WE'BIZ - MAIO 2015

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weZOOM › TEMA DE FUNDO Os doentes envolvidos têm em comum o interesse particular pela área da cozinha e da pastelaria, mas também a situação de desemprego. Sara de Sousa, terapeuta ocupacional que coordena o negócio, diz que mais do que a ausência de uma atividade profissional em causa está também o “isolamento social”. Por isso, a Doce Terapia é descrita pela responsável como “uma rampa de lançamento” e “uma luz ao fundo do túnel”. “É um projeto que pretende assegurar a valorização pessoal e profissional de pessoas com doença mental”, complementa, dando nota de que, além da venda de bolos, há uma aposta crescente no serviço de catering.

Terapia com o trabalho num outro bar do Hospital de São João, neste caso, aberto ao público. Trata-se de um trabalho em regime de voluntariado, mas Sara de Sousa não tem dúvidas de que estão dados os passos rumo à inserção no mercado do trabalho ou até quem sabe ao mundo dos negócios.

O bar da Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar do São João está também a cargo da Doce Terapia. Aliás, este espaço funciona não apenas como base de trabalho, mas também como teste ao enquadramento profissional, com a vantagem de se tratar de um ambiente que Sara de Sousa descreve como “protegido”, devido ao facto de ser frequentado maioritariamente por utentes e profissionais da clínica. Foi exatamente aí que um dos exemplos de sucesso da Doce Terapia começou. Entre os vários casos, que abrangem inclusive pessoas com doença mental grave (as chamadas psicoses), há um que se destaca: falamos de “uma senhora com perturbação de comportamento alimentar, nem de propósito”, afirma a coordenadora do projeto, dando conta de mais um dado inesperado. Hoje, recuperada de uma anorexia, e depois de um treino diário no bar da clínica, a utente de que falamos concilia a prestação de serviços para a Doce

Quando questionamos a terapeuta ocupacional sobre essa possibilidade, ou seja, a reintegração dos doentes via criação do próprio emprego, ela não esconde a convicção e o entusiasmo: “isso era o ideal, é o que nós gostaríamos que acontecesse”, afirma. E é precisamente por esse motivo que a terapeuta ocupacional revela que o próximo passo é a formação certificada. “Isso permitirá que os utentes fiquem com maisvalias acrescidas, do ponto de vista curricular, para além da experiência que levam com o projeto. Será um passo importante para que depois avancem profissionalmente nessa área e sejam empreendedores”, afirma. Sara de Sousa diz ser muito recompensador assistir à forma como as pessoas com doença mental mergulham no projeto e “vestem o papel” que lhes é sugerido como desafio. Mas ousa admitir que mais surpreendente ainda é “o impacto que o projeto tem nas pessoas que o procuram”. Um impacto que vai de encontro ao posicionamento que a Doce Terapia ambiciona conquistar: a afirmação de um projeto de doces, que prima pela qualidade do produto e do serviço prestado. “Queremos contrariar o estigma da doença mental e não queremos que as pessoas recorram ao projeto apenas por solidariedade”, afirma a coordenadora do projeto.

A Doce Terapia é um projeto que pretende assegurar a valorização pessoal e profissional de pessoas com doença mental, através da confeção de bolos e outros produtos de pastelaria

O que mudou? O Doce Terapia trabalha a autoestima dos doentes mentais e promove a reintegração social e profissional, assim como a capacitação para futuras atividades empreendedoras.

Desafios principais? Combater o estigma da doença mental na sociedade, proporcionando serviços que primam pela qualidade e não pela causa social em si.

Vantagens do contexto anterior Alice Pinto e Maria João Vieira no bar da Clínica de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital de São João 24 WE’BIZ Maio 2015

Neste caso, a terapia e a execução dos primeiros serviços em regime protegido, no interior do hospital, são a principal vantagem para a autonomização dos empreendedores que materializam a oferta da Doce Terapia.


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