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A sociedade do cansaço: costumes de uma cultura que esgota

Síndrome de Burnout é uma das doenças psicológicas destes tempos.

O dia 10 de setembro foi escolhido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o dia mundial da prevenção ao suicídio. Por isso, no Brasil, o mês de setembro passou a ser dedicado à prevenção do suicídio e a outras doenças psicológicas. O Setembro Amarelo, como foi intitulado, promoveu diversas campanhas pelo país no intuito de levar informação e buscar a conscientização da população sobre os assuntos.

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Nesta perspectiva, o filósofo alemão-coreano, Byung-Chul Han, tendo como base principal o livro de sua autoria, Sociedade do Cansaço, de 2010, aprofunda a análise sobre as diversas patologias psicológicas causadas pelo atual modelo de sociedade, modos midiáticos e costumes. Nascido na Coreia, porém, radicado na Alemanha, desde quando iniciou os estudos em filosofia, na Universidade de Friburgo, atualmente é professor da Escola de Artes de Berlim.

O pensamento de Byung-Chul busca observar como as tarefas do dia a dia, trabalho, estudos e vida pessoal, acabam por causar um desgaste psicológico no humano contemporâneo. Ele parte da ideia de que os comportamentos sociais contemporâneos são extremamente relacionados e, em última instância, causadores de doenças psicológicas. Doenças estas que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, atingem, atualmente, cerca de 700 milhões de pessoas, ao considerar todos os tipos de transtornos psicológicos: depressão, bordeline, burnout¸ entre outros.

Diante dessas reflexões, o autor descreve o ser humano contemporâneo como “escravo” da própria rotina e como isto o leva para o esgotamento psicológico. Hoje em dia, as pessoas estão preocupadas em produzir, trabalhar e lucrar; para Chul Han, isto é fruto do sistema econômico, político e mesmo cultural da sociedade contemporânea. Contudo, a tentativa de se alcançar uma “boa vida”, em um bom cargo profissional, acadêmico e estável sob a ótica econômica, leva as pessoas a se sacrificarem para atingir esses objetivos e ao consequente esgotamento.

Síndrome de Burnout

A partir disso, Byung Chul-Han traz à discussão as doenças psicológicas, como a Síndrome de Burnout, enfermidade psicológica causada pelo excesso de trabalho, que leva ao esgotamento tanto físico, quanto psicológico e atinge as relações sociais desses indivíduos. Para ilustrar as questões citadas por Byung-Chul Han, a psicóloga clínica e organizacional, Cinthya Miranda Marçal, profissional com experiência no atendimento a pacientes com a síndrome de burnout, fala sobre o distúrbio.

Como a síndrome de burnout pode ser desenvolvida?

A sobrecarga de trabalho, a pressão de tempo, a falta de suporte e de autonomia nas relações de trabalho são condições objetivas dadas por fatores econômicos, administrativos e gerenciais, que definem toda uma dinâmica organizacional estressante, característica do mundo do trabalho no atual contexto histórico e que estabelece determinado campo de possibilidades.

Quais são os principais sintomas e quais você normalmente verifica junto aos seus pacientes?

São diversos, físicos: fadiga, dores musculares, distúrbios do sono e do sistema respiratório, transtornos cardiovasculares, alterações da memória, sentimento de solidão e de impotência, baixa autoestima, desânimo, desconfiança; sintomas comportamentais, como a negligência, irritabilidade, agressividade, dificuldade na aceitação de mudanças, aumento do consumo de substâncias, comportamento de risco, suicídio; sintomas defensivos como o isolamento, perda do interesse nas atividades, abandono do trabalho, ironia/cinismo.

Como é o processo de reabilitação de um paciente que possui a síndrome de burnout?

O Ministério da Saúde preconiza como tratamento da Síndrome de Burnout o acompanhamento psicológico e médico, além de intervenções psicossociais. É importante que sejam desenvolvidos meios de enfrentamentos com a intenção de minimizar os impactos existentes no ambiente de trabalho, diminuindo dificuldades, dando suporte aos trabalhadores, proporcionando melhores condições de vida, dentro e fora da organização, e, consequentemente, melhorando a qualidade do cuidado prestado ao indivíduo”.

Chul Han afirma que até no século XX, impunha-se a sociedade disciplinar, regida por motes militares, epidemias virais e fanatismo religioso. Na sociedade do desempenho (a atual), o ser humano, em tese, teria todas as ferramentas capazes de livrá-lo da disciplina e colocá-lo como agente social principal da cultura contemporânea. Para Byung-Chul Han, hoje, “o indivíduo se explora e acha que isso é realização”. A