Histórias da República - Sousa Fernandes

ano le ctivo

2010.1 1

3

Histórias da

República

um notável

famalicense

João Tomás Bernardino

&

Machado

&Sousa

Fernandes

&Nuno Simões& Narciso Ferreira

da capa ilustração Sofia Oliveira + Hugo Oliveira Didáxis

Riba d’Ave

da

Histórias República 3

João Tomás Bernardino

&

Machado

&Sousa

Fernandes

&Nuno Simões& Narciso Ferreira

um notável

famalicense

&

Machado

&Sousa

Fernandes

&Nuno Simões& Narciso Ferreira lectiv o 201 0.11

da

República

João Tomás Bernardino

Ano

ano le ctivo

2010.1 1

3

Histórias

nota do editor

Esta edição multimédia d’um notável famalicense das “Histórias da República”, ebook concebido com base nos projectos de design gráfico para a web desenvolvidos nas aulas por estudantes do Curso Profissional Técnico de Multimédia da Didáxis de Riba d’Ave, está ilustrada com caricaturas de Sousa Fernandes criadas com base em imagens que, depois de seleccionadas da Internet, resultaram nas composições gráficas que ilustram uma interpretação pessoal dos seus jovens autores das leituras de textos escritos pelos seus colegas de várias escolas do concelho de Vila Nova de Famalicão.

ficha técnica Título | Histórias

da República_3 // Sousa Fernandes,

e-book | Didáxis – Cooperativa

um notável famalicense

de Ensino Riba d’Ave

Editor | www.myebook.com Autores | Grupo de Trabalho

Web design | João Mota //

das Bibliotecas de Famalicão Direcção | António Pires // coordenador interconcelhio RBE Coordenação | Alice Costa // coordenadora da Biblioteca escolar da Didáxis de Riba d´Ave

Internet | Pedro Dinis // professor

professor do Curso Profissional Técnico de Multimédia

Capa, caricaturas e grafismo multimédia | Hugo Oliveira + Jorge Rodrigues + Rita Sousa + Sofia Oliveira // Estudantes da turma 1TM 10/13

do Curso Profissional Técnico de Gestão e Programação de Sistemas Informáticos Alojamento online | Estudantes da turma 2TI 09/12

Sousa Fernandes EB23 D. Maria II Texto | Alice Pinheiro + Bruna Silva + Francisca Oliveira // Estudantes da turma 6.C

“Um serão” com o 1.º presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão Didáxis – Cooperativa de Ensino Riba d’Ave Texto | Alice Costa // Professora Ilustração | Andreia Fernandes // Estudante da turma 2TM 09/12 Março 2011

6 alunos

dedicatória

aos nossos que sempre nos ensinam a ver e a agir com o coração, e a todos quantos acreditam que os pequenos gestos nos poderão guiar rumo à aventura

do

r e L Prazer , do

Saber.

e do

«

»

Os livros, para além dos heróis e dos príncipes encantados, têm coração e gostam de ser amados.

7

Serafim João

8

«

agradecimentos E porque acreditamos que este é um dos caminhos, torna-se indispensável agradecer àqueles que contribuíram para que este ebook seja uma realidade.

Sem eles, a ideia não passaria de um grupo de vontades ilegíveis em suas páginas.

A todos o nosso reconhecimento.

Alunos e professores das

Benjamim Salgado, Didáxis-

escolas/agrupamentos envolvidos:

Cooperativa de Ensino e Escola

Agrupamento de Escolas

Cooperativa do Vale S. Cosme;

Bernardino Machado, Calendário,

estudantes da turma 1tm 09/13 do

D. Maria II, Gondifelos, Júlio

Curso Profissional Técnico de

Brandão, Pedome, Ribeirão, Vale

Multimédia da Didáxis de Riba

do Este, Escola Secundária Camilo

d’Ave; Biblioteca Municipal de VNF;

Castelo Branco, D. Sancho I, Padre

e Didáxis, Cooperativa de Ensino.

“Histórias da República” não são apenas simples livros de histórias sobre famalicenses. É antes a história de um grupo de pessoas simples que encontrou amigos e vontades, decidiu cruzar ideias, uniu-as e tornou o projecto realidade.

Uma teia de histórias, sobre notáveis famalicenses, todas elas dedicadas ao prazer de ler. Uma tentativa de contribuir para a realidade que dá as mãos à leitura e nos conduz, inevitavelmente, a uma rede de partilhas em que o futuro de cada um se torna o futuro de todos nós.

» O privilégio de viver num mundo em que já tudo foi feito, não nos liberta de tudo fazer. E é urgente.

prefácio Entre escolas e agrupamentos de escola, todos inseridos no concelho de Vila Nova de Famalicão, cada um com a sua realidade, os alunos construíram histórias enriquecidas com caricaturas ilustradas pelos olhos de quem as leu: estudantes do curso Profissional Técnico de Multimédia.

Por tal, as histórias que aqui vamos encontrar foram tecidas no sentido de atenuar a fronteira entre o eu e o nós e abrir caminho para o sucesso e para um mundo sustentável também na leitura e na literacia.

Boas... leituras!

9

É mais um porto da viagem iniciada em 2009 pelas mãos do Grupo de Trabalho das Bibliotecas de Vila Nova de Famalicão.

ilus traç ão Rita S ou Didáx is

sa + Jo Riba d’A rge Rod rigue ve s

Durante a aula de História, o Bruno, pela terceira vez, interrompeu abruptamente a professora: – Como é possível que houvesse tantos republicanos em Portugal e nenhum fosse famalicense?

SOUSA FERNANDES

Foi BIOGRAFIA Administrador do nosso Concelho na 1.ª República

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A professora, com cara de quem acaba de ter uma boa ideia, dirige-se ao Bruno da seguinte forma:

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minhotos do seu tempo e dando início a uma educação auto-didacta.

– Em resposta à tua questão, sugiro-te que procures saber quem foi Joaquim José de Sousa Fernandes.

Aceitas este desafio?

O Bruno aceitou e, na aula seguinte, com o ar triunfante, apresentou à turma a seguinte biografia: – No ano de 1849, na freguesia de Mões, veio ao mundo um rapazinho a quem deram o nome de Joaquim José de Sousa Fernandes.

Com apenas treze anos e praticamente analfabeto, emigra para o Brasil, seguindo o destino de muitos

Começa por baixo, mas, rapidamente, passa de empregado a sócio do estabelecimento comercial onde trabalha, ganhando assim uma fortuna considerável.

Volta a Portugal, onde tem vários trabalhos e, em 1895, dirige e organiza a propaganda republicana, criando uma Comissão Municipal e lançando o jornal “ O

Porvir”, verdadeiro órgão de divulgação das ideias republicanas.

Em 1897, o nosso herói regressa ao Brasil. Esta viagem marcou o final da publicação do jornal “O Porvir” e da Comissão Municipal.

Após a revolução republicana de 5 de Outubro, Sousa Fernandes foi Administrador do Concelho de V. N. de Famalicão e Presidente da Câmara, o primeiro presidente republicano.

Neste último cargo fundou a Biblioteca Municipal “Camilo Castelo Branco”, a obra mais grandiosa do seu mandato e a que mais se projectaria no futuro.

Sem nunca se considerar um político profissional foi-se desiludindo com os sucessivos governos republicanos, sobretudo com a acção do Parlamento.

a professora, com um olhar bastante admirado, exclamou:

A cisão do Partido Republicano a nível local, afasta definitivamente Sousa Fernandes da política activa.

– Bom trabalho! Nunca pensei que o fizesses tão bem e em tão pouco tempo!

Só nutriu admiração pelo primeiro governo de Afonso Costa.

Nos últimos anos da sua vida dedicou-se à Casa Museu de Camilo, de que foi subdirector e director e onde pode demonstrar a amizade e grande admiração que sempre sentiu por Camilo Castelo Branco.

Continua sempre fiel às ideias da República mas

Terminada a apresentação do Bruno,

Transbordando de alegria, Bruno sentiu-se um verdadeiro sabichão.

Texto | ALICE PINHEIRO, BRUNA e FRANCISCA OLIVEIRA da turma 6.C SILVA

EB23 D. Maria II

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Candidatou-se à Assembleia Constituinte, tendo sido eleito pelo distrito de Braga.

Foi também eleito Senador, cargo que desempenharia até ao final da sua vida política.

muito crítico com a acção dos políticos.

Um SERÃO

o Pr Com o primeir Municipal de V

s ção ande ilustra Fern Ave a i e r ’ d And Riba xis Didá

mara residente da Câ ão VN de Famalic O frio, acomodado agora pelo aquecedor eléctrico, lembrava-lhe, mesmo assim, o crepitar na lareira da sua infância.

Luísa observava-a, cansada do silêncio daquele serão de sexta-feira.

Afinal, era o terminar de uma semana de trabalho, o início de um breve momento de descanso, até ao despertador de segunda-feira.

Rebolou pelo tapete já idoso e gasto e foi aconchegar-se aos pés da avó.

– Avó, avó, conte-me uma história!

A velhinha levantou uns olhos claros e doces até então presos no entrelaçado da malha.

Parecia feliz com o pedido da neta.

– Sabes, minha querida, estava a pensar que este é um ano especial.

Comemoramos o Centenário da implantação da República e …

A menina, entusiasmada, viu ali a oportunidade de mostrar que afinal também sabia e apressou-se a acrescentar: – Sim avó, temos falado nisso também na minha escola. Desenvolvemos actividades e estamos a fazer um trabalho para apresentar no final do ano. Aproveitamos até para pesquisar as várias iniciativas que estão a desenvolver-se e nas quais podemos participar!

Diz-me avó, que sabes tu dessa época?

– Ora escuta minha filha, esta é uma história feita de sonhos verdadeiros e da coragem e vontade de muitos homens. É uma bonita história!

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A avó continuava a tricotar. A chuva que caía intensamente trazia-lhe à memória os serões de outrora.

16 Joaquim José de Sousa Fernandes nasceu em 1849. Rapidamente se tornou um homem alto e robusto, iniciando a sua caminhada em busca de uma vida melhor, com apenas 13 anos. Tal como tantos outros, abandonou o país e emigrou para o Brasil em 1862. Aí, tornou-se comerciante e, em pouco tempo, conseguiu enriquecer.

Mas não se contentou com dinheiro. Foi muito mais além e, ainda no Rio de Janeiro, com muito esforço, enriqueceu o seu espírito tornando-se um autodidacta.

– Continua avó, estou a gostar! Parece uma história a sério!

– Um quê, avó?! – perguntou Luísa estranhando a palavra.

A avó explicou-lhe que Sousa Fernandes, tal como muitos outros homens da sua época, teve que investir profundamente na sua educação sem ir à escola e sem a ajuda de professores.

E assim conseguiu tornar-se presidente do “Retiro Literário Português” , uma associação de apoio à cultura. Mas isto foi apenas o início.

E a avó continuou, fazendo das suas recordações e vivências o mote de uma história de encantar.

– Rapidamente iniciou a sua carreira política ligando-se ao Partido Progressista; mostrava assim o seu espírito inconformado e liberal.

No final do Século, já em Portugal, continuou a investir na política e na cultura e criou uma Comissão Republicana e um jornal com a mesma ideologia, o “Porvir”.

– Mas diz-me avó, esse jornal tinha um nome estranho! Porvir?!

– Ah, avó, penso que já percebi! – disse a menina muito depressa – Tem a ver com a esperança, com a mudança…

– Em 1910 – continuou a avó – é implantada a República e este homem excepcional, torna-se Administrador do Concelho e o primeiro Presidente da Câmara Municipal da República e, mais tarde, Senador, representante do distrito de Braga no Senado da República até 1917.

Nesta altura abandonou definitivamente a vida política e dedicou-se ao tema camiliano, tornando-se subdirector e director do Museu de Camilo Castelo Branco.

Morreu em 1928, em Vila Nova de Famalicão, a terra onde nascera.

– Mas avó, a personagem da tua história é da nossa terra! Ela existiu mesmo ou é imaginação tua?

– E não sabes o melhor, Luísa! Foi este homem e o grupo que o acompanhou na oposição republicana em Famalicão que, unindo a cultura à revolução, inaugurou, em 5 de Outubro de 1913, a nossa Biblioteca Municipal.

As preocupações culturais que sempre manifestou, tiveram agora um grande contributo neste período de liderança política do concelho.

Sousa Fernandes, acompanhado de figuras importantes da literatura portuguesa, em 1912, implantou a legislação sobre bibliotecas produzida em 1911 e iniciou uma grande campanha com vista à doação de livros e verbas tendo-se assim constituído o fundo mínimo da actual Biblioteca Municipal, já então com Camilo Castelo Branco como patrono.

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– Luísa, porvir significa futuro…

18 – Que maravilha! – comentou Luísa que não se cansava de ouvir – E a população avó, o que achou da ideia?

– Sabes que grande parte da população não sabia ler nem escrever.

E, também por esta razão, houve gente, como o nosso herói, que se empenhou na divulgação e no acesso à cultura. Este momento não foi excepção e todos os cidadãos se empenharam: Júlio Brandão, Nuno Simões, Bernardino Machado, Eduardo de Carvalho…

Ainda hoje se comenta o impacto das críticas pela inexistência de apoio estatal que fizeram com que, rapidamente, a situação se invertesse e se tivesse conseguido um fundo bibliográfico de cerca de 2500 exemplares, nesta fase inicial.

Era já tarde mas Luísa não tinha ainda deixado derrubar-se pelo sono que rondava havia algum tempo.

Apesar do olhar da avó para o insinuante relógio de parede, recordação dos tempos da história, Luísa ainda replicou:

– Mas então, a escola em que ando está também ligada a estes acontecimentos! – exclamou a menina.

– Sim, Júlio Brandão, Nuno Simões, Camilo Castelo Branco são figuras que, de uma ou de outra forma, se ligam mais especialmente a esta fase.

Com os olhos já semicerrados e os cabelos ondulados pelos dedos da avó, Luísa embalou numa cantilena imperceptível que anunciava já uma noite de sono pleno.

Texto | ALICE COSTA professora coordenadora da Biblioteca da Didáxis de Riba de Ave Didáxis - Cooperativa de Ensino

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