Revista dos Bancários 54 - mai. 2015

nº 54 - maio/2015

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A hora é essa!

Ou retomamos a organização dos trabalhadores e dos movimentos sociais ou corremos o risco de perder direitos que conquistamos com muita luta.

Os projetos conservadores avançam no Congresso. Afetam trabalhadores e os segmentos mais excluídos da sociedade, como os jovens negros e pobres, que são maioria entre as vítimas de assassinato no país.

Revista dos Bancários Publicação do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Redação Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00 Fone 3316.4233 / 3316.4221 Site www.bancariospe.org.br Presidenta Jaqueline Mello Secretária de Comunicação Anabele Silva Jornalista responsável Fábio Jammal Makhoul Conselho editorial Jaqueline Mello, Anabele Silva, Geraldo Times e João Rufino Redação Camila Lima e Fabiana Coelho Projeto gráfico e diagramação Bruno Lombardi - Studio Fundação Imagem da capa Beto Oliveira / Lumen Impressão NGE Gráfica Tiragem 12.000 exemplares

Sindicato filiado a

Editorial

Convite à organização Maio é mês de luta dos trabalhadores. E, nestes tempos de 2015, nada mais necessário que falar em luta. A Revista dos Bancários traz à tona as velhas experiências - de organização, de greve, de protestos – para fazer delas combustível para reiniciar a subida, depois de alguns anos de refluxo.

O cenário atual exige a retomada da organização. A Câmara aprovou, no mês passado, o Projeto de Lei 4330, que escancara a terceirização, inclusive em atividades-fim. Aprovou, no começo deste mês, as Medidas Provisórias 664 e 665, que fazem parte do pacote de ajuste fiscal do governo e dificultam o acesso a benefícios como seguro-desemprego, abono salarial e auxílio-doença.

Também em abril, a Câmara aprovou projeto que acaba com a exigência do símbolo da transgenia nos rótulos dos produtos com organismos geneticamente modificados. Já a Comissão de Agricultura rejeitou uma proposta que aumentaria o rigor contra o trabalho escravo.

No mês anterior, a Comissão de Constituição e Justiça decidira pela constitucionalidade da Proposta de Emenda Constitucional que reduz a maioridade penal.

Há vários outros projetos em tramitação que, aprovados, significariam imenso retrocesso.

A bancada ruralista se articula para tentar desarquivar a PEC 215, que transfere para o legislativo o poder de demarcar as terras indígenas.

A bancada da Bala, além de reduzir a maioridade penal, tenta revogar o Estatuto do Desarmamento, facilitando o porte de armas por civis.

Os evangélicos se mobilizam contra a liberdade de orientação sexual, contra demandas do movimento feminista, contra o estado laico.

E os empresários, a maior bancada existente no parlamento, se aproveitam dos efeitos da crise econômica para impôr suas demandas, as mesmas de 200 anos atrás.

A Revista dos Bancários desta edição lança a discussão sobre alguns destes temas. E, no mês das mães, também convida a pensar no parto como transformação e no nascimento, como surgimento de uma nova configuração de família, de pensamentos e de mundo.

Boa leitura! E todos à luta!

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Índice MÊS DO TRABALHADOR Risco de retrocessos exige retomada da luta

Lumen Fotos

04 Bancário quer transformar todo canto em livraria

ENTREVISTA DO MÊS Marcely Carvalho, parteira, e a celebração da vida

Página 15

Lumen Fotos

Arquivo pessoal

Página 8

MAIORIDADE PENAL Números mostram que prender jovens não reduz violência Página 11

Veja nossas dicas de lazer e cultura Página 14

São Caetano: serras, açudes e outras paisagens Página 16

Maio de 2015

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Maio do trabalhador

Hora de retomar a luta Em meio ao cenário mais adverso dos últimos anos, movimentos convocam paralisação geral para dia 29

Ilustração dos conflitos de maio de 1886, em Chicago

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stados Unidos, 1º de Maio de 1886: tem início a greve geral dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho. Mais de 5 mil fábricas são paralisadas e cerca de 340 mil operários saem às ruas.

Em Chicago, quase todas as fábricas param e a greve se estende. No dia 4 de maio, durante um protesto, uma bomba explode e mata um policial. O conflito tem início: 38 operários são mortos e 115 ficam feridos. Mais de 300 grevistas são

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Greve geral de 1917, no Brasil

Greve geral de 1989: protesto em Blumenau (SC)

presos e torturados. Oito líderes são condenados à morte. Quatro são executados por enforcamento e um é encontrado morto na cela.

Brasil, 8 de julho de 1917: operários do Cotonifício Crespi, em São Paulo, unem-se a outras categorias, entre as quais os trabalhadores da Companhia Antártica, e saem em passeata em direção à fábrica de tecelagem Mariângela. Entram em confronto com a polícia e um jovem sapateiro, José Martínez, cai morto. Sua morte reforça o movimento que atinge 40 mil adesões, entre sapateiros, eletricitários, trabalhadores das companhias de gás, mecânicos etc.

Brasil, 14 e 15 de março de 1989: mais de 25 milhões de trabalhadores aderem à greve geral convocada pela CUT e CGT, contra o cenário de arrocho salarial, desemprego e inflação – agravados pelo chamado Plano Verão, lançado em janeiro daquele ano pelo então presidente José Sarney.

O movimento atinge mais de 60% da população economicamente ativa, na maior greve geral da história do país.

Cenário de 2015 Vinte e seis anos passados desde esta última grande greve geral, e 129 anos após o movimento norte-americano que deu origem ao Dia do Trabalhador, o cenário exige a retomada da luta. As principais centrais sindicais do país convocam paralisação geral para o dia 29, como preparação para uma greve geral dos trabalhadores.

“Há uma onda conservadora que se alastra. E se revela em propostas como a da terceirização e da redução da maioridade penal; nos ataques à Petrobras; na repressão aos trabalhadores, como os professores do Paraná; nas armações para aprovação de projetos de interesse de grandes empresários, como o Projeto Novo Recife”, ressalta a presidenta do

Sindicato, Jaqueline Mello.

Segundo dados do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), no Congresso Nacional, há 251 empresários e 126 representantes do agronegócio. Somem-se a estes os cerca de 30 parlamentares ligados à Bancada da Bala, dos quais 14 receberam legalmente doações de campanha da indústria de armas e munições. E os 74 parlamentares da Bancada Evangélica. Em contrapartida, a Bancada Sindical, que representa os interesses dos trabalhadores, caiu pela metade, passando de 83 parlamentares para 46.

Os meios de comunicação brasileiros, por sua vez, estão concentrados em cinco grandes grupos, segundo pode ser conferido no site donosdamidia.com.br.

O grupo Abril, da família Civita, possui 74 veículos, dentre os quais a Rede MTV e dezenas de revistas. As Organizações Globo, dos Maio de 2015

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Maio do trabalhador

Ato no 1º de maio deste ano, Recife

Ataque aos trabalhadores Para o escritor Vito Gianotti, coordenador do Núcleo Piratininga de Comunicação e autor do livro “História das Lutas dos Trabalhadores no Brasil”, o que move os ataques aos trabalhadores, hoje ou 150 anos atrás, é uma mesma ideologia. “É a visão da liberdade total ao capital, em que qualquer lei é vista como intromissão do

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Marinho, tem 60 veículos, entre eles a maior rede de TV do país, com 340 retransmissoras. O grupo Bandeirantes (Band), controlado sobretudo pela família Saad, tem 47 veículos. A Igreja Universal do Reino de Deus, ligada à Record, tem 27 veículos e o grupo Associados, ligado ao SBT, tem 19. “É um poder imenso nas mãos de uma oligarquia que impõe seus interesses. A Reforma Política e a democratização dos meios de comunicação estão na base das reivindicações dos movimentos sociais e sindicais”, diz Jaqueline. estado nas relações entre capital e trabalho. Na prática, isso significa a liberdade ao patrão para fazer o que bem queira”, diz.

Ele lembra que a noção de direitos trabalhistas não existiu sempre. Foi uma imposição dos trabalhadores. “E podemos perder estes direitos, adquiridos em mais de 100 anos de luta no Brasil e 200 anos de luta no mundo com duras penas, com muitas greves,

manifestações... com gente ferida, presa, torturada e morta”, alerta Vito, referindo-se ao projeto que escancara a terceirização.

Ele lembra que, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso foi eleito, afirmou em seu discurso de posse que era preciso enterrar a era Vargas. “Isso significa o quê? Vargas se notabilizou na história por dois motivos. Primeiro, pelas leis trabalhistas que

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ele foi obrigado a criar diante da organização dos trabalhadores, regulamentando minimamente as relações de trabalho. Segundo, pelo reforço às estatais: a antiga Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobras.

E o que queria dizer FHC? Privatização e fim das leis trabalhistas”.

Os tempos de arrocho, demissões e ataque aos direitos dos trabalhadores, impostos durante a era FHC, se refletiram também na organização sindical. Segundo dados do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-econômicos), se as manifestações vinham crescendo na década de 80, atingindo o pico em 1989, com 1346 greves, a partir da década de 90, o movimento entrou em refluxo.

A eleição do governo popular de Luiz Inácio Lula da Silva pôs um freio na política de privatizações e ataque aos trabalhadores. Mas a organização sindical continuou seu movimento descendente. “Vi-

vemos um momento de refluxo, mas temos muita experiência de luta. É hora de reiniciar a subida”, conclama Vito Gianotti.

Ameaças O Projeto de Lei 4330, que trata da terceirização, foi aprovado no mês passado na Câmara dos Deputados e tramita agora no Senado. Caso passe, será a maior perda vivida pelos trabalhadores e pelo movimento sindical nos últimos anos. “Grandes empresas significam grandes sindicatos, que mobilizam e organizam os trabalhadores. O que eles querem?

Um monte de pequenas empresas terceirizadas, negociando separadamente, com sindicatinhos diferentes”, explica Vito.

Com isso, ficam ameaçadas as Convenções Coletivas Nacionais, os acordos coletivos e a própria legislação trabalhista. “Basta observar a situação dos terceirizados para concluir que, sem um sindicato forte que os represente, nem

mesmo a lei é cumprida”, observa a secretária de Finanças do Sindicato, Suzineide Rodrigues.

Há outras ameaças que rondam. É o caso das Medidas Provisórias 664 e 665, aprovadas pela Câmara no último dia 06. Elas fazem parte do pacote de ajuste fiscal, elaborado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e anunciadas pelo governo no dia 30 de dezembro do ano passado. As medidas mudam as regras de concessão e dificultam o acesso a benefícios como seguro-desemprego, abono salarial, seguro-defeso, pensão por morte e auxílio-doença.

Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, este é o cenário mais adverso dos últimos doze anos, para os trabalhadores e para os direitos humanos. “Vamos reagir.

No próximo dia 29, as centrais sindicais e os movimentos populares do campo e da cidade farão um Dia Nacional de Paralisação.

E daqui pra frente, todos os dias serão dias de luta”, diz.

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Entrevista: Marcely Carvalho

O parto como transformação

O que é ser uma parteira da tradição?

Um parto de domicílio, na tradição, é um parto de consciência, é o nascimento de um novo ser. Não trabalhamos apenas com a mulher, mas com a família toda. Não olhamos para o parto como uma

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o mês das Mães, a Revista dos Bancários conversou com uma parteira tradicional, para conhecer um pouco o universo dessas mulheres que se dedicam a transformar vidas por meio do nascimento. Para elas, o parto pode ser um momento de cura e de transformação para toda a família.

“Quando falamos do universo da parteira, começamos sempre honrando nossas ancestrais. Então, sou Marcely Carvalho, filha de Suely. Tenho 43 anos e seis filhos.

Na tradição, adquiri o conhecimento através de uma parteira mais velha, que foi a minha mãe, parteira há 45 anos. Então, ela se tornou minha mestra”.

Há 22 anos, Marcely é parteira da organização Cais do Parto e, com cada criança que pôs no mundo e cada família que acompanhou, ela aprendeu que “se a gente quer transformar a sociedade, também tem que transformar o jeito de parir”.

“Essas tatuagens, em meus braços, foram para os bebês.

Porque é nos meus braços que as crianças vão chegar” Marcely Carvalho

Como você se tornou uma parteira tradicional?

Há 22 anos, fui levar minha mãe em um parto. Quando eu abri a porta do carro, ela saiu correndo e esqueceu a mala de parto. Cheguei na frente da casa e ninguém saiu.

Nada de som, nada de gemido, nada de grito, nada de nada. Bati na porta, ninguém respondeu.

Abri a porta da casa e, quando entrei, foi uma coisa encantadora.

As cores eram diferentes e havia apenas um som, como um mantra, muito longe. Era tudo mágico: o casal na maior calma. E minha mãe sentada no chão.

Vi aquela criança nascer, vi minha mãe recebê-la. Vi o êxtase daquela família. A partir daí, me tornei doula (profissional que acompanha a mulher durante todo o trabalho de parto). Fui doula por 15 anos e, nove anos atrás, me tornei parteira.

Qual a diferença do parto domiciliar na tradição e do parto humanizado?

O parto humanizado é uma política de governo, que nós apoiamos. Nossa proposta é dentro da tradição e fazemos isso desde que o mundo é mundo. Recebemos nosso conhecimento de geração para geração. Um conhecimento que muitas vezes é ridicularizado pelas pessoas, por sermos parteiras de reza e lenço na cabeça.

Não somos regulamentadas. Não usamos balão de oxigênio, não

Brenda Cacciatore/FreeImages

questão apenas fisiológica. É um momento sagrado. Cada vez que nasce uma criança, renasço junto.

usamos equipamentos, não usamos medicalização. Não significa que numa emergência não saibamos o que fazer: uma reanimação, uma oxigenação, uma hemorragia... Minha mãe tem 5.630 partos e, até hoje, só tivemos um óbito, que, investigado, foi diagnosticado como fatalidade. A criança morreria também no hospital. Eu tenho mais de 200 partos. Nunca removemos para o hospital uma mulher com hemorragia. Nunca removi uma criança com risco de falecer. Mas nosso limite é o bem-estar da mulher e principalmente da criança. Se tiver que levar uma mulher ou uma criança para o hospital, levo.

Como foram seus partos?

Tive duas cesáreas e quatro partos vaginais. Tive todas as intervenções que uma mulher poderia ter. Parto vaginal com fórceps. Parto vaginal com distorcia de ombro. Parto normal, mas meu bebê morreu horas depois.

Parto prematuro. Parto normal e hemorragia. Em todos os meus partos, houve intercorrências. E essas intercorrências me ensinaram a ser uma parteira cautelosa.

Para mexer com vida, precisamos saber até onde podemos ir. Para mim, parto é celebração. Parto também pode ser no hospital.

Também pode ser uma cesárea.

Celebro a vida, celebro a chegada do novo ser na Terra.

Vocês dizem que “mais importante que o parto é o nascimento”. O que isso quer dizer?

Nós compreendemos a gestação como uma gestação do casal. Se a mulher está com um companheiro, o homem também está grávido. O nascimento é o nascimento de todos. De uma nova família. Se focamos no nascimento, e não no parto, começamos a nos transformar, porque podemos ser pessoas melhores.

Você percebe que vem aconMaio de 2015

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Entrevista: Marcely Carvalho Lumen Fotos

temas: a amamentação, a dor, procedimentos hospitalares... Há, também, o momento dos exames.

Semanalmente, auscultamos as crianças, vemos o desenvolvimento delas. Damos orientações nutricionais. Falamos da necessidade do pré-natal. Nenhuma mulher vai parir em casa sem o pré-natal.

Muitas vezes, os médicos e outros profissionais usam termos que a mulher não entende. A roda traz também esse esclarecimento técnico. As mulheres começam a entender que não há mistério.

Como é a sua relação com as mulheres que você ajudou a parir?

São todos meus afilhados. Nós nos conectamos com essa família, que passa a fazer parte da minha vida. Passamos a ser “comadres” e “compadres”. E me coloco à disposição. Essa parceria que foi vivida dentro do parto não se perde. tecendo um retorno ao parto tradicional?

Há 25 anos o Cais do Parto faz rodas semanais. Mais de 10 mil pessoas já passaram por aqui. Nós temos hoje, no Brasil, 14 rodas acontecendo, simultaneamente, com a mesma metodologia do Cais do Parto. Em 14 estados brasileiros. Então, não é uma moda.

Na verdade, é uma consciência.

Isso está se transformando, sim.

E nós precisamos transformar os nascimentos.

Qual a importância das rodas?

Deixamos a roda aberta para as pessoas, os casais, trazerem as suas demandas, as suas angústias.

E também focamos em alguns

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E a sua relação com os bebês?

Essas tatuagens, em meus braços, foram para os bebês. Porque é nos meus braços que as crianças vão chegar. Quando eu recebo uma criança, recebo a energia mais pura do universo. Sou eu quem recebo essa energia pela primeira vez. Não tem como não me conectar com essas crianças pelo resto da vida.

Fale sobre partos que marcaram você Sempre tenho partos muito felizes. Mas eu tive um parto muito desafiador, porque houve uma distorcia de ombro. Quando Benjamim nasceu, eu sabia que

ia ter uma intercorrência. Sentia pela descida dele. Ele estava descendo muito devagar. A distorcia acontece na hora em que a criança vai fazer o último giro e o ombro dela fica preso no osso pubiano da mulher. Então, tenho que colocar o dedo acima do osso e, só com meus quatro dedos – dois de cada lado – , giro o ombro da criança. Quando termino de girar, puxo a criança.

Com cinco minutos sem oxigênio, pode haver uma paralisia cerebral.

Ou o bebê pode quebrar a clavícula ou romper o tendão e ficar com o braço paralisado, pelo resto da vida.

Ou pode haver uma luxação. Neste caso, há dor, mas passa.

Consegui tirar Benjamim em 50 segundos. Mas aquele momento pareceu uma eternidade. Ele nasceu super bem, chorando, com os braços no alto, sinal que está bem, neurologicamente. Fisiologicamente, ele estava bem, mas eu sabia que aquele parto tinha sido um parto traumático para ele. Por conta disso, eu avisei que ele iria chorar três meses sem parar. E chorou. Se temos essa consciência do que acontece, é mais fácil buscarmos a cura.

SERVIÇO É possível obter mais informações sobre o Cais do Parto pelos telefones (81) 8642.6353 ou 9813.1233 (Marcely Carvalho) ou pelo e-mail (marlacais@gmail.com). O Cais também atende pessoas que, mesmo sem estar gestantes, querem adquirir mais conhecimento sobre o assunto.

Cidadania

Lugar de jovem é na escola, não na cadeia Números comprovam que reduzir maioridade penal não diminui violência

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egundo dados do Ministério da Justiça, em junho de 2013, havia, no Brasil, 574 mil pessoas encarceradas e apenas 317 mil vagas em todos os estabelecimentos carcerários do país. Ou seja, o Estado brasileiro mantinha mais de 250 mil pessoas presas, acima da sua capacidade de acolhimento. Ainda que inaceitáveis, as condições desumanas em que vivem os presos, no Brasil, não são novidades. No entanto, esse cenário pode piorar.

Em vez de estruturar políticas sociais de prevenção e combate à criminalidade e desenvolver reformas no sistema prisional brasileiro, os deputados desarquivaram a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 171 de 1993, que propõe a redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos.

Em março, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados considerou constitucional a PEC 171. Dessa forma, a proposta segue em tramitação na Câmara dos Deputados. Se for aprovada, vai para votação no Senado.

A constitucionalidade da proposta foi aprovada por 43 parlamentares, a maioria ligada à chamada Bancada da Bala. A denominação se refere ao conjunto de políticos ligados à Maio de 2015

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indústria de armas, ex-policiais e militares. O grupo capitaneia diversas propostas que representam um retrocesso na política de segurança pública do Brasil. Além da redução da maioridade penal, eles se movimentam, por exemplo, para desmontar o Estatuto do Desarmamento.

Vários dos argumentos utilizados na justificativa da PEC 171 não correspondem à realidade.

Um dos trechos afirma que “pela legislação brasileira, o menor de 18 anos não está sujeito a qualquer sanção de ordem punitiva, mas tão somente às medidas denominadas socioeducativas”.

No entanto, em uma das audiências realizadas para debater o tema, o ministro da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Pepe Vargas, esclareceu. Atualmente, 111 mil adolescentes cumprem medida socioeducativa no Brasil. Desses, 88 mil cumprem em prestações de serviços e 23 mil estão internados cumprindo penas com privação de liberdade. “Temos 26 milhões de adolescentes no Brasil. Os 23 mil que estão cumprindo medidas com privação de liberdade representam 0,08%”, afirmou.

Pepe Vargas ainda explicou que do universo de adolescentes em privação de liberdade, 63% cumpre pena por furto, roubo ou tráfico de drogas e apenas 0,01% praticaram atos contra a vida. O ministro alertou para o risco de um agravamento de penas acabar afetando casos menos graves.

Em outro trecho, a PEC 171 afirma que “o noticiário da im-

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Pepe Vargas: dos jovens em privação de liberdade, apenas 0,01% praticaram atos contra a vida

prensa, diariamente, publica que a maioria dos crimes de assalto, de roubo, de estupro, de assassinato e de latrocínio são praticados por menores de 18 anos, quase sempre aliciados por adultos”. Números da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça derrubam essa tese.

De acordo com a Senasp, os menores de 16 a 18 anos – faixa etária que seria afetada por uma eventual redução da maioridade penal – são responsáveis por 0,9% do total dos crimes praticados no Brasil. Se considerados apenas homicídios e tentativas de homicídio, o percentual cai para 0,5%.

Retrocesso A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) é contra a proposta de redução da maioridade penal.

Para a entidade, o Brasil tem uma grande dívida com as crianças e adolescentes, pela histórica incapacidade de propiciar-lhes os direitos assegurados pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. A PEC

José Renato Nalini: Sociedade quer se livrar do risco trancando todo mundo

171 segue no contrafluxo de sanar essa dívida.

“São justamente as crianças e os adolescentes, aos quais o Estado não garante um mínimo de bem-estar e dignidade, aqueles das periferias das grandes cidades, as populações mais vulneráveis, os negros que irão superlotar esses verdadeiros navios negreiros que são os nossos presídios. Essa proposta criminaliza, portanto, um segmento da nossa sociedade que é credor de políticas públicas, e não deve ser marginalizado”, ressaltou

Wilson Dias/Agência Brasil

Cidadania

Marcelo Camargo/Agência Brasil

o presidente da OAB-PE, Pedro Henrique Reynaldo Alves, em ato contra redução da maioridade penal, realizado no Recife.

Para o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, em entrevista à Carta Capital, publicada no site da revista no dia 20 de abril, a proposta de redução da maioridade penal reflete uma sociedade imediatista, que se preocupa mais em punir do que em prevenir a violência juvenil.

“A sociedade quer ficar livre de qualquer risco e perigo trancando todo mundo. Quer reduzir a maioridade penal, aumentar as penas, instituir a pena de morte para trazer tranquilidade. A sociedade deveria fazer um exame de consciência. O combate aos efeitos está sendo feito de uma forma crescente e perseverante, mas e o combate às causas? Por que uma sociedade produz criminosos cada vez mais jovens?”, questiona Nalini.

Dados do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) mostram que

as taxas de reincidência no sistema socioeducativo são de cerca de 20% e nas penitenciárias chegam a 60%. Segundo a presidente do Conanda, Carmen Oliveira, a aprovação da proposta de redução da maioridade penal poderá aumentar, em até três vezes, as chances de reincidência de jovens envolvidos em crimes.

“Experiências na Europa indicam que, quanto mais cedo o adolescente ingressa no sistema penal, maior a chance de reincidência. Isso também nos leva a supor que o mesmo aconteceria no Brasil, porque a reincidência no sistema penitenciário hoje é quase três vezes maior que no sistema socioeducativo”, afirma Oliveira, em matéria publicada no site do Ministério Público do Estado do Paraná.

A presidenta do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Jaqueline Mello, destaca que o tema da redução da maioridade penal tem sido conduzido de forma preconceituosa e excludente pelos

defensores da PEC 171.

“A redução da maioridade penal é mais uma forma de punir a população pobre. Vivemos em uma sociedade que estimula o consumo e que não oferece oportunidades para muitos jovens.

Quando eles cometem delitos, a sociedade, que já os excluía, os pune. E agora quer ampliar a punição”, avalia Jaqueline.

Ela ressalta que, segundo o Mapa da Violência de 2014, das 56.337 pessoas vítimas de homicídio no país em 2012, 30.072 eram jovens de 15 a 29 anos. Desse total, 77% eram negros. “É preciso que fique claro que os jovens brasileiros, principalmente os pobres, já são punidos. E de forma inadequada.

Os movimentos sociais e o movimento sindical brasileiro devem se mobilizar contra a redução da maioridade penal. Devemos lutar para garantir os direitos constitucionais para todos os brasileiros.

Não podemos admitir que haja mais punição para esses jovens”, completa.

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Dicas de cultura

O melhor do teatro pernambucano

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Lú Streithorst/Prefeitura do Recife

Espetáculo “A Receita” está na programação

EVENTOS RECOMENDADOS

Depois de seis anos fora de circulação, o festival Todos Verão Teatro está de volta aos palcos do Recife com o melhor do teatro pernambucano. Para esta 16ª edição, foram selecionadas 18 peças, adultas e infantis, além de quatro espetáculos convidados. O festival acontece de 14 a 31 de maio, nos teatros Luiz Mendonça, Hermilo Borba Filho, Arraial, Santa Izabel e no Espaço Cultural do ICT (Instituto de Cultura Técnica). Na programação, grupos do Recife, Jaboatão, Limoeiro, Camaragibe, Paulista e Caruaru. Debates e oficinas completam a programação.

Para conferir, acesse a Agenda Cultural do Recife, edição de maio: http://issuu.com/agendaculturalrecife.

ORQUESTRA SINFÔNICA A Orquestra Sinfônica do Recife, sob a regência do maestro Marlos Nobre, faz dois concertos neste mês de maio, nos dias 13 e 26. As apresentações são gratuitas e acontecem no Teatro de Santa Isabel, às 20 horas. Os ingressos devem ser retirados no local com uma hora de antecedência.

Do Teatro dos Bancários para a Trupe do Barulho

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Revista dos Bancários

Divulgação

Itaci Henriques, conhecida pelos bancários por sua atuação nas campanhas e atos da categoria, é a primeira mulher a fazer parte da Trupe do Barulho. Ela está no elenco da peça “No Truque da Galinha Morta”.

Considerado uma das trupes de comédias mais populares do estado, o grupo completa este ano 24 anos de trajetória. Este novo espetáculo, dirigido por Aurino Xavier, os bastidores

POWER-KON

de um teatro mambembe. No Valdemar de Oliveira, sábados, 21 horas.

Para os fãs de super-heróis, a dica é o Festival Power-Kon, que acontece na Unicap dias 30 e 31. Entre as atrações, tem oficinas de quadrinhos e mangá, Festival Novos Animes e Festival do Videogame, ambientes temáticos com as diversas atrações da cultura pop etc.

Bancários de talento

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araibano de nascença, o aposentado Alberto Oliveira trabalhou no BNB de Sertânia durante vários anos. Poeta e declamador, ele é também um agitador cultural. Com seu projeto “Cultura da Terra”, pretende transformar cada farmácia, cada padaria, cada mercadinho, cabelereiro, academia, pousada, bar ou ponto de venda das cidades do interior do estado em uma pequena livraria, que valorize as produções locais.

Poeta desde os tempos de banco, ele ganhou tempo livre depois que se aposentou para se dedicar ao que mais gosta: a cultura. Para elaborar o “Cultura na Terra”, por exemplo, ele visitou quarenta municípios pernambucanos, observou a realidade, conversou com poderes públicos, comerciantes e artistas. “A maior parte de nossas cidades não tem livrarias. E, apesar dos grandes valores culturais, também não existe a comercialização dos livros, folhetos e produtos produzidos na região”, explica.

Sua proposta é simples: caixas de madeira, balaios e cestas ou outros mostruários artesanais se transformam em livrarias itinerantes, espalhadas pelos mais diversos pontos de atividade do município: escolas, faculdades, supermercados, padarias, farmácias, hotéis,

Arquivo pessoal

Uma livraria em cada canto da cidade ALBERTO OLIVEIRA

bares, restaurantes, mercados públicos, feiras, táxis, ônibus, agências bancárias, sindicatos, etc.

Em uma segunda etapa, o projeto prevê uma espécie de consórcio entre cidades vizinhas, ampliando a visibilidade dos artistas locais. “Município vendendo seus xaxados. / O Romance e a Prosa vão chegar. / O Cordel também vai se espalhar, / com baião e repente iluminados”, poetiza o autor do projeto. O primeiro município a aderir ao projeto foi o lugar onde Alberto trabalhou durante vários anos: Sertânia.

Desde aqueles tempos, no BNB de Sertânia, Alberto já escrevia e declamava seus versos. Com vários livros lançados e participação em inúmeros recitais, ele hoje mora na capital. Tem poemas publicados no site Interpoetica.com e escreve no blog sertaniense de Juca de Acilon. Os interessados no projeto podem entrar em contato com o artista pelo e-mail: livrariaexpressa@gmail.com.

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Conheça Pernambuco

SÃO CAETANO

Música, natureza e carne-de-sol

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onhecido pela Orquestra dos Meninos de São Caetano, que já virou até tema de filme, o município de São Caetano reserva muitos atrativos para além da música. A natureza é um deles. As paisagens naturais, fontes de água, açudes e a Pedra do Cachorro, um dos pontos mais altos do estado, enchem os olhos dos visitantes.

A cidade detém, ainda, o título de Terra da Carne de Sol. Por isso, para quem passar por lá, a dica é almoçar na Churrascaria Nossa Senhora de Lourdes, na BR 232, que faz jus à tradição do município.

São Caetano saiu da obscuridade durante a década de 90, quando a orquestra liderada pelo músico

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Mozart Vieira fez com que o Brasil voltasse os olhos para o Agreste pernambucano. Crianças e jovens, que antes trabalhavam no campo, rodaram o mundo com seu talento. O sucesso incomodou a elite local a ponto de tramarem um sequestro para criminalizar o maestro. A história virou filme em 2008, dirigido por Paulo Tiago e com Murilo Rosa no papel de Mozart. Hoje, o maestro ergueu uma fundação, onde centenas de crianças e jovens tem contato com a música.

Se a música colocou São Caetano no cenário nacional, os turistas que lá chegaram se depararam com outros atrativos: bicas como a do Mozart e do Divino. Açudes, como o dos Coelhos e Brejo do Buraco, cercados por pés de manga, cajus, seriguelas e graviolas.

Outro lugar fascinante é a Pedra do Cachorro, um dos pontos mais altos do estado, com 1.124 metros de altitude. Inserida no Planalto da Borborema, a pedra abriga uma reserva ecológica e permite o turismo de aventura, com paredões propícios à prática do rapel. Na base, o Açude da Onça favorece esportes náuticos, como o jet ski.

Outros pontos de visitação são o Alto do Cruzeiro, a dois quilômetros do centro, e o Sítio Zumbas, onde há inclusive inscrições rupestres em algumas pedras. São Caetano fica a 149 quilômetros da capital pernambucana, pela BR 232.