13 JÁ jornal de condeixa dez 16

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::Os livros que eu lia quando tinha a tua idade

Mas afinal que livro te mordeu?

tempestade, assim lhe soprou a professora bibliotecária um valente: – Chiiiiiiiuuuuuuuu!!!! Quando os amigos foram em socorro do colega e lhe

retiraram o Livro da cara, com todas as cautelas,

Era uma vez um Livro de que toda a gente fugia a sete

perceberam que o Nariz de Batata tinha ficado marcado de

pés. Assim que alguém se aproximava, punha logo uma

duas formas terríveis: com um inchaço – que haveria de

capa de mau e não havia quem não perdesse a vontade de

acalmar no dia seguinte –

o ler. Alguns alunos, assustados, mudavam de ideia e

germinava na cabeça de todos. Essa… haveria de ficar para

percorriam com o dedo o resto da estante, como um

a vida.

teclado de piano desconjuntado, esperando não voltar a tropeçar num volume tão sisudo.

e com uma alcunha, que

Para espanto geral, o Nariz de Batata não se deu por

Outros, mais

vencido. Continuou a ir à biblioteca e ficava a mirar de

supersticiosos, viam naquilo um sinal de mau agouro;

longe aquelas páginas, que a todos desafiavam. Claro que a

trocavam

as

leituras

por

experiência

recente,

por

sinal

conversas ou viravam-se para

bastante dolorosa, desaconselhava

o computador.

novas investidas e os comentários

Mas há sempre aqueles

que se ouviam nos intervalos não

mais distraídos. Se acaso o

deixavam de impressionar:

abriam, sem lhe espreitarem

– O Livro tem vontade própria e não

a capa, podiam colocar-se em

quer ser lido. Paciência! É como

perigo de vida. Ficou célebre

certos miúdos daqui da escola, o

o caso do Nariz de Batata,

que o Livro tomou de ponta.

Ilustração da Lara, 2ºB - EBnº3

O Nariz de Batata, que também era caixa de óculos (e rato

melhor é nem nos metermos com

eles ou… ainda levamos algum

sopapo!

de biblioteca, já agora, que um mal nunca vem só), puxou o

– Vê-se logo que não é dali, anda perdido. Esse

Livro para si, aparafusou os óculos à testa com o indicador

calhamaço deve ter sido roubado a um feiticeiro, está

e pôs-se a lê-lo, com as páginas coladas à cara, como era

cheio de segredos e poções mágicas. Quem o agarrar

seu hábito. Da primeira vez que levou o dedo à língua para

sujeita-se a uma maldição!

virar a página, prestes a deixar a sua marca húmida no

As hipóteses eram muitas e só faziam crescer o

papel, zás, o Livro fechou-se tão subitamente e com tal

mistério. Nariz de Batata não conseguia deixar de pensar

força que lhe espalmou o nariz. Um grito imenso e

no Livro. Percebia-o a cerrar a capa e a contracapa, como

constipado soou então, biblioteca fora, atravessou as ruas

uma ostra teimosa, capaz de esconder a pérola que trazia

da vila de Condeixa, ecoou na escola Fernando Namora,

dentro. Só havia uma forma… dar tempo ao tempo,

regressou, biblioteca dentro, até embater contra uma

continuar a tentar. Normalmente é assim, ao fim de muita

sobrancelha arqueada e um dedo posto ao alto sobre

luta, que se convence um livro a contar-nos a sua história.

lábios cerrados. Como uma rajada de vento em dia de a sentir os seus medos, as suas alegrias e vitórias! Para além do suspense e emoção, da audácia daqueles jovens, do perigo que corriam, eram os diferentes locais onde se desenvolvem as suas aventuras e que nos transportam para lá. Era como se cada livro me permitisse conhecer mais um bocado de mundo, sem sequer sair do local. Era uma verdadeira viagem… Uma viagem que, hoje vejo com muita clareza, me permitiu ficar muito mais rica e sem me exigir nada em troca…a não ser o prazer de a viver! Ajudou-me a gostar muito mais de português, a perceber muito melhor os textos, a expressar-

Susana Carvalho, mãe da Lara, 2ºB EB3 e do Luís, JI EB3

me melhor, a escrever com maior clareza,… Recentemente comecei a reler alguns destes livros, requisitados na biblioteca da escola pela minha filha, a quem há muito comecei a ler alguns capítulos na hora de dormir. Confesso que muitas vezes ela adormecia e eu ficava a ler até ao fim…o vício da juventude ainda perdura! Depois de “Uma Aventura na Madeira” foi com enorme agrado e orgulho que recebi a notícia de que o 59.º título da série “Uma Aventura” iniciada em 1982 será “Uma Aventura em Conímbriga” com publicação prevista para março de 2017…que de certeza não irei perder! Sara Nascimento, mãe da Diana do 5º B e da Inês do JI S. Fipo.

dezembro de 2016 - JÁ - O Jornal do Agrupamento de Escolas de Condeixa 31


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