Revista "O Hospital" | Nº 11

Page 12

22

ANÁLISEENTREVISTA GRANDE

Vai seguir os passos do seu antecessor ou vai ter outro género de atitudes e de ação?

2 da tarde. Provavelmente era assim no tempo em que o nosso Ministro exerceu medicina. Mas há muitos anos que felizmente já não é assim.

Vou seguir o estilo que Pensa que os médicos têm perdido adotei como dirigente da Ordem “A minha dos Médicos e que teve resultados capacidade de intervenção no missão é servir o muito satisfatórios a vários níveis. sector da saúde – uma vez que país defendendo a Vou ser o bastonário de todos os tem referido que é necessário qualidade da formação médicos. No sector público, privado valorizar profissionalmente os e da medicina, assim ou social. E a minha missão será clínicos? servir o país, defendendo a qualidade como os doentes e os médicos” da formação e da medicina, os doentes Sem dúvida. Os médicos e os médicos. perderam capacidade de intervenção no sector da Saúde. Uma das principais linhas do seu programa E a intervenção dos médicos é refere-se à necessidade de reforçar a relação essencial para recuperar o SNS, defender os médico-doente. Pensa que esta relação está doentes e dinamizar a qualidade da medicina privada e social. Por isso defendo uma política ameaçada? de saúde centrada nas pessoas, nos doentes, que respeite, escute, valorize e dignifique os A relação médico-doente é o núcleo médicos. O contributo dos médicos, ao nível central da própria medicina. É nela que do conhecimento técnico e científico e ao nível tudo começa. E nos últimos anos tem sido da gestão e governação clínica, é fundamental seriamente ameaçada. Pela interferência do para melhorar a capacidade de planeamento, poder político e das administrações e direções. organização e investimento. Os tempos que estão a ser impostos à relação médico-doente são inaceitáveis e a ditadura informática, administrativa e burocrática é uma Quando analisa o atual estado da saúde em grave ameaça à humanização da medicina. Portugal, que pontos considera importantes – positivos e negativos? Como vai reforço?

conseguir

esse

Destaco como pontos positivos “Vou pedir a qualidade dos nossos profissionais aos colégios que de saúde que, no caso dos médicos, Como primeira medida tem por base uma formação pósestabeleçam os padrões vou pedir aos Colégios de graduada de excelência, regulada mínimos para Especialidade da Ordem dos pela Ordem dos Médicos. E o marcação de Médicos, os órgãos que em código genético do nosso SNS que, consultas” Portugal têm competência técnica e apesar de ameaçado, continua a ser científica para definirem e avaliarem as o ponto de referência de todo o boas práticas médicas, que estabeleçam nosso sistema de saúde. os tempos padrões mínimos para marcação de Como pontos negativos do consultas médicas. O Ministro da Saúde disse SNS destaco o investimento insuficiente (não recentemente que cada médico define o tempo podemos fazer reformas de fundo no SNS que tem com o seu doente. Claro que sim. com um orçamento de 5.9% do PIB), a falta Existem doentes que demoram mais tempo e de capital humano (profissionais de saúde), outros menos tempo. Mas é lamentável que não a incapacidade para renovar equipamentos se entenda que as consultas médicas, no SNS ou fora dele, devem ser organizadas. Os doentes e fazer a sua manutenção adequada, a têm marcação para uma determinada hora. Já ausência de promoção da verdadeira inovação lá vai o tempo em que os doentes chegavam tecnológica e terapêutica e da investigação todos às 8 da manhã e eram observados até às clínica, o envelhecimento do SNS e a manifesta

23 Recentemente ouvi um médico incapacidade do Governo para fixar no país os nossos melhores afirmar, num congresso médico, que valores os jovens médicos, as o SNS só se mantém devido à boa enormes assimetrias existentes vontade dos profissionais de saúde, “Não podemos no acesso a cuidados de saúde particularmente os médicos, que fazer reformas de qualificados que prejudicam cada trabalham horas a mais sem vez mais as regiões e áreas mais fundo no SNS com um remuneração adequada. É esta a orçamento de 5,1% carenciadas, mais periféricas e realidade? do PIB” mais desfavorecidas. E a ausência de uma verdadeira reforma estrutural Infelizmente essa é a realidade. e funcional da rede hospitalar que De facto, se neste momento os englobe, para além dos centros de médicos optarem por cumprir a referência e redes de referenciação, os serviços de urgência e emergência, tendo como traves legislação existente a todos os níveis, o SNS entra mestras os cuidados de saúde primários, a em colapso. Os médicos são claramente mal educação em saúde, os cuidados continuados e remunerados para o nível de responsabilidade que têm na sociedade civil. E as horas paliativos e a profissionalização dos serviços. extraordinárias, que têm permitido compensar a Como pontos negativos do sector falta de médicos no SNS, têm sido remuneradas privado e social destaco as imposições absurdas a 50% do seu valor real. Só o elevado sentido de que têm sido colocadas à medicina privada missão dos médicos, centrado nas necessidades de proximidade dos consultórios e pequenas dos doentes, tem permitido manter o SNS clínicas médicas, e nalguns casos a exploração “acima da linha de água”. indevida do trabalho médico.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.