Geonovas Número 28

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As conheiras de Vila de Rei: Património geo-arqueológico associado á ocupação humana no Médio Tejo entre Proto-História e Idade Romana

valo de tempo máximo de exploração das areias auríferas foi durante a Época Romana; pode ter sido durante o século I d.C. e o primeiro, segundo e terceiro quartel do século II d.C. Assim, é de esperar que a exploração das unidades conglomeráticas auríferas identificadas na bacia hidrográfica do Médio Tejo Português teria atingido um máximo durante a referida época. A sustentar esta hipótese está o achado de uma ponta de lança de ferro na conheira do Touro (Vila de Rei), provável testemunho da presença de soldados que estariam normalmente em serviço da vigilância aos trabalhos de exploração de ouro; na base da ponta está inciso o acrónimo “M.A.F.”, que segundo Batata (2006) pode significar “Marcus Aurelius Firmus”, procurador dos metais (procurator metallorum) em 191 d.C. na região de Valduerna (Noroeste da Península Ibérica). Em síntese, há dados significativos, que indicam ocorrência e exploração do ouro local a nível de gestão integrada, sobretudo áreas mineiras e montanhosas versus áreas de cidade ao longo do Tejo, quer para a Proto-História, quer para o primeiro período imperial Romano nos concelhos de Vila de Rei, Mação e Abrantes que integram a bacia hidrográfica do Médio Tejo Português. Valorização geo-arqueológica da exploração do ouro no Médio Tejo português A bacia hidrográfica do Médio Tejo ocupa uma região marcada por numerosas evidências da intensa exploração de ouro durante a Época Romana, que eventualmente foi o re-

tomar de antigas atividades mineiras que já tinham ocorrido em tempos proto-históricos. Na região estudada, a área de exploração de ouro pode ser repartida em duas microunidades territoriais com características fisiográficas, económicas e sociais bem distintas. Uma das unidades ocupa uma área situada a norte do rio Tejo, constituída na generalidade por formações rochosas metamórficas, que é designada do ponto de vista geomorfológico como Maciço Antigo. É caracterizada por ser uma zona montanhosa, onde a população de cariz rural e marcadamente extensiva, se dedicava quase exclusivamente à agricultura de subsistência e à exploração do ouro. A outra unidade territorial está na dependência direta do rio Tejo, que era navegável pelo menos até ao vicus de Vale do Junco (Ortiga), e localiza-se especialmente ao longo das suas margens, em particular, nas zonas mais planas. Constitui uma área urbana, onde predominavam atividades comerciais, na qual se destaca o transporte do ouro extraído dos depósitos auríferos para ser conduzido aos centros de cunhagem. Para se ter uma visão de conjunto dos vestígios geológicos e arqueológicos associados com a mineração do ouro durante os tempos romanos na região da bacia hidrográfica do Médio Tejo, é necessário ter em conta todos os elementos e recursos que foram descobertos. Nesta perspetiva, teremos que integrar todos os dados que existem no território dos concelhos de Vila de Rei (conheiras e barragens), de Mação (conheiras e vicus romano) e de Abrantes (conheiras e vila romana) para uma compreensão global da realidade marcada pelo binómio exploração ouro e ocupação humana do território que predominou na Época Romana. A promoção e divulgação deste património cultural através da definição de circuitos integrados de turismo arque-geológico, onde seriam focadas as metodologias utilizadas na exploração do

Figura 6 - Estátua em mármore encontrada em Rossio-ao-Sul-do Tejo (Abrantes) do séc. I d.C. e atualmente guardada no Museu Lopo de Almeida - Castelo de Abrantes (fonte: Câmara Municipal de Abrantes). Figure 6 - Marble statue found in Rossio-ao-Sul do Tejo (Abrantes) of the first century I AD and actually stored in Lopo de Almeida Museum - Abrantes Castle (source: Municipality of Abrantes).


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