Edição Especial - KWAWSÁWA-PÉ: Caminho do Conhecimento

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EXPEDIENTE 2023

Sylvio Mário Puga Ferreira Reitor

Therezinha de Jesus Pinto Fraxe Vice-Reitora

Maria da Glória Vitório Guimarães Pró-Reitora de Planejamento e Desenvolvimento Institucional

Angela Neves Bulbol de Lima Pró-Reitora de Administração e Finanças

David Lopes Neto Pró-Reitor de Ensino e Graduação

Almir Oliveira de Menezes Pró-Reitor de Extensão

Maria Vanusa do Socorro de Souza Firmo Pró-Reitora de Gestão de Pessoas

Selma Suely Baçal de Oliveira Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação

Jamal da Silva Chaar Pró-Reitora de Inovação Tecnológica

Assessora de Comunicação

Ana Carla dos Santos Souza

Redação

Irina Coelho

Revisão

Rozana Soares Barbosa

Márcia Grana

Fotografia Ascom

Projeto Gráfico

Luana Bittencourt

Dia dos Povos Indígenas

19 de abril

LINHA DO TEMPO

2007

Licenciatura Formação de Professores Indígenas – FPI;

2009

Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável;

ODia dos Povos Indígenas, comemorado em 19 de abril, marca a luta e a resistência dos povos originários brasileiros e, para celebrar a data, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) apresenta quatro frentes de atuações, duas na graduação e duas na pós-graduação. O rol é exemplificativo e traz a forma como a diversidade étnica e populacional presentes no estado do Amazonas dialoga com políticas educacionais sustentáveis voltadas para a conservação e o desenvolvimento de diferentes povos.

A Ufam, além das iniciativas que serão apresentadas aqui, trabalha, por meio do Ensino, Pesquisa e Extensão, os saberes indígenas em diversas áreas do conhecimento, contribuindo decisivamente para a formação de cidadãos e o desenvolvimento da Amazônia. 2012 2014 2016

Criação do Colegiado Indígena

Criação do Centro de Formação de Professores Indígenas

Cotas para indígenas e negros na Pós-Graduação

Indígenas na Graduação

Na graduação são ofertados os cursos de Licenciatura Formação de Professores Indígenas pela Faculdade de Educação (Faced/Ufam), com turmas de professores indígenas Mura, Sateré-Mawé, no município de Maués/AM, turma Munduruku no município de Borba/AM, Médio Solimões (etnias Miranha, Tikuna, Kambeba, Apurinã e Mura) e Alto Rio Negro (etnias Desano, Tukano, Werekena, Baré, Tuyuka, Baniwa, Kubeo, Arapaso e Barasano) e também o curso de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável pelo Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS/Ufam), em São Gabriel da Cachoeira (AM), região composta por 23 povos indígenas de cinco famílias linguísticas diferentes (Tukano Oriental, Maku, Aruak, Yanomami e Nheengatu).

Todas as iniciativas da Ufam respeitam as legislações educacionais vigentes, amparadas pela legislação da Educação escolar Indígena, e são frutos das ações nas regiões desde a década de 90. A construção do Ensino Superior Indígena no Brasil, especificamente no Estado do Amazonas, cresce de forma sustentável e intercultural, respeitando e fortalecendo suas tradições e comunidades, além de estabelecerem diálogos com outros conhecimentos considerados necessários. Hoje, no território brasileiro, existem aproximadamente 246 povos indígenas falantes de cerca 180 línguas e, no estado do Amazonas, cerca de 70 povos e 60 línguas indígenas.

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Licenciatura Formação de Professores Indígenas (Faced/Ufam)

Criado em 2007 e ligado ao Departamento de Educação Escolar Indígena da Faculdade de Educação (Faced), o curso de Licenciatura Formação de Professores Indígena tem 15 anos de existência, vestibular próprio, um corpo de professores efetivos, cinco turmas formadas, três em andamento e uma com perspectiva de iniciar no ano de 2023, na cidade de Manaus. A matriz curricular é formada por duas etapas: I) Formação geral; II) Formação específica nas três grandes áreas: 1) Ciências Humanas e Sociais – História; Geografia; Antropologia; Sociologia; Filosofia. 2) Ciências Exatas e Biológicas – Matemática; Química; Física; Biologia. 3) Letras e Artes – Língua Portuguesa; Língua Indígena; Expressão Cultural e Práticas Corporais.

De acordo com o chefe de Departamento de Educação Escolar Indígena, professor Sanderson Castro Soares de Oliveira, a criação do curso foi uma resposta às demandas dos movimentos indígenas e de lutas internas à Universidade. “A Licenciatura Formação de Professores Indígenas no Brasil é realizada dentro de princípios claros, dentre os quais se destacam a diferenciação. O professor indígena é formado para atuar em um sistema diferenciado dentro do sistema educacional brasileiro, especialmente preparado para conhecer e interagir com a cultura dita ocidental,

MATRIZ CURRICULAR

ETAPA I: Formação geral;

ETAPA II: Formação específica nas três grandes áreas:

1) Ciências Humanas e Sociais – História; Geografia; Antropologia; Sociologia; Filosofia.

2) Ciências Exatas e Biológicas –Matemática; Química; Física; Biologia. 3) Letras e Artes – Língua Portuguesa; Língua Indígena; Expressão Cultural e Práticas Corporais.

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mas, sobretudo, para investigar e fortalecer sua própria cultura ou os aspectos culturais que a comunidade a que pertencem elegem para transmitir às gerações seguintes”, explicou o docente.

O professor ressaltou também que a especificidade, o multilinguismo, a interculturalidade e o comunitarismo são, em certo sentido, derivados ou protegidos pela diferenciação. “A especificidade busca salvaguardar que cada etnia tenha uma formação específica e que atenda às necessidades daquele povo, parte da questão básica é bastante conhecida de que cada etnia é diferente da outra. O multilinguismo reconhece que há diferentes situações sociolinguísticas entre estes povos e que cada uma merece um tratamento diferenciado, cada situação deve ser tratada de forma diferenciada dentro de um curso específico. A interculturalidade reconhece as diferentes epistemologias desenvolvidas por milênios pelos vários povos e pela necessidade de diálogo entre esses sistemas diversos. Por fim, o comunitarismo reconhece a participação das comunidades antes e durante o desenvolvimento do curso; antes, nos fóruns que definem detalhes sobre uma turma a ser iniciada e, ao longo do curso, seja na aceitação da presença de famílias no curso, seja nas práticas que incorporem membros da comunidade ou ainda na recente inserção de sabedores indígenas em bancas de defesa de Trabalho de Conclusão de Curso. Assim, o professor e a professora indígena são formados, principalmente, para atuar na sua comunidade”, detalhou o chefe de departamento.

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interculturalidade
multilinguismo
COMUNITARISMO

LINHA DO TEMPO

A primeira aprovação da proposta do curso nas instâncias superiores da Ufam com 50 vagas para o Curso Formação de Professores Indígenas Mura, por meio da Resolução 010/2007

CEG/CONSEPE/UFAM, homologada pela Resolução 032/2007 CONSEPE.

Curso Licenciatura Formação de Professores Indígenas (Faced/Ufam) 2005 2007

O Grupo de Trabalho, por reivindicação da Organização de Professores Indígenas Mura – OPIM, conseguiu a aprovação de uma proposta no âmbito do Edital do Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (PROLIND).

CURIOSIDADE:

O primeiro curso, aprovado inicialmente para atender o povo Mura, contava com apenas uma turma e seus módulos ocorriam no município de Autazes/AM, em colaboração com a prefeitura local, com a OPIM e com outros atores locais.

Para atender às demandas de outros povos indígenas, o curso é aprovado, por meio da Resolução 041/2009 – CEG/CONSEPE/UFAM, de 1º de outubro de 2009, sob o nome Curso Formação de Professores Indígenas.

2009

CURIOSIDADE:

Esta mudança está diretamente relacionada à aprovação das turmas Sateré-Mawé (no município de Maués/AM) e Munduruku (Borba/AM) pelo edital PROLIND de 2008. Estas novas turmas começaram a funcionar em 2011, com 60 vagas cada, com apoio das prefeituras locais.

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Uma nova turma foi ofertada, com 60 vagas, como resposta às demandas dos povos indígenas da região do Médio Solimões (municípios de Tefé, Alvarães, Coari, Fonte Boa e Uarini).

O Curso foi avaliado por uma Comissão de Avaliadores do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (INEP/MEC) e recebeu nota 4.

Também: A criação do Departamento de Educação Escolar Indígena na Faculdade de Educação (Faced)

O curso chega a sua máxima oferta, com a criação das turmas Alto Rio Negro (São Gabriel da Cachoeira), Lábrea, Alto Solimões (Benjamin Constant) e Manicoré.

2013 2014 2015

CURIOSIDADE:

Inaugurado em 2013, por ocasião da finalização da turma Mura, o Centro de Referência de Formação de Professores Indígenas da Ufam, localizado na sede da Fazenda Experimental, é considerado uma conquista do curso porque marca o primeiro espaço físico concebido exclusivamente para os povos indígenas.

CURIOSIDADE:

Todas as turmas ocorriam nos municípios de referência para os povos indígenas atendidos com exceção da Turma Médio Solimões – cujos módulos eram realizados em Manaus, no Centro de Referência de Formação de Professores Indígenas na Fazenda Experimental da Ufam.

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Licenciatura Indígena Políticas

Educacionais e Desenvolvimento Sustentável pelo Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS/Ufam)São Gabriel da Cachoeira

Outra iniciativa da Ufam voltada para os indígenas é o curso de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, ligado ao Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS/Ufam). Criado em 2009, o curso tem ingresso bianual, é realizado em São Gabriel da Cachoeira e tem como objetivo promover a formação de professores/pesquisadores proporcionando a formulação de políticas públicas educacionais e processos pedagógicos próprios respeitando a diversidade cultural dos povos indígenas. Foram abertas três turmas (Baniwa; Tukano e Nheengatu) e turmas especiais Yanomami e a Satere-Mawé, com currículos distintos.

A Licenciatura foi amplamente discutida com as comunidades indígenas da região do Alto Rio Negro, em parceria com a Federação das Organizações Indígenas/FOIRN, Secretaria Municipal de São Gabriel da Cachoeira e Secretaria Estadual de Educação e Qualidade do Ensino no período de 2005 a 2009.

De acordo com um dos professores que participou da construção do projeto pedagógico do curso, professor Raimundo Nonato Pereira da Silva, a consulta pública realizada pela FOIRN nas calhas do Rio Negro tornou o curso de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável de natureza diferenciada.

“Os pontos discutidos foram: perfil do curso, objetivos, perfil do aluno que se quer formar, proposta metodológica, formas de avaliação, gestão do curso, política linguística, organização e componentes curriculares. A comunidade da região participou da construção do pro-

LINHA DO TEMPO

Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável (IFCHS)

2005

Aprovação do projeto do curso, em assembleia geral dos povos indígenas do Alto Rio Negro, realizada no período de 29 a 30 de novembro de 2005, após discussão em 10 comunidades da região.

jeto pedagógico do curso e isso possibilitou à Universidade atuar, a partir da valorização e respeito pelas pelas línguas e saberes indígenas, de forma sistemática e contínua, nestes territórios. Os impactos dessas formações próximas às comunidades garantem a integração entre os saberes indígenas e ocidentais”, explicou o docente.

O professor falou ainda sobre o número de mulheres indígenas e o índice de evasão dessas turmas. “O número de mulheres que participam é elevado, justamente, porque o curso é realizado nas comunidades e elas levam seus filhos para o ambiente de ensino-aprendizagem. O índice de evasão também é baixo e por isso o investimento feito pela Ufam na região tem retorno positivo. A Ufam/ IFCHS ganha também por trocar conhecimentos e estabelecer uma logística sensível e complexa, em uma região de fronteira”, destacou.

A gestão do curso é composta pela coordenação colegiada, formada pela coordenação geral; coordenadores de turmas, que envolve o Núcleo Docente Estruturante e pelo Conselho Universitário Indígena (específico para a licenciatura em questão) formada por professores, estudantes (por turma), lideranças tradicionais (por turma) e representante da Associação Indígena. Os licenciados em Educação Indígena podem atuar junto a instituições públicas, privadas e terceiro setor.

A Ufam foi a primeira instituição do país a ir a comunidades indígenas para conferir outorgas de grau em Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável. Os Baniwa, em Taracuá, os Tukano, em Tunuí Cachoeira, foram as duas primeiras comunidades indígenas a receberem essa Licenciatura e também contaram com cerimônias respeitando as liturgias tanto acadêmicas quanto dos seus povos. Houve ainda colação de grau dos yanomami, em Maturacá e das etnias baré, tukano, dessana, carapanã e baniwa, em Santa Isabel do Rio Negro, na sede do município.

2007 2014

Aprovação pelo Conselho Universitário da UFAM, em 29 de janeiro de 2007, e novamente referendado no período de 03 a 11 de novembro de 2009 pelos povos indígenas do Alto Rio Negro e pela sua representante jurídica a Federação das Organizações indígenas do Rio Negro (FOIRN) e também pela organização dos professores indígenas do alto rio Negro (COPIARN e APIARN).

Turmas Baniwa; Tukano e Nheengatu e turmas especiais Yanomami e Sateré-Mawé.

Galeria de imagens

COLAÇÃO DE GRAU

Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável (IFCHS)

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Caminho
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do Conhecimento
DATA: 16 de julho de 2022

Galeria

de imagens

COLAÇÃO DE GRAU

Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável (IFCHS) - Turma Tukano

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Caminho do Conhecimento // 17
São Gabriel da Cachoeira 26 de julho de 2022

Galeria de imagens

COLAÇÃO DE GRAU

Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável (IFCHS) - Turma Baniwa

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Caminho do Conhecimento // 19
São Gabriel da Cachoeira 28 de julho de 2022

Galeria de imagens

COLAÇÃO DE GRAU

Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável (IFCHS) - Turma Yanomami

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Caminho do Conhecimento // 21
São Gabriel da Cachoeira 20 de agosto de 2022

Indígenas na Pós-Graduação N

a Pós-Graduação, destacamos as iniciativas do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), com turma de mestrado indígena pluriétnica, em São Gabriel da Cachoeira; e o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), há 12 anos com políticas afirmativas para ingresso de indígenas, sendo pioneiro na Pós-Graduação em Antropologia a adotar edital de ingresso diferenciado a indígenas.

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Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA)

O PPGSCA, no dia 20 de março, deu início às atividades da primeira turma de mestrado/2023, em São Gabriel da Cachoeira. Foram 33 aprovados, sendo 31 com identificação étnica-indígena na inscrição e somente dois não indígenas. O Programa dispõe de Área de Concentração em Processos Socioculturais na Amazônia, contemplando as seguintes linhas de pesquisas:

1) Sistemas Simbólicos e Manifestações Socioculturais;

2) Redes, Processos e Formas de Conhecimentos;

3) Processos Sociais, Ambientais e Relações de Poder.

De acordo com um dos membros da Comissão de Seleção, professor Bruno Rodrigues, foram aumentadas as ofertas de vagas com a finalidade de atender maior contingente indígena aprovado na seleção, buscando satisfazer a uma demanda antiga

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO:

Processos Socioculturais na Amazônia

LINHAS DE PESQUISA

1) Sistemas Simbólicos e Manifestações Socioculturais;

2) Redes, Processos e Formas de Conhecimentos;

3) Processos Sociais, Ambientais e Relações de Poder.

Caminho do Conhecimento // 23

da região por pós-graduação. “O acesso ao mestrado, ofertado no interior do Estado e sem a necessidade de deslocamento, facilita a formação de intelectuais e lideranças indígenas, o que é de extrema importância para essas populações e, ainda, representa satisfação de importante função pública da Ufam, que registra esse compromisso em seu estatuto”, explicou o docente.

Durante a aula inaugural do PPG, em São Gabriel da Cachoeira, o coordenador, professor Nelson Matos de Noronha, salientou que o empenho na implantação do curso pioneiro na região

não é um ato de generosidade, mas de compromisso com a luta e uma resposta à demanda indígena. “Esse curso visa garantir o exercício da cidadania, especialmente, em tempos em que estamos sendo obrigados a reiterar a seriedade e a eficiência das nossas instituições e, a ciência, a educação, são ferramentas poderosas nesse batalha da qual precisamos fazer parte”, disse. A aula magna intitulada “Pelo desenvolvimento a partir da formação de pesquisadores de excelência” foi realizada pela diretora do IFCHS, professora Iraildes Caldas Torres.

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“O acesso ao mestrado, ofertado no interior do Estado e sem a necessidade de deslocamento, facilita a formação de intelectuais e lideranças indígenas, o que é de extrema importância para essas populações e, ainda, representa satisfação de importante função pública da Ufam, que registra esse compromisso em seu estatuto”
Professor Bruno Rodrigues

Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS)

Há 12 anos, o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) tem políticas afirmativas para ingresso de indígenas. Foi o pioneiro na Pós-Graduação a adotar edital de ingresso diferenciado aos indígenas e há o Colegiado Indígena (Colind), que garante representação discente nas instâncias do PPGAS, mas também na Ufam. O Colind está à frente do projeto “Ufam + Indígena” e faz incidência junto à reitoria e todas as instâncias da Universidade.

De acordo com a coordenadora do PPGAS, professora Flávia Melo, além do edital específico, estudantes indígenas podem defender seus trabalhos na língua indígena e apresentar, como uma das proficiências, a Língua Portuguesa. “Essa presença e permanência é

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uma pequena, mas indispensável reparação da sociedade ocidental aos povos indígenas. Os ganhos para a Universidade são inestimáveis. Em termos teóricos, os intelectuais indígenas de nosso PPGAS forjaram a Antropologia Indígena, uma proposta teórico-metodológica que impõe a autorreflexividade à Antropologia, mas não apenas. O convívio multilíngue e multiétnico impõe outros modos de lidar com a diferença balizados pelo respeito. Destaco também que temos incentivado a maior participação das mulheres indígenas, que já se mostrou efetiva no aumento expressivo das candidatas indígenas no nosso Edital de ingresso”, enfatizou.

A docente falou ainda das premiações que os egressos indígenas do PPGAS ganharam. “Tivemos a tese Intitulada ‘Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro’, escrita pelo João Paulo Lima Barreto, que ganhou o Prêmio Capes de Melhor Tese da Área 35; além de sermos finalistas no Concurso de Teses da Associação Nacional de Pós-Graduação e

Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), com o trabalho do Justino Rezende, da etnia Tuyuka, ele recebeu prêmio de melhor tese de 2021 do PPGAS na Ufam”, finalizou a coordenadora.

Atualmente, o PPGAS tem mais de 10 etnias representadas no Programa e aproximadamente 35 estudantes indígenas matriculados.

2011 2012 2021

Criação do Colind

Início do edital indígena específico Defesa de Tese do 1o Doutor em Antropologia da UFAM LINHA DO TEMPO Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS)

Prêmio de Melhor Tese na Grande Área Antropologia/ Arqueologia ao Dr. Indígena

João Paulo Barreto

Primeiras Bancas de seleção para ingresso no edital indígena com doutores indígenas, Dr. Felipe Sotto Maior Tuxa, Dra. Nelly Dorlis Marubo e Dr. Tonico Bentes.

Pela primeira vez, todas as candidatas aprovadas no edital específico para indígenas são mulheres indígenas.

2022 2023

DEPOIMENTOS

Orlindo Ramos Marques

Tukano, Rio Alto Tiquié - Parfor

“A educação para o estudante indígena é muito importante, traz consigo uma parte principal da vida do ser humano que se soma à nova ótica para que avancemos de uma maneira diferente, se comparamos com o passado. Agora, com um novo modo de vida, num tempo com muitas mudanças, a educação ajuda a “desnaturalizar” o que se viu como natural.

A educação traz consigo também uma reflexão do processo de colonização e da nossa resistência, fala de esperança. Com isso, a gente se mobiliza, pensa e repensa como será daqui para frente, com outras perspectivas para refletir sobre o passado, agir no presente e planejar o futuro. Nós, na sala de aula, vivemos e nos reinventamos sem deixar de lado o que somos”.

Esly Camico Mandu

Koripako, Aldeia São Joaquim, Alto Rio Içana - Licenciatura Indígena, atualmente cursando o mestrado sociedade e cultura da Amazônia

“Estar na Ufam representa um enorme desenvolvimento profissional. Como educador, dentro da comunidade indígena, a Universidade nos proporciona o reconhecimento da própria etnia, possibilitando que ajudemos os parentes por meio do ensino-aprendizagem no contexto da educação escolar indígena. É um avanço necessário para que formemos novos indígenas preparados e prontos para darem continuidade ao que estamos galgando agora”.

Armando da Silva Menezes

Tukano, município de São Gabriel da Cachoeira - Licenciatura em Geografia, Mestrado do PPGSCA

“Ingressei no curso de Licenciatura em Geografia, na Ufam no final da década de 90 e finalizei o curso em 2021, tive uma grande oportunidade de entender o mundo, sobre como a Geografia trabalha nas análises e interpretações do mundo. A partir do curso, eu entendi como que o mundo se apresenta e como levar esse conhecimento para sala de aula para os nossos alunos e para comunidade. Como cidadãos também, os indígenas devem atuar em seu benefício, coletiva e individualmente e o curso superior é muito importante numa sociedade que vê o indígena fora das políticas públicas”.

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Jociela Vasconceles de Araújo

Tariano - Egressa de Serviço Social, Mestranda do PPGSCA

“Formada no curso de Serviço Social, falo a língua tukano, que é minha língua materna. Trabalho atualmente no (DSEI), em São Gabriel da Cachoeira (AM). O acesso ao ensino superior proporciona que sejamos capacitados da mesma forma que a maioria dos não indígenas, o que antigamente era muito difícil. A gente se forma e retorna para a comunidade. Por exemplo: atualmente, eu sou a única que é daqui da região e que fala língua tukano. Trabalho com os pacientes e tenho facilidade de conversar com eles, o que nos ajuda a fazer um trabalho melhor e nos aproxima. Tudo isso é graças à educação que recebemos. Agora, consegui ingressar no mestrado, aqui mesmo na Ufam.

A data alusiva aos povos indígenas mostra para os outros que continuamos lutando e resistindo. Apesar dos direitos que conquistamos, necessitamos de mais voz, ocupar espaços e reconhecimento, pois somos nós os detentores da nossa própria historia através da educação aliada à nossa identidade. Temos nossos parentes em Manaus e em São Paulo, temos parentes espalhados em todo o Brasil e somos capazes de estudar e voltar para trabalhar juntos com nosso próprio povo, é isso que desejamos.”

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DEPOIMENTOS

Lorena Marinho Araújo

“A Ufam faz parte da minha história. Todo conhecimento profissional e de liderança indígena que tenho faz parte do processo de construção que me veio por meio da educação que vêm sendo implementadas para o nosso município. Aprendi bastante como intelectual indígena, sendo professora de História efetiva da rede estadual, formada pela Ufam. Estudar na Ufam me possibilitou abrir a minha visão a partir de todos os olhares acerca da questão indígena e do mundo nãoindígena. Hoje posso dizer que estou voltando para a Ufam, agora como mestranda, ainda comprometida com as minhas raízes e minha missão.

Novamente a Ufam vem a São Gabriel da Cachoeira, trazendo professores e todo seu conhecimento para garantir aos 23 povos indígenas o direito ao conhecimento. Esse vai ser um diferencial muito grande para nós, para a nossa cidade e para nossas comunidades.

A partir da interiorização da Ufam, a perspectiva dos conhecimentos científicos e dos conhecimentos tradicionais se fundiu nesse “dialogismo”. Essas novas perspectivas não só o mestrado de sociedade cultura, mas também os cursos de graduação à distância presenciais ou não, promovem um pensar em prol do desenvolvimento social da Amazônia.

Quanto à data, o dia 19 de abril, ela vem para nos exigir reflexão e o compromisso de fortalecer a nossa luta, de valorizar aqueles que sempre resistiram a cada passagem do mês de abril. Neste contexto a data é muito significativa. Temos mulheres que foram eleitas para deputadas federais e estão ocupando espaços nos poderes executivo e legislativo, as mulheres estão dando continuidade às lutas e nós, enquanto indígenas, estamos fazendo a nossa parte, estando nas universidades e nos movimentos, continuando as resistências nos espaço de saberes e de conhecimento científico, porque antes, os indígenas eram considerados aqueles que não tinham “história” e essa história, importante dizer, começou por nós”.

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Tariano - Egressa do PSC no curso de Licenciatura em História, Mestranda do PPGSCA

Agradecimento aos professores e técnico-administrativos que contribuíram para a Educação Indígena na Ufam

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