Maria do Carmo Rodrigues e a escrita de receção infantojuvenil

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MARIA DO CARMO RODRIGUES e a escrita de receção infantojuvenil Caderno de divulgação

Exposição

2 de abril a 31 Maio Arquivo Regional e Biblioteca Pública da Madeira Caminho dos Álamos, 35 | 9020 - 064 Santo António | Funchal Tel.: 291 708 400 | Email: abm.srtc@madeira.gov.pt


Retrato de Maria do Carmo Rodrigues, DN, Madeira, 8 maio 2014.

http://www.dnoticias.pt/hemeroteca/446184-aprovadosvotos-de-pesar-pela-morte-da-escritora-maria-docarmo-rodrigue-LKDN446184

Paula Gonçalves Leonor Coelho, docente da Faculdade de Artes e Humanidades da UMa e investigadora do CEC da FLUL. Fonte principal: COELHO, Leonor, 2012, «A literatura para a Infância e Juventude de Maria do Carmo Rodrigues», in PETROV, Petar et al. (ed.), Avanços em Literatura e Cultura Portuguesas. Século XX, vol. 3, Santiago de Compostela / Faro, Associação Internacional de Lusitanistas / Através Editora, pp. 265-281 Designer gráfico: Leonardo Vasconcelos Montagem: Roberto Faria; Ricardo Mendonça; SPRC; SEEC

Coordenação: Textos:

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Nota introdutória:

da ilha ao mundo

Movida por um notável espírito cívico atento aos problemas sociais que afetam a infância e a juventude, Maria do Carmo Rodrigues dá início à sua carreira de autora de textos destinados aos leitores mais novos na década de quarenta. Desde essa altura, participou regularmente em suplementos infantis de diários nacionais e em produções de teatro infanto-juvenil. Destaca-se, porém, com uma produção narrativa contínua, publicada regularmente desde a década de sessenta. em 1964, dá à estampa o seu primeiro livro, intitulado Dona Trabucha, a Costureira Bucha, com a chancela da Portugália Editora. Na viragem dos anos sessenta para os anos setenta, dirige o semanário A Canoa (1969-1971) a partir da ilha da Madeira, apoiando-se na colaboração de escritores continentais de valor já reconhecido (Matilde Rosa Araújo, Alice Gomes, Madalena Gomes, Lília da Fonseca, Maria Isabel Mendonça Soares, Maria Rosa Colaço, Ricardo Alberty) ou nas vozes insulares que viriam a marcar a cultura madeirense (Luíza Helena Clode e Irene Lucília Andrade, entre outros). Maria do Carmo Rodrigues pertence, assim, a esse grupo de autores dos anos pós-guerra e pré 25 de Abril que preparou o terreno para o boom da literatura para jovens no Portugal dos anos oitenta. Com uma vida dividida entre a ilha da Madeira e o Continente (a grande Lisboa), a sua obra vai refletir os lugares que a autora conhece bem e, sobretudo, todo um conjunto de preocupações com a formação moral e cívica dos jovens. Por via de um fino humor e de um jeito próprio para «contar histórias», os seus livros não idealizam a infância e a juventude, mostram-na antes num quadro referencial reconhecível, sem nunca lhe retirar espaço para a imaginação e o sonho. Os seus livros visam, também, enaltecer a educação como forma de promover uma sociedade instruída, mais justa, menos discriminatória e mais dialogante.

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A dificuldade de escrever para a criança A mensagem, porém, tem de ser muito subtil, porque se o não for será rejeitada. O humor é uma das características a ter em conta, porque tudo o que se diz a brincar é mais facilmente tomado a sério. Longe vai o tempo em que as histórias escritas para as crianças terminavam de uma forma moralizante. A sociedade actual é repressiva, sufocante o stress em que todos se movimentam entre o comboio e o autocarro, nos engarrafamentos sem fim da nossa cidade, na castração dos apartamentos em que se vive, sem aqueles espaços libertadores das velhas casas que dispunham de quartos para tudo, incluindo o de brincar, até de um corredor que dava para correr e andar de bicicleta, onde havia lugar para o sonho. E que por vezes tinham um quintal e árvores, onde nos encavalitávamos para daí voar e fazer longas viagens pela imaginação. A criança actual é asfixiada por programas escolares, por actividades sem número que lhe dão prazer, é certo, mas por outro lado a espartilham. 1 1 Intervenção de Maria do Carmo Rodrigues na rádio sobre A dificuldade de escrever para a criança (s.d.). Fonte: ABM, MCR, cx. 3, n.º 14.

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A literatura infantil: do lúdico faz-se pedagogia Nas obras destinadas, sobretudo, aos mais novos (7-10 anos), a escrita de Maria do Carmo Rodrigues revela um cuidado especial em defender a força libertadora da imaginação, os bons exemplos e a compreensão mútua. Ainda que de forma subtil, a escrita de Maria do Carmo Rodrigues combate o preconceito e o desrespeito pelos seres mais vulneráveis, defende a essência e promove a concórdia.

Capa do livro Sebastião, o Índio (1982)

Capa do livro Camélias Brancas (1980)

Esta preocupação com o saber reflexivo manifesta-se em todos os livros da sua autoria. Tal acontece com Camélias Brancas (publicado em 1980), bem como na sua republicação, O Jardim de Rosalina e Outras Histórias (1988). Tal acontecerá, a título de exemplo, com Sebastião, o Índio (1982).

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Da História faz-se estórias

Capa do livro João Gomes do Gato (2002)

João Gomes do Gato (2002) estabelece um protocolo de leitura: «João Gomes» reenvia para a História da Madeira. No século XV, João Gomes (da Ilha) foi pajem na casa do Infante Dom Henrique. Poeta e trovador de mérito reconhecido, as suas rimas figuram no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Esta alusão à História da Ilha é inserida na ficção ao ser contada pelo Dr. Manuel da Casa Alta ao afilhado João Gomes, uma criança prestes a completar oito anos, que tem por fiel companheiro o gato Gravata. Narradas em mise en abîme, surgem encaixadas na narrativa principal, quer «A História de João Gomes da Ilha», quer «A História de Adão e Eva na Ilha e o que antes se passou», quer «A História dos Corsários»; esta última permitindo compreender a importância do Forte de São Tiago, antiga fortaleza do Funchal que abrigou o Museu de Arte Contemporânea.

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Da escrita faz-se observação cultural O livro As Aventuras de Chico Aventura (2001) prima pela sensibilidade e humor com que a autora aponta os problemas da sociedade: ora a questão da emigração e as dificuldades de uma mãe que educa um filho sozinha, ora as preocupações ecológicas que o protagonista vai desenvolver, ora o seu relacionamento difícil com o progenitor, um torna-viagem endinheirado e propenso a vaidades e exibicionismos.

Capa do Livro As Aventuras de Chico Aventura (2001)

O livro Tiago Estrela (2002) encena as vivências do protagonista e de vários amigos residentes no mesmo prédio, no bairro da Estrela, em Lisboa. Filho mais novo de Miguel Jardim e de Maria Rosa, Tiago tem duas irmãs Joana Maggi e Marta Chocolate. Cada personagem do livro tem, regra geral, um cognome que caracteriza as suas particularidades. Pedro Chiclete, Gonçalo Esparguete e Carlota Iogurte. Todos incidem na preferência alimentar dos mais novos numa sociedade global. O livro incentiva o gosto Capa do Livro Tiago Estrela (2002)

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da Matemática, através do exercício lúdico em torno de questões de aritmética, bem como a aprendizagem da língua portuguesa, graças aos múltiplos provérbios que pontuam o texto.

Capa do livro 1+1=2 Gatos (2011)

Em 1+1=2 Gatos (2011), Maria do Carmo Rodrigues vai descrever as brincadeiras de uma menina de seis anos, o comportamento dos seus dois gatos, Tom e Riscas, e toda a envolvência familiar. O universo referencial, onde é facilmente reconhecível a ilha da Madeira – por via da aproximação do mar, da forte presença das buganvílias, das levadas e da típica quinta madeirense – decorre não somente do discurso verbal, mas também das fotografias que acompanham o texto narrativo. Maria do Carmo Rodrigues reserva, ainda, espaços em branco a serem completados pelo jovem leitor, associando, desta forma, uma função didática à vertente lúdica.

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Do tecido narrativo e de aventuras… roçando a escrita

Capa do livro Chamo-me Leovigildo Páginas de um Diário (1974)

Capa do livro A Jóia do Imperador (1992)

Poder-se-ão destacar quatro livros que encenam as aventuras de préadolescentes ocorridas na Madeira ou nos arredores de Lisboa: O Vencedor (1964), Chamo-me Leovigildo - Páginas de um Diário (1974), A Joia do Imperador (1992) e A Mensagem Enigmática (1993). Não chegando a constituir uma escrita de «série», estes quatro textos de Maria do Carmo Rodrigues relatam as aventuras vividas por jovens, unidos por laços de amizade e de sangue. Através de um enredo cheio de suspense, as narrativas propõem o desenvolvimento físico, intelectual e afetivo dos protagonistas que pertencem a um mundo relativamente coeso e organizado. Espelham, desta forma, a visão de um modelo social feliz, muito embora se espelhem mensagens de novas realidades.

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O Vencedor, com ilustrações de Constança Lucas, foi publicado inicialmente pela Edições Ática (1973). Assim acontece com Chamo-me Leovigildo (1974). Ambos os livros foram republicados, em 1990, sob a chancela das Edições Vela Branca. Estão assim reunidos os ingredientes para um projeto editorial, ligado, de certo modo, à formula fiction. Com A Jóia do Imperador e A Mensagem Enigmática, Maria do Carmo Rodrigues publica então novas aventuras na Editorial Presença. Os protagonistas não transitam dos livros vindos a lume na década de 70. Porém, a escritora não ficou alheia a um fenómeno editorial em voga protagonizado pelos livros de Blyton. Em A Mensagem Enigmática, com ilustrações de Teresa Cruz Pinho, a Editorial Presença acolhe Capa do livro O Vencedor (1964) a escrita de Maria do Carmo Rodrigues na coleção “À descoberta”. O leitor fica a conhecer as (des)venturas de Paulo, Isabel, Diogo, Leo ou Susana. Com a retoma de alguns personagens, a escrita para a juventude de Maria do Carmo Rodrigues dá continuidade a alguns desassossegos descritos em A Jóia do Imperador, cujas ilustrações, a cargo de Irene Lucília Andrade, sublinham, essencialmente, a cartografia insular e os momentos essenciais da narrativa.

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Da escrita faz-se intimismo Maria do Carmo Rodrigues publicou um livro com recorte intimista, de intenção realista, como se de uma passagem de testemunho se tratasse. Destinado à jovem adolescente que desperta para os sentidos e que se distancia, paulatinamente, do poder familiar, À Porta do Teu Coração (1988), desvenda tanto os primeiros segredos como as primeiras dúvidas existenciais. A epígrafe que abre o livro vem, assim, firmar um pacto de leitura: «The adolescent time is a daydreaming time». Recorrendo a uma linguagem imagética e à alegoria, a voz do texto trata de descortinar o que mais interpela estas idades, com particular destaque para o medo, a maldade, a ternura, a amizade e o amor. A adolescente deverá saber escolher a via certa, numa encruzilhada de várias situações, por vezes, distópicas. Dirigida a uma leitora, a escrita analisa a conduta dos adultos, promove, apesar de tudo, a confiança nos progenitores, enaltece a compaixão para com os necessitados, alerta para o peso das aparências e refere, ainda, as escolhas que devem ser feitas para combater preconceitos sociais e de casta.

Capa do livro À Porta do Teu Coração (1988)

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Da escrita faz-se poesia

Estou a crescer (2003), com ilustrações de Joana Campante, recolhe vinte e seis poemas para a infância. Roçando, alguns deles, a receção dos inícios da adolescência, recorda-se a infância, o núcleo familiar ou as primeiras emoções amorosas. As memórias fotográficas que pontuam a linguagem poética parecem sair de um baú de memórias. As fotografias a preto e branco reenviam para realidade pretérita da voz do texto. Ao dialogar humoristicamente com animais de estimação ou figuras lendárias da nossa cultura, a linguagem icónica sublinha o registo lúdico patente nas múltiplas encenações poéticas. Poesia, fotografia e ilustração convidam o leitor, em particular a jovem leitora, a entrar nos variados registos da Imaginação, da Realidade e do Afeto.

Livro Estou a Crescer (2003)

Nota conclusiva A escrita de receção infantojuvenil de Maria do Carmo Rodrigues sublinha, regra geral, relacionamentos autênticos, solidários e afetivos, motores de uma sociedade mais humana e fraterna. Não descurando a vertente lúdica que os textos dirigidos aos mais jovens comportam, a sua obra permite a consciencialização progressiva dessa nova (con)formação através de uma escrita que está próxima da Pedagogia, da Ética e da Essência.

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Jornal infantil A Canoa (1969-1971) [A Canoa] transportava uma pequena multidão de meninas e meninos em viagens deliciosas, hoje recordadas com carinho por todos os que agora são senhoras e senhores. A Canoa possuía claro está, uma timoneira que, contra ventos, marés e turbulências, sempre conduzia o barco a porto seguro. Os sonhadores tinham nomes conhecidos. Escritores como Matilde Rosa Araújo, Madalena Gomes, Maria Rosa Colaço, Ricardo Alberty, Alice Gomes, Ilse Losa, Fátima Leal, Sofia Sena, M. da Graça Moctzuma, Isabel César Anjo e outros, faziam parte desta tripulação, mais um pequeno grupo de marinhagem constituído por Luísa Clode, Elda Freitas, Elisabete Vieira da Luz, Fernando Brazão e eu. Falta referir o nome mais importante. Deixei-o para o fim de propósito. O nome da proprietária e timoneira dessa maravilhosa nave: Maria do Carmo Rodrigues. E afinal o que era a CANOA? Um jornal. O Jornal infantil único e especial, com independência e vida própria, depois de ter sido uma pequena folha em separata do Eco do Funchal, criado pela saudosa Maria Mendonça. Era então Maria do Carmo a dona, cabeça e coração desse jornal que circulou aqui pela ilha e pelo Continente, cuja qualidade foi salientada por alguns nomes ligados ao jornalismo e à escrita.2

Semanário A Canoa (17 de março 1969), n.º 2

Semanário A Canoa, (20 de maio 1971), n.º 33

2 Texto de Irene Lucília de apresentação do livro Aventuras de Chico Aventura de Maria do Carmo Rodrigues (s.d.). Fonte: ABM, MCR, cx. 6, n.º 16.

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A Canoa como suplemento infantil (1.ª série)

Inicialmente, foi um suplemento infantil quinzenal do Eco do Funchal. No primeiro número, vindo a lume a 3 de março de 1969, o intuito era claro no rumo lançado por Maria do Carmo Rodrigues: «Vamos lançar ao mar esta Canoa. Todos juntos. Uma pequena canoa pode transformar-se numa grande canoa, sempre que os homens e as crianças se amem». O último número desta primeira série foi publicado a 7 de março de 1970. Durante cerca de um ano, as ilustrações, quase sempre da responsabilidade de Irene Lucília Andrade, os múltiplos contributos, como, a título indicativo, o de Matilde Rosa Araújo, o de Madalena Gomes ou de Luiza Helena (pseudónimo de Luísa Clode), as anedotas, a seção reservada à poesia, à vertente educativa ou às recordações de Infância (com textos, por exemplo, de Carlos Lélis, Amélia Carreira, Margarida Silva), bem como os vários textos de leitores pretendiam educar e divertir um público infantil. Tratava-se de um projeto graficamente apelativo para chamar a atenção dos mais novos.

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A Canoa como projeto autónomo (2.ª série)

Este semanário, com sede na Rua 31 de Janeiro no Funchal, com propriedade, edição e direção de Maria do Carmo Rodrigues, era publicado na tipografia Minerva (Rua dos Netos). Esta segunda série foi anunciada nos seguintes termos: «Aí vem a nova CANOA, o jornal das crianças todas as quintas-feiras». Com corpo redatorial de Elizabeth Vieira da Luz, pintora Irene Lucília e professor Fernando Brasão, esta segunda série tinha orientação gráfica de Luiza Clode e administração de Elda Freitas. Apelou-se à inscrição e o custo variava para os assinantes desta serie (número avulso, assinatura mensal ou assinatura anual). O primeiro número publicado a 8 de outubro de 1970 foi acrescido de várias secções: teatro, notícias de eventos na Ilha da Madeira, entrevistas, reportagens, publicidade e banda desenhada. Esta seção esteve a cargo de Teresa Valente com «Graças e desgraças do André», mas foi interrompida. Rapidamente, esta segunda série tornou-se um projeto muito apelativo: mantinha os contributos de Irene Lucília Andrade, acrescentavam-se os de Dina Pimenta, de Margaria Lemos Gomes, de Eduardo de Freitas, entre outros. O semanário infantil viu reforçada a participação de proveniências diversas: de Manuela Nogueira, de Maria Rosa Colaço ou de Alice Gomes. Este projeto destacava-se, em particular, pelo regresso da banda desenhada. «Artimanhas de Saca-Rolhas E Tira-linhas» e as «Aventuras de Gil Pandeiro» ocupavam, assim, a última folha desta serie educativa e lúdica. Foi um ano intenso dedicado a um público jovem. Este projeto editorial continha excertos de textos de Maria do Carmo Rodrigues, posteriormente reunidos e editados em formato livro, como aconteceu com Meu nome é Leovegilgo páginas de um diário.

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Da escrita à representação Com a presente proposta de teatro para crianças “A História de João BemBom e João Bem-Mau”, Maria do Carmo Rodrigues põe à reflexão do público infantil a dualidade do “eu”. João que, primeiramente, é estudante, depois pintor de helicópteros, divide-se em diálogo entre um lado bom que o incita a ser pontual, obediente, trabalhador, honrado, e um lado mau que o convida, de forma humorística, à preguiça, à ociosidade, ao desrespeito pela propriedade alheia. João Bem-Mau (cá fora): Ouviste? O Elias gosta de ouvir histórias com imaginação – disse o helicóptero. Também eu, Elias! (para a plateia) E vocês aí, também gostam? Quanto mais fantasia, melhor, não é assim? As pessoas muito sensatas, que só pensam no trabalho, não têm graça nenhuma. João Bem-Bom: Já sei que não tenho graça nenhuma, mas se não fosse o meu trabalho de pintor, não estavas aqui, a conversar com o Elias… João Bem-Mau (muito contente): Ah! Já acreditas que o Elias fala! (…) Voz do helicóptero: João Bem-Bom, sou teu amigo, podes falar comigo, diz-me o que te preocupa… João Bem-Bom (já confiante): A questão é a seguinte, Elias amigo: quando aqui cheguei e me mandaram tratar de ti… sim, porque tu foste o meu primeiro emprego, e isso émuito importante para mim… quero dizer-te que gostei logo de ti. Quis tornar-te um ser humano, passei a chamar-te Elias… (João Bem-Mau vem à porta do helicóptero dizer à plateia, por gestos, que foi ele, João Bem-Mau, quem pôs o nome ao helicóptero) João Bem-bom (prosseguindo): Comecei a conversar contigo, mas nessa altura não me respondias. Achei que não tinhas voz, era natural, os helicópteros não falam. Hoje é que isto aconteceu, e eu estou confuso. A verdade é que ouvi a tua voz, muito clara. Não era impressão minha, como julguei a princípio. Que mais queria eu dizer? Perdi-me. Estou nervoso… ajuda-me! Diz lá se estás a compreender-me, se posso continuar… acho que estou a fazer figura de parvo. 3 Apontamento: Maria do Carmo Rodrigues e a sua obra (s.d.). Fonte: ABM, MCR, cx. 3, n.º 24. 4 Peça de teatro intitulada A História de João Bem-Bom João Bem-Mau (1987). Fonte: ABM, MCR, cx. 3, n.º 8.

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Estudo para a ilustração da capa do primeiro livro Dona Trabucha, a Costureira Bucha, da autoria de Eugênia Noronha, 1964

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