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Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS)
Há 12 anos, o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) tem políticas afirmativas para ingresso de indígenas. Foi o pioneiro na Pós-Graduação a adotar edital de ingresso diferenciado aos indígenas e há o Colegiado Indígena (Colind), que garante representação discente nas instâncias do PPGAS, mas também na Ufam. O Colind está à frente do projeto “Ufam + Indígena” e faz incidência junto à reitoria e todas as instâncias da Universidade.
De acordo com a coordenadora do PPGAS, professora Flávia Melo, além do edital específico, estudantes indígenas podem defender seus trabalhos na língua indígena e apresentar, como uma das proficiências, a Língua Portuguesa. “Essa presença e permanência é uma pequena, mas indispensável reparação da sociedade ocidental aos povos indígenas. Os ganhos para a Universidade são inestimáveis. Em termos teóricos, os intelectuais indígenas de nosso PPGAS forjaram a Antropologia Indígena, uma proposta teórico-metodológica que impõe a autorreflexividade à Antropologia, mas não apenas. O convívio multilíngue e multiétnico impõe outros modos de lidar com a diferença balizados pelo respeito. Destaco também que temos incentivado a maior participação das mulheres indígenas, que já se mostrou efetiva no aumento expressivo das candidatas indígenas no nosso Edital de ingresso”, enfatizou.
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A docente falou ainda das premiações que os egressos indígenas do PPGAS ganharam. “Tivemos a tese Intitulada ‘Kumuã na kahtiroti-ukuse: uma “teoria” sobre o corpo e o conhecimento-prático dos especialistas indígenas do Alto Rio Negro’, escrita pelo João Paulo Lima Barreto, que ganhou o Prêmio Capes de Melhor Tese da Área 35; além de sermos finalistas no Concurso de Teses da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), com o trabalho do Justino Rezende, da etnia Tuyuka, ele recebeu prêmio de melhor tese de 2021 do PPGAS na Ufam”, finalizou a coordenadora.
Atualmente, o PPGAS tem mais de 10 etnias representadas no Programa e aproximadamente 35 estudantes indígenas matriculados.

2011 2012 2021
Criação do Colind

Prêmio de Melhor Tese na Grande Área Antropologia/ Arqueologia ao Dr. Indígena
João Paulo Barreto
Primeiras Bancas de seleção para ingresso no edital indígena com doutores indígenas, Dr. Felipe Sotto Maior Tuxa, Dra. Nelly Dorlis Marubo e Dr. Tonico Bentes.



Pela primeira vez, todas as candidatas aprovadas no edital específico para indígenas são mulheres indígenas.

Depoimentos
Orlindo Ramos Marques
Tukano, Rio Alto Tiquié - Parfor
“A educação para o estudante indígena é muito importante, traz consigo uma parte principal da vida do ser humano que se soma à nova ótica para que avancemos de uma maneira diferente, se comparamos com o passado. Agora, com um novo modo de vida, num tempo com muitas mudanças, a educação ajuda a “desnaturalizar” o que se viu como natural.

A educação traz consigo também uma reflexão do processo de colonização e da nossa resistência, fala de esperança. Com isso, a gente se mobiliza, pensa e repensa como será daqui para frente, com outras perspectivas para refletir sobre o passado, agir no presente e planejar o futuro. Nós, na sala de aula, vivemos e nos reinventamos sem deixar de lado o que somos”.
Esly Camico Mandu
Koripako, Aldeia São Joaquim, Alto Rio Içana - Licenciatura Indígena, atualmente cursando o mestrado sociedade e cultura da Amazônia

“Estar na Ufam representa um enorme desenvolvimento profissional. Como educador, dentro da comunidade indígena, a Universidade nos proporciona o reconhecimento da própria etnia, possibilitando que ajudemos os parentes por meio do ensino-aprendizagem no contexto da educação escolar indígena. É um avanço necessário para que formemos novos indígenas preparados e prontos para darem continuidade ao que estamos galgando agora”.
Armando da Silva Menezes
Tukano, município de São Gabriel da Cachoeira - Licenciatura em Geografia, Mestrado do PPGSCA
“Ingressei no curso de Licenciatura em Geografia, na Ufam no final da década de 90 e finalizei o curso em 2021, tive uma grande oportunidade de entender o mundo, sobre como a Geografia trabalha nas análises e interpretações do mundo. A partir do curso, eu entendi como que o mundo se apresenta e como levar esse conhecimento para sala de aula para os nossos alunos e para comunidade. Como cidadãos também, os indígenas devem atuar em seu benefício, coletiva e individualmente e o curso superior é muito importante numa sociedade que vê o indígena fora das políticas públicas”.




Jociela Vasconceles de Araújo
Tariano - Egressa de Serviço Social, Mestranda do PPGSCA
“Formada no curso de Serviço Social, falo a língua tukano, que é minha língua materna. Trabalho atualmente no (DSEI), em São Gabriel da Cachoeira (AM). O acesso ao ensino superior proporciona que sejamos capacitados da mesma forma que a maioria dos não indígenas, o que antigamente era muito difícil. A gente se forma e retorna para a comunidade. Por exemplo: atualmente, eu sou a única que é daqui da região e que fala língua tukano. Trabalho com os pacientes e tenho facilidade de conversar com eles, o que nos ajuda a fazer um trabalho melhor e nos aproxima. Tudo isso é graças à educação que recebemos. Agora, consegui ingressar no mestrado, aqui mesmo na Ufam.


A data alusiva aos povos indígenas mostra para os outros que continuamos lutando e resistindo. Apesar dos direitos que conquistamos, necessitamos de mais voz, ocupar espaços e reconhecimento, pois somos nós os detentores da nossa própria historia através da educação aliada à nossa identidade. Temos nossos parentes em Manaus e em São Paulo, temos parentes espalhados em todo o Brasil e somos capazes de estudar e voltar para trabalhar juntos com nosso próprio povo, é isso que desejamos.”

Lorena Marinho Araújo
“A Ufam faz parte da minha história. Todo conhecimento profissional e de liderança indígena que tenho faz parte do processo de construção que me veio por meio da educação que vêm sendo implementadas para o nosso município. Aprendi bastante como intelectual indígena, sendo professora de História efetiva da rede estadual, formada pela Ufam. Estudar na Ufam me possibilitou abrir a minha visão a partir de todos os olhares acerca da questão indígena e do mundo nãoindígena. Hoje posso dizer que estou voltando para a Ufam, agora como mestranda, ainda comprometida com as minhas raízes e minha missão.

Novamente a Ufam vem a São Gabriel da Cachoeira, trazendo professores e todo seu conhecimento para garantir aos 23 povos indígenas o direito ao conhecimento. Esse vai ser um diferencial muito grande para nós, para a nossa cidade e para nossas comunidades.
A partir da interiorização da Ufam, a perspectiva dos conhecimentos científicos e dos conhecimentos tradicionais se fundiu nesse “dialogismo”. Essas novas perspectivas não só o mestrado de sociedade cultura, mas também os cursos de graduação à distância presenciais ou não, promovem um pensar em prol do desenvolvimento social da Amazônia.
Quanto à data, o dia 19 de abril, ela vem para nos exigir reflexão e o compromisso de fortalecer a nossa luta, de valorizar aqueles que sempre resistiram a cada passagem do mês de abril. Neste contexto a data é muito significativa. Temos mulheres que foram eleitas para deputadas federais e estão ocupando espaços nos poderes executivo e legislativo, as mulheres estão dando continuidade às lutas e nós, enquanto indígenas, estamos fazendo a nossa parte, estando nas universidades e nos movimentos, continuando as resistências nos espaço de saberes e de conhecimento científico, porque antes, os indígenas eram considerados aqueles que não tinham “história” e essa história, importante dizer, começou por nós”.
Agradecimento aos professores e técnico-administrativos que contribuíram para a Educação Indígena na Ufam
