Revista "O Hospital" | Nº 33

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LISBOA RECEBE CONGRESSO MUNDIAL DOS HOSPITAIS

Opiniões de Carlos Pereira Alves (APDH), Xavier Barreto (APAH) e Óscar Gaspar (APHP)

Carlos Cortes, novo bastonário da Ordem dos Médicos:

"Mais do que modelos de organização, temos de perceber as realidades do país e apostar em lideranças médicas"

EUTANÁSIA

Uma conquista da democracia?

ANO
VI, Nº 31 // JAN'22 - ABR'22 ANO VII, Nº 33 // MAI'23 - AGO'23

CIÊNCIA

Vivemos numa era fantástica para a medicina. Na Lilly, utilizamos a inovação na ciência para satisfazer as necessidades médicas nas áreas da diabetes, oncologia, imunologia, doenças neurodegenerativas e da dor. Estamos empenhados em utilizar os avanços mais recentes da ciência para melhorar a vida das pessoas em todo o mundo.

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Índice

04 EDITORIAL

As mudanças que estão a ser operadas no Serviço Nacional de Saúde (SNS) servem de mote para o Editorial da edição 33 da revista O Hospital. As transformações previstas são muitas e as expectativas também. Como e quando vão ser feitas as mudanças é o que todos esperam saber e, nesse sentido, acrescenta-se, era bom ouvir quem estar no centro do sistema: o cidadão.

06 DESTAQUE

O 46º Congresso Mundial dos Hospitais acontece em outubro, em Lisboa, e a organização local está a cargo da: APDH (Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar), APAH (Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares) e APHP (Associação Portuguesa da Hospitalização Privada). Nesta edição fomos conhecer as expectativas dos responsáveis destas associações: Carlos Pereira Alves, Xavier Barreto e Óscar Gaspar.

14 GRANDE ENTREVISTA

O patologista clínico Carlos Cortes, natural de Coimbra, é o novo bastonário da Ordem dos Médicos, sucedendo a Miguel Guimarães. A revista O Hospital foi ouvir as suas ideias para o futuro da Ordem e para o futuro dos médicos e dos portugueses. Determinação e mudança parecem ser as palavras-chave da sua atuação para os próximos 3 anos à frente da instituição.

18 CLÍNICA

O projeto “Consultas de Ostomias de Alimentação venceu o Prémio de Boas Práticas em Saúde, 15ª edição, na Categoria de Melhor Poster. Conheça o projeto nesta edição da revista O Hospital.

24 OPINIÃO

Já muito se falou da Residência Farmacêutica e da sua importância para os jovens e futuros farmacêuticos. Neste artigo de opinião, João Emílio Cardoso explica a importância das novas regras e determinações, principalmente no que se relaciona com o trabalho conjunto com outros profissionais de saúde, tendo em vista prestar o melhor cuidado ao cidadão.

26 INOVAÇÃO

Inês Guedes, diretora médica da Takeda, escreve nesta edição sobre as implicações das mudanças climáticas para a saúde de todos nós, particularmente em doenças como a dengue e a zika. O aumento do calor em todo o planeta tem propagado as doenças transmitidas por vetores, elevando o risco em todo o mundo. A boa noticia é que a Takeda tem já a vacina contra a dengue.

27 CONTROVÉRSIAS-EUTANÁSIA

REVISTA

DIRETORA

ANA ESCOVAL

COORDENADORA

MARINA CALDAS

REDAÇÃO

MARINA CALDAS, ANTÓNIO SANTOS, ANA TITO LÍVIO, SARA ROZMAN E RITA SANTOS

EDITORA DE ARTE E PAGINAÇÃO JOANA CÂMARA PESTANA (MYLOGO)

FOTOGRAFIA

DANIEL PEGO

REVISÃO ANA ESCOVAL, ANA TITO LÍVIO, ANTÓNIO SANTOS, SARA ROZMAN, RITA SANTOS

IMPRESSÃO

UE

TIRAGEM

4.000 EXEMPLARES

DISTRIBUIÇÃO

GRATUITA

PERIODICIDADE

TRIMESTRAL

PROJETO

DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO HOSPITALAR Rua

PROPRIEDADE

ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA PARA O DESENVOLVIMENTO HOSPITALAR (APDH)

Gabinete HOPE&IHF Portugal

Alameda das Linhas de Torres, 117 1769-001 lisboa

Tel. 963 668 745 / 910 069 346

Email: geral@apdh.pt

HOPE: hopemail@hope.min-saude.pt

IHF: ihf@ihf.min-saude.pt

website: www.apdh.pt

Gomes Freire nº9
r/c
A lei da Eutanásia foi aprovada na generalidade pelo Parlamento, apesar da contestação do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O tema, como sabemos, é fraturante e, por isso, fomos ouvir as posições de dois médicos que se situam em posições pró e contra a eutanásia. São eles: Bruno Maia, neurologista e intensivista, e Carlos Monteverde, internista. A ler! Lisboa
A
1150-175
Tel: 213 530 719
geral@fdc.com.pt

SNS - Transformações

Os sábios às coisas que se aproximam

Porque os deuses às coisas futuras, os humanos às coisas presentes, os sábios às coisas que se aproximam são sensíveis Filóstrato, Sobre Apolónio de Tiana, VIII, 7.

Os humanos conhecem as coisas presentes. As coisas futuras os deuses conhecem, de todas as luzes plenos e únicos detentores. Das coisas futuras os sábios, videntes, aquelas que vêm. Seus ouvidos acontecem por vezes em momentos onde o estudo elabora perturbar-se. A eles ocultos aparecem de eventos que se abeiram os fragores. E prestam-lhes piamente atenção. Entretanto, fora, na rua, nada os ouvidos aos povos oferecem.

Kavafis, Konstandinos (2005)

Os poemas. Porto: Lisboa: Relógio d’Água, p. 51

Uma observação atenta à última década do funcionamento do serviço nacional de saúde português permite compreender que, mesmo nas situações interpostas da austeridade, da pandemia e do regresso da guerra à Europa, se desenvolvem neste intervalo de tempo transformações tecnológicas e de organização da prestação de cuidados de saúde, talvez as mais conseguidas, entre outras.

O desempenho do serviço nacional de saúde reportado (OMS, EHC Index, OCDE) manteve-se capaz de padrões de resposta superiores aos níveis de recursos alocados, com menor mortalidade por causas evitáveis e tratáveis até aos 75 anos, em 2019, com a redução da esperança de vida à nascença atenuada, ocorrida na pandemia, ambos estes indicadores mais favoráveis para Portugal.

Revelou-se ainda de uma peculiar resiliência e sem ruptura na capacidade de meios dedicados aos cuidados críticos, mesmo com a mortalidade por COVID-19 em situação intermédia, mas todavia com uma boa cobertura vacinal alcançada.

Mas se o dobrar do cabo das tormentas acima referido foi feito com o enquadramento ainda disponível já nos últimos três anos, chegaram também os processos políticos orientados para transformar estruturalmente o serviço nacional de saúde, como a nova Lei de Bases da Saúde, o novo Estatuto do SNS e até a transferência de competências no domínio da saúde para os municípios, as entidades supramunicipais e as de coordenação e de desenvolvimento regional.

Mas ficam ainda muitas expectativas sobre as administrações regionais de saúde quanto ao porem de pé o desiderato antigo, de mais de vinte anos, da criação e coordenação funcional dos Sistemas Locais de Saúde, ao integrarem

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EDITORIAL

geograficamente todos os estabelecimentos e serviços do SNS e outras instituições públicas direta ou indiretamente envolvidas na saúde, como as da segurança social, educação e proteção civil, bem como as instituições dos setores social e privado.

Já que a gestão do Serviço Nacional de Saúde se encontra autonomizada com a estatuída Direção Executiva (DE-SNS), a assegurar a gestão de recursos e a coordenação funcional da prestação de cuidados de saúde pelos Agrupamentos de Centros de Saúde, Centros Hospitalares, Unidades Locais de Saúde e pelas Redes de Cuidados Continuados e Paliativos, assim como pelas Metropolitanas Urgências Polivalente, Materna e Infantil, devidamente articuladas com a Emergência Médica Extra-Hospitalar.

Porventura, importará mais perscrutar e ouvir os cidadãos quanto às situações e às necessidades concretas que estão a ser vividas por cada um e respetivas famílias, fazendo com que tenham mais autonomia na gestão da própria saúde, aproveitando os benefícios do melhor uso do suporte familiar e comunitário e concretizando o exercício da cidadania na saúde mais próxima da realidade A

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Direção

Em outubro Lisboa recebe o 46º Congresso Mundial dos Hospitais

Faltam apenas quatro meses e meio para que Portugal junte, no Centro de Congressos de Lisboa (Junqueira), mais de 1.500 especialistas de todo o mundo, entre administradores e gestores hospitalares, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, personalidades ligadas ao setor de IT e muitos outros profissionais. Trata-se do 46º Congresso Mundial dos Hospitais, organizado pela Federação Internacional dos Hospitais em colaboração com o Consórcio de três associações portuguesas, ligadas à saúde, a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP).

Nesta edição da revista O Hospital, os presidentes das três associações Carlos Pereira Alves (APDH), Xavier Barreto (APAH) e Óscar Gaspar (APHP) apresentam as suas visões sobre os grandes temas que estarão em análise numa perspetiva de presente e futuro.

6 DESTAQUE

Por um mundo melhor

CARLOS PEREIRA ALVES Presidente da APDH

No próximo mês de outubro, entre os dias 25 a 27, tem lugar no Centro de Congressos da Junqueira, em Lisboa, o 46º Congresso Mundial dos Hospitais organizado pela Federação Internacional dos Hospitais.

Pela 1ª vez este Congresso mundial é organizado a nível local por um consórcio de 3 Associações: a APDH; a APAH e a APHP. A realização deste encontro em Portugal reveste-se de um particular relevo, principalmente quando os serviços de saúde atravessam um momento crítico a nível nacional, europeu e mundial.

O SNS está numa época de outono/inverno esperando com urgência a época de primavera/verão. Será possível alterar o rumo?

Citando o meu querido e saudoso amigo José Cardoso Pires "Tudo vai de saber guardar a esperança. De não esmorecer" (do livro O Hóspede de Job). São vários os desafios do SNS, desde logo as alterações demográficas; a longevidade com qualidade (dar vida aos anos e não apenas mais anos à vida); o consequente aumento das doenças crónicas; os avanços do conhecimento científico e com novos e mais precisos medicamentos, melhores técnicas de anestesia e cirurgia; as aplicações informáticas permitindo a marcação rápida e sequencial de consultas, exames, cirurgias; as vídeo-consultas sempre que consideradas possíveis pelo médico e aceites e compreendidas pelos doentes; a telemonitorização; a hospitalização domiciliária; a prestação de cuidados em zonas remotas, entre outras vantagens e possibilidades da telesaúde.

Aliás, o Congresso Mundial dos Hospitais conta com uma Mesa Redonda, em língua portuguesa, sobre Telesaúde, com a participação dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e na qual se pretende envolver de maneira significativa todos estes países.

Tudo isto exige novos modelos organizacionais e novas lideranças, as quais serão abordadas na 1ª Sessão

CARLOS PEREIRA ALVES

Presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar - APDH (desde 2016)

Representa Portugal como Governor do HOPE Board of Governors da Federação Europeia dos Hospitais (desde 2016)

Professor Jubilado de Cirurgia da Universidade NOVA de Lisboa

Representou Portugal como Membro eleito do Governing Council da Federação Internacional dos Hospitais (2011-2015)

Presidente do Conselho de Administração do Subgrupo Hospitalar Capuchos, Desterro, Arroios (1997-2004)

Presidente da Sociedade Médica dos Hospitais Civis de Lisboa (2007-2009)

Autor de vários trabalhos publicados em revistas nacionais e internacionais

DESTAQUE

plenária do Congresso. Serão igualmente abordados os problemas cruciais da falta de profissionais e de como os atrair e reter, o que exige melhores salários, melhores condições de trabalho, progressão nas carreiras, ou seja Melhor Saúde e Bem-Estar de todos os Profissionais.

A transformação digital será igualmente analisada e discutida.

Finalmente o Congresso não esquece a importância das atividades de Saúde na poluição ambiental, calculada em 10%.

Tendo o Congresso como mote "Tomorrow's World" é seu principal objetivo contribuir para um "Tomorrow's Better World" o que torna necessário e urgente um trabalho conjunto de Governos, Profissionais e Cidadãos.

Como nota final, realçar que é para Portugal uma grande honra e grande prestígio realizar este Congresso Mundial - o maior congresso de Saúde – e realçar o trabalho conjunto do Consórcio de Associações, confirmando que juntos conseguimos. Inscrevam-se e participem.

“Os hospitais têm um papel fundamental na estruturação dos sistemas de saúde e na edificação de sociedades mais justas”

Qual a importância da realização, em Portugal, do 46º Congresso Mundial dos Hospitais (da Federação Internacional dos Hospitais), em outubro próximo?

O Congresso Mundial dos Hospitais, da Federação Internacional de Hospitais (IHF), remonta a 1929, quando foi realizado pela primeira vez em Atlantic City, EUA, como um evento bienal. Desde 2015, realizase anualmente, de forma rotativa, em vários locais do mundo.

O Congresso é um fórum global único que conecta líderes de hospitais, serviços de saúde e organizações de saúde para:

partilhar conhecimentos e boas práticas em liderança/gestão;

partilhar novas ideias e inovações;

interagir com outros executivos seniores de toda a comunidade internacional de saúde.

Será o maior evento de gestão em saúde realizado em Portugal nos últimos anos e uma oportunidade única para todos os Portugueses que procuram a oportunidade e o ambiente para se envolverem numa experiência de aprendizagem e networking de 360 graus com pares globais.

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Quais as temáticas que considera mais relevantes a serem discutidas neste encontro maior dos hospitais e porquê?

O congresso terá 5 grandes temas: liderança, bem-estar e futuro dos nossos profissionais de saúde, novos modelos de cuidados, transformação digital e sustentabilidade ambiental.

Cada um destes temas será discutido em diferentes painéis, com os melhores especialistas de todo o mundo, quer em sessões plenárias, como em sessões paralelas dedicadas a subtemas.

Destaco a sessões paralela que será dedicada aos CPLP, onde procuraremos discutir de que forma as ferramentas digitais (telemedicina, teleconsultas, telemonitorização), têm contribuído para uma melhoria do acesso a cuidados de saúde.

O lema do evento é “Global Learning, Local Action”. Qual a importância desta temática e como vai ser debatida?

Por todo o mundo existem variadíssimos tipos de sistemas de saúde diferentes, com diferentes problemas e constrangimentos. Não existem soluções one size fits all mas a partilha de experiências e a discussão com pares de todo o mundo, ajuda-nos a perceber o rumo que devemos seguir. Essencialmente, o que pode ou não funcionar. Global learning, local actions, remetenos para essa necessidade de discutir problemas e soluções com profissionais experientes provenientes de sistemas de saúde de todo o mundo, procurando encontrar aí o que de melhor possamos transpor para o nosso País. Todos procuramos qualidade e eficiência na prestação e é nesse terreno comum que o debate se proporciona.

Sendo um debate muito virado para um futuro incerto, que papel podem ter os hospitais de todo o mundo na definição de regras para um mundo e uma saúde melhor?

Os hospitais têm um papel fundamental, tanto na estruturação dos sistemas de saúde, como na edificação de sociedades mais justas e equitativas.

Os hospitais têm um papel único na investigação e desenvolvimento de novas terapêuticas. Contribuem para o avanço do conhecimento médico, para o desenvolvimento de novas tecnologias, e para a definição de melhores práticas em saúde.

XAVIER BARRETO

Pós-graduação em Administração Hospitalar, pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA)

Pós-graduação em Gestão e Direção de Serviços de Saúde, pela Escola de Gestão do PortoUniversidade do Porto

Especialista em Produção Lean pela Escola de Engenharia da Universidade do Minho

Membro do Grupo Técnico para a Reforma Hospitalar

Diploma de Estudos Avançados em Investigação em Ciências da Saúde, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Barcelona

Vogal do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Alto Ave EPE

Diretor do Centro de Ambulatório do Centro Hospitalar e Universitário de São João

Membro da Direção da European Association of Hospital Managers

Docente convidado da Universidade do Porto Presidente da APAH

Administrador da Unidade Autónoma de Gestão de Medicina, do Centro Hospitalar de S. João EPE

Coordenador do Projeto de investigação “Análise da evolução da mortalidade infantil em Portugal e sua relação com a evolução da assistência maternoinfantil e demais determinantes”, na Fundação

Francisco Manuel dos Santos

Gestor do Centro de Genética Médica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, I.P

DESTAQUE

Os hospitais podem também fornecer informações valiosas para moldar políticas de saúde, tanto ao nível regional/nacional, como a nível global. Com base na sua experiência, podem produzir informação única sobre as necessidades da população, suportando políticas que melhorem os sistemas de saúde.

Desempenham também um papel crucial na formação de profissionais de saúde (de todos grupos profissionais, incluindo administradores), mas também no aumento da literacia em saúde dos seus utentes.

Os hospitais têm ainda a responsabilidade de garantir que todos os cidadãos tenham acesso equitativo a cuidados de saúde adequados. Será talvez a nossa principal missão. Podem contribuir para iniciativas que reduzam as desigualdades de saúde, especialmente para populações vulneráveis.

Assim e sem prejuízo da importância de todos os níveis de cuidados, é justo dizer que os Hospitais podem desempenhar um papel central na criação de um mundo e de uma saúde melhores.

Os temas que preocupam os responsáveis dos hospitais europeus são os mesmo que preocupam os gestores hospitalares portugueses? Quais?

Em larga medida sim. Todos se preocupam com o envelhecimento da população e com a sobrecarga de procura que isso gera, com a escassez e com o bem-estar dos nossos recursos humanos, com a sustentabilidade financeira, com a tecnologia e a inovação (designadamente sobre como podemos incorporar a inovação sem fazer perigar a sustentabilidade financeira), bem como com o acesso a cuidados de saúde. Diria que este é ponto que mais preocupa grande parte dos países europeus: como garantir o acesso a cuidados de saúde num contexto marcado por um forte aumento da procura, que não tem sido acompanhado por um correspondente aumento da oferta. Convoca-nos a todos para refletir sobre como podemos redefinir percursos assistenciais, integrando novos prestadores de cuidados, novas profissões em saúde, mantendo a qualidade dos cuidados e melhorando o acesso. Será a principal discussão nos próximos anos: que mudanças devemos introduzir nos modelos de prestação de cuidados, para garantir acesso aos nossos doentes.

O papel dos administradores hospitalares vai ter um destaque específico?

O papel dos Administradores Hospitalares é transversal a toda a gestão e governação da saúde e,

consequentemente, estará presente em todas as temáticas do congresso. O congresso terá também sessões especificamente dedicadas à liderança e ao papel que o Administrador hospitalar deverá desempenhar nos hospitais do futuro.

A organização que dirige vai ter encontros específicos com os dirigentes internacionais? Com que objetivos?

Sim, conforme tem acontecido nos últimos Congressos mundiais. Alguns formais, para análise de possíveis projetos em comum e outros informais essencialmente para trocar de impressões sobre os nossos hospitais e sistemas de saúde. Em todo o caso, são sempre momentos muito enriquecedores e que deixam pontes para o desenvolvimento futuro da administração hospitalar portuguesa.

Como está a correr o trabalho entre as três associações responsáveis pela organização do evento em Portugal (APDH, APAH e APHP)?

Muito bem. Existiu, desde o início do projeto, uma sintonia clara entre Associações. Os objetivos, a forma, o propósito de realçar o que de melhor se faz no sistema de saúde, são pontos que nos unem a todos. Isso, e o facto de trabalharmos com interlocutores que nos merecem estima e consideração, torna o trabalho mais fácil.

Podem já desvendar algumas ideias que vão ser relevantes neste encontro e que podem fazer a diferença para o futuro dos hospitais em todo o mundo?

Destacaria 2 ideias. Por um lado, será colocado um foco maior na sustentabilidade ambiental. Em todas as temáticas, mas também nas próprias operações do congresso. Teremos um responsável pela sustentabilidade (Prof. Doutor Queiroz e Melo), que nos dará a honra de ajudar nessa tarefa. Nas semanas précongresso formaremos um conjunto de portugueses neste tema em concreto (com apoio do Centro de Sustentabilidade do IHF), que depois formarão outros colegas de língua portuguesa durante o congresso. É um tema que será cada vez mais central para a gestão e estará muito presente no congresso de Lisboa.

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“O hospital do futuro vai funcionar como o ponto central de uma rede que garante os cuidados de saúde mais adequados”

Qual a importância da realização, em Portugal, do 46º Congresso Mundial dos Hospitais (da Federação Internacional dos Hospitais), em outubro próximo?

Em outubro Portugal será a capital mundial dos hospitais. Todos os olhos estarão voltados para cá e esperamos ter em Lisboa 1.500 especialistas de hospitais de todo o mundo: gestores, profissionais de saúde, académicos, pessoas de IT, da formação, etc., todos estarão cá a discutir a situação atual dos hospitais, as tendências que sentimos e as novas respostas que procuramos.

Portugal é unanimemente reconhecido como um país que recebe bem e tem já tradição na organização de grandes eventos. A organização do 46º Congresso Mundial dos Hospitais em Lisboa será mais uma prova de que somos um destino de confiança e no qual se cria ambiente propício a debates abertos e profícuos.

Em termos de futuro, a realização do Congresso mundial em Lisboa permitirá que muitos mais portugueses possam participar num evento global e assim reforçarem network, partilharem as suas práticas e envolverem-se nas discussões mais atuais sobre o setor da saúde e, em especial, os hospitais. No fundo, todos esperamos que também o sistema de saúde português possa tirar proveito dos trabalhos e conclusões que saírem deste congresso, em termos de melhoria de acesso, eficiência, gestão de recursos humanos e sustentabilidade.

Quais as temáticas que considera mais relevantes a serem discutidas neste encontro maior dos hospitais e porquê?

Muitos dos diagnósticos estão feitos, são comuns à generalidade dos hospitais e temos de encontrar soluções. A maioria dos problemas não são do hospital A ou do hospital B, do setor privado ou do setor público. Para além de questões macro que envolvem decisões políticas, como sejam a do acesso e instrumentalmente do financiamento, há temáticas estratégicas e de gestão decisivas. Diria que a mais óbvia prende-se com a atração e retenção de recursos humanos, dado que o aumento da procura de cuidados de saúde tem que ser satisfeito e já hoje sentimos escassez. A motivação e o papel das lideranças são essenciais. Por outro lado, a atenção do doente e eficiência do sistema exige que pensemos a articulação entre serviços e respostas e reforcemos a importância da prevenção e da análise do ciclo de vida.

Um elemento que causa alguma apreensão, mas que tem um enorme potencial na saúde, é o da transição digital, seja no diagnóstico e tratamento, seja na gestão ou no modelo das instituições. Estamos numa fase de profundas e aceleradas mudanças e temos de perceber o que está em causa e como podemos colocar o digital como ferramenta dos grandes desideratos da saúde (acesso, proximidade, eficiência).

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ÓSCAR GASPAR, Presidente da APHP

Estou também muito motivado para continuarmos a discutir o papel das instituições de saúde no ambiente e de que forma podemos mitigar as emissões associadas à atividade dos hospitais.

O lema do evento é “Global Learning, Local Action”. Qual a importância desta temática e como vai ser debatida?

A COVID-19 fez a demonstração plena de que a doença não respeita fronteiras pelo que temos de responder com uma abordagem em que a saúde não deixe ninguém para trás. Um Congresso Mundial é o espaço ideal para encontrarmos essas respostas globais, mas também para motivarmos os decisores, todos os decisores, para uma atuação determinada.

Temos países cultural e economicamente muito distintos e há sistemas de saúde também muito diferentes, mas em qualquer dos casos os desafios e os objetivos são similares e quanto mais alinhados estivermos maior o sucesso global que poderemos atingir.

Todos temos a aprender uns com os outros e a “boa” resposta pode não ser igual para todos e ser adaptada à realidade e às necessidades, mas ninguém está fora desta convocatória e cada país, cada sistema, cada organização “tem um papel a desempenhar”, como bem ensina o estudo de antologia da Fundação Calouste Gulbenkian.

Sendo um debate muito virado para um futuro incerto, que papel podem ter os hospitais mundial na definição de regras para um mundo e uma saúde melhor?

Os hospitais tiveram, têm e terão um papel fundamental nos sistemas de saúde e na melhoria das condições de saúde dos cidadãos. O hospital do futuro funcionará como ponto central da rede na qual se estabelecem as interconexões para garantir a prestação de cuidados de saúde nos termos e na forma que forem mais adequados.

O hospital há muito que deixou de ser “apenas” um local para tratar de doentes agudos, fazer cirurgias e ter consultas de especialidade. O hospital moderno tem as competências “tradicionais”, mas cada vez acompanha mais a vida dos seus cidadãos que a ele recorrem. O crescimento dos procedimentos de ambulatório foi um dos primeiros elementos a diluir as paredes do hospital enquanto edifício e que reforçou a ótica do hospital enquanto integrador de serviços de saúde. O conceito (aplicado) de hospitalização domiciliária veio alargar o

âmbito de atuação.

Acrescente-se a isto a capacidade de proporcionar a generalidade dos meios de diagnóstico, uma alargada rede capilar de proximidade (clínicas em torno de um hospital de referência).

Com as pessoas a verem o seu hospital como o seu hub de saúde e uma abordagem de ciclo de vida e não tanto de tratamento de doença, também tem crescido de forma muito significativa a medicina geral e familiar nos hospitais.

Os temas que preocupam os responsáveis dos hospitais europeus são os mesmo que preocupam os gestores hospitalares portugueses? Quais?

A convicção que tenho nas reuniões internacionais é que hoje as preocupações e desafios dos hospitais são genericamente iguais para todos, embora com diferentes tons. As questões do efeito da inflação na saúde, da recuperação da atividade pós-COVID e os impactos da guerra na Ucrânia têm sido uma urgência de 2022-2023. Acrescem os temas transversais que se prendem com a falta de recursos humanos na saúde (veja-se a recente Declaração de Bucareste da OMS), com o aumento da procura e o preço crescente das terapêuticas inovadoras, questão intimamente ligada à contratualização e ao acesso. Outra questão presente em toda a Europa prende-se com a articulação entre operadores em cada sistema de saúde, a necessidade de otimizar os recursos existentes e o potencial das parcerias.

A organização que dirige vai ter encontros específicos com os dirigentes internacionais? Com que objetivos?

A APHP especificamente terá um evento de précongresso, no dia 23 de outubro, em que discutirá o valor económico da saúde. Por outro lado, com os colegas da APAH e da APDH teremos uma sessão em português no congresso, tal como já aconteceu no Dubai o ano passado, naquele que será um evento que potenciará o diálogo com colegas dos PALOP e do Brasil. Na componente da hospitalização privada estamos a trabalhar com a nossa associação europeia, a UEHP, no sentido de que os nossos congéneres possam vir a Portugal e reforçarem a voz dos hospitais privados na partilha de experiências e identificação dos pontos dos sistemas de saúde a melhorar.

Como está a correr o trabalho entre as três associações responsáveis pela organização do

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DESTAQUE

evento em Portugal (APDH, APAH e APHP)?

Uma das vantagens que a organização do Congresso Mundial dos Hospitais já trouxe para Portugal foi colocar-nos a dialogar e a construir um projeto comum.

Trata-se da primeira vez em que o WHC é coorganizado por um Consórcio de três Associações de Saúde e este nível de articulação permitiu-nos apresentar a candidatura portuguesa como verdadeiramente nacional e agregadora. Sempre considerámos que este evento é uma oportunidade para refletir sobre os temas de relevo para os hospitais, todos os hospitais, e o seu papel nos sistemas de Saúde.

A APDH, a APAH e a APHP estão a trabalhar de forma dedicada e articulada entre si, trazemos diferentes experiências e pontos de vista e isso enriquece a discussão e reforça Portugal como um player de relevo, diria mesmo exemplar, em termos de hospitalização.

Podem já desvendar algumas ideias que vão ser relevantes neste encontro e que podem fazer a diferença para o futuro dos hospitais em todo o mundo?

Ainda é cedo. Este não é um congresso com conclusões definidas, é um congresso que será o que os seus participantes quiserem que seja e por isso é tão importante para nós que haja muitos participantes e muita participação. Dito isto e conhecendo o setor, tenho expetativa que possamos ter recomendações muito claras e robustas sobre:

O ecossistema hospitalar como atrativo para a realização pessoal e profissional;

A redução das emissões e a consciência da economia circular no âmbito da One Health;

A transição digital e, em particular, os registos de saúde eletrónicos e a Inteligência Artificial na Saúde.

ÓSCAR GASPAR

Licenciado em Economia (FEP)

Secretário de Estado da Saúde (2009-11)

É presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada e vice-Presidente da União Europeia da Hospitalização Privada (UEHP).

Membro da Comissão Executiva da CIP e membro do Conselho Económico e Social.

Vice-Presidente do Conselho Estratégico de Saúde da CIP, membro do Conselho Nacional de Saúde e do Conselho Nacional de Saúde Pública, dos Conselhos Consultivos do Instituto de Higiene e Medicina Tropical e da Faculdade de Farmácia UL e do Conselho Geral e de Supervisão da Dignitude.

Membro da Direção do Conselho Português para a Saúde e Ambiente e Presidente do Conselho Fiscal do ISBE.

É administrador da Fundação do Gil.

i) ii) iii)

CARLOS CORTES, BASTONÁRIO DA ORDEM DOS MÉDICOS:

“Estamos perante uma reforma do SNS por parte do poder político que não é conversada com os parceiros do setor”

Carlos Cortes é o novo bastonário da Ordem dos Médicos (OM), eleito em fevereiro de 2023. Chega com força, ideias objetivas e com muita vontade de Mudar e Modernizar a Ordem algo que, afirma, não tem acontecido.

Simpático, acessível e profundo conhecedor do setor da Saúde, Carlos Cortes é jovem e determinado e quer deixar as suas marcas, enquanto bastonário e responsável da classe médica.

Nesta entrevista à revista O Hospital, o novo bastonário diz que neste mandato vai lutar pela qualidade dos cuidados de saúde; pela ética e deontologia médica e vai igualmente exigir condições de trabalho adequadas para os médicos.

Não tem nada contra as ULS que se estão a definir, na nova estrutura de saúde do país, mas quer que a Ordem dos Médicos seja ouvida pelos responsáveis e decisores, algo que não está a acontecer. E deixa recados. Deixa também muitas ideias sobre o caminho a seguir, valorizando sempre o papel dos médicos, nos hospitais e nos CSP.

Foi eleito há relativamente pouco tempo para Bastonário da OM, mas já conhece bem a instituição devido a ter sido presidente da Secção Regional do Centro da OM. O seu trabalho vai ser feito tendo por base a continuidade ou tenciona mudar a Ordem? Se sim, em que domínios?

São duas situações bastante diferentes. Ao presidente de uma Secção Regional é exigido um trabalho muito mais local e de apoio ao Bastonário. A função do

Bastonário, por outro lado, assenta numa perspetiva nacional, sem nunca esquecer a regional. Neste âmbito, o Bastonário representa toda a OM e faz a interface com todos os organismos, nomeadamente com a tutela. São, portanto, funções e intervenções distintas. Enquanto Bastonário, a minha prioridade é potenciar uma vertente mais técnica da OM, demonstrando que esta é a instituição mais qualificada da área da saúde para apresentar soluções a quem tem de as concretizar.

14 GRANDE ENTREVISTA

Outra prioridade é a modernização. A OM não tem acompanhado a evolução da sociedade e vai ter de o fazer, ou seja, vai ter de se reorganizar internamente, bem como adotar e explorar as novas tecnologias de informação e comunicação, para atingir essa modernização. Os modelos de organização da Ordem também não podem ser esquecidos. Isto vai-nos permitir uma maior proximidade com os associados e também mostrar à opinião pública o nosso papel predominantemente técnico. É importante explicar às pessoas qual o contributo que damos, todos os dias, para a saúde da população, das mais diversas formas.

Quais as palavras de ordem que vão ser obrigatórias no seu mandato?

Em primeiro lugar, a qualidade dos cuidados de saúde. Em segundo lugar, a ética e a deontologia médica e, em terceiro lugar, condições de trabalho adequadas para os médicos. São essas as ideias centrais que quero promover e defender no meu mandato.

A saúde, no País, está em mudanças profundas na organização do próprio SNS e mesmo do setor privado. Por aquilo que tem visto, como encara as mudanças anunciadas pelo diretor executivo do SNS e pelo ministro da saúde?

Estamos perante uma reforma do SNS por parte do poder político que não é conversada com os parceiros do setor. Estão a ser operadas transformações que ainda não percebemos muito bem se são profundas ou não, nomeadamente em termos de organização do SNS. Falo em concreto das ULS. Naturalmente que encaramos estas mudanças com uma grande expectativa. Por um lado, uma expectativa positiva, porque temos a noção de que é preciso mudar, fazer alguma coisa. E esta mudança é algo que já era necessário há muito tempo. Por outro, temos uma expectativa menos boa, pela falta de envolvimento dos profissionais e da OM em todas estas questões. Somos um organismo técnico-científico que pode ajudar nestas mudanças, por isso fico surpreendido com decisões, como a da reorganização da urgência metropolitana de Lisboa, que são tomadas sem ter em consideração o contributo da OM. Note que a OM tem um papel técnico a desempenhar que lhe foi atribuído pelo próprio Estado, o qual acaba por não aproveitar todo este o know-how disponível. Por exemplo, na questão das áreas assistenciais, do ponto de vista do acesso e da qualidade dos cuidados de saúde e até mesmo da transferência dos doentes de um hospital para o outro. Estamos a falar de uma multiplicidade de assuntos que seria importante a OM

ter analisado antes de ser tomada uma decisão. Mas também implicações que, infelizmente, a DGS não acautelou, como as implicações para a formação dos médicos. Neste momento, a OM vai ter de analisar o que está a ser feito para se pronunciar. Isto porque, se por um lado está a ser operacionalizada uma mudança, o que é positivo, por outro não conhecemos verdadeiramente o fundamento dessa mudança. Importa, por isso, perceber o objetivo final, ou seja, aquilo que efetivamente vai ser concretizado.

O país vai contar com novas ULS como já disse, estando previsto que o país fique, no total, com 27 ULS. Já percebeu como vão funcionar e pensa que esta nova organização e gestão vai trazer melhorias para a população e para os profissionais?

Eu não tenho nada contra as ULS. À partida, do ponto

“A OM tem um papel técnico a desempenhar que lhe foi atribuído pelo próprio Estado, o qual acaba por não aproveitar todo este o know-how disponível”

GRANDE ENTREVISTA

vista teórico, favorecem a integração entre os vários níveis de cuidados, isto é, entre Saúde Pública, Medicina Geral e Familiar (MGF) e cuidados hospitalares. Na prática, a verdade é que não têm funcionado de forma adequada. As ULS de Matosinhos e do Alto Minho são os 2 melhores exemplos de uma boa integração. No entanto, todas as outras ULS incluem as áreas geográficas e hospitais que mais dificuldade têm tido em termos de resposta às necessidades da população. Estou-me a referir às ULS do Nordeste, da Guarda, de Castelo Branco, do Litoral Alentejano, entre outras. O feedback que tenho recebido é que essa integração ou é quase inexistente ou está muito dificultada. Neste sentido, mais do que modelos de organização, temos de perceber as várias realidades do país e temos de apostar nas lideranças, nas boas lideranças, nas lideranças médicas. Aliás, uma das propostas que a OM fez à Direção Executiva do SNS foi a de incluir nos Conselhos de Administração das ULS uma direção clínica hospitalar, à qual se devem somar a direção clínica de MGF e uma direção clínica de Saúde Pública. Integrar estas 3 áreas é absolutamente fundamental para as ULS conseguirem trabalhar em vertentes vitais como a literacia, a promoção da saúde e a prevenção da doença, além do diagnóstico, seguimento e tratamento dos doentes. O que eu pretendo, e não colocando reservas em nenhum modelo, é que seja acautelada a participação dos profissionais de saúde na construção das ULS. Aquilo que tem chegado à OM é que os cuidados de saúde primários, na sua vertente de Saúde Pública, não têm sido integrados de uma forma adequada, e, sem essas valências, as ULS não podem funcionar plenamente desde o início. Se um processo de reforma como este arranca mal, será muito difícil endireitá-lo.

Então que reforma dos CSP deve ser feita tendo por base que parâmetros e indicadores?

Não, temos de fazer uma nova reforma dos CSP porque já há uma reforma em curso, que se concretizou nas USF, em distintos modelos. Aquilo em que estamos mais focados é nas USF de modelo A e B. O que se pede ao Ministério da Saúde é que não se esqueça desta importante reforma, de concretizá-la e estendê-la a todo o país. É importante dar condições aos médicos

para poderem criar essas USF, para oferecerem todas as condições aos utentes. Nos locais onde não existem USF, não podemos desvalorizar nem desqualificar as Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP), porque também prestam um serviço muito importante. Não podemos privilegiar um modelo em relação ao outro. Temos de permitir aos médicos a escolha do modelo de trabalho que preferem, desde que esse modelo corresponda às necessidades da população. Temos de dar capacidade para as USF e as UCSP darem uma resposta adequada ao país. Não podemos ter Médicos de Família a trabalharem em condições diferentes só porque escolheram um modelo de organização diferente.

Falemos então dos médicos: chega a bastonário e encontra uma classe profissional desmotivada, mal paga, em "fuga" para o setor privado ou para o estrangeiro e sem orientações. Como tenciona reagir e interagir com os seus colegas e com a tutela de forma a ajudar a mudar este paradigma?

Acredito que os médicos, fundamentalmente, querem trabalhar no SNS, mas para isso precisam de ter condições para poderem tratar os seus doentes. São essas condições que falham demasiadas vezes, quer nos centros de saúde quer nos hospitais. A desorganização dos processos e a falta de autonomia das instituições são outros aspetos que precisam de ser revistos, tal como a falta de liderança médica, que aqui já referi. A liderança médica na coordenação das equipas é absolutamente fundamental. É preciso uma valorização da profissão médica em variadíssimas especialidades. Apesar de ser uma questão sindical, a matéria salarial é também muito importante e, enquanto Bastonário da OM, estou naturalmente preocupado com a remuneração médica, pois esta tem de corresponder à diferenciação e ao papel de elevadíssima responsabilidade que os médicos têm nos hospitais e centros de saúde. O SNS tem de ser atrativo e competitivo e tem de dar sinais de que quer captar e fixar os médicos. Para isso, precisa de dar condições e mostrar que efetivamente quer esses profissionais. O Ministério da Saúde já deu um ou outro sinal, por exemplo com a celeridade dos processos de contratação de médicos depois destes terminarem o

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"A OM não tem acompanhado a evolução da sociedade e vai ter de o fazer. Vai ter de se reorganizar internamente, bem como adotar e explorar as novas tecnologias de informação e comunicação”

seu período de formação especializada. Essa celeridade tem de ser ainda aprofundada. Tem de ser dito logo desde o início do ano que vagas é que vão existir e onde, para os médicos poderem organizar a sua vida. É preciso criar condições de atratividade para os médicos se poderem fixar em zonas altamente carenciadas, não só no interior, mas também nas grandes cidades onde faltam recursos humanos em várias especialidades. Esses planos para fixar os especialistas ainda não estão concretizados e aguardamos que o Ministério da Saúde o faça com a máxima celeridade.

Como vai organizar a ligação dos médicos com os restantes profissionais de saúde?

Essa organização já está estabelecida, uma vez que

as equipas interdisciplinares criadas funcionam com base numa liderança médica. A responsabilidade da coordenação dessas equipas é dos médicos e cada um dos elementos que as compõem tem um papel muito bem definido. O enfermeiro, o farmacêutico, o assistente operacional, o assistente técnico, os técnicos, todos têm uma função a desempenhar muito bem delineada. Cabe ao médico saber organizar e motivar estas equipas, obviamente respeitando as funções de cada um. Essa é uma responsabilidade acrescida do médico, de forma a dar a melhor resposta possível em termos de saúde às pessoas, porque o objetivo é esse: dar acesso e oferecer os melhores cuidados de saúde, respeitando sempre os parâmetros éticos e deontológicos da profissão médica e aplicando as leges artis.

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“Acredito que os médicos, fundamentalmente, querem trabalhar no SNS, mas para isso precisam de ter condições para poderem tratar os seus doentes”
Enquanto Bastonário da OM, estou naturalmente preocupado com a remuneração médica, pois esta tem de corresponder à diferenciação e ao papel de elevadíssima responsabilidade que os médicos têm nos hospitais e centros de saúde”

Consulta de Ostomias de Alimentação

Vencedor do Prémio de Boas Práticas, na categoria de Melhor Poster

UNIDADE LOCAL DE SAÚDE DE MATOSINHOS

O Projeto "Consulta de Ostomias de Alimentação da Unidade Local de Saúde de Matosinhos", foi o vencedor na categoria de “Melhor Poster” da 15ª Edição do Encontro do Prémio de Boas Práticas em Saúde®, organizado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), a Direção-Geral da Saúde, a Administração Central do Sistema da Saúde, as Administrações Regionais de Saúde e as Direções Regionais da Saúde dos Açores e da Madeira, realizado no dia 23 de novembro de 2022, no Auditório do Edifício-sede da Altice Portugal, em Lisboa.

São várias as condições que comprometem a capacidade dos utentes para ingerir alimentos por via oral, levando a que uma larga maioria, tenha requisitos para colocação de sonda de alimentação enteral. A necessidade de sonda de gastrostomia para suporte nutricional pode ser esmagadora para os utentes, família e cuidadores, pois as pessoas submetidas a ostomia

de alimentação, temporária ou permanente, exigem cuidados físicos e emocionais, intensos e contínuos para retornar a sua vida diária. O exercício de enfermagem neste contexto, é determinante para assegurar o suporte efetivo e integral à pessoa, família e comunidade, na gestão de processos complexos de doença e prevenção, e constitui-se como uma componente efetiva para a obtenção de ganhos em saúde.

No ano de 2021, verificaram-se na ULS de Matosinhos um conjunto de situações que tornaram premente a criação da Consulta de Enfermagem de Ostomias de Alimentação: (i) a alteração do regime do procedimento endoscópico para colocação da sonda de ostomia de alimentação, de internamento para regime de ambulatório, que implica uma alteração no tempo e oportunidade de educação à pessoa/cuidador para o autocuidado de ostomia de alimentação; (ii) o momento da substituição da sonda de gastrostomia: a realização deste procedimento dependia da solicitação dos cuidadores ou dos cuidados de saúde primários/comunitários e resumia-se à colaboração de enfermagem com o médico escalado para a urgência do serviço de gastrenterologia, desvalorizando o acompanhamento e seguimento do utente e família, sendo uma oportunidade para intervenção e consulta adequada; (iii) consultadoria: verificou-se um aumento dos pedidos de colaboração das equipas dos cuidados de saúde primários e cuidadores para orientação de cuidados específicos com a sonda e ostomia, havendo necessidade de estabelecer um momento adequado para consultadoria e formação de pares.

As situações referenciadas conduziram à implementação da Consulta de Enfermagem de Ostomias de Alimentação em abril de 2022, no serviço de gastrenterologia, adequando uma estrutura organizativa e operacional de proximidade, facilitadora de acessibilidade aos serviços de saúde.

Desta forma e de acordo com as melhores práticas em saúde, é proporcionado um acompanhamento de enfermagem em três momentos nos quais são realizadas as seguintes atividades: Consulta préostomia: contato presencial com o utente/cuidador; recolha de dados do utente; ensinar e instruir utente/ cuidador no desenvolvimento para o autocuidado na pessoa com ostomia de alimentação; instruir e treinar a utilização de dispositivos médicos; identificar apoios do utente/cuidador; realização de ações interdependentes num momento interdisciplinar. Preparação para a alta: no dia do procedimento, em contato presencial com a pessoa/cuidador é o momento para treinar,

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supervisionar e apoiar utente/cuidador; avaliar e supervisionar competências para o auto-cuidado; avaliar o reconhecimento de complicações e referenciar para apoios da comunidade. Consulta pós-ostomia: após a alta clínica, com o utente na sua residência ou instituição que o acolhe, é feito acompanhamento por contato telefónico para despiste de complicações agudas do estoma, avaliação do estado de conservação da sonda e esclarecimento de dúvidas do utente/cuidador às 48h e 1 mês após procedimento. As consultas subsequentes semestrais correspondem a um momento presencial para avaliação da adesão ao plano terapêutico; avaliação da melhoria global; implementação da intervenção de enfermagem: substituição da sonda de acordo com a avaliação da funcionalidade, estado de conservação e prazos de validade.

A implementação da Consulta de Enfermagem de Ostomias de Alimentação dá visibilidade às competências de diagnóstico e intervenção no domínio do autocuidado à pessoa com ostomia de alimentação. Assim, promove cuidados, habilita o utente/cuidador e facilita a resolução precoce de complicações que se apresentem, melhorando a resposta da instituição nesta área de cuidados.

Esta consulta sendo desenvolvida na ULS de Matosinhos tem uma abordagem integrada, de estreita colaboração entre serviços hospitalares e cuidados de saúde primários. Esta organização traz benefícios aos utentes/cuidadores, facilitando o acesso a cuidados diferenciados e especializados em tempo útil e rentabiliza os recursos existentes. De forma concomitante, centraliza o cuidado da pessoa com ostomia de alimentação tanto para intervenção, ensinos e esclarecimento. Este acompanhamento melhorou a proximidade e acessibilidade aos cuidados de saúde, pela garantia de consultas presenciais e/ou telefónicas e ainda, pela disponibilidade de um contato direto dos profissionais especializados da unidade com o utente, cuidadores e enfermeiros de família para consultadoria.

A Consulta de Ostomia de Alimentação permite a avaliação diagnóstica e a realização de intervenções de enfermagem no utente/cuidador durante o percurso no sistema de saúde, sendo possível a monitorização e registo de cuidados efetivos de enfermagem com planos de cuidados individualizados e documentados em suporte informático.

A continuidade desta consulta, perspetiva a interdisciplinaridade, a avaliação da satisfação dos utentes e a determinação dos ganhos em saúde.

Equipa de enfermagem da Unidade de Gastrenterologia da ULS Matosinhos:

Paula Estorninho - Enfermeira especialista e Mestre em enfermagem médico-cirúrgica

Nuno Mendes - Enfermeiro especialista em enfermagem médico-cirúrgica

Ana Carvalho - Enfermeira

Joana Carvalho - Enfermeira

Rui Cordeiro - Enfermeiro especialista e Mestre em enfermagem comunitária

Cristina Oliveira - Enfermeira

Luís ferreira - Enfermeiro

Isabel Alves - enfermeira

Anabela Coelho - Enfermeira especialista em enfermagem de reabilitação

Renato Martins - Enfermeiro

Liliana Abreu - Enfermeira

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A Unidade do Doente Frágil pioneira na Madeira e no País

HOSPITAL CENTRAL DO FUNCHAL

Vencedor da Menção Honrosa do Prémio de Boas Práticas, na categoria de Melhor Poster

A Unidade do Doente Frágil (UDF) está sediada no Hospital dos Marmeleiros, 2º Piso Nascente, e conta com 13 camas ativas. Iniciámos a nossa atividade em 15 de julho de 2021, com 3 camas, no 4ª Piso Nascente.

Este projeto constitui a interface entre a alta clínica e o regresso ao domicílio dos doentes frágeis, internados no Serviço de Medicina Interna do SESARAM EPERAM. Assim, os doentes regressam ao domicílio após recuperação parcial ou total dos déficits existentes antes do internamento e, bem assim, daqueles que surgiram “de novo”, durante o período em que permaneceram no Serviço de Medicina Interna.

É necessário planear antecipadamente a alta e os cuidados de transição.

De facto, a transição do internamento hospitalar para o domicílio é um período crítico, que requer uma comunicação e uma coordenação regulares com os Cuidados de Saúde Primários (CSP), de forma a permitir que as ações executadas e planeadas tenham continuidade.

Esta Unidade, pioneira na Região Autónoma da Madeira (RAM) e no País, surge na sequência da nossa sensibilidade para o problema da fragilidade e de um desafio lançado pela Direção Clínica e pelo

Conselho de Administração do nosso hospital.

O modelo atual de atendimento clínico, utilizado nas instituições hospitalares para as pessoas frágeis, está centrado numa abordagem biomédica cujo objetivo é a recuperação da condição médica que motivou o ingresso. Este modelo, apesar de eficaz, não considera o impacto negativo na funcionalidade que uma hospitalização pode gerar numa pessoa frágil e no seu meio.

Assim, esta Unidade possibilita a abordagem da pessoa frágil e do seu meio envolvente numa perspetiva multidimensional e com um trabalho interdisciplinar, procurando que o processo de hospitalização cause o menor dano possível e, inclusive, possa ser uma oportunidade de reabilitação funcional e intervenção em outros aspetos da pessoa frágil relacionados com seu bem-estar subjetivo.

Apesar de não ser uma Unidade destinada apenas ao tratamento de idosos frágeis, estes são altamente prevalentes em unidades deste tipo.

Há estudos que apontam para 29% dos doentes com idades acima de 70 anos. A UDF admite doentes a partir dos 18 anos, atendendo a que a Síndrome de Fragilidade não é tão prevalente, mas é significativa em função das patologias associadas. Os doentes são selecionados por critérios de fragilidade utilizando

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INOVAÇÃO

a Escala Frail, que corresponde a uma mnemónica em língua inglesa abrangendo cinco variáveis: fatigue (fadiga), resistance (resistência), ambulation (deambulação), illness (doença) e loss of weight (perda de peso).

A iniciativa de Acesso Rápido à Consulta de Oftalmologia implementada no Centro Hospitalar Universitario Lisboa Norte (CHULN), teve por objetivo diminuir o tempo de espera dos doentes até ao primeiro contacto médico, pretendendo também reduzir o número de idas ao hospital para exames ou consultas até à primeira decisão informada.

Este projeto é, como referimos, uma iniciativa do Serviço de Medicina Interna. Desde logo, cativou os vários profissionais envolvidos e, bem assim, as respetivas Direções Técnicas: Enfermagem, Áreas Médicas, Departamento de Nutrição, Psicologia Clínica, Farmácia e Serviço Social.

Desta forma, conseguiu-se aumentar a eficiência dos cuidados oftalmológicos prestados aos doentes.

A nossa equipa é multidisciplinar, composta por 20 profissionais:

3 Enfermeiras Especialistas em Reabilitação

Enfermeira Especialista em Saúde Mental

1 Psicólogo Clínico

1 Nutricionista

1 Farmacêutico

1 Assistente Social

2 Assistentes Administrativas

Do nosso plano de acão constam várias intervenções, que têm de ocorrer em simultâneo para que se obtenham os resultados pretendidos:

Treino aeróbio, de força e de resistência com periodicidade de, pelo menos, três vezes por semana. No nosso caso o treino é diário, 6 dias por semana;

6 Médicos Especialistas em Medicina Interna

3 Médicos da Formação Específica de Medicina Interna

A consulta virtual foi disponibilizada de forma universal, a todos os doentes que foram referenciados à sub-especialidade de Glaucoma, garantindo a realização dos vários exames complementares de diagnóstico na mesma vinda ao hospital (“one-stop-shop” model).

1 Enfermeira Chefe

Plano nutricional com dieta hiperproteica, suplementada com HMB (B-Hidroxi-MetilButirato) nos indivíduos com Sarcopénia.;

Correcção do déficit de Vitamina D;

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“A maioria dos idosos são frágeis, mas nem todos os frágeis são idosos”

Administração de Testosterona nos homens com Hipogonadismo;

Revisão da Polifarmácia - utilizando os Critérios START/STOP.

Após a alta os doentes são referenciados às Consultas de Medicina Interna, Medicina Geral e Familiar, Medicina Física e de Reabilitação e Nutrição.

As Enfermeiras Especialistas em Reabilitação encaminham os doentes para o Centro de Saúde e/ou Rede no Domicílio e prescrevem exercícios para o domicílio, uma vez que a interrupção do treino funcional determina a regressão dos ganhos adquiridos durante o período de internamento na UDF.

Os nossos principais objectivos são os seguintes:

Manter ou melhorar a funcionalidade durante o tratamento da patologia aguda que motivou o internamento hospitalar ao optimizar a detecção das síndromes geriátricas e factores de risco, favorecendo a prevenção secundária e terciária destas síndromes.

Facilitar a reinserção familiar e comunitária da pessoa frágil mediante o reforço de competências para o autocuidado e o acompanhamento da família e do cuidador.

Favorecer a eficiência na utilização dos recursos sanitários e sociais.

Reduzir do número de quedas.

Aumentar o número de Altas Hospitalares diretamente para o domicílio.

Impedir o declínio funcional.

Desenvolver a suplementação nutricional adequada (ingestão calórica, proteica e de nutrientes essenciais).

Incentivar os doentes a permanecerem ativos. Eventuais situações depressivas, de comprometimento cognitivo ou declínio funcional.

Promover a Formação Médica e a investigação científica numa área em expansão e que inclui doentes que, normalmente, não são integrados nos grandes ensaios clínicos.

Entendemos, que uma das virtudes deste projeto, tem a ver com a sua replicabilidade. Assim, pretendemos:

Aumentar a capacidade da UDF para 52 camas, passando a constituir a interface entre a alta clínica

e o regresso ao domicílio dos doentes frágeis, internados no Hospital Central do Funchal. Constituir uma equipa para trabalhar em exclusividade na UDF.

Envolver os Cuidados Primários de Saúde no Rastreio, Diagnóstico Precoce e Tratamento da Síndrome de Fragilidade, numa perspectiva colaborativa.

Envolver as entidades que trabalham em parceria com o Governo da Região Autónoma da Madeira no Plano de abordagem à Síndrome de Fragilidade (Treino Funcional, Plano Nutricional): IPSS, Centros Sociais e Paroquiais, Centros de Dia, Centros de Convívio.

Envolver as Autarquias no mesmo objetivo.

Os resultados obtidos, à data, são muito positivos:

Total de doentes tratados: 225 (108 Homens; 117 Mulheres)

Taxa de Mortalidade: 4%

Altas por inadaptação ao Plano de Intervenção/ Transferência para outros Serviços: 15

Altas Problemáticas recuperadas: 22

Altas Problemáticas que permaneceram no Hospital por incumprimento das famílias: 8

Número de regressos a casa: 193

Recuperação da Autonomia nas AVD (Actividades Básicas de Vida Diária):

Índice de Barthel (Média):

24,4 à entrada na UDF-Dependência Grave 66,2 à saída da UDF-Dependência Leve

Força Muscular ( Média):

Mão Direita:

12,3 kg à entrada na UDF

15,2 kg à saída da UDF

Mão esquerda:

12,3 kg à entrada na UDF

14,8 kg à saída da UDF

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INOVAÇÃO
Óbitos: 9

Em termos de Nutrição, tivemos 9 pacientes com estado nutricional normal; 26 mal nutridos e 92 em risco de mal nutrição. Assim, em 118 pacientes , conseguimos intervir e iniciar a modificação deste ciclo, travando a sua evolução e as consequências.

Relativamente às principais dificuldades, temos a salientar a situação de Fragilidade Social. Há muitos idosos que vivem sozinhos, com dificuldades económicas, baixo nível de escolaridade e deficiente suporte social ou familiar.

Por outro lado, há, ainda, alguma resistência da parte de algumas famílias e de alguns pacientes ao ingresso na nossa Unidade.

No que diz respeito às pessoas em situação de Alta Problemática, sempre defendemos um regime jurídico que penalize as famílias que, tendo condições, se recusam a receber os familiares, nomeadamente através da retenção da reforma dos idosos em benefício dos serviços hospitalares.

A nossa perspetiva vai, também, no sentido de aumentarmos a nossa capacidade para 52 camas e, assim, podermos trabalhar com todos os doentes frágeis internados no Hospital Central do Funchal. Este processo terá de ser faseado, adaptando os recursos humanos e materiais a cada etapa, de forma a garantir a sua sustentabilidade.

Na alocação de camas à UDF utilizamos o ratio de 2,6 camas/1000 habitantes a partir dos 75 anos de idade. No entanto, é necessário procedermos a estudos de prevalência da Síndrome de Fragilidade na Região Autónoma da Madeira de forma a aproximarmos este ratio da nossa realidade clínica.

A iniciativa de Acesso Rápido à Consulta de Oftalmologia implementada no Centro Hospitalar Universitario Lisboa Norte (CHULN), teve por objetivo diminuir o tempo de espera dos doentes até ao primeiro contacto médico, pretendendo também reduzir o número de idas ao hospital para exames ou consultas até à primeira decisão informada.

Desta forma, conseguiu-se aumentar a eficiência dos cuidados oftalmológicos prestados aos doentes.

A consulta virtual foi disponibilizada de forma universal, a todos os doentes que foram referenciados à sub-especialidade de Glaucoma, garantindo a realização dos vários exames complementares de diagnóstico na mesma vinda ao hospital (“one-stop-shop” model).

A Equipa UDF

Coordenador: Dr. Miguel Homem Costa, Assistente Graduado Sénior de Medicina Interna

Vice-Coordenador: Dr. João Miguel FreitasAssistente Graduado de Medicina Interna

Dra. Sofia Granito- Assistente Graduado de Medicina Interna

Dra. Ana Isabel Costa- Assistente de Medicina Interna

Dr. Rafael Nascimento—Assistente de Medicina Interna

Dr. Diogo André- Assistente de Medicina Interna

Dra. Carolina Carvalhinha – Interna da Formação Específica de Medicina Interna

Dra. Fabiana Gouveia- Interna da Formação Específica de Medicina Interna

Dr. João Loja-Interno da Formação Específica de Medicina Interna

Enfermeira Chefe: Enfermeira Helena Ornelas

Enfermeiros Especialistas em Reabilitação:

Enfermeira Firmina Caires

Enfermeira Natália Berimbau

Enfermeira Sónia Freitas

Nutricionista: Dra. Mara Coelho

Farmacêutica: Dra. Joana Figueiroa

Psicólogo Clínico: Dr. Emanuel Alves

Enfermeira Especialista em Saúde Mental:

Enfermeira Cláudia Rodrigues

Assistente Social: Dra. Cornélia Pereira

Assistentes Técnicas: Mariana Paixão e Carolina Silva

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RESIDÊNCIA FARMACÊUTICA:

UMA (NOVA) FORMA DE SER FARMACÊUTICO?

Lanço um mote inicial: para que serve um farmacêutico em 2023?

Qual a utilidade social do seu acto profissional, não apenas na farmácia de proximidade, mas também nos hospitais e nos laboratórios?

A profissão farmacêutica está disposta a assumir o seu papel como profissional de saúde através de um novo modelo de exercício profissional de saúde, responsabilidade primeira é o cuidado ao ser humano doente?

Existe uma vontade e um esforço de contribuir para racionalizar o uso da tecnologia do medicamento, do dispositivo médico, dos exames laboratoriais e genéticos, no sentido de serem mais eficientes?

É da resposta que decidamos dar a estas perguntas que teremos (ou não), o fundamento da existência da residência farmacêutica.

Comecemos por responder que não.

Então, de facto, não precisamos de residência farmacêutica. Nem de farmacêuticos mais ou menos diferenciados. Nem sequer de escolas farmacêuticas.

Estaremos a falar apenas de um instrumento formativo com custos elevados para a sociedade, diletante porque desnecessário, e uma manifestação de corporativismo.

Neste caso, o tempo encarregar-se-á de pôr as coisas

no seu devido lugar, como já aconteceu em momentos passados. E começaremos a discutir como podemos pôr a robótica e a inteligência artificial a fazer as mesmas coisas, com menos erro e menos custos.

Experimentemos agora responder que sim.

Neste caso, precisamos absolutamente da residência farmacêutica. Mas para quê?

Para que os farmacêuticos que nela ingressam tenham oportunidades de trabalho com outros profissionais, para o melhor cuidado dos cidadãos. Sabe-se dos receios iniciais que o “diferente”, o “outro” pode causar em qualquer grupo humano. Aí, está a oportunidade de treinar a capacidade de diálogo com pontos de vista diferentes e de aportar mais-valia com a "segunda opinião", um tema candente - inclusive na discussão sobre o financiamento do sistema de saúde.

Para ajudar a contribuir para a melhoria da utilização das tecnologias de saúde. Com profissionais mais treinados e qualificados é mais fácil fazê-lo e conseguir libertar recursos para o reinvestimento na modernização do sistema de saúde. É interessante pensar que, se bem aplicada, a residência farmacêutica pode ser autosustentável, em termos económicos, a longo prazo.

Para afirmar a presença do farmacêutico nos distintos contextos da prestação de cuidados. Se as tecnologias de saúde estão envolvidas, o farmacêutico há-de ter papel activo nas decisões sobre elas. O facto de até agora "ter

24 OPINIÃO
JOÃO EMÍLIO CARDOSO Farmacêutico Residente

corrido tudo bem", não quer dizer que as coisas estejam "bem". Aliás, a falta de uma análise sistemática de resultados em saúde é uma fragilidade do sistema de saúde português, desde os grupos de trabalho internos até às comissões técnicas das instituições prestadoras de cuidados. Os internos de residência farmacêutica podem contribuir para mudar este panorama.

E, sobretudo, para reforçar, acima de qualquer dúvida, o farmacêutico como especialista do medicamento, com conhecimento profundo e holístico sobre o mesmo, incluindo sobre a sua monitorização analítica e sobre a influência que a genética tem sobre os seus efeitos. É uma obrigação ética devolver à sociedade o investimento que esta fez na educação dos internos de residência farmacêutica.

E para as instituições? Que mais-valia lhe oferece a aposta na residência farmacêutica, que exige investimento para obtenção de idoneidade e capacidade formativa?

Uma nova abordagem à gestão dos recursos humanos, dando-lhe uma perspectiva diferente de carreira a longo prazo, com a valorização do conhecimento como eixo estruturante da valorização profissional.

Um plano estratégico de mudança, cuja visão terá de estar alinhada com a estratégia das instituições prestadoras de cuidados e do Serviço Nacional de Saúde, mas também com as novas tendências na área da saúde.

Um factor disruptivo que agite a rotina de equipas e serviços, no sentido de fazer cair conceitos ultrapassados e pôr sobre a mesa novos temas, e também de infundir novo ânimo aos profissionais mais velhos, sem excluir a sua experiência.

Uma oportunidade para refazer esquemas organizacionais obsoletos, fazendo da prática assistencial farmacêutica o campo de trabalho da investigação aplicada na área do medicamento e do laboratório clínico, propondo um novo modelo de relação com as escolas farmacêuticas e com as unidades de investigação a nível hospitalar.

Perante isto, estamos a falar num novo modelo de exercício profissional, que implica uma mudança cultural. E que esperamos deste processo?

Conseguir resultados mais facilmente mensuráveis, de acordo com indicadores previamente definidos, que permitam avaliar a evolução da situação a cada momento.

Utilizar melhor as tecnologias operativas ao nosso dispor, que ultrapassam hoje largamente o medicamento e o reagente, e compreendem toda a gama das tecnologias de informação, da ciência de dados e da genética.

Melhorar os resultados em saúde dos cidadãos através de uma melhor prática farmacêutica, facilitada por uma formação pós-graduada devidamente estruturada nas diferentes áreas de actividade.

A residência farmacêutica pode ser, assim, o ponto de inflexão que a profissão farmacêutica precisa. O mundo está em mudança, a saúde também… e urge questionar onde queremos estar daqui a um ano. A uma década. A um século.

Aprender com a experiência de quem já fez caminho. Assegurar a coesão territorial na prestação de cuidados farmacêuticos, evitando nivelar por baixo.

Criar relações com colegas de outras realidades geográficas e que podem aportar valor ao processo.

Dialogar, sem preconceitos e sem complexos, com os outros elementos das equipas de saúde.

Estar abertos ao que as pessoas com doença têm para nos dizer.

Fazer de todos os lugares onde se prestam cuidados, oportunidades de intervenção farmacêutica.

Garantir a continuidade formativa, com exigência e sem subterfúgios.

Gerar redes de comunicação e partilha de conhecimento. Promover a colaboração e a articulação entre os diferentes serviços onde os internos de residência farmacêutica realizam a sua formação específica. Transformar as farmácias e os laboratórios das caves dos hospitais em serviços com “paredes de vidro”.

A residência farmacêutica pretende formar, antes de mais, pessoas. Homens e mulheres que, através do seu saber e competência, ajudem a mudar a profissão e a vida daqueles que precisam.

Aceitamos o desafio?

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As implicações das mudanças climáticas na Saúde global

INÊS GUEDES

Um anúncio recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou as implicações das mudanças climáticas em doenças como Dengue, Zika entre outras e o seu impacto na saúde pública. As mudanças climáticas têm vindo a aumentar significativamente a propagação de doenças transmitidas por vetores, elevando os riscos e desafios para os sistemas de saúde em todo o mundo.

Os efeitos das mudanças climáticas, incluindo o aumento das temperaturas, padrões de chuva alterados e mudanças nos ecossistemas, criam condições favoráveis para a proliferação de mosquitos transmissores de doenças. A dengue, zika e chikungunya por exemplo, são transmitidas pela picada das fêmeas dos mosquitos do género Aedes, particularmente Ae. aegypti, infetadas com o vírus, mosquito esse que prospera em ambientes quentes e húmidos. À medida que as temperaturas globais aumentam, a área de alcance desses mosquitos expande-se, expondo mais populações ao risco de infecção.

Desta forma, torna-se evidente a necessidade urgente de políticas abrangentes de saúde pública que possam dar resposta ao crescente impacto da evolução destas doenças.

Para enfrentar esses desafios emergentes, políticas de saúde pública focadas na prevenção são essenciais. A OMS reconhece a urgência na implementação de estratégias robustas que incluam vigilância, controlo de vetores e, mais importante, campanhas de vacinação. As vacinas desempenham um papel vital na redução da

transmissão e gravidade de doenças como a dengue e zika, protegendo indivíduos e comunidades dos riscos associados.

Por outro lado, cada vez mais, a literacia ocupa um espaço preponderante na gestão de políticas de saúde pelo que a prevenção através da educação, partilha de experiências e discussão de oportunidades e desafios é um imperativo.

O desenvolvimento farmacêutico desempenha um papel crucial na melhoria dos índices de saúde e a aposta urgente em áreas com franca necessidade médica por satisfazer é uma oportunidade que demonstra o compromisso de assegurar mais e melhor saúde.

Recentemente, a aposta no desenvolvimento de novas opções na área das vacinas reforça o compromisso da Takeda na melhoria de cuidados de saúde à escala global. Este passo representa um avanço substancial na luta contra a dengue, oferecendo esperança em regiões fortemente afetadas pela doença, mas sobretudo possibilitando uma proteção que possa ser abrangente em todo o mundo, minimizando focos de transmissão.

A Takeda é uma empresa biofarmacêutica líder mundial, sediada no Japão, baseada em valores e orientada para a investigação e desenvolvimento (I&D). Em Portugal foca os seus esforços em diferentes áreas terapêuticas que incluem, entre outras, oncologia, gastrenterologia, Hemofilia & derivados do Plasma, doenças raras e também na área das vacinas. O foco assenta em desenvolver terapêuticas inovadoras que façam a diferença na vida das pessoas, superando fronteiras e através de novas opções terapêuticas.

Prevenir a transmissão da dengue por meio da vacinação é um objetivo em linha com os esforços globais para combater os surtos de saúde pública causados pelas mudanças climáticas. Ainda assim, a consciencialização da sociedade para o impacto de alterações climáticas e a educação quanto ao papel individual e coletivo de cada um como agentes ativos na construção de um futuro sustentável revela-se de extrema importância e apenas através da colaboração entre diferentes setores da sociedade poderemos ter a garantia de um futuro sustentável.

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INOVAÇÃO
Diretora médica da Takeda

CONTROVÉRSIAS

EUTANÁSIA PRÓS E CONTRAS

O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, promulgou no passado dia 16 de maio, a lei que descriminaliza a eutanásia e que tinha já sido aprovada pelo Parlamento.

A versão final da lei que regulamenta "a morte medicamente assistida", foi aprovada com 129 votos a favor e 81 contra, de um total de 230 deputados.

Assim, e mesmo que o presidente da República seja contra a prática da eutanásia, a Constituição obriga a promulgar uma lei, à qual, Marcelo Rebelo de Sousa impôs o veto e que foi confirmada pela Assembleia da República.

Recorde-se que o projeto de lei foi aprovado pelo Parlamento em quatro ocasiões nos últimos três anos, mas foi sempre devolvido para uma revisão constitucional devido à oposição do presidente.

Para evitar o último veto do chefe de Estado, os socialistas decidiram votar, pela segunda vez o mesmo projeto de lei. Nesta edição de, O Hospital trazemos a opinião de dois médicos – O internista Carlos Monteverde e o neurologista e intensivista Bruno Maia - que têm opiniões diferentes sobre este tema que, como sabemos, é fraturante e está na ordem do dia.

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28 CONTROVÉRSIAS

EUTANÁSIA: DEMOCRACIA FINALMENTE!

Portugal tem uma maioria parlamentar favorável à despenalização da morte assistida desde 2015. O parlamento já votou 4 vezes favoravelmente. Na sociedade, de acordo com uma sondagem recente da Aximage, publicada pela TSF, 61% dos portugueses são a favor da despenalização da morte assistida e apenas 17% são contra! Há uma enorme maioria no país, há uma enorme maioria no parlamento! Deveria ter sido fácil legislar nestas condições. Mas não foi.

Do Presidente da República ao Tribunal Constitucional, há indivíduos e instituições que tudo fizeram para cortar a autonomia dos doentes. Mesmo sabendo que estão em minoria. E isso não é aceitável em democracia, sobretudo quando estão em causa pessoas concretas. Os vários projetos-lei que foram propostos, foram modificando detalhes na lei, no entanto, o essencial manteve-se: despenalizar a eutanásia e o suicídio assistido, em condições muito concretas e bem definidas. Foi assim desde o início. Chegou a hora da regulamentação e de nos focarmos nas condições concretas para a sua implementação, com a participação

das várias profissões técnicas, utentes e instituições.

Vale a pena lembrar o essencial desta discussão: quem não concorda com a eutanásia não é forçado a recorrer a ela ou a praticá-la. Os opositores da morte assistida têm toda a legitimidade para tentarem convencer a restante sociedade a não recorrerem à eutanásia. O que não podem é querer criminalizar quem vê o mundo e a vida de maneira diferente. E é isso que fazia o quadro legal que agora cai.

Disseram-nos que há uma “rampa deslizante”. O mesmo argumento que utilizaram contra a despenalização da interrupção voluntária da gravidez e que a realidade desmentiu – há hoje menos 15% de abortos, do que havia em 2008 ou 2009. O mesmo argumento que utilizaram contra a despenalização do consumo das drogas, que a realidade também desmentiu - em Portugal, por overdose, morrem 3 pessoas em cada milhão por ano, muito abaixo da média Europeia que se situa nos 17,3%. O mesmo argumento que em tempos utilizaram contra a distribuição da pílula contraceptiva, (iria promover a promiscuidade entre as mulheres e o disseminar de doenças) e que (imagine-se só!), a realidade também desmentiu - a pílula é hoje utilizada, de forma segura e eficaz, por milhões de mulheres Portuguesas, permitindo-lhes autonomia sobre a sua vida reprodutiva.

E a direção da Ordem dos Médicos disse-nos que os médicos estão contra a eutanásia. Uma mentira e um abuso autoritário. Uma mentira, porque a Ordem sabe que há um estudo da Faculdade de Medicina do Porto, que mostrou que 60% dos médicos são favoráveis à despenalização da morte assistida. E já em 2019, a própria Ordem dos Médicos realizou outro estudo no norte do país demonstrando o mesmo. Um abuso autoritário porque desrespeita a maioria dos seus associados e usa-os para influenciar politicamente órgãos de poder e instituições.

Pelo respeito e pela tolerância daqueles que mais sofrem, precisamos de regulamentar esta nova lei com rigor científico, recorrendo às melhores práticas. Chegou a hora de todos participarmos neste processo longo, que agora vê a esperança de se concretizar.

MAIA
e intensivista 28
BRUNO
Neurologista

A VIDA E A MORTE NÃO PODEM DEPENDER DE LEIS

A lei que pretende regularizar a Eutanásia, foi aprovada na AR, mas muitos portugueses como eu, não concordam.

Nos meus 45 anos de atividade médica, maioritariamente passados nas enfermarias de Medicina Interna, acompanhei tantos doentes na chamada fase terminal. Atravessei uma época em que os avanços do tratamento analgésico, foram felizmente, enormes.

Dos muitos doentes que tive, lembro-me de um jovem com um tumor do esófago, que o impedia de se alimentar, e com um quadro álgico terrível. Não tínhamos na altura, terapia analgésica, eficaz para estes quadros. Eu era o diretor de serviço, e juntamente com os enfermeiros e a família do doente, acordámos aquela que achámos na altura ser a melhor solução para o doente.

Entretanto, a Medicina evoluiu, e apareceram os cuidados continuados e paliativos. Onde estes doentes, têm hoje melhores cuidados assistenciais. E equipas médicas e de enfermagem, treinadas para os tratar.

Quem já trabalhou nestes departamentos, sabe que muito raramente um doente, ou as famílias por eles,

pedem para morrer. Pelo contrário, todos ajudam, para que se encontre a melhor solução, que acima de tudo, é um trabalho de equipa e de diálogo.

Falar de Eutanásia, não é pensar que com uma lei, os doentes podem pedir para morrer, e as coisas estão resolvidas. E depois de um, são dois e depois são muitos. Os doentes recorrem aos hospitais, para continuarem a vida. Sendo uns casos mais complicados que outros. Mas compete, desde sempre, aos hospitais, dar início à vida dos bebés, tratar das doenças de quem adoece, e conferir dignidade de vida aos idosos, mais doentes, e que por isso acorrem mais vezes, aos cuidados hospitalares.

Não concordo por isso com as posições da deputada Isabel Moreira, sempre presente nestas questões fraturantes e sociais, quando diz que ao aprovar-se esta lei, se cumpriu Abril. Eu estava em Coimbra a estudar, na manhã límpida do 25 de Abril, como disse a poetisa Sophia. Julgo que a deputada em questão ainda nem era nascida. E nessa manhã de todos os sonhos, cumprir abril, eram tantas outras coisas, que não a Eutanásia. E admira-me até, que o PS, partido onde eu próprio militei, não a tenha corrigido.

Salgueiro Maia, o militar que melhor interpretou abril, morreu há alguns anos, vítima de um cancro. Morreu internado, com um quadro terminal e não me consta que, ele sim, não tenha cumprido abril na morte, com a mesma dignidade que teve sempre. Ele que de alguma forma, deu vida e melhorou a vida de tantos portugueses. Como médico, eu penso que não deve haver uma Lei como esta, que a ser implementada, vai com certeza ser alvo de abusos e exageros.

A vida e a morte de cada um de nós, nunca podem depender de leis. Podem e devem depender do que a ciência nos oferece hoje em dia, e do contacto permanente dos médicos e enfermeiros, com cada doente e com as suas famílias.

Por isso eu acho, que esta procissão ainda vai no Adro. Não são as Isabéis Moreiras, a poder liderar estes temas. São naturalmente os doentes, as suas famílias e as equipas de saúde.

Os médicos quando se formam, fazem o juramento de Hipócrates, onde não cabe esta Lei. E porque cada doente, é um caso, como relatei no início deste artigo de opinião, as melhores soluções para cada doente, nascem do diálogo entre os médicos, os enfermeiros, os doentes e as famílias.

Sem precisar de Leis, que não sejam o bom senso, e o diálogo entre todos!

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CARLOS MONTEVERDE Médico Internista

ANA RITA OLIVEIRA GOES

Escola Nacional de Saúde Pública, Centro de Investigação em Saúde Pública, Comprehensive Health Research Center, Universidade NOVA de Lisboa, Lisboa.

FILOMENA BORGES

Associação NOVA Saúde Pública

Capacitar para participar; empoderar para mobilizar:

DO PAPEL E DOS DESAFIOS DAS

ASSOCIAÇÕES DE DOENTES, EM PORTUGAL

Ao longo das últimas décadas, e um pouco por todo o mundo, é notório o crescimento expressivo de Movimentos Sociais em Saúde (Epstein, 1996), cujo papel tem sido crucial não só ao nível dos serviços e apoios que estes têm criado para responder às necessidades manifestadas por doentes, cuidadores/as e/ou familiares que os procuram; mas também no concernente à (re) definição de cada vez mais políticas públicas capazes de salvaguardar os direitos das pessoas em contexto de saúde e, também, no que diz respeito à forma como se pensa e opera no campo da saúde.

Em Portugal, os movimentos sociais na área da saúde tornaram-se expressivos sobretudo após a década de 1970, mais precisamente a partir de 1974, ano em que se iniciou o processo de transição de um regime ditatorial para um regime democrático. Enquadradas nestes movimentos sociais encontram-se as Associações de Doentes.

A elas devemos vários dos direitos que hoje existem e que se consubstanciam em medidas que procuram garantir um acesso mais equitativo à saúde, a melhoria da

qualidade dos cuidados prestados para todas as pessoas e um maior envolvimento da participação cidadã nos processos de tomada de decisão em saúde. Não obstante os avanços concretizados designadamente no que diz respeito a direitos conquistados, este é um caminho em continuada construção, o que pode justificar o crescimento progressivo do número de associações de doentes, em Portugal, que diariamente continuam a dar suporte a quem as procura, sem deixarem de se mobilizar para promover a mudança por um sistema de saúde que ainda não consegue, em rigor, ser acessível a todas as pessoas que a ele recorrem.

Sendo as Associações de Doentes relevantes, a todo o tempo, e necessárias por tudo o que acima foi dito e por trazerem para o centro do debate a experiência da doença por quem a vive, importa atentar aos desafios com os quais são confrontadas para cumprir a sua missão.

Um desses desafios está diretamente relacionado com a composição da esmagadora maioria das associações – de base predominantemente voluntária – e com as

30 FUTURO

dificuldades de captar talento e de profissionalizar um setor que se debate constantemente com o problema da sua sustentabilidade. Acrescem, a estes desafios, as dificuldades de um reconhecimento prático, que se consubstancie no envolvimento efetivo destas associações nos processos de tomada de decisão em saúde.

É a partir da tomada de consciência dos desafios acima mencionados que surgiu a Academia para a Capacitação das Associações de Doentes (ACAD), projeto promovido pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA), com o apoio da Roche.

Criada em 2018, ano da sua primeira edição, a ACAD tem procurado reforçar os conhecimentos de pessoas e organismos que pretendam advogar pelos interesses dos doentes, contribuindo para a sua preparação para a gestão e tomada partilhada de decisões, em contexto de políticas de saúde. É neste âmbito que tem vindo a proporcionar a introdução e o desenvolvimento de temas considerados relevantes para o eficaz empoderamento dos/as advocates, no exercício da sua cidadania de saúde, sem esquecer o encorajamento e apoio a projetos desenvolvidos pelas associações e a promoção da partilha e a discussão em torno das preocupações e desafios sentidos pelas associações de doentes.

Naquela que é a sua quinta-edição, em curso entre setembro de 2022 e junho de 2023, foram desenvolvidos dois programas de capacitação, um deles com temas transversais às problemáticas partilhadas pela generalidade das associações, e um outro de cariz temático, mais direcionado à resposta a necessidades específicas sentidas pelos/as participantes.

Da mesma forma, e ainda na senda da capacitação, desenvolveu-se um Laboratório Digital destinado à reflexão e ao reforço de conhecimentos e competências que permitissem às associações de doentes e advocates o desenvolvimento de respostas eficazes às exigências criadas pela digitalização da comunicação.

Aliada à preocupação com a forma como qualquer entidade comunica com os seus públicos promoveu-se, ainda no contexto deste Laboratório, a iniciativa “Comunicação em (des)construção: A linguagem enquanto instrumento de transformação social”, que teve como objetivos a consciencialização dos/as participantes para a importância de uma comunicação cada vez mais inclusiva e a criação de um espaço

de reflexão a partir do qual fosse possível identificar situações de estigma no acesso aos cuidados de saúde.

A par das atividades supramencionadas, no decurso desta edição foi feito um investimento na comunicação da Academia e das pessoas que a integram, através da produção do podcast “Histórias e Trajetórias e da rubrica “Passos para a Mudança”, vias a partir das quais, são partilhadas vozes das associações, dos membros que as lideram e de pessoas que vivem com doença.

A ACAD tem-se feito nestes espaços de fala e de escuta, que se vão criando para que seja possível tornar mais claros os desafios que atravessam o setor social na voz de quem os vivencia. Também por isso, ainda no âmbito desta edição foi organizado um seminário concebido e desenvolvido por um grupo constituído por seis associações, que procurou desencadear uma discussão sobre a sustentabilidade financeira destas entidades. O evento visou não só discutir os desafios que se colocam à sustentabilidade financeira das entidades do setor social, como compreender que razões estão na génese da efetiva operacionalização da legislação existente que prevê o financiamento das associações de doentes, em Portugal. Reconhecendo que esta iniciativa representou um primeiro passo para a promoção de uma discussão necessária, numa área que preocupa as associações de doentes, importa ter presente que há ainda uma estrada por percorrer.

As associações de doentes são um movimento vivo da sociedade civil, que se vai reinventando de acordo com os desafios que vão surgindo. Da mesma forma, a ACAD tem-se reinventado e inovado, no esforço constante de apoiar as associações no momento de garantir que a voz dos doentes é incluída no diálogo sobre saúde. Acreditamos que os caminhos da capacitação e do empoderamento são diversos e continuaremos a desbravar esses caminhos em parceria com as associações de doentes.

Acompanhe as iniciativas promovidas pela ACAD a partir das suas redes sociais:

Página de Facebook:

https://www.facebook.com/acadensp

Conta de Instagram:

https://www.instagram.com/acadensp/

Referências Bibliográficas:

EPSTEIN, S. (1996), Impure Science: AIDS and the politics of knowledge, Berkeley, University of California Press.

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Atividades APDH

A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH), como é habitual, tem realizado as suas atividades a nível nacional e internacional. Recordamos, as que decorreram nos primeiros meses de 2023.

CICLO DE WEBINARSCONVERSAS EM REDE

funcional, traduzindo-se no aumento significativo de pessoas idosas, frágeis e dependentes que necessitam de apoio de cuidadores, bem como, da necessidade de identificar necessidades, fragilidades e carências destes últimos. Aproximadamente 336 pessoas assistiram online a este Webinar.

A 2ª sessão das Conversas em Rede intitulada “Mudar as Urgências: Quando, como, onde, quem e porquê?”, organizado a 5 de abril de 2023, foi um estrondoso sucesso, com mais de 1000 visualizações em tempo real, nos diversos canais de comunicação.

Ciclo de Webinars - Conversas em Rede

As Conversas em Rede representam um espaço informal de discussão e reflexão sobre matérias que interessam aos seus associados e a todos os profissionais de saúde, organizado pela APDH, em estreita colaboração com a FDC Consulting e com o apoio da HealthNews enquanto media partner. Pode assistir aos Webinars já realizados no Canal de Youtube e no Facebook da APDH.

A 1ª sessão realizou-se no dia 16 de fevereiro de 2023, e foi dedicada ao tema “Cuidadores Informais: quem cuida de nós?”, tendo o programa contado com a participação de Ana Escoval, na qualidade de Coordenadora da Plataforma “Saúde que Conta”; Ana Rita Pedro, investigadora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa; Liliana Gonçalves, Presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais e Maria do Rosário Zincke dos Reis, Presidente da Plataforma Saúde em Diálogo. O espaço de debate foi alimentado por Marina Caldas da FDC Consulting. O debate centrou-se numa associação entre a maior longevidade da população, a situação de múltiplas doenças crónicas e a incapacidade

O programa contou com o comentário de Ana Escoval, Vogal da Direção da APDH, a moderação de Marina Caldas e com a participação de Bruno Heleno, Assistente de Medicina Geral e Familiar no ACES Lisboa Norte; Francisca Delerue, Diretora da Unidade de Hospitalização Domiciliária no Hospital Garcia de Orta; João Gouveia, Diretor do Serviço de Urgência no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e Nélson Pereira, Diretor da UAG da Urgência e Medicina Intensiva no Centro Hospitalar Universitário de São João.

A 3ª sessão “Que Sistema Local de Saúde?” realizouse a 18 de abril de 2023, com o apoio da SINASE e pretendeu refletir sobre a estrutura do SNS com novas ULS, modelo de abrangência e evolução das USF, partilha e/ou transferência de competências das ARS para as Autarquias e CCDR, analisando diferentes perspetivas sobre o modelo de governação, respetivos instrumentos e propostas para futuro. Marina Caldas moderou a sessão, tendo Ana Escoval assegurado o comentário ao debate que foi protagonizado por Adelaide Belo, Assistente Graduada Sénior de Medicina Interna da ULS do Litoral Alentejano; Paulo Gonçalves Assessor da Vice-Presidente, Câmara Municipal da Maia, Emília Santos; Miguel Cabral; Médico Assistente em Saúde Pública, Gestor PLS Maia/Valongo da OM e Teresa Magalhães, Professora Auxiliar Convidada, na ENSP – NOVA. Assistiram online a este Webinar cerca de 400 pessoas.

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APDH

PRÉMIO DE BOAS PRÁTICAS EM SAÚDE®

ENCONTRO LUSÓFONO

SOBRE A CLASSIFICAÇÃO

INTERNACIONAL DE DOENÇAS CID-11 DA OMS

Está a decorrer a 16.ª Edição do Prémio de Boas Práticas em Saúde® (PBPS) com organização conjunta entre a APDH, a Direção-Geral da Saúde (DGS), a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), as Administrações Regionais de Saúde e as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, que tem como principal objetivo dar a conhecer exemplos de boas práticas, com vista à sua replicação futura, na senda da melhoria do desempenho do Sistema de Saúde.

A 16.ª edição do PBPS centra-se, em 2023, na temática “Desafios Futuros: Sustentabilidade na Saúde”, com

foco nos seguintes subtemas:

Capital Humano da saúde

Transformação digital para a otimização de cuidados

Organizações de saúde “verdes”

Organização dos cuidados de saúde

Integração de Cuidados de Saúde e Respostas de Proximidade

Terminado o prazo de submissão de Candidaturas, é com grande satisfação que a Comissão Organizadora do PBPS anuncia a receção de 90 candidaturas, destacando-se, com a maior representação, a região Norte (cerca de 38%), seguida de Lisboa e Vale do Tejo (21%), Centro (13%), Algarve (12%), Alentejo (9%) e das regiões Autónomas dos Açores (6%) e Madeira (1%). Dessas, foram já pré-selecionadas 70 candidaturas, as quais serão submetidas a um processo de avaliação científica, que decorre de 22 de maio a 7 de julho de 2023.

A DGS organizou com o Ministério da Saúde do Brasil e a APDH, o Encontro Lusófono sobre a Classificação Internacional de Doenças, versão 11 (CID-11), da Organização Mundial da Saúde (OMS), que decorreu a 13

e 14 de abril de 2023, no Instituto Nacional de Estatística e na DGS, em Lisboa.

A sessão de abertura, moderada por Ana Escoval, contou com a participação da Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, da Secretária de Estado da Promoção da Saúde, Margarida Tavares, da Vogal do Conselho Diretivo do INE, Maria João Zilhão, e ainda Maria Del Carmen Molina do Ministério da Saúde do Brasil, Juan José Cortez da Organização Pan-Americana da Saúde e Robert Jakob da OMS.

O Encontro teve como objetivos definir uma estratégia de tradução e adaptação da CID-11 para uso pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), desenvolver a cooperação técnica entre os países da CPLP para o melhor uso da CID, e discutir a viabilidade / oportunidade estratégica para a concretização de um Centro Colaborador da OMS para a Família Internacional de Classificações para a língua portuguesa.

No Encontro juntaram-se a Portugal as delegações de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe.

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Atividades APDH

A SUBMISSÃO DE RESUMOS

AO 46º CONGRESSO MUNDIAL DOS HOSPITAIS BATE RECORDES

A Comissão Organizadora que integra a APDH, APHP e APAH, congratula-se com a adesão massiva de hospitais e profissionais de saúde à submissão de resumos. Com um total de 717 resumos submetidos, por 50 países e territórios, dos quais, 124 de Portugal, este representa o 2º maior número de resumos recebidos de sempre. Estes, serão agora alvo de uma rigorosa avaliação da Comissão Científica, que conta com dois representantes da APDH: Artur Vaz, Co-Chair e Margarida Eiras, Membro deste órgão. Este evento da IHF irá decorrer entre 25-27 de outubro, com atividades de pré-congresso nos dias 23 e 24, sendo já possível consultar o programa preliminar no seu site

VENCEDORES DA 7.ª EDIÇÃO DO PRÉMIO JORNALISMO EM SAÚDE

Prémio Carreira APIFARMA/Clube de Jornalistas: Paula Rebelo que se dedica há anos ao jornalismo televisivo em saúde, tendo dado um contributo ímpar a este género de informação. Tem concorrido regularmente a este concurso com trabalhos de mérito, como o deste ano, intitulado “Uma só Saúde”, uma abordagem integrada da saúde ligando ambiente, animais e homem.

Categoria Imprensa: Clara Soares e Alexandra Correia, pelo trabalho “Foco – A Ciência da Concentração”, publicado na Revista Visão

Categoria Rádio: Cláudia Godinho, pelo trabalho “Redução de Danos: Entre a droga e a vida”, emitido na Antena 1

Categoria Televisão: Mafalda Gameiro, pelo trabalho “Escuta-me, por favor”, transmitido na RTP

Categoria Jornalismo Digital: Sofia Craveiro, pelo trabalho “Aborto seguro em Portugal: 15 anos de uma lei que tirou as mulheres do banco dos réus”, publicado no Gerador

Prémio Temático - Saúde Digital: Paula Fernandes Teixeira, pelo trabalho “’APP’ Auxilia jovens médicos na tomada de decisão e reúne protocolos dispersos”, divulgado pela Agência LUSA

Prémio Universitário Revelação: Patrícia Silva e Catarina Magalhães, pelo trabalho “Violência obstétrica: Ninguém nos faz o parto, o parto somos nós que o fazemos”, Universidade do Minho

O “Prémio APIFARMA/ Clube de Jornalistas – Jornalismo em Saúde” resulta de um protocolo assinado entre as duas entidades, em 2016, com o propósito de aprofundar o papel da APIFARMA, enquanto parceiro ativo da Sociedade Civil, e contribuir para a vitalidade do projeto Clube de Jornalistas.

A Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica – APIFARMA e o Clube de Jornalistas anunciaram os vencedores da 7.ª edição do “Prémio Jornalismo em Saúde”, na qual a APDH participa na qualidade de parceira.

Categoria Grande Prémio APIFARMA/Clube de Jornalistas: Margarida Metello, pelo trabalho “Únicos e Singulares”, transmitido na RTP

O júri é composto por cinco elementos: um representante do Clube de Jornalistas, um representante da Casa de Imprensa, um representante da APDH, que colabora neste Prémio desde a 2ª Edição, e duas personalidades de reconhecido mérito nas áreas da Saúde e Jornalismo indicadas pelos promotores do Prémio.

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APDH

Better Health, Brighter Future

Podemos sempre fazer mais para melhorar a vida das pessoas. Impulsionados pela paixão de realizar este objetivo, a Takeda proporciona medicamentos inovadores à sociedade desde a sua fundação em 1781.

Hoje combatemos diversos problemas de saúde em todo o Mundo desde a sua prevenção à cura. Mas a nossa ambição mantém-se: encontrar novas soluções que façam a diferença e disponibilizar melhores fármacos que ajudem o maior número de pessoas possível, omais rápido que conseguirmos.

Com a ampla experiência, sabedoria e perseverança da nossa equipa, a Takeda terá sempre o compromisso de melhorar o amanhã.

www.takeda.pt
C-ANPROM/PT/TAK/0004 aprovado em maio de 2023 Takeda – Farmacêuticos Portugal, Lda. Quinta da Fonte, Rua dos Malhões nº5, Ed Q56 D. Pedro I, Piso 3, Paço de Arcos 2770-071 Lisboa Portugal | Sociedade por quotas | Capital Social 259.400€. Conservatória do Registo Comercial de Cascais n.º 502 801 204 Tel: +351 21 120 1457 | Fax: +351 21 120 1456 | NIF: 502 801 204
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