Jornal Fundinho cultural 40ª edição

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para se manter no ar um passarinho pena líria porto

Fundinho Cultural

“Arte é integração da pessoa com o Mundo”

Antonio Cabral Filho

JUNHO DE 2018 - Nº 40 - ANO XVI

. Ana Blancato . Ana Cristina César . Ana Maria Rodrigues . Ane Walsh . Antônio Cabral Filho . Antônio Pereira da Silva . Aricy Curvello . Betânia Cortes . Cristiane Alcântara . Cristiane Martins Lazzarine . Dalva Vieira . Eugênio de Andrade . Eunice Mendes . Evandro A. do Nascimento . Geni Araújo Costa . Guido Bilharinho . Helvio Lima . Ione Mercedes M. Vieira . Isabela Lima . Ivone Vebber . Jorge Tufic . Jorge H. Paul . Líria Porto . Lourdinha Barbosa . Luiz Alberto . Lupin . Marília Cunha . Mônica Cunha . Maronga . Mariú Cerchi Borges . Marcelo Negrão Artur . Neuza G. Travaglia . Oscar Virgílio Pereira . Samuel Giacomelli . Silvana Guimarães . Silvério da Costa . Stela Masson . Terezinha Maria Moreira . Teresinka Pereira . Valmor Colmenero . Vera Bernardino . Yogananda . Yone Corrêa . William H. Stutz . Zaida Garcia


helviolima

Foto Arte Isabela Lima

"Tanta coisa que eu tinha a dizer mas eu sumi na poeira das ruas...*" “Eu também tenho algo a dizer... mas me foge a lembrança...” ... e a gente faz da poesia de Sinal Fechado, 1969, de Paulinho da Viola, que parece ter feito esta música para o agora, o nosso recado, ao publicar com prazer mais uma edição do Fundinho Cultural. “Me perdoe a pressa é a alma dos nossos negócios...”, em tempos duros a gente sempre corre mais para acolher o apoio de solidários amigos de um jornal, tão pequeno e um coração enorme... “Quanto tempo... pois é... quanto tempo” Pois é, parece que foi ontem mas já estamos na 40º edição que a gente acalenta sob o conselho de velhos amigos “O Fundinho Cultural não pode parar...” Matérias dos fiéis e valorosos companheiros que estão conosco desde o primeiro número. “Tudo bem eu vou indo em busca de um sono tranquilo, quem sabe?” Munidos de esperança a gente prossegue... Com alegria registramos a presença de colaboradores que chegam para dar o seu recado, empreender esta aventura que se chama FUNDINHO CULTURAL. “Prá semana o sinal... eu espero você... vai abrir... Por favor, não esqueça...” Leia, colabore e divulgue o Fundinho Cultural” Abraços amigos

Praça Sérgio Pacheco - 2018

Ione Mercedes Miranda Vieira

As MATRIOSKAS, recado vivo que não estamos sozinhos Com pequenas bonecas, brilhantes, coloridas, a Rússia invadiu nossas vidas de apaixonados pela bola. É chegada a Copa, vestimo-nos de verdeamarelo, sem nos lembrarmos de escândalos, greves, violência. E um sentimento de prazer e esperança nos toma a alma, como que dizendo “temos pátria”. Mas... e as bonequinhas? Que papel ocupam nesse cenário? Tão simples, atravessaram tantas terras para chegar até nós. E nós as abraçamos com um carinho infantil que nos desliga das nuvens negras que pairam sobre todos. As Matrioskas são o recado vivo de que não estamos sozinhos, abrigamos, num sentimento coletivo, as vivas cores de tantas nações. Não somos únicos, somos múltiplos. Pegamos as bonecas e vamos desmembrando-as em outras Matrioskas menores... menores... , mas partes de algo bem maior, o sentimento de aconchego que nos

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traz a grande verdade: nós somos essas Matrioskas, porque cabem em nosso peito, num abraço maior. Todos e todas nos habitam. Somos pessoas que, ao longo da existência vão se multiplicando, guardando no escaninho mais escondido sonhos e mágoas. Trazendo para fora da bonequinha maior todas as outras que somos. Ora atrevidas, ora benevolentes, amargas ou generosas. Acabamos por nos reduzir àquela gota vermelha, síntese de toda uma vivência, nosso coração, para nos lembrar da capacidade que temos de que é melhor somar. Que venham todos, todas as bandeiras nesse grande abraço coletivo, para podermos olhar o mundo como se fosse uma dengosa Matrioska, e rir, chorar, pôr novas vozes para nos aproximarmos sob a guarda da bonequinha viajante. Obrigada, menininha, seja bem-vinda!

Diversidade. Esta é a mensagem da Natureza. Todos os seres são diversos. Somente o ser humano é sempre igual... Boring species. Ane Walsh

Gente do Fundinho

TEREZINHA MARIA MOREIRA

Sempre atenciosa e gentil a professora, poeta, compositora, fotógrafa e tantas artes mais, Terezinha Maria Moreira é um ser humano exemplar, amiga de todas as horas a pontuar a vida dos que a conhecem. Natural do Fundinho, oriunda de uma das famílias mais tradicionais do bairro, contribui para o Fundinho Cultural com suas poesias e artigos desde a sua primeira edição. Ela é autora de maravilhosas enquetes que o jornal publica, sobre pessoas queridas e significativas para a história do bairro e da cidade. Momento de júbilo para homenagear esta abençoada presença no meio cultural uberlandense. Terezinha Maria Moreira lançou em 2012 o livro A VOCÊ, de suas poesias em português, espanhol, francês, inglês e italiano, divulgadas em revistas brasileiras de circulação nacional.

a fé, o canto, as bonecas de pano DALVA VIEIRA Sua vida dá um filme bom. Aos 81 anos, Dalva Vieira é uma figura muito querida do Bairro Fundinho. Mulher solidária, alegre e comunicativa, mudou-se para Uberlândia em 1955, vinda de Jardinésia. Sempre residiu à Rua Dom Barreto. Artesã de lindas bonecas de pano, faz parte do coral da missa das 9 da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, onde é ministra da eucaristia e desenvolve ações assistenciais. Um notável exemplo de fraternidade. Conte-nos um pouca de sua história Há oitenta e um anos atrás minha mãe que já tinha três filhas e estava grávida de mim, sofreu barriga d’água e isto não tinha cura na época. Depois da morte de minha mãe meu pai se envolveu na bebida. Minha mãe, sabendo que ia morrer,me entregou para minha madrinha. A minha irmã mais velha foi entregue para o senhor Cícero de Macedo Alvim. Somente aos dezenove anos quando mudamos para Uberlândia é que pude conhecer minhas irmãs de sangue que moravam aqui, a irmã que morava em São Paulo conheci aos vinte e seis anos. “Sou queridinha de todo mundo, eles me respeitam e me bajulam muito. Quem é Dalva Vieira? Eu nasci em Jardinésia, antigamente chamada Bom Jardim do Prata e vim morar em Uberlândia em 1955 com meus pais adotivos João Crisóstomo, irmão da senhora Vindilina e filho do Coronel Virgílio, e Cornélia Alves Vieira. Minha mãe adotiva sofria de anemia profunda, acho até que era leucemia, então, eles tiveram que vender a chácara onde moravam e vieram para cá para o tratamento de saúde dela. Mas ela viveu pouco aqui e logo veio a falecer. Meus pais adotivos não tiveram filhos consanguíneos mas adotaram cinco. Depois que minha mãe faleceu, uma das minhas irmãs mais velhas, Ana Vieira, que eu considero também minha mãe, cuidou muito bem de mim. Há quantos anos a senhora reside no Fundinho? Moro nesta casa, na Rua Dom Barreto, bem em frente à Paróquia Nossa Senhora das Dores, desde 1955. Tinha dezenove anos quando nos mudamos para cá. Aqui me casei e tive meus filhos. Esta casa aqui era da Vindilina que doou para a Ana, sua sobrinha, que doou para mim.

“Fui passadeira até os sessenta anos” Como a senhora descobriu o artesanato? Fiz vários cursos. Aprendi bordado e no aprendi a fazer bonecas de pano. Fiz curso de bonecas de porcelana e em São Paulo um curso de aperfeiçoamento na Vinte e Cinco de Março. Fale-nos de sua família Januário Mendes de Souza que faleceu em 1983, foi meu marido e com ele tive 2 filhos, Jaldair, Jilmar e Jiralva, nossa filha adotiva, ela mora no Residencial Pequis e tem quatro filhos e um neto. E as amizades mais queridas Gosto muito do Padre Márcio, ele me prestou uma grande ajuda quando minha casa incendiou, em 2002. Sou muito grata também ao padre Edivaldo que recentemente também me ajudou a reformar minha casa. Gosto demais da Regina Colantoni e sua mãe dona Luzia. Aquela família é tudo na minha vida. Gente querida. Tem o Roberto e a Graça Tannús. A Francisca Chaves, a dona Nega, é minha amiga inseparável. Estes amigos são pessoas boas demais. “O Fundinho de antigamente era muito melhor, mais calmo, sem violência, sem carros...” “Eu punha o carrinho do bebê lá de fora e o meu cachorro chamado Bião ficava vigiando. Alguém que passava e brincasse com o menino o cachorro pulava em cima.” “Há quarenta e dois anos organizo excursões anuais para Aparecida do Norte em romaria. Reúno o povo e visitamos a Canção Nova, os padres oblatos e rio onde apareceu a imagem de Nossa Senhora de Aparecida.”

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Foto: Terezinha M. Moreira

Mônica Cunha

Evandro Afonso do Nascimento

Voar versus Levitar Buscava, com passos largos e afobado, por meus dois netos de dez e sete anos em um hotel antigo, de arrojado projeto arquitetônico que insinuava uma estrela cujas pontas eram constituídas pelos longos corredores onde se localizavam os quartos. Todos os espaços eram amplos, iluminados e arejados naturalmente, as paredes eram claras assim como o piso de cerâmica. Seu interior tinha a aparência daqueles de Santas Casas da primeira metade do século passado, de pé direito elevado, quartos espaçosos e portas de madeira pintadas com tinta a óleo cinza. Percorri um corredor, nada; voltei e entrei no outro, nada outra vez; acelerei mais o passo quando entrei no terceiro, e de repente senti que minha passada rendia mais, um passo passou a ter uns dois metros, depois três, quatro metros... Estava flutuando!? Batia o pé no chão e meu corpo avançava de acordo com o empuxo que dava. Incrível! Era verdade aquilo que acontecia? Era, podia até dobrar a perna e ficar na posição de Aladim no tapete mágico, só que eu não estava num tapete, eu flutuava por conta própria e aquilo era simplesmente maravilhoso, uma sensação indescritível de leveza. Como poderia estar tão leve quanto o ar? Não me preocupei em entender fisicamente o fenômeno, acontecia e pronto! Tinha que encontrar meus netos, segui minha busca e, por onde passava, as pessoas mais atentas ficavam pasmas, mas, surpreendentemente, ninguém desmaiou, gritou ou fez qualquer gesto que pudesse significar que vivenciavam um milagre ou bruxaria, aceitavam o fato como expressão de uma alta tecnologia que não podiam entender, como uma possibilidade real, certamente devido ao acelerado avanço das ciências que ora presenciamos e que, muitas vezes, nos deixa perplexos. Segui vasculhando os outros corredores e, não tendo tido sorte, resolvi vistoriar o jardim. Ao passar pela recepção, provoquei um grande alvoroço. Não foi necessário descer as escadas da entrada, sobrevoei-as simplesmente. Deve haver um parquinho por aqui, meus netos podem estar lá, pensei. Na busca ultrapassei duas senhoras e escutei o comentário de uma delas: “Aquele homem está voando!” A esta altura eu já conseguia dominar a flutuação no ar como consigo fazer dentro d’água, simplesmente não me afundo nem que fique parado, tal como um golfinho e desfrutava orgulhosamente de todas as sensações físicas de um vôo livre, mas com uma grande diferença, eu não necessitava de propulsão, fosse da gravidade ou de um motor ou de bater rapidamente os braços, eu simplesmente tinha a densidade do ar e me deslocava nele como podia fazer n’água e até melhor. Resolvi subir bem alto para ter uma visão panorâmica, deixei as árvores abaixo de meus pés, cheguei a uns 15 metros de altura. Que vista estupenda lá de cima! O ângulo de visão alcançava 360 graus, o hotel e casas perdiam-se no meio do tapete verde de árvores. A sensação de perda de peso e a capacidade de voar deixavam-me num estado de contentamento pleno. Já havia passado por duas experiências de levitação, mas esta era muito melhor, eu podia nadar, correr ou andar no ar com total controle do movimento... Lá de cima pude ver meus netos exibindo suas perigosas cambalhotas no pulapula do parquinho. Evandro Afonso do Nascimento . Professor titular aposentado e voluntário . Instituto de Química . Universidade Federal de Uberlândia

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Marilia Cunha

Fundinho, nosso bairro!

Um domingo simples Dormi até mais tarde. Domingo é assim. Me deixo um pouco na cama. Preguiça sem pecado. Os meus inquilinos, pontuais como sempre, cantavam a alegria do sol cedinho e voavam entre galhos. Um celebrar matinal que eu tenho a bênção de ter na minha janela. Levantei, desci as escadas, cheguei à cozinha. Tenho uma vista linda. Um pé de pêra que se veste diferente a cada estação. Espio ninhos de passarinho. Condomínio bom, penso enquanto encho a chaleira de água. Pó de café no coador, fruta picada, queijo e castanha. Vou pra mesa. Tudo se aquieta. De repente percebo um silêncio mais que o normal. Ele permanece durante a refeição. A curiosidade aumenta e vou até à varanda. Lá de cima observo a rua estreita vazia. Casas com janelas entreabertas, vento brincando pelas mangueiras e sibipirunas. Luz pela vizinhança. É um dia de espera. Meio forçado. Mas sinto que da necessidade veio a oportunidade de estar mais no lar. Por seus cômodos, seus cantos, fuçar armários, tirar de lá panelas para redescobrir o sabor de um bom arroz com feijão.

Samuel Giacomelli Aqui começa a nascer um poema sem nome como qualquer outro que em si se basta um poema como os outros que a si consome e como se perde, se procria e se alastra cada qual toma seu rumo, cada qual sem prumo some e na soma de trajetos seu caminho traça sem perder de vista o outro, sem que se tencione cada momento de vida que aos olhos passa e ainda que, a tudo o que é beleza, ambicione de qualquer boca alheia se derrama em graça

Valmor Colmenero

CIRANDA Para Luiz Antônio Martins Pimenta Do Da Da Do Do Do Do Da Do Da Do

artista fica a arte. arte fica a essência. essência fica o sumo. sumo fica o suco. suco fica o sabor. sabor fica o prazer. prazer fica a vontade. vontade fica o conhecimento. conhecimento fica a palavra. palavra fica o poeta. poeta fica o artista.

Antes de mudar para Uberlândia eu já trabalhava nesta bonita cidade. A minha vida era um eterno caminhar entre Araguari e Uberlândia, às vezes como carona de conhecidos, muitas vezes sacolejando em ônibus num tempo de estrada ruim, morrendo de alegria num trem de ferro, que infelizmente durou pouco e até em cima de uma balsa, quando a ponte que separa as duas cidades caiu numa bela tarde, um pouquinho depois da minha passagem, graças! Certa vez, ansiosa demais para chegar em casa, peguei carona em uma moto. Jurei por Deus e todos os santos que nunca mais faria tal loucura... A estrada me pareceu infinita e o medo paralisou até o meu pensamento. Nunca mais! Lembro-me com exatidão da inauguração das Lojas Americanas e do sucesso que fez. Comprei para meus filhos um saquinho de plástico cheio de peixinhos vermelhos. Já na balsa, voltando para casa, imaginei o sofri-

mento dos pobrezinhos, presos naquele invólucro transparente, quase sem espaço para se moverem. Joguei os peixinhos no rio. Devem ter durado pouco. Afinal, as águas turvas do Rio Araguari não eram a casa ideal para frágeis e vermelhas criaturas. Lembro-me bem deste dia, talvez porque estivesse matando serviço, coisa que fiz poucas vezes na minha vida de trabalhadora... O ponto que sempre me encantava, nas minhas idas e vindas era o Fundinho. No meio de uma cidade que crescia a olhos vistos, o lugar me parecia um reduto diferente, impregnado de tradições, ar tranquilo de província. Pessoas mais velhas andavam pelas ruas, sem pressa, ou se debruçavam nos alpendres a apreciar o movimento e fazer cumprimentos, com um ar bonito de intimidade e gentileza, o que muitos fazem até hoje. A minha mente trabalhava: um dia vou fincar pé aqui!

Zaida Garcia

Ana Blancato

O fardo da ovelha negra Quase todos os grupos, sejam eles de trabalho, amigos ou familiar, tem um integrante considerado mal sucedido, inconstante, diferente, inapropriado e por ai vão as denominações... Espiritualmente e emocionalmente estas pessoas carregam o fardo (a cruz) para que os demais evoluam.... Funcionam como latas de lixo do que é considerado ruim. Se você se identificar neste processo saia desta cena, mude de filme e seja protagonista de sua própria história. Hoje temos ótimas ferramentas para mudarmos estes padrões, reprogramar o ciclo das repetições de não aceitação da diferença e muito mais, trazer à tona a importância deste ser diferente que é você no grupo. Eu te convido a não esperar mais para ser aceito, mas, sim, aceitarse e compreender os seus próprios desafios. E viver bem, não só neste lugar em que está, mas enxergar outras possibilidades infinitas....

E finquei, com toda minha família, depois de um prolongado namoro. Apesar das grandes transformações que ocorreram no espaço de quase 30 anos, ainda tenho este pedacinho de Uberlândia como o lugar ideal para viver o resto de meus dias. Acordo de manhã, vou até a varanda, olho para o imenso jardim que tenho à minha frente onde se abraçam o verde e o amarelo, onde o vento gostoso faz música entre as folhas, onde crianças brincam e se alegram como pássaros em revoada e digo: Obrigada, meu Deus, por esta dádiva! Hélvio de Lima mantém com seu espírito e trabalho o “Fundinho Cultural”, que é sempre, em todas as edições, uma grande homenagem a este bairro. Coisa de artista, que Deus inspira a criar e levar à frente projetos tão simbólicos e importantes. Coisa de artista...

Eu me tornei muitas em uma Sempre fui mestre na arte de me reinventar. Quem me conhece desde os 13 anos já conhece o rol de personagens e por fim, o mix deles. Eu me tornei muitas em uma. E eu tenho estado nessa busca incessante em saber quem é a Ana e essa vontade louca de mudá-la sempre... Eu gosto de ver minhas fases como estações, só não existe uma ciência para prevê-las. Quando a vida me aperta um pouco, eu não hesito em partir. Parto sem olhar pra trás e com várias histórias novas para contar. Meu darma é ser uma eterna contadora de histórias... assim como o de muita gente, acredito. Tenho uma tendência e uma queda fatal por drama, principalmente em estendê-lo. Nunca vi essa característica de forma pejorativa, meu drama me faz mais empática e com certeza mais divertida. Eu sou a autora dos absurdos que

Antonio Cabral Filho

poucos têm coragem de falar, mas todos sabem que existem. Eu desconheço arrependimento, apesar de reconhecer falhas pretéritas imensas que com mais maturidade poderiam ter sido evitadas. Eu sempre tive muita facilidade em ser quem eu sou, abraçar minhas características, aceitar as minhas falhas e buscar sempre melhorá-las. Durante o desenrolar das minhas estações, muitas características se foram, muitos sonhos se desfizeram enquanto outros se realizaram, mas ainda um padrão permaneceu: eu nunca soube ser pela metade. Não sirvo para quase amor e nem para ser meio amiga, eu sou tudo ou nada. O triste foi perceber que poucas pessoas mereciam o meu tudo no final das contas já que muitas pessoas só apreciam o nada ou o superficial... Mas eu também nunca consegui ser rasa.

ESPELHO DE SOMBRAS

Por sobre os ombros os olhos fitam o mundo refletido no espelho através da janela... O corpo imerso no dia convulso insensível aos suicídios e ao calor das discussões não figura, não é mais nem menos

na paisagem alheia. O pintor no atelier não o notaria pousado na folha branca sobre a mesa. O dia cheio de mecanismos é tudo que cabe no espelho; O resto, os olhos não podem ver...

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William H Stutz

O Leão é manso A

costumado a se alimentar de domadores e incautas trapezistas, que, vez ou outra, de maduras despencavam em sua jaula, estava difícil acostumar com a nova dieta, nem a cesta-leão do governo convencia. Por um tempo, tentara comer fazendeiros, tarefa impossível, pois, além de raramente aparecerem nas propriedades, quando o faziam ali chegavam ou de avião ou caminhonetes blindadas muito bem protegidas. Tentou peões e agregados, mas, caçador noturno que por necessidade se tornou, os horários das tocaias batiam com os das novelas, ninguém saía de casa, faltou presa, um fiasco. Ia se remediando com um ou outro sacoleiro ou eventualmente algum ladrãozinho de galinha que, na tentativa de burlar a fiscalização ou fugir da polícia, se embrenhava cerrado adentro. Como rei que era, tentou em vão organizar a bicharada da mata. Não deu certo, os bichos daqui eram insubordinados por demais, não respeitavam em nada sua real autoridade, não davam a mínima para seus mandos e rugidos, isso sem contar as constantes gozações de lobosguarás, tatus, pacas e papagaios que viviam a cochichar às suas costas, ridicularizando e fazendo piadas de sua enorme juba vermelho-caju, fruto de muita tintura dos tempos de picadeiro. A própria mancha de cerrado em que se escondeu era um tormento. Cercada de canaviais por todos os lados, vinha sendo devorada pelas beiradas, tamanha a voracidade dos usineiros. Logo não sobraria pé de pau para contar história. Isso para não lembrar a tristeza da época de corte da cana quando passava a sofrer de insuportável bronquite alérgica, rinite crônica, sinusite aguda, pigarro e ataques de cobras a buscar refúgio das criminosas chamas

Silvério da Costa Quando acordei, naquela manhã de antanho, não passava de um asqueroso inseto de razoável tamanho.

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ateadas às plantações. A pouca água de minguado córrego que tinha para saciar a sede exalava terrível cheiro de vinhoto, não se viam ali lambaris ou girinos em seu raso leito, verde deserto. Por várias vezes tentou migrar mais para o norte, mas era sempre impedido por grupos de sem-terra acampados aqui e acolá que por ele não nutriam simpatia, pois era visto como um símbolo da realeza imperialista. Argumentava que como pedágio pela travessia poderia de bom grado comer um ou outro capataz que os atormentava, e nada adiantava dizer que de real só tinha a fama e alguns mendigados trocados. Nada. E, para abalar mais ainda sua auto-estima, ao fim da discussão sempre tinha um engraçadinho que de longe vinha com a velha piadinha: “Senta gente, o leão é manso, não tem dentes...”. Espumava contido de ódio e humilhação. Apelou para programas de rádio e televisão daqueles que adoram o bizarro, pregou no deserto, ninguém se sensibilizava com seu desespero. Escreveu para ONGs, mas estas, depois de demoradas consultas a seus escritórios nas capitais, informavam que nada podiam fazer, pois, como leão que era, não podia ser por eles protegido pois pertencia à fauna exótica e seus estatutos só tratavam de animais nativos. Magro, faminto, escova progressiva já desfeita, a tintura da juba clareando, denunciando as raízes brancas de seus pêlos, e por fim como golpe de misericórdia perdeu a bolsa-leão do governo, pois não conseguia mais comprovar endereço fixo, se rendeu. Resignado, cabisbaixo, deprimido, sem um miado sequer, voltou para o circo. William H Stutz - Veterinário e escritor

KAFKNIANA Observando mais a fundo, pude ver, enquanto inseto, que o mundo em que vivia era um mar de hipocrisia, uma miragem no deserto! ...

Ana Maria Rodrigues

O Casamento Real

ea representatividade dos negros Temos motivos de sobra para comemorar o casamento de Meghan, mais uma “cinderela negra que o príncipe encantou” pois a entrada da negritude pela porta da frente de um castelo é algo inédito, extraordinário! Estamos falando de uma família real, obviamente branca, com mais de MIL ANOS de tradição, que nunca na história foi confrontada por pessoas negras. Temos então esse casamento real, onde Meghan (negra sim, não estamos falando de Brasil), se casa com príncipe Harry e entra para a história quebrando protocolos em muitos sentidos. O que teve então? Não assistiu? Se liga: - Temos a mãe dela, uma mulher negra, DE TRANÇAS, vestida em trajes elegantes, acompanhando tudo ao lado de toda a família real. - Temos o jovem músico negro Kanneh-Mason, de 19 anos que se apresentou com seu violoncelo de maneira SOLO, por mais de 10 minutos sendo assistido por mais de 2 bilhões de pessoas no mundo inteiro. Ele foi o primeiro negro a ganhar o prêmio de jovem músico da BBC. - Teve reverendo preto, Michael Curry, que fez uma pregação CONTRA O RACISMO, citou Martin Luther King, defende o casamento gay, e faz duras críticas ao presidente Donald Trump. - Teve o coral negro se apresentando lindamente, cantando músicas que nada tem a ver com o decoro inglês. Tudo isso regado a um visível desconforto e constrangimento de grande parte da branquitude presente, inclusive a real. Foi afronte. Foi visibilidade. Representatividade. Foi histórico. E só não consegue enxergar esse fato quem é muito umbiguista, e só fixa os olhos na realidade negra brasileira. Muitos desses, aparentemente descobriram que eram negros ontem e já querem ditar regras pros irmãos. Isso sim meus amigos, é viver fora da realidade! ANA MARIA RODRIGUES – PROFESSORA – MESTRE EM ARTES PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Maronga Ser. Ser em ser. Ser o que sou. Ser o que somos.

Neuza Gonçalves Travaglia

Tristes tempos Foto: Marcelo Negrão Artur

Ser é difícil. Difícil ser por serem. Ser o que sou. Difícil ser o que sinto. Sinto seres em mim. Sinto seres por seres. Não sou fácil de ser. Não serei o ser por serem. Serei a mim. Serei o que sei. Não sabeis por mim. Não julgareis por vós. Serei a minha dor. Serei o vosso amor. Amarás a minha dor. Amarás a minha falta de pudor. Serei a tua lágrima. Lágrimas por ser em meu ser. Serei a tua alegria. Alegria de ser em vosso ser. Sereis tudo em meu ser. Não sereis o teu ser. Serás tudo em vosso ser. Seremos o nosso ser. Amaremos do nosso ser. No silêncio seremos nós. Amaremos por sermos. Na penumbra temeremos ser. Seremos. Apenas seremos. Seremos o vosso ser. Serás o meu ser. Seremos o que somos. Somos o que fomos. Fomos um para o outro. Foremos o ser... Serei em vós. Serás em mim. Serão em nós. Seremos um para o outro.

«Ville triste, lumières tristes dans les rues tristes, clowns tristes, queues tristes devant les cinémas tristes... » :Cidade triste, luzes tristes em ruas tristes, palhaços tristes, filas tristes em frente a cinemas tristes... (Georges Perec) Tempos tristes! Inúmeras vezes nos deparamos com essa expressão ao falar com as pessoas, passear pelas redes sociais ou mesmo ao surpreender retalhos de uma conversação. Estaria onde a alegria? O bom humor? A despreocupação? A esperança? O que teria mudado? Alguma coisa entristeceu nosso tempo. O que será? As teorias e explicações se multiplicam com a velocidade da comunicação, mas nenhuma delas consegue nos satisfazer plenamente. Estaria a humanidade com medo do que poderá acontecer com o empobrecimento da mãe que sempre nos cumulou com a generosidade dos seus frutos? Os pilares que, apesar de tudo, nos sustentaram e garantiram uma ilusão de estabilidade estariam abalados? Estaríamos tentando caminhar numa areia movediça de mudanças de valores, costumes e crenças? Teríamos perdido a fé? Ou seria a pressa de chegar a uma terra prometida que, a cada passo que damos, parece se afastar? Será que os “amanhãs que cantam”, as promessas de dias melhores, perderam o poder de nos impulsionar? Parece que a humanidade está longe de saber ou de dar uma resposta definitiva e alentadora a essas e a outras inúmeras perguntas.

Uma coisa, porém, é real: ainda estamos aqui, juntos. Tudo o que fizemos, fizemos juntos: poluímos o ar e a água, desmatamos, inventamos o automóvel, nos agrupamos em castas numa pirâmide social com patamares às vezes intransponíveis... mas também criamos milhares de maneiras de minorar o sofrimento e prolongar a vida, conseguimos quebrar grilhões e cadeias, aprendemos a nos aventurar pelos caminhos da ciência e da tecnologia, descobrimos trilhões de estrelas, visitamos algumas delas: tudo globalmente, juntos. O pior que podemos fazer no momento é fomentar divisões para lançar culpas ou atribuir méritos exclusivos de pessoas ou de grupos. Somos humanidade, desde o início, desde os mais remotos tempos. E é como humanidade que tudo fizemos: da pior das vilanias ao mais nobre dos heroísmos. E é como humanidade que vamos caminhar em busca de soluções para a tristeza que insiste em imperar sobre nós e nos assombrar a todos, de todas as idades, raças, línguas, cores e credos. Não vamos nos desesperar em busca de salvadores e de ídolos que brotariam no horizonte carregando a tocha da alegria. Uma pequena chama está dentro de cada um de nós e só a união vai fazê-la se expandir e brilhar com vigor. Viver com as pessoas e não contra elas nem que seja para multiplicar os pequenos lumes da alegria e da fé. Assim vamos descobrir com surpresa que, ao contrário do que diz a música, “o uirapuru não morreu”. Neuza Gonçalves Travaglia. Uberlândia, 5 de junho de 2018.

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Mariú Cerchi Borges

BILÁ SALAZAR DRUMOND deixou parte de sua alegria gravada no coração das pessoas Silvana Guimarães

o acrobata para carlos augusto lima eu sou a mulher barbada do semáforo e você me olha de esguelha com nojo fecha as mãos ao volante com força trinca os dentes aumenta o som e se apavora com o brilho do meu dente aquele de ouro no lugar do que perdi com um soco numa noite de chuva não sou mais o triste fantoche que amava o engolidor de fogo e vivia com o atirador de facas: sobrevivi a minha miséria & a minha ousadia lhe deixam constrangido: agora você ignora meus panos de prato de chão acelera de volta para casa onde lhe espera a mesma solidão às avessas o seu silêncio debatendo-se entre a louça na pia & o recibo da pensão alimentícia: sim o que lhe resta então broder: improvisar um samba-enredo louvando as espetaculares conquistas femininas da última década: a mesma daquelas almas fêmeas que existiram para seu usufruto: apenas meras biscas aí incluída a mulher armada que partiu o estômago embrulhado você girando girando girando no globo da morte e essa vontade de rasgar os pulsos antes de despencar no despenhadeiro enquanto murmura: el gran ilusionista

Ana Cristina César

Que Fazem os pontos finais no final dos seus sonhos? Que vírgulas ainda estariam por colocar Em cada sufoco de poesia?

Foto: Marcelo Negrão Artur

Betânia Côrtes

A vida é bem menos chata que a novela das nove e meia Esse texto nasceu em meio à greve dos caminhoneiros. Então, já aviso: está contaminado pelos acontecimentos factuais de um Brasil em crise. Neste momento, milhões de pessoas estão criando a sua manchete, a sua notícia sobre a paralisação que praticamente parou um país que, até então, não parava para nada. A saúde está absurdamente ruim, matando milhares diariamente? O país segue altaneiro. A educação está indecente, nos últimos lugares do ranking mundial? Continuamos impávidos! Mas aí, um pessoal que movimenta 80% da produção interna decide que cansou de acordar quase todos os dias com um aumento novo nos postos de combustível e, talvez, trocando figurinhas no whatApp, resolveu dar uma paradinha pra ver o que acontece. E, sim, com a ajuda da classe patronal. Vamos ser honestos. Sem muito espaço para deitar elocubrações, vou logo ao ponto, ou melhor, aos pontos. Diferente de outros movimentos, este nos trouxe a imensa dificuldade de tomar uma posição imediata. Pelos menos para um certo de número de pessoas que não gostaria de se arrepender minutos, horas depois, dada a celeridade atual dos eventos. E como reza o ditado, gato escaldado tem medo de água quente. Portanto, para esses, e, principalmente, para quem acredita que o Brasil, apesar dos pesares, depende do empenho de cada um para mudar, e não deste ou daquele político, indico que chequem exaustivamente o que recebem pelas redes sociais. Evite reproduzir notícias falsas, correntes disparadas por robôs, ideias preconceituosas. Você pode perder a credibilidade e amigos bacanas. Use o verbo googlar, que é basicamente pesquisar na internet se aquela notícia está sendo reproduzida por fontes confiáveis. Algumas fraudes são tão batidas que são identificadas em segundos. É claro que a greve dos caminhoneiros é muito mais complexa, exige muitas leituras. Eles estão certos em dizer um cansamos ao aumento desenfreado do combustível? É claro que sim. Mas está certo o governo em devolver a conta para nós, consumidores? O que está por trás dessa política escorchante de preços? Falta tempo para investir em informação? Que tal desligar a tv? Dê um tempo na novela das 21h30, chatíssima, e seus dramas previsíveis. Você já sabe de cor os próximos capítulos. A vida real está bem mais empolgante. E, até que mudemos inteiramente as regras políticas, o caminho para fazer valer direitos conquistados que estão indo embora, é usar aquele papelzinho barato emitido pelo tribunal eleitoral. Sim!!! É claro que essa tarefa também exige checagem rigorosa, e um acompanhamento de quatro anos, no mínimo. Mas é preferível a se desiludir com soluções milagrosas. O Brasil tem provado que esta fórmula não dá certo. Betânia Côrtes, jornalista e geógrafa, vem se esforçando para ser uma cidadã, apesar dos obstáculos no caminho, entre os quais os passeios intransitáveis de Uberlândia.

Aos poucos, discretamente, Bilá começou a se despedir da vida. Certamente, ela não queria, suponho, que os filhos, netos, irmãos e amigos se preocupassem com ela; era bem assim o seu discreto jeito de ser. Tal era a discrição, que a gente nem percebia que ela estava se despedindo. Não costumava recusar convites para aniversários, encontros com amigos, reuniões, viagens e festinhas. Em tais ocasiões, vestia-se com classe, elegância e alegria assim, sua presença, se tornava marcante: Sorridente, discreta, alegre, educada, graciosa, comunicativa e culta, sua companhia era sempre prazerosa. Nada de reclamações ou de tristeza. Se as tristezas existiam, e, certamente existiram, ficavam entre ela e suas noites de silêncio. A tipóia, que passou a usar como apoio para o braço (que doía bastante), era usada combinando com a roupa que estava vestindo: Um luxo! Mas ela estava se despedindo! Tal despedida transitava por sua vida talvez até com certa indiferença – era como se ela estivesse a desafiar, com força incrível, a cada dia, coisas inesperadas que o seu estado de saúde vi-

nha apresentando: sempre uma nova “surpresa”! Um dia, era a mão que ameaçava tirar-lhe os movimentos, outro dia, era o braço que pesava demais sobre o ombro, outro dia, eram as pernas que começavam a falsear, mas, nada disso tirava dela a alegria de viver. Houve um dia, no entanto, que lhe apareceu, sem mais nem menos, uma paralisia facial dificultando-lhe a fala, a alimentação e o próprio sorriso, mas nem por isso, ela deixou de cantar. Então, como costumava fazer, pediu à filha que tirasse do armário o seu caderninho de cantos e poesias – cuidadosamente manuscritos – onde estavam registrados, com uma admirável caligrafia, letras de tangos, boleros e poesias em português, francês, italiano, espanhol e, ali mesmo formamos, ela e eu, uma dupla e começamos a cantar. Essa querida amiga teve uma brilhante

carreira: diplomou-se depois de adulta, em Letras, na antiga Faculdade de Filosofia de Uberlândia. Lecionou vários anos como alfabetizadora nas diversas escolas públicas por onde passou. Muito responsável, não arredava os pés quando era o “outro “que dela precisava. Como educadora, abriu as portas da leitura e do conhecimento para centenas e centenas de crianças que por ela passaram. Somou pontos na difusão da cultura nos diversos postos que ocupou na administração pública de Uberlândia. Escreveu poesias, contos, crônicas e alguns livros. Nunca buscou o foco para si mesma, pois o seu foco era o “Outro”: a educação do “outro”, preparando-o para a entrada no competitivo mundo que o esperava. Assim, sua presença ficava escondida no “outro”. Ultimamente, participava de um grupo do Jogral “Qualquer Lua”, que se apresentava na Rádio Universitária no programa: “A Poesia nas Asas do Tempo”, sob a direção de Márcio Alvarenga. Bilá deixou saudade. Deixou lembranças. Deixou parte de sua alegria gravada no coração das pessoas que a conheceram. Lembrá-la será sempre a confirmação de que – tive uma grande amiga.

Masculino Atendimento com hora marcada

(34) 3212-4383 / FAX: 3212-3799 Rua Laura Nita Cruz, 140 (antiga 20) - Dist. Industrial Cep. 38402-339 - Uberlândia - MG E-mail: neoplacker@neoplacker.com.br

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Cristiane Martins Lazzarine

Ferramentas Vivas - Vivas mãos A exposição Ferramentas Vivas - Vivas mãos foi realizada na Galeria de Arte do Espaço Cultural do Mercado Municipal, no período de 06 a 30 de maio do presente ano. Em foco profissões e ferramentas consideradas extintas ou em processo de extinção. Foram apresentadas ferramentas antigas, extensão das mãos de um profissional que dava vida à matéria. Quiça, difíceis de serem reconhecidas na atualidade mas que, reconhecidamente, compõem e contam a história e a ela pertecem. Ferramentes Vivas-Vivas mãos almejou evocar a memória, o gesto e o fazer.

Geni Araújo Costa

O TEMPO DO ENVELHECIMENTO Para se amar verdadeiramente, é inevitável que se reconheça a necessidade do outro

Yone Corrêa Araújo e Luiz Alberto

Terezinha Maria Moreira

Antônio Pereira da Silva

CHUVA SOBRE O AZUL

Na virada do século XIX para o XX já se bebia CERVEJA em Uberabinha

Céu nublado. Piscina revestida de azul celeste. Água tranquila, afagada pela brisa. Súbito, uma chuva de verão. Miríades de gotas tocam a superfície lisa. E saltitam e dançam e fazem brotar miúdas bolhas na água azul, que estremece, se encrespa e baila também. Pouco a pouco, a chuva se abranda. Gotas leves, suaves, engalanam, com pequeninos círculos, a água azul, azul, em toda a sua extensão . A chuva se vai. Agora, refletida na água serena, a exuberância das jardineiras em flor . Do livro: “A VOCÊ “ , pág.56.

Lia Finzer

Pedaços de mim Minha coroa não é de ouro, Nem de espinho ou de flores. É suada, é surrada. Minha mão não tem anel, Tampouco usei véu. Tenho calos, não me calo. Meus pés estão no chão, As vezes num salto alto. Ora andam, ora param. Meus olhos pouco enxergam, Humildes, buscam ajuda. Veem além, veem com a alma. Meu coração, cada vez maior, Foge do orgulho. Quer alguém, quer amar. Pedaços de mim, Juntos são o que eu sou. Buscam paz, fogem da dor.

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Perceber de repente o próprio envelhecimento, tomar conhecimento de que o tempo também teceu suas tramas em nosso corpo pode ser uma experiência marcante. Entretanto, não há como escapar ao tempo. O tempo é devorador – “roedor de coisas e de homens”. Não há como negar, controlar ou fugir dessa realidade. Deve-se, pois, pensar que o tempo de vida, inseparável do envelhecimento e da morte, pode ser o tempo da realização. A esse respeito, as reflexões de Bastide apontam: O tempo sem envelhecimento é um sonho do homem, uma grande esperança. O tempo sem envelhecimento será o da eternidade. É o tempo da vida sem restrição, um tempo inconcebível nos limites da condição humana. Esse tempo não nos pertence nem nos concerne. O tempo da velhice é a última confrontação com o tempo, e esta é decisiva. Este será ou o tempo da desesperança ou o tempo da reapropriação do próprio destino, de uma nova descoberta de si, dos outros e do mundo; tempo, também, da confrontação, sem blefe possível, com sua precariedade, sua finitude e sua morte. Culturalmente, as pessoas são impregnadas de certezas momentâneas, uma eterna provisoriedade do tempo que permeia a concepção da idade so-

cial. Ela pode variar de acordo com a perspectiva de quem avalia em função do momento histórico que se considera. As pessoas, quando muito jovens, tendem a considerar velhos os pais (de 30 ou 40 anos). Assim, a avaliação dominante que se tinha há algumas décadas de um sujeito (figura existencial praticada e provisória) de 55 anos mudou substancialmente com o percorrer dos anos que se somam aos demais. Hoje tende-se a considerá-la adulta e empurra-se a velhice para os 65 anos ou mais, como já acontece em países desenvolvidos. Aos 70, 80 e 90 anos o velho é sempre o outro, como dizia Simone de Beauvoir, que incluía a velhice na categoria dos “irrealizáveis” sartreanos. Nessa perspectiva, as inúmeras e incontáveis velhices dos sujeitos podem ser entendidas como “irrealizáveis” porque não se pode reconhecer a velhice em nós mesmos. Apenas consegue-se enxergá-la nos outros, embora eles tenham nossa idade. Depois dos 95 anos, baseando-se na filosofia de Shopenhauer, em lugar de morrer de doença, o homem muitas vezes extingue-se naturalmente. Enquanto há vida pulsante deveremos vive-la com intensidade e motivação.

Na virada do século XIX para o XX já se bebia cerveja na antiga Uberabinha. Quente. Não havia geladeira. Para refresca-la enterrava-se a garrafa na areia, na beira de um rio. O curioso é que as cervejas que se bebiam aqui, eram fabricadas aqui mesmo. Geralmente por imigrantes italianos. O primeiro que encontrei nas minhas fuçanças foi o Miguel Mascia, membro de uma das primeiras famílias italianas a chegar. Em 1898 já era lançado pela Câmara Municipal como fabricante de cerveja. Sete anos depois, João Severiano Rodrigues da Cunha, em artigo publicado no Diário Oficial de Minas Gerais, dizia que a indústria estava em fase embrionária em Uberabinha e que a fábrica de cerveja do Miguel Mascia era uma das boas firmas da cidade. Boa firma, mas de pouca renda, tanto que o empresário mantinha, como reforço, uma oficina mecânica. Outro industrial cervejeiro foi o Tomaz Zei, também italiano, que melhorava a renda fabricando pães e abrindo um salão de bilhar. Outro italiano do ramo foi o Jacob Faina. Em 1910 aparece outro. É o Hipolyto Paniago. Paniago também é nome italiano. No Almanaque de Uberabinha de 1912, há referências a dois fabricantes, estes, brasileiros: Manoel José da Costa e Lindolpho Martins de Sá. Em 1916, abre-se nova indústria,

dos Irmãos Vanucci. Italianos. A partir de 1920, o jornal O Progresso começa a publicar anúncio da Cerveja Antárctica. Outro fabricante: Benjamim Monteiro, que era dentista e provedor da Santa Casa de Misericórdia. Em 1918, época da gripe espanhola, ele ajudou a reorganizar a Santa Casa para atender os doentes. Em 1924, o jornal A Tribuna destacou o desenvolvimento da Destilaria Fajardo, do Antônio Rezende Costa que veio de Paracatu e estabeleceu-se com armazém de varejo e atacado na praça do Comércio (dr. Duarte). Dinâmico, Rezende Costa ampliou seus negócios com máquinas de beneficiar arroz, algodão, feijão. Exportava borracha, que recebia por escambo dos produtores do Sudoeste goiano, para a Europa. Quando o coronel Carneiro instalou a energia elétrica, em 1912, ele mudou suas indústrias. Importou máquinas movidas a energia elétrica e colocou a Destilaria. Foi o primeiro a instalar indústrias movidas a energia elétrica. Seus produtos foram enviados à Exposição Internacional do Centenário da Independência merecendo Diploma e Medalha de Ouro. Uma curiosidade: Fajardo era o sobrenome do seu técnico, Emiliano, que ele buscou em São Paulo para fazer a sua cerveja.

Teresinka Pereira

AS MÁQUINAS

Que seria de nós sem as máquinas para escrever, para limpar a casa, ir fazer compras ou ir à igreja, para medir a água ou o sangue nas veias, para mandar mensagens, subir aos andares mais altos dos edifícios, para acender as luzes, para cortar a lenha e transformá-la em adubo para a grama! Que seria de nós sem o microfone para dizer bem alto: Eu te amo!

Foto Arte

Marcelo Negrão Artur

Arte exposição

Estrada aberta que me leva Sigo Suplico Nunca desisto!!! Amo estradas Parecem falar comigo Quem sabe um dia, darei minhas respostas?

Renan Leon Terapia Holística Avançada

99221-0040 Agende seu horário

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Guido Bilharinho

Obras-Primas do Cinema Europeu OS NIBELUNGOS Arquitetura de Imagens No decorrer da década de 1920, quando o cinema tem pouco mais de vinte e cinco anos de existência e produção, alguns cineastas, em poucos países, lançam-se a grandes realizações. Enquanto nos Estados Unidos David W. Griffith já havia concluído Intolerância (Intolerance, 1916), na então União Soviética Sergei Eisenstein dirige O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potemkin, 1925), na França Abel Gance apresenta Napoleão (Napoléon, 1925-27), na Alemanha, outro cineasta, Fritz Lang, tão notável quanto os citados, realiza, em 1923-1924, Os Nibelungos - Parte I (Die Niebelungen Siegfried) e Parte II (A Vingança de Kriemhild). São filmes que se equivalem, pelo arrojo e monumentalidade, além de conquistas e inovações introduzidas, que marcam o cinema definitivamente. Nesse mesmo período, os mencionados cineastas concluem outros filmes importantes, mas, os acima citados, cada um num país diferente, são, além de tudo, verdadeiramente emblemáticos. No caso de Fritz Lang, o só conhecimento de Metropolis (Idem, 1926), sua obra mais célebre e divulgada, não basta para aquilatar as dimensões de seu poder criador, mesmo sendo filme grandioso. Parece faltar algo, como certa comprovação dessa assertiva, que outros de seus filmes não chegam a atestar. É que por uma série de injunções, políticas na Alemanha (de onde tem de sair), e financeiras e mercadológicas nos Estados Unidos (para onde se dirige), suas reais possibilidades de ousadia e inventividade não têm condições de se manifestar para transformar cada filme em obra de arte. Todavia, além de Metropolis, o filme Os Nibelungos não deixa dúvidas sobre sua capacidade cinematográfica. Nele coexistem os atributos apontados, a ponto da maioria das cenas encerrar e traduzir concepção estética consciente e apurada. O décor, além de impressionante por sua construção e visualização, comporta, a cada passo e em cada detalhe, conformação estética própria, onde os seres humanos compõem, com seus dramas, tragédias e atuação, elementos de conjunto plástico portentoso, em

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Destaque

Vera Bernardino

que se mesclam pintura, arquitetura, decoração, vestuário, postura humana, interpretação e movimentação das personagens, vigor direcional, ritmo e alta contextura imagética. Isso, tanto na primeira quanto na segunda parte, a despeito de suas diferenças temáticas e de locação. A sofisticação estética é tão acentuada, que, por exemplo, cada aparição ou focalização de Kriemhild perfaz criação plástico-imagética. Poucos os filmes, entre eles alguns de Eisenstein ultimados nas décadas de 1930 e 1940, sob o influxo justamente de Os Nibelungos, apresentam tão relevantes imagens arquiteturais como esse. Não por sua monumentalidade, mas, pela elaboração requintada e/ou arrojada. Sua influência distende-se para além dos limites cinematográficos, tendo-se observado, como lembra Georges Sadoul, que os grandes desfiles nazistas de Nuremberg pareciam-se com algumas imagens do filme. Os Nibelungos refletem certo modo germânico de ser, de se apresentar e agir, não só pela desenvoltura, atitudes e postura das personagens, como pela sua composição. Um filme, pois, que a par de sua qualidade estética, ou até por isso, emerge das profundidades de um estilo de vida, de uma visão do mundo e de uma maneira de existir. À semelhança, pois, de outras grandes obras artísticas da humanidade, a exemplo de Dom Quixote (1605/1615), de Cervantes. Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, estudos brasileiros, história do Brasil e regional.

Histórias que a vida escreveu A história que a nossa vida escreveu, aquela que marcou nossos rostos e diminuiu o ritmo dos nossos passos, precisa ser lembrada, não só pelos atos e fatos irrelevantes, agradáveis ou não, nem pela quantidade de figurações que representam... A história que a nossa vida escreveu precisa ser lembrada por pessoas que compartilharam dela. Aquelas pessoas que sempre estiveram próximas de nós quando a juventude ria conosco e balançava nossos sonhos. Aquelas pessoas que seguraram nossas mãos quando tudo acinzentava o céu e nos levantava do tombo das decepções... E também aquelas que vinham com alegria para temperar a vida e nos empurravam a novos começos! Pessoas que chegaram sem avisar e ocuparam seu espaço, como se estivessem sempre ali. Gente que, como a gente, também sofria, também chorava e ria de si mesma, natural e espontaneamente, fazendo o tempo parar para descansar um pouquinho... A história de nossa vida, quando virar a última página, tem que deixar nos olhos de quem puder, um brilho de cumplicidade, e nos lábios, um sorriso de saudade!

Eunice Mendes “nem tudo pude vencer nada porém, perdi em cada renascer soprei as cinzas por cima das flores e seja como for, eu só morri por amor” (poema sem título, em “Sonhares”, Santos, SP, 2003)

Oscar Virgílio Pereira Uma personalidade que eu reconhecia o valor há muito, muito tempo. Advogado brilhante que admirava de longe. Ele escreveu um livro da maior relevância para a história de Uberlândia que me serve de guia quando preciso saber algo sobre a história da minha cidade: Das Sesmarias ao Polo Urbano – Formação e transformação de uma cidade. Um amigo que nos incentiva à continuidade da publicação do Fundinho Cultural, ao enfatizar: O Fundinho Cultural não te pertence mais, ele é patrimônio da cidade! Então, de uns anos para cá, posso dizer, sou de casa. Aperto a campainha. Ele, todo sorridente, convida-me a entrar. Dona Zélia, sua amável esposa, me recebe e pergunta: Com vai Adélia? Com as suas histórias vou enriquecendo meus conhecimentos. Aprendo coisas que antes desconhecia. Um pesquisador que prepara edições de novos livros, frutos de suas pesquisas que hão de enriquecer ainda mais os fatos da história desta cidade. Imensa honra encontrar-me na roda de seus amigos. O maior respeito. O mestre Oscar Virgílio Pereira. Para este valoroso ser humano eu tiro o chapéu. PS. “Dona Zélia, Adélia manda um abraço!”

Helvio Lima

História

O grande empreendedor Fernando Vilela Não havia na região central por onde pudessem os automóveis trafegar, com velocidade, ligando cidades e povoados. Era anseio geral que houvessem caminhos, mas longe dos governos poder ou querer construílos. Havia, no reprimido desejo coletivo de progresso, uma força potencial, latente, à espera de quem lhe desse a forma de projeto confiável. Uma ideia capaz de unir e empolgar as pessoas, para afastar o marasmo angustiante e crescente em que Uberabinha vivia, apesar de seu ufanismo injustificado. Fernando Alexandre Vilela de Andrade, que já conquistara fama de administrador honesto e capaz, como Prefeito de Vila Platina (depois Ituiutaba), se mudara para Uberabinha, buscando apoio a um ambicioso projeto rodoviário que imaginara. Já havia tomado a iniciativa de convencer o governo do Estado a lhe outorgar concessão para abrir uma estrada de automóveis ligando Uberabinha a Vila Platina, tendo assinado o respectivo contrato, como pessoa física, em 28 de agosto de 1911. Veio associado com o engenheiro Ignácio Pinheiro Paes Leme, que já fora seu companheiro de trabalho em Vila Platina, onde, entre outras obras, instalaram a primeira rede urbana de abastecimento de água do Triângulo Mineiro. O plano rodoviário que Fernando

Fernando Alexandre Vilela de Andrade. Pioneiro na construção de estradas para automóveis no Brasil Central

Vilela trazia a música que Uberabinha tanto queria ouvir. Uberabinha seria o ponto ideal para sediar o início e o fim de uma grande rede rodoviária, mantendo-se como o centro abastecedor e fornecedor de mercadorias, comprador e armazenador da produção agrícola regional. Contava com a condição logística de ser o ponto final de ferrovia e já ser o senhor dos mercados do Triângulo e Sudoeste Goiano, o que lhe dava uma vantagem insuperável sobre qualquer outra cidade. E por fim, era o único lugar onde a iniciativa privada dispunha de capital para investir em inici-

ativa afinada com sua vocação econômica. Todos logo se convenceram de que poderiam suprir o alheamento do governo federal e do estadual em relação às estradas de automóveis triangulinas, especialmente a que ligaria Uberabinha à ponte Afonso Pena. Muito pouca gente podia comprar um automóvel; mas unidas, as pessoas poderiam ser donas de vários. Parecia um sonho: era possível salvar o comércio da cidade, ingressar no mundo moderno do automóvel, construir estradas e pontes e ainda lucrar, mesmo aplicando pouco capital, com a cobrança de pedágios nas passagens. Fenando Vilela e Ignácio Paes Leme eram as pessoas talhadas pelo destino para serem incorporadores de uma empresa local, com a conveniência de serem neutros perante os conflitos políticos que dividiam a população em dois grupos hostis. E mais - eram portadores de grande credibilidade e respeito para unificar no mesmo efeito cocões e coiós. A ideia foi lançada em grande estilo. Fernando Vilela convidou povo e autoridades para o início solene da construção da Estrada para Vila Platina. Extraído do livro Das Sesmarias ao Polo Urbano – formação e transformação de uma cidade – pgs: 374, 375 e 376

Oscar Virgilio Pereira

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Tributo

Aricy Curvello

Ivone Vebber

Lourdinha Barbosa

Horóscopo

CICLOS... e flores

junho/julho 2018 ÁRIES: BOM para viagens, excursões, instrução, propaganda, escritos, comunicação, mudanças, provas, compra e venda de imóveis, contatos com irmão, parente ou colegas. Cor: amarelo Nº 5 TOURO: Bom para convívio familiar, construções, processos, empréstimos, emoções, nutrição, artes, jardinagem, prudência, lucros, diversões. Cor: verde Nº 6 CÂNCER: Bom para negócios comerciais e bancários, compra e venda de imóveis, estudos, ciências, limpeza, anúncios, detalhismo, saúde, psiquismo, intuição, filantropia. Cor: Azul Nº 5 GÊMEOS: Bom para assuntos sociais, festas, joias, amizades novas, liderança, mudança de residência, decisões, sinceridade, desafios Cor: laranja Nº 1 LEÃO: Bom para parcerias, uniões, diversões, vestuário, artes, publicidade, religião ou espiritualidade, eletricidade, tecnologias novas, invenções, originalidade. Cor: Azul Nº 6 VIRGEM: Bom para mudanças ou transformações, coragem, perdas necessárias, estudos, política, propriedades, sucesso, economia. Cor: castanho Nº 5 LIBRA: Bom para tudo que seja honesto e prudente, expansões, meditação ou viagens, leis, matérias jurídicas, estudos e assuntos financeiros. Cor:azul celeste Nº 3 ESCORPIÃO: Bom para negócios concernentes a minas, propriedades, terrenos, produtos da terra, estudos, política, sucesso, economia, ciência, mudanças, coragem. cor: bege Nº 8 SAGITÁRIO: Bom para agricultura, construções, eletricidade, amizades, invenções, psiquismo, parceria, diversões, joias, viagens, vestuário, artes, religião, publicidade. Cor: azul claro Nº 6 CAPRICÓRNIO: Bom para conclusão de contratos, mudanças, psiquismo, filantropia, limpeza, detalhes, negócios, compra e venda de imóveis, ciências, literatura, anúncios. Cor: grená Nº 7 AQUÁRIO: Bom para liderança, trabalhos pesados, desafios, decisões, brilho social, festas, mudanças de residência, intuição. Cor: vermelho Nº 9 PEIXES: Bom para operações financeiras, diversões, artes, amor, construção, jardinagem, prudência, processos, empréstimos, nutrição, contato familiar. Cor: verde Nº 6

POMPÉIA Poema de Jorge Tufic dedicado a Aricy Curvello) As cadeiras pousadas na varanda flutuam sobre os arcos da preguiça. Dois pombos testemunham de um terraço o estupro de uma cabra por cobiça. Praças, banhos, ruelas, chafarizes, são vigílias que dormem sob urânio. O gesto de beber e o corpo em transe paralisados, negros de fuligem, tomam conta do mesmo subterrâneo. O talhe de uma flor em barro fino lembra o colo de Circe; e um ar de amônia faz subir destas harpas o som cavo da cinza, quando as lavas do Vesúvio se fecharam nos olhos de um menino.

O náufrago O plano que malogra, a fortuna que se rende, o fado que tem olhos de acaso e relógio, pelos três a grande Barca abalroada, três mil passageiros se paralisaram no terror da hora, em plena noite, ao mar, na baía da Guanabara. Alguns, das águas recuperados. Um, não dos mais belos, porém dos mais jovens, fortes ventos e correntes o impeliram para fora da barra, para as altas águas, o alto mar, roído de peixes, que humano já não era, incorporado a medusas e algas, ao plenilúnio, às vagas, aos eflúvios do sal. agora, sua respiração percorre o litoral. (Mais que os Nomes do Nada, 1996)

Os solavancos pueris tiveram o guarda-roupa de miosótis: eu ria e chorava azul, perfumava-me de lilás e eu me lembro no palco, numa festa de escola gostando de ser esta flor, mas tremendo... O vestidinho cheio de babados está tão vivo na memória me dizendo: “não me esqueças.” Saí do teatro com gosto pela vida e vim a saber, há bem pouco tempo, que esta plantinha tão delicada, tem o dom de emocionar e de curar diversos males do corpo e da alma. Um canteirinho de miosótis cresceu lá em casa, enchendo-me de ideais. As esbarradas de humor e de hormônios da puberdade me faziam atravessar a praça, tão pertinho de casa, tão cheia de margaridas que junto com amigas, vizinhos, bancos, elas nos convidavam: _ bem-me-quer, mal-me-quer. Simples, extrovertidas, com entusiasmo, vim a saber, também, que elas são lembretes de que a luz volta, depois de uma noite escura. Os empurrões do cotidiano me levaram a estudar, a cuidar de irmãos, a brincar, a rezar... vinham os aniversários e a casa se enchia de doces, primos, vizinhos, amigos, tios, avós, a meninada toda da rua e a casa...era enfeitada de lírios, muitas vezes, copos de leite, chamados “lírios do Nilo” que a tia Judite mandava, cultivados por ela e tio Paulo. Vim a saber, mais uma vez, que o lírio é flor divina, cósmica e que “se você souber plantar, há de saber colher,no tempo certo”. Alguns safanões no tempo, e os amores-perfeitos eram buscados na

FUNDINHO CULTURAL

casa da D. Francisca Brás _ buquezinhos, eu pedia-os pela janela baixa, sempre aberta. Batia palmas, até que aparecesse alguém. Custavam dois cruzeiros? Por aí... E eu saía feliz, embevecida com a combinação de cores deles (roxo, amarelo, rosa, branco), acariciando aquele veludo... – quem iria ganhá-los? A contemplação e o encantamento vividos, já no trajeto queriam ser repartidos com um destino que nem sempre era só o meu lar: um aniversariante amigo, uma homenagem... vim a saber, posteriormente que “a flor ensina que nada é para sempre. Os bons momentos vêm e vão. Mas às vezes são únicos”. Saltos... subindo os barrancos, ora vinha o medo da altura, ora do terreno argiloso, mas eis que via galhos

de rosas silvestres, agarrava-me nelas , mesmo se houvesse espinhos e eis,também, que outras sem espinhos apareceram no caminho com que perfume!!! E vim a saber “que a rosa representa o fogo espiritual do Sol no coração do homem”. E meu coração foi confiando nas rosas... Tombos??? Enxergava os brotos de girassóis, papoulas, lavandas que me enlaçavam em guirlandas de proteção e beleza; passei a amar todo o processo. Depois??? vieram os florais _ trinta e oito flores pedindo pesquisa, poesia, partilha. Hoje??? Gratidão por tantas veredas floridas!!! Agora??? Continuando! Delas, mais, virei a saber...Lourdinha Barbosa, escritora, poeta, terapeuta floral.

Ano XVI – nº 40 - JUNHO 2018 - Editor: Hélvio Lima - Assessoria: Adélia Lima e Isabela Lima- Editoração: Niron Fernandes - 99149-7727 Impressão: Gráfica Scanner - 3212-4342 - Fotos internas: Isabela Lima, J. H Paul, Helvio Lima e Terezinha Maria Moreira, Marcelo Negrão Artur Tiragem: 5.000 exemplares End. para correspondência: Rua Felisberto Carrejo, 204 – Fundinho Fone: (34) 3234-1369 – Cep. 38400-204 Uberlândia-MG - “Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem a opinião do jornal”

Foto da capa: Jorge Henrique Paul - O céu outonal no centro/Fundinho Uberlândia-MG 2018

João Nogueira Tavares editar hoje um jornal de papel é uma façanha para poucos com muito amor e determinação!! LONGA VIDA AO HÉLVIO E AO FC!! João Nogueira Tavares . Fortaleza CE

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Cristiane Alcântara

O dia em que tive um avô

No dia 16 setembro de 2017, enviei ao senhor Alexandre Wollner um desenho. Nele, eu havia registrado um dos momentos em que estivemos juntos, em seu escritório. Eu havia ido até lá para fazer uma breve entrevista, eram algumas perguntas que deveriam entrar em minha tese de doutorado. Poder contar com sua presença ilustre em meu trabalho seria uma honra. Wollner foi tão doce! Nos recebeu em sua casa, nos levou a seu espaço de trabalho e nos falou de sua escada caracol amarela, que ele mesmo havia projetado. Falamos durante mais de duas horas, ele me mostrou seus livros, contou sua trajetória e me deu algumas broncas, do tipo: “está precisando estudar mais, hein?”, quando questionei sobre algumas datas. No final da conversa, ele nos contou que ainda praticava tai chi chuan e tomamos café. Um ano depois, quando enviei a ele o desenho, ele agradeceu prontamente, disse que havia ficado feliz e que iria mandar imprimir. No dia 4 de maio de 2018, Wollner se foi. Uma pena, poderia ter estado por mais tempo ainda por aqui, nos contemplando com as histórias de sua trajetória como um dos mais importantes precursores do design nacional. Ficam agora sua obra, seus escritos e ensinamentos. Para mim, fica a lembrança de uma tarde em que brinquei de ter tido um avô que me contasse histórias. Texto e ilustração: Cristiane Alcântara, designer e ilustradora. Para conhecer mais de seu trabalho, visite: www.cristianealcantara.com

Yogananda

Quando a Senhora Tristeza aparece, não lhe dê forças percebendo sua presença. Se você aceder em alimentá-la com o néctar de suas lágrimas, ela se instalará e logo ocupará todos os espaços da sua vida. Tão logo ela surgir, escarneça-a – isto a desmoralizará. Em seguida, golpeie-a no estômago. Use os punhos, os braços e os cotovelos da vontade para expulsá-la de vez do recinto da sua vida. Assim, alcançará uma vitória ao mesmo tempo física e metafísica sobre a tristeza.

Stela Masson

“É nosso!” Em 27/07/2017, pouco antes da meia noite, quando Gael veio ao mundo, eu aguardava sozinha na sala de espera, sem saber qual formato minha família passaria a ter, a partir daqueles instantes. Fazia apenas três meses que eu fora avisada de que havia uma possibilidade “remota”, de me tornar avó. Então, passados 90 dias da notícia bombástica, lá estava meu filho participando do trabalho de parto de sua companheira, enquanto eu na sala de espera buscava sentido para os pensamentos, que flutuavam entre: “filho põe mãe em cada uma!”, até: “será que daqui a uns minutos minha vida será transformada por um neto?”. Eu viajava nessa maionese caseira, quando uma moça chegou, acompanhando pelo celular o milagre de um nascimento que acontecia no centro cirúrgico. Quando ela recebeu a foto do bebê pelo serviço de mensagem, eu a abracei antes de me apresentar, e sem saber se o neném que ela anunciava era o mesmo que eu aguardava. Depois do abraço inesperado, ela confirmou ser uma das duas tias do “meu” bebê recémGael chegado e, passada a comemoração, eu questionava ainda mais: o que serei dele? Naquela fria noite de julho, uma aura de amor nos aqueceu. Foi inacreditável ver a mãe terminar um parto natural e surgir sorrindo como se tivesse dado um delicioso mergulho num mar tanto bravio e profundo, quanto lindo e revigorante. Já o pai, no primeiro olhar para o bebê, ao cortar o cordão umbilical, se transformara e parecia ainda flutuar a meio metro do chão. Só fui ver o rosto do Gael uma hora e meia após seu nascimento, quando a enfermeira o trouxe ao quarto para os braços – e seios -, da mãe. Vendo aquele bebê passar de um colo a outro, reconheci em seu semblante a mesma expressão de meu pai, já falecido. Foi incrível ver reproduzida a feição de atenção que meu pai expressava para observar algo ou alguém, em seus últimos anos de vida. Gael chegara reconectando o fio da meada e, naquele segundo, eu olhei para meu filho e afirmei: é nosso! Assim, a vovó que “nasceu prematura”, em julho completa um ano. Viva Gael! Stela Masson, jornalista


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