Revista Vitória outubro 2013

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mesmos bondade, bondade, mas bondade com gentileza, delicadeza, leveza, inteligência e desejo de aprender, pois que esta, a bondade traduzida em inteligência e muito estudo, também não dá pra dispensar na religião, e é outro modo de dizer sabedoria. Inteligência todo mundo tem, estudar é decisão. Faz-se assim sabido quem lê os cadernos em que a vida escreve, lições tão bonitas. Mas a vida também deixa garranchos e alguns, muitos, incompreensíveis verbetes. O que não dá pra entender agora, quem sabe depois. O que não dá pra entender sozinho, quem sabe aos olhos de alguém que vem ler com a gente os garranchos se revelem belas páginas. Faz-se assim, sábio, sabido e saudável, pelo menos mais saudável, ou menos doente, quem lê ainda aqueles outros cadernos, livros, muitos, que muitos escreveram. Dá trabalho. Poesia nem dá trabalho, é só seguir na leitura, como cheiro que entra na gente. E leitura boa, poesia antes de dormir é melhor do que rivotril - o Brasil é o maior consumi-

dor – clonazepam, diazepam e etc. e tal. Ai Meu Deus, as farmácias são tão cheias de luzes, convidativas... Não nos deixeis cair em tentação. A medicalização da vida não pode ser solução. Eu seguia por ali, pelo cais dos pescadores, na Praia do Suá, para pegar as escadarias e becos que serpenteiam por entre as casas e as gentes boas. Coisa de gente em qualquer lugar é ser bom. Do mais é desencontro com o destino. No muro, no pé da escadaria uma frase: galinha que anda com pato morre afogada. Lembrei da águia, aquela, que de viver com as galinhas desaprendeu das próprias e inatas competências de voar. Mas ali, na pichação no muro, já estava um sentido a experimentar: quem tomo por amigos? Quem escolho como companheiros? Em que lista incluo o meu nome? Com quem ando? Com quem aprendo a voar? A lista grande, uma genealogia, o Evangelho da festa daquele dia de setembro, já criava ecos em meus mundos. Toda

As pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas” aquela lista, de Abraão até Maria, vereda grande, não pedia outra coisa senão outro nome, o meu, o seu, o de quem vive agora. Decerto outros nomes precisam ser colocados ali, na sequência, numa afirmação de pertença e de incumbências. Pertença a uma estirpe que atravessa milênios, linhagem da qual faço parte, nela me inscrevo. Incumbências que me são pedidas, que me são delegadas, em urgências: fazer da vida uma obra, mas de arte. Inacabo-me neste texto, depois me experimento em continuações. Dauri Batisti

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