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ANO LIX | JULHO 2013 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤

PAQUISTÃO

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CRISTÃOS PERSEGUIDOS DÃO TESTEMUNHO DE CORAGEM

FAMÍLIAS MARFINENSES VIVEM DO CARVÃO Pág. 10 CONTESTAÇÃO SAI À RUA Pág. 13 NA TURQUIA EGITO E ETIÓPIA LUTAM Pág. 14 PELO RIO NILO


CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS. CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO. COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar. São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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editorial

A CAMINHO DO RIO Vêm aí as Jornadas Mundiais da Juventude, a realizar no Rio de Janeiro, no Brasil, de 23 a 28 de julho. Um evento que quer testemunhar uma fé viva e transformadora. São eles, os jovens, os protagonistas desse grande encontro de esperança e unidade. Acolhidos por 60 mil voluntários, são esperados mais de dois milhões, provenientes de todas as partes do mundo, mas sobretudo da América Latina, um Continente jovem de maioria católica. Catequeses, testemunhos, partilhas, exemplos de amor ao próximo e à Igreja, festivais de música e atividades culturais contribuirão para esse grande encontro de corações que creem, movidos pela mesma esperança de que é possível a fraternidade universal. Será uma gigantesca troca de experiências e de culturas. Vão ser as primeiras JMJs do Papa Francisco e as primeiras realizadas em território de língua portuguesa. Promete muito este primeiro grande contacto direto do Papa com os jovens, que não são apenas o futuro da Igreja e da humanidade. Eles são o presente. O rosto jovem da Igreja. Disse-o Bento XVI na sua visita ao Brasil em 2007: “Sem o rosto jovem, a Igreja apresentar-se-ia desfigurada”.

é mais “fixe” e divertido, e é forte a atração das coisas materiais, é extraordinário que haja jovens – e já são muitos – dispostos a fazer a diferença, na procura de valores mais perenes. Que dirá o Papa Francisco aos jovens que acorrerem ao Rio de Janeiro? O tema, proposto ainda por Bento XVI, tem um alcance missionário indiscutível: “Ide e fazei discípulos entre todas as nações”. Será a grande marca do encontro, inspirado pela estátua do Cristo Redentor que, de braços abertos, se eleva sobre a bela cidade. “Deixai-vos envolver pelo seu amor, sede instrumentos desse amor imenso, para que alcance a todos, especialmente aos afastados”. O Papa Francisco, dentro daquilo a que já nos habituou, para além dos discursos preparados, falará ao coração dos jovens num estilo direto e dialogante, imprimindo otimismo e confiança, neste tempo de lamentações, qual antídoto para vencer as crises. Proporá caminhos novos a suscitar interesse pela vida e pelo futuro. E pedirá certamente aos jovens que saiam de si mesmos e se projetem para fora, em direção às periferias existenciais, onde os mais frágeis esperam por cuidados especiais. Porque os jovens de hoje podem alterar o futuro. DARCI VILARINHO

Não há dúvida. Repletos de ideais e de esperanças, os jovens precisam da Igreja e a Igreja precisa dos jovens. Eles são genuínos e espontâneos, e não estão ainda contaminados pelo desânimo de uma humanidade que repete demasiadas vezes que “não vale a pena!” Num tempo em que faltam valores e referências familiares e sociais, e em que se prefere o que Julho 2013

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sumário Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Nº 7 Ano LIX – JULHO 2013 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 geral@fatimamissionaria.pt redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial António Jesus Fernandes Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Im­pres­são Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 25.900 exemplares Diretor Darci Vilarinho Diretor executivo Francisco Pedro Redação Darci Vilarinho, Francisco Pedro, Juliana Batista Colabora­ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Elísio Assunção, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Patrick Silva, Teresa Carvalho; Diaman­tino Antunes – Moçambique; Tobias Oliveira – Roma; Álvaro Pa­­che­co – Coreia do Sul Fotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As­sunção e Arquivo Capa e Contracapa Lusa Ilustração H. Mourato e Ri­car­do Neto Design e com­po­sição Happybrands e Ana Pau­la Ribeiro Ad­mi­nis­tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€ De apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€ Avulso 0,90€ (inclui o IVA à taxa legal) Pagamento da assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) NIB 0033 0000 00101759888 05 transferência bancária internacional IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal

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“A CRUZ TORNOU-SE O NOSSO SINAL DE ORGULHO” 03 EDITORIAL A caminho do Rio 05 PONTO DE VISTA Confundir relativismo com cobardia 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Caminhos de perdão 08 MUNDO MISSIONÁRIO Crianças vendidas são milhões em todo o mundo

“Aberração jurídica e social” em El Salvador Em três semanas Angola expulsa 52 mil congoleses Duas Coreias desavindas retomam as negociações 10 A MISSÃO HOJE Carvoeiras da Costa do Marfim correm riscos para sustentar a família 11 PALAVRA DE COLABORADOR Ele há cada coisa! 12 A MISSÃO HOJE Refrescar o coração nas Jornadas Missionárias 13 DESTAQUE Taksim: a luta por uma identidade turca 14 ATUALIDADE Quando o Nilo faz chocar Egito e Etiópia 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Sempre com Jesus 24 TEMPO JOVEM Improvisar faz bem 26 SEMENTES DO REINO Qual a melhor parte? 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA “O leão de Judá” 32 OUTROS SABERES Antes louvar que censurar 33 NOTAS MISSIONÁRIAS Curar feridas da humanidade 34 FÁTIMA INFORMA Férias em voluntariado


ponto de vista

texto PAULO J. AGOSTINHO*

CONFUNDIR RELATIVISMO COM COBARDIA Há 30 anos, os cristãos maronitas eram o maior grupo religioso do Líbano. De tal modo, que a Constituição impôs a presença de um líder cristão numa das duas cúpulas do Estado. Hoje, estima-se que o número não passe dos 30 por cento. Há 40 anos, os coptas compunham perto de 20 por cento da população egípcia. Hoje, esse valor reduziu-se para metade. Há 60 anos, a Igreja Católica iniciou um processo de abertura único, que culminou no Concílio Vaticano II. Daí em diante, tem vindo a implementar e a mudar a sua própria organização, apostando no diálogo inter-religioso, no ecumenismo e num discurso de tolerância religiosa consistente, que tem aproximado a instituição do mundo moderno. Ora, essa aposta no diálogo e na tolerância confunde-se, a espaços, com relativismo. Isto num momento em que outras religiões, em particular o islamismo, cerram fileiras, rejeitam qualquer diálogo e apostam no proselitismo como molde de formação dos seus crentes. Em que os líderes religiosos tomam conta do espaço público e assumem-se como atores políticos concretos, condicionando o poder aos seus interesses. Seja pelo fundamentalismo, seja pela falta de vontade em punir as perseguições religiosas. Porque sabem que têm uma mole de gente que irá votar de acordo com as suas indicações. O preço a pagar é a submissão do Estado à religião. A uma religião

que não concede direitos a crentes de outras confissões. Esse é o caso do Paquistão, por exemplo, onde as perseguições aos cristãos estão a ultrapassar os limites do aceitável. Não há paz nas fronteiras entre as duas maiores religiões, num conflito pelo coração e pelas mentes dos crentes, em que uns lutam com todas as armas e os outros estão reféns de um discurso de tolerância. Pelo meio, temos media ocidentais que valorizam o relativismo e exigem à Igreja um discurso de tolerância permanente. E por isso, os apelos da hierarquia ou as denúncias de cabeças cortadas de cristãos no interior da Nigéria não têm eco concreto fora do universo católico. Exemplo disso é a ONU, que pouco tem feito nesta área. Os países islâmicos funcionam como força de bloqueio e o resto do mundo não considera este problema uma prioridade. Nos entretantos desta tragédia, assistimos a conversões forçadas, submissão de direitos das mulheres, assassínios de padres, proibição de escolas, destruição de templos e a diplomas legais que condicionam outras práticas religiosas. Perante a complacência de um mundo que confunde relativismo com cobardia e tolerância com cumplicidade. * Editor de Lusofonia e Mundo na agência Lusa

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leitores atentos

RENOVE A SUA ASSINATURA Faça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05. Refira sempre o nú­­me­ro ou nome do assinante. Na folha on­de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu número de assinante. Agradecemos que os nossos es­ti­mados assinantes renovem a assinatura para 2013. Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoio do Estado ao porte dos correios. Os do­­na­tivos para as missões são de­dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte. Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA «a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 100 mil leitores. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

Diálogo aberto Vou enviar-vos a importância

da assinatura acrescida de um pouco mais que vos possa ajudar a adquirir equipamento escolar para as crianças da Costa do Marfim. Esses meninos, que tão pequenos apenas conhecem ferramentas de trabalho, precisam de ter a alegria de se sentarem a uma carteira escolar para aprenderem a ler e a escrever aumentando os seus conhecimentos. (…) Receber-vos em cada mês na minha caixa do

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REVISTA MUITO AGRADÁVEL EMOCIONO-ME

Já fiz o pagamento da assinatura por multibanco. FÁTIMA MISSIONÁRIA é uma revista muito agradável. Sempre que a leio, fico com uma sensação de paz e harmonia. Mas também fico comovida quando vejo situações de países em guerra, onde há tanta gente que sofre devido a tantas injustiças. Como seria bom que no mundo houvesse mais amor, compreensão e justiça para que toda a humanidade pudesse viver em paz, gozando os seus direitos. Lucília

GRAÇAS AO PADRE CARREIRA

Junto cheque para pagamento de algumas assinaturas. O resto é oferta para o que melhor entenderem. Que o Senhor continue a dar-me saúde e os meios para, em seu nome, poder continuar a partilhar com os mais necessitados. Desejo as maiores graças de Deus para todos os que trabalham pela causa missionária e em especial para os que trabalham nesta magnífica revista, da qual me tornei assinante graças ao saudoso padre Manuel Carreira.

Envio cheque com uma importância para pagamento da assinatura e do mais que for entendido. Esta “nossa” revista é muito bem escrita, elaborada e estruturada. Por vezes emociono-me com relatos de grande sofrimento. Todos os dias peço ao beato José Allamano proteção para os missionários da Consolata e todas as suas missões. Antonieta

RECONHECER E ELOGIAR

Com este cheque pago a assinatura ficando o resto para o projeto “Maloca para todos”. Nunca é demais reconhecer-se e elogiar-se o bom trabalho dos missionários. Aqui ficam os meus votos para que Deus os ajude no cumprimento da sua missão e os proteja de todas as maldades que infelizmente ainda existem neste mundo. Os meus cumprimentos para todos os que colaboram na execução da FÁTIMA MISSIONÁRIA. José Dias

Emídio

correio é estar certa de aprender gestos de partilha e mergulhar em outras realidades em que somos convidados a estar atentos para que se possam realizar as palavras tão belas de Jesus: “Dai-lhes vós mesmos de comer” Maria Carlota Lemos Portela

É isso mesmo, Dona Maria Carlota. Jesus quer que continuemos a sua obra que contempla o anúncio da sua Palavra, mas também a promoção humana das pessoas. Neste caso, das crianças da Costa do Marfim,

com o projeto missionário deste ano, largamente publicitado na nossa revista. Apoiar esta causa é contribuir, de facto, para que as ferramentas agrícolas sejam substituídas por ferramentas escolares. Ler, escrever, instruir-se é base fundamental para o desenvolvimento integral da pessoa humana, tão próprio do carisma que o beato Allamano nos deixou. Bem haja pelo seu contributo. DV


horizontes

CAMINHOS DE PERDÃO texto TERESA CARVALHO ilustração HUGO LAMI A festa estava a terminar. A galhofa ainda continuava nas gargalhadas e canções desafinadas. Miguel sentia-se “só felicidade”: ter tantos amigos no seu 16º aniversário permitia-lhe por instantes ter a crença de que era realmente estimado. Nem se sentia a viver numa instituição. Ao despedir-se, o tio chamou-o à parte e segredou-lhe: – Miguel, trago um recado da tua mãe. Ela gostava de encontrar-se contigo. O brilho fugiu da expressão de felicidade de Miguel. – Já sabes que eu não quero relações com a minha mãe. Obrigado pela mensagem. – A tua mãe quer pedir-te perdão e poder resolver aquilo que vos separa. – Brincas! Não quero nem vê-la! Ela nunca quis saber de mim, agora sou eu que não quero nada com ela! Os olhos molhados falavam uma linguagem de emoção e de dor, contrastando com a indiferença do discurso. – Percebo. Mas, se quiseres, podes ligar-me para nos encontrarmos os três! Ela reconhece que errou e não quer desperdiçar mais tempo sem ti! O tio saiu devagarinho depois de apertar Miguel contra o peito, partilhando o sofrimento que lhe avivara. Sentiu o bater disparado do coração do sobrinho. Percebeu-o sozinho, e quis tanto apaziguar a tempestade de emoções… mas esta era uma das coisas que, para acontecer, Miguel precisava querer. Ao chegar ao quarto, as imagens que já tentava esquecer chegavam-lhe imparáveis: reviu a mãe a sair de casa, deixando-o e aos irmãos com o pai, alcoólico. Recordou a carta que lhe escreveu mas nunca enviou, prometendo portar-se bem

se ela voltasse. Reviu a culpa que sentiu e que o fez sentir-se o pior menino que conhecia. A dor por tudo isto justificou para si mesmo o início do consumo de drogas, as fugas de casa à noite, as faltas às aulas e a ligação a um grupo onde experimentou o prazer de se destruir. Este era o seu 16º aniversário e já se sentia cansado da vida. O que mais queria era estar em família, mas que “família de verdade” tinha ele? Queria acreditar que era importante para alguém, mas diria que isso só no mundo da fantasia. E, mesmo não admitindo, queria muito saber que não desaparecera do coração da mãe e que ela não o abandonara – mas fora isso que ele vira.

faziam nomes com a sopa de letras, ou se deliciavam com as pipocas que ela fazia ao fim de semana. Miguel chorou. Que saudades da mãe! Como gostaria de ser outra vez pequenino quando ainda pensava que era “bom menino” e a mãe era “a melhor mãe do mundo”! Adormeceu por fim, embalado pela dúvida que faz nascer a esperança: será que a mãe não o esqueceu mesmo? Será que ele é mesmo importante para ela? O caminho para a aproximação de ambos foi reaberto. O desejo de amar e de ser amado fará o resto, se Miguel e a mãe forem capazes de entender as suas histórias e perceberem como o perdão é fonte de libertação e de encontro.

Desde há sete anos, esta foi a primeira vez em que se permitiu recordar a mãe no tempo em que ela lhe aconchegava a roupa ao deitar, brincava com ele e com os irmãos, Julho 2013

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mundo missionário texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

CRIANÇAS VENDIDAS SÃO “ABERRAÇÃO JURÍDICA E MILHÕES EM TODO O MUNDO “Defendamos SOCIAL”a EM EL SALVADOR “Não estou à venda” é o lema de uma campanha nossa água” é o apelo do arcebispo de de denúncia contra o tráfico de crianças, lançada recentemente pelos Missionários Salesianos. As crianças escravas são mais de nove milhões em todo o mundo. Só na África ocidental, contam-se mais de 300 mil meninos, meninas e jovens vendidos, que acabam nas malhas das máfias que os revendem para trabalhos domésticos, para as minas, campos ou prostituição. Os bandos criminosos conseguem facilmente comprar uma criança por 50 euros, prometendo às famílias uma vida melhor, educação e dinheiro. A pobreza, a procura de mão de obra económica, as famílias desfeitas e os conflitos são as principais causas deste grave fenómeno. Para o enfrentar, os missionários procuram criar casas de acolhimento, estabelecer observadores nas fronteiras, linhas telefónicas dedicadas aos menores, assim como a reinserção nas famílias.

San Salvador. Durante a sua habitual conferência de imprensa dominical, José Luis Escobar lançou um apelo às organizações internacionais para que defendam as águas salvadorenhas da ameaça que vem da mina de ouro da Guatemala. Situada junto à fronteira de San Salvador, a mina Cerro Blanco di Jutiapa ameaça contaminar o lago Güija e o rio Lempa, o maior do país. As organizações ambientalistas salvadorenhas já há muito que lançaram o alarme sobre o grave perigo de contaminação das águas. Embora esteja em curso o diálogo entre as autoridades dos dois países, o prelado apelou ao governo do seu país para que resolva o problema de maneira definitiva. “Não se pode querer um benefício económico, pondo em risco a saúde de uma nação inteira”. No tempo em que vivemos seria “uma aberração jurídica e social que não podemos tolerar”.

Os anos passam

Tobias Oliveira, missionário da Consolata português em Roma

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Este mês aproveito a benevolência dos estimados leitores para lhes falar de mim. Celebrei há dias 45 anos de sacerdócio e esse acontecimento proporcionou-me uma oportunidade para meditar e tecer algumas considerações. Tendo vivido vários anos em Fátima, lembro com carinho as muitas pessoas, especialmente casais, que visitavam o santuário para aí recordarem o seu jubileu de prata ou de ouro, ou simplesmente um aniversário importante. Os meus 45 anos não entram na lista oficial dos jubileus, mas nem por isso deixaram de ter um profundo significado para mim, especialmente porque os pude celebrar em


EM TRÊS SEMANAS ANGOLA DUAS COREIAS DESAVINDAS EXPULSA 52 MIL CONGOLESES ARETOMAM AS NEGOCIAÇÕES A organização «Médicos do mundo» denuncia a notícia que a Coreia do Norte e a Coreia do expulsão, de forma violenta, de 52.231 pessoas obrigadas a atravessar a fronteira entre Angola e a República Democrática do Congo. As autoridades de Luanda lançaram “um ultimatum aos congoleses em situação irregular”, no início de maio. Atualmente, “as pessoas estão a atravessar a fronteira em condições bastante dolorosas; com frequência as mulheres são violentadas”. Privados de assistência e de alimentação, os congoleses expulsos debatem-se com grandes dificuldades. Em Tembo, no Kasongo-Lunda, a sociedade civil lançou um apelo às autoridades de Kinshasa para que forneçam vestuário a 5.000 congoleses expulsos de Angola.

Sul pretendem reatar as conversações oficiais, interrompidas após as tensões verificadas em março passado, é um passo significativo que poderá dar lugar à reaproximação entre norte e sul. A decisão de retomar o diálogo poderá relançar as atividades produtivas no parque industrial de Kaesong, junto à fronteira, encerrado em abril último. “A paz e a estabilidade na península coreana são do interesse comum”. O secretário-geral da Comissão para a Reconciliação do Povo Coreano, o sacerdote Lee Eun-Hyung explica: “Nesta situação de tensão, a carestia que afeta o povo da Coreia do Norte irá piorar; a economia da Coreia do Sul está a registar desvantagens. A porta de saída justa é o diálogo e os acordos, a colaboração e o intercâmbio”. Desde 1999, a Comissão tem desenvolvido um esforço constante de solidariedade e colaboração com o norte, onde os fiéis cristãos vivem numa situação de grande sofrimento.

Roma com uma visita à Basílica de Santa Maria Maior. Fui ordenado sacerdote num santuário dedicado à Imaculada Conceição e pertenço a uma família religiosa que venera nossa Senhora como Consoladora – a Consolata – e para mais este meu aniversário coincidiu com a festa do Imaculado Coração de Maria. Estou muito feliz e agradecido e estendo aos leitores o meu convite para descobrirem as muitas razões pelas quais se devem sentir agradecidos e felizes eles também por cada dia e cada ano que passa.

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a missão hoje

A produção do carvão é feita sem qualquer prevenção de doenças respiratórias

CARVOEIRAS DA COSTA DO MARFIM CORREM RISCOS PARA SUSTENTAR A FAMÍLIA Tal como acontece em muitos países africanos, as mulheres da Costa do Marfim têm um papel fundamental no sustento da família. Na região de San Pedro, muitas encontraram no fabrico do carvão um meio de negócio e uma solução de sobrevivência. Mesmo correndo elevados riscos de saúde texto FRANCISCO PEDRO foto ANA PAULA O corrupio à volta dos montes de lenha começa com o nascer do dia. Centenas de mulheres, algumas ainda adolescentes, movimentam-se descalças, entre lama 10

e fagulhas, indiferentes ao perigo. Os pés, calejados, pisam o chão impregnado de lascas de madeira, num passo descontraído, como se ali estivesse um manto de veludo negro. Os pulmões, massacrados pela poluição, inspiram a poeira e o fumo espesso, carregado de um forte odor a madeira queimada, que brota dos fornos artesanais para produção de carvão. Um cenário quase irreal para os europeus, mas banal para as cerca de 500 carvoeiras que lutam diariamente pela sobrevivência numa serração às portas da cidade de San Pedro, no sul da Costa do Marfim. Num país onde o ordenado mínimo ronda os 80 euros, as mulheres encontraram na produção de carvão uma nova forma de subsistência. Individualmente ou com a ajuda dos filhos, compram os desperdícios de madeira, ajeitam-nos em pequenos montes, abafam-nos com uma mistura de terra e serradura e deixam arder. Durante uma semana, afagam a cobertura e certificam-se da intensidade da combustão. E fazem votos para que o vento em demasia não transforme a matéria-prima em cinza, ou que a chuva não interfira com o processo de produção. Terminado este período, separam o carvão da terra, distribuem-no por sacos


palavra de colaborador

Num país onde o ordenado mínimo ronda os 80 euros, as mulheres encontraram na produção de carvão uma nova forma de subsistência. Individualmente ou com a ajuda dos filhos, compram os desperdícios de madeira, ajeitam-nos em pequenos montes, abafam-nos com uma mistura de terra e serradura e deixam arder. Durante uma semana, afagam a cobertura e certificam-se da intensidade da combustão. E fazem votos para que o vento em demasia não transforme a matéria-prima em cinza, ou que a chuva não interfira com o processo de produção

texto DARCI VILARINHO de vários tamanhos e seguem para os mercados ou pontos de venda, onde cada embalagem pode render entre oito e 15 euros. Apesar dos riscos para a saúde, as precauções são inexistentes. As doenças respiratórias – como bronquites, pneumonias e asma – multiplicam-se, e as probabilidades de contraírem problemas crónicos, como a insuficiência respiratória ou a hipertensão arterial pulmonar, revelam-se cada vez mais inquietantes. Presente em San Pedro desde 1996, o Instituto Missionário da Consolata (IMC) tem acompanhado o fenómeno e procurado contribuir para minimizar os efeitos colaterais deste trabalho. “Estamos em contacto com algumas carvoeiras e com negociantes de madeira para os fazer compreender os problemas de saúde associados à atividade, de modo a podermos avançar para a prevenção”, disse à FÁTIMA MISSIONÁRIA o Delegado do IMC na Costa do Marfim, Pietro Villa. Em paralelo com as eventuais ações de sensibilização, os missionários pretendem ainda criar um programa de microcrédito, que possibilite às chamadas “Damas de Carvão” o exercício da atividade com mais segurança e, sobretudo, com mais dignidade.

ELE HÁ CADA COISA! José Adelino Brites e Maria, sua mulher, rodeados pelos quatro filhos e nove netos, também fazem parte da família Consolata. Ele é um generoso colaborador da nossa revista. Porquê? Responde: “Não foi por ter nascido a uns dez quilómetros de Fátima, na freguesia do Arrabal, só vinte anos após as aparições; não foi pelo privilégio de ter sido seminarista da Consolata e ter participado em muitos dos acontecimentos da história do santuário na década de cinquenta, e ter visitado várias vezes o “ti Marto” e a “tia Olímpia”, pais de Francisco e Jacinta, e os familiares da Lúcia. Não, nada disto! Sou colaborador desta revista, em Faro, por acaso. Tudo começou com uma peregrinação aos santuários marianos de Espanha em 1993 na qual participaram trinta algarvios e o padre António Fernandes, ordenado sacerdote poucos dias antes. A simplicidade deste jovem missionário, que agora toda a gente conhece, cativou de tal maneira o grupo que o adotámos como filho. E não é que a brincadeira pegou?! Nunca mais perdemos o contacto: cartas, emails, telefonemas, visitas, participações na peregrinação nacional a Fátima, donativos para projetos missionários e, claro, assinantes da FM, já somos umas sete dezenas. É esta FÁTIMA MISSIONÁRIA que nos une, nos reúne e nos propõe a todos uma nova visão do mundo”.

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a missão hoje conferências a que assistiremos, assim como os workshops em que participaremos de uma maneira ativa: Missão e economia. Juventude e família. Juventude e cultura. Sabemos que a missão está sempre fora de nós, exigindo um movimento para o exterior, saindo da própria casa e partindo, não se acomoda ao já alcançado, mas é capaz de deixar estruturas e situações para iniciar projetos novos em situações que requerem o primeiro anúncio do Evangelho e revitalizando de maneira criativa o que já existe. Ai de nós se ficássemos agarrados ao contentamento do já feito!

António Lopes, diretor nacional das Obras Missionárias Pontifícias

REFRESCAR O CORAÇÃO NAS JORNADAS MISSIONÁRIAS “Missão @dgentes – Ide e anunciai!” é o tema das próximas Jornadas Missionárias que terão lugar no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, nos dias 20 a 22 de setembro texto ANTÓNIO LOPES foto ANA PAULA A grande novidade deste ano é que o encontro se realiza em conjunto com as Jornadas da Pastoral Juvenil. Esta feliz coincidência é impregnada das palavras do Papa Francisco: “Queridos jovens, imagino-vos fazendo festa ao redor de Jesus, imagino-vos gritando o seu nome e expressando a vossa alegria por estardes com Ele! Vós tendes uma parte importante na festa da fé! Vós 12

trazeis-nos a alegria da fé e dizeis-nos que devemos viver a fé com um coração jovem, sempre: um coração jovem, mesmo aos setenta, oitenta anos! Coração jovem! Com Cristo, o coração nunca envelhece”. Nestas Jornadas Missionárias, queremos refrescar o nosso coração. Viver esses dias de modo diferente. Para isso muito nos ajudarão as

A missão é sempre jovem. O bem-aventurado João Paulo II dizia que “a missão de Cristo Redentor, confiada à Igreja, está ainda bem longe do seu pleno cumprimento, está ainda no começo, e que devemos empenhar-nos com todas as forças no seu serviço”. Por isso ele chamava os jovens de “sentinelas da manhã, afirmando que é seu dever anunciar a chegada do sol que é Cristo ressuscitado”. Contudo, quando olhamos para o nosso mundo vemos que ainda é noite, ainda existem trevas, milhões de pessoas que não conhecem a Deus. Mas o dia vem! O sol vem: Cristo nossa luz que dissipa as trevas do mundo. Missão é fazer com que o sol da manhã, Jesus Cristo, chegue a todos os cantos do mundo. É por isso que o Papa Francisco pedia aos jovens para dizerem ao mundo: “É bom seguir Jesus; é bom andar com Jesus; é boa a mensagem de Jesus; é bom sair de nós mesmos para levar Jesus às periferias do mundo e da existência”. Oxalá estas Jornadas despertem em todos nós a vontade de continuar a ser no mundo a “alegria suave e consoladora da evangelização como dizia o Papa Paulo VI. Texto conjunto Missãopress


destaque DA DEFESA DE UM PARQUE À CONTESTAÇÃO AO GOVERNO

TAKSIM: A LUTA POR UMA IDENTIDADE TURCA texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA Já não é o projeto de urbanização do parque Gesi, onde se situa a praça Taksim, que mobiliza os ocupantes do principal espaço florestal de Istambul e os apoiantes de inúmeras cidades do país. Agora, são duas visões da Turquia que se debatem nas ruas das cidades turcas: uma, conservadora, religiosa, rural, constituída pelas classes baixa e média; outra, laica, ocidentalizada, maioritariamente urbana, que acusa o primeiro-ministro de tentar islamizar a Turquia. As duas semanas de protestos e confrontos com a polícia representaram um duro golpe na imagem do primeiro-ministro turco, considerado até aqui como o principal obreiro da solução capaz de realizar um equilíbrio entre o secularismo e o Islão, uma das principais fontes de instabilidade na maior parte dos países da região, afetados pela denominada Primavera Árabe.

Crise mal gerida

A radicalização que colocou no seu discurso contra os manifestantes da praça Taksim, naquela que é considerada a sua maior crise política, desde que chegou ao poder, comprometeu seriamente esta imagem que, de resto, se vinha a degradar nos últimos tempos. A intervenção desproporcionada das forças da ordem, de que resultou a morte de quatro pessoas e cerca de sete mil feridos, contribuiu fortemente para esta situação.

O primeiro-ministro irritou os manifestantes ao chamar-lhes vagabundos e bêbados

Mas, para além disso, Erdogan ateou as reações dos manifestantes ao chamar-lhes de vagabundos e bêbados, ao mesmo tempo que justificou a força dos insurretos através do papel dos serviços secretos estrangeiros, dos media internacionais, dos lóbis financeiros e bolsistas e das nações receosas do crescente poder da Turquia. Em reação, o que parecia ser uma manifestação ambientalista de protesto contra os projetos de reordenamento do parque Gesi transformou-se numa manifestação contra o governo por parte dos setores mais preocupados com o crescendo do poder islâmico na sociedade turca e do protagonismo pessoal do atual primeiro-ministro.

Ambições de Erdogan

Impedido de se recandidatar a mais de três mandatos, Erdogan procura agora prolongar o seu poder através da candidatura à Presidência da República, cujas eleições se realizam no próximo ano. É nesse quadro que estão a ser interpretadas as iniciativas legislativas do Partido da Justiça e Desenvolvimento de reforçar os poderes presidenciais em matérias

como a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições, a promulgação de legislação de iniciativa presidencial e o controlo do exército em situações de emergência. Há cerca de uma década no poder, Erdogan tem procurado libertar o país da tradicional tutela que os militares exerceram desde a fundação da República, em 1923, por Kemal Mustafa Ataturk. Esta política constituiu-se como uma das estratégias fundamentais para pôr cobro ao poder dos militares, considerados um dos principais esteios de secularismo turco. Mas essa política tem sido acompanhada por um conjunto de outras iniciativas de perseguição à liberdade de expressão e imposição de normas islâmicas que estão a mobilizar os setores da sociedade que procuram uma alternativa à ditadura de Ataturk e ao radicalismo religioso.

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atualidade

TENSÃO Construção de barragem gera confronto diplomático

QUANDO O NILO FAZ CHOCAR EGITO E ETIÓPIA

O projeto etíope para o desvio do Nilo Azul vai custar 4,2 mil milhões de dólares

Desde comandos enviados para sabotar a barragem, até voos de caças destinados apenas a assustar os etíopes, passando pela sugestão de apoio armado a grupos rebeldes que combatem o regime de Adis Abeba, ouviu-se de tudo um pouco numa reunião com figuras políticas egípcias convocada pelo Presidente Mohammed Morsi. O problema é que o líder egípcio se esqueceu de avisar que a televisão estatal estava a transmitir em direto a discussão sobre a resposta a dar ao projeto hidroelétrico que a Etiópia vai construir no Nilo Azul, o afluente mais caudaloso do rio Nilo, cujo braço principal, chamado de Nilo Branco antes da junção, nasce no lago Vitória, no Uganda texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto LUSA Justificada como uma ‘gaffe’ que não representa a posição oficial do Egito, o episódio serve, porém, para mostrar a extrema sensibilidade que o mais populoso dos países árabes sente em relação à Barragem do Grande Renascimento da Etiópia, que, quando terminada em 2017, será a maior de África. Apesar de as 14

fronteiras modernas terem colocado o Sudão entre o Egito e a Etiópia, o Nilo acaba por ligar os dois países intimamente pois são as águas que descem dos planaltos etíopes que alimentam no seu troço final o caudal do maior rio do mundo, que desagua no Mediterrâneo. Calcula-se que 90 por cento da água

que entra no Egito, provenha da Etiópia, assim como percentagem semelhante dos sedimentos que servem para fertilizar as margens libertando-as do deserto. Um tratado dos tempos coloniais garante ao Egito e ao Sudão um elevado fluxo de água (55,5 mil milhões de metros cúbicos para os egípcios e 18,5 mil milhões para os sudaneses), valores que poderão estar em causa agora com a barragem etíope. Trata-se de um projeto multimilionário, orçado em 4,2 mil milhões de dólares, e que implica um ligeiro desvio do Nilo Azul, que nasce no Lago Tana. Adis Abeba contesta as objeções do Cairo, recordando que o tratado de 1929 só contempla os interesses egípcios e sudaneses e esquece as outras oito nações da bacia hidrográfica nilótica. Além disso,


Cairo

Ni lo

Arábia saudita

Egito

A diplomacia continua a ser a via preferida por ambos os países para solucionarem o diferendo. E o ministro dos Negócios Estrangeiros egípcio anunciou já uma visita a Adis Abeba. Um bom ponto de partida para as negociações poderá ser a aceitação pelos etíopes de que há que esperar mais uns anos para a albufeira encher, de modo a minimizar o volume de água retida. E como não se trata de uma barragem para irrigação, o seu impacte pode ser limitado para o Egito em termos de caudal. Não ajuda, porém, que ambos os países tenham líderes novos, pois estes têm tendência para exibir pergaminhos nacionalistas. Morsi substituiu Hosni Mubarak, derrubado em 2011 após 30 anos no poder no Cairo, e já disse que o Egito defenderá os seus interesses até ao fim. E a Etiópia, que ainda se sente órfã de Meles Zenawi, falecido no ano passado, também está firme na decisão de avançar. Qualquer cedência pode ser interpretada como um sinal de fraqueza. Bastião islâmico, o Egito assume-se como o grande país árabe, a ponto de no Cairo estar situada a sede da

DOIS GIGANTES AFRICANOS População Área Capital Religião PIB Esperança de vida

Eritreia

Cartum

Lagoa Tan

Sudão Nilo az ul

Addis Abeba

Etiópia Nilo branco

argumenta que a eletricidade que será produzida tornará o país num exportador de energia, permitindo o desenvolvimento do grande país do Corno de África.

o elh erm rV Ma

Lagsoser Na

Uganda

Quénia

Lago Vitória

Liga Árabe. Já a Etiópia, de maioria cristã, orgulha-se de nunca ter sido colonizada, tirandou fuma breve iji ocupação italiana,R e ambiciona ser o farol de África, albergando a sede da União Africana. É mais que milenar a rivalidade entre o país dos faraós e o do Preste João. E se o conflito aberto é evitado, já os golpes diplomáticos não. Por isso o

Rivalidade exibida em ‘Aida’ Estreada em 1871, no Cairo, ‘Aida’ é a mais famosa das óperas de Giuseppe Verdi. Como pano de fundo, a rivalidade velha de milénios entre egípcios e etíopes. E como eixo central da ação a

EGITO 83,9 milhões 1 milhão de km2 Cairo Islão (maioritário) 235 mil milhões de dólares 72 anos (H) e 76 anos (M)

Egito apoiou a secessão da Eritreia em 1993, que deixou a Etiópia sem acesso ao mar, enquanto Adis Abeba tudo faz para ter boas relações com Israel, a ponto de ter autorizado a partida dos seus judeus nos anos 1980. Nesta polémica sobre o Nilo Azul, cujas nascentes o jesuíta português Jerónimo Lobo visitou há quatro séculos, o Egito pensa contar com o velho aliado Sudão, em cuja capital Cartum os dois braços do Nilo se unem. Mas os sudaneses hesitam: a possibilidade de serem abastecidos de eletricidade pela nova barragem é tentadora para um país habituado aos cortes de energia. *jornalista do DN

história impossível de amor entre Aida, princesa etíope feita escrava, e Radamés, general egípcio prometido em casamento à filha do faraó. São célebres as representações da ópera do compositor italiano junto às Pirâmides de Gizé, situadas uns 20 quilómetros a oeste do Cairo.

ETIÓPIA 86,5 milhões 1,1 milhões de km2 Adis Abeba Cristianismo (maioritário) 31 mil milhões de dólares 58 anos (H) e 62 anos (M) Julho 2013

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dossier

PAQUISTテグ Extremismo ofusca liberdade religiosa

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“A CRUZ TORNOU-SE O NOSSO SINAL DE ORGULHO” Correm perigo de vida, são agredidos, ridicularizados e humilhados em público. Sabem que estão em minoria, mas continuam a assumir e a testemunhar a sua fé na Igreja Católica. Num ambiente cada vez mais hostil aos cristãos, ainda há quem se orgulhe em proclamar os ensinamentos de Jesus Cristo no Paquistão texto ZARISH I. NENO / FRANCISCO PEDRO foto LUSA O Paquistão é um Estado islâmico com quase 97 por cento de muçulmanos e apenas três por cento de outras religiões minoritárias. Os cristãos representam 2,2 por cento da população, que ronda os 180 milhões de pessoas. É uma pequena minoria religiosa que, mesmo vivendo na sua pátria, é considerada como de segunda categoria e não pode desfrutar dos seus plenos direitos. É esta a situação dos cristãos no Paquistão que, entre ameaças e medo, continuam a testemunhar a fé. Apesar das intimidações e discriminações, são muitos os exemplos dos que se mantêm fiéis à mensagem cristã. Basta assistir às celebrações dominicais, Julho 2013

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aos encontros de jovens ou às reuniões de famílias e verificar que os testemunhos de coragem e as inúmeras histórias de vida são como vitaminas para o fortalecimento da fé. Veja-se o caso de Amira. A jovem, de 22 anos, era a única rapariga cristã a tirar o curso de enfermagem numa casa de saúde no Paquistão. Partilhava o quarto com outras raparigas muçulmanas. Como católica, guardava a sua Bíblia, que lia todos os dias. Antes de ir para a cama, recitava também o rosário. Fazia tudo em privado, tentando que a sua prática religiosa não perturbasse as outras raparigas. No entanto, estes hábitos não eram aceites pelas colegas. Depois de uma visita a casa, Amira regressou à unidade de saúde com um calendário religioso, que pendurou orgulhosamente por cima da cama. Um dia, ao regressar ao quarto depois da formação, viu todos os seus pertences religiosos espalhados pelo chão. Ficou furiosa.

Mas digeriu a revolta em silêncio, de modo a não criar atrito. A aparente tranquilidade da jovem caiu mal às colegas, que elaboraram um novo plano. Rasgaram algumas páginas do Corão e colocaram-nas ao lado da cama de Amira, de modo a poderem denunciá-la. Chamaram o responsável da casa de saúde, que era muçulmano, e a rapariga foi acusada de blasfémia. Sabendo que este tipo de acusação não carece de investigação, informaram também os líderes muçulmanos locais, conhecidos por “mulanas”, que obrigaram a jovem a abandonar o centro de saúde e proibiram as restantes unidades de a aceitar. Quando a fé coloca em perigo a vida e a carreira de uma pessoa, é necessário repensar se o ser testemunha cristã merece toda esta adversidade. Algumas não aguentam a pressão e abandonam o cristianismo. Amira, porém, não quis desistir. Sabia que Deus tinha

Quando a fé coloca em perigo a vida e a carreira de uma pessoa, é necessário repensar se o ser testemunha cristã merece toda esta adversidade. Algumas não aguentam a pressão e abandonam o cristianismo

Futuro dos jovens passa pelos leigos Os jovens paquistaneses são o garante do futuro da Igreja Católica no país. Torna-se por isso evidente para os responsáveis eclesiásticos que é fundamental ajudá-los a ultrapassar os obstáculos que se opõem ao seu desenvolvimento, como o analfabetismo, o desemprego, a fome ou a toxicodependência.

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Neste sentido, a catequese é apontada como uma prioridade ao nível paroquial e os pastores são desafiados a providenciar “alimento sólido” para a fé, através de uma liturgia bem preparada. Depois da nacionalização das escolas, em 1972, muitas crianças ficaram privadas da catequese e da formação religiosa em ambiente escolar. Muitas famílias vivem em condições de extrema pobreza, estão isoladas em bairros próximos das grandes

planos melhores para ela. Assim, decidiu abandonar o sonho de ser enfermeira e inscreveu-se no Instituto Pastoral, em Multan, para ser professora de religião. Desejava ensinar nas escolas e partilhar a sua fé com os jovens, pois sabia que estes deveriam enfrentar as mesmas dificuldades. Quase a terminar o curso, irá dar catequese nos estabelecimentos escolares e plantar a semente da fé nas novas gerações. Imelda é outro exemplo de resistência cristã. Cresceu numa família católica, muito forte na fé, e aprendeu desde cedo “a ser a luz do mundo e o sal da terra”. Estudou num colégio de religiosas, frequentava regularmente a Igreja, e os pais sempre a incentivaram a participar ativamente nas ações paroquiais. Os problemas surgiram quando saiu da “zona de conforto” e passou a estar exposta diariamente a sucessivos testes de convicção. Sendo a única aluna cristã num colégio estatal, onde frequentava um curso de design de moda, tentava esquivar-se aos ‘interrogatórios’ dos colegas, com receio de cair na armadilha da blasfémia. Todos queriam saber mais sobre o jejum cristão (Quaresma), a crença em três ‘deuses’ (Santíssima Trindade) e o porquê dos padres não se casarem.

cidades industriais ou são forçadas a procurar mais do que um emprego para sobreviver, ficando sem tempo para participar na missa dominical. Daí a Igreja sentir a necessidade de envolver mais leigos no ministério catequético para suprir a falta de educadores da fé e animadores, nas paróquias e nos estabelecimentos escolares.


Os cristãos paquistaneses são cada vez mais perseguidos por manifestarem a sua fé

“A cruz tornou-se o nosso sinal de orgulho, símbolo da força para viver e morrer por Jesus Cristo. Os seguidores de Jesus nesta terra de opressão adoptaram a cruz para simbolizar a única vida que querem viver. Em nome da cruz venceremos as forças das trevas, da opressão, do ódio e do mal. Para nós, a cruz representa a nossa luta quotidiana, a dor da traição, do sofrimento, da aflição e o triunfo da fé para seguir Cristo”

Numa ocasião, ao entrar na sala de aula, verificou que a turma estava ocupada a preparar a “Milaad” (uma celebração islâmica em honra do profeta Maomé). Apesar de saber que Imelda era cristã, a professora disse-lhe que esperava que participasse na comemoração. A rapariga respondeu educadamente que não iria fazer parte da celebração. Foi ameaçada de expulsão, mas nem assim vacilou. Conclusão: depois da cerimónia, a docente recusou-se a deixá-la entrar na sala de aula, o que a obrigou a abandonar o curso. Depois desta experiência, e após ter arranjado emprego noutra área, Julho 2013

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Apesar de perseguidas, as mulheres continuam a testemunhar o cristianismo

também Imelda decidiu entregar-se ao trabalho na catequese, com o objetivo de continuar a fortalecer a sua fé e ajudar outros cristãos a enfrentarem as dificuldades e desafios. “A cruz tornou-se o nosso sinal de orgulho, símbolo da força para viver e morrer por Jesus Cristo. Os seguidores de Jesus nesta terra de opressão adoptaram a cruz para simbolizar a única vida que querem viver. Em nome da cruz venceremos as forças das trevas, da opressão, do ódio e do mal. Para nós, a cruz representa a nossa luta quotidiana, a dor da traição, do sofrimento, da aflição e o triunfo da fé para seguir Cristo”, justifica a jovem. Mais humilhante foi o episódio vivido por uma família de pastores, 20

há menos de um mês, na província de Punjab, por causa de uma banal invasão de terrenos pelos rebanhos. As ovelhas, pertencentes a um pastor católico, entraram nas terras de agricultores muçulmanos, que as retiveram. Quando o proprietário tentou recuperar os animais, foi espancado com violência. Dias depois, segundo relataram à agência Fides os funcionários da organização não governamental (ONG) LEAD, um grupo de muçulmanos invadiu a casa do pastor, agrediu as três mulheres que se encontravam na habitação, obrigou-as a despirem-se e a andarem nuas pelas ruas, enquanto as ridicularizavam. O mesmo tratamento foi dado aos pais do dono das ovelhas. As vítimas ainda

tentaram apresentar queixa-crime contra os agressores, mas foram visitadas por alguns polícias e pelos agricultores muçulmanos, que tentaram demovê-las. A queixa só foi formalizada após a intervenção de um advogado, ligado à ONG, e de um sacerdote. Recorde-se que a província de Punjab tem assistido a alguns dos casos mais radicais de intolerância religiosa. Em janeiro de 2011, o governador local, Salman Taseer, foi assassinado por se opor à lei da blasfémia. Dois meses depois, o ministro paquistanês para as minorias, o católico Shahbaz Bhatti, foi morto a tiro, em Islamabad, depois de várias intervenções públicas a condenar o assassínio de Taseer.


LEI DA BLASFÉMIA ALIMENTA O ÓDIO O Paquistão nasceu como Estado leigo, para que se pudesse viver livremente a fé, e só depois se tornou num Estado islâmico. Embora tivesse sido criado por uma maioria muçulmana, as instituições cristãs sempre tiveram

Os últimos dados estatísticos da Igreja Católica no Paquistão revelaram a existência no país de mais de 500 estabelecimentos escolares católicos, que dão formação a cerca de 150 mil estudantes, cristãos e muçulmanos

São casos como estes, e muitos outros que não chegam a ser notícia, que levam a organização internacional Christian Solidarity Worldwide (CSW) a concluir que o extremismo muçulmano, a intolerância crescente, a anarquia e a impunidade continuam a ensombrar a liberdade religiosa no Paquistão.

permissão para desenvolver o seu trabalho e construir igrejas, escolas, hospitais, lares de idosos e casas de acolhimento para deficientes e órfãos. Os últimos dados estatísticos da Igreja Católica no Paquistão revelaram a existência no país de mais de 500 estabelecimentos escolares católicos, que dão formação a cerca de 150 mil estudantes, cristãos e muçulmanos.

de milhares de “Madrisas” (Seminários Muçulmanos), onde apenas são ensinados o Corão e a Sharia (lei islâmica). E os cristãos passaram a estar sujeitos à lei da blasfémia, cujas penas, em muitos casos, são aplicadas não apenas às pessoas acusadas de desrespeitar o Islão, mas também às suas famílias e às suas regiões. A história do Paquistão está, por isso, cheia de casos de ódio, que visam essencialmente os seguidores de religiões minoritárias, sobretudo os cristãos, hindus e sikhs, como consta no relatório “Educar ou Espalhar o Ódio”, publicado pela Comissão Nacional para a Justiça e a Paz. Esta supremacia islâmica, em certos casos imposta pelo medo, acaba por afetar e influenciar alguns cristãos. O que pode justificar a crescente tendência entre católicos para terem mais de uma mulher, o aumento do número de divórcios e o acréscimo de jovens que se deslocam aos santuários para pedir ajuda e proteção, mesmo a santos muçulmanos.

Na letra da lei, as minorias religiosas têm direito a participar ativamente na política, a usufruir dos seus direitos de cidadania, a viver sem constrangimentos a própria fé e a casar em templos religiosos. Porém, tudo isto lhes é negado cada vez mais, devido à crescente radicalização islâmica do país. A situação agravou-se depois da guerra Afegã, em 1980, com o fortalecimento dos grupos islâmicos. Os fundamentalistas promoveram a construção Julho 2013

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gente nova em missão

VERÃO Vamos aproveitar para trabalhar em projetos missionários

SEMPRE COM JESUS Olá amiguinhos! Chegaram as férias! Terminou a escola e a catequese. É tempo de descanso, mas também de brincar com os amigos e de estar com a família. Alguns vão para lugares mais longínquos do que outros. Com exceção de um: Jesus. Ele está sempre connosco. E nós? Nas férias estamos sempre com Jesus? Tenho (quase) a certeza que alguns ouviram os catequistas a dizer aos mais distraídos: “São férias da catequese, mas não de Jesus” texto CLÁUDIA FEIJÃO ilustrações RICARDO NETO

NO CONTACTO COM A NATUREZA

As férias são tempo de pausa da azáfama do dia a dia. Ficamos mais predispostos a contemplar e desfrutar as maravilhas que Deus criou para nós: o céu azul, o sol brilhante e quente, os campos verdejantes, o mar refrescante, o chilrear dos passarinhos, a lua resplandecente e as estrelas cintilantes. E permite-nos estar com Jesus, ter tempo para Ele, para O escutar e falar-Lhe, e sentir a Sua presença. Há sempre tempo para o nosso melhor amigo. Encontramo-Lo na oração diária, na Eucaristia e também nos outros que se cruzam connosco. Por isso, podemos divertir-nos, passear, conhecer novos lugares e pessoas, mas sempre com Jesus.

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ALGUMAS PROPOSTAS PARA AS FÉRIAS Para além das atividades lúdicas, proponho-vos que durante o período de férias: – reservem algum tempo para, em silêncio, escutar, rezar e sentir a presença de Jesus; – participem na festa do Senhor que é a Eucaristia; – visitem um familiar ou amigo que precise de ajuda ou de companhia. As férias serão mais proveitosas e ricas em experiências que poderás partilhar com os amigos quando regressares aos encontros de catequese.

TORNAR OS OUTROS FELIZES

Há também quem faça férias para Jesus. Os que dedicam o seu tempo de férias a trabalhar em prol dos outros em projetos missionários, quer seja fora ou no nosso país. Que alegria é darmos um pouco do nosso tempo aos outros e fazê-los também felizes! No entanto, ainda há pessoas que fazem férias sem Jesus. Esquecem-se dele, não valorizam a beleza que é a criação do Senhor, não se importam com os outros, e só estão preocupadas em decidir se a ida é à praia ou ao campo, se vão de manhã ou de tarde, se depois do jantar veem televisão, brincam ou passeiam, e se vão com a família ou com os amigos. As férias que deveriam ser uma pausa tranquila, de paz e de amor, transformam-se muitas vezes num período de maior desgaste e confusão. E onde está Jesus? Mesmo no meio de tanta agitação, Jesus está sempre presente.

Compromisso em tempo de férias

Mesmo que os meus dias sejam preenchidos com diversas atividades, tenho sempre tempo para Jesus.

Paciente, aguarda o momento em que também o incluam nos planos diários; mais não seja, lhe dirijam uma palavrinha. Impõe-se então perguntar: que tipo de férias fazes tu? Férias com ou sem Jesus?

Momento de oração Obrigado Senhor pela Tua presença constante e por poder desfrutar das maravilhas que Tu criaste. Que eu saiba transformar este período de descanso em tempo de partilha, alegria, felicidade e comunhão com os irmãos que se cruzam diariamente no meu caminho. Pai-Nosso, Ave-Maria, Glória …

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tempo jovem

IMPROVISAR FAZ BEM Há pouco tempo, numa sessão de formação permanente, ouvi dizer que hoje, mais do que nunca, o mundo e a sociedade em que vivemos estão a precisar de criativos, homens e mulheres capazes de sair da sua “zona de conforto” ou de “desconforto” para transformar a realidade em que vivem, seja em benefício de si próprios como também da realidade que os circunda texto LUÍS MAURÍCIO foto LUSA

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A velocidade, quase forçada, deste mundo em que nos toca viver, tem deixado muita gente com pouco tempo para avaliar o sentido do próprio andar, medir a intensidade das próprias motivações e redefinir os meios e estratégias para recomeçar, se for preciso. Transformar a realidade não está nada fácil; por isso, muitas vezes optamos por resolver os problemas do dia a dia e mais nada. Não há tempo para sonhar. Esta atitude fez-me constatar que o comportamento mais comum de um bom número de pessoas é andar pelas ruas, fingindo que vivem e compreendem tudo, só pelo simples facto de terem nos seus bolsos as clássicas e velhas “receitas” de hábitos e costumes, herdadas daquelas pessoas que, num dia glorioso nas suas vidas, não tiveram medo de romper

canais por onde devem passar esses valores, que devem ser compreendidos e assimilados pelo mundo complexo em que vivemos. Nesta matéria tenho visto algumas tentativas de transmitir valores com canais modernos, mas com muito pouco sucesso. Usando como uma lente a imagem bonita do Evangelho de “pôr vinho novo em odres novos”, descobri que na arte da mudança, são muitas as vezes que confundimos os focos de ação e de interesse. Facilmente compramos, adquirimos e criamos “odres novos”, mas o vinho que metemos dentro continua a ser produzido com a velha receita de hábitos e costumes regulamentados pelos paradigmas que ditam os modos de ser e estar no mundo, mas um mundo que já foi, e que hoje conhecemos como história. Em outras palavras, posso

Criar um mundo novo significa improvisar, arriscar, tentar, caminhar pelo desconhecido e recomeçar todas as vezes que for necessário. Criar um mundo novo significa aprender com o erro, integrar e não combater, acreditar sem desesperar, deixar de lado a urgência do resolver para ceder o passo à proeza do TRANSFORMAR

os moldes e as formas prefeitas, para se lançarem na aventura de escrever algo de novo para um mundo novo.

estar vestido com a roupa da última moda, mas isso não muda a minha maneira antiga, e talvez fechada, de ler o presente.

Uma atitude inteligente da nossa parte deveria ser o facto de compreender que essas “receitas” já não respondem às exigências e desafios dos tempos de hoje pelo simples facto que o mundo está a mudar constantemente e perante os nossos olhos. Atenção! Não confundir receitas com valores. Há valores universais que atravessaram a franja da história sem perder a força e o dinamismo. O dilema de hoje é recriar os

Não somos instrumentos musicais

Confesso-vos que nunca pensei e rezei tanto na minha vida como nestes últimos tempos. Manter-se equilibrado neste planeta acelerado e cheio de mudanças, sem se despistar, não é tarefa fácil para quem quer viver os sonhos sem perder o chão, com os pés sobre a terra. Curiosamente, numa conversa com o Jaime, homem que eu acho de grande visão e

convicções profundas, falou de um estilo de música que eu nunca tinha ouvido falar: o Jam Session. O curioso desta variante musical, parecida com o Jazz, é o facto de se tocar sem saber o que vem à frente, ou seja de improviso. Nos clubes de jazz é comum que, após o número principal, os músicos presentes sejam convidados para subir ao palco e tocar juntos com a banda sem nenhum ensaio prévio. Este conceito musical vem romper todo o paradigma da orquestra tradicional que, como todos sabemos, só funciona através de pautas bem organizadas e sincronizadas que fazem com que todos os instrumentos, depois de muitos ensaios, produzam uma música harmoniosa e bela. Eis uma boa pista para sermos criativos de um mundo novo. Deixar de lado a ideia fixa que, sem pautas direitinhas e perfeitas, a vida é um caos onde se torna impossível criar música harmoniosa. Não somos instrumentos musicais feitos de metal, plástico ou madeira, quase perfeitos. Somos de carne e espírito, portanto somos imperfeitos, mas aperfeiçoáveis. Isto quer dizer que a vida e o viver não têm ensaios prévios. Criar um mundo novo significa improvisar, arriscar, tentar, caminhar pelo desconhecido e recomeçar todas as vezes que for necessário. Criar um mundo novo significa aprender com o erro, integrar e não combater, acreditar sem desesperar, deixar de lado a urgência do resolver para ceder o passo à proeza do transformar.

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sementes do reino

QUAL A MELHOR PARTE? Jesus continua a sua caminhada rumo a Jerusalém. É esse o seu destino. Desta vez, porém, o Evangelho propõe uma pausa na casa de Marta e Maria, provavelmente em Betânia. Jesus é acolhido por estas duas irmãs, que mostram duas atitudes diferentes de acolhimento. Qual delas está correta? texto PATRICK SILVA foto ANA PAULA

Leio a Palavra

Lc 10,38-42 O evangelista Lucas descreve a atitude de Marta e de Maria ao acolherem Jesus: uma fica com Ele para o escutar, a outra prepara algo para Lhe oferecer. São atitudes normais e habituais na casa de todos nós. Segue-se algo de estranho: o lamento de Marta que, presa pelo serviço da casa, acha que Maria é preguiçosa e não a ajuda em nada, isto é, que Maria está a

ter uma atitude inútil. Perante tal lamento Jesus é obrigado a intervir. “Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada.”

Saboreio a Palavra

Antes de mais, sou convidado a entrar também eu na casa de Marta e Maria, para observar estas duas diferentes atitudes, ambas

necessárias e importantes: com qual delas me pareço mais?

Rezo a Palavra

Fique uns momentos em silêncio, como quem quer escutar a voz; não se preocupe com as palavras, deixe que o silêncio “fale”.

Vivo a Palavra

Hoje vigora o lema “tempo é dinheiro”: levantar-se, correr, trabalhar, correr, dormir pouco, repetir vezes sem conta. É assim que muitos transcorrem a sua vida, dando apenas tempo e espaço para as coisas, esquecendo as pessoas que vivem com eles. O Evangelho convida, antes de mais, a “notar” a pessoa que está ao nosso lado. Vivemos cada vez mais num mundo de indiferentes, onde ninguém conversa com ninguém. Depois convida a escutar a voz de Deus, ou seja, a dedicar tempo à oração. A oração é este diálogo entre duas pessoas que partilham a vida e requer escuta atenta. Este texto era dirigido inicialmente à comunidade cristã do primeiro século, que andava muito atarefada, cheia de muitas coisas. O evangelista, porém, recorda que existe algo de fundamental: saber escutar Jesus. Sem esta atitude, tudo não passará de ativismo, que acabará por cansar. A palavra é a inspiração para a ação. São duas atitudes necessárias e fundamentais na vida cristã. Quanto tempo tem dedicado à sua oração? Os muitos serviços de Marta devem ser realizados a partir deste único serviço verdadeiramente necessário que é a atenção amorosa às pessoas. Esta é a melhor parte que Maria escolheu e que não lhe será tirada.

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intenção missionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃO 07 14º Domingo Comum

Is 66, 10-14; Gal 6, 14-18; Lc 10, 1-12.17-20 ENVIOU-OS DOIS A DOIS Deus chama para enviar. Primeiro há que frequentar o Mestre, entrar na sua escola, aprender o abc da sua doutrina e depois dispor-nos a partir. Sem bolsa nem sandálias ou outras seguranças humanas. A cruz, que é o salário evangélico, será garantia de eficácia redentora. Envia-me, Senhor, para que Te anuncie aos outros na alegria de ver que o meu nome está escrito no livro luminoso do Céu.

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15º Domingo Comum Dt 30, 10-14; Col 1, 15-20; Lc 10, 25-37 VAI E FAZ O MESMO O teu próximo é todo aquele que se aproxima de ti e aquele de quem tu te aproximas. Aquele que precisa da tua ajuda, da tua amizade, estímulo e conforto. “Vai e faz o mesmo”, diz-nos Jesus. Não podemos desviar-nos dos problemas e não responder às urgências de cada momento. Deus chama-nos a ser os samaritanos de hoje com os olhos postos em todos os que jazem à beira da estrada. Que eu veja, Senhor, o teu rosto em quem pede os meus braços e o meu coração.

21 16º Domingo Comum

Gen 18, 1-10; Col 1, 24-28; Lc 10, 38-42 ACOLHERAM-NO NA SUA CASA Marta e Maria acolheram Jesus na sua casa. Cada uma a seu modo. Duas formas de amar, dois estilos de viver a mesma palavra de Deus. Saboreá-la e louvar o Senhor pela sua presença ou servir, nas tarefas de cada dia. As duas coisas completam-se. “Da minha oração

JULHO tenho que sair Marta; para a minha ação tenho de levar Maria”. Dá-me, Senhor, um coração contemplativo e um espírito ativo em conformidade com a Tua palavra.

28 17º Domingo Comum

Gen 18, 20-32; Col 2, 12-14; Lc 11, 1-13 BATEI E ABRIR-SE-VOS-Á Quando rezardes, dizei: “Pai”. Não há oração mais profunda e eficaz do que essa comunicação amorosa e filial com Deus. É diálogo e presença que comprometem toda a nossa vida. Se no Espírito Santo rezo por Cristo, com Cristo e em Cristo, essa oração há de certamente entrar no coração do Pai e há de necessariamente ser escutada, porque já não sou eu que rezo, é Cristo que reza em mim. Que eu saiba, Senhor, saborear a tua presença num encontro fiel e diário contigo, que invoque sobre o mundo a tua bênção de paz. DV

Para que em todo o Continente asiático se abram as portas aos mensageiros do Evangelho

Ainda há portas fechadas

“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”, disse Jesus. A toda criatura. É um direito de todos os povos poder receber o Evangelho de Cristo. Na Ásia, onde os católicos não chegam a quatro por cento, e em particular na China, onde há apenas um e meio por cento, há ainda muitas portas fechadas à divulgação do Evangelho. É nesse enorme Continente que predominam as grandes religiões do hinduismo, do budismo e do xintoismo. Em alguns países asiáticos, há aspetos muito positivos: o aumento das vocações sacerdotais e da vida consagrada, o crescimento do espírito missionário, a evangelização em sintonia com a promoção humana, no meio dos mais pobres e marginalizados. São sinais de dinamismo eclesial. Não faltam, porém, desafios: o diálogo com as grandes religiões asiáticas, por vezes perturbado por grupos fundamentalistas; o efetivo respeito pela liberdade religiosa, não suficientemente aplicado em vastas regiões; e a difusão do espírito secularizado e consumista. É pois urgente que a Igreja possa enviar os seus missionários que aí anunciem livremente a Palavra do Evangelho. DV

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o que se escreve ABBÉ PIERRE

A fé vive de afeto

“A fé é afeto – a afeição de Deus por nós, afetuosamente reconhecida e correspondida, por ser digna de confiança. Em Jesus de Nazaré e no seu Espírito reconhecemos que Deus é dom de si para a vida do outro (também de cada um de nós)”. Com esta linha se “cosem” os belíssimos textos que o teólogo José Frazão Correia teceu. São textos que vale a pena ler porque, como diz Tolentino Mendonça, “José Frazão pertence a uma geração apostada em que a teologia se pense e expresse em português. Saudemos com entusiasmo o arranque dessa estação”. Autor: José Frazão Correia 126 páginas | preço: 9,90€ Edições Paulinas

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Queria ser marinheiro, missionário ou vagabundo

Místico e homem de ação, Abbé Pierre, fundador das primeiras comunidades de Emaús, continua a ser uma figura de referência e uma das personalidades mais populares do nosso tempo. Este livro – “Diário íntimo inédito” – segue o percurso fascinante de um crente que colocou a sua vida ao serviço dos outros. São suas palavras: “O século XXI ou será fraterno ou fracassará. Cabe a cada um de nós, seja qual for a fé ou o pensamento que o anima, fazer com que essa certeza se torne realidade”. É um testemunho inesquecível. Autor: Denis Lefèvre (org.) 248 páginas | preço: 14,90€ Edições Paulinas

O AMIGO QUE PROCURAS

“Procura-me, sou teu amigo… o amigo que não te falha, que não te atraiçoa”. É um livro infantil, escrito com propriedade e simplicidade, e corroborado com algumas gravuras. Apresenta uma narrativa da vida de Jesus na primeira pessoa, a fim de levar o leitor a encontrar nele um grande amigo, ou seja, o amigo que toda a criança procura. Autor: Maria Stella Salvador 40 páginas | preço: 6,90€ Paulus Editora

UM TESOURO ESCONDIDO

“O Reino do Céu é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem encontra. Volta a escondê-lo e, cheio de alegria, vai, vende tudo o que possui e compra o campo”. Encontrar não é possuir. “Quantas vezes a vida espiritual não é precisamente isso: a busca longa, demorada, paciente e comprometida daquilo ou Daquele que já encontrámos”, lembra-nos o autor deste belíssimo livro que já vai na sexta edição. Somos todos buscadores de Deus. Este livro ajuda a procurá-Lo continuamente. Autor: José Tolentino Mendonça 134 páginas | preço: 8,00€ Edições Paulinas

UMA TEOLOGIA PARA A VIDA Fiel ao Céu e à Terra

Bruno Forte é chamado «o mais famoso teólogo italiano». Numa entrevista com o escritor Marco Roncalli, este grande teólogo e arcebispo põe em relação fé e história, teologia e filosofia, reflexão e ação pastoral, religião e estética, educação e vida quotidiana. São temas que fazem parte da vida de crentes e não crentes. O livro apresenta a busca de Deus no nosso tempo, que é de crise, mas também de grande procura de valores. Autor: Bruno Forte 248 páginas | preço: 15,40€ Paulus Editora


o que se diz PAPA FRANCISCO Conversas com Jorge Bergoglio

O mundo inteiro está hoje voltado para Roma, à procura de conhecer melhor a figura do Papa Francisco. É por isso justificada a pergunta: “Mas quem é este homem vindo do ‘fim do mundo?’” Este livro que o apresenta é um documento único. Não é uma simples biografia, é um testemunho direto, narrado na primeira pessoa, no qual o novo Papa se dá a conhecer a dois jornalistas de exceção. As suas respostas são simples, diretas e lúcidas. Vale a pena ler este documento, já considerado “o livro do ano”, Autores: Francesca Ambrogetti e Sergio Rubin 212 páginas | preço: 14,00€ Edições Paulinas

Virtudes da crise “A história confirma que das crises emergem as virtudes, as ideias e os

grandes propósitos que originam novos projetos de desenvolvimento. Na crise, nascem as grandes estratégias. Quem supera a crise supera-se a si mesmo e quem atribui à crise os seus fracassos inibe o seu próprio talento e dá mais crédito aos problemas do que às soluções”. Rui Osório | Mensageiro de Santo António | junho 2013

Faltam jovens “Em muitas das nossas comunidades faltam jovens. Se hoje falta

juventude, amanhã faltarão adultos. Os jovens mudaram-se para outro lugar! O problema é que a Igreja não sabe bem como ir até onde eles estão! Alguns dizem que a juventude tem o seu espaço, mas não mostram onde. Em geral, sacerdotes e líderes das comunidades têm muita dificuldade para lidar e dialogar com esta faixa etária”. Ronaldo Lobo | Missões | junho 2013

Ser profetas hoje “Não podemos ser profetas, se não confrontarmos o nosso quotidiano

com o Evangelho. Só a comunhão com o Pai, em Jesus Cristo e na graça do Espírito Santo, nos pode impulsionar a difundir a fé que professamos. A fé vive-se no Amor, que se deve traduzir mais em obras do que em palavras, a exemplo das primeiras comunidades cristãs”. Carlos Magalhães de Carvalho | Presente | 13 de junho 2013

Líderes precisam-se “No fundo, cada um de nós, com os dons que Deus nos concedeu (ou

duvidamos disto? Se sim, algo está errado, em nós), tem a gravíssima obrigação de ser líder: líder na família, como pai, mãe, filho, contribuinte para o bem estar do lar; líder no emprego, convencendo, com o seu profissionalismo e boa disposição, os colegas; líder nos locais de lazer, seduzindo os outros pela alegria que expressa; líder na vida real, porque exemplo contagiante de esperança e verdade para os que o rodeiam”. Jorge Cotovio | Correio de Coimbra | 13 de junho 2013

O fascínio do Papa “Este fascínio que exerce o Papa Francisco, em todos, mostra-nos que a sociedade de hoje, por muito secularizada que esteja, não deixa de ser sensível à «boa nova» do Evangelho, quando esta é apresentada com alegria e beleza, com convicção e autenticidade. Afinal, ela responde às mais profundas inquietações de qualquer pessoa humana”. Pedro Vaz Patto | Cidade Nova | maio 2013

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gestos de partilha COSTA DO MARFIM Catequese da paróquia de São Marcos – 273,15€; Anónimo – 1.200,00€; Fernanda Castanheira – 20,00€; Lourdes Dias – 53,00€; Ercília Bastos – 20,00€; Madalena Pereira – 10,00€; Fátima Matias – 10,00€; António Maranha – 5,00€; Rosa Wastson – 5,00€; Anónimo (Fiães) – 100,00€; Cândida Barros – 130,00€; M. José Bandeira – 50,00€; AMC (Núcleo do Algarve) Anónimos – 165,00€; Anónimo (Lisboa) – 125,00€; Padre Joaquim Ferreira – 100,00€; Familiares da Lígia Cipriano (leiga) – 50,00€; Anónimo – 5,00€; Adelaide Domingues – 10,00€; Anónimo – 5,00€; Anónimo – 5,00€; Grupo de Figueiró – 11,00€; Maria Santo – 30,00€. Total geral = 5.995,15€. BOLSA DE ESTUDO José Fonseca – 250,00€. OUTROS PROJETOS Maloca para todos Beatriz Valério – 10,00€. Ofertas várias Peregrinação da 3ª Idade da paróquia de Fiães – 200,00€; Grupo de Ferreira do Zêzere – 20,00€; Anónimo – 50,00€; Céu Nunes – 36,00€; Ana Silva – 36,00€; Conceição Barbosa – 26,00€; Ângela Sousa – 33,00€; Isabel Santos – 43,00€; Estrela Amaro – 38,00€; Natália Carvalho – 32,00€; Manuel Soares – 33,00€; Antónia Borges – 33,00€; Isaura Portugal – 61,00€; Manuela Reis – 25,00€; Manuel Santos – 250,00€; Joaquim Resende – 43,00€; José Coelho – 26,00€; Celina Nascimento – 55,00€; Hernâni Martins – 393,00€; Maria Gameiro – 30,00€; José Rodrigues – 26,00€; Amélia Gomes – 49,00€; Ester Costa – 73,00€

Contactos Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05 IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | fatima@consolata.pt Rua D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 ÁGUAS SANTAS MAIA | Telefone 229 732 047 | aguasantas@consolata.pt Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | lisboa@consolata.pt Quinta do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | cacem@consolata.pt Rua da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRAGA | Telefone 253 691 307 | braga@consolata.pt Rua Padre João Antunes de Carvalho, 1 | 3090-431 ALQUEIDÃO | Telefone 233 942 210 alqueidao@consolata.pt Rua Estrada do Zambujal, 66 - 3º D | Bairro Zambujal | 2610-192 AMADORA | Telefone 214 710 029 | zambujal@consolata.pt Alameda São Marcos, 19 – 7º A e B |2735-010 AGUALVA-CACÉM |Telefone 214 265 414 |saomarcos@consolata.pt 30


vida com vida

“O LEÃO DE JUDÁ” Domingos Artero nasceu em 1903 perto de Turim, Itália. Aos três anos adoeceu gravemente. A mãe foi ao Santuário da Consolata, chorou todas as lágrimas que tinha e prometeu à Virgem que, se lhe curasse o filhito, o entregava a Deus para sacerdote, se tal Deus quisesse. A Virgem “disse-lhe” que não se ralasse, que o menino estava bem. Quando ela chegou a casa, disse-lhe o garotito a sorrir, e limpinho de toda a doença: “Mamã, tenho fome” texto AVENTINO OLIVEIRA ilustração H. MOURATO Aos 18 anos, Domingos era um rapagão a sonhar com grandes feitos. Conheceu os Missionários da Consolata e a fantasia triplicou ao pensar nas imensas façanhas que ia urdir nas missões. Aceite no Instituto pelo fundador, o beato Allamano, e ordenado sacerdote no dia 28 de janeiro de 1928, foi enviado para África. Forte e bem parecido, olhos de aço brilhante com chispas de esmeralda, era de porte imponente. No Instituto todos o conheciam por “o Leão de Judá”. Chegado às missões do Quénia, foi mandado para a nossa granja de café de Fort Ternan, plantação que ajudava a financiar as despesas das missões. A todos tratava como filhos espirituais. Foi chamado para a Itália pelos superiores em plena Segunda Guerra Mundial. No dia 8 de dezembro de 1942, foi a nossa Casa Mãe, em Turim, bombardeada: o padre Artero ficou suspenso por um pé no alto da escadaria, no terceiro andar. Tanto gritou que foi ouvido e salvo. Nomeado capelão militar, passava noites e dias a atravessar os Alpes

para levar para a Suíça soldados ameaçados de morte. Conheci-o nos Estados Unidos nos anos 1953-59. De terço na mão, que pendurava ao pescoço de noite, corria o país inteiro a pregar sobre as missões e a enviar-lhes ajuda material, medicamentos e roupas. Quando voltava à nossa casa, trazia sacos de ervas que cozinhava para delas tirar medicamentos naturais que bebia com uma fé e sofreguidão admiráveis. Em 1959, voltava para o Quénia. A genica do “Leão” ia amansando. No dia dois de outubro

de 1979, dia dos Santos Anjos, lá se foi contemplar a sua querida Consolata no Céu. Dizia-me uma vez um prior duma grande paróquia onde o padre Artero pregava às vezes: “Olhe, às histórias que ele contava dávamos assim um descontozito. Mas coração mais amante das missões que o dele, isso nunca nós vimos”.

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outros saberes

ANTES LOUVAR QUE CENSURAR texto NORBERTO LOURO foto ANA PAULA

Os tempos e as circunstâncias que estamos a viver levantam uma tal enxurrada de críticas contrastantes, contraditórias e inverosímeis que se torna quase humanamente impossível descortinar e aproveitar indícios úteis de verdade na maior parte delas. Será porque, como dizia Castiglione Baltazar, “somos por inclinação natural mais lestos a censurar (presumíveis erros) do que a louvar as coisas bem feitas”. Mas atenção! Há ditados, provérbios, aforismos, frases sapienciais que nos convidam a estar atentos ao que se diz e a pôr mão na consciência antes de criticar, julgar e condenar. Eis alguns exemplos: “A coisa mais difícil é conhecer-nos a nós mesmos; a coisa mais fácil é falar mal dos demais” (Epiteto). Dedicar tempo a conhecer-se e a reconhecer os seus erros é essencial e, como diz um provérbio inglês, até se vê na composição que tomam os dedos da mão do acusador de alguém: “Quando apontares alguém a dedo, repara bem e lembra-te de que os outros três ficam a apontar para ti”. Ora, experimente a apontar com o dedo indicador em riste! Porque é que parece abundarem mais os criticões e resmungões do que os sensatos e moderados? É que: “A natureza (ou quem por ela) concedeu aos grandes homens a faculdade de fazer e aos outros a de julgar”. Seja grande, pois “os espíritos medíocres condenam geralmente o que não está ao seu alcance” (François de la Rochefoucauld).

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notas missionárias

CURAR FERIDAS DA HUMANIDADE Um dia, alguém perguntou ao rabi que vivia junto da sinagoga: aonde podemos encontrar o Messias? Ele respondeu: às portas da cidade, com os leprosos. Retorquiram-lhe: E o que é que ele está lá a fazer? Respondeu: Está a envolvê-los com ligaduras

dignidade e restaurá-la aos olhos do mundo, já que aos olhos de Deus ela nunca desapareceu. Aproximar-se do outro enquanto tal e ajudá-lo a descobrir o amor de Deus é uma grande missão que exige uma fé sólida, mas também muita paciência, tolerância e sobretudo uma consciência de que, no que respeita à nossa salvação,

estamos todos no mesmo barco. O ditado popular diz que “entre mortos e feridos alguém há de escapar”; o missionário diz que, apesar de feridos, todos temos de ir até ao céu, não pelos nossos méritos, mas pela graça de Deus que, como sabemos, é infinita.

texto CARLOS DOMINGOS ilustração HUGO LAMI De facto, esta ideia que o Messias se aproxima da humanidade e das suas misérias era uma crença enraizada nalguns sectores do Judaísmo. A seu tempo, os missionários fizeram-se porta-voz deste ideal eminentemente ‘cristão’ de envolver os feridos e necessitados com ‘ligaduras’. Mas não foram somente os males físicos, foram também outras doenças igualmente incuráveis e contagiosas: a doença do tribalismo, de alguns costumes bárbaros, da rigidez quanto ao próximo, entre outras. Também aí o missionário faz de ponte entre vários beligerantes, cura as feridas da discórdia, caustica o cancro do tribalismo e das lutas fratricidas. No fim de contas é imitar o próprio Cristo, que veio até nós para nos restabelecer na nossa humanidade decaída e nos tornar sãos de corpo e alma. É aí, aonde menos se espera, que a graça de Deus vem ao encontro da pessoa, de toda a pessoa e da pessoa toda. Conscientes de que para tocar o espírito é preciso cuidar do corpo, não pouparam esforços para reconhecer em cada um a sua Julho 2013

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fátima informa

FÉRIAS EM VOLUNTARIADO Para muitos, o verão é tempo de férias. Para alguns, é uma oportunidade de conhecer e ajudar outras pessoas, em atividades de voluntariado texto LUCÍLIA OLIVEIRA foto E. ASSUNÇÃO Quem já participou, como voluntário, em alguma edição das férias para pais com filhos deficientes, uma iniciativa promovida pelo Santuário de Fátima através do Movimento da Mensagem de Fátima, que decorre em agosto, no Centro de Espiritualidade Francisco e Jacinta Marto, dos Silenciosos Operários da Cruz, manifesta sempre entusiasmo e vontade em voltar. Mas há outras instituições em Fátima onde se pode fazer voluntariado em tempo de férias. Um deles é o Centro João Paulo II, ligado à União das Misericórdias Portuguesas e que trabalha com deficientes profundos. O Santuário de Fátima também recebe habitualmente voluntários para o Serviço de Acolhimento e Informações.

Liturgia e vida cristã

“A Liturgia: cume e fonte da vida cristã” é o tema do 39º Encontro Nacional de Pastoral Litúrgica que decorre de 22 a 26 de julho, em Fátima. Os trabalhos decorrem no Centro Pastoral Paulo VI, na basílica da Santíssima Trindade e na Capelinha das Aparições.

Dia dos avós

Na memória litúrgica de São Joaquim e Santa Ana, pais da Virgem Santa Maria, “dia dos avós”, o Santuário de Fátima promove atividades específicas, no dia 26 de julho. Pelas 11h00, será celebrada a Eucaristia, com consagração dos 34

O Centro Social da Divina Providência – Casa Bom Samaritano, o Centro de Reabilitação e Integração de Fátima e as Concepcionistas ao Serviço dos Pobres são outras das instituições que aceitam pessoas disponíveis para apoiar quem precisa, através de atividades de voluntariado. avós a Nossa Senhora, na basílica da Santíssima Trindade. Às 14h00 tem início uma hora de reparação ao Imaculado Coração de Maria, na Capelinha e, uma hora depois, há um encontro com os avós.

Fátima nas JMJ

A história e a mensagem de Fátima estarão em destaque na Jornada Mundial da Juventude, que decorre de 23 a 28 de julho, no Rio de Janeiro, no Brasil. O reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, estará presente nesta grande festa da juventude, a pedido do arcebispo do Rio de Janeiro, Orani João Tempesta.

Os interessados em fazer umas férias dando um outro sentido à sua vida e ao tempo de lazer devem contactar diretamente as instituições.

Julho em agenda 6 Conversas Contemporâneas da Consolata 6 Encontro da Associação Portuguesa de Famílias Anónimas 6/7 Peregrinação da Família Espiritana 27 Peregrinação da Família Comboniana



A MESSE

Há na praça maior uma multidão de homens à escuta: que eu saiba e anuncie, Senhor, a Tua palavra. Há um campo por lavrar e uma vinha a pedir cuidados: que eu aceite partir sem debater salários nem horas; nem discutir demoras dos outros operários. E pois me chamaste para que Te diga e espalhe a semente que quer ser espiga, dá-me, Senhor, a impertinência madrugadora que não espera a noite nem a aurora. João Aguiar Campos Intervalos


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