Pode o homem branco calar? (Mombaça, 2016) A expressão “merci beaucoup, blanc!”, de origem latina, usada para designar agradecimento na França, neste caso é metáfora para nomear minha experiência em performance arte iniciada em 2010. Esta experiência estética pesquisa artística política poética pretende transitar no âmbito da fotografia ficcional e também na arte contemporânea e prosseguir nos processos de escrita performativa para tratar o ativismo político cotidiano negro. Se faz portanto de composições transformações deformações de ações cotidianas com desejo intenção palavra micropolítica migração. A negra presença como ato performático burocrático deformado na intuição instituição pública privilegiada burocratizada privada elitizada gourmetizada 2. Ao tratar do próprio corpo o porco, aproximo-me do sentimento desentendimento de não pertencimento abatimento esquecimento, e ainda como metralhadora revólver máquina tanque de guerra me coloco a provocação racial social escrita discursiva no intuito de desmascarar mascarar arrastar a falsa alva colonial interlocução entre quem são os sujeitos subjetivados defeitos senhores e sábios doutores que legitimam o pensamento fazer artístico na vida cotidiana de uma mulher negra numa metrópole fundamentalista católica escravocrata colonizada aterrorizada horrorizada. Penso que a (in) funcionalidade radicalidade ambiguidade necessária dessa escrita não está na definição individualização e essencialização da opressão, ou numa sistematização de casos provocados pela experiência de ser oprimida, mas na percepção sutil do corpo o porco acionada pelo experimento em performance arte e que, qualquer indivíduo, seja ele homem mulher branco alvo privilegiado, ou homem mulher escuro negro assimétrico, foi socializado a partir de regimes militares religiosos coloniais que subalternizam o corpo, principalmente de uma mulher negra, eu sinto. A questão principal inicial infinita é que temos uma árdua missão de
1. Essa saudação é nome da ação em performance criada no ano de 2010. Ao nomear minha ação com essa expressão, proponho uma reflexão direta sobre a linguagem escrita e crio uma inflexão na palavra blanc acrescentando a letra O. É um programa de ações que me levam a pintar meu corpo de branco.
2. Gourmet é uma palavra que tem ascendência francesa. O significado original designava “os bons apreciadores de vinho, os verdadeiros conhecedores da bebida”. Vejo essa palavra como higienização de práticas de origens precárias e de cunho popular.
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