à sua volta é curioso: quem vai se ocupar da preservação do patrimônio cultural brasileiro, batendo ponto diariamente na repartição federal, serão os intelectuais que já respondiam pela renovação de nossas expressões artísticas. Com efeito, serão os pioneiros modernistas, em sua maioria mineiros, reunidos em torno do prestígio de Gustavo Capanema, então Ministro da Educação e Saúde, e em boa medida simpáticos às propostas do comunismo, que vão dar concretude às ideias do IPHAN. Começarão pelos inventários da arquitetura religiosa do período colonial, que lhes revelará a imensidão e a urgência de sua tarefa. De outra parte, será o conceito de “cidade-monumento”, elaborado a partir de sua própria condição de refinados estetas, que animará seu trabalho. Por este prisma, só serão alçadas à condição de patrimônio nacional aquelas manifestações arquitetônicas e urbanísticas produzidas sob o risco português, os materiais locais e o braço escravo, filiadas estilisticamente ao barroco. As cidades protegidas nesta etapa serão contempladas como obras de arte perfeitamente acabadas e consagradas, dignas de estudo e reverência, relegando-se a patamar bastante inferior as realizações de períodos posteriores, considerados como espúrias. Este era um momento em que os nossos pioneiros do IPHAN repudiavam o emprego no presente das linguagens historicistas europeias (neoclássico, ecletismo, Art Nouveau, Art Déco etc.) e procuravam encontrar nexos entre a produção construída dos séculos coloniais e a modernista, num esforço de continuidade de uma tradição construtiva e espacial. Como bem disse Castriota (2009, p.74), nesse período, considerada como expressão estética privilegiada, a cidade é abordada segundo critérios puramente estilísticos, ignorando-se completamente sua característica
38
!
ROMEU DUARTE JUNIOR