::Os livros que eu lia quando tinha a tua idade
Mas afinal que livro te mordeu?
tempestade, assim lhe soprou a professora bibliotecária um valente: – Chiiiiiiiuuuuuuuu!!!! Quando os amigos foram em socorro do colega e lhe
retiraram o Livro da cara, com todas as cautelas,
Era uma vez um Livro de que toda a gente fugia a sete
perceberam que o Nariz de Batata tinha ficado marcado de
pés. Assim que alguém se aproximava, punha logo uma
duas formas terríveis: com um inchaço – que haveria de
capa de mau e não havia quem não perdesse a vontade de
acalmar no dia seguinte –
o ler. Alguns alunos, assustados, mudavam de ideia e
germinava na cabeça de todos. Essa… haveria de ficar para
percorriam com o dedo o resto da estante, como um
a vida.
teclado de piano desconjuntado, esperando não voltar a tropeçar num volume tão sisudo.
e com uma alcunha, que
Para espanto geral, o Nariz de Batata não se deu por
Outros, mais
vencido. Continuou a ir à biblioteca e ficava a mirar de
supersticiosos, viam naquilo um sinal de mau agouro;
longe aquelas páginas, que a todos desafiavam. Claro que a
trocavam
as
leituras
por
experiência
recente,
por
sinal
conversas ou viravam-se para
bastante dolorosa, desaconselhava
o computador.
novas investidas e os comentários
Mas há sempre aqueles
que se ouviam nos intervalos não
mais distraídos. Se acaso o
deixavam de impressionar:
abriam, sem lhe espreitarem
– O Livro tem vontade própria e não
a capa, podiam colocar-se em
quer ser lido. Paciência! É como
perigo de vida. Ficou célebre
certos miúdos daqui da escola, o
o caso do Nariz de Batata,
que o Livro tomou de ponta.
Ilustração da Lara, 2ºB - EBnº3
O Nariz de Batata, que também era caixa de óculos (e rato
melhor é nem nos metermos com
eles ou… ainda levamos algum
sopapo!
de biblioteca, já agora, que um mal nunca vem só), puxou o
– Vê-se logo que não é dali, anda perdido. Esse
Livro para si, aparafusou os óculos à testa com o indicador
calhamaço deve ter sido roubado a um feiticeiro, está
e pôs-se a lê-lo, com as páginas coladas à cara, como era
cheio de segredos e poções mágicas. Quem o agarrar
seu hábito. Da primeira vez que levou o dedo à língua para
sujeita-se a uma maldição!
virar a página, prestes a deixar a sua marca húmida no
As hipóteses eram muitas e só faziam crescer o
papel, zás, o Livro fechou-se tão subitamente e com tal
mistério. Nariz de Batata não conseguia deixar de pensar
força que lhe espalmou o nariz. Um grito imenso e
no Livro. Percebia-o a cerrar a capa e a contracapa, como
constipado soou então, biblioteca fora, atravessou as ruas
uma ostra teimosa, capaz de esconder a pérola que trazia
da vila de Condeixa, ecoou na escola Fernando Namora,
dentro. Só havia uma forma… dar tempo ao tempo,
regressou, biblioteca dentro, até embater contra uma
continuar a tentar. Normalmente é assim, ao fim de muita
sobrancelha arqueada e um dedo posto ao alto sobre
luta, que se convence um livro a contar-nos a sua história.
lábios cerrados. Como uma rajada de vento em dia de a sentir os seus medos, as suas alegrias e vitórias! Para além do suspense e emoção, da audácia daqueles jovens, do perigo que corriam, eram os diferentes locais onde se desenvolvem as suas aventuras e que nos transportam para lá. Era como se cada livro me permitisse conhecer mais um bocado de mundo, sem sequer sair do local. Era uma verdadeira viagem… Uma viagem que, hoje vejo com muita clareza, me permitiu ficar muito mais rica e sem me exigir nada em troca…a não ser o prazer de a viver! Ajudou-me a gostar muito mais de português, a perceber muito melhor os textos, a expressar-
Susana Carvalho, mãe da Lara, 2ºB EB3 e do Luís, JI EB3
me melhor, a escrever com maior clareza,… Recentemente comecei a reler alguns destes livros, requisitados na biblioteca da escola pela minha filha, a quem há muito comecei a ler alguns capítulos na hora de dormir. Confesso que muitas vezes ela adormecia e eu ficava a ler até ao fim…o vício da juventude ainda perdura! Depois de “Uma Aventura na Madeira” foi com enorme agrado e orgulho que recebi a notícia de que o 59.º título da série “Uma Aventura” iniciada em 1982 será “Uma Aventura em Conímbriga” com publicação prevista para março de 2017…que de certeza não irei perder! Sara Nascimento, mãe da Diana do 5º B e da Inês do JI S. Fipo.
dezembro de 2016 - JÁ - O Jornal do Agrupamento de Escolas de Condeixa 31