Fundinho Cultural 26ª edição

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Helena: Moramos a vida inteira aqui no Fundinho e o Fundinho é ótimo.Meu avô, Leandro de Oliveira Marquez, que era fazendeiro, residia na Praça Coronel Carneiro, onde nasci. Residi também na Rua Felisberto Carrejo, na Rua Manoel Alves e depois que casei vim morar definitivamente neste endereço da Felisberto Carrejo, onde se situou o primeiro Cine Teatro de Uberlândia. Depois do teatro, aqui se tornou um depósito da firma J.Alves Veríssimo. Compramos este imóvel do professor Chafi Ayube. Do lado da nossa casa tinha uma máquina de beneficiar arroz. “Nós somos do tempo que a Casa de Saúde Dr. Caio Bardi se situava onde é a Casa da Cultura.” Helena Mauro: Nasci em Santa Rita de Cássia, mas aos 5 anos vim morar aqui no Fundinho, na Rua Manoel Alves. Meu pai, Eleazar Avelino Braga, foi sapateiro, professor, e alfabetizou quase todos os antigos fazendeiros que residiam aqui no Fundinho. Sou irmão de João Pinheiro Braga já entrevistado pelo Fundinho Cultural. Casamos em 1954 e tivemos quatro filhos. Os nossos filhos: Gilberto, é engenheiro e reside em Recife. O Ricardo, que faleceu há seis anos atrás, era veterinário. O Fernando é empresário e proprietário da Suporte. O Henrique também é empresário, proprietário do Posto Ferrari, aqui em Uberlândia. “O trânsito está ficando insuportável aqui e são muitas as batidas memoráveis dos veículos. Vem em cima das grades de nossa casa. Ainda bem que a nossa casa é muito bem feita senão...” Mauro Helena: O Fundinho de antigamente era tranquilo, não existia televisão. A gente podia sentar na porta e con-

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versar com os vizinhos. Agora, estamos numa situação que não podemos mais nem abrir a casa por causa da violência. No Fundinho éramos uma grande família. Aqui na esquina morava o pai do senhor Edson Garcia Nunes, figura importante para a cidade. “Um personagem interessante dos tempos antigos aqui no Fundinho, era o Bernardino. Ele foi escravo e era uma pessoa muito humilde, morava debaixo da ponte. Traumatizado pelos tempos da escravidão em que fora vítima de sofrimentos no tronco e alvo dos mosquitos, ninguém podia dizer a frase “–Bernardino olha o mosquito!” Ele dizia palavrões e a criançada da época se divertia muito com isto.” Mauro Helena: Os nossos vizinhos mais próximos, o senhor Geraldo Migliorini e o senhor Nelson Cardoso. Nós criamos nossos filhos juntos. As nossas ruas de antigamente eram calçadas com paralelepípedos. E quando eles estavam colocando o asfalto veio um carroceiro e o cavalo escorregou no asfalto quente, fiquei muito impressionada com esta ocorrência e com muita pena do cavalo.

lidade nos bordados, faço croché e gosto das artes culinárias, minha especialidade são as tortas. “Grande amiga nossa, Terezinha Cupertino Chaves, esposa do Rubens Chaves que era filho do Hermógenes Chaves, famoso farmacêutico de Uberlândia, a quem todos recorriam em busca dos receituários.” Helena “Antigamente tinha os famosos bailes do Praia Clube e do Uberlândia Clube, e as maravilhosas serenatas e o Mauro sempre me presenteava com as serenatas.” Helena “Uma música inesquecível nós:“Estrada do Bosque”

para

"Temos que conviver com o progresso que nos obriga a manter a casa agora fechada!” Helena Mauro: Uma lembrança marcante, o tempo que existia a igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo, uma igreja muito bonita naquela época. Aquele local abrigou a Estação Rodoviária de Uberlândia e hoje é a Biblioteca Pública Municipal. Sou aposentado pelo Banco do Brasil. Fui jogador de basquete, e tenho como hobby uma oficina aqui em minha casa, onde conserto coisas.. Helena: Sou do lar, com habi-

Foto do antigo Theatro São Pedro, onde hoje se localiza a residência de Helena e Mauro

Marília Alves Cunha Marlene Alves da cunha (A quatro mãos)

Capa: A Rua Tiradentes, que antigamente tinha poucos comércios, um deles, a Padaria Mecânica, hoje uma rua de intenso comércio, vista pela lente do magistral fotógrafo uberlandense Jorge H. Paul.

Cartas

Recado de uma amiga ILZETE DANTAS FONSECA Uberlândia, março de 2013 Hélvio, querido amigo Agradeço a Deus por você existir. Só ele poderia lhe inspirar a fundação de um jornalzinho tão lindo, onde grava histórias da nossa querida e tão saudosa Uberabinha! Os testemunhos e as lembranças de moradores, do tempo em que me lembro, só existiam quatro praças e

O caminho, pleno de queridas presenças, preenche as entrelinhas da vida e nos convida a seguir em frente. Grato pelo estimulo, amigas, Marília, Marlene, Ilzete, Mariú, Carmelita, Terezinha, Cora, Doris e tantas outras pessoas que nos ajudam a continuar este projeto que nos abre as portas para a amizade o carinho e solidariedade. Neste número 26 do Fundinho Cultural continua a viagem pela história, poesia e cultura. Grato a amigos pelo apoio. O Editor

quatro ruas tão simples. Muitas coisas tenho em minha memória, mas outras tenho alegria em recordar quando leio o jornal Fundinho Cultural, que é agora para mim uma das leituras de cabeceira. Obrigada Hélvio! Não tenho palavras para lhe agradecer! Quanta saudade daquele tempo! O que me comove e encanta é lembrar as conversas entre os vizinhos. Não havia segredos. Receitas, dúvidas, problemas, tudo era dividido. Era um só coração e uma só alma. Criança ainda, me orgulhava de sentir a amizade, o carinho que demonstravam a meus pais. Mais uma vez obrigada! Você é um dom de Deus! Ilzete Dantas Fonseca . 92 anos

Carta de Albânia Saudações da Albânia, Senhor editor Helvio Lima Parabéns para sua revista e, especialmente, deixe-me expressar minha felicidade ao contemplar meu pequeno poema traduzido pela Presidente da WPS, Teresinka Pereira, em uma das páginas de Fundinho Cultural. Na verdade, “Os viralatas” (“o vilão”), os cães, apenas simbolizam os emigrantes no estrangeiro, sua terra natal. As pessoas em sua terra natal, são “livres”para vender na rua o fruto de seu trabalho, mas separadamente não tem dinheiro em seus bolsos, mas circulam entre propriedades maravilhosas ao redor de sua cidade. O destino de “o vilão”(os viralatas) está esperando os poetas que fingem para salvar sua auto-suficiência, sua soberania e ir por sua voiceans, rumo à liberdade, como “Os viralatas”. Essa imagem pertence ao meu país, mas... talvez... “ Com as considerações de profundidade do “poeta Lavrador”, Riza Lai, Tirana Albânia

amanhecer

Poesia

HELENA VIEIRA BRAGA e MAURO BRAGA, um casal simpaticíssimo, que se prepara para comemorar 60 anos de plena harmonia. Ternos representantes do Bairro Fundinho, conhecem de cor a história deste lugar feliz e seus personagens. No Fundinho constituíram seus laços de família, elegeram amigos, alguns deles permanecem até hoje no rol de sua saudável convivência. Uma bela e harmoniosa residência bem no centro do bairro testemunha dias felizes deste casal gentil.

Amigos a gente escolhe, como escolhe uma jóia rara, a flor mais perfumada e colorida, a veste mais bonita para a grande gala, um canto melodioso que nos toca e emociona, uma estrela dentre muitas no céu repleto delas. Amigos batem de repente no coração da gente, coração que, parece, já os esperava. Entram sem cerimônia e lá se aninham, como se aquele fosse lugar marcado. Um calor que nunca arrefece, uma magia que tudo ilumina. Amigos deixam a vida mais bonita, o caminhar mais fácil, a tristeza mais leve, a alegria mais verdadeira. Assim são Hélvio e Adélia, que ganhamos como um presente da vida, a compensar perdas, acrescentar ganhos, a compartilhar momentos e distribuir afeto. Obrigada, pela porta sempre aberta, pelo sorriso franco que nos chega como um carinho, pelo abraço que nos aconchega e conforta. Obrigada por entender nossas falhas, perdoar nossas humanidades e fragilidades e por acreditar em nós e em nossa amizade, sem impor condições. Obrigada por serem estes seres compreensivos no meio de nossos muitos defeitos, de nossas grandes tempestades. Obrigada pela falta de preconceito, pela nobreza de caráter, pela simplicidade com que vivem os dias, pelo amor que jorra de seus olhos e estão impressos em suas almas. Obrigada por nos fazer acreditar em dias melhores e nos deixar compartilhar da sua mesa e do aconchego da sua família, a quem tanto queremos bem e a quem muito admiramos. Obrigada, Hélvio e Adélia, pela sua arte, pelo dom divino que receberam e que espalham a mancheias, enriquecendo o mundo de beleza. Obrigada por este abrigo de luz, espaço de sensibilidade e criatividade onde sentimos, a cada vez que entramos, a presença de algo maior, que circunda quadros e esculturas, que envolve gente, que reporta a paz. Obrigada pela alma que colocam em seu trabalho e pela disseminação da arte e da cultura, num trabalho diuturno e constante. Obrigada pelo esforço e empenho em registrar no Fundinho Cultural traços de nossa cidade, de nossa cultura , deixando aos pósteros uma imagem interessante de épocas vividas, narradas com primor por tantas pessoas interessantes. Obrigada pelo estímulo que sempre nos anima, pelo calor de seu afeto nos momentos difíceis, por compartilhar de nossas vidas em acontecimentos felizes. Obrigada simplesmente por serem nossos amigos. Não foi o acaso. A mão de Deus proporcionou este encontro.

Nº26

Não foi o acaso...

FUNDINHO CULTURAL

A harmonia de um belo casal do Fundinho

“Eu acho que há uma mudança no Fundinho, que está virando ponto comercial. Lojas e restaurantes querendo estabelecer-se aqui e isto muda um pouquinho... as famílias não tem mais liberdade...” Mauro

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Marília e Marlene

Faces do Fundinho

no galope dessa noite sou fantoche do destino no seu corpo, geografias cumpro sinas e peregrino

Ano XI – nº 26 ABRIL 2013 Editor: Hélvio Lima Assessoria: Adélia Lima Isabela Lima Diagramação: Niron Fernandes ABRIL 2013 - Nº 26 - ANO XI Impressão: Gráfica Scanner-3212-4342 Fotos internas: Acervos particulares, Isabela Lima, Jorge H. Paul e Joabe Romed

sei que seus olhos ainda não posso compreender mas a leste do seu rosto alastra-se o amanhecer Akira Yamasaki - SP

Tiragem: 5.000 exemplares End. para correspondência: Rua Felisberto Carrejo, 204 – Fundinho – Fone: (34) 32341369 – Cep. 38400-204 – Uberlândia-MG

hl.artes@yahoo.com.br Facebook fundinhocultural “Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião do jornal”

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