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Cegos, surdos e mudos

José Monteiro

O facto de um alto responsável, ex-executivo da Uber, ter decidido por sua livre e espontânea vontade, entregar a um consórcio internacional de jornalistas de investigação, um volumoso dossier com 124 mil documentos altamente comprometedores, para muitos dos decisores que estiveram na forja da criação da legislação europeia e mesmo mundial liberalizadora desta e doutras plataforma digitais, permitiu que todos nós pudéssemos analisar com maior objetividade e clarividência todo o caminho pantanoso onde se moveram as plataformas e os políticos.

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Sabemos hoje, que houve tráfico de influências ao mais alto nível, sabemos hoje, que foram despendidos rios de dinheiro em todo este processo para lubrificar o sistema, sabemos hoje, que foram executados fatos à medida dos interesses envolvidos, sabemos hoje, que afinal os impostos sobre os lucros auferidos em Portugal são pagos na Holanda, e também sabemos que foi criada uma classe de motoristas nómadas que tanto operam no Porto como em Lisboa, e que sazonalmente se deslocam-se para zonas de maior afluxo turístico, nomeadamente o Algarve, aí permanecendo por largas temporadas em condições de habitabilidade muito questionáveis, tais como, viverem agrupados em camaratas, ou dormindo nas próprias viaturas, socorrendo-se dos balneários públicos para as suas higienes pessoais.

Uma vergonha, só não vê, lamentavelmente, quem não quer.

Foi criada pela nossa classe política a escravatura dos tempos modernos.

Tudo isto que veio a público, motivou a indignação dos profissionais de táxi europeus que se mobilizaram e organizaram com o apoio de catorze associações nacionais, entre as quais a Antral, numa grandiosa manifestação em Bruxelas, onde estiveram presentes, sempre bastante aguerridos e motivados, numerosos táxis franceses, espanhóis, italianos, suíços, ingleses, alemães e pasme-se até mexicanos e colombianos marcaram a sua presença, que culminou com um desfile a pé e com viaturas até à sede do Parlamento Europeu.

Nesta ação de protesto, só exigimos que se façam comissões de inquérito a nível europeu e nacionais, para averiguar todos estes processos de caráter dúbios e nebulosos.

Queremos saber se houve efetivamente corruptores e corrompidos, e quem foram, a que níveis houve tráfico de influências, e se foram utilizados meios tecnológicos para barrar as fiscalizações governamentais.

Não é muito, mas é urgente que todas estas questões sejam esclarecidas por quem de direito, para que assim a sociedade em geral, possa ser devidamente elucidada sobre todos estes processos.

Quero-vos também dizer que, estou profundamente convicto que o poder económico capturou o poder político, e pena é que a “Bocca della Verità” existente em Roma, que segundo a lenda era um detetor de mentiras, pois a mesma fechava-se quando nela eram introduzidas mãos de gente mentirosa, não funcione de verdade, pois assim iriamos ter oportunidade de ver muita gente maneta.

Acrescento ainda que, me causa muita estranheza o silêncio dos meios de comunicação social, quanto a este escândalo denominado de UBER FILES, e o facto da nossa classe política estar, conforme o título desta minha nota de abertura, cega, surda e muda nesta matéria, pois os mesmos só veem o que querem ver, ouvem o que lhes interessa e só falam daquilo que não os comprometa.

Saudações Associativas

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