REMAKE

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RE MA KE ano I - número I

Cavaleiros do zodíaco recebe nova linha de colecionáveis Lembra do Plano Real? Pois é, ele aconteceu mesmo.

Ombreiras, cabelos e flúor a volta dos anos 80 na moda contemporânea



O que temos aqui? 23 >> A moda dos anos 80 05 >> Bonecos do Zodíaco 36 >> Um Real para todos governar

O que mais? POGOBOL 06 Game Boy 07 Brinquedos nostálgicos 08 1990, animes e tazos TELINHA 09 Cinema Boca do Lixo 10 80’s e o cine pós moderno 12 Animes oitentistas VINGANÇA DOS NERDS 13 Ser nerd é ser cool 14 Moda nerd 16 Fantástica literatura 18 Star Trek CURTINDO A VIDA ADOIDADO 21 Entretenimento nos anos 80 22 Rock and Roll all night 24 Geração saúde BOOMBOX 25 O grunge e os 90’s 26 Embalos de Sábado à noite 27 A música de hoje é a música de ontem 28 Praia, Sol e Rock in Rio ACONTECEU 29 Ainda lembramos de vocês 32 Eterna Lady Di 34 Berlim e seu muro


Um recorte dos anos 80 e 90 Os anos 60 foram dos rockabillies. Os 70, dos hippies e da brilhantina. Mas e 1980? Pior ainda, a conturbante década de 90? O que esses anos significaram para as pessoas? É difícil responder a essa pergunta com clareza e objetividade, ainda mais com a imparcialidade necessária no jornalismo. Os anos 80 e 90 diviram pessoas, uniram indivíduos e revolucionaram tendências. A época, na política, foi difícil. A princesa morreu, o Real assustou e o socialismo deu o lugar a uma nova lógica, com a queda do muro de Berlim. A música mudou drásticamente. O embrião do rock cresceu e tomou forma de gigante. Não era mais som de jovens rebeldes, mas um reflexo do comportamento. Bandas como Nirvana, Guns n’ Roses, Pearl Jam, Joy Division, Michael Jackson, Madonna... todas com suas peculiariedades e diferenças misturadas em

um caldeirão musical que influenciou a moda, o comportamento e, principalmente, o pensamento do jovem. O entretenimento também teve suas diferenças dos anos anteriores. Nunca antes houveram tantas manifestações de fãs de filmes e séries de TV. Grupos se reuníam para celebrar, quase como uma religião, os lançamentos de filmes como Star Wars. A revista Remake tem o intuito de trazer de volta — sendo com nostalgia, homenagem ou uma simples lembrança — a onda que foram essas décadas. Trazemos um recorte da grandiosidade cultural da época. Os textos foram produzidos por jornalistas que, em sua maioria, viveram a época ainda na infância, o que traz as lembranças menos claras, porém com mais emoção. Lembre-se, recorde e emocione-se também com nossa jornadas pelos anos 80 e 90.

Expediente Chanceler Profª Alzira Altenfelder Silva Mesquita Reitor Prof. José Christiano Altenfelder Silva Mesquita Pró-Reitor de Graduação Prof. José Reinaldo Altenfelder Silva Mesquita Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação Prof. Drº Alberto Mesquita Filho Pró-Reitoria de Extensão Prof. Lilian Brando Garcia Mesquita Diretor da Faculdade de LACCE Prof. Rosário Antonio D’Agostino Coordenador do Curso de Jornalismo

Prof. Anderson Fazoli (MTB 15.161) Jornalistas Responsáveis Prof.Sérgio Sanches (MTB 16.338) Profª Iêda Santos (MTB 31.113) Revisão Prof. Daniel Paulo de Souza Projeto Gráfico Profª Iêda Santos Supervisão Gráfica/ Capa Profª Iêda Santos Redação Alunos do 4ºACSNJO D3 Impressão Folha Gráfica (11) 3224.7667

As matérias assinadas não representam, necessariamente, a opinião da Universidade.

editorias Aconteceu Aline Prado Daniel Lopes Juliana Caldas Thomas Shikida

Pogobol Anderson Costa Bruno Raphael Fábio Assunção Wellington Hokama

Boombox Amanda Braga Angelo Dias Jéssica Marques Lis Assis

Telinha Nariana Moraes Camilo Vitória Flávia França

Curtindo a Vida Adoidado Felipe Casas Leandro Medeiros Vanessa de Assis Thaís Vannucci

Vingança dos Nerds Carla Cavalcante Fabiana Cavalcante Kléber William Laís Tarifa Tatiele Rodrigues


pogobol Bruno Raphael

Uma franquia que se renova constantemente Série televisiva mostra novos produtos no mercado e causa nostalgia nos brasileiros

Aioria de Leão: Figura de ação da linha Cloth Myth EX Por Bruno Raphael

Cavaleiros do Zodíaco foi o desenho que marcou a época de várias crianças durante a década de 90. A série foi exibida e reprisada pela extinta Rede Manchete durante o ano de 1994 até 97. O mercado foi invadido com produtos originais que variavam das fantasias da Sulamericana, chaveiros, roupas, produtos escolares até os famosos bonecos produzidos pela bandai que eram importados e vendidos nas Lojas Americanas e outras mais especializadas.

O fato é que Cavaleiros do Zodíaco é uma série com alto valor comercial, logo, feita para vender bonecos. No tradicional bairro da 25 de março, praticamente todas as lojas ou mesmo os camelôs tinham alguma figura de ação que chamava a atenção das crianças e dos pais aflitos com os preços. Nos colégios, haviam crianças que levavam alguma coisa com a intenção de exibir para os colegas. O mais comum era o álbum de figurinhas e os bonecos articulados. Os meninos mais brincavam com

eles do que faziam as lições. Na hora do intervalo, a brigava rolava solta literalmente. Isso porque era uma disputa para ver quem seria tal personagem do desenho e as simulações das lutas da série, regadas a socos e chutes que faziam alguém chorar e arrumavam problemas para os professores. Para o estudante Daniel Mathias Diniz, aquela época marcou ouro. “Nunca fui tão chegado nos bonequinhos, mas brigar de lutinha com o pessoal era a melhor parte do dia. Sempre queria ser o Shiryu e dar um ‘Cólera do Dragão’ no estômago de alguém”, diz. Curiosamente o suposto nível de “violência” que o desenho apresentava e era alto para a época, não impediu que a série desse bons resultados no Brasil, diferente de Portugal, onde foi encerrada prematuramente. Após 19 anos desde a primeira exibição no Brasil, Cavaleiros do Zodíaco continua um negócio rentável ao redor do mundo. A linha clássica dos bonecos deu lugar para a Cloth Myth, figuras de ação maiores, com mais detalhes e pontos de articulação. Esse item em especifico é cobiçado por colecionadores que esperam ansiosamente por novos lançamentos da empresa Bandai.

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Para o estudante Rafael Einstein de Oliveira, os bonecos são legais, mas ele não demonstra interesse imediato em comprar. “Legal a quantidade de detalhes dessas figuras, mas elas são caras demais. Não é todo mundo que tem R$200 ou mais para comprar uma. Talvez algum dia, quando o preço baixar, comprarei o boneco do cavaleiro do Saga de gêmeos, que é o meu signo”, comenta. A linha Cloth Myth convencional pode estar com os dias contados, pois a Bandai começou à fabricar a versão EX dessa linha. Os novos bonecos apresentam mais detalhes e pontos de articulação, além de praticamente toda armadura ser composta de metal, acompanham algumas peças de efeito que simulam os principais golpes dos cavaleiros. Inicialmente estão previstos lançamentos dos 12 cavaleiros de ouro e dos cinco de bronze. No bairro da Liberdade em São Paulo, colecionadores podem encontrar as versões EX de Mu de áries, Saga de gêmeos, Aioria de leão, Shaka de Virgem e Aioros de sagitário. Também pode-se encontrar dvd’s da série clássica e das “paralelas” Ômega e Lost Canvas.


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Game Boy provoca efeito nostálgico em jogadores Console da Nintendo marca época e deixa saudades nos corações dos ‘novos adultos’ Por Wellington Hokama

Quem não se lembra do Game Boy? Um videogame portátil criado pela Nintendo, na final da década de 1980, e que fez sucesso no Japão e no mundo com os baixinhos, que levavam o aparelho para a escola, para a casa de parentes, em passeios de carro e também no bolso, tamanha a facilidade de locomoção. Simples, com um processador de 8 bits, tela a preto e branco, além de eficiente, com duração das pilhas de até 20 horas consecutivas, sua evolução estética e tecnológica só foi acorrer após 8 anos de estudos. O desenvolvimento passou por Game Boy Pocket (1996), Game Boy Light (1997), Game Boy Color (1998), Game Boy Color Pikachu Edition (1998), Game Boy Advance (2001), Game Boy Advance SP (2003) e Game Boy Micro (2005). O

estudante Marcelo Lira não perdeu nenhuma versão produzida. “Nunca deixei de gostar dos consoles da Nintendo, tenho todos os modelos e guardo as caixas também, assim como os manuais de instrução. Eu esperava que fosse lançado um novo modelo e comprava o antigo, que ficava mais barato”, afirma. Depois de começar com um simples Tetris, um jogo de empilhar blocos que já vinha na memória do minigame, a principal brincadeira eletrônica da época foi Super Mario Land, sucesso em todos os consoles da companhia japonesa. Fanático por tecnologia, Alexandre Satoshi recorda de seu jogo preferido. “Nunca enjoava. Antes eu tinha poucos games e jogava intensamente. Perdi a conta de quantas vezes ‘salvei’ o Super Mário. Hoje compro

vários estilos de jogos e não curto todos. A era do consumismo exagerado atrapalha”, revela. De acordo com o cientista da computação e programador de jogos, Gabriel de Paula Santos, apesar do baixo recurso tecnológico do passado, a nostalgia é inevitável. “Pode ser o melhor game do mundo, mas se tiver poucas cores ou péssima qualidade gráfica, não adianta nada. O som também é fator importante. São detalhes que fazem a diferença no poder de imersão dos jogadores, que sentem saudades da infância. As novas tecnologias chegaram para serem exploradas ao máximo e a comunidade gamer agradece”, analisa. Santos explica que os produtores de vídeogames descobriram o que era essencial para atrair a garotada da época. “A criança quer cada vez mais. Os produtores

de jogos buscam um encanto ininterrupto e é isso que demanda mais trabalho. Tudo precisa ser bem integrado, já que uma falha pode estragar todo o planejamento. A invenção de um vídeogame portátil como o Game Boy revela o consumismo exagerado que evoluiu com o passar dos anos”, conclui. Para o estudante Willian Antônio, a saudade é encarada com alegria. “Lembro que meus pais passavam por dificuldades na época, mas mesmo assim, ganhei um Game Boy Color de presente de aniversário. Era um aparelho cobiçado por todas as crianças e eu fico feliz de ter participado dessa época e brincado com uma inovação tecnológica em minha infância. Foi uma surpresa ter um mini videogame aonde você quiser”, finaliza. Wellington Hokama

Do Game Boy “tijolão” ao “Advance”: Diversão garantida entre várias gerações e sucesso absoluto desde 1989


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Distrações nostálgicas apresentam variadas funções Sucesso que durou vinte anos, o “Pense Bem”saiu de linha mas, continua vivo na memória Por Fábio Assunção

Brincar era e é um costume que perdura com as crianças, desde muito tempo. Mas, nos anos 80 e 90, a inclusão da tecnologia potencializou o mercado de entretenimento brasileiro. Uma das fabricantes de distrações infantis, era a TecToy, que distribuía também jogos e consoles da marca Sega. Entre as diversões educativas, havia um passatempo que auxiliava as crianças a ter suas primeiras lições de matérias básicas da escola. Surgia, então, o Pense Bem. Na primeira versão, a base era simples. A pessoa, no momento da aquisição, recebia um livro que continha perguntas e respostas que estavam na memória. Essas indagações eram respondidas, com os botões A, B, C e D, caso fossem extraídas do livro. No caso de contas matemáticas, números poderiam ser pressionados, de zero a nove. Se a questão estivesse correta, emitiam um pequeno sinal sonoro característico. Além deles, também se faziam presentes algumas notas musicais. Podia-se tocar uma canção. O desenvolvedor do Pense Bem Online, um similar do original, Leandro Pereira, conta que a propaganda tinha como elemento princi-

pal atrair as crianças. divertimento, de este nostálgicos, um sen“Elas eram suficientes ser o primeiro compu- timento de volta ao para convencer o pai a tador de pessoas oiten- passado. O gerente pensar que era ‘mais que tistas e dos anos 90, por comercial Manoel Júum brinquedo’, como não ter expansões ou nior revela que, no dizia o slogan”, diz Pe- ser um comum. “Ele foi passado, era fissurado reira. Ele ainda ressalta lançado no final da dé- no eletrônico da Tec que os livros-pergunta, cada de 80, quando os Toy. “Ah, é claro que que tinham como tema, processadores de dados me lembro de brincar pessoas famosas como já eram difundidos. Na muito com o Pense Ayrton Senna e games época do lançamento, Bem . As teclas de vácomo Street Fighter, eu, por exemplo, tinha rias cores, o barulhitambém se faziam úteis, um Gradiente, de 8-bits, nho de resposta certa, ao chamar a atenção de da linha MSX, padrão os livros que vinham meninos e meninas. japonês”, relata Pereira. juntos. Foi uma ótima Pereira discorda Além de possuir infância”, relembra que o produto mostrava todas essas capaci- o gerente comercial, caráter educativo e diz dades, o divertimen- que dizia passar horas que o ato de ensinar vai to ainda é capaz de a brincar com o diveralém das funções pre- despertar nos mais timento dele. Divulgação sentes. “Educação é mais do que apertar botões e ouvir uma musiquinha para dizer se você acertou ou errou”, afirma ele. O desenvolvedor complementa e diz que o Pense Bem somente ensina a não falhar e que não há produção de conhecimento, já que, a criança pode saber por exemplo, com os livrosexercício, qual a resposta correta pelo método de tentativa e erro. Isto porque, o brinquedo é baseado em diversas respostas simples. Na opinião Uma diversão que marcou época, principalmente nos anos 80 e dele, não se pode 90, o Pense Bem atraía por ter personagens famosos e cores. dizer quanto ao


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Tazos e animes se desenvolvem na década de 90 Brindes portáteis com personagens famosos dos desenhos animados viram febre no Brasil Por Anderspn Costa

Conhecidos como POGs nos Estados Unidos, os Tazos marcaram a infância nos anos 90. O boom dos desenhos japoneses na rede aberta impulsionou uma sucessão de campanhas da ElmaChips para alavancar as vendas de salgadinhos que continham brindes no formato de discos plásticos com as imagens dos personagens animados que apareciam na TV aberta e fechada. Os dois formatos utilizados nas séries “Looney Tunes” e “Tiny Toon” eram simples, apenas com a figura impressa do personagem e um logotipo da série. O Magic Tazo, mais raro, possuía uma figura holográfica que mudava conforme a sua posição. A série “Animaniacs” veio em seguida com o estilo Arma-e-Voa, dotada de cavidades ao redor do disco que serviam como encaixe para a formação de estruturas e uma

borda pontiaguda para o lançamento de mais tazos. Alguns anos depois, com a estreia do desenho “Yu-Gi-Oh”, surgiram os Metal Tazos, feitos de alumínio e com uma maior resistencia. Na mesma época dos tazos Arma-e-Voa, surgiram os GiganTazos do desenho “O Máskara” (com o dobro do tamanho dos tazos comuns) e um acessório que, apesar de ser oficial, causou controvérsias entre os pequenos. O analista de sistemas Diego Marques afirma que a vida do Pega-Tazo foi curta. “Ele era feito de um material gelatinoso que grudava nos tazos. Muita briga aconteceu nas escolas por fulano trapacear no bafo com esse treco. Os próprios alunos proibiram o uso durante a época”, conta. A última moda brasileira que obteve uma repercussão de escala similar foi a venda

de minicards não-oficiais do desenho “Yu-Gi-Oh”. Comercializadas em bancas de jornal com preços que variavam entre 10 e 15 centavos, as cartinhas eram versões em miniatura do material original, utilizado em torneios nas feiras de anime e com valor médio de R$ 40. Dotados de criaturas bizarras e estatísticas a serem comparadas ao melhor estilo Super Trunfo, a criançada aproveitou enquanto o desenho passava nas manhãs da Rede Globo. O fim da série esfriou a moda. Agora, com os recursos da internet, é comum o uso de códigos promocionais que o usuário lê no pacote de salgadinhos e envia por torpedo SMS para concorrer a prêmios. Essa ideia inspirou a rede brasileira da Elma Chips a combinar os dois recursos. Para promover o filme “Os Vingadores”, os códigos digitados eram salvos em

um perfil que a criança fazia no site da campanha “Super Tazo LIVE”, similar à rede social Facebook. Cada código revelava um tazo digital e o jogo acontecia da mesma forma que o antigo, porém de forma virtual. A empresa Rovio, responsável pela franquia “Angry Birds”, aproveitou o sucesso de vendas do jogo nos computadores e smartphones para firmar uma parceria com a Elma Chips mexicana. O resultado foi a criação dos VuelaTazos, que combinam as características dos tazos brasileiros com materiais mais resistentes. O eletricista Rodolfo Pereira torce para a moda emplacar. “A única coisa que falta pra isso dar certo aqui no Brasil é a participação das empresas de games. Os desenhos enfraqueceram”, conta. Resta saber se esta moda conseguirá voltar para a sua antiga forma física. Anderson Costa

Os tazos fizeram parte da diversão de crianças durante a década de 1990, principalmente em disputas acirradas nas escolas


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Filmes da Boca do Lixo relembram o sucesso do cinema em São Paulo

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O período em que foram filmados ficou conhecido como época de ouro do cinema nacional Reprodução

Cena do filme Oh! Rebuceteio dirigido por Claudio Cunha. Por Camilo Vitória

Em São Paulo nos anos 70 o cinema era forte comercialmente. As salas da cidade reuniam grandes multidões e as produções nacionais tinham grande destaque nesse mercado. Por causa da ditadura, os filmes passavam por uma breve censura e só eram liberadas as produções que tivessem conteúdo cômico ou que possuíssem apelo popular. Com essas características, as únicas produções que se davam bem eram as feitas nos moldes da pornochanchada. Na década seguinte, houve uma explosão de filmes nacionais com temática sexual, chegavam a representar 80% das produções. Nesse período, surgiu no centro de São Paulo um segmento novo da pornochanchada conhecido como “Boca do Lixo”, que se caracterizava por ter produções com custo baixo e cenas que misturavam comédia, drama e ação com cenas de forte apelo pornográfico, que eram o atrativo maior dos filmes. O diretor e produtor de cinema, Hércules Breseguelo, afirma que a Boca do Lixo tentava se diferenciar da pornochanchada. “O que a Boca fazia era misturar principalmente comédia com erotismo explícito. A pornochanchada costumava ter em seu conteúdo cenas de sexo implícito, que não chegavam a mostrar os detalhes do ato”, diz ele. Os filmes dessa época eram sucesso de bilheteria, tanto que alguns produtores mais famosos como David Cardoso, Juan Bajon e José Mojica,

chegaram a faturar valores consideráveis com o rendimento das bilheterias. Segundo o ex roteirista, Gabriel Marques, alguns filmes fizeram muito sucesso. “Os diretores não chegavam a ficar ricos, mas a repercussão era grande. O filme Mulher Objeto do Silvio de Abreu, teve 2 milhões de espectadores”, afirma. A Boca do Lixo também ficou conhecida como uma região no centro da cidade de São Paulo onde hoje é denominada região da Luz. Naquela época era comum que grandes produtoras e cinemas se instalassem nessa localidade, onde envolvia o quadrilátero entre as ruas Triunfo, Aurora, Vitória e avenida Rio Branco, mas área de abrangência chegava até a região do Baixo Augusta. A decadência da Boca do Lixo veio junto com o fim da ditadura militar. Após o regime, os filmes pornográficos de sexo explícito de origem norte americana voltaram a ser liberados, o que fez com que filmes da pornochanchada ficassem inibidos perante ao grande público. O capítulo final da Boca do Lixo se deu no início dos anos 90, quando o presidente Fernando Collor decidiu reduzir a verba para produções cinematográficas nacionais. Divulgação

Capa do filme Neurose Sexual gravado no ano de 1986.


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Anos 80: a era do cinema Pós Moderno Por Flávia França

É possível definir o cinema dos anos 80 em um termo? Sim. Pós modernismo. A década destacou-se pela reciclagem de gêneros cinematográficos conhecidos que promoveu a releitura inventiva que consagrou definitivamente nomes como Martin Scorsese, Steven Spielberg, George Lucas, Brian de Palma, Lawrence Kasdan e Francis Ford Coppola, entre muitos outros. A ficção-científica foi o gênero mais cultuado e ganhou o status “Pop” graças a filmes que se tornaram paradigmas, como as sequências de “Guerra nas Estrelas”, “O Império Contra-Ataca” (1980) e “O Retorno de Jedi” (1983), um passo então inédito em termos de efeitos especiais, e sobretudo Blade Runner, de Ridley Scott. Este filme, estrelado pelo ator-ícone do período, Harrison Ford, é a obraprima pós-moderna. Em um original ambiente futurista, em que tecnologia e mas-

sificação se sobrepõem, Ridley Scott, a partir do romance de Philip K. Dick, recicla os estereótipos do filme noir num thriller eletrizante que mostra ser possível filosofar em filme de ação. É, definitivamente, um filme obrigatório. Os anos 80 também consagraram as sagas. Além de Guerra nas Estrelas, outras trilogias marcaram época, como Indiana Jones e De Volta para o Futuro (um título que expressa bem o clima dos 80). Spielberg mere-

ce um capítulo à parte. Além de reciclar os antigos seriados das matinês com “Os Caçadores da Arca Perdida” (1981), “Indiana Jones e o Templo da Perdição” (1984) e “Indiana Jones e a Última Cruzada” (1989), dirigiu outro clássico da década, um filme absolutamente encantador, que impulsionou uma série hoje comum de filmes infantis feitos para encantar os marmanjos. Bom, só quem foi abduzido nos 80 não viu “E.T. - O Extra-Terrestre” (1982) e o seu revés em forma de sátira “Gremlins” (1984), dirigido por Joe Dante e roteirizado por Chris Columbus, que em 1986 dirigiria o divertido “Os Goonies”. Outros gêneros passaram pelo processo de reciclagem pós-modernista. Coppola voltou-se para a rebeldia sem causa, típica dos anos 50 e 60, e

promoveu ao estrelato uma geração inteira em “Outsiders - Vidas sem Rumo” (1983). Só para lembrar: Matt Dillon, Ralph Macchio, Patrick Swayze, Rob Lowe, Emilio Estevez e Tom Cruise. Coppola viajaria ainda literalmente no tempo no delicioso “Peggy Sue - Seu Passado a Espera” (1986), seu filme mais leve, que se encaixa na linha ‘de volta para o futuro’. Brian De Palma aprofundou seu mergulho hitchcockiano em “Vestida Para Matar” (1980) e “Dublê de Corpo” (1984), mas marcou ponto mesmo com a reinvenção do filme de gangster “Os Intocáveis” (1987), seu filme mais ambicioso. A onda hoje sedimentada de projetos inspirados em histórias em quadrinhos foi promovida na década, com destaque para Superman, cuja tetralogia

Matthew Broderick demonstra como matar aula com a cara dos Anos 80: cantando “Twist and Shout” em cima de um carro durante uma parada alemã


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Henry Thomas como o pequeno Elliot em uma das cenas que marcou o cinema da década: Elliot e E.T. voando em uma bike

teve três de seus filmes rodados em 80: “Superman II - A Aventura Continua” (1980), “Superman III” (1983) e “Superman IV - Em Busca da Paz” (1987). Mas enquanto o triturador pós-modernista passava o rodo nas bilheterias, um diretor, bem original, dedicou-se a radiografar a época com um olhar próprio, sem o filtro dos gêneros reciclados. Seu nome: John Hughes. Nada mais anos 80 do que o escapista, e hoje elevado a cult, “Curtindo a Vida Adoidado” (1986). Em seus filmes, a adolescência oitentista ganha um brilho especial, uma vivacidade irresistível, sendo tratada com inteligência e respeito, bem diferente dos infantilizados moleques

da franquia “American Pie”. Hughes dirigiu o adorável “A Garota de Rosa Shocking” (1986), promovendo Molly Ringwald a namoradinha da América. Adrian Lyne, diretor que costuma provocar arrepio nos críticos, foi o responsável pelas imagens mais fortes. As cambalhotas de Jenifer Beals no musical “Flashdance” (1983), os jogos sensuais à luz de uma geladeira de “9 e 1/2 Semanas de Amor” (1986), com o então galã Mickey Rourke, e a corrida de faca em punho da psicótica Glenn Close no thriller adúltero “Atração Fatal” (1987) são inesquecíveis. Egresso da publicidade, Lyne pode não ser um grande realizador, mas soube como ninguém impac-

tar e provocar polêmica na década. Dois brucutus também marcaram presença decisiva na década: Stallone e Schwarzeneger. O primeiro protagonizou três sequências pavorosas da franquia Rocky Balboa e inventou um dos mais odiosos promotores da guerra: Rambo, visto em três filmes. Já Schwarznegger, bem antes de trocar os pés pelas mãos na política, seguiu um caminho mais original, apostando em roteiros inteligentes, como o do inventivo “O Exterminador do Futuro” (1984), que mais tarde também viraria franquia. Hasta la vista, baby é 80 em estado bruto. O gênero horror lançou duas franquias

de sucesso. “Sexta-Feira 13” teve oito partes filmadas nessa década. Mais interessante, mas não menos apelativo, o drama dos insones de “A Hora do Pesadelo” teve cinco sequências. Goste-se ou não, Freddy Krueger e Jason Voorhees fazem parte do escrete hollywoodiano da década. Acompanha-os a menininha mediúnica da menos bem sucedida franquia “Poltergeist - O Fenômeno” (1982), com duas sequências, e o insuperável Chucky, de “Brinquedo Assassino” (1988). Assim foram os anos 80. De um lado o doce e perseguido ET, do outro o frenético e assustador Chucky. O que se pode dizer? Foi bom enquanto durou.


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Animes fazem sucesso no Brasil

Com a extinção da TV do Bloch, os desenhos foram para outros canais da Televisão brasileira Por Nariana Moraes

tar a deusa Vishnu. O estudante Matheus Henrique diz que A TV Manchete tinha em sua programação gostava do desenho Yu Yu Hakusho. “Eu assisti uma sessão de mangás, os quadrinhos japoneses. Eles são sinônimos de sucesso até hoje Brasil – na na rede Manchete e também acompanhei quanépoca, a emissora transmitia os animês Os Cava- do foi para o canal a cabo Cartoon Network. leiros do Zodíaco, Yu Yu Hakusho, Shurato e Super Bom! Mas para mim os animes de hoje em dia Campeões. O canal foi fundada no dia 5 de junho não são como os de antigamente, porque falta de 1985 pelo jornalista e empresário ucraniano na- elaboração nas histórias destes novos, como é turalizado brasileiro Adolpho Bloch. A televisão caso do desenho Naruto.” Yu Yu Hakusho é a série que conta a história permaneceu no ar até o dia 10 de maio de 1999. de Yusuke Urameshi, que morre atropelado ao tentar Com a extinção da rede, os desenhos da emissora foram reprisados pelo Cartoon Network, Band, salvar uma criança. Como seu ato foi inesperado por todos, principalmenDiário, Rede Record, Rede te pelo mundo espiTV. ritual, Yusuke teve O vendedor Chara chance de voltar a les Rocha de Menezes viver quando decidiu conta que gostava de assalvar uma amiga sistir ao animê Os Cavade infância em troca leiros do Zodíaco. Para de seu retorno. Ao ele, foi um desenho fanretornar à vida na tástico que assistia após terra, descobre que a saída da escola. “Eu tem uma condição: me lembro de brincar e se tornar um detetive imitar os personagens e espiritual e se dedicar seus golpes imaginários, ao combate de demôera onde despertava minios do mundo das nha imaginação em um trevas que venham a mundo fantasioso e inse infiltrar no mundo fantil.” dos homens. O mangá do zodíHenrique afiraco mostrava a históma que não gostou ria de cinco guerreiros Nariana Moraes do desenho Super místicos chamados de caCanal apresenta para seu público animes japoneses Campeões. “Eu acho valeiros protegidos pelas este animê muito fantaestrelas, que lutavam vestidos com armaduras sagradas, baseadas nas diversas constelações. sioso nas jogadas.” O animê é baseado no futebol e Eles têm como missão defender a reencarnação promove o esporte no Japão - seu desenvolvimento da deusa grega Atena em sua batalha contra os recebeu o apoio da Associação Japonesa de Futebol. Assim, ajudou a moral da seleção japonesa, que na deuses do Olimpo, que domina a terra. Menezes declara que não gostava de assistir época estava desiludida com o esporte. O foco da história está nas aventuras da seao desenho Shurato. “Eu acho que o animê é uma imitação dos cavaleiros. A história mitológica pa- leção japonesa de futebol e seu capitão, Oliver recia com a do zodíaco e eles também usavam ar- Tsubasa. Ela é caracterizada por movimentos dimaduras.” O enredo do mangá conta as tentativas nâmicos de futebol contidos em ações fantasiodos deuses de dominar o mundo celestial. O per- sas, além de tratar do relacionamento de Tsubasa sonagem título, Shurato, foi trazido para o campo com seus amigos, rivalidades com seus oponende batalha, tornando-se um membro essencial dos tes, treinamentos, competições, e os andamentos oitos guardiões do povo de Deva e luta para resga- das partidas.


vingança dos nerds

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Nerds saem do grupo dos excluídos e viram padrão de comportamento Eles quebraram o tabu e hoje são exemplos do padrão de comportamento de jovens do século XXI, a força está com eles Uma das coisas importantes na vida de um nerd é estar por dentro das principais novidades do universo tecnológico Kleber Willian

A sociedade mudou sua concepção sobre o conceito de nerd. Nos anos 80, 90 e início dos anos 2000, jogar videogame incessantemente, ler quadrinhos com histórias fantasiosas sobre mutantes e não ter a menor ideia de como falar oi para uma criatura do sexo oposto já seriam motivos mais que suficientes para atrair repúdio e desprezo de uma sociedade sacana para si mesmo. Com a evolução das tecnologias, a cultura geek (nerd, em inglês) passou a se tornar uma tendência, mas não um desejo. A chegada do Super Ninten-

do, Nintendo 64 e a possibilidade de instalar jogos no computador faziam com que mais e mais pessoas abrissem mão da vida social e intelectual também para passar 14 horas seguidas à frente da TV para zerar o jogo. Mais e mais pessoas, muitos deles jovens, se entregavam às novas tecnologias de interação e deixavam de praticar atividades físicas e cuidar da própria saúde. A cada ano a tecnologia se torna mais evoluída e ao mesmo tempo mais acessível. Nos anos 80 é o momento em que ser nerd deixa de ser underground. O gosto por livros de autores como

Stephen King e JRR Tolkien (que produzem obras cujo objetivo intrínseco é entreter) é erroneamente entendido como cultura e intelectualismo. Primeira mudança: ser nerd já virou sinônimo de ser inteligente, quando uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, é o que nos conta o estudante Filipe Pzscico. “Ser nerd é ser normal, pelo menos eu me considero assim, nos anos 80, por exemplo, o estereótipo do nerd era um ser com óculos fundo de garrafa e totalmente CDF, mas nos anos 2000 isso mudou e ajudou na questão do bulling, muitos

nerds passam por isso, eu mesmo já passei.” Para tornar a classe geek ainda mais cool (bacana), a mídia passa a colaborar. As pessoas passam a achar que o fato de assistir The Big Bang Theory as torna um tanto quanto mais nerd. E é óbvio que isso não faz o menor sentido, já que você não é um beberrão viciado em sexo só porque assiste Two and a Half Men com o Charlie Sheen. Com o estilo já estereotipado e, mais que isso, já sem a conotação depreciativa que tinha no início, já é possível enxergar certo potencial de mercado, não? A estudante de


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vingança dos nerds

Economia Sueli Sigolis explica o grande avanço no mercado nerd. “Este mercado movimenta bilhões em todo mundo, são livros, camisetas, videogames e principalmente equipamentos tecnológicos, e o que mais avançou segundo um estudo realizado no ano de 2011 pela Fundação Getulio Vargas (FGV) foram pessoas do convívio dos nerds aderiram a este mercado e de certa forma se tornaram dependentes e consumistas pela tecnologia”, afirma. Cinema em quatro dimensões, livros de piadas “que só os nerds entenderiam”, itens colecionáveis que custam o quádruplo do preço e camisetas com citações e/ou imagens de Sheldon Cooper (TBBT) tiram proveito desse tipo de glamourização (e metamorfose) que a cultura nerd sofreu no decorrer da década de 90 e 2000. A ilusão de que adotar um lifestyle (estilo de vida) superficialmente pode ser tão legal quanto fazer parte de um, é o que movimenta o mercado de games, óculos de armação grossa e camisas de banda de metal. Essa fantasia de que esse estilo é seu, simplesmente não passa de uma fantasia de jovens meramente intelectuais e que criaram seu próprio estereotipo.

Não mais fora de moda

O estilo nerd nasceu nos anos 80 e invade as ruas nos dias atuais

Xadrez nasceu com os nerds e depois foi utilizado pelos grunges Laís Tarifa

O dicionário Priberam da Língua Portuguesa define a palavra “nerd” (inglesa) como adjetivo com o seguinte significado: que ou quem tem comportamento considerado pouco social e parece interessar-se geralmente apenas por assuntos técnicos ou científicos. A definição descrita acima encaixa com os garotos dos anos 80, que gostavam de óculos de fundo de garrafa, calça de cósalto e camiseta polo. Na época, eles sofriam preconceito principalmente na escola, por parte dos colegas de classe. A maior parte não gostava do estilo certinho, a vestimenta costumava incomodar os “normais”. Além disso, os

nerds eram tímidos em excesso e não conseguiam se defender das ofensas alheias. O escritor Aléssio Esteves conta que personagens de desenhos e filmes que surgiram nessa época estampavam camisetas. “Alguns deles são lembrados até hoje, e graças à devoção dos nerds antigos são imortalizados.” Outras estampas eram as bandas de Heavy Metal. “Todo nerd dos anos 80

e 90 curtia esse estilo musical”, enfatiza. De acordo com o jornalista, João Pedro Ramos, nos anos 1990 os personagens do South Park e do Looney Tunes ganharam a vez. “O tênis kichute ou all star não podia faltar para completar o estilo.” Nos dias atuais, a palavra nerd foi substituída pelo termo “geek” e remetem às pessoas que gostam de tecnolo-

Last Friday Night Recentemente, a cantora americana Katy Perry decidiu homenagear os nerds no clipe da música Last Friday Night, single do seu segundo álbum lançado em junho. Durante o clipe, Katy aparece com óculos gigantes, topete e aparelhos nos dentes. A cantora homenageia o filme da década de 1980 “Gatinhas e Gatões” (1984) e outros sucessos do cinema da época.


vingança dos nerds gia, quadrinhos, games, filmes de super-heróis e mídias sociais. As roupas certinhas e despojadas usadas nos anos 80 e 90 ganham espaço e agora são responsáveis por transparecer intelectualidade por parte de quem adere à moda, sejam os meninos ou as meninas. A idade também não importa. Há jovens e também mais velhos, que conhecem a fundo assuntos ligados a essa tribo.

Óculos grandes:

Grande e fundo de garrafa, os óculos utilizados pelos garotos da época eram considerados acessório essencial. Não existia nerd sem óculos, e tinham que ter essas características. A armação grossa ainda faz sucesso. Antigamente, a cor preta predominava, agora, são coloridas e chamam atenção pelas cores ousadas como os neons.

Xadrez:

O xadrez foi utilizado pelos nerds para estampar camisas e, mais tarde, o grunge (rock alternativo nascido em Seattle) aderiu à peça. Porém, ao invés de usá-la de modo “engomado”, o xadrez foi escolhido para deixar a aparência desleixada.

Outras peças:

Os nerds usaram peças inesquecíveis como o suspensório, alças que ligam a calça com a camisa, usada como alternativa para cinto. Outra característica foram as camisas e calças sobrepostas. Os tênis ou sapatos sempre deixavam as meias à mostra.

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Ficção Científica envolve nerds e fãs de quadrinhos

Guia do Mochileiro das Galáxias é um grande clássico da literatura nerd e prima pelo humor Tatieli Rodrigues

Alguns livros da literatura nerd marcaram a juventude nerd nos anos 80 como Neuromancer do autor William Gibson, Discoword de Jerry Pratchett e não se pode esquecer-se do clássico do mundo nerd o “Guia do Mochileiro das Galáxias”, que tem um lugar especial nas prateleiras da garotada nerd e apaixonados por história em quadrinhos.

Recheado de uma boa dose de ironia delicada com capítulos concisos e personagens sedutores, o livro retrata a trajetória do britânico Arthur Dent que se encontra envolvido em um turbilhão de aventuras absurdas e alucinantes, construídas a partir de um ponto de vista científico e filosófico criado pelo próprio autor, que não poupa sua imaginação na hora de conceber como será o mundo

do futuro de mostrar como os habitantes dos Cosmos farão para se transportar pelo espaço e como será os extraterrestres com suas diferentes vidas culturais e outros detalhes fantásticos. Determinados jovens considera esse livro como um dos melhores que já leram, “Douglas Adams criou uma história com personagens parecidos com pessoas comuns, que grandes eventos

tecnológicos ou catastróficos sejam levados como algo do cotidiano, sem darem muita importância. Sem esquecer que toda a narrativa, que é muito inteligente e com pontas de criticas a humanidade em vários momentos do livro.” relata o estudante Rafael Tavares. É em meio a essas histórias alucinantes e fantásticas, que podemos encontrar o gênero que mais retrata a literatura nerd a “ficção


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A saga de Tolkien encanta nerds há mais de cinco décadas

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científica”, que não é considerada um gênero literário como aventura, romance, terror, ação entre outros, mas sim uma característica da Estória por apresentar histórias fictícias e fantásticas que vem com o intuito de mexer com a imaginação e fantasia dos adolescen-

convencer o público que suas ideias podem não ser possíveis, reais para a nossa sociedade atual, mas que se tivéssemos uma pequena explicação racional ou científica, essas ideias poderiam sair da imaginação, dos quadrinhos e livros e virar realidade, como podemos ver

tes e de mostrar tanto uma época distante como o atual (agora). Ao contrário dos outros gêneros literários a ficção científica tem como objetivo

nos filmes: Star Wars, Idependence Day entre outros. Assim podemos dizer que os livros de ficção são mais voltados ao universo do livro, mostrando ao leitor como funcionam as leis, o sistema, as máquinas e como tudo isso influencia na vida das pessoas, já os livros de literatura focam mais nos personagens e seus dilemas pessoais. Devido a todas essas características que a ficção científica chama tanto a atenção da garotada nerd, “Porque a maior parte do universo dos nerds vem da ficção cientifica, Filmes, jogos, tecnologia, tudo isso é do universo nerd”, diz o estudante Marco Antonio.


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Heróis fora de série! Nos anos 80 e 90 as séries e seriados faziam a cabeça dos jovens nerds, nos dias de hoje isso não mudou

As séries de maior sucesso são ambientadas em galáxias inexploradas e tem como principal força o uso da ficção cientifica Fabiana Cavalcante

Conhecidos atualmente como “geeks”, eles tem estilo próprio, dominam diversos assuntos como tecnologia, games e ficção científica. Porém, essa realidade de adoração aos nerds só foi alcançada depois de anos, uma espécie de vingança aconteceu, para mostrar que ser nerd é deter o poder do conhecimento e o domínio dos assuntos mais complexos da humanidade e, que isso é muito bom. Tudo começa na década de 80,

quem nunca viu uma cena em os alunos de maior QI das escolas, eram jogados em latas de lixo e trancados em seus armários pelos ga-

mos esquecer o amado video cassete. Com o estilo já estereotipado, a figura do nerd foi inspirada em grandes séries de tv

rotos mais populares? A tecnologia da época estava no bom e hoje velho Walkman, no Atari e claro não pode-

que até os dias de hoje, são cultuadas pelos jovens, estão entre as de maior sucesso Star Trek de 1966 e Star Wars de

1977, ambas tornaramse febre mundial. Star trek conhecida no Brasil como Jornada nas Estrelas, foi uma das mais premiadas séries da TV norte-americana. Criada por Gene Roddenberry , a série de ficção cientifica, teve seu primeiro capitulo exibido em 8 de setembro de 1966, apesar do titulo ser Star Trek, adquiriu depois outro nome: Star Trek - The Original Series, para se diferenciar de suas sequências no universo ficcional. Ela se passa no ano de XXIII e conta as aventuras


vingança dos nerds da tripulação da nave estelar USS Enterprise comandada pelo capitão James T. Kirk, o primeiro oficial comandadante Spock e o Oficial médico Leonard. O blogueiro Gabriel Souza foi um adolescente nerd e relembra a série.”fascinante, é assim que resumo Star Trek, nos anos 80 a TV vivia um surto de lançamentos de séries e seriados, mas nada se comparou a essa série,que já era sucesso na década de 70. Apenas os nerds conseguiam acompanhar com clareza os episódios e entendê-los, talvez por isso ela tenha feito tanto sucesso ao passarna tv nos anos 80. Ser fã me ajudou a fazer amigos que partilhavam do mesmo fanatismo, eu comprava álbuns, figurinhas, posters. Foi a melhor fase da minha vida!”, comenta Gabriel.

Que a força esteja com você Quem nunca ouviu falar de Star Wars? A criação de George Lucas que levou uma legião de fãs a loucura. No Brasil a série ficou conhecida como Guerra Nas estrelas, também de ficção cientifica teve seu primeiro filme lançado em 1977, desde então foram lançadas séries, musicais e até documentários. Após o primeiro filme, Stars Wars teve duas sequências: o Empire Strikes Blacke Return of the Jedi,.

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Parque de diversões dos nerds nos anos 80 e 90 Carla Cavalcante

O universo nerd dos anos 80 e 90, no quesito diversão, foi marcado por jogos de tabuleiro, videogame e fliperama. Existiam opções para todos os gostos e bolsos, desde o Jogo da Vida nos anos 80, ao Catan nos anos 90, dos consoles Atari ao lançamento do primeiro Playstation. Além da febre dos jogos de fliperama, que eram jogados pela grande massa, pelo fato das fichas não custarem caro, existiram duas grandes estrelas: o Cadillacs & Dinosaurs e a estreia de Street Fighter II, nos anos 90. A grande febre dos anos 90, em relação a consoles no Brasil, foi o lançamento do NES popularmente conhecido como Nintendinho. E o jogo mais famoso criado pela Nintendo

é o Super Mario Bros. O encanador, irmão de Luigi, companheiro de aventura de Yoshi - dinossauro com uma língua comprida e um casco de tartaruga -, e vidas em formato de cogumelos verdes e vermelhos, pura psicodelia. Esse foi o primeiro da sequência de clás-

sicos: Super Mario Kart chega em 1992, Mario Party em 1998, e Super Mario 64 que alegrou o ano de 1996. O Super Mario Bros é um clássico lançado em 1985 e faz sucesso até os dias de hoje. Segundo o jornalista de games e fã

da Nintendo Filipe Siqueira, o game exerce grande influência no mercado, pois a partir dele, já foram criados diversos jogos genéricos, com a tentativa de imitá-lo em relação a sua jogabilidade. Todos que jogam videogame conhecem esse jogo, podem não gostar, mas conhecem. “Eu tive o Super Nintendo e o Nintendinho, o Mario é o jogo mais criativo e divertido, por conseguir se renovar a cada geração de videogames, está no topo de vendas e qualidade.” Há 20 anos, a principal concorrente da Nintendo e seus jogos de sucesso, era a Sega, pois desde 2001 ela não produz mais consoles, apenas jogos. Aqueceu o mercado com a criação do Sega Master System e depois com o Sega Mega


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Drive. Logo lançaram o jogo Sonic, em 1991 - um ouriço azul, veloz, onde as vidas são argolas douradas. Chegou com o intuito de tentar desbancar o lugar que o personagem Mario ocupa no coração dos aficionados por consoles. Não conseguiu cumprir sua missão totalmente, mas conquistou alguns fãs. Esses dois games são da época dos antigos cartuchos, aqueles que quando não funcionavam, era só dar um assopro e tudo estava resolvido. O publicitário e colecionador de videogames Renato Almeida afirma que o seu favorito é o Mega Drive, por ter lhe proporcionado mais diversão entre os amigos e já na categoria jogo é o Sonic. “Eu comecei minha paixão por consoles com o Atari em 1986 e a cada lançamento, trocava o aparelho antigo por um novo”, comenta. Em 2002 passou a montar sua coleção e têm: o Atari, dois Master System, três Mega Drive, Super Nintendo, Game Boy, Sega Satum, Playstation I, II e III, Nintendo 64, Dreamcast, PSP, Xbox 360 e um DS. Além, de possuir vários acessórios pertencentes a cada um dos videogames. Almeida explica: “Tomei a decisão de recuperar todos os consoles que já tive, por isso, me tor-

nei um colecionador.” O fliperama é um videogame profissional e era encontrado facilmente em locadoras, especializadas em locar fitas de videogames. Este console é composto por um gabinete, tubo de imagem, monitor e sistema de jogo. Era a alternativa mais barata para os fãs de jogos nas décadas de 80 e 90. Almeida afirma que ama fliperamas e parte seu coração, ver que a glória das casas de entretenimento destinadas a esse game, não existe mais. “Meu sonho é um dia poder turbinar minha coleção com os meus jogos de fliperama: Cadillacs and Dinosaurs, Tartarugas Ninja, Pit Fighter, Mortal Kombat, Street Fighter 2 e The King of Fighters.” Além dos games e fliperamas, os jogos de tabuleiro também fizeram parte dos momentos de distração dos nerds nos anos 80 e 90. Na década em que alguns jovens se divertiam jogando Atari, outros quebravam a cabeça com os jogos: War, Risk, Combate, Stratego, Detetive, 2210 Baker Street e o famoso Jogo da Vida. Segundo a dona da primeira ludolocadora do Brasil – Funbox, Vanessa Santos, nos anos 90 começaram os jogos modernos, como Catan Carcassonne e Puerto Rico. “E os clássicos

ainda cresciam, mas começava um novo mercado, que foi comandado pelos alemães.” A fã de jogos de tabuleiro Anita Destro, explica que gosta dessa modalidade de competição, porque é preciso quebrar a cabeça, para conseguir alcançar os objetivos do jogo: dominar o mundo, achar o assassino ou ser o mestre Pokémon. E, apesar, de ser um jogador contra o outro, a forma como os tabuleiros são desenhados e como o jogo é construído, leva as pessoas a formarem parcerias no fim, para conseguir terminar. “Meus jogos favoritos das décadas de 80 e 90, eram War, Scotland Yard e Pokémon.”

O clássico dos clássicos O Atari está entre os principais, no quesito console dos anos 80. Chegou ao mercado com um valor nada popular, mas sempre alguém da turma tinha um e juntava os amigos para jogar. Também era possível jogar em locadoras, que possuíam vários videogames e cobrava por tempo de uso no local. O jornalista de games Filipe Siqueira declara que teve um Atari, quando tinha 6 anos e era muito divertido. Além do papel revolucionário que esse console exerceu no mercado de games. “Ele foi o primeiro aparelho totalmente dedicado a jogos, a partir dele, começaram os videogames da forma que conhecemos hoje.” Os jogos usados no Atari, normalmente não tinham fim, mas faziam a cabeça dos jogadores. Alguns desses jogos, são encontrados até hoje em versões online, como o Pac-Man. “Gostava do Pitfall e o Space Invaders,,diz Siqueira


curtindo a vida adoidado

Aaaah! O encantador anos 1980

He-Man: clássico que fez parte da infância de muita gente

As crianças e adolescentes de hoje não sabem o que é infância de verdade. Calma, vou explicar. Há tempos não encontro crianças que brincam de esconde-esconde, pega-pega ou duro ou mole. Vejo-as em frente ao computador ou entretidas no celular. Infância e adolescência boa tiveram aqueles que viveram nos anos de 1980 e 1990. Não foi uma época de grandes transformações tecnológicas, se comparadas as de hoje, mas uma era de ouro que poderia voltar. Quem não se lembra das palhaçadas do Armação Ilimitada e da TV Pirata? Você, pai de família, já deve ter babado com as chacretes no Casino do Chacrinha; e a senhora já quis conhecer o Silvio Santos e participar da Porta da Esperança. Alguns trintões e vintões de hoje certamente já ouviram A Ga-

linha Magricela do Balão Mágico e Thundercats do Trem da Alegria, riram com o Clube da Criança, Bozo, Chaves e Chapolin, com as palhaçadas dos Trapalhões e já sonhou em participar do Xou da Xuxa (um beijo para minha mãe, para o meu pai e para você). O tempo passa, o tempo voa e a poupança Bamerindus continua numa boa. Ou melhor, continuava antes do Banco Central adquirir parte da empresa junto com o HSBC. Se Conga, La Conga e Freak Le Boom Boom já fizeram parte da sua vida, significa que você já dançou ao som de Gretchen, que já foi chacrete, assim como a Rita Cadillac que participou de filmes eróticos. Conhecida como pornochanchada, estes filmes não chegavam aos pés dos de hoje, mas nem por isso deixou de conquistar

fãs (mesmo em decadência nos anos 1980). Atrizes como Sandra Bréa, Vera Fischer, Helena Ramos e Angelina Muniz fizeram história nesta fase do cinema brasileiro Se você assistia regularmente à TV, deve se lembrar de Alf, o ETeimoso, Chips, Casal 20 e de filmes como As Panteras, Os Caça-Fantasmas, Top Gun e das proezas do MacGyver. Com certeza também assistiu Speed Racer, Super Amigos e Corrida Maluca (Penélope Charmosa, Dicky Vigarista, Os Irmãos Rocha e Cia). E as novelas? As dos anos 1980 nem se comparam à qualidade de hoje, mas divertiam tanto quanto. Impossível não se lembrar de Vale Tudo, Brega e Chique, Ti Ti Ti (Jacques LeClair vs. Victor Valentim), Roque Santeiro e A Gata Comeu. Personagens como Odete Roitman (quem matou?), Tiêta e Juma fizeram história na teledramaturgia brasileira naquela época. A música dos anos 1980 revelou grandes artistas e bandas como Barão Vermelho, Ira!, Capital Inicial, Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Legião Urbana, Titãs, Cazuza, Lulu Santos, Rita Lee, entre outros. Lá fora artistas como A-Ha, Cindy Lauper, David Bowie, Lionel Richie, Madonna, Michael Jackson, Queen, Tina Turner e U2 tinham suas músicas entre

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as mais pedidas. Falando nisso, você se lembra de Step by Step do New Kids On The Block ou de Forever Young do Alphaville? Clássicos instantâneos. Sem esquecer, claro, de Flashdance...What A Feeling de Irene Cara. Vale lembrar também que a 1ª edição do Rock in Rio aconteceu em Janeiro de 1985 na cidade maravilhosa. No quesito cinema, várias surpresas. A saga de Indiana Jones e Star Wars, a trilogia De Volta para o Futuro (com Michael J. Fox e Christopher Llyod), os filmes E.T, Gremlins (que se multiplicavam quando eram molhados), Dirty Dancing, entre outros, fizeram a cabeça de jovens e adultos. Sem se esquecer de Corra que a polícia vem aí, Loucademia de Polícia, Robocop, O Exterminador do Futuro, Brinquedo Assassino e A Hora do Pesadelo. A Lagoa Azul e Ghost até hoje passam na TV aberta e fazem sucesso. Nem só de TV e cinema os anos 1980 ficou marcado. No esporte, destaque para a seleção brasileira de 1982 e 1986, ambas de Telê Santana que mesmo sem levar o troféu da Copa do Mundo, deram um show de bola. No boxe, Mike Tyson e Maguila; na Fórmula 1, Nelson Piquet e Ayrton Senna chamavam a atenção do mundo. A década de 1980


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curtindo a vida adoidado

foi recheada de guloseimas. Chokito, Nhá Benta, Moeda de Chocolate (a do Pirata) faziam a alegria da criançada. Sem se esquecer do Toddy, Nescau, Quik, Yakult, Paçoca Amor e Ana Maria. Para beber, Ki-Suco (rendia 2 litros, mesmo?), Tang, Gatorade e para os machões de plantão, Taffman-E. E os brinquedos? Quem não perdia horas com o Genius, Pense Bem e com os jogos River Raid, Enduro e Pitfall do Atari? Moranguinho e Fofolete faziam a alegria das meninas; já o Comandos em Ação e o Falcon faziam parte das festas de meninos. Entre a Casa da Barbie e o Castelo de

Greyskull, há quem preferia o Aquaplay, a Super Massa e o Vai-e-Vem. Para quem gostava de mistério tinha o Detetive, para os apaixonados por conquistas, o War e àqueles que gostavam de um bom dinheiro, o Banco Imobiliário. Vale citar o Imagem em Ação, Super Trunfo e Jogo da Vida. Os anos 1980 foi repleto de características que marcaram a infância e adolescência de bastante gente. Certamente você leitor já teve uma caneta Bic de 4 cores, ou um Kichute ou um LP do Balão Mágico. Como o que é bom sempre volta, hoje é possível encontrar vários produtos que marcaram esta década.

Os brinquedos mais famosos dos anos 1980. Você tinha um!

Sons que moldam jovens Thaís Vanucci

Ramones inovaram com o punk e hardcore de forma simples

Na época em que o rock ressurgiu nos anos 80, ele veio carregado por influências variadas, indo do new wave, passando pelo punk e o próprio conteúdo pop emergente do final da década de 70. Cada estilo musical trazia na sua bagagem suas tendências de moda e também comportamentais, que vestiam os jovens da época. Nas letras das músicas de algumas bandas nacionais que estouraram nos anos 80, mostravam e moldavam uma juventude crítica e com maiores interesses pela política. “Que país é esse?”, cantava o vocalista Renato Russo, da banda de pop-rock, Legião Urbana. O administrador, Guilherme Macedo, conta sobre seu gosto pela banda que

marcou época. “Eu ouvia Legião, a banda faz sucesso até os dias de hoje. As letras incentivavam um pensar crítico que foi muito importante para nossa geração, e fica bem claro nas músicas como “Será”, “Pais e filhos”, “Tempo Perdido”, e outras”. O Rock n´ roll, que fora estabelecido nos anos 50, voltava com força total e firmava sua marca de rebeldia na cabeça dos jovens, além da consciência que ser jovem não é ser passivo e engolir tudo calado como a maioria fizera décadas atrás, e sim se fazer visível diante da sociedade, o que resultou em uma geração que se importava com a política e protestava nas ruas, que se pintava para chamar a atenção de uma sociedade ainda


curtindo a vida adoidado com marcas do fim da ditadura. A música andou lado a lado com grandes movimentos do passado e dos dias atuais, e ainda é ferramenta importante para mostrar caminhos e ditar comportamentos. O guitarrista da banda “Réu Confesso”, Marcelo Felipino, conta sobre

a importância do rock. “O rock foi importante quando ascendeu entre a década de 80 e 90 no Brasil, mudou o comportamento dos jovens. A atitude da música trouxe isso para o pensamento da galera. Os anos 1980 ficaram marcados por uma geração mais pró ativa que a de hoje.”

Legião Urbana mostrou injustiças e fez a cabeça dos jovens

Moda dos anos 1980 é aproveitada no século 21 A moda se renova a cada estação e a cada década, mas ela também é cíclica, ou seja, aspectos e referencias do que já passou sempre voltam com carga total. Nos anos 1980 e 1990 o mundo fashion se modificava na busca do diferente, e o que fazia sucesso eram roupas chamativas, cabelos com altos topetes conquistados a custa uma boa camada de gel e o blush bem marcado no rosto da mulherada. Ombros enormes e estruturados com pe-

Vanessa de Assis

quenas almofadinhas de espuma, as famosas ombreiras, eram hit, a saia balonê que fora tendência na década de 1960 volta e as calças com a cintura bem alta são usadas com cintinhos finos e coloridos (alguma coincidência com os dias atuais?). A produtora de moda Thais Amador chama atenção para algumas peças que compõem o visual da mulher nos anos 1980. “Os macacões, os leggings e as bermudas arranjam a moda dessa década.

As blusas com mangas enormes, chamadas “mangas morcego”, são o look da vez nesse período, além da maquiagem com cores vibrantes”. A moda é o reflexo de fenômenos políticos e culturais de cada época, traz novas inspirações para casos parecidos e faz uma reforma que não se repete, mas se sobrepõe. O lançamento (e relançamento de tendências) é cronológico, e assim nas últimas coleções temos visto 1960/70 e agora 1980/90, juntos ou até combinados. O figurino “80tinha” é intenso e aposta em diferentes cores, cítricas de preferência, e em exuberância. Alegre, esportiva e ao mesmo tempo sofisticada e sensual. E por falar m sensualidade, para a estilista Thabatta Cabanas os anos 1980 foi a déca-

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da em que o New Wave ressurgiu como uma das influencias mais intensas do momento “O New Wave voltou com força, mas não necessariamente pelo resultado, e sim pelo o que estava por trás. Nos anos 1980 ser “chic” era estar sarado. Estética, febre da malhação. E por isso o new wave pegou tanto, era uma moda que marcava o corpo.” Além disso, saiuse dos anos 1970 em que se abusava mais das silhuetas mais largas, além do visual mais unissex. A moda também buscava tudo que era tecnológico e moderno, com influencia do Japão. De acordo com Thabatta foi o tempo do exagero. “Tudo era extremamente exagerado, tanto em roupas, cores, make, o culto ao corpo fez com que houvesse maior procura das academias e principalmente da

Cabelos para o alto e cintura alta eram sensação na época


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curtindo a vida adoidado

mulher no mercado de trabalho e se tornarem mais independentes. Faixas de cabelo, esmaltes compuseram o visual da década. Os anos 1980 mostraram que tudo é possível e que a criatividade dita moda. A consultora de moda Carolina

Porne faz uma analogia com o que foi reaproveitado dessa época. “Hoje é possível notar a volta das leggins de cintura alta e ombreiras extravagantes, como temos visto em artistas, como Lady Gaga e Gaby Amarantos, por exemplo.”

O fluor era indipensável na composição do look nos anos 1980

Saúde é o que interessa

Nos anos 80, as celebridades influenciaram as pessoas a praticarem esportes. Criou-se uma moda de cuidar do próprio corpo. Frequentar academias, tomar complexos vitamínicos, lutar contra o sedentarismo, combater vícios, como o cigarro e a bebida se tornaram prioridade. A partir desse período, surgiu o comportamento conhecido pelo nome de “Geração Saúde”.

Leandro Medeiros

Esse movimento cresceu rapidamente, e com uma inovada indústria interessada em oferecer uma infinidade de produtos e serviços para aprimorar a qualidade de vida e as condições de saúde dos indivíduos. Como resultado disso, houve um forte investimento em estratégias de marketing e comunicação, a preocupação das pessoas com essas questões foi reforçada.

Toda a influência da “Geração Saúde” pode ser constada em variados veículos de comunicação. No cinema, os atores Sylvester Stallone, JeanClaude Van Damme e Arnold Schwarzenegger eram considerados perfeitos modelos de corpos masculinos, os homens começaram a ter o interesse em ganhar a mesma massa muscular desses astros dos filmes de ação. O vendedor de portões Claudio Mendes, que era adolescente nos anos 80, conta que gostava de assistir os filmes de Jean-Claude Van Damme e do Sylvester Stallone, e na época ele ficou empolgado para fazer musculação com objetivo de ficar com o corpo igual aos dos seus ídolos. “Eu assistia O Grande Dragão Branco e Rocky, e sonhava em ser forte como os protagonistas dos filmes”, fala. Já as mulheres encontraram inspiração nas cantoras do pop para começarem a cuidar do

corpo, o tipo de exercício físico preferido era a aeróbica. Nessa fase ficou evidente o gosto pelas roupas coloridas de lycra. Uma demonstração da “Geração Saúde” é no videoclipe da cantora Olivia Newton-John, para a música Physical, gravado em 1981, onde a artista aparece com roupa de elastano colorida em uma sala com halteres, anilhas e bicicletas ergométricas e interage com homens fortes e gordinhos. A funcionária pública Ana Beatriz, fala que senti saudades dos anos 80, e lembra-se da alegria de ouvir as músicas da Madonna, artista que admira até hoje no ano de 2012. Beatriz conta que a cantora pop fazia shows e clipes musicais com roupas coloridas feitas com materiais elásticos e estava sempre em boa forma. “Como eu adorava o estilo da Madonna, me vestia parecido para ser bonita igual a ela”, comenta.

CD lançado em 1981. Dentre as músicas,. Physical era sucesso


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Movimento Grunge revolucionou a década de 90 Kurt Cobain, da polêmica e famosa banda Nirvana, um dos fundadores do movimento Grunge Jéssica Marques

Com as letras e atitudes trazidas do Punk e a guitarra do Heavy Metal, a cena grunge começou principalmente com duas bandas, o Soundgarden e o Green River que é considerado o grande pai do movimento. Mas, foi o Nirvana que mais atraiu os olhos do mundo, sendo considerado como o “fenômeno grunge”. As letras,

extremamente sensíveis, confessionais, carregadas de memórias de infância e questionamentos existenciais, era a outra metade do movimento. Outras influências são Led Zeppelin, Aerosmith, Kiss, Cheap Trick, MC5, Neil Young, New York Dolls, Ramones, Sex Pistols, The Germs, The Heartbreakers, Flipper e artistas que fizeram a transição da década de 80 para a

90 como REM, Husker Du, The Replacements, Sonic Youth, Dinosaur Jr., Pixies e Jane´s Addiction. O grunge também influenciou outras esferas de consumo jovem na época. Num contraataque à moda yuppie engomadinha e elegante - dos jovens dos anos 80 e a abundância de couro e itens caros usados pelas glam rock bands, o grunge provocou uma verdadeira rebelião. Priorizando a simplicidade e a não ostentação, os artistas usavam calças rasgadas, camisas de flanela, sapatos gastos, suéters velhos e botas (Doc Marten). O cabelo emarfanhado e geralmente comprido compunham divulgação

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a nova imagem a ser adotada: a do anti-star, algo como anti-estrela. Para o músico, Leandro Rosa, existe uma distinção entre as bandas grunge. As da primeira safra - Green River, Soundgarden e Mudhoney - têm uma sonoridade bem mais pesada do que as da segunda, que tem como seu melhor exemplo o Nirvana. A banda abusa das distorções de guitarra e dinâmica punk de tocar músicas curtas de maneira rápida. Com o suicídio do líder do Nirvana, Kurt Cobain, em 1994, o movimento perdeu sua força. Alguns grupos ainda continuaram lançando discos, como Soundgarden e Pearl Jam, mas o insucesso comercial colocava os conjuntos cada vez mais longe do estrelato. Nesta época, bandas de punk rock californianas como Green Day e Offspring estouraram, ao mesmo tempo do sucesso do britpop inglês que tinha Oasis e Blur como ícones. Com isso, o velho som de Seattle foi sendo substituído por estas novidades. Segundo o guitarrista, Felipe Soares, grande parte do rock produzido hoje em dia carrega influências do grunge. “ Staind, Linkin Park, Godsmack, Creed, Crazy Town, Days of the New, Puddle of Mud. Entretanto, não se pode falar de um movimento originalmente criado por tais bandas”, diz.


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e, ao longo do filme, percebe que tem que mudar de vida. Tony Manero personagem de John Travolta mostra como era a vida de um jovem morador do Brooklin. Os Embalos e assim como outros filmes moldaram a moda das pistas de dança. John Travolta ficou conhecido por esse trabalho, que abriu portas para vários outros. Saturday Night Fever virou um ícone cultural porque revolucionou a moda e a música. As roupas levaram cores mais alegres e formatos fora do habitual, proporcionando uma característica própria da maioria dos jovens daquela época. A revolução que filmes como esses trouxeram para às pessoas foi algo que complementou suas vidas. O artista plásCapa do DVD do filme Embalos de Sábado à Noite: Um fenômeno de público nos anos 80 tico Cezar Sá, presenciou essa época. “Através do filme a música Lis Assis Alive, How Deep Is Your Love, tenho certe- ganhou conhecimento. Eu lembro que Nas décadas de 1980 e 1990 fil- za que conquistou mais para extrair toda semana cansativa e mes contagiaram o mundo com suas fãs e a banda ficou co- pesada íamos às boates e lá tocavam trilhas sonoras. “Os Embalos de Sá- nhecida”, comenta. essas trilhas sonoras. Tornando a pista bado à Noite” (Saturday Night Fever) O filme foi dirigi- de dança um lugar certo para relaxar a é um exemplo disso. Uma trama para do por John Badham, o cabeça. Se percebermos, até hoje essa todos que gostam de dança e músi- diretor teve como ob- influência continua, nos fins de semaca dos anos 1980. O “Embalos” fez a jetivo ressaltar a dança nas as pessoas procuram lugares para moda das pistas de dança na época. junto a uma trilha in- se distrair. E se esses lugares tiverem Quem assistiu e assiste esse grande crível de grupos e can- músicas baseadas em filmes dos anos sucesso, não consegue ficar parado. tores da época. O filme 1980 e 1990 tudo melhora”, diz. Nos trechos em que John Travolta destaca um divulgação vai à pista de dança e começa se em- jovem sem balar, não há quem resista. perspectiva O Administrador Leandro Hen- de vida, mas rique é um grande fã de bandas que que, quando cresceram através de trilhas sonoras. entra numa “O grupo Bee Gees teve sua parcela pista de de responsabilidade no sucesso do fil- dança, sente me “Os Embalos de Sábado à Noite” e tudo mudar. “Os Embalos de Sábado anoite Con- Tony sentetinuam”, com músicas como, Stayin se diferente O trio Bee Gees também fez fama e ganhou público na época

A noite é uma criança


Nada é tão novo boombox

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Bandas atuais não inovam, só seguem referências de coisas que já foram criadas antigamente Aquele novo hit do grupo musical do momento pode estar nas paradas de sucesso há semanas, mas é quase certeza que alguém já compôs algo parecido. As canções de hoje são baseadas em outras já feitas nos anos anteriores. Um exemplo é a banda Foo Fighters, que tem grande influência de Nirvana, dos anos 90, e compartilha um integrante, Dave Grohl — que era baterista e virou vocalista e guitarrista. As influências dessa época são evidentes nas bandas atuais. Black Sabbath, por exemplo, começou nos anos 70, teve seu auge durante a década de 80 e até hoje faz sucesso. Os britânicos do Band of Skulls já se declararam fãs do Sabbath e temperam seu rock com riffs parecidíssimos. Wolfmother tem traços notáveis da ban-

da de Ozzy Osbourne e de Led Zeppelin. O editor de vídeos Ramon Mineiro é fascinado pelo Zeppelin e diz que eles são influência universal. “Tudo quanto é banda tem influências deles. Se for rock, tem Led.” Mineiro encontra mais grupos em seu mp3, como The Heavy, que é declaradamente baseado em Jamiroquai — um ícone do soul e funk dos anos 90. E não é só de rock que vivem as referências. Cee Lo, artista de R&B, também tem Jamiroquai como sua origem. O engenheiro Leonardo Macieira é fã do velho e do novo. “Usher e Chris Brown tem uma clara referência de Michael Jackson. A música She Ain’t You do Chris Brown é a Human Nature do Michael inteirinha”, comenta Macieira. A música You Turn de Usher também cita fra-

ses de Jackson em várias de suas canções. Segundo Macieira, até Justin Bieber tem referências de Michael Jackson. “Seus passos de dança, o jeito de cantar, até o jeito de gravar lembram Jackson, mas Bieber não chega aos pés do grande MJ”, diz Macieira, com um sorriso no rosto. A estudante Daiana Vidal escuta bandas menos conhecidas e ainda assim encontra inúmeras semelhanças entre grupos atuais e antigos. “Pode ser alternativo ou pop, sempre vai haver alguém pra se ter referência.” Ela cita a banda Metronomy, que tem influência dos grupos de dance dos anos 80. “Eles tem aqueles baixos pulsantes e vocais agudos, com falsete.” Daiana também relaciona os grupos americanos Interpol e She Wants Revenge

com os ingleses Echo & The Bunnymen e Joy Division. “Tudo quanto é banda depressiva se baseia em Joy Division. Eles são divisores de água e iniciaram o movimento pós-punk.” Para ela, a dupla Daft Punk é base para quase todas as bandas de música eletrônica atualmente. “Se não tem um pingo de Daft Punk, não é legal. Tem que absorver um pouco deles pra fazer sentido.” O empresário Reginaldo Pina viveu os anos 80 e 90 e conta suas impressões sobre a música atual. “Todas as bandas tem referências no passado. Pode até não parecer, mas elas estão na sonoridade e nas letras”. Pina também reclama que a música de hoje não é tão boa quanto antigamente. “Até Restart tem influência de alguém. E esse alguém deve estar se revirando no caixão.”

Á esquerda, Black Sabbath. Á direita, Led Zeppelin. Ao centro, a banda Wolfmother: uma boa mistura com sonoridade original

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Rock In Rio

Um evento que ganhou o mundo

todas as fotos: divulgação

Em 1985, o Brasil vivenciou um dos eventos mais importantes e marcantes da música nacional e internacional, o maior festival de rock – Rock in Rio, realizado em um terreno na Barra da Tijuca, na capital do Rio de Janeiro, em um espaço de 250 mil m2. Além do festival os brasileiros passavam por um momento histórico e decisivo saiam da ditadura para a democracia, e para comemorar essa evolução, o empresário Roberto Medina teve a ideia de festejar a liberdade organizando um festival de rock de primeira categoria. Mas o caminho foi árduo e longo para o país receber grandes músicos da cena internacional, isso porque se tratava apenas de Brasil e o empresário trabalhou fortemente nas negociações com os empresários dos músicos. Não seria a primeira vez que o país receberia grandes bandas internacionais, pois, em 1981, o Queen veio ao Brasil e provou que o rock tinha imensa popularidade entre os brasileiros. Com duas apresentações em estádios lotados, os ingleses proporcionaram ao público um verdadeiro espetáculo de rock. 2 anos depois, as bandas Kiss e Van Halen se renderam ao amor incondicional dos roqueiros brasileiros e fizeram apresentações memoráveis. Após a primeira data fechada na agenda do festival com o cantor de voz rouca e cabelos esvoaçados o roqueiro Rod Stewart, parece que seus companheiros começaram a aderir ao festival e deixar de lado os pré-conceitos da terra tupiniquim, e assim Ozzy Osbourne, Scorpions, Iron Maiden, George Benson, Yes, entre outros decidiram apostar no festival e garantiram suas presenças. Mas, não foi só de rock internacional que o festival ficou recheado também tivemos a brasilidade de Alceu Valença, Barão Vermelho, Blitz, Eduardo Dusek, Elba Ramalho, Erasmo Carlos, Gilberto Gil, Ivan Lins, Kid Abelha & Os Abóboras Selvagens, Lulu Santos,

Moraes Moreira, Ney Matogrosso, Os Paralamas do Sucesso, Pepeu Gomes & Baby Consuelo e Rita Lee, nos palcos. Para a professora, Maria Janete, de 67 anos, é nostálgico lembrar do primeiro Rock In Rio. “Nossa eu acompanhei tudo pela TV e aumentava o som, gostava de ouvir no último volume, quando Queen subiu no palco até hoje me arrepio de lembrar”. A década de 90 passou, o milênio virou e em uma nova era o público brasileiro foi contemplado com o Rock in Rio III. A terceira temporada do evento voltou para a casa, isto é, foi realizada no mesmo local da edição de estreia, um terreno em Jacarepaguá, na capital do Rio de Janeiro. Porém, desta vez, a “Cidade do Rock” foi preparada para receber 250 mil pessoas por dia. O festival decidiu abraçar causas sociais e levantou a bandeira “Por Um Mundo Melhor”, que direcionou foco para projetos socioambientais e educação. O publicitário, Alessandro Cordeiro, presenciou dois festivais e disse “a emoção e o entusiasmo das pessoas do rock são de arrepiar. Sempre muito bem feito e organizado o festival não deixa a desejar.” Agora resta esperar o próximo ano com novidades das bandas e muito rockn’ roll para os adoradores.


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Perdas insubstituíveis Thomas Shikida

A morte nunca é fácil. Seja um parente, um amigo ou alguém próximo, perder uma pessoa é complicado. Mas, em alguns casos, essa perda pode ensinar algo ou até ser o estopim para o início de uma nova era. Foi o que aconteceu nas décadas de 80 e 90. Algumas perdas ensinaram, como com os cantores Freddie Mercury e Cazuza. Outras mudaram a política, como com Tancredo Neves. Outras simplesmente deixaram um grande vazio, como no caso do piloto Ayrton Senna. O boom da Aids ocorreu na década de

80 e trouxe mudanças no cotidiano. Já não era mais a época do sexo livre. Até obras da ficção se adaptaram, como o James Bond de Timothy Dalton, que ficou mais “sossegado” em seus dois filmes. Mas o momento que realmente trouxe à tona a doença foi a repentina morte de Freddie Mercury. Numa época em que a Aids ainda era pouco conhecida e seu diagnóstico trazia uma grande carga de preconceito, o músico demorou a confirmar que estava doente. Seus companheiros de banda o ajudaram e mentiram para a imprensa, ao negar que Mercury estivesse com o vírus. Em 23 de novembro de 1991 ele finalmen-

te divulgou, em breve nota, que estava com a doença. Menos de 24 horas depois, faleceu vítima de complicações em decorrência de uma pneumonia. A surpresa do anúncio só não foi maior por causa da morte logo em seguida. O artista Florindo Peixoto ficou em choque. “Era comentado que ele estava doente, e talvez com Aids. Mas ainda

assim foi difícil acreditar. E logo depois ele morreu, foi chocante”, conta. Peixoto afirma que não conhecia muito da doença na época, mas depois do ocorrido com o ídolo começou a se informar mais. No Brasil os fãs da música já estavam mais preparados para a situação. Um ano antes da morte do vocalista do Queen, o cantor Cazuza também morria Divulgação

Cazuza: o poeta que marcou toda uma geração com suas letras


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vítima da Aids. Ele reconheceu a doença em 1989, dois anos depois de descobrir. Na época Peixoto não estava no país, então não ficou familiarizado com a situação. “Soube pelos jornais e pelas notícias da minha família. Mas só fui saber mais sobre a doença depois”, relata.

Diretas Já A década de 80 trouxe muitas mudanças também no campo político. A ditadura militar começava a cair e o povo clamava pelas eleições diretas para presidente. As eleições de 1985, embora ainda não fossem diretas, já representavam o primeiro passo

para a redemocratização, e a eleição de Tancredo Neves confirmou isso. Ele seria o primeiro presidente civil do Brasil em 50 anos. Porém sua saúde estava debilitada, fato que escondia de todos, com medo do então presidente João Figueiredo não empossar seu vice, José Sarney. Na véspera da posse Neves foi internado com dores abdominais. Sarney foi empossado no dia seguinte, mesmo sem a presença de Figueiredo na cerimônia. Pouco mais de um mês depois, no dia 21 de abril de 1985, Tancredo Neves faleceu no Hospital das Clínicas, em São Paulo, vítima de infec-

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Tom Jobin foi um dos maiores expoentes da Bossa Nova

ção generalizada. No período em que ficou hospitalizado, Neves sofreu sete cirurgias. Houve grande comoção no país. A enfermeira Maria Tetsuaki se recorda da época. “Tínha-

mos medo do processo todo ir por água abaixo. Medo dos militares retomarem a presidência”, diz ela. Mesmo sem ter sido empossado, Tancredo Neves é elencado entre os ex-presidentes Divulgação

Sucesso meteórico na década de 90, Os Mamonas Assassinas são lembrados até hoje mesmo após 16 anos da tragédia

do Brasil, por força de lei datada de 1986. Maria acha que ele teria sido um grande presidente. “Era um bom homem, e tinha o nosso apoio. Foi uma pena o que aconteceu”, diz. Outra onda de comoção no país aconteceu em 1992, quando o ex-presidente da

Câmara Ulysses Guimarães morreu em um acidente de helicóptero, no Rio de Janeiro. Guimarães era muito popular pela sua luta pela redemocratização do Brasil. Em 1973 chegou a lançar sua anticandidatura à presidência, em repúdio ao regime militar. Na década de 80,

liderou o movimento pelas eleições diretas.

Herói Nos esportes a década de 80 foi marcada pelo surgimento daquele que é, para muitos, o maior ídolo nacional, apenas superado por Pelé. Falamos de Ayrton Senna. O piloto

começou na Fórmula 1 em 1984, pela pequena Toleman. Logo se destacou e se transferiu para a mediana Lotus, onde conquistou suas primeiras vitórias na categoria. O publicitário Caio Rodrigues lembra da época com saudades. “Naquele tempo ele ainda não disputava o título, e o


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carro nem era tão bom assim. Mas a qualidade do piloto era fundamental, e isso é que era legal. Ele era sensacional. Dava gosto de assistir”, vibra. Ao se transferir para a McLaren, grande equipe da época, em 1988, Senna teve a oportunidade de disputar o título e, logo no primeiro ano de equipe, conseguiu. Vice em 1989, voltou a ser campeão em 1990 e 1991. Após alguns atritos internos, se transferiu para a Williams em 1994. Rodrigues recebeu a notícia com Líder da banda inglesa Queen, entusiasmo. “Depois Freddy Mercury escondeu sua de seis anos em uma doença por muito tempo. Revelou para a imprensa no dia 23 de no- equipe, seria legal vê-lo em um novo vembro de 1991. Um dia depois, desafio. E ele adorafaleceu.

va desafios”, conta. Mas um trágico acidente encerrou a carreira vitoriosa. Aquele 1º de maio ficou marcado para sempre na memória esportiva nacional. “O enterro dele foi impressionante. Deu para perceber o quanto a população o admirava”, conta Caio. De lá pra cá, surgiram outros aspirantes ao cargo de herói nacional, na Fórmula 1 inclusive. Mas ninguém que se compare à Senna. “Ficou um vazio no coração do brasileiro”, diz Rodrigues, triste. Vazio como o que ficou na vida dos fãs da música, que na década de 90 perderam Tom Jobim, Raul Seixas e Mamonas Assassinas, apenas para citar alguns. Hoje critica-se o cenário musical atual, principalmente quando se comparado

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com o dessa década. A empresária Fernanda Santos tem saudade das músicas antigas. “Tínhamos orgulho da nossa música, do sucesso dela no exterior. Hoje temos vergonha”, conta. Ao relembrar as perdas sofridas nas décadas de 80 e 90, os entrevistados geralmente deixam claro um ar de nostalgia. Sentem muita saudade, tanto da música como do esporte. Até a inquietação política da época é lembrada com ares eufóricos. Alguns dizem que aqueles é que foram os melhores anos de suas vidas. A comerciante Tânia Vasconcelos resume, indignada. “Me dizem que a década de 80 foi a década perdida. Com tanta coisa boa para se lembrar, como podem dizer isso?”.

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Aline Prado

A repentina morte de Diana Spencer, mais conhecida por todos como princesa Diana, completou 15 anos, e mesmo depois de tanto tempo ela ainda permanece nos corações dos ingleses e de todo o mundo como a “princesa do povo”. A data da fatalidade foi lembrada por admiradores que a homenagearam com cartas, flores e mensagens ao redor do palácio de Kensington e também na Ponte da Alma, local onde o desastre aconteceu. Em 1997, a princesa de 36 anos sofreu um grave acidente de carro no túnel em Paris. Ainda com vida, Lad Dy foi levada até o hospital de La Pitié Salpétriere onde faleceu devido a uma hemorragia pulmonar. Seus acompanhantes o motorista francês, Henri Paul, e seu atual namorado o empresário egípcio Dodi Al Fayed morreram na hora. O único sobrevivente foi o guardacostas de Al Fayed,

Morte de eterna princesa do povo completa 15 anos Trevor Ress-Jones. Para o professor de história Luis Fernando Soares, esta foi considerada a pior fase da monarquia britânica. “Durante os primeiros anos se acreditou que a princesa fosse vitima de conspirações e isso

consequentemente contribuiu para a queda da popularidade do reinado de Elisabeth II. Além disso, a postura fria da exsogra ao saber da morte de Diana desagradou totalmente o publico que admirava a princesa”, explica o professor. Divulgação

Princesa Diana era reconhecida pelas causas humanitárias e amor aos filhos

A fatalidade aconteceu um ano e meio depois que ela e o príncipe Charles pais dos herdeiros Harry e William, decidiram publicamente se divorciar. Segundo investigações da polícia britânica o acidente foi causado pela perseguição insistente de paparazzis e também devido a embriaguez de seu motorista. O inquérito chegou ao fim somente em 2008 com o condutor considerado culpado e os fotógrafos con-


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Lady Di com rapazes vítimas das minas terrestres da Angola. O trabalho junto a Cruz Vermelha era uma de suas ações sociais

denados por invasão de privacidade.

Solidariedade A princesa de Gales que se tornou um dos ícones de beleza, elegância, e carisma também se destacou por apoiar projetos de caridade. Diana sempre esteve submergida nos trabalhos contra minas terrestres, impedindo a

morte de milhares de civis em todo o mundo. Em meio a tantos conflitos Lady Dy frequentemente era fotografada com crianças multiladas e teve a coragem de atravessar um campo minado angolano. Envolvimento que futuramente contribuiu para a proibição internacional das minas terrestres. Diana também se envolveu em cam-

panhas de combate a AIDS. Em 1987 enquanto a doença era discutida com tabu, a princesa foi a primeira celebridade a ser fotografada com um portador do vírus. Em um tempo em que as pessoas acreditavam que a doença era transmitida pelo contato, Lady Dy deitou-se e segurou a mão de um aidético para provar que os doentes mereciam com-

paixão e não preconceito e isolamento. Para a estudante de moda Camila Telles, Diana foi mais do que uma princesa. “Além de influenciar na moda com seus terninhos, vestidos e joias, a princesa nos mostrou que mesmo no mundo do poder e fama é muito importante não se esquecer dos mais necessitados,” finaliza. Divulgação

Diana faleceu em 1996 em um trágico acidente de carro na França, junto com Dodi Al Fayed. Em 2012, ela completaria 50 anos


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A cidade que foi dividida ao meio O Muro de Berlim separou a Alemanha em dois blocos: o socialista e o capitalista

Juliana Caldas

Construído pelos soviéticos, o Muro de Berlim dividiu a Alemanha em duas partes durante 28 anos: a socialista República Democrática da Alemanha e a capitalista República Federal da Alemanha. A cidade de Berlim nunca mais foi a mesma depois da construção do parede de concreto que separava não só ideais políticos, mas também vidas, pessoas e famílias inteiras. Quem estava no lado oriental e socialista via na cidade atrás do muro uma oportunidade de melhorar de vida. O capitalismo atraia as pessoas, graças à economia aparen-

temente bem sucedida do lado ocidental. O muro de concreto com 2,40 m de altura, cercado por guardas e protegido por arame farpado não impedia as tentativas de fuga. Para o professor de história da Univer-

sidade Federal de Alfenas, Cláudio Umpierre, o desespero das pessoas falava mais alto na hora de enfrentar a perigosa jornada até o outro lado do muro. “Muitos cidadãos foram mortos. Os guardas do muro tinham ordem de atirar

em quem tentasse atravessar a barreira. E eles fizeram isso!”, explica Umpierre. A história do muro se confunde com o final da Segunda Guerra Mundial e o inicio da Guerra Fria. Após o fim das batalhas, em 1945, a Alemanha foi dividida em quatro áreas comandadas pela França, União Soviética, Inglaterra e Estados Unidos, os grandes vencedores da guerra. Com o inicio da Guerra Fria, o mundo se dividiu em dois grandes blocos. Para o historiador, Guilherme Amaral Luz, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Política da Universidade Federal de Uberlândia, o Muro de Berlim foi um símbolo dos acontecimentos mundiais daquela época. “O mundo estava bipolarizado. De um lado os soviéticos socialistas, do outro os Divulgação

O muro de 2,40 m de altura, foi construído para dividir a cidade em socialista e capitalista


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Para garantir que as pessoas não atravessariam o muro, guardas eram posicionados em toda a extensão da parede

norte-americanos capitalistas. A Alemanha simbolizava essa divisão através do Muro de Berlim.”, conta Amaral. No início da década de 1980, a competitividade entre os dois lados aumentou. Com a economia abalada, graças aos gastos com a corrida espacial e a manutenção e obtenção de armamento

militar, os soviéticos estavam prestes a perder a guerra. Em 9 de Novembro de 1989, um mal-entendido foi o estopim para acabar com essa bipolaridade. “O governo da República Democrática da Alemanha anunciou na imprensa que as viagens para o ocidente seriam permitidas. A informação

vazou antes do que deveria. Milhares de pessoas se dirigiram até o muro, exigindo a abertura da barreira.”, explica Umpierre. A pressão popular não podia mais ser controlada. Entre a tarde de 9 de Novembro e a manhã do dia 10, o mundo assistiu a queda da barreira que dividiu uma cidade ao

meio por quase três décadas. Multidões reuniam-se ao redor do muro. Do lado de lá, os cidadãos da República Federal da Alemanha festejavam a unificação dos povos. Um ano depois, em Outubro de 1990, a Alemanha estava completamente reunificada. Agora só havia um lado: o capitalista. Divulgação

Um manifestante inicia a derrubada do Muro de Berlim. A queda marcou o fim do regime socialista em 1989


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Plano Real completa 18 anos e marca a história da economia brasileira Daniel Lopes

O Brasil foi um dos países que mais sofreram com a inflação da moeda em todo o mundo. Governos como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, José Sarney e Fernando Collor foram marcados por grande desvalorização da moeda nacional, o que acarretaram graves consequências financeiras para todos os brasileiros. A instabilidade da economia e o fracasso dos planos que surgiam para tentar controlar as crises e a inflação deixavam o país sem rumo e sem futuro. De 1986 a 1994, houve nada menos de seis planos de estabilização frustrados: Cruzado

verno pudesse resolver o problema diminuía a cada vez. A inflação dificultava o planejamento da vida de todas as pessoas, famílias e

O rumo da história brasileira começou a mudar a partir de fevereiro de 1994, quando o Plano Real começou a vigorar oficialmente. O programa desarmou o sistema de indexação,

empresas. O empresário Moacir do Carmo, que nos anos 90 tinha um supermercado na capital de São Paulo, lembra a dificuldade

restabeleceu a confiança em que o governo não faria extravagâncias na economia e virou uma página complicada da história. A medida instituiu a Unidade Real de Valor (URV), que estabeleceu regras de conversão e uso de valores monetários, e determinou o lançamento de uma nova moeda, o Real. No final do ano de 1993, o governo deu início a esse plano com o objetivo de controlar a hiperinflação do país. O presidente Itamar Franco permitiu que o então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, conduzisse todo o processo, desde sua idealização até sua execução. FHC reuniu economistas

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1 (fevereiro de 1986) e 2 (novembro de 1986), Bresser (1987), Verão (1988), Collor 1 (1990) e 2 (1991). A inflação retrocedia momentaneamente, mas voltava com ainda mais força logo adiante, ao passo que a confiança em que o go-

que era de se manter os preços dos produtos. “Todos os dias tínhamos que remarcar os preços. Alguns dias, trocávamos três ou quatro vezes. Era um período difícil, eu mesmo fechei o mercado em 92”, diz.

para elaborar as medidas do governo e as reformas econômicas e monetárias necessárias. O economista Paulo Barbosa acredita que o plano Real se mostrou o mais eficaz programa de estabilização econômica da história do Brasil. “Mas para alcançar o sucesso foi preciso que fossem tomadas medidas como privatizações de vários setores estatais, criação de agências reguladoras, implantação da Lei de Responsabilidade Fiscal, liquidação ou venda da maioria dos bancos estaduais, renegociação da dívida pública e maior abertura comercial com o exterior”, conta Barbosa. O Real se tornou uma moeda forte, prosperou e colocou o Brasil entre os maiores países no cenário econômico mundial e um gigante da América do Sul. Desde 1994, o plano passou por crises pontuais na economia global e demonstrou capacidade de controle e recuperação, especialmente a crise de 1997 e 2008-2009, o que acarretou graves problemas na Europa e nos Estados Unidos, a qual passou sem muito impacto pelo Brasil. O país, hoje, conta com uma moeda estável, sem apresentar indícios de substituição.


m co e t u c s E

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a m l A


ops, mapa errado CLUbE PRAGA

bem longe da república tcheca

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RUA TÚRIASSU, 483 - peRDIZES


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