Angola'in - Edição 05

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De Moçambique para o mundo

Licença para fotografar

— Sou fotógrafo e amo o que faço!!! Poucas palavras e tanto dizem sobre o nosso entrevistado. Mauro Pinto é o vencedor da 8ª edição do Prémio BES Photo 2012. Homem de poucas palavras prefere transmitir o que sente e a forma como vê o mundo através das suas fotos. “Dá Licença” é um conjunto de fotografias que entre Novembro de 2011 e Janeiro de 2012, Mauro Pinto tirou no Bairro da Mafalala, em Maputo e com as quais concorreu e venceu o BESPhoto 2012.. “O que desenho nesta proposta não é um mapa, não são apenas linhas topográficas desse tecido urbano, demarcando limites (outrora coloniais), entre a “cidade de cimento” e esta outra, de origem temporária, com seu pulsar sujeito à especulação imobiliária. O que trago para aqui é uma certidão de nascimento narrativa, pessoal e coletiva. É uma árvore genealógica descrita nestes móveis, nesta luz, nestas bugigangas, pertencentes a estes negros, mestiços, emigrantes, imigrados, resistentes. Dá licença passa assim a ser uma interjeição positiva para iniciar um relato e afirmar uma existência”. As palavras

são de Mauro Pinto, os sentimentos, esses, espraiam-se por quem vê as suas imagens. Mauro Pinto (1974) nasceu em Maputo, onde vive e trabalha. Dos primeiros contactos com o fotógrafo português Alexandre Júnior, durante a sua adolescência, surgem as primeiras experiências no domínio da fotografia, tendo a sua atividade crescido e marcando presença em diversas exposições.

O lado humano da arte

O seu mais recente desafio foi a participação no BESPhoto 2012. “Está nomeação foi muito especial para mim e um desafio tremendo, pois sabia que estaria a concorrer com grandes artistas! Tudo que surge nas nossas vidas de novo é sempre bom e motiva-nos a fazermos sempre mais e melhor”, afirma Mauro Pinto, explicando a seguir o

porquê deste conjunto de fotografias premiados no Concurso BES. “Quando tirei estas fotos entrei nestas casas. São casas que têm uma transparência humana e social, de que todos nós moçambicanos fazemos parte, com uma ligação histórica. Este título também foi e é um reconhecimento deste importante bairro de Moçambique. Para abordarmos alguém com respeito e dignidade entramos assim, e assim mantive esse respeito por tudo o que somos. Este prémio foi o reconhecimento do meu trabalho”. E o júri do BESPhoto 2012 deu licença e premiou esta obra com o primeiro lugar do concurso. Na opinião do Jú-

ri, a escolha “resulta da forma como esta série revela a entrega do artista à realidade das pessoas que habitam os espaços aqui retratados, ao mesmo tempo que transmite uma perspetiva histórica e sociológica da realidade contemporânea moçambicana através deste bairro da capital. Sem artifícios na sua essência, a consistência da apresentação do trabalho de Mauro Pinto foi um fator decisivo na escolha do vencedor. ” Numa época em que a fotografia se democratizou, o nosso entrevistado garante que: “não temos como evitar a velocidade do Mundo, mas podemos entrar com consciência, persistência, trabalho e valores! A fotografia é uma forma especial de vermos o mundo, talvez por isso atraia tanta gente”. Quando lhe pedimos para nos falar do seu trabalho enquanto fotógrafo, Mauro Pinto, o homem que se define pelos silêncios das imagens disse apenas “tenho dificuldade em falar do meu trabalho, mas posso dizer que faço parte de uma sociedade e sou humano. O contraste que o mundo vai criando faz de mim o fotógrafo que sou.” E é nesse assimilar de novas realidades que o fotógrafo quer delinear o seu futuro “Tenho vários trabalhos pensados, para além dos que surgem todos os dias. Faço parte de uma sociedade que vou sentindo a e vivendo intensamente e que me leva a dizer que sempre tenho algo a fazer.”

“O contraste que o mundo vai criando faz de mim o fotógrafo que sou.”

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