2ª Edição Jornal APRS

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2a ED. JULHO 2015

Vamos todos à XII Jornada de Psiquiatria da APRS!

Gramado/RS – 3 a 5 de setembro de 2015


Expediente do Jornal – JÁ Jornal da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul – JÁ Av. Ipiranga 5311/202 90610-001 – Porto Alegre – RS – Brasil www.aprs.org.br – aprs@aprs.org.br

DIRETORIA

CONSELHO EDITORIAL DO JORNAL

Gestão 2014/2015

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edição, julho

2015

Presidente

Editor

Carlos Alberto Iglesias Salgado

Flávio Milman Shansis

Vice-Presidente Carlos Augusto Ferrari Filho

Membros

Diretor Tesoureiro

Bettina Cotliarenko Fichbein

Carlos Renato Moreira Maia

Carla Hervê Moram Bicca

Diretor Tesoureiro Adjunto

Daniel Tornaim Spritzer

Flávio Milman Shansis

Eneida Iankilevich

Diretor Secretário Adjunto

do

E xercício Profissional

do

Conselho Editorial

Fernanda Lia de Paula Ramos

Carlos Alberto Machado do Nascimento

Gustavo Schastatsky

Diretor Científico

José Caetano Dell Aglio Junior

Rodrigo Grassi Oliveira

Laís Knijnik

Diretora Secretária

Lucas Spanemberg

de

Normas

Patrícia Fuhro Vilas Boas

Luis Guilherme Streb

Diretora

Mário Tregnago Barcellos

de

Divulgação

Anahy Fagundes Dias Fonseca

Matias Strassburger Miréia Fortes Vianna Sulzbach

Membros Suplentes

Roberta Rossi Grudtner

Fernando Lejderman Madeleine Scop Medeiros

Projeto

Marcelo Moraes Victor

Marta Castilhos

Conselho Fiscal

Editoração 2a

Hans Ingomar Hermann Albert Schreen

YOYO ateliê gráfico

gráfico original

edição

Paulo Henrique Gomes de Seixas Rafael Gomes Karam

Revisão Jornalística Fernanda Dora Luzzatto

SECRETARIA DA APRS Coordenadora

administrativa financeira

Ana Paula Sarmento Cruz Analista Administrativa Laís Witt Paim Higienização Rosilei Carvalho Ferreira


Sumário A palavra do Presidente / 4 Editorial / 5 Carta ao editor / 6 Matéria de capa / 8 Casos Clínicos / 16 Revisões não sistemáticas / 22 Drops / 28 Arte dos Psiquiatras / 32 História da Psiquiatria / 34 Instituições Psiquiátricas Gaúchas / 36 Psiquiatras por aí / 40 Encontro entre gerações / 44 Notícias da APRS / 47 Espaço do sócio / 51


A palavra do Presidente Dr. Carlos Alberto Iglesias Salgado Presidente da APRS na gestão 2014/2015 Prezados Leitores do Jornal da APRS, diante de mais uma edição da Jornada de Psiquiatria da APRS, temos muito a comemorar. Nossa Jornada nos dá um panorama do estado da arte em psiquiatria, cada vez mais complexa e desafiante. Nossa especialidade médica nos instiga com os meandros dos caminhos da psicopatologia e de seus correspondentes recursos terapêuticos. Nosso convidados para esta edição da Jornada da APRS oferecem uma visão abrangente e ao mesmo tempo vertical. Tratemos de desfrutar também do convívio com colegas no melhor clima amistoso de nossa Serra gaúcha. Ademais, neste 2015, nosso Jornal da APRS ganha novo estilo e fôlego renovado. Nossa revista, a Trends in Psychiatry and Psychotherapy galga a indexação plena no Med Line. Garante aos autores que nos prestigiam uma brutal ampliação da abrangência de público leitor. Esta Qualificação, assim mesmo, com quê maiúsculo, é produto do esforço continuado de nossos vários editores, culminando neste desfecho que tanto prestigia nossa agremiação. Queremos que a Jornada possa também cada vez mais espelhar a excelência da Psiquiatria Internacional. Mais especialmente, queremos compartilhar nossa capacidade, Psiquiatra do extremo sul de nosso Brasil, de nos mantermos mui íntimos do que de melhor a Ciência Psiquiátrica tem a mostrar. Tratemos de tornar a Jornada mais do que nunca Nossa Jornada, objeto de desfrute e de crítica saudável que a tem mantido atraente e desafiadora. Bem-vindos todos à XII Jornada de Psiquiatria da APRS e mãos à obra!


Editorial Dr. Flávio Shansis Editor do Jornal da APRS Caros colegas e leitores, é com satisfação que publicamos o segundo número do nosso novo JA. O retorno dos sócios em relação ao primeiro número foi muito gratificante. Nos parece que o novo formato e o dinamismo que foi impresso ao jornal, a partir do esforço de todo o novo Conselho Editorial, terminou por agradar. Satisfeitos, portanto, com o resultado obtido, nos entregamos agora à continuidade desse novo projeto gráfico e editorial. Nesse novo número, seguimos com as seções constantes no anterior, o que dá uma estabilidade editorial que nos parece importante, ainda mais quando se inicia uma nova fase. Junto às seções permanentes, a ideia é que sempre o JA traga um assunto “de capa”. Na última edição o tema foi o não fechamento do Hospital Psiquiátrico São Pedro, questão muito próxima a toda a comunidade de psiquiatria sul-rio-grandense. Nesse, por razões óbvias, o tema de capa é a nossa querida Jornada Gaúcha de Psiquiatria. Dedicamos uma boa parte de nosso jornal a esclarecer, aos nossos sócios e também aos não-socios, a importância desse evento. Mais uma Jornada que, com certeza, irá engrandecer as melhores tradições da psiquiatria gaúcha e a história científica sólida da nossa APRS. Esperamos que o material aqui publicado sirva de base para os que já realizaram a sua inscrição e que sirva de estímulo para aqueles que ainda não o fizeram. A todos, enfim, nossos desejos de uma leitura prazerosa do JA e um chamamento a nos encontramos pessoalmente em setembro, em Gramado, na XII Jornada Gaúcha de Psiquiatria!

Abraços do Conselho Editorial

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Carta ao Editor Hospital Psiquiátrico São Pedro na mira da Psicofobia

No último dia 29 de abril, em torno de 500 pessoas comparecem à audiência pública promovida pela Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul para debater a lei da reforma psiquiátrica. O polêmico tema da desinstitucionalização era o pano de fundo para outras questões que envolviam a política estadual da Saúde Mental e o repasse de verbas para programas e instituições que tratam pacientes com doença mental. Servidores, alunos, professores e colaboradores ligados ao Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP) compareceram à audiência, manifestando apoio ao plano de governo e à defesa da instituição centenária, que assiste diariamente dezenas de casos de alta e média complexidade e presta assessoria a serviços de atenção básica ligados à saúde mental. Manifestantes contrários ao modelo de assistência hospitalar especializada, embasada no conhecimento científico, expuseram faixas e bradaram gritos que destoavam da realidade atual que faz parte do cotidiano do HPSP. Os representantes do antimanicomialismo preferem continuar no desconhecimento dos atuais serviços de alta qualidade prestados pelos profissionais do HPSP, uma das instituições-alvo do movimento. A luta para reduzir os leitos psiquiátricos no Estado, já em número muito defasado, é a bandeira deste grupo, cujas repercussões são sentidas pelas populações cada vez mais desassistidas de centros especializados na promoção, recuperação e promoção da saúde mental.

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O São Pedro, apesar de ser alvo de ataques contínuos da psicofobia, tem muito mais que uma história de pioneirismo na assistência ao doente mental no Rio Grande do Sul. O hospital desenvolve atividades de assistência e ensino, pesquisa acadêmica e extensão, contando com programas de residência médica para a formação de médicos psiquiatras e psiquiatras da Infância e Adolescência. A área de assistência populacional do HPSP é de aproximadamente 5 milhões de habitantes, sendo referência para 88 municípios do Rio Grande do Sul. Muitos municípios com graves e sérios problemas em suas redes de serviços de saúde mental encontram no São Pedro atendimento especializado, humanizado e que segue as evidências médico-científicas na área de saúde mental. No HPSP, o trabalho assistencial é desenvolvido em equipes multiprofissionais, compostas por médicos, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, educadores físicos, fisioterapeutas e muitos técnicos, que somam um total de 700 funcionários que trabalham diuturnamente para o bem-estar dos pacientes que batem à porta desse centro de saúde mental emblemático. Composto por unidades de internação masculina e feminina, de desintoxicação, de atendimento a crianças e adolescentes, ambulatórios especializados; a instituição realiza atividades interdisciplinares e desenvolvidas visando o atendimento humanizado, integral e eficiente para cada paciente. É contra essa instituição, que se esforça para manter seu nível de excelência, que se levantam,


infelizmente, profissionais discordantes da política de atendimento por níveis de complexidade, alguns políticos e figuras públicas que, aproveitam-se de momentos e espaços públicos para manifestarem opiniões favoráveis ao fechamento do HPSP, com a consequente desassistência aos doentes mentais. Isto é psicofobia!

objetivo levar ao conhecimento público o trabalho sério que é desenvolvido em suas dependências. Não há espaços que não possam ser vistos no HPSP, a instituição mantém-se de portas abertas para receber, trocar, contribuir e crescer com todos que puderem somar para a qualificação da assistência integral ao doente mental.

O déficit de leitos hospitalares é uma realidade dura e cruel que afeta praticamente todo o país e, no âmbito da saúde mental, a situação é especificamente crítica, tendo em vista a imensa demanda de pacientes graves que necessitam de internação hospitalar qualificada para esses momentos críticos. A política de atenção ao doente mental deve ser baseada em níveis de complexidade de atenção. Portanto, a existência de profissionais treinados para atuação em postos de saúde, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), ambulatórios e leitos especializados de atenção secundária e em hospitais especializados é, na verdade, uma conquista. Por isso, a disposição da direção e dos profissionais da instituição em contribuir para a formação de profissionais e a qualificação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), o que já acontece há algumas décadas.

Entretanto, não podemos mais admitir discursos desinformados, preconceituosos e atrasados, que fortalecem a propagação de ideias errôneas e com potencial imenso dano ao árduo e sério trabalho realizado para os doentes e suas famílias que recorrem ao hospital na esperança de encontrar alívio para o sofrimento crônico com o qual convivem. Apesar do clima de animosidade que encerrou os debates na Audiência da ALERGS, os funcionários, estudantes, professores e colaboradores que dedicam seu tempo ao HPSP mantém-se firmes em seus propósitos de levar atendimento ético, atualizado e humanizado aos portadores de doença mental do Rio Grande do Sul. As portas e o coração do Hospital Psiquiátrico São Pedro se mantém abertos, lutando contra a psicofobia e a favor da saúde mental.

O HPSP mantém um programa de visitação aberto à comunidade, que entre outros, tem como Roberta Rossi Grudtner e Gutemberg Bernardino Siqueira

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12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Caminhos da Vulnerabilidade pautam XII Jornada de Psiquiatria da APRS Convidados nacionais e internacionais abordarão situações de fragilidade clínica vividas tanto pelo paciente como por profissionais Os Caminhos da Vulnerabilidade serão tema de debate entre médicos psiquiatras, pesquisadores, especialistas e acadêmicos das áreas da Saúde entre os dias 3 e 5 de setembro de 2015. O Centro de Convenções do Hotel Serrano, em Gramado (RS), na Serra gaúcha, receberá convidados nacionais e internacionais que abordarão diversas facetas de inúmeras condições de fragilidade, não somente as vividas pelos pacientes, mas também pelos profissionais envolvidos com situações clínicas e cotidianas. A programação faz parte da XII Jornada de Psiquiatria, fórum científico promovido pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) bianualmente e que, nesta edição, somará 16 mesas e sete conferências, além de seminários e workshops. A entidade trará pela primeira vez ao Brasil um

dos maiores especialistas em neurobiologia dos maus-tratos na infância, Martin H. Teicher. Professor de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade de Harvard, o convidado falará sobre as consequências dos maus-tratos em períodos críticos do desenvolvimento do indivíduo, tomando como base estudos feitos no McLean Hospital em Belmont, Massachusetts, da Harvard Medical School. Outro importante painel será conduzido pelo psiquiatra e geneticista norte-americano Claude Robert Cloninger, da Washington University, que desenvolveu uma das principais teorias da personalidade, englobando seu modelo tridimensional. Renomado professor de Psiquiatria, Psicologia e Genética, ele explicará o modelo psicobiológico de personalidade, composto, segundo ele, por temperamento e caráter, ambos interagindo entre si e, portanto, igualmente vulneráveis.

Meia idade, disforia de gênero e rumos da psiquiatria na visão de convidados internacionais Também confirmaram presença na XII Jornada de Psiquiatria os doutores Guillermo Julio Montero, psicanalista didata membro da International Psychoanalytical Association e diretor da Fundación Travessia, organização argentina dedicada à pesquisa e assistência às questões psicológicas decorrentes da transição e crise de meia idade, e a holandesa Baudewijntje Kreukels, pesquisadora do Center of Expertise on Gender Dysphoria and the Department of Medical Psychology of the VU University Medical Center in Amsterdam, que falará sobre “Disforia 8

de Gênero e Transtornos do Desenvolvimento Sexual”. “Para Onde a Psicofarmacologia Está Rumando” será tema de fórum conduzido pelo norteamericano Klaus Miczek, professor titular de Psicologia, Farmacologia, Psiquiatria e Neurociências da Tufts University (Medford/ Boston, MA, Estados Unidos) e editor do periódico Psychopharmacology. A programação completa você confere nesta edição do Jornal da APRS e no site www.aprs.org.br.


AGENDE-SE

12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

» O QUE: XII Jornada de Psiquiatria da APRS – Caminhos da Vulnerabilidade » QUANDO: 3, 4 e 5 de setembro de 2015 – Quinta-feira, sexta e sábado. » LOCAL: Centro de Convenções do Hotel Serrano Gramado/RS, Avenida das Hortênsias, 1480 (acesso principal pela Rua Ângelo Bisol, Centro). » PÚBLICO ALVO: Médicos psiquiatras, pesquisadores, especialistas e acadêmicos das áreas da Saúde. » Outras informações e inscrições: www.aprs.org.br ou ainda pelos fones (51) 3024.4846 e (51) 8116.5896 e e-mail aprs@aprs.org.br

Fórum científico promovido pela APRS bianualmente somará 16 mesas e sete conferências nesta edição, além de seminários e workshops.

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12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Referência em neurobiologia dos maus-tratos na infância na Jornada Dr. Martin Teicher falará pela primeira vez no Brasil sobre as consequências de atos abusivos e negligentes durante o desenvolvimento crítico do indivíduo

O público presente à XII Jornada de Psiquiatria, fórum científico promovido pela Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), terá uma oportunidade única. No dia da abertura do evento, quinta-feira, dia 3 de setembro, às 17h30min, ocorre a conferência “As Cicatrizes dos MausTratos na Infância”, com o Dr. Martin Teicher (EUA).

Teicher indica que os maus-tratos na infância não provocam apenas traumas psicológicos reversíveis, mas também danos permanentes no desenvolvimento e funções cerebrais. Até a década de 90, muitos profissionais achavam que os prejuízos gerados eram basicamente um problema de processo, ou, numa linguagem figurada, problemas de “software”, tratáveis com uma “reprogramação” via terapia. No entanto, novas investigações sobre as

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consequências dos maus-tratos na infância, incluindo o trabalho feito por Teicher e sua equipe no McLean Hospital, sinalizam para uma história diferente, apontando para danos de “hardware”.

AGENDE-SE

Será a primeira vez que um dos maiores especialistas em neurobiologia dos maus-tratos na infância falará sobre seus estudos no Brasil. Diretor do Developmental Biopsychiatry Research Program at McLean Hospital, em Belmont, e do Laboratory of Developmental Psychopharmacology, o convidado irá discorrer sobre as consequências de atos abusivos e negligentes no desenvolvimento crítico do indivíduo. Também professor na Escola de Medicina do Department of Psychiatry at Harvard Medical School, ele mostrará os resultados de estudos feitos no McLean Hospital e na esfera acadêmica.

» Conferência “As Cicatrizes dos MausTratos na Infância” » PALESTRANTE Dr. Martin Teicher (EUA) » QUANDO 03/09/2015 (quinta-feira) » HORÁRIO 17h30min


12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Modelo Tridimensional da Personalidade pela visão de seu criador C. R. Cloninger falará sobre a teoria durante a cerimônia de abertura da Jornada de Psiquiatria

herdados) com o caráter (traços aprendidos), ambos interagindo entre si e, portanto, igualmente vulneráveis. É uma das teorias mais aceitas atualmente para explicar como se forma a personalidade, bem como as considerações a respeito dos transtornos de personalidade. Seus estudos somam aspectos interculturais que percorrem toda a vida e tratamento do indivíduo, sendo dirigidas aos três aspectos de seres humanos – corpo, pensamento e psique –, a fim de promover a coerência psicobiológica, que inclui felicidade e realização.

Renomado professor de Psiquiatria, Psicologia e Genética, o profissional explicará o modelo baseado no tripé “bio-psico-social”, concebido como a interação entre temperamento (traços

AGENDE-SE

O psiquiatra e geneticista norte-americano Claude Robert Cloninger, diretor do Sansone Family Center for Well-Being at Washington University, de St. Louis, e do Center for Psychobiology of Personality, confirmou presença na Jornada de Psiquiatria, quando falará sobre o Modelo Tridimensional da Personalidade, logo após a cerimônia de abertura da XII Jornada de Psiquiatria, marcada para o dia 3 de setembro, às 20h. Já na manhã de sexta-feira, dia 4, ele conduz a conferência “Vulnerabilidades Genéticas e Psiquiatria”.

Cloninger diz que sua atenção está focada em avaliar e tratar variáveis biológicas, mentais e espirituais, buscando as causas de doença e fontes de bem-estar, ao invés de reduzir a psiquiatria ao tratamento dos sintomas.

» Conferência “Modelo Tridimensional da Personalidade” » PALESTRANTE Dr. Claude Robert Cloninger (EUA) » QUANDO: 03/09/2015 (quinta-feira) » HORÁRIO: 20h » Conferência “Vulnerabilidades Genéticas e Psiquiatria” » PALESTRANTE Dr. Claude Robert Cloninger (EUA) » QUANDO: 04/09/2015 (sexta-feira) » HORÁRIO: 8h30min

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12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Perspectivas psicanalíticas na compreensão da meia-idade Na sexta-feira, dia 4 de setembro, a XII Jornada de Psiquiatria recebe as conferências “Actualización psicoanalítica de la MADURESCENCIA (mediana edad)” e “La MADURESCENCIA (mediana edad) en el paciente y el psicoanalista: vicisitudes de una incertidumbre compartida”, com o Dr. Guillermo Julio Montero. O convidado é psicanalista didata, membro da International Psychoanalytical Association e autor de vários livros, entre eles, “La travesía por la mitad dela vida — Exégesis psicoanalítica”, “Para comprender la mediana edad: historias de vida” e “Mediana edad: estudios psicoanalíticos”. Diretor da Fundación Travessia, organização argentina voltada à pesquisa e assistência às questões psicológicas decorrentes da transição e crise de meia-idade, Montero dedica seus estudos ao entendimento do envelhecimento.

AGENDE-SE

No sábado, dia 5, ele ainda integra mesa redonda intitulada “Século XXI — Envelhecimento de Pacientes e de Terapeutas”.

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» Conferência “Actualización psicoanalítica de la MADURESCENCIA (mediana edad)” » PALESTRANTE Dr. Guillermo Julio Montero » COORDENAÇÃO: Anete Blaya Luz » QUANDO: 04/09/2015 (sexta-feira) » HORÁRIO: 11h30min

» Conferência “La MADURESCENCIA (mediana edad) en el paciente y el psicoanalista: vicisitudes de una incertidumbre compartida” » PALESTRANTE Dr. Guillermo Julio Montero » COORDENAÇÃO: Alfredo Cataldo » QUANDO: 05/09/2015 (sábado) » HORÁRIO: 8h


12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Disforia de Gênero e Transtornos do Desenvolvimento Sexual A holandesa Baudewijntje Kreukels confirmou sua presença na XII Jornada de Psiquiatria da APRS, quando falará sobre seus estudos nas áreas de Disforia de Gênero e Distúrbios de Desenvolvimento Sexual, conferência que ocorre no final da tarde de sexta-feira, 4 de setembro. Membro do comitê diretivo da Rede Europeia de Investigação de Incongruência de Gênero, Disforia de Gênero e Transtornos do Desenvolvimento Sexual, a doutora em Psicologia é pesquisadora do Center of Expertise on Gender Dysphoria and the Department of Medical Psychology of the VU University Medical Center, em Amsterdã. Sua linha de pesquisa versa sobre a etiologia e o desenvolvimento da identidade de gênero e da incongruência de gênero, bem como a avaliação dos cuidados e tratamento para a incongruência de gênero.

AGENDE-SE

Também integra o grupo que estuda a revisão dos critérios para a incongruência de gênero na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial de Saúde (OMS). » Conferência “Disforia de Gênero e Transtornos do Desenvolvimento Sexual” » PALESTRANTE Dra. Baudewijntje Kreukels (Holanda) » QUANDO: 04/09/2015 (sexta-feira) » HORÁRIO: 18h

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12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Primeira edição do Encontro Sul-Riograndense de Mindfulness

Klaus Miczek, professor titular de Psicologia, Farmacologia, Psiquiatria e Neurociências da Tufts University (Medford/Boston, MA, Estados Unidos), será o responsável por conduzir o fórum de discussão “Para Onde a Psicofarmacologia Está Rumando”. Ele é o principal editor do periódico Psychopharmacology e dedica seus estudos a investigar os mecanismos cerebrais da agressão, ansiedade e drogas de abuso.

Entre as novidades da Jornada de Psiquiatria da APRS, está a realização do 1º Encontro SulRiograndense de Mindfulness. O evento ocorre na sexta-feira, 4 de setembro, a partir das 14h. No primeiro momento, serão palestrantes a psiquiatra e mestre em Ciências Médicas Carla Bicca, o médico psiquiatra e um dos pioneiros na área de terapia cognitivo-comportamental, Paulo Knapp e o médico e PHD Marcelo Marcos Piva Demarzo. Às 15h30min, será a vez da professora residente do Khadro Ling, Dra. Lama Sherab Drolma, expor suas ideias, juntamente com a neurocientista do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Elisa Harumi Kozasa, e o professor colaborador do Centro de Estudos Luís Guedes do Departamento de Psiquiatria da UFRGS e médico psiquiatra José Ovidio Waldemar.

1o encontro sul-riograndense

de

Mindfulness

Fórum debate rumos da psicofarmologia

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Organização:

de

elisa HaruMi Kozasa

neurocientista do instituto do cérebro Hospital israelita albert einstein.

do

Marcelo Marcos piva deMarzo Médico e

pHd.

carla bicca psiquiatra e Mestre eM

ciências Médicas.

paulo Knapp Médico psiquiatra e uM dos pioneiros na área de terapia cognitivo-coMportaMental.

José ovidio WaldeMar Médico psiquiatra e professor colaborador do

centro de estudos luís guedes de psiquiatria da ufrgs.

sHerab drolMa laMa

e professora residentes do

coordenação:

do

departaMento

KHadro ling

dr. leandro tiMM pizutti

seteMbro / sexta-feira / 14

Hs

Realização: Filiada a:

APRS

Word Psychiatric Association WPA

NUPE Núcleo de Psiquiatria e Espiritualidade Associação de Psiquiatria do RS - APRS


12ª JORNADA DE PSIQUIATRIA DA APRS

Consultório fechado, janelas abertas para a confraternização e o conhecimento Coordenador da Jornada, o professor doutor Rodrigo Grassi de Oliveira fala da importância do evento: “É um momento de confraternização que só ocorre a cada dois anos, no qual fechamos o consultório e nos concentramos na Serra gaúcha para nos atualizar e reforçar laços com colegas, realizando um networking que raras vezes temos a oportunidade de vivenciar”. O médico psiquiatra destaca que ainda não foi estabelecido um modelo completo na psiquiatria que dê conta do entendimento global do adoecimento e da saúde.

AGENDE-SE

Rodrigo aponta que existe vulnerabilidade dentro do próprio ofício. “É a primeira vez que propomos um tema onde também somos protagonistas. Quantas vezes o profissional de saúde não se coloca em uma situação de vulnerabilidade no atendimento?”, questiona. O presidente da APRS, Carlos Alberto Iglesias Salgado, destaca que a Jornada é uma das devoluções que a APRS proporciona aos seus associados, oferecendo um ambiente e evento não somente de interação e trocas, mas de alta qualidade.

*Programação preliminar, sujeita a alterações.

•••••MESAS REDONDAS••••• Quinta-feira – 03/09/2015 » Vulnerabilidade em Psicose – 14h, Sala 1 » Estresse e Vulnerabilidade para a Dependência Química – 14h, Sala 2 » Depressão: Essa “Mascarada” – 14h, Sala 3 » Simulação de Doenças: Vulnerabilidade de Quem? – 15h30min, Sala 2 » A Deficiência Psicossocial e o Trabalho Formal – 15h30min, Sala 3

•••••••••SIMPÓSIOS••••••••• » A clínica dos achados recentes no TDAH em adultos – 14h, Sala 1 » Século XXI - Envelhecimento de Pacientes e de Terapeutas – 14h, Sala 2 » Intervenção/prevenção do Uso de Drogas em População de Risco – 14h, Sala 3 » Vulnerabilidade no Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) – 15h30min, Sala 1 » Maconha e Vulnerabilidade – 15h30min, Sala 2

Sexta-feira – 04/09/2015 » As Vulnerabilidades na Sagrada Família – 14h, Sala 1

••FÓRUNS DE DISCUSSÃO••

Sábado – 05/09/2015 » Identidades Sexuais e Vulnerabilidades – 8h, Sala 2 » Fisiopatologia da Vulnerabilidade na Depressão – 10h, Sala 2

Quinta-feira – 03/09/2015 » Maldade, Ética e Corrupção no Cotidiano – 15h30min – Sala 1 Sexta-feira – 04/09/2015 » Para onde a Psicofarmacologia Está Rumando – 15h30min – Sala 1

Quinta-feira – 03/09/2015 » Para onde a Psiquiatria está Rumando Sexta-feira – 04/09/2015 » Revista Trends - Como escrever um artigo científico – 14h – Sala 2 » O Papel de Biomarcadores na Dependência Química - 15h30min – Sala 2

•••••••PAINEL DIGITAL•••••• Sábado – 05/09/2015 » A Crise da Psiquiatria – 17h30min – Sala 1

•••••••••WORKSHOP•••••••• Sábado – 05/09/2015 » Mindfulness – 8h e 10h (dois horários) 15


CASOS CLÍNICOS

Coordenação: Dr. Matias Strassburger, Dr. José Caetano Dell Aglio Jr, Dr. Gustavo Schestatsky e Dra. Bettina Fichbein.

Caso Clínico Por Rafael Vieira de Oliveira, Mateus Reche, Juliana Bernhardt Identificação: P.A.S.M., 32 anos, caucasiana, católica, ensino superior (pedagoga), trabalho voluntário em abrigo como auxiliar pedagógica, sem filhos, natural e procedente de Porto Alegre, RS. Motivo da consulta: encaminhada da UBS uma semana após um atropelamento na faixa de pedestres. Queixa principal: “Não aguento mais contar as crianças.”

HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL A paciente foi encaminhada da unidade básica de saúde por piora há dois anos dos rituais de limpeza e contagem, como o que ocorrera na semana anterior à sua vinda ao ambulatório Melanie Klein, quando fora atropelada por estar contando a faixa de pedestres. Relatou que os sintomas iniciaram na infância, porém agora estavam causando muito sofrimento. Conta que acende e apaga as luzes da sala, repetidamente penteia os cabelos e faz ligações telefônicas frequentes para o namorado, mesmo sem motivo aparente. O desempenho no trabalho piorou significativamente. Caso não complete seus rituais de contagem – enumerar em ordens diversas os alunos, além de exigir alinhamento das classes em sala de aula, não consegue realizar suas tarefas, em virtude de ideias intrusivas com conteúdo de violência envolvendo acidentes ou morte de familiares. Iniciou tratamento no ambulatório destinado a tratamento combinado farmacológico e terapia 16

cognitivo-comportamental, momento em que se realizou investigação clínica de condições médicas gerais e foram descartados outros transtornos psiquiátricos comórbidos. Quando iniciou tratamento, estava em uso de fluoxetina (20mg/dia) que fora substituída, após sua otimização, por sertralina em doses crescentes até a dose de 200mg/dia, além da realização de exposições em sessão, ficando com a tarefa de realizá-las entre as sessões, conforme sistematização da realização das tarefas. Houve melhora dos sintomas acima descritos: redução dos rituais de contagem, assim como de limpeza e das ideias intrusivas. Porém, continuava com a compulsão de realizar dezenas de ligações telefônicas diárias. Também, estava infeliz com seu relacionamento interpessoal. Queixava-se que o namorado não lhe dedicava a atenção merecida, assim como suas relações sexuais não eram satisfatórias. Foi encaminhada para avaliação em ambulatório de psicoterapia de orientação analítica. Após entrevistas iniciais e nova investigação clínica, momento em que foi feito diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica e encaminhamento para acompanhamento com cardiologista, o qual prescreveu atenolol (50mg/dia), foi realizado contrato e estabelecido o horário das sessões semanais. Durante o processo terapêutico, a jovem prioriza a temática sobre a família e seu conturbado namoro. Em determinada sessão, a terapeuta observa irritabilidade e o relato de compras e gastos impulsivos, o que a deixou reflexiva em relação ao estado da paciente, ficando com a hipótese de que se tratava de uma apresentação


CASOS CLÍNICOS

distinta até então. Pensou no diagnóstico de transtorno de humor bipolar. Na sessão seguinte, a Sra P.A.S.M. traz uma carta psicografada de uma sessão espírita que frequentou na semana, com os dizeres de que seu médico estaria equivocado em relação ao seu diagnóstico psiquiátrico e que sua problemática estaria relacionada com bipolaridade. A terapeuta investiga outros sintomas e confirma episódio de hipomania, momento que inicia uso de carbonato de lítio, indo até a dose de 1200mg/dia. Inicia redução e retirada de sertralina. Após supervisão, há a sugestão de que o tratamento farmacológico e psicoterápico seja realizado por médicos residentes distintos. Realizou psicoterapia de orientação analítica por um semestre e recebeu alta por não adesão. Foi decidido, então, em supervisão, retomar tratamento combinado de farmacologia e TCC. Seguiu melhor, mais aderente, embora ainda apresentando episódios de impulsividade, pensamentos obsessivos relacionados a ciúmes e ligações descontroladas para o namorado. Durante o tratamento, a Sra. P.A.S.M. suspende o uso do estabilizador, assim como o uso de aripiprazol 15mg/dia (que fora acrescido pelo novo médico residente em psiquiatria que ficou encarregado pelo tratamento clínico). Na semana seguinte, não comparece à sessão. Uma semana após, um familiar (mãe) comparece ao atendimento e informa que a mesma fora internada por ter deambulado nua de sua casa até o escritório do namorado, logo após esse não lhe retornar suas ligações, assim como pensamento com conteúdo psicótico - ideias de que seu namorado estava lhe traindo a todo o momento, fato que a fez procurar atendimento na emergência de um hospital geral, simulando ter sido atropelada, a fim de

conseguir uma internação clínica e fazer com que seu namorado lhe direcionasse atenção. HISTÓRIA PASSADA E FAMILIAR: Conta que, desde seus seis anos de idade, apresentava alterações do seu comportamento: simetria – separava as roupas por cores e tamanhos; tinha rituais de limpeza; não permitia que ninguém entrasse em seu quarto para evitar a contaminação. Aos 14 anos, pioraram os sintomas de limpeza, necessitando tomar vários banhos ao dia. Foi neste momento que procurou ajuda pela primeira vez, recebeu tratamento com psicoterapia e fluoxetina 20 mg. O pai morreu quando ela tinha 11 anos de idade. Ele era um empresário alemão, em Munique, de muitas posses. A mãe casou-se novamente após cinco anos do falecimento do pai. Relata boa relação com os dois meios-irmãos, com uma postura maternal em relação ao cuidado deles. Atualmente, reclama do relacionamento difícil com a mãe, em virtude dos comentários depreciativos que enfrenta, além de lhe impor uma postura servil. Nega história de diagnóstico psiquiátrico em seus familiares. No ambiente de trabalho, realiza atividades de cuidado com crianças de baixa renda, com condições sociais precárias e miséria extrema. Descreve habilidade na aquisição de materiais, alimentos, eventos culturais, como doações para os programas que se envolve. Consegue permanecer vinculada às instituições, sem trocas frequentes de trabalho. Nesse contexto, informa suprimir obsessões que, usualmente, não consegue controlar. 17


CASOS CLÍNICOS

Coordenação: Dr. Matias Strassburger, Dr. José Caetano Dell Aglio Jr, Dr. Gustavo Schestatsky e Dra. Bettina Fichbein.

Parecer do Enfoque Cognitivo-Comportamental Por Lucas Maynard Lovato Em uma avaliação que parte de um referencial cognitivo-comportamental, o exame dos sintomas e o estabelecimento de um diagnóstico são pontos importantes. Em um primeiro momento, a paciente refere uma série de comportamentos repetitivos. Para um adequado diagnóstico da patologia subjacente aos sintomas e para uma adequada avaliação, o entendimento da cognição associado aos comportamentos e sua intenção necessitam ser examinados. Desta forma, me parecem descritos comportamentos direcionados a aliviar pensamentos ou imagens intrusivas geradoras de sentimentos angustiantes ou medo e outros que parecem direcionados à sensação de ‘’ter que’’ realizar determinada tarefa, alinhar, por exemplo. Diante destes sintomas a hipótese de uma paciente com TOC torna-se bastante possível. Unindo isto à história pregressa corrobora-se a hipótese. No entanto, entendo que alguns sintomas podem não pertencer ao TOC: pentear os cabelos (poderia ser por alinhamento, mas também poderia ser algum comportamento associado à tricotilomania; no DSM-V está na mesma categoria do TOC e a comorbidade é frequente) e ligar para o namorado ‘’sem razão aparente’’ (este pode ser o sintoma de várias patologias: transtornos de ansiedade, ciúmes patológico, questões de personalidade, entendo que examinar melhor a intensão e as cognições deste comportamento seja significativo, pode indicar uma comorbidade a ser considerada – no seguimento do caso foram descritos problemas de relacionamento). 18

Mas TOC parece o diagnóstico inicial. Sendo assim, a indicação de Terapia CognitivoComportamental (TCC) é uma conduta baseada em evidências. Neste tipo de tratamento, são utilizadas intervenções cognitivas - com intensão de modificar erros no processo de pensamentos (no TOC são comuns o exagero do risco, exagero da responsabilidade, necessidade de ter certeza, perfeccionismo e a fusão do pensamento e da ação) - e intervenções comportamentais, sendo a principal delas a exposição e prevenção de respostas (gradual exposição aos medos). No texto são descritas ‘’tarefas’’, não especificando exatamente quais, mas a paciente melhora de suas queixas iniciais. No momento em que os sintomas de TOC foram diminuindo com terapia adequada, um sintoma interpessoal apareceu mais claramente: a dificuldade de relacionamento. No caso descrito, foi indicada a Terapia Psicodinâmica. Entendo esta como uma conduta adequada, mas, também, entendo que técnicas cognitivo-comportamentais poderiam ter sido úteis (TCC para transtornos de personalidade ou Terapia de Esquemas, pois ambas têm a intenção de examinar e modificar crenças e comportamentos que as pessoas apresentam de um modo ‘’automático’’ em suas relações interpessoais e que são vistos como disfuncionais). Em um terceiro momento, a paciente apresenta sintomas de humor/psicóticos, possivelmente dentro de um THB. Aqui a TCC também poderia ajudar. Um de seus principais elementos, a


CASOS CLÍNICOS

Psicoeducação, poderia ter sido usada de modo prioritário, explicando à paciente sua doença, a importância dos fármacos em sua situação, sintomas a serem observados e cuidados a serem instituídos, tentando-se desta forma melhorar adesão e evitar recaídas na doença. Diante da impossibilidade de fármacos para o TOC, novamente a TCC seria a principal ferramenta para os sintomas obsessivo-compulsivos.

Acho um ótimo caso, ilustrando bem as complexidades de nosso dia a dia em psiquiatria. Mostra a necessidade de um bom diagnóstico e de sua constante reavaliação. Em um único paciente temos que lançar mão de estratégias farmacológicas e psicoterápicas distintas, não excludentes, mas unidas e complementares na busca de benefício ao paciente.

“Cheia de dedos” Por Lizete Pessini Pezzi Agradeço ao Gustavo Schestatsky por me convidar para comentar o caso clínico para o jornal da nossa APRS, e à Alice Ruiz que sintetizou de maneira tão brilhante, em um de seus haikais, o que senti ao ler, pensar e escrever sobre este caso clínico. Penso nestas três frases poéticas como cada uma significando cada fase de como a dor de uma pessoa chega às páginas deste jornal. Peço licença à P.A.S.M. (alma cheia de dedos) e aos colegas que a atenderam e que condensaram a história (sentir palavras) para ser possível este exercício de pensar (pensar letras) sobre os pacientes. Sempre que atendo alguém tenho duas questões que preciso vislumbrar resposta: 1) O que esta pessoa está sentindo para vir consultar? É a queixa principal; neste caso, não aguentar mais contar crianças. 2) O que causou ou desestabilizou agora esta

pensar letras sentir palavras a alma cheia de dedos Alice Ruiz em Desorientais pessoa? Motivo, que é relatado inicialmente como atropelamento na faixa de pedestre. Meu primeiro pensamento é: será que a pedagoga que faz trabalho voluntário em abrigo estava contando as crianças que atravessavam a faixa de pedestre, se distraiu e foi atropelada, ou foi atropelada por um motorista que não respeitou a faixa de segurança ou estava contando as listras pintadas da faixa? De alguma forma espero que a queixa principal esteja intimamente conectada com o motivo do atendimento. Na história da doença atual, aparece que a paciente estava contando a faixa de pedestres, resposta à primeira questão. Na sequência, é descrita sintomatologia que iniciou na infância do espectro do transtorno obsessivo compulsivo e é frequente a procura de tratamento ter um grande lapso de tempo desde a piora da doença. Também refere problemas no desempenho laboral e muito sofrimento. A indicação de tratamento foi: medicamento mais terapia cognitivo-comportamental (TCC). 19


CASOS CLÍNICOS

A fluoxetina (ISRS) foi prescrita e otimizada até uma dose não descrita, sendo posteriormente substituída por sertralina até a dose de 200mg/ dia, mas não aparece a razão da troca da medicação. Paciente tem o sofrimento diminuído e se delineia que as dificuldades no relacionamento amoroso aparecem de maneira mais vívida o que leva à indicação para psicoterapia de orientação analítica (POA). Parece que, neste momento, não estava mais fazendo TCC. Até aqui, o atendimento parecia transcorrer, mais ou menos, como se espera e conforme a literatura. No relato, a partir de um determinado momento da psicoterapia, parece haver uma complexização do entendimento e atendimento de PASM. Há a suspeita de que a paciente sofra de um transtorno de humor bipolar em função de compras e gastos impulsivos, o que é possível esta patologia estar presente concomitantemente ao TOC. O que me chamou a atenção é que esta suspeita surgiu na mente do terapeuta, apesar desta conduta poder ser devida a sintomas compulsivos, e, na sessão seguinte, a paciente traz uma carta psicografada que escreve sobre o diagnóstico, sendo aquele que surgiu na mente do terapeuta. Aparece, no funcionamento da paciente, um aspecto mágico não descrito até então, mas não incompatível. Ao mesmo tempo, fico pensando se o terapeuta teve a percepção de que PASM tem outro diagnóstico associado ou se PASM, inconscientemente, colocou este diagnóstico na mente do terapeuta. De alguma forma esta hipótese diagnóstica provocou uma mudança no atendimento, ficando o tratamento farmacológico sob responsabilidade de outro psiquiatra, que inicia estabilizador de humor. No meio disso tudo, paciente interrompe a psicoterapia por não adesão — isto significa abandono? E volta a se tratar com TCC. Já fizera TCC

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no início dos atendimentos, faz psicoterapia de orientação analítica e volta a fazer TCC, sempre combinado com medicação, mas parece que sempre mudando a medicação também. Quanto tempo se passou desde o início do atendimento, quantos psiquiatras já atenderam até agora? Estas questões surgem na minha mente, e penso que especialmente se uma pessoa tem TOC, as mudanças não são bem vindas. Essa paciente tem problemas de relacionamento com o namorado, telefona para ele de maneira descontrolada (para manter o controle?), sendo estes problemas que suscitaram a indicação de psicoterapia (POA) e, quanto da ansiedade que aparece na relação com o namorado tende a se misturada com a inconstância terapêutica, trocas de terapeutas, de psiquiatra clínico, de medicação, de indicação de tratamento? Aparece o uso de um tranquilizante maior, aripripazol. Esta medicação pode ter sido prescrita como adjuvante para estabilizar o humor na fase hipo/maníaca ou para o controle de sintomas do TOC, mas não fica claro. Como é uma medicação bem cara, me pergunto por que não foi usado inicialmente outro antipsicótico, como, por exemplo, a risperidona? Supondo que outro antipsicótico tenha sido prescrito anteriormente, não aparece a razão da suspensão. E... Quando a paciente suspende a medicação sem combinação com o psiquiatra (falta de adesão?), abandona por uma semana o tratamento, é hospitalizada em outro serviço por apresentar sintomas psicóticos e ter andado nua na rua. Mas o que me chamou a atenção foi o relato de que a paciente teria simulado atropelamento para ser hospitalizada e, então, o namorado lhe daria atenção. Se uma pessoa está psicótica, como o relatado, este relato do atropelamento


CASOS CLÍNICOS

pode ser entendido como simulação? Simulação e psicose não andam de mãos dadas. A simulação está mais associada a pessoas que apresentam personalidade anti-social com ganho externo bem claro, ou também para se livrar de situações muito difíceis como prisões. Portanto, ou todo o quadro anterior é considerado simulação, ou o sofrimento e desamparo desta moça são tão grandes que hospitalização pode ser sentida como uma maneira de conter esse sofrimento. Para finalizar, e seguindo a leitura do caso, aparece uma breve história familiar e passada. Nesta descrição dois relatos me chamaram a atenção. O primeiro é a perda do pai no início da adolescência, um alemão de posses. Se o pai era um homem de posses, por que P.A.S.M. se trata num lugar de ensino gratuito? O segundo

relato é a história da menina que tem dois irmãos, que cuida deles, e que a mãe faz comentários depreciativos em relação à paciente e lhe impõe uma postura servil. Seria uma nova cinderela à procura de alguém que goste dela e a tire da casa que sente como hostil? Enfim, tenho mais perguntas que afirmações, perguntas para pensar a paciente, e perguntas aos colegas que a atenderem. Estas perguntas sobre o que os colegas sentem e pensam sobre o paciente ajudam a pensar numa direção para o atendimento. Que a alma cheia de dedos da paciente possa ter um contato com a alma cheia de dedos do psiquiatra que a atende, e que sintam as palavras de cada um, para pensarem juntos nas letras que podem transformar a dor em menos dor.

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REVISÕES NÃO SISTEMÁTICAS

Coordenação: Dr. Lucas Spanemberg e Dr. José Caetano Dell Aglio Jr.

Psiquiatria e Espiritualidade: considerações conceituais e clínicas Por Paulo Rogério D.C. de Aguiar e Anahy Fagundes Dias Fonseca

Introdução As dimensões religiosas e espirituais (R/E) da cultura estão entre os fatores mais importantes que estruturam a experiência humana e os padrões de adoecimento (1). Apesar disso, a psiquiatria, em seus sistemas diagnósticos, bem como em sua teoria, pesquisa e prática ao longo do século passado, tendeu a ignorar ou a considerar patológicas as dimensões religiosas e espirituais da vida (1). Assim como a religiosidade é tradicionalmente vista de modo negativo pela psiquiatria, as experiências místicas e espirituais são tidas como evidências de psicopatologia (1). As tensões entre o campo da saúde mental e da religião têm suas raízes em vários fatores. Eles incluem: a) a percepção de que as visões de mundo estruturadas na fé e na ciência são irreconciliáveis; b) índices consideravelmente menores de religiosidade nos terapeutas em relação à população em geral e c) a falta de treinamento e educação dos terapeutas para tratar deste tema em suas formações. (8) Entretanto, é importante ter-se consciência que, numa perspectiva histórica mais ampla, as relações entre ciência e religião têm sido mais de sinergia do que antagonismo (9). Fato relevante é que essas visões negativas da religião e da espiritualidade não se mantêm à luz de recentes estudos, os quais não encontraram associação independente entre espiritualidade e psicopatologia (2). Para a maioria das pessoas, religião e espiritualidade são mais fonte de suporte e bem-estar do que manifestação

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psicopatológica (3). Trabalhos têm relatado que pessoas que vivenciam experiências místicas pontuam menos em escalas de psicopatologia e mais em medidas de bem-estar psicológico que controles (1). Levantamentos da última década têm mostrado que experiências extrassensoriais dissociativas são comuns na população geral (4) e, frequentemente, não estão associadas a transtornos psiquiátricos em populações não clínicas (5). O Brasil, devido a sua grande diversidade religiosa, encontra-se numa posição privilegiada para fazer avançar o nosso conhecimento sobre o tema. O estudo desses tópicos em nosso meio pode colaborar muito na melhor compreensão dos fenômenos tão enraizados em nossa cultura, que é o que se espera da pesquisa nacional. Considerados como experiências subjetivas, os fenômenos R/E podem ser investigados com confiabilidade do mesmo modo que a ansiedade, a depressão ou qualquer outro grupo de vivências. Para estudar cientificamente essas questões, não é necessário tomar qualquer decisão sobre sua realidade objetiva. Elas podem ser pesquisadas em suas correlações clínicas com qualquer outro conjunto de dados. A relação entre saúde física e R/E tem sido estudada de forma sistemática desde o início do século XX. Pesquisas na epidemiologia da religião têm aumentado a validade da religião e da espiritualidade como tópicos para futuras pesquisas na área médica. O National Institutes of Health (NIH) tem financiado pesquisas que investigam


a religião como um determinante de saúde física e mental. Uma publicação de referência na área apresentou uma análise crítica, sistemática e abrangente sobre as relações da espiritualidade e da religiosidade em muitas condições físicas e mentais, cobrindo mais de 1200 estudos e 400 revisões sistemáticas (2). Uma relação de 60-80% entre melhor saúde com religiosidade ou espiritualidade foi encontrada em estudos com diferentes delineamentos, avaliando desfechos clínicos como hipertensão, doença cardíaca, doença cerebrovascular, doenças gastrointestinais, disfunção imunológica, câncer, mortalidade, dor, assim como associações com indicadores gerais do estado de saúde (boa saúde auto-relatada, sintomas gerais, disfunções e incapacidades, longevidade, etc.). (2)

pastores e líderes religiosos em geral no auxílio aos portadores de doenças mentais. No entanto, nos EUA, uma pesquisa de base populacional mostrou que membros do clero eram procurados com maior frequência (23,5%) do que a psiquiatras (16,7%) ou clínicos gerais (16,7%). (6) Há, portanto, ainda uma deficiência nas informações disponíveis à comunidade científica sobre a influência de serviços religiosos, em nosso meio, no atendimento a doentes mentais e suas relações com o staff médico e de profissionais de saúde em geral. Temos bons motivos para crer que, tendo em vista a grande multiplicidade étnica de nosso país e a pluralidade de crenças e de práticas religiosas da nossa população, muito podem contribuir no atendimento aos pacientes com doença mental.

Estudos sobre várias dimensões do fenômeno R/E, como comportamento religioso privado, coping religioso e frequência a serviços religiosos têm apresentado em sua maioria associações positivas com desfechos clínicos em saúde, predizendo, por exemplo, taxas mais baixas de doença cardiovascular, hipertensão, alcoolismo e suicídio, de modo a apresentar-se como um fator de proteção firmemente estabelecido.

Conceitos básicos Os constructos religiosidade e espiritualidade são multidimensionais. Diferentes variáveis foram estudadas, assim como suas relações e impacto nos desfechos em saúde. Alguns construtos teóricos no campo da R/E se mostraram altamente relevantes em estudos clínicos, tendo em vista que se constituem em variáveis de pesquisa fortemente correlacionadas com desfechos positivos em saúde. Assim, sumariamos abaixo alguns destes conceitos básicos para melhor compreensão da literatura especializada:

Especificamente na área da saúde mental, as centenas de estudos publicados permitem concluir que há associação positiva entre religião e saúde mental; os grupos de sujeitos mais religiosos são, também, mais saudáveis ou com menos transtornos mentais, sintomas ou comportamentos psicopatológicos. O impacto positivo do envolvimento religioso parece tornar-se mais evidente em sujeitos que vivem circunstâncias difíceis em suas vidas; situações como envelhecimento, doenças físicas e perda de capacidades e habilidades físicas e sociais. Há, portanto, evidências epidemiológicas consistentes de que um nível de envolvimento religioso maior (sobretudo frequência a algum templo religioso) está associado a uma menor prevalência de transtornos mentais, sobretudo transtornos relacionados a álcool e drogas, depressão e suicídio.

a) Religião: é o sistema organizado de crenças, práticas, ri­tuais e símbolos designados para facilitar o acesso ao sa­ grado, ao transcendente (Deus, força maior, verdade su­prema.);

Pouco se sabe, no Brasil, sobre a relevância dos serviços prestados por padres, reverendos,

c) Espiritualidade: é uma busca pessoal para entender ques­tões relacionadas ao fim da vida, ao

» Religião, religiosidade e espiritualidade

b) Religiosidade: é o quanto um indivíduo acredita, segue e pratica uma religião. Pode ser organizacional (partici­pação na igreja ou templo religioso) ou não organiza­cional (rezar, ler livros, assistir programas religiosos na televisão) e intrínseca ou extrínseca, como se verá logo a seguir.

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seu sentido, sobre as relações com o sagrado ou transcendente que, pode ou não, levar ao desenvolvimento de práticas religiosas ou formações de comunidades religiosas. Assim, as pessoas podem ser religiosas e espiritualizadas, religiosas mas não espiritualizadas, espiritualizadas mas não religiosas e não religiosas e não espiritualizadas (7).

Quadro 1 – Exemplos de assertivas de CRE-Negativo. (10) n Imaginei o que teria feito para Deus me punir n Não fiz nada, apenas esperei que Deus resolvesse os problemas para mim n Pedi a Deus que fizesse tudo ficar bem

» Coping religioso-espiritual a) Coping não tem uma tradução exata para a língua portuguesa, mas pode significar lidar, manejar, adaptar-se ou enfrentar. Trata-se de um processo de interação entre o indivíduo e o ambiente, com a função de reduzir ou suportar uma situação adversa que exceda os recursos do indivíduo. b) Coping religioso e espiritual (CRE) é o modo como as pessoas utilizam sua R/E para lidar com situações de estresse e de dificuldades em suas vidas. c) CRE negativo: Descritivamente, as estratégias de CRE-negativo incluem vários exemplos de práticas desadaptativas de coping, ou seja, que geram consequências prejudiciais ou negativas ao indivíduo, como (11): 1. Estilo de coping passivo – situações em que o sujeito se exime do controle e da responsabilidade sobre seus problemas aguardando a vontade de um Poder Superior. 2. Sentimentos de um abandono divino. 3. Crenças de que problemas pessoais refletem um julgamento ou uma punição divina. 4. Sentimentos de raiva de Deus. Estudos empíricos têm relacionado estas formas de coping com depressão e ansiedade, baixas taxas de recuperação de fraturas ósseas e aumento do risco de morte em pelo menos uma amostra clínica. Exemplos de assertivas de CREnegativo encontram-se no quadro 1.

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n Questionei o poder de Deus n Fiquei imaginando se Deus tinha me abandonado n Questionei o amor de Deus por mim n Questionava-me se minha comunidade religiosa tinha me abandonado

» Religiosidade Intrínseca e extrínseca Segundo Allport e Ross, a religiosidade de uma pessoa pode ser intrínseca ou extrínseca: (10) a) Na religiosidade intrínseca a religião tem um lugar central na vida do indivíduo, é seu bem maior. Outras necessidades são vistas como secundárias, de menor importância e, na medida do possível, são colocadas em harmonia com sua crença e sua orientação religiosa. Tendo aceitado uma religião, o indivíduo procura internalizá-la e segui-la integralmente. Variável associada a desfechos positivos em estudos clínicos. b) Na religiosidade extrínseca a religião é um meio utilizado para obter outros fins, como consolo, sociabilidade, distração e status. Sua religião é aceita de modo superficial ou é adaptada para atender suas necessidades e seus objetivos pessoais. Variável associada a desfechos negativos em saúde.


Abordagem Clínica Não existe uma só forma de abordar a espiritualidade, assim como não existe uma forma correta. Muitas vezes, a sua abordagem faz-se de forma natural e fluida, integrando a avaliação de outras dimensões da vida do cliente, o que depende, em parte, das próprias heranças culturais de cada terapeuta (12). Pode ser útil para os terapeutas conhecerem alguns dos princípios básicos das religiões de seus clientes, mas não é necessário que se tornem especialistas em religião comparada. Pelo contrário, abordar os clientes com abertura e disposição para discutir assuntos ligados à religiosidade irá ajudar a se sentirem confortáveis em expressar seus problemas e necessidades (7). Os clínicos podem se tornar mais autoconscientes para ampliar suas habilidades no trabalho com clientes religiosos. Ter consciência sobre suas próprias crenças e vieses em relação a R/E poderá ajudar a evitar impor seus próprios valores. Avanços recentes neste tema de estudos tem evidenciado a necessidade de uma abordagem mais direta da dimensão espiritual dos pacientes durante o processo de avaliação. A R/E deve ser rotineiramente incluída na lista de potenciais fontes de recursos de coping que os pacientes utilizam para lidar com suas doenças e com outros estressores na vida. Os pacientes devem ser questionados sobre suas crenças espirituais como forma de lidar com os problemas que trazem a consulta, assim como são questionados pelos terapeutas a respeito de qualquer outra área, como relações familiares e rede social, hobbies e exercícios, etc. (8). Assim, a questão da espiritualidade deve ser compreendida como tendo o mesmo papel que os outros domínios da experiência humana. O aspecto sobremodo pessoal e frequentemente de forte conteúdo emocional — de certo modo análogo a sexualidade — torna este tópico merecedor de especial atenção e foco clínico. (16) Da mesma forma, é importante examinar quando a religiosidade é problemática para o paciente. Uma simples questão como: “os seus problemas tem afetado sua religiosidade e/ou

espiritualidade?”, pode abrir as portas para a exploração de questões ligadas a esta área (8). Falar sobre religiosidade é tocar em questões altamente sensíveis, que residem no núcleo da identidade pessoal de cada paciente, seus valores e visões de mundo. Os pacientes dificilmente se engajam numa conversação em torno de questões tão profundas a menos que seu terapeuta demonstre abertura e interesse genuíno em sua religiosidade. Isso pode ser atingido sem que o terapeuta tome qualquer posicionamento sobre a realidade ontológica das experiências espirituais e crenças religiosas de seu paciente, algo que, em verdade, encontra-se além do conhecimento e da autoridade dos profissionais de saúde mental. (8) Terapeutas podem demonstrar sua abertura inquirindo sobre aspectos específicos das crenças religiosas/ espirituais do cliente que estejam relacionadas aos problemas abordados na sessão. Uma pergunta aberta pode ser usada, como “Eu não estou suficientemente familiarizado com esta forma de budismo (ou cristianismo ou judaísmo). Você poderia falar mais sobre isso e sobre sua experiência religiosa?” ou “Como você vê as relações de sua fé com os problemas que trazes a consulta?” (7) É importante considerar que uma abordagem sensível aos aspectos espirituais dos pacientes exige uma abrangente avaliação ao contexto cultural em que estão inseridos. Quando uma crença religiosa pode ser considerada delirante e problemática geralmente não pode ser determinada apenas tendo por base o conteúdo da crença. Como afirmam Miller e Kelley “em algumas comunidades africanas, uma pessoa seria considerada insana se não acreditasse que os espíritos dos mortos influenciam ativamente a vida das pessoas”. Em alguns casos, torna-se apropriado e necessário consultar membros da subcultura do paciente para determinar quando um conjunto de crenças religiosas é normativa dentro daquele contexto particular. Assim, o diagnóstico psiquiátrico e psicológico deve incorporar o entendimento das crenças, práticas e valores que definem o mundo do paciente. (8)

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Outra forma dos clínicos aumentarem suas habilidades para trabalhar efetivamente com clientes religiosos/espiritualizados é aprender com aqueles colegas que já tem experiência nesta área. Os clínicos experimentados utilizam frequentemente uma abordagem pluralística às crenças dos pacientes religiosos e são cuidadosos em não impor seus próprios valores e crenças. Esses clínicos conceitualizam os problemas religiosos/espirituais através de diferentes sistemas. Por exemplo, podem utilizar uma perspectiva desenvolvimental (estágios da fé de Fowler) ou entender as questões espirituais como entrelaçadas a outros problemas psicológicos e relacionais. A maioria dos terapeutas observa que os problemas religiosos/espirituais emergem gradualmente durante o curso da terapia. Uma vez em pauta, um método comum de abordagem das questões religiosas/espirituais, e talvez a mais importante em termos de facilitar a discussão sobre estas questões, é uma comunicação explícita ou uma discussão aberta objetivando a exploração conjunta das crenças religiosas/espirituais dos clientes. (7) No processo de avaliação dos pacientes, é fundamental considerar quando os problemas religiosos são secundários a sintomatologia psiquiátrica, fontes primárias de transtornos emocionais ou de interações complexas. Esta básica distinção terá significativas implicações para o tratamento subsequente. (8). Quando os problemas religiosos são secundários a psicopatologia primária, a religião nestes casos é simplesmente o idioma através do qual a doença se manifesta. Entretanto, os casos em que a religião é a fonte primária de disfunção emocional, um foco apenas nos sintomas pode não ser suficiente para proporcionar mudanças significativas no quadro clínico. Tratamentos espirituais integrados que abordem a dimensão espiritual do problema podem ser necessários para facilitar o processo de mudança. (8) Da mesma forma, o terapeuta pode incentivar o cliente a buscar ou retomar sua forma de religiosidade

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organizacional, incentivando ida a igreja, templo, terreiro, mesquita ou centro, como recurso complementar de ajuda e como meio de obter apoio ao seu problema de saúde física ou emocional. Neste caso, o terapeuta deve ter entendido que não há uma competição entre as formas seculares e religiosas de intervenção em saúde, mas um convite a uma salutar conexão de esforços, com um respaldo contundente da literatura especializada. Pesquisadores têm criado formas de facilitar a abordagem da espiritualidade para os terapeutas que ain­da possuem dificuldades com o tema. Esses instrumen­tos servem de norteadores para a obtenção da história es­piritual, sendo um dos os principais instrumentos clínicos desenvolvido pela Dra. Christina Puchalski, da George Washington University, conforme esquematizado abaixo: (12) Quatro áreas básicas devem ser lembradas ao se colher uma história espiritual: 1) O paciente usa a religião ou espiritualidade como forma de coping para lidar com sua doença, ou sua R/E é uma fonte de estresse, e como? 2) O paciente é membro de alguma comunidade religiosa que lhe dê apoio social ou suporte? 3) O paciente possui algum problema ou preocupação espiritual? 4) O paciente possui alguma crença espiritual que possa interferir nos cuidados em saúde (negar-se a tomar medicações ou a procurar um médico, por exemplo)? (13) No caso de pacientes não religiosos, ao invés de fo­car na espiritualidade, o terapeuta pode perguntar como o paciente convive com a doença; o quê promove um sig­nificado e propósito à sua vida e quais crenças culturais podem ter impacto no seu tratamento. (12)


Considerações finais Os pacientes frequentemente se sentem “estranhos”, “patológicos” ao relatarem experiências ditas anômalas ou supostamente transcendentes aos seus terapeutas. (14) A construção de um vínculo verdadeiramente empático com o aspecto sagrado da experiência humana é condição sine qua non para se abrir as portas de um compartimento frequentemente mantido oculto aos terapeutas pouco sensíveis a esta temática.

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Coordenação: Dra. Miréia Sulzbach, Dra. Fernanda Lia de Paula Ramos e Dra. Carla Bicca

NEUROBIOLOGIA E MECANISMOS FARMACO-GENÉTICOS DA ADICÇÃO À INTERNET E AO VÍDEO GAME Os psiquiatras clínicos envolvidos no tratamento de adictos, há tempos, percebem a semelhança da sintomatologia dos abusadores de internet e videogames com os abusadores de drogas. A reclassificação do Transtorno por Jogo no DSM 5 na categoria dos Transtornos adictivos, veio ao encontro dessa percepção. Possivelmente, uma versão futura do DSM, contemple o abuso de internet e videogames entre os transtornos adictivos. O uso problemático de internet é caracterizado por urgência, preocupações excessivas ou comportamento de busca constante ao acesso à internet. A prevalência estimada nos EUA e na Europa está entre 1,5% e 8,2%. Há uma alta comorbidade entre adicção à internet e outros transtornos psiquiátricos (transtornos de humor, ansiedade e TDAH). Alguns fatores preditivos do uso problemático de internet parecem ser o uso de álcool e o transtorno de ansiedade social. A adicção à internet inclui três categorias principais: comunicação (email e mensagens), jogos e sexo virtual. Uma pesquisa publicada no The American Journal on Addictions em março de 2015, demostra alterações neurobiológicas e farmaco-genéticas similares entre os adictos a internet e videogames e os adictos às substâncias psicoativas. A adicção envolve predominantemente o sistema de recompensa cerebral e a liberação de dopamina, atividade mediada pelo sistema

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límbico e outras regiões cerebrais tais como córtex frontal e giro do cíngulo anterior. Essas regiões são responsáveis pelo controle inibitório e pelos processos emocionais (motivacional e cognitivo). As áreas ativadas por álcool e drogas são amígdala, cíngulo anterior, córtex dorsolateral e órbito-frontal. Estudos estruturais e funcionais com adictos a videogame demonstraram alterações no sistema de recompensa cerebral que medeiam a perda do controle do impulso e a coordenação sensório-motora. O uso regular ou crônico está associado com redução de dopamina cerebral por baixa densidade do DAT e baixa ocupação do receptor D2 (como em abusadores de cocaína, metanfetamina heroína e álcool). O abuso da internet e videogame envolvem alterações do sistema de recompensa cerebral parecidas com as do abuso de álcool e outras drogas. No entanto, como os estudos de neuroimagem, nessa área, iniciaram recentemente, ainda é precoce a conclusão de que são equivalentes. Referência: Weinstein A, Lejoyeux M. New Developments na the Neurobiological and Pharmaco-Genetic Mechanisms Underlying Internet and Videogame Addiction. Am J Addict, 2015; 24(2):117-25.


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D

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P

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SÍNDROMES PSIQUIÁTRICAS RARAS Na literatura encontramos uma série de Síndromes Psiquiátricas raras que, embora mencionadas algumas vezes durante nossa formação acadêmica, raramente nos deparamos com elas. Algumas fazem parte de um diagnóstico mais abrangente e outras estão ligadas especialmente a aspectos culturais, essas últimas são as chamadas “síndromes ligadas à cultura”. As apresentações a seguir são destinadas a refrescar a nossa memória sobre síndromes que

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encontramos raramente ou nunca vimos, mas que devemos ser capazes de reconhecer, diagnosticar e gerenciar. As condições incluídas abrangem delírios; fenômenos mentais que variam de ansiedade aos fenômenos dissociativos e psicose induzida por trauma; reações a experiências traumáticas; e danos neurológicos. Como essas Síndromes são em um número razoável, publicaremos três delas a cada número do nosso Jornal.

Síndrome Alice no País das Maravilhas ou Síndrome Todd

Doença que provoca distorções na percepção visual do indivíduo, fazendo com que alguns objetos próximos pareçam desproporcionalmente minúsculos. O distúrbio foi descrito pela primeira vez em 1955, pelo psiquiatra inglês John Todd, que a batizou em homenagem ao livro de Lewis Carroll. Na obra, a protagonista Alice enxerga coisas desproporcionais, como se estivesse numa “viagem” provocada por LSD. Estes sintomas podem ser alarmantes, causando medo ou mesmo pânico na pessoa afetada. As distorções podem reaparecer várias vezes ao dia. Está frequentemente associada com enxaquecas, tumores cerebrais, uso de substâncias psicoativas mas também pode se apresentar como o sinal inicial de uma infecção pelo vírus Epstein-Barr.

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Síndrome da mão alienígena

Há uma clara distinção entre os comportamentos das duas mãos. A mão afetada é vista como “rebelde”, enquanto a mão não afetada está sob controle voluntário normal. As áreas cerebrais afetadas são as do corpo caloso, ou lobo frontal ou lobo parietal. A pessoa que sofre dessa desordem neurológica pode, do nada, começar a brigar com uma das suas mãos. A ‘mão alienígena’ pode, inclusive, tentar estrangular o seu dono. Seus sintomas podem ser combatidos, mas o distúrbio, em si, não tem cura. A pessoa afetada acredita que um lado do seu corpo está agindo de forma autônoma, tendo “uma vontade própria.” Na verdade o indivíduo perdeu o gerenciamento associado com o movimento intencional do membro. Muitas vezes a pessoa afetada acredita que seu membro possa estar “possuído” por algum espírito ou uma entidade. Stanley Kubrick, no filme Dr Fantástico, com Petter Sellers, na chamada Síndrome do Doutor Strangelove.

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Paramnesia Reduplicativa

Consiste na crença ilusória de que um lugar ou local foi duplicado, ou que ele(a) pode estar em dois ou mais lugares simultaneamente, ou que foi “realocado” para outro lugar. Por exemplo, uma pessoa pode não acreditar que está no hospital no qual foi internada, mas sim em um outro hospital, idêntico ao primeiro, mas localizado em outro lugar do país. Foi usado pela primeira vez por um neurologista em 1903 para descrever uma condição em um paciente com suspeita de doença de Alzheimer.

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ARTE DOS PSIQUIATRAS FOTO Daniel Spritzer

Coordenação: Dra. Laís Knijnik e Dra. Eneida Iankilevich

INTERLÚDIO

onda repentina na qual submerjo

me rouba do chão

água turva

turbilhão

olhos fechados

na ilusão do instante

só, procuro o silêncio

e espero por mim

Ana Cristina Tietzmann outono/2014 Coro, Venezuela, 2009.

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ARTE DOS PSIQUIATRAS FOTO Daniel Spritzer

COSTURA

olhar palavra encontro

agulha do tempo a fiar

um ponto e outro num manto

pronto? n達o fica.

suave tecido aquece e faz sonhar

Ana Cristina Tietzmann outono/2014 San Andres, Colombia, 2011

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HISTÓRIA DA PSIQUIATRIA

Coordenação: Dr. Luis Guilherme Streb

Comentários iniciais sobre a evolução conceitual do exame do estado mental a partir de Christian Wolff (1679-1754), 2ª parte Observação inicial: como a 1ª parte deste texto, na primeira edição de nosso Jornal, apareceu incompleta, coloco aqui agora sua versão completa, e continuo com o nosso objetivo: expor uma evolução da elaboração do exame do estado mental, a partir da Filosofia do século 18 e dos clínicos pioneiros do início do séc. 19.

O eixo da clínica, formado pela psicopatologia, o diagnóstico e a classificação, depende do esforço clínico e científico em delimitar as unidades descritivas básicas das doenças: os sintomas. Sintomas são conceitos, termos vivos que nascem, evoluem e podem morrer. São entes híbridos, com uma parte que é sinal, oriunda da nossa atividade cerebral, e uma parte que é ruído, oriunda das transformações sofridas durante sua expressão e apreensão por alguém (que deve conhece-lo!). A observação da evolução sintomática de pacientes possibilitou a reunião de grupos ou complexos sintomáticos no que chamamos transtornos (síndromes psicopatológicas). Mas no início era a loucura, Vesania, termo genérico latino que foi lentamente sendo desdobrado em várias vesanias, na evolução classificatória que origina nossos sistemas diagnósticos. No século 19 o termo foi sendo traduzido para os diversos idiomas, como insanity/lunacy, Seelenstörung ou aliénation (ingles, alemão e francês). A descrição de disfunções mentais e comportamentais tem uma história longa e rica, iniciada no campo da Filosofia. Os filósofos buscavam descrever as capacidades ou faculdades da alma, notadamente a partir de Aristóteles e sua psicologia, exposta no “ De Anima” . Nutrição, percepção e mente foram as funções iniciais, 34

alargadas depois por percepção, pensamento e desejo. A filosofia das capacidades mentais foi migrando da Metafísica (Primeira Filosofia), para a Ontologia, que surgiu no inicio do século 17 como seu sucedâneo, e para a Psicologia, que surgia como campo investigativo a partir do distúrbio da “ nous” (razão), a parte da mente que sabe e entende. Nosso assunto aqui é apontar um momento especial para a constituição da Psiquiatria (termo cunhado por JC Reil em 1808), a partir da confluência da Psicologia das Faculdades e da Ontologia elaboradas pelo filósofo e matemático C. Wolff, aluno de Leibniz, por volta dos anos 1730. É um exercício de composição na história das ideias. Nesta época publica os dois livros cujas capas das edições em latim são mostradas abaixo, onde oferece então os desenvolvimentos dos quais aqui falamos. Os excertos abaixo dão uma mostra do que já se passava àquela época neste campo, e uma visão muito avançada da qual vemos resquícios ainda hoje. “Há algumas coisas que são comuns a todos os seres, e que são predicados tanto de almas (mente) como de corpos naturais e artificiais. A parte da filosofia que trata do ser em geral e das afecções gerais do ser é chamada Ontologia, ou primeira Filosofia. Assim, Ontologia é definida


como ciência do ser (being) em geral ou na medida em que é ser.” “A essência da mente (soul) consiste na força (vis conatus) de representar o mundo através de sua habilidade de perceber; e sua correspondente situação corporal no mundo.” “The essence of the soul consists in the force (vis conatus) of representing the world by virtue of the soul’s hability to sense... and its corresponding body’s situation in the world.” Nestas duas obras Wolff defende que as funções mentais são capacidades relativamente autônomas, mas interdependentes. Supõe que poderiam adoecer isoladamente, abrindo então possibilidades teóricas e empíricas muito ricas. Descreveu as funções consciência, atenção, imaginação, memória, cognição e afetividade, abrindo para os grandes clínicos o caminho para a procura e descrição de doenças destas funções e seus sintomas definidores. Griesinger, por exemplo, em seu tratado de 1845, modelo para livros-texto até hoje, classifica os distúrbios elementares da doença mental em anomalias do sentimento, do pensamento, da vontade, da sensação e do movimento. A partir disto, descreve as formas de doença mental, incluindo então depressões, exaltações (manias), e fraqueza mental (demências e retardos mentais). Assim, em cada uma destas funções mentais, descreve unidades psicopatológicas, sintomas, que indicam seu desarranjo.

Por exemplo, sentimento de mau-humor, diminuição da força e energia, irritação, divisão da personalidade, aniquilição do Eu (usou antes de Freud o conceito de Ich, no qual baseou-se o criador da psicanálise), raiva contra pessoas amadas, insensibilidade, sensações físicas de ansiedade, desconfiança, e às vezes consciência da própria doença. Estados de amargura, inveja, raiva, medo se colocaram na dimensão afetiva e foram sendo limitadas e delimitadas em relação uns aos outros, às vezes com dificuldade, porque sintomas se tocam, têm zonas intermediárias, oscilam, tem intensidade, e tudo isto é complicado de descrever e definir. Apoiado nas concepções de seu mestre Zeller, um dos idealizadores da “psicose unitária” (Einheitspsychose), Griesinger descreve tudo sempre comparando com o estado normal, sempre na perspectiva dimensional de processo mórbido, ainda hoje utilizado na clínica para a compreensão da evolução da doença. Logorréia, inquietação, alterações na relação com o mundo exterior, exacerbações de pré-disposições originais, apatia, indiferença, e alterações globais na personalidade também são descritas por Griesinger neste campo. Continuaremos na próxima edição, com pensamento, vontade e motricidade. Até lá!

Descreve as “anomalias do sentimento” de maneira fluida e rica em detalhes, num continuum da sanidade para a insanidade, sempre usando os estados subjetivos dos doentes com termos coloquiais que foram, com o tempo, ganhando status conceitual, até nossas atuais definições operacionalizadas dos glossários sintomáticos.

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INSTITUIÇÕES PSIQUIÁTRICAS GAÚCHAS

Coordenação: Dr. Lucas Spanemberg e Dra. Roberta Rossi Grudner

Hospital Nossa Senhora da Conceição O Hospital Nossa Senhora da Conceição, localizado em Porto Alegre, é referência em atendimento 100% SUS, conta com aproximadamente 833 leitos e oferece 22 especialidades médicas, com uma média de 2.500 internações e 10.000 consultas ambulatoriais por mês.

Os Residentes em Psiquiatria, quatro vagas por ano, participam ativamente da internação. Mais recentemente, recebemos também residentes da RIS – Residência Integrada em Saúde. Psicólogos, Terapeutas Ocupacionais, Enfermeiras e Assistentes Sociais.

Para atendimento em Saúde Mental, o Hospital Nossa Senhora da Conceição, disponibiliza os seguintes serviços:

Temos como objetivos primordiais:

1. Unidade de Internação Psiquiátrica, adolescente e adulto, com explicaremos a seguir; 2. Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD III); 3. Centro de Atenção Psicossocial Adulto (CAPS II); 4. Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi); 5. Atendimento Ambulatorial Psiquiátrico; 6. Serviço de Consultoria Psiquiátrica abrangendo todas as especialidades; 7. Atendimento no CREAME aos funcionários; 8. Serviço de Psicologia. 1. Sobre a Unidade de Internação Psiquiátrica – Posto 4F1 – Na busca da integralidade do cuidado, foi inaugurado em 2006, a Unidade de Internação Psiquiátrica, localizada no quarto andar, hoje com 14 leitos adultos mistos. Os pacientes são encaminhados através da Central de Regulação do município de Porto Alegre, via Emergência em Saúde Mental (IAPI/ PACS) ou de transferências, via consultoria psiquiátrica, de pacientes já internados. A equipe multidisciplinar que atende a Internação Psiquiátrica é composta por: Psiquiatras, Clínico geral, Enfermeiros, Técnicos em enfermagem, Terapeuta ocupacional, Nutricionista, Assistente Social, Psicólogo, Auxiliar administrativo e Serviços Gerais.

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• Oferecer espaço de cuidado e continência, proporcionando assistência intensiva na situação de crise; • Suporte aos familiares, individual e em grupo, auxiliando na compreensão e enfrentamento da situação vivenciada; • Tratamento linear e continuado dentro do que a rede de apoio vigente disponibiliza, • Ambulatório de Egressos realizado pelo residente de Psiquiatria, por três meses, até que o usuário seja inserido na rede de saúde mental de seu território. Posto 4F2 – Unidade de Internação Psiquiátrica de Adolescentes femininas com Dependência Química Em 2010, é integrada à Unidade de Internação Psiquiátrica, a Internação para Adolescentes com Dependência Química — também localizada no 4º andar, com oito leitos. As adolescentes internadas são provenientes de Porto Alegre, Região Metropolitana e Interior do RS – encaminhadas pela Central de Leitos de Porto Alegre e do Estado. A equipe é multidisciplinar, nos mesmos moldes descritos acima.


Também fazem parte da equipe, Residentes Médicos em Psiquiatria de 3º ano e um Técnico em educação. 2. CAPS AD III – Inserido em espaço amplo e com boa estrutura o CAPSIII beneficia os cerca de 400 pacientes ativos por mês, usuários de álcool e outras drogas. O serviço é destinado ao atendimento integral e contínuo dos usuários, com atenção ambulatorial e com internação para acolhimento noturno e de final de semana, contando com seis leitos, sendo quatro masculinos e dois femininos. Esses leitos são destinados a pacientes que necessitam atendimento intensivo por enfrentar situação de crise. O CAPS AD III conta com 35 profissionais: três médicos psiquiatras, seis enfermeiros, duas psicólogas, duas assistentes sociais, um terapeuta ocupacional, três técnicos de enfermagem, nove auxiliares de enfermagem, três auxiliares

administrativos, dois auxiliares de limpeza e quatro vigilantes. A partir do ano de 2015 dois residentes do segundo ano de psiquiatria fazem parte da equipe. Este CAPS é responsável pela atenção à população da Zona Norte/Eixo Baltazar e da população do Serviço de Saúde Comunitária do GHC, o que representa aproximadamente 300 mil habitantes, ou seja, 19,6% da população de Porto Alegre. 3. CAPS II Adulto – O Caps II, existe desde 2005, atendendo a adultos acima de 18 anos, com transtornos mentais e de personalidade. A equipe conta com quatro Psiquiatras, Enfermeira, Tecnicas de Enfermagem, Assistente Social, Terapeuta Ocupacional e Residentes da Psiquiatria e da Residência Integrada. Funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e oferece atividades diversas para os 230 pacientes em tratamento, como atendimentos individuais, em grupo, terapia familiar, visitas domiciliares, oficinas de música, marcenaria, cinema, 37


fanzine, psicoeducação. Tem como meta fundamental promover a autonomia do usuário visando sua reintegração social e familiar. Atende cerca de 300 pacientes ativos/mês. É responsável pela atenção à população da Zona Norte/Eixo Baltazar. 4. CAPSi – Infantil – O serviço, destinado à assistência de pacientes com até 18 anos de idade, atende até 400 crianças e adolescentes por mês. São realizadas diversas oficinas, atendimentos das famílias e a atenção é feita em constante contato com as escolas e demais órgãos da rede. São atendidas cerca de 400 crianças e familiares em regime intensivo ao ano. Referência das 33 UBS e ESF da região norte e eixo Baltazar. No ano de 2014 foram realizadas cerca de 2600 oficinas, 3711 atendimentos individuais,53 atendimentos de família, 1910 grupos terapêuticos, recebendo 156 pacientes novos e reencaminhando para a rede 219. O serviço conta com equipe multidisciplinar, como citado nos demais, além de residentes de Psiquiatria e da RIS, estando atualmente com 27 profissionais das diversas áreas.

CONTATOS

5. Unidade de Atendimento Ambulatorial Psiquiátrico – Conta com três psiquiatras responsáveis por mais de 380 atendimentos/

mês. Temos ambulatório ligado diretamente ao Serviço de Infectologia e do Centro da Dor, participando o psiquiatra das referidas equipes. Os pacientes são encaminhados através da Central de Regulação do município de Porto Alegre. 6. Consultorias psiquiátricas – São realizadas cerca de 10 consultorias semanais nas diferentes especialidades. 7. Atendimento no CREAME aos funcionários – Equipe com dois psiquiatras, uma psicóloga e assistente social. Implantado há 3 anos um serviço de psicoterapia para atender aos funcionários. Esta atividade é realizada pelos residentes do terceiro ano. 8. Serviço de psicologia – O GHC possui 43 psicólogos em atividade, sendo 20 deles locados nas unidades hospitalares do Grupo. Cada profissional está inserido em diferentes serviços, atendendo tanto nos ambulatórios como nas diversas unidades hospitalares. Os demais encontram-se lotados nas Unidades de Medicina Geral e da Comunidade. Nossos serviços estão à disposição dos colegas e da Comunidade através dos contatos a seguir.

Unidade de Internação Rua Francisco Trein, 596, 4o andar Fone (51) 3357.2402 / 3357.2643 Coordenação: Psiquiatra Carla Fávero Hofmeister CAPS AD III Rua Carneiro da Fontoura, 57, Bairro Jardim São Pedro Fone (51) 3345.1749 Coordenação: Enf. Giovani Unterberger Mendes CAPS II Rua Marco Polo, 278, Cristo Redentor Fone (51) 3337.0726 Coordenação Psiquiatra Letícia Tergolina

CAPS i Rua Dom Diogo de Souza, 429, Cristo Redentor Fone (51) 3366.1429 38 Coordenação: Psiquiatra Marcelo Leite


Residência em Psiquiatria da Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)/Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV) O Serviço de Psiquiatria do HMIPV é o principal campo de estágio para a residência em Psiquiatria da UFCSPA. Desta forma, o Serviço é composto por preceptores concursados da Secretaria de Saúde do Município de Porto Alegre e professores da UFCSPA. Os residentes são distribuídos em atividades envolvendo a internação psiquiátrica, ambulatórios e consultorias, além de outros campos de estágio. Por ser um hospital materno-infantil, existe a particularidade do atendimento frequente de pacientes gestantes com transtornos mentais, além da população pediátrica.

Os ambulatórios são atendidos pelos residentes dos terceiros anos, sendo dois ambulatórios de “Triagem” (adultos e infância/adolescência) e os demais divididos em especialidades: Ambulatório de Egressos (pacientes que tiveram alta recente); Dependência Química; Transtorno de Humor Bipolar; Depressão; Esquizofrenia; Ansiedade; Hepatites; Infância/Adolescência e Psicogeriatria. Além disso, são atendidas as consultorias no HPV e na Santa Casa, com a particularidade da consultoria de ligação com a patologia da gestação, onde são acompanhadas pacientes com gestação de alto risco e com transtornos mentais. Cada ambulatório conta com um programa específico de seminários. O programa também compreende a formação em Psicoterapia Cognitiva Comportamental (com atendimento individual e em grupo) e Psicoterapia Psicodinâmica, com supervisões de casos, além dos seminários. Outros campos de estágio compreendem a Psiquiatria Comunitária (Unidas Básicas de Saúde da Unidade Eixo Baltazar), a Emergência Psiquiátrica do Pronto Atendimento Cruzeiro do Sul e mais recentemente o ambulatório de psiquiatria da Santa Casa.

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

A internação psiquiátrica é atendida pelos residentes do primeiro ano, sendo compreendida de 24 leitos femininos, cinco destinados a gestantes dependentes químicas. Os encaminhamentos das pacientes são realizados principalmente pela central de leitos, já que o hospital atende 100% SUS. Os residentes também passam por estágios na Neurologia da Santa Casa e na Unidade de Dependência Química do Hospital Álvaro Alvim. » Chefe da Residência em Psiquiatria: Prof.Dra. Analuisa Camozzato » Chefe do Serviço de Psiquiatria: Dr. Claudio Martins » Chefe da Internação Psquiátrica: Dra. Madeleine Scopp Medeiros » Chefe dos Ambulatórios: Dra. Gledis Lisiane Motta Atendimentos: » Ambulatório: 200 consultas/sem » Internação: c. de 250/ano » Vagas de Residência em Psiquiatria: 5 vagas/ano Contatos: » Hospital Materno Infantil Presidente Vargas Internação Psiquiátrica: 5o andar Endereço: Av. Independência, 661 Fone: 3289.3151 » Universidade Federal de Ciência da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) Fone: 3303.9000 39


PSIQUIATRAS POR AÍ

Coordenação: Dr. Mário Tregnago Barcellos

Bellora, o pioneiro de Bento O INÍCIO Nasci em Rio Grande, mas morei no início da vida na Vila da Quinta, que fica a cerca de 20 km de Rio Grande. Meu pai era mecânico, nascido em Buenos Aires, e faleceu quando eu tinha 4 anos de idade. Logo em seguida, minha mãe, em busca de melhores condições de estudo e trabalho, levou os 3 filhos – dos quais eu era o menor – para Pelotas. Comecei a trabalhar aos 14 anos, como auxiliar de escritório advocatício, enquanto estudava no Colégio Municipal Pelotense, uma excelente escola pública. Sempre tive certeza de querer ser médico, o que acredito ter relação com ver o médico como alguém importante, admirado e respeitado. Consegui ser aprovado no vestibular da UFRGS em minha primeira tentativa sem fazer curso pré-vestibular. Em 1965, ingressei, assim, na Faculdade de Medicina da UFRGS, e me mudei para Porto Alegre. A FACULDADE E A ESPECIALIZAÇÃO O contato com a psiquiatria durante a faculdade foi de curta duração: somente um semestre, considerado por mim como tempo insuficiente. As aulas eram realizadas na Divisão Melanie Klein do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Tive como professores, entre outros, os Drs. David Zimmermann, Isaac Pechansky, Manoel Albuquerque, Moises Roitman e Antonio Mostardeiro. No período da faculdade, morei na Casa do Estudante Universitário Aparício Cora de Almeida,

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na Rua Riachuelo – uma casa de estudante autônoma, destinada a estudantes de poucos recursos socioeconômicos, cuja administração era de responsabilidade dos próprios estudantes. Formei-me em 1970 e, após a graduação, realizei concurso para a Escola de Saúde do Exército, localizada no Rio de Janeiro. A Escola tinha como objetivo formar oficiais, o que incluía assistir aulas de assuntos militares, mas também oferecia a possibilidade de realizar uma especialização. Optei pela psiquiatria, o que me fez ter aulas teóricas e práticas, as quais aconteciam no Hospital Psiquiátrico Dom Pedro II, em Engenho de Dentro. No final de 1971, concluí o III Curso de Especialização em Psiquiatria pela Academia Brasileira de Medicina Militar. Saí de lá como 1º Tenente Médico e quis retornar a Porto Alegre, mas não havia vaga. Como estava bem classificado, pude, no entanto, escolher Bento Gonçalves, pois lá havia um batalhão que em breve seria transferido para Porto Alegre. O batalhão de fato transferiu-se para a capital em 1976, mas aí eu é que não desejava mais sair de Bento. O programa de saúde mental estava indo muito bem e eu não quis parar. Transferi-me, assim, para outro batalhão que veio substituir o anterior. Em 1975, fui promovido a Capitão Médico, tendo continuado como médico militar até 1978, quando fui transferido para o Amapá. Decidi mais uma vez não deixar Bento Gonçalves. Como não havia possibilidade de continuar no exército sem me transferir, pedi demissão.


A PSIQUIATRIA NA CHEGADA À SERRA Quando cheguei a Bento Gonçalves, em 1972, não havia psiquiatra na cidade. Fui o primeiro. Estabeleci-me trabalhando em consultório particular e, conforme já mencionado, como médico militar do 3º Batalhão de Comunicações do Exército. Os pacientes psiquiátricos em Bento, quando cheguei, não recebiam nenhum atendimento na cidade. Eram todos encaminhados para Porto Alegre. Enquanto aguardavam vaga, permaneciam amarrados a uma cama. Em alguns casos de alcoolismo e surtos psicóticos, os pacientes eram levados ao presídio local. Logo ingressei no corpo clínico da Sociedade Dr. Bartholomeu Tacchini, que administrava os dois hospitais gerais da cidade: Tacchini e Walter Galassi. Comecei a atender os pacientes em leitos psiquiátricos do Hospital Walter Galassi. É bom lembrar que, nessa época, não havia celular e eu ainda não possuía telefone em casa.

Os familiares de pacientes vinham solicitar atendimento de urgência durante a madrugada tocando no interfone do edifício onde eu morava. Muitas vezes, era a própria família que me levava para atender pacientes em surto psicótico em suas casas. Não havia serviço de atendimento móvel (como a SAMU de hoje em dia), e os perigos eram muitos, pois encontrava pessoas agressivas, psicóticas, por vezes armadas. A PRÁTICA PSIQUIÁTRICA E A FORMAÇÃO PESSOAL Em 1974, conheci o Dr. Fernando Guedes, então Dirigente da Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado. Iniciei, a seu convite, estágio voluntário no Hospital Psiquiátrico São Pedro entre 1974 e 1975, sob a coordenação do Diretor de Serviços Médicos do São Pedro, Dr. Carlos Gari Faria. Essas idas a Porto Alegre foram motivadas por minha insatisfação com os conhecimentos adquiridos no Rio de Janeiro: queria estudar e aprender mais para então aplicar os conhecimentos em Bento Gonçalves, onde havia muito por fazer – permaneci como o único psiquiatra da cidade por seis anos. O programa do estágio incluía o acompanhamento do dia da unidade Paulo Guedes do hospital (sob a coordenação do Dr. Hans Ingomar Schreen) com discussão de casos, reunião de equipe e um programa de estudos sobre temas psiquiátricos. Com os conhecimentos adquiridos nesse estágio, voltei para Bento Gonçalves estimulado a desenvolver um serviço de psiquiatria no Hospital Walter Galassi. A demanda foi crescendo (como dizia o Dr. Fernando Guedes: “Quando é acesa uma lamparina na escuridão, surgem os insetos voadores em torno da luz”), então organizei uma Unidade Psiquiátrica, de acordo com os princípios de uma Comunidade Terapêutica, no Hospital Walter Galassi. A procura pelo atendimento em saúde mental na região continuou aumentando e, com a chegada de outros colegas psiquiatras à cidade, o hospital se tornou unicamente psiquiátrico em 1978, transformando-se num centro regional para atendimento psiquiátrico pelo sistema público e outros convênios. Nessa 41


época, fui nomeado Diretor do Corpo Clínico, cargo que desempenhei até 1997, por ocasião do fechamento do Walter Galassi. Esse Hospital Geral surgiu inicialmente com o nome de Maria Tereza Goulart e pertencia a uma entidade estudantil de Bento Gonçalves. Diz-se ser um projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer: é uma construção térrea, sem escadas, em terreno com área total de 26.000 m2. Existia jardim interno, horta, campo de futebol, anfiteatro, consultórios, bar, cozinha, padaria, capela e bloco cirúrgico. Os corredores amplos faziam com que nem parecesse um hospital. Com a intervenção militar de 1964, o nome foi mudado para Hospital Walter Galassi. A administração foi passada para o Estado e, em seguida, para a UFRGS. Sob o sistema de comodato, logo passou a ser administrado pela Sociedade Dr. Bartholomeu Tacchini, o que se manteve por cerca de 20 anos. Na época em que o hospital era unicamente psiquiátrico, tínhamos 120 leitos, sendo 70 a 80 somente para o sistema público, enquanto os demais se destinavam a convênios. Todo semestre havia uma avaliação do hospital por uma comissão que incluía representantes do CREMERS e de outras entidades. Nosso hospital chegou a ser considerado referência nacional como hospital psiquiátrico com atendimento público. Atendíamos pacientes não apenas de Bento Gonçalves, mas também de outras cidades do estado e também de Santa Catarina. Depois de um período fechado, hoje a área é administrada pela prefeitura de Bento, e tudo aquilo que citei transformou-se em um Posto de Atendimento Municipal (PAM) 24 horas. Em 1974, iniciei tratamento pessoal, inicialmente com psicoterapia de orientação analítica e após, psicanálise. Aproveitava minhas viagens a Porto Alegre para também fazer supervisão de meus pacientes atendidos em psicoterapia na cidade onde morava.

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LIGAÇÕES CIENTIFICAS COM A CAPITAL Em meados dos anos 70, estava sendo feita a reestruturação do Hospital Psiquiátrico São Pedro, dentro do modelo da setorização e do treinamento aos médicos das Unidades Sanitárias do interior. O objetivo dos treinamentos era capacitar esses médicos a realizar atendimentos a crises e acompanhar os egressos do São Pedro. Nas cidades onde havia psiquiatra – como, por exemplo, Santa Maria, Santana do Livramento e Bento Gonçalves –, foram abertos Ambulatórios de Saúde Mental. As localidades que não contavam com um psiquiatra recebiam uma equipe constituída por psiquiatra (voluntário), assistente social e psicóloga, a qual treinava médicos generalistas nas Delegacias de Saúde Regionais. Nos finais de semana, várias equipes se deslocavam para o interior – eu seguidamente pegava o “trem húngaro” e ia para Alegrete, ou ainda ia de carro até Palmeira das Missões. Como psiquiatra integrante da Associação Brasileira de Combate ao Alcoolismo (ABCAL), minha função era abordar o tratamento do alcoolismo. Quando cheguei a Bento Gonçalves, me chamou a atenção a grande prevalência de alcoolistas na comunidade. Esses eram vistos não como doentes, mas sim como portadores de “defeito moral”. Na faculdade, nada se falava sobre alcoolismo. No programa de Saúde Mental, no Hospital São Pedro, conheci os Drs. Boris Nadvorny, Ernani Luz Júnior e Dirceu de Conto da ABCAL. Ingressei nessa associação e participei da coordenação de grupos de pacientes, além de grupos de estudos, terminando por abrir um grupo da ABCAL em Bento. Realizamos trabalhos científicos, participamos de Jornadas e de Congressos nacionais e internacionais. Organizamos também o Curso de Atualização em Alcoolismo, no qual ministramos aulas sobre prevenção, diagnóstico, complicações e tratamento. Abri grupos de alcoolistas, seguindo os moldes da ABCAL, em várias cidades, como


Nova Prata, Erechim, Não-Me-Toque, Garibaldi e Carlos Barbosa. O grupo que criei em Bento se reúne semanalmente até hoje, sob a minha coordenação, sendo aberto à comunidade e funcionando de forma gratuita na Unidade Psiquiátrica do Hospital Tacchini. OUTRAS ATIVIDADES Em 1974, ingressei na Secretaria da Saúde do Estado, sendo o responsável pelo Ambulatório de Saúde Mental de Bento Gonçalves até o ano de 2002. Em 1984, participei do Programa de Educação Continuada da então Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (hoje APRS) sobre Psicoterapia de Orientação Analítica, ministrado pelo Dr. Carlos Gari Faria. Esse programa era destinado a psiquiatras do interior do Estado e contava com a participação de vários colegas, entre eles o Dr. Alencar Bernardi de Souza (de Ijuí) e o Dr. Luiz Alberto Caputo (de Santana do Livramento). Teve duração de 10 anos, tempo em que participei dele integralmente. Após, continuei a participar das reuniões cientificas do Departamento de Psicoterapia de Orientação Analítica da nossa sociedade, coordenadas por vários psicanalistas, como os Drs. Sérgio Paulo Annes, David E. Zimerman e Carlos Gari Faria. Em 1998, após o fechamento do Hospital Walter Galassi, ficamos sem lugar para a internação de pacientes psiquiátricos, então criei a Unidade Psiquiátrica do Hospital Tacchini, sendo seu coordenador até 2005. Essa unidade possui hoje 30 leitos, 15 dos quais são destinados ao SUS. Entre 1999 e 2000, a partir do desejo de continuar evoluindo na compreensão do paciente dentro de uma perspectiva psicodinâmica, fiz o Curso de Especialização em Psicoterapia de Orientação Analítica promovido pelo Centro de Estudos Luís Guedes (CELG). Em 2003 iniciei a realização de palestras semanais para a comunidade em uma rádio local sobre assuntos relacionados à Saúde Mental, com

duração de vários anos. Essa atividade era muito interessante: eu falava de temas inicialmente sugeridos por mim e, após, temas pedidos pelos ouvintes. Havia um espaço aberto para perguntas também. Da minha parte, era uma atividade totalmente gratuita, através da qual eu via uma forma de ser um agente de Saúde Mental e de participar da comunidade que havia me recebido. Enquanto existiu, funcionou bem, mas a rádio precisava de patrocínio e, portanto, hoje esse espaço não se mantém. Em 2005, com a aquisição do Hospital Beneficente São Roque, de Carlos Barbosa, pela Sociedade Dr. Bartholomeu Tacchini, organizei, junto com Dr. Ricardo Maioli, nova unidade psiquiátrica nesse hospital, com 25 leitos. Também sou Professor Colaborador do Instituto de Ensino e Pesquisas em Psicoterapia (IEPP) desde o ano de 2010. BELLORA COMO SINÔNIMO DE PSIQUIATRIA Como fui o primeiro psiquiatra de Bento Gonçalves, tornei-me conhecido como um médico que atendia pacientes em crises, muitas vezes necessitando de internação. Esse tipo de abordagem era visto como novidade, e o Hospital Walter Galassi inclusive chegou a ser conhecido pela maioria das pessoas como “Hospital Bellora”. Atualmente, atendo em meu consultório particular nas áreas de Psiquiatria Clínica e Psicoterapia de Orientação Analítica. Atendo também pacientes internados na Unidade Psiquiátrica do Hospital Tacchini de Bento Gonçalves e na Unidade Psiquiátrica do Hospital Beneficente São Roque de Carlos Barbosa. Presto ainda serviço de consultoria psiquiátrica e atendimento de urgências psiquiátricas no pronto socorro do Hospital Tachhini. Somos, hoje, aproximadamente 20 psiquiatras trabalhando em Bento Gonçalves.

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ESCONTRO ENTRE GERAÇÕES

Coordenação: Dr. Mário Tregnago Barcellos e Dra. Carla Bicca

Um psiquiatra e a psiquiatria em formação Por Luis Souza Motta, 27 anos, R3 em psiquiatria HSL/PUCRS

Diante da tarefa de compartilhar nesse artigo as vicissitudes dos primeiros anos de psiquiatria de um jovem médico caiu-me o incessante questionamento sobre qual a possibilidade de que minhas palavras efetivamente possam acrescentar alguma informação, uma vez que todos os colegas já estiveram, ou estão, nessa mesma posição de aspirante à psiquiatra. A nossa profissão – e nossa arte – vem mudando numa velocidade tamanha, que temo não conseguir acompanhar: seria essa uma preocupação dos meus jovens colegas e dos meus experientes professores? De que forma podemos avaliar a recente conjuntura científica da psiquiatria e prospectar novos caminhos? Impressionantemente tudo na psiquiatria é muito recente quando comparado às outras especialidades. Nossos questionáveis manuais diagnósticos, os métodos de pesquisa observacionais e intervencionistas e os modelos terapêuticos parecem ser neonatos do conhecimento médico secular ministrado na universidade. Muitas vezes fico com a sensação de que a prática psiquiátrica moderna é equivalente aos tratamentos médicos dos tempos da Idade Média – quando um curandeiro prescrevia um mesmo chá de ervas broncodilatadoras para uma “síndrome” dispneica desconhecendo a existência de “doenças de base” como asma, insuficiência cardíaca, pneumonia, dentre tantas outras causas para um mesmo sintoma. É inquietante, para um médico recém-formado e com o ímpeto de diagnosticar e tratar “doenças”, constatar que as síndromes psiquiátricas

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prevalentes recebem a mesma alcunha – transtorno – por não apresentarem bases fisiopatogênicas bem definidas e compartilharem constructos diagnósticos inconsistentes. Tomemos como exemplo uma teoria contemporânea que sugere o entendimento de apresentação espectral em continuum para três entidades psiquiátricas, que parte do transtorno depressivo maior, passando pelo transtorno do humor bipolar e chega à esquizofrenia. Não é de se estranhar que seja possível tratar, atualmente, essas “diferentes patologias” com um mesmo psicofármaco. Desde a teoria humoral Hipocrática, a divisão feita por Kraepelin entre psicose maníaco-depressiva e demência precoce, a melhor compreensão do inconsciente e do funcionamento psicodinâmico por Freud, até os modelos nosológicos atuais do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), se estudou, observou e aprendeu muito. No entanto, por melhor aplicado e supervisionado que seja um residente em psiquiatria hoje em dia, muitos pacientes persistem “refratários”, sem diagnóstico firmado e à espera do que a evolução da doença e do tratamento fornecerão de dados. Esse panorama, por vezes frustrante, se acalenta na lembrança de que nossos professores fizeram muito, com muito menos. Aprenderam, por exemplo, a “segurar psicoses graves” com abordagens psicoterápicas, meia dúzia de psicofármacos e com a eletroconvulsoterapia. Temos muito a aprender com o conhecimento adquirido pelo tempo de experiência dos nossos mestres.


Ao mesmo tempo em que todo o conhecimento do passado cai sobre nossas escrivaninhas, numa infinidade de livros, alguns papers extraídos do PubMed nos sinalizam que muitas coisas podem estar erradas ou mal compreendidas. Nessa conjuntura, foi lançada a recente força tarefa do NIMH (National Institute of Mental Health), denominada de “RDoc” (Resarch Dominian Criteria), que objetiva patrocinar e valorizar estudos que possam contribuir para o entendimento fisiopatogênico das doenças e processos mentais, o que pode colocar em cheque a nosologia psiquiátrica atual, assim como paradigmas de tratamento e comportamento das doenças mentais. Para o NIMH ainda não encontramos diferenças estruturais de neuroimagem ou alterações laboratoriais suficientes para diferenciar “biologicamente” pacientes com depressão maior e transtorno do humor bipolar, por exemplo. Uma teoria corrente que tenta explicar o porquê de nossas pesquisas em neurociências e transtornos mentais serem em sua maior parte inconclusivas sugere que podemos estar partindo de constructos diagnósticos errados. Exemplificando: talvez estejamos estudando as alterações de imagem e bioquímicas da “dispneia” sem saber que por trás dela podem estar a asma, a pneumonia e a insuficiência cardíaca (hora o BDNF dos nossos pacientes deprimidos está alto, hora está baixo).

Tendo em vista tantas incertezas e a quantidade de conhecimento que é produzido em uma velocidade que torna insustentável o “consumo” de todas essas novidades, a vida profissional de um psiquiatra em formação representa um grande desafio e, possivelmente, uma preocupação para todos nós. Podemos escolher vários terrenos existentes para alicerçar as bases de nossa prática clínica, alguns mais arenosos e outros mais sólidos e conservadores. Independentemente, nossas rotinas nas internações e ambulatórios parecem estar sujeitas a grandes mudanças. Por fim, além de toda a responsabilidade de escolha e decisão inerente a um médico residente de qualquer especialidade, percebemos o viés peculiar do apragmatismo clínico-biológico em que a psiquiatria se encontra. Esses fatores corroboram com a ideia de que temos um universo médico pouco explorado, e nos permite prospectar que, nesse lugar, podemos ser personagens fundamentais no processo de entendimento da mente humana. O futuro de nossa arte é incerto e a evolução imperiosa está em nossas mãos e sob nossa responsabilidade. 45


ESCONTRO ENTRE GERAÇÕES

Comentário do Professor Doutor Ellis Alindo D’Arrigo Busnello, 83 anos, Titular Aposentado dos Departamentos de Psiquiatria e Medicina Legal das Faculdades de Medicina da UFRGS (Emérito) e da UFCSPA.

As preocupações do novo Psiquiatra Luis Souza Motta mostram o elevado grau de Consciência Moral que os jovens que ingressam na bem definida Especialidade Médica que bem coloca o nosso lugar e a nossa posição dentro da Medicina: a área que sedia o estudo da Mente Humana, a sua Localização Central ao que tudo indica hoje, o Cérebro, o Funcionamento da Mente Saudável e das suas Patologias Individuais e ou Coletivas, e no reverso, suas Grandezas também Individuais e Coletivas. A Editoria do Jornal da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul me pede para que eu o comente de ontem para hoje, com recusa impossível para um Professor com 83 anos dos quais 65 passados dentro da Ciência e da Arte Médica, as colocações de um Psiquiatra já pronto, jovem, de forma abrangente e em menos de meia página. Sim, tem razão o nosso novo colega em estar espantado com os atrasos dos métodos de pesquisa, dos modelos terapêuticos, do mal-estar que causa ter que abordar Doenças (poucas) ou Transtornos (muitos), bem como o que é inquietante para as Mentes Normais, ao encarar “Transtornos” candidatos a serem Doenças; é espantoso ter idênticos tratamentos para diferentes “Transtornos”, Doenças já definidas e continuar a caminhada entre o Normal e o Patológico Mental. Tarefa difícil. Os estudiosos 46

da Mente Humana do Bem (existem os do mal) têm mostrado que muitos Comportamentos e Transtornos ontem vistos como patologias da mente, sejam variações de uma Normalidade de Certos Indivíduos e de Certos Grupos. Mas o Psiquiatra de hoje deverá enfrentar sem sectarismos estes aparentes dilemas. O nosso jovem colega tem o mérito de concluir sua Residência e mostrar bem claro o tipo de Psiquiatra que nós precisamos: com “tantas incertezas”, uma equivalente “quantidade de conhecimentos”, mas mantendo, para o bem da Medicina e no seu caso, para o bem da Psiquiatria, a parte da Medicina que trata das assim chamadas Doenças Mentais que o futuro da Ciência que por nossa vontade resolvemos escolher como o alvo maior de nossas vidas, aquilo que a nossa Ciência se propõe a trabalhar as relações dos humanos consigo mesmos, com as suas famílias e com a tarefa que a maioria se propõe de dar continuidade a nossa espécie humana com os grupos sociais, família, comunidades, cidades, países, humanidade, é uma opção Maior. Não fomos a ela obrigados e sim por ela optamos. Não nos cabe outra opção, senão trabalhar sobre o Conhecimento Maior da mesma, abrangente no verdadeiro sentido da palavra inglesa comprehensive (etiologia, contágio, defesa e fracasso dos seres humanos

em sua luta contra as Doenças/ Transtornos Mentais), ou seja, não chorar sobre ela: o que se sabe e o que falta por descobrir sobre elas, para erradicá-las da face da Terra. Quando então passaremos da Luta contra as Doenças para a Construção melhor e maior dos Humanos. Usando o meu direito de velho, apelei para o que de moço existe dentro de mim e sugiro que todo o jovem Psiquiatra leia e debata os artigos cujas referências aqui coloco, por apontarem caminhos.

REFERÊNCIAS TR Insel and EM Scolnick – Cure therapeutics and strategic prevention: raising the bar for mental health research. In Molecular Psychiatry (2006) 11, 11-17. J Licinio and M-L Wong – Launching the “War on Mental Illness”. In Molecular Psychiatry (2014) 19, 1-5.


NOTÍCIAS DA APRS

Coordenação: Dra. Anahy Fonseca

Revista TRENDS Coquetel Comemorativo da Conquista do Medline pela Revista TRENDS No dia 17 de Março realizou-se um coquetel para comemorar a indexação da revista Trends in Psychiatry and Psychotherapy na base de dados PubMed/Medline, que inclui 23 milhões de publicações ao redor do mundo. A indexação representa um marco na APRS, fazendo que as

atividades da associação transbordem as fronteiras da “excelência local” para atingir uma ‘conectividade global’. A comemoração contou com a presença dos editores, ex-editores e do time editorial. Giovanni Salum.

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NOTÍCIAS DA APRS

28o Ciclo de Avanços O 28. Ciclo ocorreu no dia 23 de maio, um sábado, como de costume, nas dependências da AMRIGS. A Comissão Organizadora, formada por Adriana Dal Pizol, Lucas Spanemberg e Madeleine Scop Medeiros, havia se reunido algumas vezes para organizar a grade do evento e discutir com a Diretoria alguns aspectos chave, como por exemplo, patrocínios. Ou melhor, a ausência deles. Isto ao mesmo tempo nos amedrontava e desafiava a nossa criatividade. Pensamos em tornar o evento mais interativo, e para isto fizemos contatos com os coordenadores dos grupos de estudo. Tentamos fazer convites por meio virtual ou real para toda a nossa rede de colegas. Ao mesmo tempo, acreditamos que o Ciclo é o “Ciclo”, e que como tal, nunca decepciona. Tem um público cativo que interage fortemente gerando grandes discussões com espírito científico. E, chegado o grande dia, vimos a comprovação disto. Cerca de 200 pessoas, entre antigos e novos frequentadores, vinham pouco a pouco lotar as salas de discussão. Algumas com mais gente, outras menos, mas todas com o mesmo espírito: integração e discussão. Curiosidade e

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sínteses. Novidades e assuntos clássicos colocados em perspectiva. Tudo isto somado a agradáveis intervalos para cafés e almoço onde as discussões continuavam. Gente que não víamos há tempos, outros que estão sempre lá, mas todos com a mesma vontade. Nunca parar de se questionar. O verdadeiro espírito do “Ciclo” continua: interatividade a favor do espírito científico. Nossa missão foi um sucesso novamente. O que não poderia deixar de ser citado é o esforço e empolgação das nossas competentes Ana Paula Cruz e Laís Witt Paim, sem as quais nada disso teria sido possível. Por fim, sem o apoio incondicional da Diretoria da APRS, também não poderíamos ter cruzado a linha de chegada. Que venham os próximos!

Dra. Madeleine Scop Medeiros Dra. Adriana Dal Pizol Dr. Lucas Spanemberg


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NOTÍCIAS DA APRS

Curso de atualização em Psiquiatria da Infância e da Adolescência da APRS Curso de atualização e preparação científica para prova de título de Especialista da ABP. » Aulas de 21 de julho a 27 de outubro na AMRIGS (14 encontros). » Todas as terças-feiras, das 19h15 às 21h30 » Investimento Associado à APRS: R$100,00 Residente associado: R$40,00 Não-associado: R$220,00 » Inscrições e informações pelos telefones (51) 3024.4846 / (51) 8116.5896 pelo site aprs.org.br ou pelo e-mail aprs@aprs.org.br

Comemoração do 15o aniversário do DPIA Dias 27 e 28 novembro de 2015, no Auditório AMRIGS (Av. Ipiranga, 5311 – Porto Alegre/RS). » Convidada Internacional Clara Nemas, Médica psicoanalista, miembro titular con función didáctica de la Asociación Psicoanalítica de Buenos Aires, ex vice-presidente y ex-directora científica de APdeBA, analista de niños y adolescentes de la IPA. Co-chair del Comité de China de IPA, miembro del Board del International Journal de Psicoanálisis, miembro del equipo latinoamericano de coordinadores del Working Party de Modelos Clínicos Comparados. » Tema: Formas Actuales de la Novela Familiar en Adolescentes » Organização Dra. Anna Luiza Kauffmann (Coordenadora do DPIA) Dra. Ana Rosa Bopp Tesheiner (Vice coordenadora do DPIA) Dra. Miriam F. Barros de Santis (Secretária Administrativa do DPIA) Dra. Alida Vitoria Fuhrmeister

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ESPAÇO DO SÓCIO

Lançamento de Jorge A. Salton Não só os políticos, mas a população e em especial os usuários das redes sociais compõem hoje bandos de “desconstrução” uns dos outros. Encontrado em relacionamentos afetivos, na política, na história, em doenças mentais, em ideologias leigas e religiosas, o maniqueísmo está muito presente em nossas vidas. As psicoterapias, todas, tentam ajudar as pessoas a superar suas vozes maniqueístas para, depois, compreender todo o processo que está por trás das mazelas humanas. Guido Palomba, reconhecido psiquiatria forense de São Paulo, leu os originais: “A leitura do livro prende a nossa atenção, de modo especial desperta a curiosidade do leitor para ver como o autor desenvolve as suas ideias, com inteligência e cultura, a fim de mostrar que o sinal patognomônico da maldade é o pensar maniqueísta. E é”. André Petry, editor especial da Revista Veja: “Nestes tempos saturados de um maniqueísmo brutal, o livro de Salton é uma lufada de ar puro. Com exemplos extraídos de pequenos dramas do cotidiano ou de grandes catástrofes históricas, o autor demonstra exaustivamente que somos todos banhados pelos dois jarros de Zeus. E não deixa dúvidas de que a vida seria tão mais plena se todos entendêssemos isso”. O fenômeno do maniqueísmo é decomposto em seus sete componentes. São descritos fatores que o desencadeiam e suas possíveis causas. Para tanto, o autor descreve fragmentos da vida de personagens históricas como Nero, Hitler, Himmler, Goering, Duch e Trumam, entre outros. Também aborda a superação do fenômeno ao examinar passagens da vida de Kofi Annan, Vasili e Jango. Publicado pela Editora Movimento encontra-se a venda na Livraria Cultura.

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