FTD Sistema de Ensino – Articulação | Outubro de 2017 – Edição no 8
manutenção da sua identidade é mais que estética: é uma forma de resistência e resiliência”, afirma Ribeiro. “Ao falar de apropriação cultural, estamos questionando um ramo dessa árvore do racismo estrutural que atinge diversos povos não brancos, comumente criticados, perseguidos e massacrados por sua identidade.” Para Suzane Jardim, a reprodução de símbolos culturais em escala industrial carrega o agravante de esvaziar os movimentos sociais: “Os símbolos estão lá. Podem até passar uma falsa mensagem de aceitação e de paz entre
os povos, mas a exclusão do negro na hora do registro de sua própria história reforça uma ideologia já velha, na qual o Brasil é o país da miscigenação e do bom convívio entre as raças desde que o negro permaneça escondido e sem oportunidades reais dentro do sistema.” Fiscalizar “quem está usando o quê” nunca foi um real foco da luta antirracista, segundo Jardim. Esta continua focada no extermínio da juventude negra, no encarceramento em massa de sua população, na guerra às drogas e no acesso à Universidade, elenca Borges. No entanto, ela afirma que o
caso da curitibana Thuane Cordeiro foi ilustrativo, já que evidenciou a maneira como as “dinâmicas da apropriação e da manutenção da desigualdade continuam sendo mantidas”. “Grandes jornais e plataformas online o noticiaram assumindo a veracidade da história e o fazendo em tom de denúncia contra a atitude ‘radical’ dos negros brasileiros”, critica. “Mas casos de racismo envolvendo desconhecidos são denunciados diariamente sem tomar esse tipo de proporção.”
PARRA, Nathalia; POMPERMAIER, Paulo Henrique. Identidade e apropriação cultural. Revista Cult, São Paulo, 22 fev. 2017. Disponível em: <https://revistacult.uol.com.br/home/identidade-e-apropriacao-cultural/>. Acesso em: 29 set. 2017.
Diálogo aberto Perigos de uma “história única” e a reconquista do paraíso e sobre como tais visões são reflexos das estruturas de poder – estruturas que, no exercício da dominação, contam versões únicas, repetidamente, sobre o que é a África e, dessa forma, tornam o continente um lugar de trevas, guerras inúteis, doenças, incivilização e pessoas incompreensíveis.
No fim das contas, isso ensina que pessoas são extremamente impressionáveis e vulneráveis frente a uma história. Histórias “únicas” são filhas da dominação cultural de povos que submetem outros sob um regime de costumes que elimina a dignidade das tradições subjugadas para imprimir um ANGELA WEISS / AFP
Em julho de 2009, a romancista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (1977-) realizou uma palestra no TED Conference. TED, acrônimo para tecnologia, entretenimento e design, é uma série de conferências organizadas pela Sapling Foundation, uma fundação estadunidense sem fins lucrativos que visa a disseminar ideias pelo mundo. Esse trabalho ocorre por meio da gravação de vídeos com palestrantes de diversas áreas, que são amplamente divulgados em plataformas digitais. Um dos diferenciais do conteúdo apresentado por Chimamanda, na ocasião, foi o fato de que seus comentários apontaram sabiamente para as complexidades de uma dominação cultural que ocorre na atualidade. A autora, inclusive, tem se tornado cada dia mais popular por escrever, ensinar e militar em favor de minorias. Chimamanda intitulou sua explanação de O perigo de uma única história. (disponível em: <www.youtube.com/ watch?v=wQk17RPuhW8>, acesso em: 29 set. 2017). Durante quase 19 minutos, ela fala sobre visões absurdas que o Ocidente alimenta sobre a África
A escritora Chimamanda Ngozi Adichie durante evento em Nova York, EUA, em 5 de abril de 2017.
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