‘peça a segunda via do seu documento de identidade’, permitiriam que os telespectadores abrissem um formulário solicitando o documento, que, via Correios, seria entregue em casa. Com a interatividade, os usos para a educação a distância são imensuráveis. As potencialidades são tamanhas que poderemos chegar ao limite de votar pela TV simplesmente utilizando o controle remoto", acredita Carlos Francês. Para ele, embora as emissoras comerciais continuem com a supremacia sobre a programação, a tendência é que o Estado utilize esta

nova tecnologia para a promoção de serviços à população, “os canais de TV começarão a utilizar a interatividade por meio de enquetes e pesquisas ao vivo, cujas respostas serão dadas pelo controle remoto. Porém, é o governo que vai, com canais estatais e educativos ou programas especiais, utilizar mais plenamente a TV digital. Estamos negociando a realização de testes sobre interatividade em parceria com a TV Cultura, emissora educativa do Estado, coordenada pela Fundação de Telecomunicação do Pará (FUNTELPA)". Programas educativos podem promover a interação entre tutores e alunos, por meio da televisão. "Tudo o que for transmitido em rede pode ser associado a links com informações na internet, para os alunos saberem mais sobre temas e personalidades relacionados às disciplinas ministradas. As aulas seriam como chats, em que tutores e estudantes conversariam de forma instantânea pela TV digital", imagina Carlos Francês.

n Mais pixels, melhor imagem O professor Evaldo Pelaes, integrante do Laboratório de Processamento de Sinais (LAPS) da Faculdade de Engenharia da Computação da UFPA, explica que a imagem de maior qualidade está relacionada ao maior número de pixels nas TVs digitais. "Cada imagem é formada por pontos que chamamos pixels, quanto menores as dimensões dos pixels e maior o número deles, melhor será a qualidade da imagem. E isso se aplica tanto aos aparelhos de televisão quanto aos equipamentos de captura e edição de imagens, como câmeras utilizadas para gravar notícias de telejornais e comerciais de TV", explica. Segundo o pesquisador, o sistema digital está em fase de implantação no Pará, por isso sua qualidade ainda deixa a desejar, “as pessoas ainda veem riscos, interferências ou imagens congeladas. Essas limitações podem ser superadas, com o tempo, pelo auxílio de antenas repetidoras e pelo aperfeiçoamento natural do sistema". No Laboratório, o professor estuda a codificação ou compressão das imagens e seus efeitos sobre a qualidade e a resolução. "A tecnologia do padrão digital é diferente e envolve um número maior de dados. É uma quantidade tão grande de informações que, se elas não fossem compactadas, seria impossível armazenar ou transmitir em TV digital. O padrão de compressão que temos hoje comprime o vídeo a uma taxa em torno de oitenta para um, ou seja, guardamos comprimidas em um DVD informações que, de outra forma, necessitariam de oitenta DVDs para serem armazenadas”, exemplifica. Além disso, a tecnologia digital remove as redundâncias temporais e espaciais das imagens. "Cada imagem em movimento é um conjunto de imagens ou quadros parados. O movimento é percebido pela diferença progressiva entre os quadros. O que o padrão digital faz é comparar esses quadros e armazenar ou transmitir apenas as partes da imagem em que houve alteração em relação à imagem anterior”, revela Evaldo Pelaes. Quanto mais longe o usuário estiver do local de origem do sinal, mais problemas a recepção pode apresentar. Tais fenômenos acontecem em virtude da adição de sinais indesejáveis, denominados de ruídos. "Não estudamos os fatores que causam problemas individualmente, mas os que, associados, atrapalham a recepção do sinal digital gerando uma degradação na imagem final”, explica o pesquisador. Para mais informações, acesse os sites: http://www.lprad.ufpa.br/ http://www.lea.ufpa.br/ http://www.laps.ufpa.br/


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.