Reinserção

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Ano LXVI | Mensal | Fevereiro 2020 Assinatura Anual | Nacional 7,00€ | Estrangeiro 9,50€

REINSERÇÃO

PARÓQUIAS CHAMADAS A COOPERAR NA REABILITAÇÃO DE EX RECLUSOS DESTAQUE

2019 considerado um ano de manifestações Crise económica mudou natureza dos protestos sociais

MISSÃO HOJE

Coleção de presépios mostra união entre povos Exposição em Fátima reúne exemplares de várias partes do mundo

DOSSIER

Jogos de poder alimentam guerra civil na Líbia População diz viver pior do que no tempo do ditador Muammar Kadhafi


2020 PROJETO ANUAL DOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA EM PORTUGAL

NÓS SOMOS AMAZÓNIA Vamos ajudar os Macuxi a cuidar da sua terra

CAMPANHA “NÓS SOMOS AMAZÓNIA” RUA Francisco Marto, 52 | 2495-448 FÁTIMA IBAN: PT50-0033-0000-45519115214-05


SUMÁRIO

Nº 02 Ano LXVI Fevereiro I 2020 Tel. 249 539 430 / 249 539 460 Fax 249 539 429 redacao@fatimamissionaria.pt assinaturas@fatimamissionaria.pt www.fatimamissionaria.pt

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965 Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da Consolata Rua Francisco Marto, 52 Apartado 5 2496-908 FÁTIMA Contribuinte Nº 500 985 235 Superior Provincial Eugénio Butti Redação Rua Francisco Marto, 52 2496-908 Fátima Impressão Gráfica Almondina, Zona Industrial – Torres Novas Depósito Legal N.º 244/82 Tiragem 20.400 exemplares Diretor Albino Brás Diretor Executivo Francisco Pedro Redação Albino Brás, Francisco Pedro, Juliana Batista Colaboração Aventino Oliveira, Carlos Camponez, Cláudia Feijão, Darci Vilarinho, Elísio Assunção, Gonçalo Cardoso, Leonídio P. Ferreira, Luís Tomás, Osório Afonso, Simão Pedro, Teresa Carvalho, Tobias Oliveira (Roma) Fotografia Arquivo, Lusa, Elísio Assunção Capa Gary Liu Contracapa DR Ilustração David Oliveira Design BAR Administração Cristina Henriques Assinatura Anual Nacional 7,00€ Estrangeiro 9,50€; Apoio à revista 10,00€ Benemérito 25,00€; Avulso 0,90€ Pagamento da Assinatura multibanco (ver dados na folha de endereço), transferência bancária nacional (Millenniumbcp) transferência bancária IBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05 BIC/SWIFT BCOMPTPL cheque ou vale postal (inclui o IVA à taxa legal)

ESTATUTO EDITORIAL http://www.fatimamissionaria.pt/quem.php

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“ LÍBIA ENTRE GUERRA CIVIL E JOGOS DAS POTÊNCIAS “ 04 | EDITORIAL Uma justiça que restaura

11 | ARTE COM HISTÓRIA Máscara de feiticeiro

05 | PONTO DE VISTA Porque é importante o voluntariado em oncologia?

12 | A MISSÃO HOJE Coleção de presépios é convite à unidade entre povos

06 | HORIZONTES Faremos diferença, sim!

13 | FÁTIMA INFORMA Crianças depositam flores no túmulo de santa Jacinta

07 | DESTAQUE 2019: um ano de manifestações 08 | MUNDO MISSIONÁRIO

. Camarões Alerta contra o perigo do tribalismo

. Níger Ameaças e mortes na zona de Bomoanga

. Argentina Apagar a fome

de milhões antes de pagar a dívida externa

. Tailândia Casa dos Anjos para

famílias com filhos inválidos

10 | A MISSÃO HOJE Um exemplo no acolhimento de refugiados

TAREFAS PARA HOJE: ATUALIZAR A ASSINATURA DA FÁTIMA MISSIONÁRIA

14 | ATUALIDADE Paróquias podem fazer mais para reabilitar jovens ex-reclusos 22 | MÃOS À OBRA Aproveitar os espaços livres nas igrejas para ensinar adultos e jovens analfabetos 23 | OBJETIVA 24 | GENTE NOVA EM MISSÃO Guias para a felicidade 26 | TEMPO JOVEM Peregrinação é comunhão 28 | SEMENTES DO REINO “Luz para se revelar às nações” 30 | LEITORES ATENTOS 31 | GESTOS DE PARTILHA 32 | VIDA COM VIDA Espiga doirada 33 | O QUE SE ESCREVE 34 | MEGAFONE

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editorial

uma JUSTIÇA que restaurA Apesar de Portugal ser o terceiro país mais pacífico do mundo, existe a perceção de que a violência tem aumentado: a violência doméstica, em ambiente escolar, rixas, assaltos violentos, homicídios... A sociedade tem reagido com alguma indignação, afastando a ideia de uma banalização da violência, como já ocorre noutras geografias. Mas as respostas que se dão aos vários tipos de violência nem sempre são as mais adequadas. Por regra, o Estado ainda se centra na justiça punitiva, do castigo. A um mal responde-se com outro mal. E está provado que não resulta. Uma pena é também ela uma forma de violência. Países há que têm encontrado na prática da chamada justiça restaurativa (JR) impactos sociais muito positivos. Áustria, Holanda, Bélgica, Finlândia, Alemanha, são a prova disso. Em Portugal tem havido algumas tentativas de introduzir a JR no sistema. Esse é mesmo um dos temas que se trabalha nos cursos das Escolas de Perdão e Reconciliação (ESPERE), uma ação de transformação pessoal e social já presente em 20 países e que nasceu da inspiração e iniciativa de um missionário da Consolata. A JR procura ajudar a aperfeiçoar a justiça criminal tradicional, cujo sistema se baseia essencialmente

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Fátima Missionária

na aplicação de penas aos ofensores, descuidando a sua reabilitação. Qual a percentagem de presos que saem reabilitados das prisões? Poucos! E muitos reincidem, voltando a cair no mundo do crime. Através da mediação penal – uma das vertentes da JR – procura-se resolver, por acordo entre o agressor e a vítima, alguns crimes como as ofensas à integridade física simples, difamação, ameaça, burla ou furto. A JR não é uma alternativa para a justiça criminal, mas complementa-a. Ela não prescinde do Estado, colabora com ele. O perdão não nega a justiça, mas abre-nos a uma JR reconciliadora, que, diante de um conflito, protege a vítima e recupera o ofensor. Neste sentido, a JR é o que mais nos aproxima à proposta do Evangelho, sobretudo pelo elemento restaurador: na JR os processos são orientados para a reparação material, moral, social da vítima, do ofensor e da comunidade em geral, atendendo ao contexto específico em que estes se inserem, procurando restaurar, tanto quanto possível, a ferida criada pela ofensa. A decisão é sempre das partes. Uma terceira pessoa é apenas mediadora no conflito, ajudando as partes a restaurar a relação. Justiça restaurativa, precisa-se. Albino Brás

Justiça restaurativa, precisa-se


PONTO DE VISTA

VITOR RODRIGUES . PRESIDENTE DA LIGA PORTUGUESA CONTRA O CANCRO .

PORQUE É IMPORTANTE O VOLUNTARIADO EM ONCOLOGIA? O cancro é cada vez mais um relevante problema de saúde pública. Só em 2018, estima-se que em Portugal tenham sido diagnosticados cerca de 58.000 novos casos de cancro e ocorrido cerca de 29.000 mortes (GLOBOCAN, 2019). Todavia, fruto de uma maior consciencialização para a doença, do diagnóstico cada vez mais precoce e de novas e mais eficazes terapêuticas para o seu tratamento, assistimos ao surgimento de uma nova população – os sobreviventes de cancro – com problemas clínicos e sociais particulares e que a sociedade – todos nós – terá de enfrentar. O envolvimento e articulação de esforços entre profissionais de saúde, cuidadores informais, sociedade civil, sobretudo aqueles que atuam no papel de voluntários – indivíduos que de forma livre e espontânea realizam um trabalho gerado pelo impulso solidário, mas devidamente regulamentado e acompanhado por uma Instituição promotora – é fundamental para amenizar o sofrimento do doente e melhorar a sua qualidade de vida. Baseado nos princípios da humanização e da solidariedade, o voluntariado está na génese da missão da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) e nele assenta grande parte da efetividade da sua ação. É um compromisso sério e responsável, com exigências éticas, onde se incluem a gratuitidade da sua ação e a natural convergência com os

valores e princípios da instituição. O voluntariado na LPCC é concretizado em diversas vertentes de atuação, que vão desde o hospitalar ao comunitário, passando pelos movimentos de entreajuda e pelo voluntariado de competências. No contexto hospitalar, o voluntariado cumpre a missão de acolher o doente, proporcionando-lhe apoio emocional e prático em ambulatório e em internamento, essenciais à humanização da assistência ao doente e à promoção de uma atitude positiva face ao cancro. Na comunidade, o papel dos voluntários passa pela sensibilização da população para a prevenção primária e secundária do cancro, referenciação de doentes com carências socioeconómicas e angariação de fundos. Nos movimentos de entreajuda, todos os voluntários, no papel de sobreviventes de cancro, oferecem o seu testemunho de esperança, dando o exemplo de que “é possível vencer o cancro”, todos os dias. No voluntariado de competências, são voluntários os profissionais que oferecem um contributo técnico e todos aqueles que partilham as suas habilidades no âmbito de atividades ocupacionais, com vista à redução do isolamento e à promoção da autoestima de doentes e cuidadores. A prática do voluntariado beneficia o doente e o seu cuidador e, simultaneamente, o voluntário, pela experiência enriquecedora e de valorização pessoal que proporciona.

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horizontes

Faremos Diferença, Sim! Texto | Teresa Carvalho Ilustração | DAVID OLIVEIRA

Ao som da viola, o primeiro grupo fez-se anunciar, logo recebido e acompanhado por vozes e intrumentos musicais improvisados que se juntaram para percorrer todas as casas da aldeia, numa sinfonia que trazia mensagens de alegria e felicidade para cada família, como era tradição no início de mais um ano. As portas abriam-se e a mesa farta e o calor dos abraços emprestavam àquele dia especial um ar festivo e fraterno pela proximidade que se vivia. Era tempo de encontro, de ver amigos que ali permaneciam ou que, já não morando ali, regressavam à aldeia para reviver recordações e amizades. Todos eram envolvidos nesta festa de gente que se quer bem: os velhinhos, que aguardavam este dia como uma certeza de serem lembrados e estimados, e oportunidade para rever aqueles que eles viram nascer e crescer, recordando histórias de um tempo que só eles conhecem; visitavam as famílias jovens que corajosamente mantinham a aldeia ativa; os jovens que trocavam informações de uma vida em avanço acelerado, e as crianças que viviam na algazarra e no encontro, a felicidade de ver todos a sorrir, até ser bem noite. Lúcia era das que tudo fazia para estar presente nesta data. Revivia a sua infância em cada regresso à aldeia, e sentia-se

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Fátima Missionária

novamente menina a percorrer, traquina, a vizinhança. E ali, em cada casa, era a última a sair. Ficava a ouvir histórias. Ouvia as dores que eram contadas; a solidão de quem já não sabia o que fazer, as conquistas dos filhos, as fotos dos netos; as notícias de quem adoecera ou já partira. E no meio das vozes e instrumentos que enchiam o ar de música e festa, Lúcia via a necessidade de ficar, de andar de novo pelas casas, mesmo sem música, agora a redescobrir o que trazia frio, dor ou silêncios, a inventar outras soluções, a esclarecer dúvidas, a marcar presença e fazer ponte com um outro mundo de oportunidades e respostas. Por instantes, Lúcia sentia que o seu cantinho de infância chamava por ela, como sendo um lugar a precisar de si para reconstruir. E porque não? Por causa desse sentir, Lúcia retornou e nunca mais parou: associou-se a quem podia ajudar. Juntos, iriam definir o que e como fazer. Sabiam que ali, naquele lugar que era também o seu, podiam contribuir com o seu saber, com a sua disponibilidade e com a sua força, congregando as forças, as artes, os saberes, as histórias, as vontades dispersas e algumas paradas e até desconhecidas, à espera de oportunidade. Era isso que juntos construiriam: oportunidade!


destaque

The Guardian Weekly definiu o período de 2010 a 2019 como a década dos protestos

Crise económica mudou a natureza dos protestos sociais

2019: um ano de manifestações Texto | CARLOS CAMPONEZ Foto | LUSA

O ano de 2019 ficou registado por muitos media como um ano de grandes manifestações sociais. A corrupção, o aumento dos preços de bens essenciais, as fraudes eleitorais, as desigualdades económicas e sociais e a limitação das liberdades trouxeram os cidadãos para as ruas em 30 países, provocando a queda de cinco chefes de Estado ou de governo em todo o mundo. A subida do preço dos combustíveis, no Equador e no Irão, suscitou vários e prolongados movimentos de protesto nas ruas. O mesmo aconteceu no Chile por causa da subida do preço dos transportes. O anúncio de uma taxa suplementar sobre as comunicações efetuadas na rede social whatsapp levou a que se gerasse um movimento inesperado de contestação, no Líbano, que se alastrou ao protesto contra a corrupção. A corrupção, o desemprego, a perda de qualidade dos serviços públicos foram as razões que juntaram os iraquianos em protesto, em várias cidades do país. O Presidente sudanês, Omar el-Béchir, depois de três décadas no

poder, teve de renunciar ao cargo, na sequência das manifestações contra a subida do preço do pão. As reformas mobilizaram as pessoas a manifestarem-se em França, com os sindicatos a decretarem uma greve por tempo indeterminado, depois de mais de um ano marcado pelas manifestações dos coletes amarelos. Questões políticas motivaram manifestações em Hong Kong, que começaram com a contestação contra o projeto de lei que pretendia autorizar a extradição de cidadãos para a China, terminando com a reivindicação de uma maior democratização e autonomia daquela região autónoma. Na Argélia, os manifestantes rejeitaram a recandidatura do Presidente Bouteflika a um quinto mandato e obrigaram a uma reforma do poder político. Na Venezuela e na Bolívia, a crise instalou-se depois de suspeitas de fraude eleitoral.

Radicalização aumenta

Apesar das suas origens diferentes, os analistas e sociólogos sublinham o facto destes movimentos sociais

terem origem na crise económica de 2008. Com efeito, o destaque dado por inúmeros órgãos de comunicação social que apresentaram 2019 como um ano de protestos e manifestações, já havia sido dado em 2011 pela revista norte-americana Time, quando nomeou ‘O Manifestante’, como a principal figura do ano. Em dezembro último, a edição britânica do The Guardian Weekly definiu o período de 2010 a 2019 como a década dos protestos. A crise económica de 2008 teve inúmeras consequências, para além dos efeitos imediatos na economia. Uma delas foi o de aprofundar o sentimento de alheamento entre o poder político e a sociedade em geral, gerando movimentos sociais relativamente espontâneos, sem líderes, organizações ou estruturas representativas claramente definidos, pelo menos na sua fase inicial. Esta espontaneidade não representa um consenso social em torno das causas objeto de contestação: a radicalização dos movimentos sociais, dos movimentos políticos e o populismo são disso exemplo.

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mundo missionário

por ELÍSIO assunção

Sudão do Sul Oposição e governo abrem caminho para a paz Graças aos esforços

da Comunidade de Santo Egídio, vários membros do governo do Sudão do Sul e representantes dos movimentos da oposição assinaram, a 13 de janeiro em Roma, a Declaração de Paz. O documento prevê a cessação das hostilidades e propõe discutir e avaliar os mecanismos para superar as divergências.

Honduras Apelo contra a violência e corrupção “Àqueles que querem matar, pedimos ao menos uma trégua no Natal”, foi o apelo veemente do cardeal Óscar Maradiaga. Os bispos hondurenhos alertaram para a situação grave do país sacudido pela violência e pela corrupção. Mantém-se viva a esperança que surjam novos líderes em todos os campos da atividade social, afirmam os prelados. Coreia do Sul Número de católicos dobra em 20 anos Nos últimos 20 anos,

o número de católicos na Coreia do Sul tem vindo a aumentar constantemente. Segundo as estatísticas oficiais, o número de fiéis coreanos aumentou 48,6 por cento num vinténio, passando de 3,9 milhões em 1999 para 5,8 milhões em 2018. Os católicos representam mais de 11 por cento da população coreana. México Stop à violência e à

guerra fruto de intolerância e interesses A intolerância das

ideias e a luta de interesses estão a minar a paz e a solidariedade entre o povo mexicano. “Não podemos continuar a aceitar, e muito menos promover, discursos políticos que polarizem a humanidade ou incitem à violência”, avisam os bispos do México.

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Fátima Missionária

Camarões

Alerta contra o perigo do tribalismo

“Durante e depois das últimas eleições presidenciais, temos assistido a uma crescente e muito preocupante degradação do clima social”, lê-se na carta pastoral dos bispos dos Camarões, de dezembro passado. Os prelados referem o multiplicar de “atitudes, palavras e comportamentos”, que revelam “desprezo inaceitável pela dignidade das pessoas” e que podem conduzir “a conflitos tribais ainda mais devastadores”. Tais conflitos podem comprometer a coesão nacional. Concretamente, os bispos referem-se a políticos que “através de planeadas formas de linchagem mediática procuram transformar os seus inimigos políticos e ideológicos em inimigos de todo o povo”. Além das raízes culturais, económicas e políticas, o tribalismo desenvolve-se nas falhas do Estado no campo do trabalho, da justiça, da saúde, da segurança das pessoas e bens. Apelando à reconstrução do país e ao empenho dos camaroneses, os bispos recordam que “as línguas, os costumes e as tradições são fatores de coesão no interior de cada grupo”. No entanto, cada camaronês deverá “ser bem-vindo onde quer que seja e sentir-se em casa em todas as regiões dos Camarões, tanto nas cidades como nas aldeias mais remotas”.

Níger

Ameaças e mortes na zona de Bomoanga

Na região onde foi raptado o missionário Pierluigi Maccalli – sequestrado em setembro de 2018 por jihadistas e ainda mantido em cativeiro – sucedem-se as ameaças contra a população. Recentemente foram assassinados o chefe de uma aldeia a 10 quilómetros de Bomoanga e um feiticeiro a 40 quilómetros. O que mais admira é que tudo isto acontece sob o manto da impunidade de grupos armados, refere um missionário. São vários os testemunhos credíveis de pessoas da paróquia de Bomoanga que atestam terem visto homens “de moto ou armados, elementos destes grupos terroristas”.


MUNDO MISSIONÁRIO

ARGENTINA

APAGAR A FOME DE MILHÕES ANTES DE PAGAR A DÍVIDA EXTERNA

“A dívida não pode ser eliminada a custo do estrangulamento da economia de um país”, clama a Cáritas da Argentina. É imperioso dar prioridade às dívidas sociais e à “proteção dos mais vulneráveis”, antes de “honrar os compromissos da dívida externa”. A Argentina vive “o dilema de pagar a dívida à custa da fome e da miséria de milhões de compatriotas ou procurar um caminho que, sem deixar de honrar as dívidas, dê prioridade ao crescimento da economia, ao equilíbrio das contas públicas e à atenção aos mais necessitados, antes de fazer face aos compromissos da dívida”. A organização social da Igreja lembra que “atrás das estatísticas, há rostos e histórias de sofrimento e de luta para sobreviver”, causadas pela especulação financeira sobre a produção e sobre o trabalho digno.

TAILÂNDIA

CASA DOS ANJOS PARA FAMÍLIAS COM FILHOS INVÁLIDOS

Na periferia de Bangkok está sediada a “Casa dos Anjos”, destinada a crianças inválidas e às suas mães. Recorde-se que a invalidez de nascimento é tida socialmente como culpa pessoal, que gera a marginalização. “Na Casa dos Anjos acolhemos crianças indigentes que são discriminadas num contexto cultural que tende a marginalizar as pessoas portadoras de deficiência”, explicou o responsável da casa, Paulo Ramonda, no encontro que teve com o arcebispo de Bangkok, o cardeal Francis Xavier Kovithavanij. A casa procura acompanhar e integrar as crianças nas suas famílias. Atualmente acompanha 12. Entre os hóspedes conta com uma mãe indonésia e o seu filho que padece de deficiência grave.

TOBIAS OLIVEIRA MISSIONÁRIO PORTUGUÊS DA CONSOLATA EM ROMA

O PAPA PEDE DESCULPA Natal, Ano Novo e Dia de Reis foram aqui em Roma grandes solenidades, mas o leitor vai desculpar se não dedico esta minha rubrica a estas festas mas sim a um acontecimento que até pode parecer insignificante. No dia 31 de dezembro, o Papa Francisco ao percorrer a Praça de São Pedro para ir prestar homenagem ao presépio monumental ali colocado, foi interrompido à força por uma senhora que, segurando-o pelo pulso, lhe pôs em perigo o equilíbrio. A sua reação consistiu em dar uma palmadinha sobre as mãos da dita senhora. Foi um gesto de impaciência que ficou gravado e deu origem a comentários de toda a espécie. No dia seguinte, falando para todo o mundo (urbi et orbi), o Papa confessou o seu pecado: “ontem dei um mau exemplo; peço desculpa”. Eu porém diria que o que ele nos deu foi o bom exemplo de pedir desculpa. Nunca esqueçamos que entre as três palavras mágicas que o Pontífice indica como criadoras de harmonia nas famílias e na sociedade se encontra a palavra desculpa. Está desculpado o nosso bom pastor. Muito obrigado Santo Padre por continuar a saudar com afeto os peregrinos não obstante o perigo de ser puxado ou empurrado por algum deles.

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a missão hoje

Um exemplo no acolhimento de refugiados O Uganda continua entre os países mais pobres do mundo, mas é considerado um modelo na forma como acolhe e procura integrar os migrantes que fogem da violência nas nações vizinhas

Texto FRANCISCO PEDRO Foto LUSA

Quando começou a guerra civil no Sudão do Sul e, mais tarde, com o agravar do conflito na República Democrática do Congo, o Uganda rapidamente se destacou da maioria dos países vizinhos ao adotar uma política radicalmente diferente: manteve as suas fronteiras abertas e criou mecanismos para acolher e integrar os refugiados. Através de um plano específico e desenhado para evitar o colapso de uma nação onde a esperança média de vida ronda os 62 anos e a maioria da população vive no limiar da pobreza, o governo ugandês disponibilizou-se para distribuir um terreno a cada refugiado registado, que lhes permitisse ter um espaço para construir uma

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Fátima Missionária

pequena casa e a possibilidade de manter a autonomia através do cultivo de produtos agrícolas. Esta política de portas abertas tem dado resultados positivos, quer para os migrantes quer para os proprietários e comunidades de acolhimento, mas também para a economia do país, que nos últimos anos recebeu mais de 150 milhões de euros da União Europeia em ajudas para apoio ao programa de acolhimento de refugiados. O Uganda alberga cerca de 1,2 milhões de refugiados, o maior número em África e o terceiro maior a nível mundial. “De certa forma, é um modelo para outros países. Mostrar que ao acolher as pessoas e dar-lhes algum


ARTE COM HISTÓRIA

O UGANDA ALBERGA CERCA DE 1,2 MILHÕES DE REFUGIADOS, O MAIOR NÚMERO EM ÁFRICA E O TERCEIRO MAIOR A NÍVEL MUNDIAL

MÁSCARA DE FEITICEIRO Texto | GONÇALO CARDOSO

espaço, alguma liberdade de circulação, alguma liberdade de emprego, pode funcionar e não cria automaticamente uma enorme crise para o país de acolhimento”, admitiu recentemente o diretor do Projeto de Refugiados do Uganda, Chris Nolan.

“Cheguei de mãos vazias”

Para que toda esta dinâmica funcione, é fundamental a entrada em jogo de pessoas como Tom Angua, um agricultor ugandês que decidiu disponibilizar parte das suas propriedades agrícolas. “A imigração é uma oportunidade. Emprestei alguns dos meus terrenos ao governo para que os entregue a refugiados, mas também a compatriotas que vivem por aqui. Desta forma, o que antes estava por cultivar, agora torna-se produtivo e criam-se oportunidades comerciais”, revelou o camponês em declarações ao El País. Os refugiados, por sua vez, não poupam elogios à política ugandesa, pelas novas oportunidades que lhes proporcionou. “Cheguei ao Uganda sem nada, literalmente de mãos vazias. O governo e a AVSI [organização italiana envolvida em vários projetos de desenvolvimento] deram-me as ferramentas necessárias para começar a trabalhar como agricultor e pastor. Tenho dois filhos, quero que possam estudar e ter um futuro melhor, e posso consegui-lo graças a este trabalho que me deram. Faz tempo que produzo mais do que o necessário para a sobrevivência da minha família, pelo que já comecei a vender os meus produtos”, testemunhou Akim Samwe, no âmbito de uma reportagem do periódico espanhol, na região de Rhino Camp. Segundo a opinião de vários especialistas, está demonstrado que este sistema de acolhimento é um dos mais eficientes até agora, mas para garantir que os esforços realizados não se percam, defendem que é fundamental manter o apoio económico da comunidade internacional até assegurar a sustentabilidade do projeto.

O mais importante acontecimento na vida social da cultura maconde, povo originário da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é o Mapico. Os macondes chamam Mapico às danças, à música, ao mascarado e ao conjunto das máscaras. Cada máscara Lipico (singular de Mapico) é única e representa uma determinada personagem dos muitos quadros ou cenas que constituem o Mapico.

KALIBONDE MACONDE | MOÇAMBIQUE | MADEIRA, CORDA E CORANTES NATURAIS. COLEÇÃO DE JOSÉ SANTOS SILVA DEPÓSITO NO CONSOLATA MUSEU | ARTE SACRA E ETNOLOGIA FÁTIMA

A máscara que apresentamos é designada por Kalibonde, uma máscara de doença, com uma deformação facial provocada por hemiplegia da face esquerda e consequente rotação dos tecidos moles e dos ossos da face para a direita. Cegueira do olho direito. O Kalibonde, para além da doença, mostra as tentativas de cura, caso único conhecido, pelo menos nas máscaras maconde.

Esta máscara sugere que a trepanação (perfuração dos ossos do crânio, e em alguns casos extração de partes ósseas) é, ou era até há pouco tempo, uma prática entre os maconde moçambicanos. O Kalibonde é uma máscara de feiticeiro para o Mapico noturno, feita em Mbau, Mocimboa da Praia, por volta de 1981.

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a missão hoje

Coleção de presépios é convite à unidade entre povos

porcelana e papiro do Egito, assim como “mármore da África do Sul, arrancado em minas a 400 metros de profundidade”, realça Lopes Morgado. O religioso destaca algumas das obras em exposição, como um presépio chinês de 20 peças, em porcelana. “Temos Maria a amamentar o Menino. Um mago sentado numa vaca. Não há pastores nem rebanhos. Há búfalos. Já neste presépio da Austrália temos um urso, um jacaré, uma avestruz, um canguru, uma cobra e um menino aborígene. O Peru é uma exuberância de figuras. Muita festa! Com instrumentos de música e agrícolas”, salienta.

Exposição mostra que é possível cada cultura representar a mesma mensagem, mantendo o seu estilo de vida e tradições, tornando-se assim num exemplo de tolerância e respeito pela diferença Texto | JULIANA BATISTA Foto | ANA PAULA

Todos apresentam a mesma mensagem, dentro da sua cultura. A interculturalidade que está aqui é a prova maior do direito que cada um tem à diferença, a ser respeitado por aquilo que é, a viver a vida que tem e a ser amado como é 12

Fátima Missionária

Mais de 1.300 presépios estão expostos no Centro Bíblico dos Capuchinhos, em Fátima, dando forma à coleção “Evangelho da Vida”. Frei Lopes Morgado, Franciscano Capuchinho, está na dianteira deste projeto que dá a conhecer obras de países tão diversos como o Bangladesh, Birmânia, Índia, Congo, Argentina, Bolívia, Venezuela, Canadá, Estados Unidos da América, Itália e Alemanha. O ex-líbris da exposição vai para um espaço designado como ‘gruta’, onde pode ser admirado um vasto conjunto de presépios portugueses. As peças expostas foram elaboradas com recurso a materiais tão variados como madrepérola, cana de bambu, cristal, madeira de jacarandá, espigas de milho, pedra-pomes,

O frade distingue também um terço polaco, onde surgem as “figuras do presépio nos mistérios”, um “ovo de avestruz, com o presépio integrado”, assim como uma caixa de música e matrioscas que representam o nascimento de Cristo. A Sagrada Família é também apresentada com recurso a “areia de tonalidades diferentes do deserto do Saara”. Da mostra fazem ainda parte vários ecrãs onde se pode ver a Basílica da Natividade, em Belém, e o presépio de São Francisco, em Greccio, Itália. O Franciscano Capuchinho privilegia o caráter humanitário desta coleção. “Este é o tal ‘Todos diferentes, todos iguais!’ Todos apresentam a mesma mensagem, dentro da sua cultura. A interculturalidade que está aqui é a prova maior do direito que cada um tem à diferença, a ser respeitado por aquilo que é, a viver a vida que tem e a ser amado como é. Esta é a grande lição de vida”.


FÁTIMA INFORMA

Crianças depositam flores no túmulo de Santa Jacinta O Dia dos Pastorinhos apresenta um programa especial no Santuário de Fátima. e coloca em foco o testemunho de Jacinta Texto | JULIANA BATISTA Foto | DR

Os alunos do segundo ciclo das escolas de Fátima são convidados pelo santuário da Cova da Iria a levar até ao templo mariano “uma flor, feita por si, e a depositá-la junto ao túmulo” de santa Jacinta Marto, pelas 15h00 do dia 20 de fevereiro, data em que se celebra a festa litúrgica dos Santos Francisco e Jacinta Marto, e que este ano coincide com os 100 anos da morte da mais nova das pastorinhas. Antes do momento de veneração junto ao túmulo da pequena vidente, os alunos vão participar numa “breve catequese sobre os pastorinhos”, que terá lugar na Basílica da Santíssima Trindade, a partir das 14h30. “Esta iniciativa pretende dar a conhecer às crianças a vida dos pastorinhos de Fátima, como exemplos de que a santidade é uma possibilidade concreta para os nossos dias. De um modo especial, este ano olhamos para a vida de Jacinta Marto, como alguém que foi feliz, consumindo a vida em favor dos outros”, explicam os serviços de comunicação do Santuário de Fátima. No mês em que os pequenos videntes são recordados de maneira especial em Fátima, está também prevista a sexta edição do “Concerto evocativo dos pastorinhos”. Este momento está agendado para o dia 16 de fevereiro, e terá lugar na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a partir das 15h30. O concerto está a cargo do grupo “Moços do Coro”, que vão atuar sob a direção de Nuno Almeida.

Bispo de Tete em Fátima

A 30.ª Peregrinação da Família Missionária da Consolata acontece a 15 de fevereiro, sob a presidência de Diamantino Antunes, bispo de Tete, Moçambique. A jornada deverá levar à Cova da Iria cerca de sete mil pessoas, e a vigília jovem, na noite anterior, deverá reunir cerca de 300 participantes, com o tema “Atreve-te a seguir Jesus”.

Reflexão quaresmal

Em plena Quaresma, o Santuário de Fátima proporciona aos peregrinos um retiro de silêncio. O encontro vai

decorrer de 28 de fevereiro a 1 de março, com o tema “Pelo sofrimento à luz”. A iniciativa é destinada aos que sentem “necessidade espiritual de recomeçar e renovar a vida”.

Exposição de colecionadores

Doze colecionadores de objetos tão diversos como latas, pins, presépios ou borrachas, mostram as suas aquisições no Consolata Museu, em Fátima. A exibição destes artigos dá forma à exposição “A minha coleção”, que pode ser conhecida no espaço museológico dos Missionários da Consolata até ao dia 1 de março.

Agenda

FEVEREIRO

Dia 02 Dia do

Consagrado, Capelinha das Aparições, 10h00

Dia 11 Dia Mundial do Doente, Capelinha das Aparições, 14h00

Dia 26 Quarta-feira de

Cinzas, Capela do Santíssimo Sacramento, 08h15

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Fรกtima Missionรกria


ATUALIDADE

Paróquias podem fazer mais para reabilitar jovens ex-reclusos

Programas oficiais de reinserção têm registado progressos, mas não são suficientes para a plena reabilitação. É exigido também o envolvimento sério, organizado e comprometido de toda a sociedade, em particular das comunidades cristãs Texto | FRANCISCO PEDRO Foto | LUSA

Portugal tem uma das taxas mais altas de reclusos na Europa. Por várias vezes, tem sido chamado a atenção pelas instâncias internacionais para a sobrelotação e falta de condições em algumas cadeias. Um cenário que faz com que o nosso país tenha sido o único, de um conjunto de oito, a ser admoestado por misturar presos menores com presos adultos. Os especialistas reconhecem que se tem avançado na área da justiça juvenil e a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) assegura que tem vindo a trabalhar em melhorias, nomeadamente com a introdução do Programa de Prevenção de Criminalidade Juvenil (PPCJ). Mas será isso suficiente para recuperar os jovens detidos ou condenados? O padre João Gonçalves, coordenador nacional da Pastoral Penitenciária, acha que não. Mas vamos por partes. Num universo de 12.685 reclusos, no início de janeiro deste ano estavam nas cadeias portuguesas 154 jovens com idades entre os 16 e os 20 anos, sendo que 16 eram do sexo feminino. Destes, 14 tinham entre 16 e 17 anos. Os mais novos encontravam-se quase

“Neste particular da afetação dos reclusos a estabelecimentos prisionais deve ter-se presente a proximidade das pessoas aos seus espaços de pertença por forma a facilitar visitas, bom como a proximidade aos locais onde estão a decorrer os processos judiciais, uma vez que o peso relativo da prisão preventiva não é despiciente neste universo”, explica a DGRSP, em resposta à FÁTIMA MISSIONÁRIA.

os programas oficiais e de receber formação profissional “ajustada às idades, necessidades e competências” de cada um. Depois, há o tal programa vocacionado para prevenir a reincidência, dirigido a jovens até aos 21 anos condenados por criminalidade violenta, e que prevê, entre outras atividades, 22 sessões de trabalho, cada uma com 90 minutos de duração. E, para quem estiver interessado, há ainda espaço para participar nas ações propostas pelo Assistente Espiritual e Religioso, o chamado capelão prisional. Chegados aqui, vamos ao depois. À fase em que já não é preciso espreitar pelo gradeamento da janela, para ‘ver’ a liberdade; ao momento em que ex-recluso e sociedade são postos à prova. Com desvantagem para o condenado, que já acertou contas com a justiça, mas nem sempre se livra do rótulo de “ex-recluso”, da indiferença, do desdém, ou nos casos mais extremos, da marginalização.

Boas práticas Posto isto, passemos à parte da reclusão. Durante o período de detenção, os reclusos até aos 21 anos, condenados, têm a possibilidade de prosseguir os estudos de acordo com

Em conjunto, a DGRSP, a Cáritas Portuguesa e a Pastoral Penitenciária, além de outras organizações da sociedade civil, têm-se empenhado em evitar que as pessoas “saiam da rua para a cadeia

todos detidos no Estabelecimento Prisional de Leiria, antes conhecido como Prisão Escola. A restante faixa etária estava mais dividida. As raparigas estavam na cadeia de Tires, um estabelecimento vocacionado para mulheres. E os rapazes distribuídos entre Leiria e outras zonas do país, num aparente atropelo ao aconselhado pelos organismos europeus, mas também numa tentativa de manter a proximidade do detido com a família e a comunidade.

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O padre João Gonçalves é o coordenador nacional da Pastoral Penitênciária

e da cadeia para a rua”. Mas este árduo e complexo trabalho, pelos vistos, carece de maior envolvimento comunitário, se o objetivo é atingir as boas práticas europeias – e até mundiais – utilizadas em países como a Noruega, Suécia ou Holanda, que têm vindo a fechar cadeias nos últimos anos por falta de presos. Medo dos presos “É necessário, e fundamental, que a comunidade religiosa se preocupe muito mais com as pessoas que saem das cadeias. E com as que estão sujeitas a vigilância eletrónica, que apesar de estarem em casa, acabam por estar também em reclusão”, alerta o padre João Gonçalves, frequentemente apelidado de “padre das prisões”, pelo longo historial e trabalho desenvolvido à frente da Pastoral Penitenciária. Segundo o sacerdote, as paróquias, instituições de solidariedade social, congregações religiosas, escuteiros e associações, deviam envolver-se de forma mais ativa no processo de reintegração de ex-reclusos, sobretudo dos mais jovens, mas o que se verifica é que “as paróquias estão a leste” deste trabalho pastoral, o que, de alguma forma, contribui também para a taxa de reincidência, que continua alta em Portugal, apesar dos poucos dados disponíveis 16

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e da antiguidade das estatísticas existentes sobre este tema. “Sabe, às vezes parece que as pessoas têm medo dos presos, quando até Jesus disse: ‘Eu estive preso’”. E depois, são as próprias comunidades a não aceitar um ex-recluso num grupo coral, num grupo de trabalho, num grupo de reflexão, e a não proporcionar “o carinho, o abraço, o acolhimento”, o que por vezes gera revolta em vez de conversão e leva ao cometimento de novos crimes, sublinha João Gonçalves. Neste tempo em que o Papa Francisco tanto tem apelado a uma Igreja em saída, mais próxima das periferias existenciais, o “padre das prisões” aproveita para recordar às comunidades cristãs, no seu todo, que o seu compromisso é estar próximo dos mais vulneráveis, dos excluídos, dos marginalizados. “Não é só tratar dos pobres. Assim como se sabe que há um idoso isolado ou uma família pobre, as paróquias devem organizar-se para saber também que há uma pessoa em prisão domiciliária, ou que saiu recentemente da cadeia, para poder ajudar”, assevera o sacerdote, adiantando que este será um dos temas a tratar no XV Encontro Nacional da Pastoral Penitenciária, agendado para os próximos dias 7 e 8 de fevereiro, em Fátima.

“É necessário, e fundamental, que a comunidade religiosa se preocupe muito mais com as pessoas que saem das cadeias. E com as que estão sujeitas a vigilância eletrónica, que apesar de estarem em casa, acabam por estar também em reclusão”, alerta o padre João Gonçalves, frequentemente apelidado de “padre das prisões”, pelo longo historial e trabalho desenvolvido à frente da Pastoral Penitenciária


Milhões de menores detidos em todo o mundo O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos estima que há sete milhões de crianças em todo o mundo que sofrem diferentes tipos de detenção, entre elas em centros para imigrantes, em custódia policial e em prisões. “As nossas sociedade parecem ter esquecido uma verdade muito simples: as crianças não devem ser detidas, porque a privação da liberdade significa a privação dos direitos, da visibilidade, das oportunidades e do amor», assinalou Manfred Nowak, um dos especialistas independentes da ONU que elaborou o estudo. Um dos casos mais representativos de detenções de crianças nos últimos meses verificou-se nos Estados Unidos da América (EUA), depois do endurecimento da política migratória por parte do Presidente Donald Trump. Calcula-se que mais de 100 mil menores estejam detidos atualmente, sozinhos ou com os pais, por razões relacionadas com a migração nos EUA. A Europa também é acusada de contribuir para este fenómeno. Uma reportagem recente do consórcio Investigate Europe tornou pública a forma como na União Europeia os menores são detidos contra as regras internacionais. O espaço comunitário, Portugal incluído, conta com um total de 260 “campos de detenção”. As autoridades justificam a detenção “para manter as famílias juntas” ou para garantir “proteção onde faltam cuidados alternativos”, mas o Relatório Global das Nações Unidas sobre Crianças Privadas de Liberdade é claro: “Seja qual for o

nome ou justificação do Estado ou nome da instalação” onde as crianças ficam detidas, há sempre privação da liberdade, que “não pode ser

considerada como uma medida de último recurso e nunca é do melhor interesse da criança e, portanto, deve ser proibida”.

TOME NOTA

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O governo português anunciou o ano passado a construção de duas novas cadeias, em Ponta Delgada (Açores) e no Montijo. A arquitetura será revolucionária, com quartos, árvores e paisagem para reduzir o stress e promover o equilíbrio emocional dos presos. O investimento previsto é de 120 milhões de euros.

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Em Portugal existem 49 estabelecimentos prisionais, com capacidade para quase 13.000 reclusos. O Orçamento de Estado destina todos os anos mais de 250 milhões euros para a gestão do sistema prisional. Estima-se que cada recluso custe ao Estado 50 euros por dia.

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Em janeiro deste ano, havia 26 crianças com idades até aos três anos a acompanhar as mães em situação de reclusão nos estabelecimentos prisionais de Tires e Santa Cruz do Bispo. Estas mulheres encontram-se em espaços separados das restantes reclusas e as crianças frequentam infantários semelhantes aos existentes fora do contexto prisional.

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LÍBIA ENTRE GUERRA E JOGOS DAS POTÊNCI

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CIVIL IAS

DOSSIER

OITO ANOS DEPOIS DA MORTE DE MUAMMAR KADHAFI OS SEIS MILHÕES DE LÍBIOS VIVEM PIOR DO QUE NO TEMPO DO DITADOR. A GUERRA ENTRE O GOVERNO RECONHECIDO PELA ONU E AS FORÇAS DO MARECHAL HAFTAR IMPEDE O DESENVOLVIMENTO QUE OS RECURSOS EM PETRÓLEO PERMITIRIAM SE HOUVESSE PAZ. E PAÍSES COMO A TURQUIA OU O EGITO, APOIANDO DIFERENTES LADOS, AJUDAM A QUE A SITUAÇÃO SEJA AINDA MAIS COMPLEXA DE RESOLVER Texto | LEONÍDIO PAULO FERREIRA* Foto | LUSA

De todos os ditadores derrubados pela chamada Primavera Árabe, o líbio Muammar Kadhafi foi o que teve o destino mais trágico: nem exílio como o tunisino Ben Ali, nem a prisão, como o egípcio Hosni Mubarak, mas sim a morte, por linchamento, e com o início dos seus derradeiros momentos a serem filmados por vários telemóveis. O rosto tanto de estupefação como de horror do líder líbio impressionava quem quer que visse as imagens e estas foram transmitidas pelas televisões do mundo inteiro. Passados pouco mais de oito anos sobre o fim de Kadhafi (morto a 20 de outubro de 2011 e com o cadáver a ser também exposto a todo o tipo de câmaras de filmar e de fotografar, numa derradeira humilhação), não falta na Líbia quem admita que a vida era melhor no tempo do ditador. As pessoas dizem-no em voz baixa aos jornalistas estrangeiros, pedem o anonimato, desculpam-se por essa opinião, mas a verdade é que o caos que se seguiu à queda do regime é tremendo e explica as comparações. A Líbia está mergulhada numa guerra civil e o provável vencedor desta até é um antigo aliado de Kadhafi depois caído em desgraça, o marechal Khalifa Haſtar. Este, com a sua base de poder baseada no leste do país, a Cirenaica, controla quase todo o território com exceção de Trípoli, capital e também coração da província ocidental, a Tripolitânia. Quem resiste à ofensiva

final de Haſtar é o governo chefiado por Fayez al-Sarraj reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas, mas muito dependente das milícias armadas, sobretudo da de Misrata, uma cidade vizinha de Trípoli cujos combatentes foram decisivos para derrotar Kadhafi em 2011. Não só lutam líbios contra líbios, como várias potências apoiam um ou outro dos lados, em função dos seus interesses estratégicos. É o caso evidente do Egito, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, que financiam Haſtar, e também do Qatar e da Turquia, sólidos ao lado de al-Sarraj. Já a Rússia apoia Haſtar, enquanto a União Europeia parece estar em geral com o governo de Trípoli. Mas a comprovar que a situação é caótica, os Estados Unidos da América são suspeitos de simpatizar com Haſtar, pelo menos desde que o Presidente Donald Trump lhe telefonou, mas al-Sarraj tenta cortejar os americanos aludindo à Rússia apoiar Haſtar. E entre os europeus, a França tem mantido ligação a Haſtar, indignando sobretudo a Itália, que apoia o governo reconhecido pela ONU. Com as maiores reservas petrolíferas de África, a Líbia exporta hoje apenas dois terços daquilo que era tradição. E sobretudo os lucros da exploração chegam pouco à população, ao contrário dos tempos de Kadhafi, que usava o petróleo para financiar um generoso sistema de saúde e

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de educação que fazia da Líbia o país de África com maior índice de desenvolvimento humano. Para se entender melhor o impacto de Kadhafi na história deste país norte-africano é importante notar que quando chega à independência em 1951, após sucessivas colonizações turca, italiana e franco-britânica, a Líbia era miserável. Em 1961, a exportação de petróleo traz finalmente uma fonte de riqueza, mas o rei Idriss continua a ignorar as necessidades do povo e só uma elite beneficia da nova situação. E é em revolta contra uma monarquia obscurantista que um grupo de oficiais liderado por um jovem Kadhafi se revolta em 1969, tomando o poder. O novo regime é muito inspirado nas ideias de panarabismo socializante do egípcio Nasser, mas depressa tomará características muito próprias, com Kadhafi a personalizar cada vez mais o Estado. Desejoso de ser revolucionário toda a vida, Kadhafi criou uma espécie de república muito especial, com o nome árabe de Jamahiriya, e por trás de um aparente processo de decisão coletiva todo o poder recaía sobre si, mesmo que se mantendo coronel e simples guia da revolução. No plano externo foi acusado de apoiar o terrorismo – reconheceu culpas no avião civil americano derrubado sobre Lockerbie, Escócia, em 1988 – e de fomentar revoluções, sobretudo em África. Aliás, foi por ter falhado numa intervenção militar no Chade que Haftar, até então braço direito do ditador, caiu em desgraça e acabou por se tornar, no exílio, o principal inimigo do coronel. Nos anos imediatos antes da queda, Kadhafi conseguiu recuperar certa respeitabilidade na Europa, com visitas a vários países, incluindo Portugal, onde esteve em 2007, para a cimeira Europa-África. O dinheiro 20

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líbio atraía muitas empresas ocidentais, e os governantes não hesitavam em apoiar mais laços económicos. Apesar da bizarria das suas quatro décadas no poder (como uma guarda pessoal constituída por amazonas), ou talvez por isso também, Kadhafi começava a gozar de algumas simpatias e não faltaram políticos europeus nas suas festas em Trípoli. A revolta contra Kadhafi começou em fevereiro de 2011 em Benghazi,

cidade da Cirenaica que nunca aceitou muito bem o ditador. E houve desde o início dos protestos a influência de elementos conservadores religiosos. Contudo, sem a intervenção militar em meados de março da NATO, validada pelas Nações Unidas, contra as tropas governamentais, dificilmente os rebeldes teriam sido bem sucedidos. Entre os grandes instigadores da ação estiveram o Presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro britânico David Cameron. A Rússia,


que ao abster-se de usar o seu direito de veto deu luz verde à operação, cedeu às pressões dos países árabes e acreditou numa interpretação restritiva do mandato onusiano no sentido de a NATO usar a sua aviação para evitar a destruição das forças rebeldes. Os aviões da aliança acabaram, porém, por ser usados para destruir a capacidade militar governamental, levando à derrota total de Kadhafi. Cameron e Sarkozy, que visitaram Trípoli em setembro de 2011 como libertadores, estão já fora da política, mas o turco Recep Erdogan, que também foi a Trípoli colher louros na derrota de Kadhafi, continua no auge, tendo passado de primeiro-ministro a Presidente. Ora, a Turquia, que na época inspirava a Primavera Árabe como exemplo de país muçulmano e democrático, prepara-se agora para enviar tropas para a Líbia em apoio do governo reconhecido pela ONU. A ideia dos turcos é aliviarem no mínimo a pressão sobre Trípoli, que Haftar continua a cercar e ocasionalmente a bombardear. No máximo, pretendem resolver a guerra civil. As tropas do marechal conquistaram nas últimas semanas Sirte, a cidade natal de Kadhafi, e puseram assim maior pressão sobre Misrata e Trípoli. Sirte, que chegou a estar sob controlo de uma célula obediente ao Daesh, une-se agora ao antigo inimigo de Kadhafi cujo principal apelo, por ironia, é hoje prometer um regresso à normalidade que existia na era kadhafiana. Mas o marechal, que acusa o governo de Trípoli de ter apoios islamitas, conta agora também com o apoio de confrarias islâmicas ultra-conservadoras, o que significa que vale tudo para vencer. Com a possibilidade de se enfrentarem diretamente como

Qualquer calar das armas e regresso ao processo político será essencial não só para iniciar a recuperação das condições de vida dos líbios como para o fim de fenómenos como o tráfico de pessoas para a Europa, negócio que movimenta milhões de euros ao longo da costa Líbia na Síria, turcos e russos estão já a dialogar sobre a Líbia, para evitarem choques. O Presidente russo Vladimir Putin conseguiu mesmo organizar em Moscovo uma ronda negocial com a al-Sarraj e Haftar, mas sem sucesso.

Nova ronda negocial, patrocinada pela Alemanha, estava prevista à hora de fecho desta edição para Berlim. Qualquer calar das armas e regresso ao processo político será essencial não só para iniciar a recuperação das condições de vida dos líbios como para o fim de fenómenos como o tráfico de pessoas para a Europa, negócio que movimenta milhões de euros ao longo da costa líbia. Também a pacificação da Líbia traria boas notícias para a Tunísia, o único país de sucesso da Primavera Árabe, que assim veria terminadas as incursões terroristas vindas do vizinho e recuperaria um parceiro económico vital. Igualmente todo o Sahel ganharia com a pacificação da Líbia, pois foi com o fim de Kadhafi que armamento oriundo dos quartéis líbios aprovisionou desde grupos islamitas a movimentos separatistas, passando por organizações criminais. * jornalista do DN

DATAS CHAVE PARA PERCEBER A LÍBIA Século VII a.C. Fenícios colonizam Tripolitânia, habitada por

berberes.

Século IV a.C. Gregos colonizam Cirenaica, à qual chamam Líbia, nome que perdurará.

74 a.C. Império Romano conquista Líbia. 643 Invasão árabe, Islão impõe-se. Século XVI Império Otomano conquista Líbia. 1912 Itália coloniza Líbia. 1942 Durante a Segunda Guerra Mundial, Itália perde Líbia,

britânicos e franceses vão controlar território. 1951 Independência sob forte influência da Grã-Bretanha. 1961 Exportação de petróleo começa. 1969 Rei Idriss derrubado por militares. Início do regime de Muammar Kadhafi. 1986 Líbia bombardeada pelos Estados Unidos da América por apoiar terrorismo internacional. 1988 Líbia acusada de pôr bomba em avião civil americano. 2003 Kadhafi desiste de programa de armas de destruição maciça e começa a tentar reintegração na comunidade internacional. 2011 Revolta contra Kadhafi, morto em outubro.

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mãos à obra

Aproveitar os espaços livres nas igrejas para ensinar adultos e jovens analfabetos

Missionários ajudam a combater o analfabetismo no bairro de Kapalanga, nos arredores da capital angolana. As aulas realizam-se nos espaços livres das igrejas, em três centros da paróquia de Santo Agostinho Texto | Francisco Pedro Foto | dr

Segundo dados das organizações não governamentais, a taxa de analfabetismo da população adulta em Angola ronda os 58 por cento

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Num país em que as estatísticas oficiais não batem certo com as carências verificadas no terreno em matéria de educação, e os estabelecimentos de ensino são manifestamente insuficientes para as necessidades da população, restam as iniciativas das instituições religiosas e das organizações humanitárias para abrir uma janela de esperança a quem nunca teve oportunidade de aprender a ler e a escrever. É o caso de Angola, neste caso particular do bairro de Kapalanga, nos arredores da capital, onde existe apenas uma escola secundária e três escolas primárias públicas para servir uma comunidade de mais de 120 mil habitantes. “É muito difícil saber exatamente

quantos adultos e jovens não sabem ler nem escrever. Mas é muito normal conhecer adultos e jovens que não sabem ler nem escrever, e encontrar alunos da quarta, quinta e sétima classes que não conseguem ler nem escrever”, afirma Marco Simbeye, padre missionário da Consolata e responsável pelo projeto de alfabetização destinado a colmatar as lacunas educativas no bairro angolano. Recorrendo aos espaços livres das igrejas, em três centros da paróquia de Santo Agostinho, na diocese de Viana, os missionários pretendem dar formação a cerca de 500 adolescentes e adultos, até junho de 2021. Para dar corpo a esta iniciativa, que conta com o apoio da Cáritas diocesana e da Pastoral da Criança, está previsto um investimento de quase 10 mil euros, verba que será utilizada para assegurar a contratação de uma dezena de professores, para comprar um milhar de livros específicos para a alfabetização, material escolar e algum mobiliário, como mesas e cadeiras, para acomodar os alunos. Segundo dados das organizações não governamentais, a taxa de analfabetismo da população adulta em Angola ronda os 58 por cento. As mulheres são as mais prejudicadas (72 por cento são analfabetas) o que se traduz na qualidade de vida social e familiar. O relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano referente ao período entre 2016 e 2018 revela ainda que 47 por cento da população com idades entre os cinco e os 23 anos não frequentou a escola nos últimos anos e desses, 16 por cento nunca tiveram acesso ao ensino.


OBJETIVA

Um grupo de migrantes hondurenhos iniciou o mês passado uma nova caravana em direção aos Estados Unidos da América, forçando a entrada no posto fronteiriço da Guatemala

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# gente nova em missão PARTILHA

GUIAS PARA A FELICIDADE Olá amiguinhos! Segundo mês do ano e já a família da Consolata se reúne para mais uma peregrinação – que será a 30ª e assinalará os 30 anos da beatificação de José Allamano – e desta vez com um motivo extra de alegria: quem preside é o bispo de Tete (Moçambique), Diamantino Antunes, primeiro bispo missionário da Consolata português. Fevereiro é, também, o mês em que se assinala o Dia da Vida Consagrada; pensamos, quase sempre, nos sacerdotes e nas irmãs, mas todo aquele que é batizado é consagrado e tem por missão anunciar Jesus com a sua própria vida colocando-se ao serviço dos outros Texto | Cláudia FEIJÃO Ilustração | DAVID OLIVEIRA

No início deste ano, recebi um vídeo com uma história bonita: numa quinta vivem dois cavalos, sendo que um deles é cego. Quando o dono percebeu que o seu cavalo ficara cego juntou-o com um outro cavalo para ser seu amigo e ajudá-lo, pelo que colocou um sino no pescoço do novo cavalo para que quando ele andasse o sino fizesse barulho e sinalizasse onde ele estava. Todos os dias, os dois cavalos saem juntos para comer e o cavalo cego usa o som do sino para seguir o seu amigo e saber onde vai; deste modo, ele nunca se perde. Ele segue o seu amigo com confiança plena sabendo estar seguro. De vez em quando o cavalo jovem pára, e olha para trás, esperando que o seu amigo cego o alcance. Assim como o dono destes cavalos, também Deus não nos abandona; Ele cuida de nós e envia, sempre, pessoas para nos ajudar e guiar. Assim são aqueles que experienciaram o encontro com Jesus e colocaram a sua vida ao serviços dos outros. Há quatro anos, o Papa Francisco disse que o consagrado deve viver

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o encontro pessoal com Jesus na proximidade com cada pessoa, anunciando às pessoas que há um caminho para a felicidade, caminho esse que é Jesus. Mas para tal não bastam as palavras; é necessário testemunharem-no com as suas vidas. Colocar-se ao serviço do outro é sinal de amor e de felicidade; ajudar os outros, consolar quem está triste, perdoar, ser gentil, ser solidário, bondoso e generoso para com quem mais precisa de ajuda é testemunhar esse encontro com Deus. Pequenos missionários, cada um de vós pode ser quem ajuda, quem consola, quem partilha, quem leva esperança e o amor de Deus aos outros; testemunhando o amor incondicional de Deus, poderão ser guias no caminho para a felicidade.


MOMENTO DE ORAÇÃO Senhor, agradeço o Teu amor incondicional por todas as pessoas. Agradeço-Te ainda por todas aquelas que, diariamente, colocam as suas vidas ao serviço dos que mais precisam. Que o meu coração saiba acolher os teus dons para os fazer crescer e colocá-los ao serviço dos irmãos e possa testemunhar a felicidade que é saber que se é amado por Ti.

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tempo jovem

Peregrinação é Comunhão

peregrinar é muito de amor e doação. Amor e doação é “caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças em novas oportunidades de comunhão”

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Texto | BEATRIZ QUINTELA Foto | DR

Uma peregrinação é ir à procura de algo. No grupo Jovens Missionários da Consolata (JMC), já se fizeram e continuam a fazer muitas peregrinações: seja a caminhar a pé até Fátima, ir a Taizé, participar na Páscoa Jovem ou Páscoa Missionária, seja partir em missão, ou integrar a peregrinação anual da Consolata. Sempre que peregrinamos sentimo-nos chamados, como nos diz o Papa Francisco, a caminhar juntos como povo até a nossa casa: “É saber que temos consciência de ser um povo. Um povo cuja riqueza são os seus mil rostos, mil culturas, línguas e tradições, que junto com Maria canta a misericórdia do Senhor”. A nossa peregrinação é alegre, muito ao estilo jovem, pois é isso que somos. É alegre no conhecer melhor o outro, na gratidão de conhecer formas diferentes e tão próximas de amar a Cristo. Alegres em perceber e fazer da vida amor e doação, porque peregrinar é muito de amor e doação. Amor e doação é “caminhar juntos, pedindo ao Senhor a graça de transformar rancores e desconfianças (...) em novas oportunidades de comunhão”. São palavras do Santo Padre que muito me tocam, porque em cada peregrinação fica uma marca no nosso coração; marca de transformação. Primeiro interior e, imediatamente a seguir, direcionada para fora: somos testemunho para os outros. Ninguém, nem o mais cego, sai de uma peregrinação igual a quando entrou. Sai rico! Sai mais rico! O JMC sai com mais alegria! A peregrinação anual da Consolata envolve cerca de 7.000 pessoas. Seria uma multidão se não fosse “A” peregrinação. É família. Somos povo que caminha para a sua casa, para a nossa casa. É um momento central de comunhão desta grande família. Na peregrinação, renovamos novas oportunidades de comunhão.

Na peregrinação anual da Consolata, o JMC está presente todos os anos; seja no momento do ofertório na Eucaristia, seja a encenar no calvário húngaro, seja nas palavras que trocamos com outros peregrinos, seja todo o percurso que fazemos desde sexta-feira no convívio juvenil, até sábado, na grande festa; estamos efetivamente em comunhão, a transmitir o espírito de viver juntos. Este era muito o espírito dos Mártires da Argélia, os santos que este ano acompanham os Missionários da Consolata. Dezanove mártires beatificados a 8 de dezembro de 2018. Os sete monges de Tibhirine, que estavam no mosteiro, num dos períodos mais conturbados da Argélia, onde o terrorismo matou cerca de 150 mil pessoas, são um dos exemplos do que os 19 mártires passaram. Eles estavam com o povo, quiseram manter-se presentes, pois sabiam que a sua simplicidade de vida era essencial para ajudar o povo muçulmano que sofria, também, com toda a violência. Estes religiosos eram ainda enfermeiros, médicos, agricultores, bibliotecários. Acolhiam todos e davam trabalho a muitos na agricultura. Foram sequestrados a 26 de março de 1996 e sepultados a 4 de junho. Centenas de muçulmanos participaram no seu enterro. Hoje, os sobreviventes e familiares vão, como peregrinos, rezar às suas sepulturas em sinal de reconhecimento pela sua presença simples de doação. É assim, também, que nos é pedido para estar na peregrinação, de forma simples e de doação, dando o que temos e enriquecendo-nos com os outros. Foi, assim, mais um ano, com gratidão no que demos e no que recebemos. Com gratidão na experiência vivida e em todo o impacto que teve nos nossos corações. E tu? Queres caminhar connosco? Junta-te à nossa peregrinação.

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sementes do reino

“Luz para se revelar às nações” Texto | OSÓRIO AFONSO Foto | DR

Senhor, dai-me a força de anunciar com a minha vida Aquele que é luz e glória, e faz também com que eu contribua para que Ele esteja ao alcance de todos os povos

O texto que vamos meditar é uma concentração rica de duas apresentações: Maria e José apresentaram o menino Jesus ao Senhor no templo de Jerusalém, enquanto, dentro do templo, encontravam-se Simeão e Ana que, que por sua vez, apresentam o menino Jesus a toda a humanidade, àqueles que esperavam pela salvação, pois, aquele menino é “luz para se revelar às nações e glória de Israel”.

Leio a Palavra (Lc 2,22-40)

A cena está toda localizada em Jerusalém e mais precisamente no templo. Para os judeus, este é um lugar onde as esperanças messiânicas se realizam; um lugar de encontro com Deus através da oração e de sacrifícios. Maria e José encaminham-se para o templo, levando consigo o menino Jesus. Simeão também vai ao templo “movido pelo espírito Santo”, enquanto Ana nunca dele se afastava, servindo Deus noite e dia, com jejuns e orações”. Simeão, levando o menino em seus braços,

apresenta-O como aquele que foi posto ao alcance de todos os povos, como luz para se revelar às nações e glória de Israel”. Ana fala acerca do Menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém.

Saboreio a Palavra

Deus veio cumprir as suas promessas, e cumpre-as em favor dos pobres, dos chamados anawim, daqueles que se sabem abandonar nas mãos e projetos de Deus; aqueles que sabem ser perseverantes na esperança, tais como Simeão e Ana. Eles, como todos os anawins representam aqueles pobres de todos os tipos: os fracos, os marginalizados, os oprimidos, o povo das classes mais baixas sem nenhum poder terreno. Aqueles de quem São Lucas fala no seu Evangelho. Os anawins são guiados pelo Espírito Santo e são eles que incorporam os valores de brandura, simplicidade e humildade. São os missionários que apresentam o menino ao mundo, de maneira que o salvador esteja ao alcance de todos e seja para todos uma luz que se revela progressivamente. Enquanto Maria e José apresentam o menino ao Senhor, Simeão recebe deles o menino, que por sua vez o coloca nos seus braços e apresenta assim o menino ao mundo, como salvador e messias. Esta é a missão de cada um de nós.

Rezo a Palavra

Agora, Senhor, dai-me a força de anunciar com a minha vida Aquele que é luz e glória, e faz também com que eu contribua para que Ele esteja ao alcance de todos os povos.

Vivo a Palavra

Procuro receber Jesus nos meus braços e falar sobre Ele a todos os que anseiam e esperam a libertação. 28

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A palavra faz-se missão

FEVEREIRO

02 Pontos de luz

Festa da Apresentação do Senhor | Mal 3, 1-4; Hebr 2, 14-18; Lc 2, 22-40

Apresentado no templo por Maria e José, Jesus é percebido pelo velho Simeão como salvação e luz para todos os povos. As velas hoje benzidas, oferecidas e levadas em procissão significam a nossa vida como oferta e luz para o mundo. É a festa dos consagrados a Deus para serem sinais luminosos da Sua presença no mundo.

Que a nossa vida, Senhor, seja luz para quem vive nas trevas.

09 Identidade e missão

5º Domingo Comum | Is 58, 7-10; 1 Cor 2, 1-5; Mt 5, 13-16

“Reparte o teu pão com os esfomeados, dá abrigo aos infelizes sem casa, atende e veste os nus e não desprezes o teu irmão. Então a tua luz surgirá como a aurora e as tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se”. A caridade concreta cura, renova, dá sabor e ilumina. “Vós sois o sal da terra. Vós sois a luz do mundo”. O mundo precisa do nosso sal e da nossa luz.

Dá-nos, Senhor, o teu sabor e a tua luz para cumprirmos a nossa missão.

16 Um par de asas

6º Domingo Comum | Sir 15, 16-21; 1Cor 2, 6-10; Mt 5, 17-37

Os mandamentos da lei de Deus não são um colete de forças, mas um par de asas que elevam até ao céu. Todos se resumem no amor. Não basta cumprir, é preciso amar. É o amor que tem a última palavra, porque só ele dá sentido e valor a tudo o que fizermos. A nossa reconciliação com os irmãos é a oferta mais agradável ao nosso Deus.

Dá-me, Senhor, entendimento para guardar a tua lei e cumpri-la com todo o coração.

23 O nosso distintivo

7º Domingo Comum | Lev 19, 1-2.17-18; 1 Cor 3, 16-23; Mt 5, 38-48

“Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem”. O que nos distingue como filhos de Deus é o amor misericordioso com que amamos a todos sem distinção. Se perdoamos, elevamo-nos à altura de Deus, porque amamos com o seu coração de Pai. Amar os amigos é humano; amar e fazer o bem aos inimigos é divino.

Imprime em nós, Senhor, os teus sentimentos para amarmos a todos com o teu coração de Pai.

intenção missionária FEVEREIRO Rezemos para que o clamor dos irmãos migrantes vítimas do tráfico criminoso seja escutado e considerado É o jogo do gato e do rato. Mas o assunto é sério demais para se pôr nestes termos. De um lado, a “fortaleza” Europa a erguer obstáculos, sempre mais sofisticados, para impedir a entrada a ondas de refugiados que lhe batem à porta. Resultado: uma rede de campos de espera, em condições sub-humanas e degradantes que nos envergonham a todos. Do outro lado, à espreita como abutres esfomeados, os traficantes. Procuram furos nas barreiras e, a preços sufocantes, vão vender promessas aos desesperados: travessias do mar que não passam de armadilhas de morte. Com um cinismo calculado, levam a Europa a receber como náufragos aqueles que não quis aceitar como refugiados. É triste ver os traficantes a agir impunemente. Falta vontade política para os procurar e entregar à justiça. Os migrantes, seja qual for o motivo inicial da fuga, acabam vítimas nas malhas tecidas à volta da sua desgraça. LUÍS TOMÁS

DARCI VILARINHO

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Fátima Missionária

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o sul do planeta, batendo-se por uma justa cooperação entre as nações; cultura, usos e costumes dos povos, sociedade, religiões e missão da Igreja; divulgação de notícias de todo o mundo, com prioridade para os países menos desenvolvidos; formação para a mundialidade, e apoio a campanhas de solidariedade para com as minorias e grupos humanos mais desfavorecidos, designadamente refugiados e povos ameaçados de extinção. Fátima Missionária é propriedade da Dele­gação Portuguesa do Instituto Missionário da Con­so­lata. Não tem fins lucrativos, não tem vínculos partidários, nem é órgão oficial de qualquer instituição ou religião. Dirigida pelo seu diretor, equipa de redação e administrador, propõe-se colaborar com os órgãos de comunicação afins e com associações cujos objetivos sejam a defesa dos seus interesses e finalidades. Fátima Missionária compromete-se a res­­pei­tar os princípios deontológicos e a ética pro­fis­sional dos jornalistas, assim como a boa-fé dos leitores. Fátima Missionária é mensal e é distribuída por assinatura, vivendo exclusivamente da con­tri­bui­­­ção generosa dos seus assinantes, leitores e ami­gos.


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vida com vida

PADRE JOSÉ FASSINO

ESPIGA DOIRADA Texto | AVENTINO OLIVEIRA Ilustração | DAVID OLIVEIRA

José Fassino nasceu em 1902, no norte da Itália. Quando ainda garoto, nasceu no seu coração o desejo de consagrar a sua vida ao Senhor e ao povo da Nova Aliança. Entrou primeiro para o seminário diocesano, e em 1919 para os Missionários da Consolata. Dele, disse o mestre dos noviços: “O José tem uma piedade e uma obediência verdadeiramente simples, exemplares. Nas conversas, sabia expor as suas opiniões, mas evitava as discussões”. A coroar o seu desejo de missão, foi ordenado sacerdote no mês de junho de 1925, e logo depois destinado às missões da Abissínia, em África. A cerimónia da entrega do crucifixo aos missionários que com ele partiram foi a última celebrada pelo padre José Allamano – “uma cerimónia comovente, um presente de memória perene”. Na Abissínia, trabalhou na procuradoria das missões na capital de Addis Abeba, e em seguida nas missões de Bonga e Gouder. Gostava especialmente do seu trabalho com as crianças e os jovens da escola da missão. E, de repente, foi um dia tomado por um cansaço extremo e incompreensível. Do facto, assim escrevia o Superior da Missão ao Superior Geral, monsenhor Barlassina: “Ontem à noite, quando voltei para casa, encontrei o padre Fassino completamente exausto. Recebeu-me dizendo: ‘Esperava ansiosamente por si para receber a sua bênção antes de partir desta vida!’” E não era brincadeira, o que ele dizia. O médico diagnosticou uma pulmonite alarmante. O padre José recebeu os sacramentos do conforto para a sua última viagem, e enquanto os recebia “beijava sofregamente o crucifixo e invocava o nome da Virgem Consolata”. E no dia 14 de setembro, Festa da Exaltação da Santa Cruz, lá partiu ele para o Reino perene em que brilham as estrelas dos apóstolos. O padre Fassino tinha um caráter tímido, um tanto reservado, sem os arabescos dos temperamentos complicados. E, logicamente, foi um missionário humilde, mas um soldado em quem o Senhor podia pôr muita confiança. No campo da fidelidade aos deveres religiosos e sacerdotais era de primeira classe. Com uma serenidade invejável, seguia ele o seu caminho de discípulo que no Mestre apostara tudo o que era e tinha, para assim lhe poder apresentar os preciosos talentos que dele recebera, capital e juros. Na grande seara do Senhor, José foi uma espiga doirada, túrgida dos valores simples de quem acreditava e vivia a mansidão e a humildade do Senhor da messe. 32

Fátima Missionária


O QUE SE ESCREVE

O DOMINGO DA PALAVRA DE DEUS

COMO ENSINAR AS CRIANÇAS A CUIDAREM DA CRIAÇÃO DE DEUS

Uma obra que se compõe de reflexões, atividade e orações para catequistas e famílias. Inspira-se no ponto 211 da Carta Encíclica ‘Laudato Si’, do Papa Francisco, sobre o cuidado da Casa Comum: “É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias (…) até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias”. Autor: Mary Elizabeth Clark, ssj Páginas: 128 | Preço: 8,40€ Paulus Editora

ORANDO EM VERSO II

As palavras do Papa Francisco na carta Aperuit illis, com a qual ele estabelece o Domingo da Palavra de Deus, ajudam a entender a importância dessa ajuda pastoral. Uma ajuda às comunidades paroquiais e aos que se reúnem para a celebração da Eucaristia no domingo. Este subsídio procura ajudar a tornar a celebração eucarística um momento solene para redescobrir a alegria de celebrar o mistério da salvação.

Depois do primeiro volume de Orando em Verso, o autor reúne agora nesta obra uma série de poemas orantes escritos em diversos momentos da sua vida. Todos os poemas abordam temáticas religiosas. O autor indica que a receita da venda deste livro, (depois de retiradas as despesas), será totalmente entregue às Irmãs Clarissas do Mosteiro de Monte Real, tendo como finalidade ajudar a suportar as obras do Mosteiro que recentemente erigiram em Timor.

Autor: Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização Páginas: 95 | Preço: 4,90€ Editora: Paulus Editora

Autor: Joaquim Mexia Alves Páginas: 124 | Preço: 10,00€ Editora: Paulus Editora

REZAR A VIDA

A FESTA DO PERDÃO COM O PAPA FRANCISCO

É um livro para crentes e não crentes, que nos fala sobre o modo como a fé não depende de rituais e obrigações. Ela existe em cada um de nós e no quotidiano. O autor, sacerdote jesuíta, num registo próximo e emocional, aprofunda temas que nos tocam a todos. A família, a doutrina, o mundo em transformação, as relações com os outros, um olhar único que nos faz parar e pensar no lugar da fé na vida de todos os dias.

Neste volume, a Penitenciária Apostólica, servindo-se quase completamente das palavras do Pontífice, achou por bem apresentar uma ajuda para as confissões e para as indulgências. Por isso, são aqui dadas aos fiéis indicações claras sobre o que é a confissão, como se deve confessar, como se preparar para a confissão, os atos de contrição, sugestões para os confessores, e ainda o que são e como se obtêm as indulgências.

Autor: Paulo Duarte, SJ Páginas: 169 | Preço: 16,00€ Editora: Matéria Prima

Autor: Penitenciária Apostólica Páginas: 132 | Preço: 7,00€ Editora: Paulus Editora

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MEGAFONE

por albino brás

“O amor é a força mais poderosa para mudar o mundo” Isabel Allende, escritora

“De uma coisa eu tenho a certeza: Deus anda bem distante de muitos templos e batalhas que se estabelecem em nome Dele” Fábio de Melo padre, cantor, escritor

“Aqueles que não aprendem as lições da História, estão condenados a repeti-la” Hannah Arendt (1906-1975), filósofa e teórica política

“Não estou a aceitar as coisas que não posso mudar, estou a mudar as coisas que não posso aceitar”

“Nada nem ninguém morre se não a matas no coração” Fátima Lopes apresentadora de televisão

Angela Davis professora e filósofA

“Uma gota de “Quem é amigo só do seu amigo tinta pode dar muito que não torna propriamente pensar” o mundo melhor”

Tolentino Mendonça cardeal, teólogo e poeta 34

Fátima Missionária

Lord Byron (1788-1824) poeta


“Atreve-te a Seguir Jesus!“

PEREGRINAÇÃO

anos

da Beatificação de

José Allamano

DA FAMÍLIA MISSIONÁRIA DA CONSOLATA A FÁTIMA

15 | fevereiro | 2020 Programa

09h30 Concentração em frente ao Seminário da Consolata 10h00 Saudação do Superior Provincial aos peregrinos 10h15 Via-Sacra missionária nos Valinhos 12h15 Conclusão da Via-Sacra no Calvário Húngaro Tempo para o Almoço 14h30 Ensaio de cânticos na Basílica da Santíssima Trindade 15h30 Eucaristia na Basílica da Santíssima Trindade (Dom Diamantino Antunes) 17h00 Saudação e consagração a Nossa Senhora na Capelinha


Nas Noites de inverno Deitado, no escuro Escuto a chuva cair. O vento cantar. Noite de inverno, Sob a luz dançante das velas Meus pensamentos põem-se a voar. Deitado no escuro, Meu corpo repousa. Mas não estou no mesmo lugar. Navego num mar profundo. Um Timoneiro sem rumo No oceano do pensar. Daniel Kleiz

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Fátima Missionária


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