anuario lusocom 2012

Page 235

ANUARIO INTERNACIONAL DA COMUNICACIÓN LUSÓFONA

2012 235

Uma Estética sem Ética Catarina Moura - catarinamoura@gmail.com (Universidade da Beira Interior / LabCom)

Resumo À medida que a contemporaneidade expõe o paulatino esvaziamento do acto de criar e retira textura e contexto à compreensão do que foi criado, a cultura visual vê-se em risco de ser trabalhada a partir de sucessivas operações de cosmética destinadas a acrescentar valor económico a produtos fabricados para o mercado global. Nesse sentido, impõe-se descortinar se a dimensão estética nos remete apenas para aquilo que podemos alterar na superfície das coisas ou se, pelo contrário, ela trabalha (também) aspectos estruturais, revelando-nos algo mais profundo sobre o acto de criar. É inegável que a metamorfose de que o gesto tem sido alvo ao longo dos últimos séculos abre, na sua ligação à máquina, um número infindo de possibilidades criativas e produtivas. Ainda assim, pode igualmente ser sentida como uma ameaça não só à qualidade da expressão estética, mas também a um certo sentido de responsabilidade associado à proximidade, pois o mesmo gesto de pressionar uma tecla ou um botão tanto pode desencadear uma boa como uma má acção. A mesma aparente facilidade confunde a simplicidade do procedimento com a da acção que ele desencadeia, processo reforçado pelo facto de a experiência estética tecnologicamente mediada ser, tanto ao nível da produção como do usufruto, cada vez mais definida pela distância – o que, de certa forma, ao afastar-nos das consequências reais e tangíveis do nosso gesto, pode produzir uma ilusão de ausência de responsabilidade pelas mesmas. Se um dia pudemos encontrar um fundamento estético para a ética ao vermos a boa acção como parte do melhoramento do ser humano, é possível que tenhamos agora de concluir que a tecno-lógica traduz uma estética vazia de ética. Ou, eventualmente, apenas distanciada dela. Palavras-chave: Ética; Estética; Tecno-mediação; Cultura visual.

Abstract Confronted with the progressive emptiness of the creative act and with the impossibility to fully understand what has been created, our visual culture is at risk of being transformed through an uncountable set of cosmetic operations destined to increase the economical value of products made for the global market. Thus, it’s paramount to think about reality’s aesthetical dimension and its possibility to change the surface of things as well as what lays below, revealing something deeper about creation. There is no denial that the transformation of gesture throughout the last centuries opens an endless number of creative and productive possibilities in its connection with the machine. Nevertheless, that connection can also be sensed as a peril not only to the quality of aesthetical expression, but also to a certain sense of responsibility associated with proximity, since the same gesture of pressuring a key or a button can unleash a good (re)action as easily as a bad one. The same apparent easiness mistakes the simplicity of the procedure with the one of the action it allows, a process reinforced by the fact that aesthetical experience technologically mediated is, at a production as well as at a consumption level, increasingly defined by distance – which in a way, by setting us apart from the real and tangible consequences of our gestures, may induce an illusory absence of responsibility for them. If in the past we were able to find an aesthetical foundation to ethics by looking at a good action as part of human self-improvement, it’s possible that now we must conclude that techno-logic conveys an aesthetic empty of ethics. Or, eventually, just distanced from it. Keywords: Ethics; Aesthetics; Techno-mediation; Visual Culture.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.