SlamBall A Unicamp vai transicionar










Na quinta-feira, 14 de abril de 2022, foi anunciado em colaboração com diversas organizações; Núcleo de consciência trans (N.C.T), Ateliê TRANSmoras, Diretório central dos estudantes (D.C.E.) e a Secretaria de cultura e turismo de campinas; o Slam Ball: A Unicamp vai transicionar que ocorreria na quarta-feira seguinte, dia 20 de abril, no Teatro Arena das 15h às 21h.
eventos e atos anteriores
Um evento predisposto a partir dos atos nas semanas anteriores, com a construção de uma faixa em 26 de março, sua exibição no Ciclo básico II e, no dia 3 de março, a ocupação do vão deste mesmo prédio.
O Slam Ball consolidaria as reivindicações pelas Cotas trans e sua organização de forma institucionalizada, fazendo a reivindicação por acesso à educação passar pela comemoração da vida numa experiência TRANSgressora.
Construindo uma festa 04
Uma união de duas tecnologias, o Slam e o Ballroom, que tem como base uma ruptura que pretende incomodar as performances já consolidadas. O primeiro a partir de seu desafio da imagem passiva e branca dos autores que merecem reconhecimento como poéticos, da literatura e o espaço que ela deve ocupar. O segundo, com a criação de um espaço verdadeiramente livre para corpes, colocando em pauta construtos sociais de sexualidade e gênero, chamando atenção para seu caráter performático
Os dois tem por fim um efeito compartilhado de tecnologias culturais que questionam a visão do periférico e marginalizado, centralizando-o e, a partir de suas leituras críticas ao longo da vida. Seja de textos ou vivências, seguindo o caminho indicado por Paulo Freire, a leitura consciente ligada diretamente à escrita de nossas próprias histórias e identidades e assim reescrita do mundo.
Diferente dos anteriores, o evento não só clama pelo acesso de corpes trans à universidade como de fato convidam e possibilitam sua chegada. Um ônibus de 42 lugares foi disponibilizado pela Associação de Docentes da Unicamp, percorrendo o trajeto São Paulo à Campinas, deixando os passageiros na Unicamp, e com retorno ao final do evento de forma gratuita. Para o uso do transporte, foi divulgado pelo N.C.T., um formulário online. Coloca-se assim um formato a ser seguido, o verdadeiro acesso a todes passa pela criação de possibilidades que reconheçam os lugares diversos e se adaptem, criando caminhos interseccionais.
Os encontros anteriores tinham participações trans pontuais de militantes ou da Unicamp, ou já em contato com a Unicamp, como moradoras do Ateliê. Reforçando sempre em suas falas, mesmo com essa proximidade da universidade, a distância desta e a comunidade transgênero ali presente, além das dificuldades gerais de se chegar àqueles lugares e permanecer neles, colocando a importância do apoio e luta de pessoas cisgênero pelas cotas trans, as políticas de permanência, o reconhecimento do impacto dos contextos sociais e ainda o acolhimento dessas pessoas.
Durante a preparação do evento, desde às 14h20, as pessoas já se reuniam nas arquibancadas do Teatro Arena, formando pequenos e médios grupos. Para aqueles que tinham interesse em concorrer ao ball e suas categorias haviam regras para os looks: pessoas cis deveriam usar preto, não bináries branco, transfemininas azul e transmasculinos usariam rosa, fazendo com que as pessoas trans usasem as cores de sua bandeira.
Era visível ali a animação e a necessidade de proximidade do palco das pessoas trans, como uma maneira de informar desde o começo o pertencimento àquele lugar, grupos grandes se sentaram no início das arquibancadas. Aquela posição física reivindica não só o espaço mas a experiência de ser um spectator, de estar e se reconhecer no palco, nas performances, e a possibilidade de se ver além de um objeto, seja de estudo ou de agressão, uma possibilidade de humanização e senso de comunidade, não só de indivíduos com a mesma identidade mas de pessoas que acreditam na transgressão, num objetivo comum de educação e libertação dos corpes marginalizades do que Grada Kilomba reconhece como a máscara do silenciamento e seus efeitos na criação de uma imagem dessas pessoas feita para o isolamento. O nome “A Unicamp vai transicionar” fala sobre isso, o pedido de TRANSição da faculdade, pedindo uma passagem para um campo de possibilidades.
Como proposto, às 15h a roda de conversa intitulada “Qual a importância de cotas trans na UNICAMP e a necessidade de políticas de permanência” teve início. A liderança e organização do evento propõe, antes de iniciar as falas, que todos se rearranjem em roda, sentando nas bordas do palco, possibilitando o uso de todos do microfone, de integração.
A primeira fala é de Lucas, um homem trans ingressante na faculdade em 2015, que conta as agressões de estar nessa posição e a implicação de solidão e desamparo que esta causa, em seguida retoma, durante sua graduação podia contar nos dedos de uma mão as pessoas trans no campus e hoje sua alegria está no desconhecimento deste número, na ocupação desse espaço e reivindicação da validade de corpes e felicidades. Essa é uma estrutura comum às falas seguintes, rapidamente se fala sobre as já conhecidas marginalizações e em sequência, com mais paixão, a importância do evento, das cotas trans como parte de um projeto de universidade que realmente seja pública e represente a sociedade, das medidas necessárias para sua eficiência e principalmente da pessoa trans para além de um corpo à margem
Uma ideia que chama a atenção é o conceito de hackear os espaços, apresentado por Paris, uma pessoa não binária que coloca a arte e a resistência como uma tecnologia capaz de hackear as estruturas em que vivemos para criar novas experiências mais inclusivas. Paris nos possibilita ali a compreensão do próprio gênero como uma tecnologia, e como tal, uma ferramenta artificial de controle. A libertação se coloca como um vírus, no questionamento de humanidade, das dicotomias. Assim existe potência no inumano, no reconhecimento das performances e
Cotas, afeto e hackers desta forma, na corrupção dessas, no indivíduo TRANSgressor como um hacker.
Outra fala importante é de Majestade Babilônia que propõe uma rápida explicação do que é a cena Ballroom iniciada entre os anos 40 e 50 quando travestis passavam por opressões, que ela reforça já serem díspares às sofridas pelos homens gays brancos, sendo constantemente presas. Na prisão havia uma grande circulação de revistas vogue que tinham suas poses angulares copiadas, levando a criação da dança a partir do agrupamento de várias poses normalmente também angulares, o “vogue”, e de categorias como a “pose”. Outras categorias que seriam concorridas no evento eram a “runaway”, formada por esse desejo de desfilar, colocando essas corpas em lugar de destaque e admiração como um desfile de moda, sendo julgada a personalidade do catwalk (do andar) e a “Trans Face”, categoria que coloca a importância de estar convencide e convencer os jurados da beleza dos seus traços.
Ao serem libertas, essa cultura era disseminada nas periferias de Nova York onde aconteciam os Ballrooms. Na época, e ainda hoje, essa cena nasce na luta para não serem desumanizadas, criando um lugar seguro, afeto todos os corpos como válidos, para se identificar e simplesmente ser.
Ela pede:
No slam o papel das mediadoras é central e cria essa experiência participativa. Se coloca desde o começo que não se aceita espectadores passivos, nós votamos, nós participamos com nosso envolvimento físico e sonoro de reação aos poemas que afetam, que gritam e rasgam a divisória imaginária de nossa visão condicionada onde a arte é um bem de consumo, que se vê através de uma tela, distante, seja a da televisão, a de tecido ou ainda as peles de papel como diria Kopenawa.
Aplaudimos e nos unimos gritando bordões de poemas ou do evento,
As tecnologias da performance transgressora
Ia, , respondemos de volta
bellaAparecida
“a unicamp não vai mais ser esse lugar de exotização”, se depender de todos aqueles lá presentes que tem sua existência para além da norma branca cisheteronormativa e reivindicam a partir de sua arte, sua cultura, sua ciência, sua luta, isso não seria mais norma. “Esse espaço que é nosso por direito, direito que a gente não vai discutir mais, eu não quero ser burocrática, eu não quero mais 5 minutos ou 15 de falas, eu quero muito mais!
Eu quero escrever a história de mais outras irmãs que vão ocupar esse espaço”.
A euforia da plateia que grita e canta o que chanters pedem, que olham aquelas pessoas com um olhar e sentimento real de compreensão após as falas e admiração após a apresentação de suas potências. Esse é o processo educativo que falta na Unicamp, o ensino do afeto que afeta, aquele que ensina a TRANSgredir o que lhe é imposto e implica essa leitura e constante reescrita dos caminhos possíveis.
L o g o n o c o m e ç o d o B a l l e x i s t e t o d a u m a p a r t e d e d i c a d a a a l g o q u e e s t a b e l e c e : a q u i T R A N S g r e d i m o s a e x p e r i ê n c i a i m p o s t a , n ó s é q u e c o n t a m o s n o s s a h i s t ó r i a . C o m a a p r e s e n t a ç ã o d e h o u s e s e p e s s o a s d a c e n a , a q u e l e é u m e s p a ç o o n d e t o d o s p o d e m s e t o r n a r l e g e n d a r y ( l e n d á r i a s ) , u l t r a p a s s a r a p a r t i r d a p e r f o r m a n c e , d a e x p r e s s ã o , d a a r t e o e s p a ç o p e q u e n o q u e l h e é d a d o e n ã o a c o l h e p o t ê n c i a s t ã o g r a n d e s . 3 4
O evento, desta forma, demonstra como as cotas trans e a luta pelo acesso à educação é uma luta também pela validade e valorização dessas experiências,
SLAMBALL As tecnologias da performance transgressora
pela necessidade de ter um espaço público e institucionalizado de liberdade e criação conjunta de um conhecimento
capazdehackearas
estruturasexistentes.
A luta, a articulação não para por aí. O evento é uma das várias articulações crescentes e constantes do Núcleo de consciência Trans (@nct_unicamp) pelas cotas trans, por esse projeto de uma faculdade mais diversa e portanto melhor, verdadeiramente pública e caminhando em direção à uma educação transgressora. É importante, a assinatura da carta ao reitor disponível na bio do NCT no instagram e, para aqueles que puderem, a doação para o pix (nucleodeconscienciatrans@gmail.com).
É preciso que a gente faça parte da mudança, que não se conforme com as realidades excludentes e esteja junto do Núcleo de consciência Trans e seus participantes nos movimentos e articulações propostas, somente com a experiênciaconjuntadelutaeacolhimento compartilhada por uma comunidade grande e vocal é que podemos promover uma transição tão grande e significativa. Considerefazerpartedessealgomaior.
Participem pix, carta ao reitor e eventos de articulação
No decorrer de fazer esse texto percebi como ele é para mim e aqueles que se tocam por essas experiências e possibilidades. Este não é um projeto deslocado e sua posição me emociona, poder fazer parte de tudo isso é se ver permitir esperançar, questionar quem sou e quem somos como estudantes, professores e sociedade.
Agradeço ao N.C.T. por proporcionar esses espaços e com tanto esforço levantar pautas tão essenciais. Agradeço também às incríveis fotografias concedidas por Julia (@jumoretzfoto), Isabella (@cidocafotograf) e Cíntia (@cintia.rizoli), a imagem é mais uma das tecnologias aqui que pretendem criar essa sensação de inclusão do leitor ativo na descrição do evento e as fotos sensacionais ajudam demais essa minha tarefa.
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que descrevo que o meu e verdade que e participe olhar co merecemo
tomá-lo e a n que se loca
or fim, obrigado à quem leu e engajou com aquilo , seu papel no texto é tão grande ou ainda maior e por isso não sei o quanto agradecer, espero de também se possibilite esperançar e transgredir de experiências como essa, que mudam nosso m o mundo e encantam ao nos lembrar que os mais do que é dado. O mundo é nosso, basta nossa maneira é a da educação transformadora aliza e conversa com aqueles antes excluídos.