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EM | Setembro / Outubro | 2023
EM Profissionais
Eletromobilidade – Por que você precisa se preocupar com isso agora Vinícius Ayrão
Em meu texto de estreia nesta coluna, optei por iniciar com uma visão mais estratégica sobre eletromobilidade. Uma questão tem ocupado minha mente nos últimos meses: é o momento de os profissionais de engenharia elétrica e das empresas de engenharia elétrica, instalações e de energia investirem recursos (tempo, capital e pessoas) no assunto da eletromobilidade?
A pauta renovável As mudanças climáticas têm provocado fortes preocupações no mundo. Há correntes de opinião que entendem que as mudanças climáticas são causadas pelo ser humano e há outras que não. Não é meu objetivo mudar sua opinião, seja ela qual for. Mas esse assunto me faz recordar um pensamento atribuído a Blaise Pascal, quando questionado se acreditava ou não em Deus. Pascal teria respondido que, se acreditasse e Deus não existisse, ele não teria problemas, uma vez que não haveria vida após a morte. No entanto, se Deus existisse e ele não acreditasse e não levasse uma vida segundo os preceitos cristãos, enfrentaria problemas após a morte. Logo, a decisão lógica seria levar a vida partindo do pressuposto de que Deus existe. Dessa forma, a primeira conclusão a que chego é que, como sociedade, precisamos partir do pressuposto de que a descarbonização é necessária. No mundo, diversos fundos de investimento e governos defendem essa necessidade e há dinheiro envolvido. É quase um princípio do capitalismo: se há dinheiro envolvido, algo acontecerá. A geração de energia elétrica foi altamente influenciada por isso: o crescimento da
energia solar e eólica no mundo é prova cabal. Novas tecnologias que aumentem a eficiência da energia solar, bem como a expansão da energia eólica onshore e o desenvolvimento de usinas eólicas offshore, colocam esses mercados como altamente promissores. Mas a geração de energia elétrica por fontes renováveis não descarboniza as frotas de veículos.
Políticas ESG As grandes empresas mundiais estão aderindo a políticas ESG (Environmental, Social and Governance). A redução no consumo de energias (através de eficiência energética) é a primeira ação a ser realizada. A segunda etapa é o uso de energias oriundas de fontes renováveis. Tratando de energia elétrica, no Brasil as empresas têm opção de comprar energia gerada a partir de fontes renováveis aderentes ao SCEE - Sistema de Compensação de Energia Elétrica, tanto no ACR - Ambiente de Contratação Regulado quanto no ACL Ambiente de Contratação Livre. Mas, e as frotas de veículos?
Descarbonização das frotas Os caminhos para descarbonizar as frotas são vários e é difícil dizer qual deles será preponderante (sem contar a possibilidade de aparecimento de novas tecnologias). Destaco alguns: • uso de biocombustíveis; • uso de veículos elétricos em uma matriz elétrica de fonte predominantemente renovável; e
•
uso de células de hidrogênio (a partir de H2V).
O uso de biocombustíveis pode envolver o etanol e o biodiesel, além do biometano (oriundo do biogás). O Brasil foi precursor do uso do etanol em escala, e o avanço dependerá de políticas públicas, em minha opinião. As células de hidrogênio ainda dependerão do H2V e não acontecerão em escala no curto prazo. Restam então os veículos elétricos. Mas veículos elétricos apenas são renováveis se tivermos geração de energia renovável na escala necessária. Como o Brasil tem uma matriz elétrica predominantemente renovável, temos uma vantagem quando falamos de descarbonização das frotas. Além da matriz energética predominantemente renovável do SIN – Sistema Interligado Nacional, temos a forte expansão da geração distribuída (GD), principalmente de fonte solar, o que favorece para empresas de todos os portes fazerem o processo de descarbonização a partir de eletrificação de frotas.
O mercado de veículos elétricos Os preços dos veículos elétricos estão em queda. A entrada de novos fabricantes (BYD e GWM) trouxe uma dinâmica nova ao mercado, com queda de preços e aumento do market share dos veículos elétricos. É possível enxergar que há uma aposta muito grande por parte das montadoras chinesas no crescimento desse mercado. As au-