Nº 407 Edição Brasil

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Janeiro/2012

Crise O que o Brasil deve esperar do cenário internacional em 2012

www.americaeconomiabrasil.com.br

AméricaEconomia

MAGAZINE LUIZA, A HORA DE ARRUMAR A CASA

NOVA FASE

Com um pé no governo, Luiza Trajano arruma a casa depois do IPO e das aquisições

VERGONHA Cansados de falcatruas, brasileiros pressionam por mais punição no país da corrupção

O futuro do Magazine Luiza CAPA 407_LUIZA_OK.indd 1

ISSN 1414-2341

BRASIL

No 407 JAN/2012 R$ 10,00

Nº 407

CERVEJAS A estratégia da Petrópolis para desbancar os estrangeiros e ficar com a vice-liderança

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NESTA EDIÇÃO 26

Finanças

50 Monopólio ameaçado

Os concorrentes da BM&FBovespa

54 Entrevista – Edemir Pinto O impacto da crise na bolsa Foto: Marcela Beltrão

56 Premiação

AméricaEconomia homenageia os maiores bancos da América Latina

Negócios

Debates

18 Mercado cervejeiro

58 Riscos Globais

Grupo Petrópolis acelera crescimento

O que a economia reserva para 2012

26 CAPA – Magazine Luiza

64 Corrupção

O ano de arrumar a casa

Brasileiros pedem punição mais rigorosa

32 Rumo à América Latina

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71 Indicadores

Os planos da Hering fora do Brasil

Pobreza diminui na América Latina

36 Papel e celulose

Otimistas, brasileiras investem em aumento de capacidade

72 Saúde de Chávez Revolução bolivariana em xeque

Peru planeja nova companhia estatal

74 Indústria

42 Especial Empreendedorismo

petroleira na Colômbia

48 Especial Empreendedorismo

76 Disputas trabalhistas

As histórias que deram certo

Cuba ganha curso voltado aos negócios Seções

4 Portal 6 Carta ao Leitor 8 Índice de Empresas 10 Pistas 12 Negócio Fechado

Foto: ABr

40 Aviação low-cost

Setor ganha força envolto em polêmicas Consultoria ajuda a reduzir problemas

14 Movimentos 35 Opinião – Caio Megale 39 Opinião – Mac Margolis 78 Ibiz – Bancos Móveis 82 Opinião – Luiz Fernando Furlan

Foto de Capa: Marcela Beltrão

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PORTAL

www.americaeconomiabrasil.com.br Nem a crise internacional deve conter o aumento da demanda mundial por energia. A edição 2011 do anuário “World Energy Outlook”, divulgado em dezembro pela AIE (Agência Internacional de Energia), aponta que haverá um acréscimo de um terço entre 2010 e 2035. A China continuará sendo o maior consumidor mundial, usando 70% a mais de energia do que os Estados Unidos, o segundo colocado. Para a diretora executiva da AIE, Maria van der Hoeven, o Brasil tem avançado significativamente no conhecimento e no desenvolvimento de tecnologias. “Apesar de não ser um país membro, o Brasil tem parcerias bastante positivas com nossa agência”, lembrou a diretora, citando, entre as tecnologias, a de veículos bicombustíveis. No entanto, a demanda primária por energia crescerá 78% entre 2009 e 2035 no país. “É o segundo maior aumento, atrás apenas da Índia.”

Foto: Shutterstock

Mais energia

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Leia no Portal PIB encolhido

Contra a miséria infantil

O Brasil teve o pior resultado entre os Brics para a evolução do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre de 2011, ante o mesmo período de 2010, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Enquanto a economia brasileira registrou 2,1%, a China teve alta de 9,1%, a Índia, de 6,9%, a Rússia cresceu 4,8% e a África do Sul, 3,1%. Na comparação com o trimestre anterior, o PIB do Brasil teve expansão nula no período (0,0%), ficando atrás de Japão (1,5%), Noruega (1,4%), México (1,3%), Coreia do Sul (0,7%), Chile (0,6%), Alemanha (0,5%), Estados Unidos (0,5%), Reino Unido (0,5%), França (0,4%) e União Europeia (0,2%).

O governo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançou, em dezembro, o programa Missão Filhos da Venezuela, que prevê a transferência de 430 bolívares – cerca de R$ 180 – por mês para crianças e adolescentes menores de 18 anos que vivem em situação de extrema pobreza no país. Dependentes com deficiência poderão receber 600 bolívares – aproximadamente R$ 250. Segundo dados do governo, a pobreza na Venezuela caiu de 49% para 27,4% entre 1998 e o primeiro semestre de 2011. Já a pobreza extrema passou de 21% para 7,3% no mesmo período. No entanto, o país ainda tem cerca de 2,5 milhões de pessoas em condição de extrema pobreza, entre elas 800 mil crianças com até 9 anos.

Custo social

A expansão das despesas primárias da União, nos últimos dez anos, tem sido provocada pelo aumento dos gastos com transferência de renda e com repasses para estados e municípios. Resultados de um estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), publicado no site de AméricaEconomia, mostram que a redistribuição de renda por meio de gastos sociais foi a principal causa do crescimento dos custos federais no período. A

transferência de renda às famílias respondeu por 71,1% das despesas federais de 2001 a 2011. Esse aumento, no entanto, não é resultado de transferência pelo Programa Bolsa Família, mas por aposentadorias, auxílios e pensões pagos pela Previdência Social. Os benefícios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) responderam por 33,1% do crescimento das transferências às famílias em relação ao PIB, entre 2004 e 2010.

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CARTA AO LEITOR

Como se inspirar em 2012? www.americaeconomiabrasil.com.br

BRASIL

PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Paula Pacheco Diretor de Arte/Projeto Gráfico: Luiz Fernando Machado Repórteres: Graziele Dal-Bó e Sérgio Siscaro Editora do Site: Adriana Chaves Revisão: José Genulino Moura Ribeiro Colaborador: Vértice Translate (tradução) COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Maurício Castro – mauricio@springcom.com.br Executivos de Contas: Dora Magalhães – dora@springcom.com.br Jorge Hidalgo – jorge@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi e Elisangela Goto ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Gerente Financeiro: Edison Arduino circulação Gerente: Fatima Oliveira Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Janeiro de 2012) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: Spring Editora-Produtora Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Chefe de Operações: Matías Agurto AméricaEconomÍa Intelligence (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn Pesquisador Especial de Cidades: Marco Ceballos AméricaEconomia.com Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando Escritórios Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

o encontro de fim de ano com a imprensa, Dilma Rousseff fez um balanço sobre os primeiros 12 meses de governo, marcados pela demissão de sete ministros – seis deles envolvidos em escândalos de corrupção. Muito cobrada pela opinião pública e pela mídia, sob a ameaça de dar adeus a mais um ministro (Fernando Pimentel, do Desenvolvimento), a presidente trombeteou que não serão admitidas irregularidades em sua gestão. “Não tem nenhum compromisso com qualquer prática inadequada de corrupção dentro do governo. É nenhum, zero. Tolerância zero”, disse. Uma presidente que não compactua com irregularidades no governo pode ser o apoio necessário para que as regras do jogo mudem e as punições tornem-se mais rigorosas no Brasil, tanto para corruptores quanto para os que se deixam corromper. O assunto ganha cada vez mais apoio dos brasileiros, como mostra nossa reportagem especial sobre corrupção. No mesmo café da manhã com jornalistas, Dilma falou sobre o que espera para a economia em 2012. Ela acredita em um crescimento de 5% do Produto Interno Bruto. Já economistas como Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, não estão tão otimistas. AméricaEconomia mergulhou nos temas mais relevantes que podem influenciar os próximos passos que o governo e as empresas pretendem dar neste ano, como os conflitos no Oriente Médio e o preço do petróleo, a demanda chinesa por commodities brasileiras, taxa de juro, câmbio, inflação, estabilidade política na América Latina e, é claro, a grande incógnita: o futuro da Europa e do euro. Foi nesse ambiente de instabilidade, agravado em 2011, que o Magazine Luiza abriu capital e absorveu 121 lojas do Baú da Felicidade. Um ano antes, havia comprado a rede nordestina Maia, com cerca de 150 lojas. Com tantas movimentações, chegou a hora de colocar a casa em ordem, como conta Luiza Helena Trajano, presidente da empresa, em nossa reportagem de capa. Há 20 anos no comando da companhia, fundada pela tia na cidade paulista de Franca, Luiza conseguiu sair de um faturamento de R$ 100 milhões (1991) para R$ 5,3 bilhões (2010). E vem mais desafio pela frente: a meta é chegar a R$ 15 bilhões em vendas em 2015. São trajetórias como a de Luiza Helena que inspiram o crescimento no número de empreendedores no Brasil – cada vez mais por vocação do que por necessidade. Nesta edição, conheça cinco histórias de empresários que tiveram boas ideias, perseverança e chegaram longe, como Alexandre Tadeu da Costa, dono da rede Cacau Show, que em pouco mais de duas décadas, conseguiu abrir 1.100 lojas. Outra história de sucesso é a do Grupo Petrópolis, que, em 17 anos de existência, saiu da região Serrana do Rio de Janeiro para ganhar o país com cervejas como a Itaipava. Em um curto tempo de vida, a empresa já é dona da vice-liderança nesse disputado mercado, onde predominam as companhias estrangeiras. Boa leitura!

N

José Roberto Maluf ASSINATURAS Central de Atendimento Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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Fato Relevante A Grau Gestão de Ativos parabeniza a Alothon Group LLC e a MTel Tecnologia S.A., empresa do setor de outsourcing de redes e serviços de telecomunicações e tecnologia da informação, pela realização da operação na qual a Alothon passa a ser controladora da Mtel.

A entrada da Alothon no controle da Mtel dá a esta ainda mais condições de continuar crescendo e prestando serviços de reconhecida qualidade em setores fundamentais para o desenvolvimento brasileiro.

A equipe de profissionais da Grau Gestão de Ativos registra publicamente o seu orgulho de ter atuado como assessora exclusiva da MTel na estruturação desta importante operação.

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CARTAS Dezembro/2011

Eleições O Brasil tem candidato para assumir o lugar de Lula e Dilma?

Nº 406

LINGERIES Corpão de Gisele Bündchen esquenta os negócios da Hope BRASIL

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ISSN 1414-2341

No 406 DEZ/2011 R$ 10,00

Stefanini IT Solutions: o rolo-compressor da tecnologia brasileira ganha o mundo

AméricaEconomia

O NEGÓCIO BILIONÁRIO DA STEFANINI

Marco Stefanini, presidente da empresa

NEYMAR, O POP STAR Com staff de astro, jogador dá uma bica no futebol europeu e fatura alto no Brasil

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Agradecimento Foi com muito orgulho que recebi a última edição da revista AmericaEconomia, na qual tivemos o privilégio de ver a história da Stefanini retratada com tanto profissionalismo e dedicação pelo jornalista Sérgio

ERRATA Siscaro. Gostaria de parabenizar a revista pela qualidade da apuração e reportagem. Um abraço e boas festas!

Marco Stefanini CEO da Stefanini IT Solutions

Na nota “Munição Contra a Pirataria” (AméricaEconomia nº 406, novembro 2011), os percentuais de participação no site Buscapé e no Grupo Abril referem-se ao Grupo Nasper, e não à sua controlada, a Irdeto.

ÍNDICE DE EMPRESAS

Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

A

B

C

D

E

A.T. Kearney 15 Aerocondor 41 Aerolíneas Argentinas 40 41 Aerolíneas del Perú AeroPerú 40 Air France 40 Airbus 41 Ambev 19 American Airlines 40 Arauco 37 Avianca 40 B2W 28 20 Backus y Johnston Banamex 56 56, 66 Banco do Brasil 56 Banco Votorantim Bancomer México 56 50 Bats Global Markets Baú da Felicidade 28 14 Blue Coat 50, 54 BM&FBovespa Bolsa de Valores do Rio 52 Bombardier 41 Bradesco Vida e Previdência 14 Bradesco 56 Brasilprev 14 Brazil Pharma 12 40 British Airways BTG Pactual 12 Buscapé 8 44 Cacau Show Caixa Econômica Federal 56, 80 13 Camargo Corrêa Carlsberg 23 Carrefour 16 16, 29 Casas Bahia Citadel Derivatives Group 53 Claritas 52 CNA 46 Companhia das Letras 12 Companhia das Marcas 12 Concept 20 13 Confab Industrial Continental 40 Conviasa 40 Corporación Cimex 48 Correios 67 CSN 13 Delta Airlines 13, 40 Deutsche Börse 53 Diageo 23 Direct Edge 50 EasyJet 41 Economatica 34 Ecopetrol 75

Eldorado Celulose 36 Embraer 16 Emerald Energy 74 Estrela Galdino 12 Extra 16 F Femsa 19 24 Fischer & Friends Florestal Brasil 38 Fran Systems 43 Fras-le 12 Freios Controil 12 G Gerdau 13 13, 40 Gol Goldman Sachs 53 Grupo Abril 8 45 Grupo Fitta Grupo Friedman 34 8 Grupo Nasper Grupo Petrópolis 19 Grupo Safra 13 H Heineken 19 Hering 32 Hinterlaces 72 HSBC Brasil 56 Hypermarcas 28 I IHS Cambridge 39 Inbrands 12 Insinuante 30 International Securities Exchange 53 Irdeto 8 14 Itaú Previdência e Seguros Itaú Unibanco 15, 31, 56, 80 J J.P. Morgan 53 Jubilut Junior 76 Julius Baer 13 K Kirin 19 Klabin 36 KLM 40 Knight Capital 53 KPMG 20 L Lafis 21 17, 40 LAN Lehman Brothers 35 Lockheed 14 Luxottica 12 26 M Magazine Luiza Maia 28 Marsam 46 Mineração Ouro Negro 13 MoneyFit 51 Multirede 51 N Nielsen 20 Nippon Steel 13 Northwest 40 Nyse Euronext 50

O P

Organizações Globo 16 75 Pacific Rubiales Penguin 12 Pernambucanas 31 55, 75 Petrobras Petrominerales 75 Planner 34 Pluspetrol 75 Prospectiva 63 R Rabobank 13 Rádio Ibiza 44 Randon 12 28 Raymond James Rede Record 22 Reserva Metais 46 59 Rio Bravo Investimentos Risi 37 Rotovic 47 Ryanair 41 S SABMiller 20 56, 80 Santander Sarasin 13 Schincariol 19 Schwartsman & Associados 61 Siderar 13 Sinochem 75 Southwest 41 8 Stefanini IT Solutions SunGard 56, 59 Suzano 36 Synergy 40 T Tá Surdo Produções 44 Taca 40 TAM 17, 40 Trans Perú 40 Techint 13 Tecnol 12 Telebrás 66 Telefônica 11 Telemar 66 Tenaris 13 Ternium 13 TIM 11 U Um Investimentos 50 Unilever 10 United 40 Usiminas 13 V Vale do Corisco 37 Vale 66 Varig 40 Vip Lavanderia 46 Votorantim 13 W Walmart 16 WebJet 40 Z Zoom 16

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista – AméricaEconomia Brasil: americaeconomia@springcom.com.br

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PISTAS Neymar desponta como aposta do mercado publicitário

Cuba avança

Mais dinheiro para o cofrinho de Neymar PUBLICAMOS

Só os grandes talentos internacionais têm o staff nas proporções de Neymar da Silva Santos Júnior, o atacante do Santos, dono do maior salário do futebol brasileiro e um dos 20 maiores do mundo, estima-se. O jogador é um fenômeno também no mercado publicitário. Cada contrato com patrocinador tem um valor médio de R$ 2 milhões por ano. Desse total, 10% ficam com o Santos. O restante engorda a conta do jovem de 19 anos. (“Uma Nova História na Vila”, AméricaEconomia, nº 406, dezembro 2011)

O NOVO

No fim de novembro, a Unilever juntou-se ao time das empresas que patrocinam o atacante Neymar, do Santos. O acordo com o novo patrocinador tem validade até julho de 2014, e vai render a Neymar cerca de R$ 180 mil por mês.

Fotos: Divulgação

PUBLICAMOS

Em 2008, Raúl Castro assumiu as funções do irmão, Fidel, que se retirou oficialmente da vida política. Logo iniciou um projeto de reformas econômicas para “eliminar proibições, já que muitas delas tiveram como objetivo evitar o surgimento de novas desigualdades em um momento de escassez generalizada”. Hoje os cubanos podem se hospedar em hotéis, alugar automóveis, comprar celulares e eletrodomésticos. (“Cuba Libre?”, AméricaEconomia, nº 406, dezembro 2011)

O NOVO

Até o início de dezembro do ano passado, o governo de Cuba já havia registrado a negociação de mais de 3 mil carros, desde que permitiu, no começo de outubro, a compra e venda de veículos na Ilha, modalidade que esteve proibida por 50 anos no país. A medida ainda possibilita aos cubanos, além de comprar ou vender, serem proprietários de mais de um veículo ou doar seus carros. Dessa forma, mais de 990 doações foram registradas, entre as quais 341 foram realizadas na capital Havana.

Mudanças no Cade PUBLICAMOS

No início de outubro, a Câmara dos Deputados aprovou um projeto de lei que mudará os processos para a conclusão de fusões e aquisições. A nova legislação cria o chamado Supercade, uma estrutura que dá mais poder ao Cade. (“Negócios entre ‘Hermanos’”, AméricaEconomia, nº 405, novembro 2011)

O NOVO

Com a sanção da nova Lei Antitruste pela presidente Dilma Rousseff, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) passará por um processo de transição que será tocado por dois presidentes. O presidente atual, Fernando Furlan, deixa o cargo neste mês, quando termina seu mandato. Em seguida, assume o conselheiro Olavo Chinaglia, o decano do órgão antitruste.

Foto: Shutterstock

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Dilma segue em alta PUBLICAMOS

Dilma tem tido papel importante na onda de atração de investimentos de empresas transnacionais no Brasil, como analisa o economista Antonio Corrêa de Lacerda, especialista em globalização e professor da PUC. (“Um Novo Milagre Econômico”, AméricaEconomia, nº 405, novembro 2011)

O NOVO

A revista americana The New Yorker publicou um artigo sobre a presidente Dilma Rousseff intitulado “A Ungida”. O texto destaca que a economia brasileira está crescendo mais do que a americana e lembra que, na última década, 28 milhões de brasileiros deixaram o nível da pobreza. O artigo ressalta ainda que ninguém acredita que a presidente está envolvida nas denúncias de corrupção, mas aponta que ela trabalhou por anos, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com algumas das pessoas demitidas até agora.

Drogas PUBLICAMOS

Ainda que tenha uma produção muito pequena, o Brasil é uma importante rota por onde passa a droga produzida em alguns países vizinhos. E pouco se ouve falar sobre programas conjuntos para o combate ao tráfico na região. (“Repensando a Guerra”, AméricaEconomia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO

A presidente Dilma Rousseff e os ministros da Saúde, Alexandre Padilha, e da Justiça, José Eduardo Cardozo, lançaram, em dezembro, um conjunto de ações para enfrentar as drogas. A União prometeu investir R$ 4 bilhões com o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde aos usuários, enfrentar o tráfico e as organizações criminosas e melhorar as ações de prevenção.

Expansão dos celulares PUBLICAMOS

Torre de transmissão em Belterra, no interior do Pará

A chegada de uma torre de transmissão da Telefônica à cidade de Belterra, no Pará, aumentou o nível de empreendedorismo no local, graças ao acesso à telefonia celular e à internet. (“Mais do que Supérfluo”, AméricaEconomia, nº 406, dezembro 2011)

O NOVO

De acordo com a Folha Online, a TIM lançou uma estratégia de expansão na recém-pacificada Favela da Rocinha, na Zona Sul do Rio de Janeiro, por meio da qual seus produtos são comercializados pelos antigos “agentes” do sistema ilegal de TV por assinatura. A Rocinha também recebeu, recentemente, uma nova antena, para melhorar a cobertura da operadora. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 11

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NEGÓCIO FECHADO FRAS-Le

Aquisição gaúcha A Fras-le, fabricante de pastilhas e lonas de freios controlada pelo grupo Randon, de Caxias do Sul (RS), comprou em dezembro a Freios Controil, de São Leopoldo, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O negócio foi fechado por R$ 10 milhões.

LUXOTTICA

VALOR: R$ 10 milhões

Ray-Ban made in Brazil

PENGUIN

Os famosos óculos Ray-Ban começarão a ser produzidos no Brasil. A Luxottica, companhia italiana que controla a marca, anunciou, no início de dezembro, a compra de 100% da fabricante brasileira de armações Tecnol, por cerca de € 110 milhões. A aquisição deve ser concluída no começo de deste ano, com a Luxottica inicialmente adquirindo 80% do grupo e os outros 20% ao longo dos próximos quatro anos. VALOR: € 110 milhões

BRAZIL PHARMA

Expansão nordestina A Brazil Pharma comprou a rede Estrela Galdino. Foram adquiridos um centro de distribuição na Bahia e dez drogarias. Também faz parte do acordo o estoque total da Estrela Galdino, cujo valor será apurado após realização de inventário pela Brazil Pharma. O negócio marca a entrada da holding de farmácias do banco BTG Pactual na Bahia. Segundo documento assinado entre os dois grupos, o valor da operação é de até R$ 18 milhões, dos quais R$ 11 milhões são referentes à transferência das lojas e outros R$ 3 milhões se destinam à compra obrigatória de ações ordinárias da Brazil Pharma – que pagará, ainda, até R$ 4 milhões com base no faturamento médio mensal das lojas nos últimos três meses do período de um ano, a partir da transferência da última loja ou da cessão completa das cotas da sociedade detentora à Brazil Pharma. VALOR: R$ 18 milhões

Mudança no mercado editorial

A editora britânica Penguin comprou 45% da brasileira Companhia das Letras. O valor da transação não foi divulgado. Será criada uma holding em que as famílias Moreira Salles e Schwarcz, atuais donas da Companhia das Letras, terão 55% de participação. Segundo o representante da Penguin, essa transação é a maior já feita pela editora britânica para livros de línguas que não a inglesa. O Brasil é o terceiro mercado emergente em que a empresa aposta, depois de China e Índia. VALOR: Não divulgado

INBRANDs

Nova dona da Richards

A Inbrands adquiriu 100% da Companhia das Marcas, dona da Richards e acionista controladora das marcas Salinas e Bintang. A operação chegou a R$ 135 milhões e foi realizada por meio de entrega de ações da Inbrands. O fundador da Richards, Ricardo Dias da Cruz Affonso Ferreira, continuará envolvido na operação como acionista e membro do Conselho de Administração da Inbrands. VALOR: R$ 135 milhões

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TERNIUM

Novo controlador na Usiminas A Ternium, o braço de siderurgia da Techint, venceu os concorrentes CSN e a Gerdau e passou a participar do capital da Usiminas. O grupo e suas coligadas fecharam a aquisição das participações acionárias dos grupos Camargo Corrêa e Votorantim e da Caixa de Empregados (fundo de pensão) por cerca de R$ 5 bilhões. O contrato prevê a compra de 139,7 milhões de ações ou 27,7% do capital votante da Usiminas. Com isso, a companhia passa a dividir o controle da siderúrgica mineira com a japonesa Nippon Steel. A compra será feita pela Ternium e suas subsidiárias Siderar e Tenaris (por meio de sua controlada Confab Industrial). O grupo Techint é controlado pelo empresário ítalo-argentino Paolo Rocca. A Ternium e a Siderar vão pagar o equivalente a R$ 4,1 bilhões; a Confab vai desembolsar R$ 900 milhões para cumprir sua parte da operação, que consiste em comprar 5% das ações ordinárias e 2,5% do capital social da Usiminas. VALOR: R$ 5 bilhões

USIMINAS

Mais terra para produzir A Usiminas comprou a Mineração Ouro Negro por US$ 367 milhões. A Ouro Negro tem reservas de 200 milhões de toneladas de minério de ferro na região de Serra Azul, em Minas Gerais. A área onde elas estão localizadas fazem divisa com outra pertencente a Usiminas, o que, segundo a companhia, amplia seu acesso a essas reservas.

Fotos: Shutterstock

VALOR: US$ 367 milhões

GOl

Delta se torna sócia da Gol A Gol anunciou, em dezembro, a formação de uma aliança com a Delta Airlines. A companhia americana vai investir US$ 100 milhões em troca de participação minoritária na aérea brasileira de 3%. Com o investimento, a Delta poderá ter um representante no Conselho de Administração da Gol, desde que, “mantenha uma posição de pelo menos 50% das ADSs [recibo de ações] adquiridas no investimento da Gol”, segundo o comunicado da empresa brasileira. VALOR: US$ 100 milhões

SAFRA

Participação no suíço Sarasin O Grupo Safra pagou 1,04 bilhão de francos suíços (US$ 1,12 bilhão) pela participação majoritária que o grupo financeiro holandês Rabobank detinha no suíço Sarasin. O acordo anula a chance de uma aliança pretendida pelo banco suíço Julius Baer. Pelas leis do mercado de capitais da Suíça, a instituição brasileira terá de lançar uma oferta pública pelas ações remanescentes do banco, mesmo que o Safra tenha indicado que não pretende ampliar mais sua participação no Sarasin. VALOR: US$ 1,12 bilhão

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MOVIMENTOS

Previdência privada para reter talentos O cenário de falta de mão de obra – principalmente a qualificada – vivido hoje pelo Brasil não tem se refletido apenas no aumento da remuneração. A disputa por profissionais capacitados envolve também a quantidade e a qualidade dos benefícios que as empresas oferecem aos funcionários. Planos de saúde, auxílio-transporte e auxílio-alimentação já não são diferenciais para reter talentos. Não por acaso, no setor de previdência privada, os planos corporativos – no qual a empresa contribui com 50% do valor a ser depositado pelo funcionário – têm apresentado crescimento expressi-

vo nos últimos anos. Na Brasilprev, por exemplo, embora ainda tenha uma participação pequena no total de ativos sob gestão, esse segmento vem se expandindo a taxas de 22% ao ano em termos de volume, enquanto o individual cresce em um ritmo um pouco menor, entre 19% e 20%. “As empresas ainda estão experimentando essa alternativa, portanto, há um potencial enorme pe-

la frente. E as pequenas e médias companhias, que disputam profissionais com as grandes, também estão se dando conta de que oferecer um plano de previdência é uma vantagem na hora da contratação”, afirma Sérgio Rosa, presidente da Brasilprev. A seguradora é a terceira maior do país em ativos sob gestão, atrás de Bradesco Vida e Previdência e Itaú Previdência e Seguros.

Nem os ambientes classificados como seguros escapam dos ataques virtuais. Um estudo da Blue Coat, empresa especializada em otimização e segurança de redes corporativas, mostra que mesmo os sites que têm aquele famoso cadeado na página principal – geralmente os de instituições bancárias – podem ser “hackeáveis”. Segundo o “Panorama de Segurança 2012”, divulgado recentemente pela companhia, os hackers encontraram formas de decifrar o SSL (Secure Sockets Layer, um protocolo para criptografar informações que trafegam na internet). “Esse é um dos principais problemas

em segurança digital que enfrentaremos neste ano”, aponta Norberto Milan, vice-presidente da Blue Coat para América Latina. E nem as empresas aparentemente à prova de violações digitais estão imunes. Que o diga a Lockheed, maior fornecedora do Pentágono. A empresa anunciou, em meados de dezembro, ter detectado uma tentativa de ataque em suas atividades de monitoramento. Os cibercriminosos utilizaram-se de uma vulnerabilidade ainda desconhecida no Adobe Reader para praticar a ação, mais uma entre as várias tentativas de ataque a fabricantes de armas.

Fotos: Shutterstock

Nem tão seguro assim

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Foto: Divulgação

O gol da economia O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro deverá crescer 1,5 ponto percentual a mais entre os anos de 2012 e 2014, em razão da realização da Copa do Mundo de Futebol. A avaliação foi feita recentemente por Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, durante o Seminário Itaú Copa do Mundo da Fifa: 2014 é mais que futebol, realizado em São Paulo. Segundo o economista, a Copa deverá gerar R$ 36,46 bilhões em investimentos, criar 250 mil empregos e permitir que a base de consumidores no mercado interno atinja 145 milhões

de pessoas. Além disso, a indústria do turismo também deverá ser beneficiada. “Temos também o ‘efeito marca’, que permitirá elevar as exportações devido à boa imagem do Brasil como país aberto ao comércio, que será transmitida ao exterior.” As pequenas e médias empresas do país deverão ser beneficiadas, uma vez que serão as fornecedoras das grandes companhias envolvidas nos projetos de infraestrutura da Copa. O diretor

Lucas, em amistoso da seleção brasileira

de Produtos do Itaú Empresas, Carlos Eduardo Maccariello, destacou que as companhias que pretendem se beneficiar do evento devem se planejar desde já, buscando oportunidades ligadas aos setores de infraestrutura, turismo e transportes.

Dinheiro de fora para os emergentes O Brasil é o terceiro destino mais atrativo para o investimento estrangeiro direto, segundo estudo mundial divulgado recentemente pela consultoria internacional A.T. Kearney. O país avançou uma posição no levantamento elabora-

do em 2011, na comparação com o ano anterior. Ficou atrás apenas de China e Índia. Tanto o Brasil quanto a Índia ultrapassaram os Estados Unidos no ranking de 2011. Os EUA ocupam atualmente a quarta colocação. O levantamento é realiza-

do entre altos executivos das maiores empresas do mundo e aponta os 25 principais destinos para o investimento estrangeiro direto. As economias em desenvolvimento representam mais da metade desse número.

Nos radares mundiais Dez dos 25 destinos mais atrativos para investimento estrangeiro direto País China Índia Brasil Estados Unidos Alemanha Austrália Cingapura Reino Unido Indonésia Malásia

Fonte: A.T. Kearney

1 2 3

1 2 3 4 5

4 5 6 7

7 10 20 21

8 9 10

24 2011

2010 Janeiro, 2012 AméricaEconomia 15

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MOVIMENTOS Gaetano Brancati Luigi, à direita, foi um dos homenageados

Mercado sustentável Às vésperas da realização da conferência internacional Rio+20, que acontecerá em junho no Rio de Janeiro e tratará do desenvolvimento sustentável, ganha força o mercado de créditos de carbono. A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) lançou, em dezembro, em conjunto com a BM&FBovespa, a norma NBR 15948:2011, que estabelece as regras para a criação de um sistema voluntário de negociações – ou seja, desvinculado das metas de redução de emissões estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto. “O mercado é um instrumento hábil para se lidar com a gestão ambiental. Mas, para funcionar, ele deve ter regras claras”, afirma o coordenador do trabalho, Marco Fujihara. Ele salienta que passou o tempo em que as empresas usavam a sustentabilidade apenas como marketing. “Hoje os consumidores estão muito mais atentos ao assunto. Por essa razão, várias companhias estão hoje mais ligadas às práticas responsáveis.” A NBR 15948:2011 será levada à ISO (International Organization for Standardization), para ser transformada em uma norma de aplicação internacional.

Homenagem na Câmara O ex-ministro da Aeronáutica e um dos fundadores da Embraer, Ozires Silva, e o professor de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), Paulo Saldiva, foram dois dos homenageados na oitava edição do Prêmio Paul Donovan Kigar, entregue em dezembro pela Câmara Municipal de São Paulo. A iniciativa, destinada a reconhecer cidadãos que tenham colaborado para a sociedade em seus campos de atuação, também laureou Gaetano Brancati Luigi pelo Marco da Paz (cuja versão paulistana está instalada no Pátio do Colégio, na região central), o beato papa João Paulo 2º (cujo prêmio foi recebido pelo monsenhor Darío Bevilacqua) e Lygia Marques dos Santos, esposa de Paul Donovan Kigar. Na ocasião, foram anunciadas ainda as festividades para a comemoração dos 80 anos do Movimento Constitucionalista de 1932.

O mercado de pesquisa de preços na internet, hoje dominado pelo Buscapé, está ganhando mais um concorrente. Lançado em novembro, o Zoom (www.zoom. com.br) foi criado pela Mosaico Internet (que tem como principal acionista as Organizações Globo) e atualmente cobre 90% do mercado – atuando junto de varejistas como Extra, Carrefour, Walmart e Casas Bahia, entre outros. Sua perspectiva em novembro era de fechar 2011 com 7 milhões de visitas por mês. “O varejo brasileiro é grande, e o consumidor precisa de uma

alternativa para comparar preços. Atualmente, já estamos empatados com os vice-líderes e pretendemos obter o segundo lugar nesse mercado até o final de 2012. Para isso, ofereceremos um conteúdo relevante ao consumidor”, afirma o CEO do Zoom, Francisco Donato (foto). De acordo com o executivo, o site investiu R$ 10 milhões em marketing ao longo de 2011. Outros R$ 30 milhões deverão ser injetados neste ano. Uma das cartadas do comparador de preços para ganhar mercado é sua entrada no portal Globo.com. “Em dezembro, passamos a operar o site GloboShopping. Isso nos dará bastante visibilidade”, avalia.

Fotos: Divulgação

Varejo eletrônico ganha novo player

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Carajás é conhecida por sua identidade extrativista

Decola fusão entre TAM e LAN A maior companhia aérea da América Latina está mais próxima de ganhar os céus do continente. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovou, em 13 de dezembro, a fusão entre a brasileira TAM e a chilena LAN. O tribunal seguiu a recomendação feita em agosto pela Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico, do Ministério da Fazenda) e a SDE (Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça), que defenderam a aprovação do negócio. As duas companhias anunciaram em agosto de 2010 sua intenção de criar a Latam – cuja receita anual seria superior a US$ 10 bilhões. No entanto, o assunto ain-

da dependia do sinal verde das autoridades regulatórias dos dois países. Em setembro, o TDLC (Tribunal de Defesa da Livre Concorrência, instância antritruste do Chile) aprovou a fusão, mas determinou que fossem seguidas algumas condições – como a reorganização dos slots (direitos de pouso e decolagem) e o compartilhamento de rotas com outras companhias. O Cade também impôs algumas limitações. De acordo com o conselheiro Olavo Chinaglia, relator do caso, as duas empresas devem abrir mão de dois slots do trecho São Paulo-Santiago-São Paulo, que devem ser transferidos à companhia concorrente.

Foto: ABR

Encontro sem a Fazenda O desinteresse da equipe do Ministério da Fazenda pela América Latina ficou mais uma vez evidente com a ausência do ministro brasileiro Guido Mantega (foto) no encontro que criou a Celac, a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, no início de dezembro, em Caracas, e reuniu representantes de 33 países. A presidente Dilma Rousseff participou das discussões. O objetivo do grupo é buscar soluções para os problemas latino-americanos e formular políticas próprias de integração regional. A linha mestra foi apontada por alguns especialistas em relações internacionais como uma forma de fomentar o distanciamento político dos Estados Unidos e do Canadá. Uma declaração do anfitrião, Hugo Chávez, deixou evidente quais são os planos de alguns dos países que integram a Celac. A comunidade coloca-se como uma alternativa à OEA (Organização dos Estados Americanos). Segundo o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a Celac será um “grande polo de poder” e vem para substituir a “velha e desgastada OEA”.

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NEGÓCIOS

Foto: Shutterstock

Cerveja

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Preferência nacional

As estratégias do Grupo Petrópolis, o único dos grandes fabricantes de cerveja ainda 100% brasileiro, para driblar os concorrentes sem se render aos gringos Graziele Dal-Bó, de São Paulo

O

s últimos dois anos foram agitados para o setor cervejeiro nacional. A mistura de uma economia estável com a maior exposição do Brasil lá fora e a melhora da renda da população despertou a corrida de grupos internacionais por um lugar nesse mercado. Junte a esse cenário o crescimento mais contido das vendas em regiões tradicionais, como a americana, a europeia e a japonesa. O resultado são movimentos importantes motivados por estrangeiros nos últimos anos, como a compra da fabricante da Kaiser, a Femsa, pela holandesa Heineken, e a aquisição da Schincariol pela japonesa Kirin. Na contramão dessa tendência, o Grupo Petrópolis, dono de marcas como Itaipava e Crystal e o único dos grandes com capital ainda 100% nacional, quer continuar seu ritmo de crescimento sem se render aos gringos. Dona, ainda que temporariamente, do segundo lugar no mercado brasileiro, é difícil para a empresa sonhar em alcançar a Ambev, que detém cerca de 70% das vendas. Mas o objetivo é continuar a crescer sem abrir

mão do verde-amarelo. “Não estamos à venda”, vai logo avisando Douglas Costa, diretor de Marketing e Relações com o Mercado. Embora a empresa esteja fechada – pelo menos por enquanto – para esse tipo de negociação, Costa admite

que alguns players internacionais já procuraram a Petrópolis para conversar. “O contato existe, mas deixamos claro que nossa estratégia não engloba a venda da companhia”, garante. Os analistas, no entanto, afirmam

laTa cHeia Participação de mercado das principais cervejarias do Brasil (%) set/10

jul/11

ago/11

set/11

71,65

69,41

69,75

69,7

10,27 9,34

10,96 7,33

9,92

1,41

Ambev

Schincariol

10,27 8,31

10,05

1,4

10,15

8,49

10,32

8,39

1,44

Grupo Petrópolis

Heineken

1,44 Outros

Fonte: Nielsen

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NEGÓCIOS CErvEjA

que a cervejaria fluminense seria um alvo fácil para a SABMiller, que ainda não teve sucesso em suas empreitadas pelo país. O mais perto que a britânica chegou do Brasil foi trazer a marca Miller Genuine para pontos de venda de São Paulo e Rio de Janeiro no fim de 2011. “Faria sentido, já que o Grupo Petrópolis foi o único dos grandes que sobrou. Com a aquisição, a SABMiller garantiria logo de início 10% do mercado”, observa Guilherme Nunes, sócio-respon-

acaso, no final do ano passado, por meio da Backus y Johnston, subsidiária da cervejaria britânica no Peru, a empresa anunciou investimento de cerca de US$ 300 milhões para atender o aumento no consumo doméstico. Se o negócio no Brasil vai ou não se concretizar um dia, o fato é que o interesse pela Petrópolis é justificável. Fundada em 1994 na cidade de mesmo nome, na Região Serrana do Rio de Janeiro, a cervejaria Petrópolis vem apresentando

Com 27% do consumo de cerveja do país, o Nordeste é uma das regiões mais promissoras para as cervejarias sável pelo setor de alimentos e bebidas da KPMG. De fato, Graham Mackay, executivo-chefe do grupo britânico, demonstrou seu otimismo em relação à América Latina durante divulgação de resultados da companhia, em novembro de 2011, ao observar que a região ainda não sentiu os reflexos do recuo das economias maduras. Na ocasião, o executivo também destacou que os países emergentes respondem por cerca de 80% dos lucros globais da SABMiller. Não por

Ranking mundial de produção de cerveja por país (em milhões de hectolitros*)

423,6

232,5

230,9

110,4 57,8

70,9

55,2

98

114 82,3

59,8

24 26,4 Produção 2000 Fonte: Barth-Haas Group

448,3

227,8

107 108,5

82,6 54,9

NOrdeSTe em ViSTa “A grande vantagem da Petrópolis é ter uma capacidade de distribuição muito boa. Ou seja, é fácil encontrar suas marcas nas regiões onde ela é forte, como Sudeste e Centro-Oeste. Ter produtos sem rejeição do consumidor é outro pronto positivo”, afirma Adalberto Viviani, presidente da Concept, consultoria especializada no setor de alimentos e bebidas. Para ele, a cervejaria fluminense deve se estabelecer na segunda posição do mercado. O caminho, porém, não será nada fácil, como sabem os executivos da companhia. “O setor cervejeiro é muito dinâmico, costumo brincar que é pior do que

eNTre os GraNdes

PAÍS China Estados Unidos Brasil Rússia Alemanha México Japão Reino Unido Polônia Espanha

220

um crescimento forte nos últimos anos. O faturamento da companhia aumentou 80% entre 2009 e 2011, passando de R$ 2,4 bilhões para R$ 4,4 bilhões. A produção foi de 1,68 bilhão de litros de cerveja no ano passado, contra 1,33 bilhão dois anos antes. Os resultados têm garantido à empresa um espaço de destaque entre os grandes grupos que atuam no mercado brasileiro. Em setembro passado, a Petrópolis tirou o segundo lugar da Schincariol em participação de mer-

cado, fato inédito para a companhia. Segundo dados do instituto de pesquisas Nielsen, o market share da cervejaria fluminense aumentou de 10,1% para 10,3%, enquanto o da concorrente recuou 0,3 ponto percentual, fechando o mês em 10%. Dez anos atrás, a Petrópolis representava apenas 0,6% do mercado nacional. Hoje, a empresa chega a ultrapassar os rótulos da líder nacional Ambev em algumas regiões. É o caso da Grande São Paulo, onde a Itaipava aparece na liderança, com uma fatia de 31,7% do mercado, à frente de Brahma, com 20,2%, e Skol, com 19,2%.

Produção 2009

45,1 32,2 33,8

102,9 95,6

79,8

59,6

44,9 33,9 33,3

Produção 2010

*1 hectolitro = 100 litros

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Foto: Divulgação

a bolsa de valores, muito volátil. O preço é inconstante, e qualquer mudança climática altera as vendas”, admite Costa. Um dos desafios da Petrópolis é expandir suas marcas nacionalmente. Por enquanto, as vendas estão concentradas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde a companhia tem fábricas instaladas. Nesse quesito, sua concorrente mais próxima, a Schincariol, leva vantagem. A empresa, vendida no ano passado para a japonesa Kirin, após uma difícil disputa judicial entre os acionistas, tem forte atuação em regiões promissoras, caso do Nordeste, que representa 27% do consumo no Brasil. “O Nordeste é o maior mercado da Schincariol e, certamente, ela não vai querer perder posições”, avalia Ana Carolina Boyadjian, analista do setor de bebidas da consultoria Lafis. Quem também está reforçando sua atuação no Nordeste é a gigante Ambev. A cervejaria investiu R$ 793 milhões na região, como parte do pacote de R$ 2,5 bilhões injetados no país em 2011, para aumentar em 10% sua capacidade total de produção e atender a demanda de curto e médio prazos. O aporte incluiu ampliações de fábricas e centros de distribuição nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe e Pernambuco. Para não ficar de fora desse mercado consu-

“Não estamos à

venda. Deixamos claro que nossa estratégia não engloba abrir mão da companhia” Douglas Costa, diretor do Grupo Petrópolis

midor, onde está presente apenas com um distribuidor na Bahia, e sustentar a posição alcançada recentemente, a Petrópolis pretende inaugurar pelo menos duas fábricas no Nordeste em três anos. O objetivo é construí-las com recursos próprios, sem ter de recorrer a entidades financiadoras como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). As unidades se juntarão às plantas localizadas nas cidades de Petrópolis (RJ), Teresópolis (RJ), Rondonópolis (MT) e Boituva (SP). “O potencial da região é muito grande e, pelas consultas que recebemos por meio de nosso atendimento ao consumidor de pessoas perguntando

No Topo da reGiÃo Maiores produtores de cerveja da América Latina em 2010

114

(em milhões de hectolitros*)

79,8

20,5

20

17,5 11

Brasil

México

Fonte: Barth-Haas Group

Colômbia

Venezuela

*1 hectolitro = 100 litros

Argentina

Peru

5,7 Equador

5,6 Chile

quando vamos para lá, acredito que teremos bastante público para nossos produtos”, afirma Costa. O plano faz parte de uma estratégia bem mais ambiciosa, de se tornar uma empresa nacional até 2018. Até lá, afirma o executivo, a venda da companhia está descartada. aPOSTa em marKeTiNG A aceleração desse processo de “nacionalização” tem como elemento fundamental o investimento em marketing. Em 2011, foram injetados R$ 112 milhões no reposicionamento de Itaipava e Crystal. “Não foram mudanças radicais, mas fizemos um estudo bem aprofundado, que levou cerca de seis meses. Foi um trabalho para conhecer quem são os consumidores desses produtos e entender as diferenças entre os públicos”, conta o diretor de Marketing e Relações com o Mercado. No caso da Itaipava, o conceito “Feito especialmente para você” e o filme que, ao som de “Only You”, mostra o cuidado com que é fabricada a bebida, remetem a um consumidor que aprecia a cerveja, explica o executivo. Já para a Crystal, cujas vendas estão mais concentradas em cidades do interior, a estratégia foi a de aproximar o produto do consumidor. “Nós apostamos na característica do interior de se sentir em casa, de chamar os amigos para tomar cerveja em casa, em um churrasco.” Costa diz que é difícil precisar quanto essa nova comunicação refletiu nas vendas da cervejaria, mas garante que Janeiro, 2012 AméricaEconomia 21

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NEGÓCIOS a mudança de posicionamento é fundamental para os planos da companhia. Ainda na área de marketing, a Petrópolis é patrocinadora de eventos esportivos como Stock Car, da Fórmula Truck, além de outros acontecimentos regionais, por meio de parcerias com cerca de 130 distribuidores, projetos que devem ser reforçados em 2012. Neste ano, a empresa vai patrocinar as transmissões da Olimpíada de Londres pela Rede Record e sua

ria, Walter Faria, por exemplo, teve seu nome citado na Operação Cevada, uma grande investigação montada pela Polícia Federal e pela Receita Federal em 2005 que resultou na prisão dos controladores da Schincariol, acusados de sonegação. O empresário foi distribuidor da Schincariol nos anos 1990. Hoje, Faria evita falar com a imprensa, mas, um ano depois das acusações, o dono da Petrópolis alegou inocência e justificou-se

Em 2011, os resultados do setor não foram tão animadores em volume, mas se mantiveram em alta no quesito preço marca de energéticos TNT estará presente nos uniformes de atletas que participarão das competições. “O sucesso nesse setor está muito atrelado à publicidade. Junto de uma boa rede de distribuição, essa é uma área que deve ser priorizada pelos players”, afirma Nunes, da KPMG. A trajetória da Petrópolis foi costurada não só pelo desempenho cobiçado por parte da concorrência, mas também por polêmicas. O presidente da cerveja-

dizendo que só foi citado no processo pela ligação com a Schincariol. A Petrópolis também despertou desconfiança quando, em 2009, conseguiu uma liminar – que caiu algum tempo depois – para ficar livre do Sicobe (Sistema de Controle de Produção de Bebidas). Instalado nas linhas de produção, o sistema permite à Receita Federal controlar, em tempo real, informações como o volume de produção e a data de fabricação de cervejas

e refrigerantes que chegam ao mercado. Segundo Costa, o fato de não concordar com o sistema tinha como justificativa apenas o custo da operação. “Somos favoráveis ao acompanhamento”, defende-se. Os concorrentes também não pretendem facilitar a vida da Petrópolis. Todos estão de olho no vigor do mercado brasileiro. Com a economia estagnada na Europa e nos Estados Unidos, a atenção, é claro, volta-se para os países emergentes, que, entre outras vantagens, contam com populações relativamente jovens se comparadas a essas outras regiões. No caso do Brasil, o aumento de renda é mais um incentivo para acelerar o consumo de cerveja. Isso explica o avanço nas vendas da bebida no país nos últimos anos, particularmente nas regiões com maior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), como o Norte e o Nordeste.

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Cerveja

ladeira acima E, se as vendas vão bem, é hora de aumentar a produção. Em 2010, o Brasil ultrapassou a Alemanha na fabricação de cerveja, alcançando o terceiro lugar em nível mundial, atrás apenas de China e Estados Unidos. “O ano de 2010 foi muito bom para o crescimento em volu-

No copo do brasileiros Participação de mercado das principais marcas do país (%) MARCAS

Skol

32,5

32,5

17,6

17,7

31,7

31,2

30,3

18,2

18,5

11,7

Brahma Antarctica Crystal Itaipava

11,4

12

11,9

11,5

18,8

2,9

2,9

Kaiser

7,5

7,6

3,1 6,9

2,9 6,8

3,1 7,1

Bavaria

9,9

9,9

9,5

9,7

8,9

Outros

4,8 2,5

4,5 2,5

4,6 2,6

4,4 2,7

4,4 2,6

10,9

10,4

11,5

12,3

13,1

Nova Schin

jan/11

mar/11

maio/11

jul/11

set/11

Fonte: Nielsen

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Em 2010, o Brasil ultrapassou a Alemanha e ficou com o terceiro lugar mundial em fabricação de cerveja, atrás de China e EUA

me. Tivemos a Copa do Mundo e o verão também foi quente, o que ajudou muito”, afirma Ana Carolina, da Lafis. Os resultados de 2011, embora não tenham sido tão significativos em termos de volume, mantiveram-se em alta no quesito preço. Segundo levantamento da Lafis, o valor do produto fora de domicílio (nos bares, por exemplo) teve um reajuste de 9% de janeiro a outubro de 2011, enquanto o preço para o consumo em casa (quando a bebida é comprada em locais como supermercados ou lojas de conveniência) aumentou 12% no mesmo período. O preço mais alto ajudou a compor a re-

ceita das companhias. Até o fechamento desta edição, a Lafis estimava um crescimento de 13% no faturamento total do setor em 2011. Apostar não só em aumento de preço, mas também em produtos com mais valor agregado – caso das cervejas premium, que custam até 20% a mais que as comuns – é uma tendência do setor. Atualmente, a venda desse tipo de bebida ainda é pouco representativa, cerca de 5% de todo o volume comercializado pelo segmento, mas o potencial de crescimento é enorme, garantem os analistas. “Até 2016, 14% das vendas de cerveja devem ser de produtos premium”,

afirma Viviani, da Concept. Ou seja, o crescimento deve vir de diversas frentes. O panorama é acompanhado pelos grupos internacionais. A japonesa Kirin e a holandesa Heineken já garantiram um lugar nesse mercado, concentrado nas mãos de poucos jogadores. A primeira comprou a Schincariol, em novembro de 2011, por um valor total de R$ 6,25 bilhões, deixando para trás concorrentes como SABMiller, Diageo, e Carlsberg, também interessados na compra. A negociação envolveu uma série de disputas familiares entre os irmãos Adriano e Alexandre Schincariol,

Microcervejarias reclamam da tributação Se de um lado os grandes grupos cervejeiros estão otimistas com o cenário de multiplicação de vendas que começa a se desenhar no Brasil para os próximos anos, de outro, as microcervejarias reclamam da alta carga tributária incidente sobre o segmento. Os empresários afirmam que o excesso de impostos tem feito muitos negócios desaparecem. “A tributação consome 65% do nosso faturamento bruto. Somente de IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados], pagamos R$ 0,48 por litro de chope vendido, não importando por quanto nós vendamos o produto. Fora a concorrência predatória

dos grandes grupos cervejeiros”, afirma Artur Winter, presidente da AGM (Associação Gaúcha das Microcervejarias). A entidade encabeça uma mobilização nacional para que o setor seja incluído no Simples Nacional, o regime especial unificado de arrecadação de tributos destinado às micros e pequenas empresas brasileiras. A ideia era que o pleito dos microcervejeiros fosse atendido já no novo Simples (novo teto de tributação de micros e pequenas empresas), em vigor a partir deste mês, o que não aconteceu. “Agora, estamos tentando viabilizar junto dos parlamentares adequações à lei por meio de emendas. Isso é extremamente

importante para que o setor continue existindo no Brasil”, defende Winter. Outras reivindicações dos micros e pequenos empresários é a inclusão das cervejas artesanais em eventos oficiais promovidos pelas entidades públicas e também na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos de 2016. Embora não existam dados oficiais sobre o número de cervejarias artesanais existentes no país – o setor ainda é desorganizado e a única associação nacional foi extinta há alguns anos –, estima-se que cerca de 150 pequenas e médias empresas trabalhem com a fabricação do produto no Brasil. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 23

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NEGÓCIOS

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Cerveja

Aumento de renda e população jovem são fatores que devem contribuir para o crescimento do mercado nos próximos anos

favoráveis à venda, e seus primos e sócios minoritários, Gilberto, Daniela e José Augusto. Para os especialistas, a Kirin pagou um preço alto pela compra do grupo brasileiro. Os japoneses, por sua vez, afirmam que o valor foi razoável, perto do potencial de crescimento no Brasil. “Acreditamos que o mais recente acordo vai nos permitir gerir o negócio com muita flexibilidade”, afirmou Hirotake Kobayashi, diretor da cervejaria japonesa, na coletiva de imprensa que divulgou a compra da Schincariol, em novembro. Mas não são só os asiáticos que estão otimistas em relação ao Brasil. A Heineken, dona da Femsa, fabricante da Kaiser desde 2010, trabalha para multiplicar as vendas da marca no país. No final do ano passado, o grupo holandês investiu em uma intensa campanha de marketing para turbinar o produto. A ação, desenvolvida pela agência Fischer&Friends, foi pensada com o objetivo de aproximar o rótulo da marca Heineken, uma estra-

tégia que, segundo analistas, visa romper a rejeição que a Kaiser ainda tem em algumas regiões. De fato, a marca, que já foi uma das mais consumidas no país – quem não lembra das famosas propagandas com o “baixinho da Kaiser”? –, vem perdendo espaço no mercado ano a ano. E a Heineken pretende recuperar o tempo perdido. Sem citar números, os executivos afirmam que esse foi o maior investimento global da companhia em 2011 e envolveu não só mudanças na comunicação, como também na forma de produzir a bebida, que, agora, precisa ter aprovação da matriz, em Amsterdã, para chegar às gôndolas brasileiras. “Desde que chegamos ao Brasil, centramos nossos esforços em melhorar processos e tornar a empresa mais ágil e rentável. Isso tem dado certo. Nossas três principais marcas, Heineken, Kaiser e Bavária, cresceram 80%, 4% e 5%, respectivamente, em 2010. A empresa cresceu 10% somente no último trimestre de

2011”, comemora Nuno Teles, vice-presidente de Marketing da companhia holandesa. Para turbinar as vendas da marca Heineken, a holandesa tem investido na plataforma musical em eventos como o Rock in Rio, SWU e Lollapalooza. No segmento premium, a Heineken disputa mercado principalmente com a Budweiser, trazida ao Brasil recentemente pela Ambev. A cervejaria, aliás, adotou uma tática de guerrilha de preço para fazer com que a marca decole no país. Ou seja, depois de posicionar a bebida como premium, voltou atrás. Em algumas redes varejistas, na época do lançamento, era possível encontrar o produto a preços iguais aos de Skol e Brahma. Isso mostra que, tanto no segmento mais elitizado quanto nos de produtos voltados para as massas, a disputa dos grupos cervejeiros será acirrada no país nos próximos anos. Resta ao consumidor aproveitar as oportunidades e encontrar o produto que mais agrade ao seu paladar.

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CAPA

Varejo

O futuro do

Magazine Luiza Depois de abrir capital e fazer algumas aquisições, este será o ano para Luiza Trajano colocar a rede de varejo em uma nova direção Paula Pacheco, de São Paulo

S

egunda-feira, 2 de maio de 2011. Ao lado de Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, Luiza Helena Trajano participava da cerimônia de abertura de capital do Magazine Luiza. Acompanhada dos tios e fundadores da empresa, Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato. Quem estava mais próximo à empresária percebeu os olhos discretamente marejados. Ela estava feliz, satisfeita, depois de cerca de uma década de planejamento até o IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações). No fim do dia, a surpresa: a captação chegou a R$ 925,785 milhões, uma das maiores entre os IPOs de 2011. Luiza ainda se esforça para manobrar a espontaneidade tão peculiar e não desobedecer às normas da CVM, a Comissão de Valores Mobiliários. Desde o IPO, a empresária coleciona algumas advertências por ter falado mais que o permitido. Além de se habituar às regras de uma companhia de capital aberto, a empresária tem outros desafios para 2012. Este será um ano para arrumar a casa, encontrar mais sinergias entre o Magazine Luiza e as redes adquiridas nos úl-

timos anos, pensar no crescimento orgânico e na possibilidade de comprar concorrentes para facilitar o desembarque em outras praças. Ela define 2012 como “o ano da consolidação, depois de um crescimento grande”. Ao mesmo tempo, a empresária, que começou a trabalhar na loja montada pela tia, em Franca (SP), aos 12 anos, durante as férias escolares, pode ter pela frente outro desafio. Ela está entre os candidatos a assumir a Secretaria da Micro e Pequena Empresa (vinculada à Presidência da República), cujo projeto de criação ainda está à espera de aprovação no Congresso. Com a típica cautela interiorana, Luiza desconversa. Instalada no escritório central de São Paulo, de frente para a Marginal do Rio Tietê, Luiza mostra no espaço que ocupa as características apontadas por quem a conhece. É simples, direta. Ocupa uma sala modesta, com paredes de vidro e portas sempre abertas. O espaço está longe de dar sinais de ostentação. Há um pequeno armário, uma mesa para o computador e outra um pouco maior para rápidas reuniões. Seu estilo está nos detalhes. Uma coleção de elefantes, todos

No ano em que pretende colocar a casa em ordem, Luiza não descarta mais aquisições

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Foto: Marcela Beltrão

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Varejo

com a cauda voltada para a porta – garante a boa sorte. Imagens religiosas, entre elas a de São José, têm um lugar especial na decoração sem afetações. Nos porta-retratos, fotos da família e uma, com certo destaque, dela ao lado do ex-presidente Lula. Formada em Administração e Direito, a empresária deixa claro no tipo de leitura o gosto por temas ligados à gestão de empresas, de pessoas e histórias de empreendedores, como a de Roberto Marinho, escrita por Pedro Bial, sobre a mesa de trabalho. Dos tempos em que administrava a companhia em Franca, trouxe algumas lembranças, como os nomes das principais ruas estampados em placas nos corredores do escritório, além de um painel com uma foto da fachada da primeira loja, aberta há 54 anos pelos tios. ARESTAS Há duas décadas no comando da companhia, Luiza enfrenta agora mais um momento importante na carreira. Terá de aparar arestas financeiras e de gestão para que o valor das ações se recupere – ao menos a médio prazo – e elas se tornem mais atraentes, principalmente aos olhos dos investidores estrangeiros. Contaminada pelo mau humor internacional, que afetou o desempenho da bolsa brasileira de forma generalizada, a empresa não vem apresentando boa performance na bolsa desde o IPO. O resultado do terceiro trimestre de 2011 confirmou a fase delicada. O lucro líquido do Magazine Luiza caiu 49,4% no período – R$ 11,7 milhões, ante os R$ 23,1 milhões verificados em 2010. O desempenho respingou na cotação das ações. Em meados de dezembro, os papéis da rede varejista apresentavam queda de 37,5% em relação ao preço da data do IPO. O índice Ibovespa estava com uma baixa de 18%. Mas na ocasião havia ações em situação pior, como as

Fotos: Marcela Beltrão

Ruas de Franca, onde a empresa nasceu, são homenageadas no escritório de São Paulo

da Hypermarcas (que recuou 60%) e da B2W (com desvalorização de 70%). Por conta disso, a companhia perdeu valor de mercado. No dia do IPO, a empresa valia R$ 2,983 bilhões. No fim do ano, estava na casa de R$ 1,865 bilhão. Com o fraco desempenho, existe a possibilidade de a empresa ter o pior resultado entre aquelas que fizeram IPO em 2011, como apontavam analistas de mercado na semana do dia 16 de dezembro. “A empresa apresentava uma expectativa de lucro que foi mudada com a compra do Baú [da Felicidade], em junho. Houve ajustes, já que o plano de expansão, com essa aquisição, foi antecipado em dois anos. Isso representou uma despesa extraordinária, que impactou na rentabilidade do terceiro trimestre. Seu valor foi cerca de metade do que se es-

perava”, explica a analista Daniela Bretthauer, da empresa do setor financeiro Raymond James. Na sua opinião, no entanto, ainda é uma ação que vale a pena ter em carteira. “Algumas atitudes deverão ser tomadas e a direção da rede já deu indícios de que as colocará em prática, como aumentar a aproximação com os investidores”, explica Daniela. musculatura A aquisição da rede Maia, com cerca de 150 lojas espalhadas por nove estados, foi fechada em julho de 2010 por R$ 290 milhões. Ao comprar o Baú da Felicidade, a companhia desembolsou R$ 83 milhões por 121 lojas (divididas entre São Paulo, Paraná e Minas Gerais) e uma carteira de 3 milhões de clientes. Neste mês a marca Baú da Felicidade, que não

Detalhes da sala da empresária: a foto ao lado de Lula e a presença da religiosidade com a imagem de São José

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Sem ostentação, a sala de Luiza tem paredes de vidro e sempre está com a porta aberta

fez parte da negociação (apenas os pontos comerciais), volta para as mãos do empresário Silvio Santos e todos os pontos comerciais passam a estampar a marca Magazine Luiza. Em 2011, além do negócio com Silvio Santos, a direção da companhia acelerou a integração com a rede Maia, com sede na Paraíba. Havia o receio de que a concorrente Casas Bahia avançasse em direção ao Nordeste e deixasse o Magazine comendo poeira. A solução foi realizar a integração antes do previsto. Nos últimos meses de 2011, foram muitas as idas e vindas de Luiza às principais cidades da região. Foram inúmeras entrevistas coletivas e reuniões com os funcionários para anunciar que, a partir dali, sairia de cena a marca Maia, com mais de 50 anos de mercado, para a chegada

definitiva do Magazine Luiza. Rotina com a qual a empresária, que passou por 13 aquisições, está acostumada. Luiza, no entanto, prefere atribuir o período delicado na bolsa ao cenário internacional e espera por dias melhores. “Entramos na bolsa e nos deparamos com a crise global. Acredito que os investidores entendam que o momento é delicado para todo o mercado de capitais”, diz. Ela explica que a empresa vinha de dois períodos muito bons em termos de receita – o quarto trimestre de 2010 e o primeiro trimestre de 2011. “Com a crise, passamos a sentir uma queda nas vendas a partir de abril em comparação a esses dois períodos. Ainda assim houve crescimento nas vendas. Em agosto, o Banco Central percebeu que a queda nas vendas do varejo pode-

O mesmo se pode dizer em relação ao (teoricamente) pacato

A coleção de elefantes garante a proteção e o alto-astral. Livros ligados a empreendedorismo e gestão inspiram novos negócios

ria ter algum impacto e começou a baixar a taxa básica de juro”, conta. Em outubro, explica a presidente do Magazine Luiza, houve uma nova retração nos números do varejo. “Foi o suficiente para alertar o governo novamente de que era preciso fazer algo. Recentemente foi reduzido o IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] para a linha branca e a Fazenda mexeu no prazo dos financiamentos para reativar a economia. O efeito começou a aparecer rapidamente e já sentimos uma recuperação.” VIRADA Otimista, a empresária diz que as perspectivas são favoráveis para a companhia, particularmente, mas também para o varejo, já que o país tem mantido um bom nível de geração de empregos e o endividamento do consumidor brasileiro tem espaço para crescer. “Além disso, há dois fatores importantes. O bônus demográfico em que se encontra o Brasil e o aumento de brasileiros na classe C”, explica. Bônus demográfico ocorre quando a população economicamente ativa supera com espaço a de dependentes, composta por idosos e crianças. Ou seja, há mais consumidores em potencial. Quando fala dos futuros consumidores, Luiza gosta de citar alguns dados. Por exemplo, cerca de 45% da população não tem máquina automática de lavar roupa e as TVs de LCD só chegaram a 7% dos lares brasileiros. “Quantas pessoas não estão se mudando para a primeira casa própria graças ao Minha Casa, Minha Vida [programa de habitação popular do governo federal] e querem mobiliá-la com muitos produtos que nunca tiveram na vida. Além, é claro, do objetivo do governo de tirar 16 milhões de pessoas da linha da miséria. É indiscutível que o número de consumidores continuará a crescer”, cita. Para aproveitar o crescimento constante do consumo da nova classe C, a Janeiro, 2012 AméricaEconomia 29

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Varejo

empresária sabe que terá de continuar a expandir os negócios ou perderá oportunidades para concorrentes de peso, como Casas Bahia e Insinuante. Hoje, segundo ela, há condições de abrir mais 200 lojas na região já ocupada pela empresa. Mas há lugares onde o negócio ainda não chegou, caso de Rio de Janeiro, Espírito Santo e Região Norte. Aquisições, admite, podem ser uma forma de se instalar nesses novos mercados, assim como fez quando desembarcou no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul e no Nordeste, mais recentemente. “Comprar uma rede em um Estado agiliza a chegada naquela localidade. Mas o crescimento orgânico também é uma forma de expandir. Se dependesse só de aquisições, não teria entrado em São Paulo”, afirma Luiza, lembrando a estratégia agressiva de três anos atrás, quando foram abertas 50 lojas ao mesmo tempo na capital paulista. ESTRATÉGIA Uma das formas de crescer organicamente, explica a presidente da companhia, seria por meio de lojas de vizinhança. É um conceito de ponto comercial menor chamado de loja virtual. Não há estoque. O cliente escolhe o produto com a ajuda do vendedor, consulta no computador os detalhes das mercadorias e espera o pedido ser entregue em casa. Atualmente a empresa tem 120 unidades do modelo virtual, que atendem, por exemplo, cidades com até 50 mil habitantes.

A estreia em São Paulo, com a abertura simultânea de 50 lojas

Ao todo, a rede é composta por 719 lojas, espalhadas por 16 Estados. São oito centros de distribuição e 23 mil empregos diretos. No ano passado, a companhia recebeu 26 milhões de clientes. A meta de Luiza de aumentar a rede com um modelo de loja de vizinhança pode ter alguns percalços, como uma possível reação das redes menores de atuação regional, avalia Jacques Gelman, coordenador do Centro de Excelência em Varejo, o GVcev, da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas). “As redes regionais sempre vão existir e representarão uma concorrência impor-

tante para empresas de alcance nacional, como o Magazine Luiza. A disputa com lojinhas locais às vezes pode criar dificuldades, porque existe a tradição, o relacionamento pessoal entre o dono do negócio e o cliente”, explica.

Fotos: Divulgação

A primeira loja, aberta há 54 anos, em Franca (SP)

O PAPEL DE LUIZA Para Luiz Fernando Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e colunista da AméricaEconomia, Luiza Trajano não tem com que se preocupar, até pelo retrospecto que tem como mulher de negócios. “Ela fez a empresa crescer sob a cultura do companheirismo, da liderança motivacional.

Ainda uma promessa Desempenho das ações do Magazine Luiza na BM&FBovespa está abaixo do esperado (base 100)* – Em R$

100,00 100,00

102,81

98,99

101,25

95,89

Magazine Luiza Ibovespa

101,25

95,86

88,51 87,44

87,88 87,31

86,68 76,80

88,06

80,00

70,13 29/04

02/05

01/06

01/07

01/08

01/09

* Considera quanto o investidor teria no fechamento de cada dia ao aplicar R$ 100 no Ibovespa e na ação do Magazine Luiza em 29/04/2011

03/10

01/11

65,94 09/12

Fonte: Economatica

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Foto: Marcela Beltrão

Com a Maia, a empresa desembarcou no Nordeste

É um caso ímpar no varejo brasileiro de uma rede que saiu do interior paulista [Franca], para se transformar em uma companhia nacional. Além disso, ela é uma excelente gestora. Luiza lidera um grupo que daria a vida por ela”, diz Furlan, uma espécie de conselheiro da presidente do Magazine Luiza. Furlan tem razão na análise. Luiza conseguiu nas duas décadas na direção da companhia resultados inquestionáveis. Passou de um faturamento de R$ 100 milhões, em 1991, quando chegou ao cargo, para R$ 5,3 bilhões em 2010. E a projeção feita em 2010, durante o anúncio da compra da rede Maia, é de atingir

Luiza é conhecida pelo carinho com que trata os funcionários

em 2015 vendas da ordem de R$ 15 bilhões, praticamente o triplo. Se há pessimistas que veem algum tipo de incerteza quanto ao rumo que será tomado pelo Magazine Luiza neste ano, outros estão bem otimistas. Claudio Felisoni, presidente do conselho do Provar (Programa de Administração de Varejo) da FIA (Fundação Instituto de Administração), lembra que a empresa atua em segmentos com altas taxas de crescimento. É o caso do setor de eletrodomésticos e móveis, que no ano passado teve um aumento das vendas 55% acima da média do varejo – que inclui, por exemplo, veículos, alimentos, material

Em expansão Evolução das vendas da companhia – (R$ bilhão) 5,3

3,8 3,2 2,6 1,9

2,2

1,4 0,5

0,6

0,7

2000

2001

2002

Fonte: Empresa

0,9

2003

2004

2005

2006

2007

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2009

2010

de construção, vestuário e combustíveis. Outro detalhe importante. Neste tipo de atividade, a maior rentabilidade não está na venda de TVs ou geladeiras, mas no ganho obtido com o financiamento das compras. O negócio é tão bom que o Itaú Unibanco, responsável por administrar a área de crediário dentro da rede, tem um contrato que vai até 2029. O crédito, por sinal, sofreu mudanças recentemente. “Tivemos de aumentar as restrições ao crédito. O efeito disso é que deixamos de vender de 10% a 15%”, explica a empresária. Para Felisoni, a companhia tem uma vantagem significativa em relação aos concorrentes, sejam eles maiores, sejam de menor porte. “O público se identifica com a imagem da Luiza”, avalia. “Nossa maior luta é não perder a identidade da empresa. Quanto a mim, não separo minha essência pessoal da essência profissional”, afirma a presidente do grupo. Uma história contada por ela recentemente em um evento em Barueri, na Grande São Paulo, ilustra o que diz o consultor. “Minha tia tratava o chinelo de dedo e a madame do mesmo jeito. Se ela soubesse quanto gastamos hoje para treinar nossos vendedores, ficaria horrorizada”, brinca. Impressões como a de Felisoni mostram que, mesmo se tratando de uma empresa 100% profissionalizada há tempos, inclusive com a figura de um CEO (Marcelo Silva, ex-presidente da Pernambucanas), a bola permanece nos pés de Luiza. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 31

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NEGÓCIOS Empresas

Fotos: Divulgação

As ações da empresa acumulavam alta de 35,3% até 2 de dezembro

As reinvenções da Hering No papel de protagonista nacional há mais de cem anos, a companhia parte para outros países da AL e quer turbinar seu comércio eletrônico Graziele Dal-Bó, de São Paulo

F

amosa por fabricar um dos itens mais prosaicos do vestuário, a camiseta branca, a Hering tem provado que, básica, só mesmo a sua queridinha de vendas. Dona de um faturamento bilionário e com uma posição consolidada no Brasil, a companhia volta seus radares para o mercado internacional. E é na América Latina que estão as melhores possibilidades, na avaliação do diretor comercial, Ronaldo Loos. O Chile foi o mais recente país a receber uma franquia da rede, inaugurada em novembro do ano

passado, em Santiago. Com a abertura na capital chilena, a Hering já soma 16 lojas fora do país. As outras 15 unidades estão localizadas no Paraguai, na Bolívia, na Venezuela e no Uruguai. “No segundo semestre deste ano, devemos ter a nossa primeira loja na Colômbia”, afirma Loos. Os doi únicos países da região que ainda não fazem parte desse planejamento internacional são Argentina e México. No primeiro, a Hering chegou a atuar – até com certa força –, na década de 1990, mas a crise argentina e as su-

cessivas barreiras impostas pelo governo aos produtos têxteis brasileiros inviabilizaram a operação. “O cenário está um pouco melhor, mas ainda assim é um mercado difícil”, diz o executivo. Já no México, o problema está ligado à tributação. Enquanto espera por condições melhores nesses países, a Hering estuda outros mercados dentro da América Latina. Equador e Peru fazem parte do rol de países onde pretende abrir operações. Os planos da Hering englobam ainda expandir sua atuação onde já está presente, caso de Uruguai, Venezuela e Bolívia.

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Com sede na cidade de Blumenau (fotos), em Santa Catarina, a Hering já conta com 16 lojas fora do país

Embora o processo de internacionalização tenha se intensificado de 2010 para cá, Loos afirma que o mercado doméstico continua a ser o foco. Segundo o último relatório financeiro divulgado pela Hering (até o fechamento desta edição), as vendas internas somaram R$ 1,12 bilhão de janeiro a setembro de 2011, enquanto a comercialização de peças fora do país atingiu R$ 18 milhões no mesmo período. “Essa proporção não deve

ser muito alterada com as inaugurações que estamos prevendo para outros países. Uma empresa é feita de várias ações, e, por isso, estamos investindo também nesse modelo de negócio”, diz Loos. Comércio eletrônico O canal de vendas pela internet também deve receber atenção especial em 2012. Sem revelar detalhes, o diretor comercial avisa apenas que “a expecta-

tiva é alta” e que as novidades na área de comércio eletrônico devem ser divulgadas ainda no primeiro trimestre deste ano. “O mundo está caminhando nessa direção e não podemos ficar fora disso”, diz Loos. As webstores representam hoje 0,8% das vendas da Hering. As multimarcas ficam com a maior fatia desse total, 55,4%, e as lojas próprias ou franquias têm 47,3%. A liderança das multimarcas é mais do que

rentabilidade máxima Simulação da evolução mensal de uma aplicação na Hering e no Ibovespa nos últimos 12 meses(1) – em R$ 144,10 134,17 Hering (HGTX3)

133,97

126,73

142,56

131,32 124,05

Ibovespa

143,91

118,02

111,11

Fonte: Economatica

96,06

94,81

Janeiro

97,23

95,42

93,24

90,04 84,88

98,96

82,06

84,64

75,50

91,96

Fevereiro

84,18

81,52

Março

Abril

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

(1) Considera quanto o investidor teria no fechamento de cada mês ao aplicar R$ 100 no Ibovespa e na ação da Hering no dia 30/12/2010

Outubro

Novembro Dezembro (2) (2) até o dia 7 de dezembro

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NEGÓCIOS justificada, já que os outros modelos de negócio, como o e-commerce e as franquias, são movimentos bem mais recentes. Este último, por exemplo, recebeu mais atenção somente nos anos 2000. “A Hering foi uma das precursoras de uma tendência que ganha força hoje: a ida da indústria para o varejo”, observa Fernando Lucena, presidente do Grupo Friedman no Brasil. Com 132 de história, a Hering não só foi pioneira nesse movimento como também na capacidade de se reinventar. Foi assim quando passou de uma simples fabricante de camisetas brancas – até hoje o produto mais vendido no amplo portfólio que a empresa construiu ao longo dos anos – a uma vendedora de produtos de moda. Uma mudança que envolveu muito mais do que criar produtos diferentes. Passou pela adaptação de gestão, na qual gerentes e diretores ganharam mais responsabilidade, e até por transformações na própria produção. “Nosso processo de terceirização foi intensificado nos últimos cinco, seis anos. Ampliamos as nossas fábricas, mas, como o crescimento foi grande, houve necessidade de investir em outras frentes também”, explica Loos. É nesse processo de terceirização que a Hering acabou transformando um eterno inimigo do setor têxtil em aliado. Peças como bermudas

O diretor comercial da Hering diz que o e-commerce é um dos alvos para 2012

mudança estratégica A transformação de uma loja focada no conceito básico para um player do mundo da moda exigiu mudanças também na velocidade de lançamento de produtos. Segundo Loos, são pelo menos seis coleções anuais, fora novidades que vão sendo apresentadas ao consumidor ao longo do ano. “A área da moda exige uma gama de novidades muito maior que outros segmentos do setor têxtil. É uma compra muito mais por impulso

Embora o processo de internacionalização tenha se intensificado em 2010, o mercado doméstico ainda é o foco da companhia de tactel, jaquetas e a linha de tricô não são mais fabricadas no Brasil, mas, sim, na China. Segundo a equipe de pesquisa da corretora Planner, mesmo que a empresa não tivesse aproveitado as oportunidades oferecidas pelo país asiático, não há razão para se preocupar em termos de concorrência. Conta a favor da Hering o fato de trabalhar com marcas diversificadas, voltadas a públicos diferentes. O grupo atua sob as bandeiras Hering Kids, dzarm., PUC e a própria Hering.

do que por necessidade”, avalia Lucena, do Grupo Friedman. Por enquanto, o mercado mostra que as estratégias adotadas pela Hering têm surtido efeito positivo. Até 2 de dezembro de 2011, as ações da companhia acumulavam alta de 35,3%. Nesse mesmo período, o Ibovespa amargava perdas de 16,5%. Segundo levantamento feito pela Economatica, se um investidor tivesse aplicado R$ 100 nos papéis da companhia em 30 de dezembro de 2010, teria, em 7

de dezembro de 2011, R$ 142,56, ou um rendimento de 42,56%. Para efeito de comparação, a poupança, o mais popular dos investimentos, oferece um rendimento médio de 6% ao ano. Se a escolha fosse pela aplicação no Ibovespa, no mesmo período analisado para as ações da Hering, o investidor teria perdido R$ 15,36. Os números explicam por que as ações da companhia estão entre as queridinhas para os analistas de varejo. Os resultados apresentados pela fabricante e varejista de vestuário ajudam nas análises positivas. O último relatório divulgado pela empresa até o fechamento desta edição, que consolida a evolução dos números entre janeiro e setembro de 2011, mostra o crescimento acelerado pelo qual passa a Hering. A receita bruta total chegou a R$ 1,14 bilhão no período, uma alta de 38,7% na comparação com o ano anterior. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), por sua vez, cresceu 50,1% entre janeiro e setembro de 2010 ante os nove meses de 2009. Todas as quatro marcas sob o guarda-chuva da empresa também apresentaram resultados positivos: a Hering avançou 35,5%; a Hering Kids, 46,3%; a PUC, 29,2%; e a dzarm., 47,1%. Apesar das incertezas quanto ao ambiente macroeconômico, os números positivos alcançados fizeram a companhia revisar para cima a meta de abertura de lojas em 2011. De 418, a expectativa até o encerramento desta edição estava em 433 lojas. E, para 2012, segundo Ronaldo Loos, o objetivo é seguir com o ritmo de inaugurações dos últimos anos, de 70 a 80 unidades/ano. No mercado doméstico, as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste são as que têm despertado mais interesse. “Isso não quer dizer que Sul e Sudeste ficarão de fora”, afirma. A contar pela procura de possíveis franqueados pela marca, a Hering não terá dificuldades para atingir a meta. “Em alguns locais temos muito mais interessados do que podemos atender. É preciso ter um equilíbrio para que as franquias não rivalizem com as multimarcas”, afirma o executivo.

Foto: Divulgação

Empresas

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OPINIÃO

Caio Megale é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA (megalecaio@gmail.com)

Feliz 2012? D

mais para o fim do ano, o agravamento da crise europeia trouxe volatilidade à taxa de câmbio e aumento do custo de captação das instituições financeiras. A demanda não acompanhou a oferta, e a economia ficou estocada. Em meio ao ciclo de ajuste de estoques, com a demanda ainda reticente com o cenário global, a economia parou de crescer. Os números de 2011 ainda não foram divulgados, mas as estimativas da equipe econômica do Itaú Unibanco sugerem que o PIB brasileiro tenha estagnado. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no terceiro trimestre, a expansão da economia foi zero na comparação com os três meses anteriores. Assim, no ano passado como um todo, o crescimento não deve superar 3%.

Ilustração: Samuel Casal

o ponto de vista econômico, o fim de 2011 foi diametralmente oposto ao seu começo. Em janeiro de 2011, falávamos em superaquecimento da economia, Banco Central subindo juros, medidas para conter o crédito e pressões inflacionárias. A média das projeções coletadas pelo BC apontava para um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) no ano superior a 4,5%. No entanto, a desaceleração foi bem mais intensa do que se esperava. Otimistas, os produtores não acreditavam que as medidas anunciadas pelo governo, inclusive de contenção dos gastos públicos, pudessem frear a demanda. Mas, ao longo do ano, o crédito, especialmente ao consumo, perdeu força. Os investimentos públicos diminuíram. E,

O que esperar de 2012? O início pode ser fraco, na esteira de 2011. Mas todas as medidas contracionistas de 2011 estão sendo revertidas. O BC vem reduzindo juros e alterando parte das medidas de contenção de crédito. Os in­vestimentos públicos serão retomados, especialmente com a proximidade da Copa do Mundo. O salário mínimo aumentará 7,5% em termos reais (em 2011 não houve aumento real). Dessa forma, é legítimo esperar uma aceleração da atividade ao longo do ano. Diferentemente das economias cen­ trais – EUA, Europa –, o potencial de consumo e as oportunidades de investimentos no Brasil são grandes, o que garante que a demanda reaja aos estímulos implementados. No segundo semestre de 2012, é provável que o país volte a crescer acima de 6% ao ano (se­­­­­­este é um ritmo sustentável para os anos à frente é outra história, tema para uma próxima coluna). Um alerta, no entanto, deve ser feito. A crise europeia atingiu patamares muito mais preocupantes com a disparada dos juros da dívida externa de Itália e Espanha. São países grandes demais para serem salvos, com vencimentos chegando próximo a € 700 bilhões nos próximos 12 meses. Dúvidas pairam também sobre Bélgica, França e até Alemanha. Se a situação se agravar, podemos ter um cenário de crise bancária e estrangulamento de crédito semelhante ao que se viu por oca­­sião da quebra do banco americano Lehman Brothers, entre 2008 e 2009. O mundo não escaparia de uma recessão profunda. Nem o Brasil, pelo menos por alguns trimestres. Em suma, 2012 tem tudo para ser um espelho de 2011: começa mais fraco, e vai acelerando rapidamente ao longo do ano. Se a Europa deixar.

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NEGÓCIOS

CommoditiEs

Hoje, a China é um dos principais clientes das exportações brasileiras do setor

Sem medo da crise Apesar das incertezas do cenário externo, empresas brasileiras de papel e celulose investem no aumento da capacidade de produção Sérgio Siscaro, de São Paulo

A

situação econômica delicada dos países que compõem a zona do euro tem potencial de gerar uma crise que afete o nível de demanda de vários mercados que compram produtos brasileiros ao longo deste ano. No entanto, as empresas brasileiras do setor de papel e celulose seguem com seus planos de investimentos – confiantes na força do

mercado interno e na recuperação do cenário externo. A Eldorado Celulose prossegue com as obras de sua fábrica em Mato Grosso do Sul, enquanto a Suzano Papel e Celulose confirmou recentemente sua disposição de manter o ritmo de construção de uma nova unidade no Maranhão. Na corrida pelo aumento da produção, quem poderá sair atrás é a Klabin, que ainda deverá deci-

dir nos próximos meses se leva adiante o projeto de instalar uma nova planta no Paraná. Esse otimismo parece ser bem fundamentado. De acordo com os dados da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), divulgados em novembro, o país se destaca na relação dos principais produtores mundiais de celulose (4º lugar) e papel (10º), tendo regis-

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PRINCIPAIS PROJETOS NO BRASIL Suzano Papel e Celulose Nova unidade em Imperatriz (MA) Investimento: R$ 2,8 bilhões Produção: 1,5 milhão de ton/ano Início de operação: final de 2013

Eldorado Celulose Fábrica em Três Lagoas (MS) Investimento: R$ 4,8 bilhões Produção: 1,5 milhão de ton/ano de celulose branqueada Início de operação: final de 2012 Klabin* Nova unidade em Monte Alegre (PR) Investimento: R$ 3,8 bilhões Produção: 1,5 milhão de ton/ano Início de operação: 2014

Foto: Divulgação

Fonte: Empresas

trado US$ 12 bilhões de investimentos na última década. As florestas plantadas no Brasil já atingem 2,2 milhões de hectares. Nos dez primeiros meses de 2011, a produção de celulose atingiu 11,7 milhões de toneladas – quase o mesmo patamar de todo o ano de 2010 –, enquanto a de papel totalizou 8,2 milhões de toneladas (equivalente ao desempenho de 2010). No mesmo período, a balança comercial do setor de papel e celulose teve superávit de US$ 4,2 bilhões (contra US$ 4 bilhões entre janeiro e outubro do ano passado). A China aparece como um dos principais mercados consumidores para a produção nacional. Além disso, dados da última edição do estudo “Latin American Pulp and Paper Forecast”, elaborado pela Risi, consultoria internacional especializada no setor florestal, mostram que os países latino-americanos tiveram crescimento consistente ao longo de 2011. O papel tissue, de maior valor agregado, por exemplo, apresenta perspectiva de aumento anual de 4,2% na capacidade de produção na região até 2016 – quando deverá chegar a 4,9 milhões de toneladas.

* Previsão

Novo projeto A Klabin é uma das empresas que vêm se movimentando para elevar a sua capacidade. No fim do semestre passado, ela anunciou a compra dos ativos florestais da Vale do Corisco, localizada nas proximidades de sua unidade de Monte Alegre, no Paraná. A operação, realizada em parceria com a chilena Arauco, totalizou US$ 473,5 milhões e possibilitou o aumento da área de florestas plantadas da Klabin para 243 mil hectares – dos quais 110 mil estarão disponíveis para novos projetos industriais.

US$ 12 bilhões é o valor investido pelo setor no Brasil ao longo da última década

E o primeiro desses projetos será a construção de uma nova planta de celulose naquela região, voltada aos mercados de tissue e de papéis especiais – os quais, na avaliação da companhia, apresentam menor volatilidade de mercado. Além disso, a unidade – que deverá ser administrada por uma nova empresa, a Klabin Celulose, totalmente controlada pela holding – também vai se dedicar aos segmentos de fibra longa (embalagens) e fluff (produtos de higiene). Em apresentação a investidores realizada em novembro, o diretor-geral da companhia, Fabio Schvartsman, disse que a nova unidade deverá ser flex, ou seja, lidar com diversos tipos de eucaliptos, produzindo itens de maior valor agregado. Além disso, será capaz de atender tanto o mercado interno quanto o externo. “O objetivo é desenvolver a planta de celulose mais competitiva e sustentável do mundo”, afirmou. No entanto, o projeto ainda deverá passar pela aprovação do Conselho de Administração da companhia neste trimestre. Se for dado o sinal verde, a fábrica poderá entrar em funcionamento já em 2014. Nesse intevalo, a Klabin buscará investidores interessados em participar da construção da nova planta, assim como a contribuição do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Logística favorável Outra empresa atenta às oportunidades do mercado é a Suzano Papel e Celulose – que planeja colocar em operação já no final de 2013 uma nova unidade produtora, localizada no município de Imperatriz, no Maranhão. Com investimentos previstos de US$ 2,8 bilhões, dos quais R$ 2,3 bilhões serão destinados à parte industrial e US$ 575 milhões à base florestal – sendo que R$ 2,7 bilhões virão na forma de recursos do BNDES –, o projeto se insere na estratégia da empresa de buscar mais competitividade no setor de celulose e criar novas oportunidades nas áreas de biotecnologia e energia renovável. Com uma logística favoráJaneiro, 2012 AméricaEconomia 37

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NEGÓCIOS

Commodities

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O Brasil tem 2,2 milhões de hectares de florestas plantadas

vel às exportações direcionadas ao Hemisfério Norte, em razão da localização da planta, a nova unidade terá capacidade anual de produzir 1,5 milhão de toneladas de celulose. Mesmo o espectro da crise na Europa – principal mercado importador de celulose da Suzano – não desanima a empresa. “Se a situação internacional se agravar, poderemos adiar alguns de nossos outros planos, como a implantação de uma no-

mento zero em 2012, a demanda vai se manter. A China, por outro lado, ainda apresenta perspectivas consideráveis.” De toda forma, a Suzano vem se preparando para um possível agravamento do cenário externo – e já pensa em colocar à venda alguns de seus ativos na área de produção de papel, e de sua participação na Usina Hidrelétrica de Capim Branco, no Rio Araguari (MG). Maciel salienta, contudo, que nenhuma decisão

Com planos de aumentar sua produção, a Suzano espera chegar à liderança em diversos mercados da América do Sul va fábrica no Piauí [cuja decisão sobre a compra de equipamentos foi adiada em junho para o primeiro semestre de 2014]. Mas não é o caso do Maranhão, uma vez que já chegamos a um ponto em que não há retorno”, avalia o presidente da companhia, Antonio Maciel Neto. Para ele, a possível queda na demanda por celulose na Europa não deverá afetar significativamente os planos da Suzano. “Se o continente apresentar um cresci-

a esse respeito foi tomada. A análise será feita ainda neste trimestre. Enquanto isso, a empresa se beneficia dos ganhos na área de papel e celulose – na qual a maior parte de suas vendas é destinada ao mercado interno. De acordo com a avaliação da empresa, a demanda por papel deverá continuar alta na América Latina nos próximos anos – e a Suzano tem como objetivo chegar à liderança nos mercados sul-americanos.

Mercado externo Com um investimento total projetado em R$ 4,8 bilhões, o projeto da Eldorado Celulose prevê a instalação de uma nova fábrica na cidade de Três Lagoas, localizada no Mato Grosso do Sul – com a qual a empresa pretende ter a maior unidade dedicada à produção de celulose no mundo. Com sua conclusão prevista para o fim deste ano, a planta deverá ter capacidade de produzir 1,5 milhão de toneladas por ano de celulose branqueada. A empresa trabalha com a perspectiva de a nova fábrica responder por 20% das exportações brasileiras de celulose. Seu principal foco serão as vendas para os mercados produtores de papel da América do Norte, Europa e Ásia. Essa decisão estratégica foi adotada porque, de acordo com projeções feitas pela Eldorado Celulose, a necessidade mundial de celulose deverá aumentar em 25 milhões de toneladas anuais até 2023. Para viabilizar essa expansão, a companhia incorporou, no segundo semestre, a Florestal Brasil – empresa de exploração agroflorestal cuja atuação é centrada nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

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OPINIÃO

Mac Margolis é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

Petróleo do fim do mundo

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Ilustração: Samuel Casal

omparado com os desastres da indústria petroleira mundial, até que não foi tão grave. O acidente no poço da Chevron, ocorrido em no­ vembro, resultou no vazamento de cer­ ca de 4 mil barris de petróleo pelos ma­ res do Rio de Janeiro. Nada a ver com a explosão de abril de 2010 da plataforma de Deepwater Horizon, da petroleira BP, que matou 11 pessoas e espalhou 4 milhões de barris de petróleo pelo Golfo do México, uma hecatombe em câmera lenta para a fauna e f lora marítima. Mas o Golfo ainda pode ser aqui. Aos sete mares, os políticos nacionais não se cansam de cantar a fortuna es­ condida no fundo do mar. Pudera. Com 30 bilhões a 50 bilhões (ou serão 100 bilhões?) de barris de petróleo leve ao nosso alcance, quem não vislumbra­ ria um “bilhete de loteria premiado”, como disse o ex-presidente Lula, ou até “fortes indícios de que Deus é brasilei­ ro”, como quis a ainda ministra Dilma Rousseff, hoje presidente? Só que Deus também despista. Neste tempo em que o homem vai cada vez mais longe e fun­ do para cavar fontes seguras de energia, o modesto acidente brasileiro pode ser um grande presságio.

Em 2010, com um mar negro no Gol­ fo e “Big Oil” no pelourinho, a ideia de cavoucar no fundo do mar em busca de combustíveis fósseis parecia desavisa­ da, se não criminosa. Tanto governos, executivos e ambientalistas concorda­ ram que a indústria de petróleo nunca mais seria a mesma. Os seguros para prospecção em águas profundas dispa­ ravam, enquanto nações, da Itália ao Gabão, suspendiam operações em ultra­ mar. Mas foi apenas um intervalo. Hoje, a corrida para encontrar petróleo nos ca­ fundós segue mais forte do que nunca. As razões para isso são tão simples quanto eloquentes. O crescimento explo­ sivo nos países emergentes com suas classes médias em ascensão já acende cantos do mapa-múndi que mal pis­ cavam algumas décadas atrás. Índia e China juntas devem consumir 28% da energia produzida no mundo em 2030, três vezes a quantia de que precisavam em 1990, segundo o Departamento da Energia dos Estados Unidos. Com a ex­

pansão pífia nas economias avançadas, os emergentes irão comandar parcela ainda maior da corrente mundial – e sua demanda já empurra as reservas conhe­ cidas de petróleo ao limite. A tecnologia também conspira a fa­ vor do petróleo extremo. Com uma nova geração de robôs submarinos, du­ tos e mangueiras robustas e resistentes ao choque térmico, sondas que podem “enxergar” pelo breu da rocha e do sal no fundo do mar, fontes de petró­ leo das mais impossíveis estão subita­ mente à mão. Engenheiros e geólogos hoje miram o óleo do pré-sal africano, nas águas sulfurosas do Mar Negro, na rocha ultradensa do Texas, debaixo da calota de gelo do Polo Norte e até no lamaçal das areias betuminosas do Ca­ nadá e da Venezuela. Mas nada disso se compara ao desa­ fio do pré-sal brasileiro. Afinal, a maior parte do petróleo na “picanha azul”, a celebrada província do nosso pré-sal, está mais longe (a 300 quilômetros da costa), mais profunda (7,2 mil metros) e ocultada por um tampão de sal dos mais grossos (2 quilômetros) da histó­ ria da indústria da prospecção. Estará o Brasil preparado para o mundo novo do petróleo radical? O acidente do Golfo foi um espanto global e ninguém admite assistir à sua reprise, nem mesmo em escala mo­ desta. Espanta também o fato de que o mesmo volume de petróleo que vazou no Golfo (760 milhões de litros de pe­ tróleo) polui anualmente os oceanos, a vasta maioria decorrente de falhas em cargueiros e poços convencionais. E pode piorar. Até 2030, um em cada dez barris de petróleo no mundo será extra­ ído de águas ultraprofundas, segundo a IHS Cambridge Energy Resources. O bravo novo mundo do petróleo extre­ mo está apenas começando. Que não seja o início da era dos acidentes ex­ tremos, também. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 39

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NEGÓCIOS Aviação

A primeira linha da nova empresa ligará a capital Lima a Cuzco (foto)

A volta do condor O governo de Ollanta Humala parece decidido a levar adiante seu projeto de criar uma companhia aérea low-cost

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cidentes, com dezenas de mortos e feridos, centenas de passageiros em solo por causa de voos suspensos por falhas técnicas. Assim foram os últimos meses da TANS Perú, companhia aérea estatal criada em 1963 e que o governo do ex-presidente Alan García decidiu fechar em 2005 por motivos financeiros. Seis anos antes foi a vez da Aeroperú, fundada pelo general populista Juan Velasco Alvarado, fechar as portas. Um acidente fatal no Oceano Pacífico, um confuso processo de privatização e prejuízos que chegaram a US$ 174 milhões acabaram tirando a empresa do ar. Apesar desse retrospecto nada bom, tudo indica que o Estado peruano voltará a administrar uma companhia aérea. “Queremos ver as cores da bandeira outra vez no céu”, diz, com entusiasmo, Julián Palacín Fernández, especialista em

direito aeronáutico, que elaborou para a bancada governista “Gana Perú” o estudo de viabilidade da estatal. Apesar da opinião de Fernández, há quem anteveja dias difíceis caso o projeto saia do papel. Trata-se de uma decisão complexa no cenário da aviação comercial. Segundo dados da Iata (Associação Internacional de Transporte Aéreo), durante a última década, cerca de 200 companhias aéreas faliram em todo o mundo. A volatilidade do preço do petróleo e a crise financeira global forçaram as empresas a somar forças para sobreviver: Air France-KLM, Delta-Northwest, Gol-Varig (e mais tarde Webjet), Continental-United, British Airways-American Airlines. Na América Latina, a Avianca uniu-se à TACA, e a LAN escolheu a TAM como parceira. “A realidade econômica nos obriga a deixar de falar de companhias aéreas es-

tatais para falar de companhias regionais ou globais”, afirma Carlos Adrianzén, decano da Faculdade de Economia da Universidade Peruana de Ciências Aplicadas. As exceções são Cuba, Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina. Esses países mantêm empresas estatais de aviação que operam com prejuízos. Germán Efromovich, presidente do Synergy (grupo controlador da Avianca-Taca), aponta que Humala “não pode reinventar a roda. E que não é preciso olhar muito longe para comprovar isso. A Argentina, por exemplo, insiste em manter sua companhia aérea [Aerolíneas Argentinas], o que lhe custa muito dinheiro. A Venezuela criou a Conviasa e também precisa de muito dinheiro para sustentá-la”. E o empresário boliviano, naturalizado brasileiro, conhece muito bem o Peru: em 2006, teve uma falida incursão pelo país com a Wayra Perú.

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Luis Felipe Gamarra, de Lima

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Fernández defende-se das críticas e tem o apoio de integrantes de peso do gabinete peruano. “Não será uma companhia aérea financiada pelo Estado. Isso já foi feito e fracassou”, afirma. “Os sócios privados colocarão todo o capital e o Estado usará o que existe nas regiões do país para fornecer a infraestrutura aeroportuária necessária.” O modelo a ser seguido é o das companhias aéreas low-cost, que oferecem passagens mais econômicas, sem nenhum serviço a bordo, a fim de reduzir os custos operacionais para atingir a máxima rentabilidade por quilômetro percorrido. “Para captar os 6 milhões de peruanos que não têm acesso a esse mercado em razão de suas tarifas elevadas, precisamos imitar empresas como Southwest, Ryanair e EasyJet”, diz Fernández, cujo irmão Carlos presidiu a Aerocondor, companhia aérea privada que faliu em 2008. Funcionários ligados ao governo de Humala afirmam que o investimento inicial para que a nova companhia comece a voar seria de US$ 70 milhões, financiados por meio de leasing, pagáveis em 20 anos, destinados ao aluguel de uma frota de seis Airbus 319 (156 passageiros) e seis aviões Bombardier (80 passageiros). Com 12 aeronaves, a Aerolíneas del Perú teria a segunda maior frota do país andino, depois da LAN Perú (31), e à frente da Taca Perú (seis). O ministro da Economia, Luis Miguel Castilla, dono de um perfil de tecnocrata

O presidente Humala quer atrair investidores para montar a companhia aérea estatal

conservador, acredita que o projeto seja viável. “O esquema provavelmente seria uma parceria público-privada, porque, embora tenhamos recursos públicos importantes, eles são finitos, e as necessidades, enormes”, afirma Castilla. A primeira rota seria Lima-Cuzco-Lima. “Não podemos operar apenas o osso, precisamos de carne e osso. Inclusive de rotas internacionais, para fortalecer os aeroportos de fronteira”, diz Fernández. Isto é, além do itinerário tradicional e de maior rentabilidade, a Aerolíneas del Perú cobriria as rotas que até o momento não são rentáveis para o setor privado. Segundo Fernández, o modelo de negócio registrará, no primeiro ano, receitas de cerca de US$ 50 milhões, mas em menos de uma década deverá render em torno de US$ 500 milhões, alcançando uma participação de 40% do mercado. São números que trazem ânimo ao setor. “Quase não existem mais compaA LAN Perú manterá os planos de investimento mesmo com o aumento da concorrência

nhias aéreas estatais no mundo”, afirma Carlos Gutiérrez, presidente da Associação de Empresas de Transporte Aéreo Internacional. Isso acontece como resultado dos tratados de céu aberto, que globalizaram a indústria. Carlos Canales, presidente da Câmara Nacional de Turismo, a Canatur, destaca que essa companhia aérea representará um perigo para as empresas privadas do setor, que poderiam sair do mercado se concorressem em desvantagem com os privilégios de uma empresa estatal. A LAN Perú, que tem 60% do mercado e faturou US$ 759 milhões em 2010, não está preocupada com a criação da companhia aérea estatal. Pelo menos é o que diz. O empresário Enrique Cueto, vice-presidente-executivo, disse publicamente que a empresa manterá seu plano de investimento para os próximos cinco anos, equivalente a US$ 700 milhões. No caso da Taca, Efromovich não acredita no sucesso da Aerolíneas del Perú e continua com seu plano de apostar no mercado peruano. Embora a Aerolíneas del Perú ainda não tenha uma data para nascer, sua chegada já é iminente. A Pro Inversión, agência governamental que procura investidores para o Estado, está encarregada de estruturar o projeto e tem pressa para colocá-lo de pé. E, a partir do momento que isso aconteça, será possível saber se realmente existem empresas privadas interessadas em se associar ao Estado peruano em uma companhia aérea low-cost. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 41

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ESPECIAL

EMPREENDEDORISMO

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Alexandre Costa começou a fabricar ovos de Páscoa artesanalmente, com uma pessoa contratada, e hoje sua empresa tem 1,1 mil funcionários e mais de mil lojas em todo o Brasil

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O Brasil que dá certo Com economia favorável, cresce o número de empreendedores no país. Conheça algumas dessas inspiradoras histórias de sucesso Adriana Chaves, de São Paulo

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urante anos, abrir o próprio negócio esteve associado ao desejo de não ter patrão e a uma alternativa de ocupação para quem se aposentava. Ou, ainda, servia para quem queria se manter na ativa ou não conseguia se reinserir no mercado de trabalho formal depois de uma demissão inesperada. A mudança profunda pela qual vem passando a economia brasileira nos últimos anos, com redução das taxas de desemprego, estabilidade e um rumo mais certeiro sobre o que esperar do futuro, fez com que um novo perfil empreendedor surgisse no Brasil. Desde 2003, os empreendedores por oportunidade superaram os por necessidade. Dados da pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor) de 2010 mostram que, para cada empreendedor por necessidade, há outros 2,1 por oportunidade. A proporção brasileira está próxima da americana, de 2,4 por oportunidade. Segundo o consultor Pedro João Gonçalves, da Unidade Inteligência de Mercado do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), “uma hipótese para esse quadro positivo é que, com a melhora das taxas de crescimento da economia nos últimos anos, surgiram oportunidades lucrativas no mercado”.

Coordenador do FGVcenn (Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getulio Vargas), em São Paulo, o professor Tales Andreassi destaca que, antes da estabilização econômica, quando não havia emprego, a única alternativa era ser empreendedor. “Agora, as pessoas empreendem por vocação, vão atrás e se informam mais antes de abrir um negócio. Por isso também quebram menos. Mas juros e crédito preocupam.” As pesquisas do Sebrae de São Paulo indicam que a taxa de mortalidade das empresas paulistas recém-constituídas caíram. Dos negócios abertos em 1997, 36% fecharam no primeiro ano. Em 2007, 27% não alcançaram o segundo ano de atividade. “Há um conjunto de fatores que podem ter contribuído para essa melhora relati-

Para cada um empreendedor por necessidade, existem outros 2,1 por oportunidade no país

va. Ao longo dos anos, tem melhorado a escolaridade dos proprietários de empresas. Em São Paulo, entre 1995 e 1997, 62% dos novos empreendedores tinham pelo menos o ensino médio. De 2003 a 2007, esse percentual passou para 78%. É importante citar também a criação e o aperfeiçoamento de políticas em favor do empreendedor, por exemplo, a Lei Geral das Micros e Pequenas Empresas e o Simples Nacional”, afirma Gonçalves. Outro ponto é que, com a classe C ganhando espaço, há uma demanda maior por educação e serviços. “A pessoa com renda maior vai gastar com ela mesma, consumir cultura, diversão, restaurantes, beleza e móveis. Quando o país melhora a renda, melhoram os serviços. Esses negócios existiam, mas eram mais simples e baratos. Agora o nível de sofisticação mudou”, afirma Andreassi. Ocorreram ainda mudanças culturais, aponta Batista Gigliotti, presidente da Fran Systems, consultoria em desenvolvimento de negócios e franquias, e coordenador de Projetos do FGVcenn. “Com a crise nos países desenvolvidos, a atratividade do trabalho em uma multinacional está sendo questionada. Muitos empregados começam a investir em um negócio paralelamente, ou colocam a mulher na operação e depois passam a se dedicar integralmente também.” Janeiro, 2012 AméricaEconomia 43

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ESPECIAL

Isso ajuda a explicar por que a mulher brasileira é uma das que mais empreendem no mundo, segundo a GEM. Apenas em Gana as mulheres atingiram taxas de empreendimento iniciais mais altas que os homens entre os 59 países participantes da pesquisa, segundo dados de 2010. Entre os empreendedores iniciais, 50,7% são homens, e 49,35%, mulheres. Pesam ainda a flexibilidade de horários e a ideia de fazer algo que tenha sentido para a vida da pessoa. Embora o empreendedorismo tenha crescido em todas as faixas etárias, as motivações variam, aponta Gigliotti. “O jovem procura crescimento e, pela falta de renda, opta mais por serviços do que pelo varejo. O indivíduo mais velho procura fluxo de caixa, quer ampliar sua vida útil empresarial.” O crescimento dos novos negócios influencia o mercado de franquias, que aumentou em 20% o faturamento em 2010 (25% decorrentes das microfranquias), segundo o diretor-executivo da ABF (Associação Brasileira de Franchising), Ricardo Camargo. Para 2011, a meta é subir 15%. “Tradicionalmente, as mais procuradas estão ligadas à beleza, à saúde e à alimentação, além das relacionadas à educação e ao turismo.” Conheça a seguir histórias de brasileiros que, em diferentes setores da economia, apostaram no próprio potencial e levaram adiante ideias criativas para se tornarem referências em seus ramos de atividades. Cacau Show Na Páscoa de 1988, então com 17 anos, Alexandre Tadeu da Costa resolveu revender chocolates para ganhar um dinheiro extra. Após receber uma encomenda de 2 mil ovos de 50 gramas de uma escola, soube que o fornecedor não poderia produzir ovos com esse peso. Para honrar o pedido, partiu para produção própria. Comprou a matéria-prima – com dinheiro emprestado do tio – e contratou uma senhora que fazia chocolate caseiro para produzir os confeitos. Depois de três dias, com jornadas de traba-

Com o Grupo Fitta, André Nunes abriu a primeira franquia de câmbio no país

lho de 18 horas, a missão foi cumprida. Hoje, o negócio conta com 1,1 mil funcionários só na fábrica e cerca de 1,1 mil lojas no país. A face empreendedora de Costa apareceu cedo. “Iniciei minha busca pela independência aos 13 anos, quando fui trabalhar em um posto de gasolina no bairro. Fiquei um ano calibrando pneus, até comprar minha bicicleta. Depois fui trabalhar com minha mãe, com vendas de porta em porta.” A transformação da Cacau Show em franquia foi inusitada. Uma jornalista queria abrir uma loja da marca na Grande São Paulo. Costa foi ao local conhecer o ponto e, como chegou antes do horário marcado, levou o carro a um lava-rápido. Um funcionário trancou o carro com a chave do lado de dentro do veículo. O dono do estabelecimento ficou tão constrangido, que levou Costa até São Paulo para buscar a chave reserva. “No caminho, entre muitas descul-

78%

dos novos empreendedores em São Paulo têm pelo menos o ensino médio

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EMPREENDEDORISMO

pas, ele falou que sua mulher queria abrir uma loja de chocolates e que estava impressionada com o sucesso de uma tal de Cacau Show. Foi então que me apresentei como fundador. O negócio com a repórter não vingou, mas fechei com ele imediatamente. Começava ali, em 2002, o sistema de franquias da Cacau Show que alcançaria mil lojas em apenas oito anos”, diz Costa. Rádio Ibiza A paixão pela música uniu os jovens Pedro Salomão, 32 anos, Levy Gasparian, 42, e Rafael Gasparian, 32. Em 2003, Pedro e Rafael criaram a produtora de áudio Tá Surdo Produções. Da parceria, veio a ideia para se juntarem a Levy, irmão de Rafael e DJ no Rio de Janeiro, para lançarem uma empresa pioneira no serviço de identidade musical, a Rádio Ibiza. Seguindo a tendência mundial de personalização, passaram a desenvolver rádios customizadas. “Eu atuava no mercado financeiro e a produtora em que o Rafael trabalhava entrou em crise em 2001, quando o acesso à internet começou a crescer. Eu sempre gostei de produto e fazia pós-graduação em Sociologia para conhecer mais sobre comportamento. Era um período em que a prestação de serviços engatinhava no país e começamos a conversar sobre esse mercado potencial. Percebi que havia espaço”, conta Pedro. Como precisava de um tema para sua monografia, ele aproveitou para desen-

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Rafael Gasparin, Pedro Salomão e Levy Gasparin (da esq. para dir.), sócios da Rádio Ibiza: a empresa cria a identidade musical de marcas nacionais e internacionais

volver o planejamento estratégico da produtora. “Quando percebi que não iria conseguir colocar o plano em prática, optamos por montar a Tá Surdo. De 2003 a 2006, a produtora ganhou prêmios publicitários e estabeleceu conceitos como o de construir no trabalho um ambiente tão bom como em casa.” Segundo Rafael, em 2006, a produtora ia bem financeiramente, mas eles identificaram que uma nova crise se aproximava, devido ao avanço da pirataria e dos downloads de músicas. “Começamos a entender que surgia uma nova oportunidade de negócio. Várias marcas investiam em pontos de venda, criavam projetos arquitetônicos mirabolantes, mas a música era deixada de lado. Música ambiente servia para tudo.” Foi assim que nasceu a Rádio Ibiza, usando música como produto e matéria-prima do marketing, para criar identidade para a marca. Nessa fase, Levy se juntou ao grupo. Para escolher a trilha de acordo com o perfil do cliente, a Ibiza faz um estudo prévio do público-alvo da marca. As lojas ou filiais de uma rede são padronizadas com o mesmo som, mas é possível fazer adequações. Em pouco tempo, eles passaram de oito clientes e 38 pontos instalados para 500 clientes e mais de 3,5 mil pontos. Recentemente, a empresa assinou contratos com restaurantes em Nova York. Além de ter filiais em Curitiba, São Paulo e Sergipe, os sócios planejam abrir outros escritórios em Brasí-

lia e Porto Alegre. O projeto mais recente do grupo é o lançamento do primeiro aplicativo para iPhone com customização musical para pessoas físicas. O aplicativo oferece podcasts personalizados de cada um dos dez DJs da produtora, com programação renovada a cada semana. A produtora investiu R$ 40 mil no novo produto. Para este ano, a empresa prevê chegar ao faturamento de R$ 4,5 milhões. Grupo FiTta Pioneiro em franquias de agências de câmbio no país, o Grupo Fitta foi fundado em 1999 pelos executivos André Nunes, 39 anos, e Rodrigo Macedo, 34. A empresa começou com a compra e venda de ouro. Nunes vinha de um emprego em um banco. Macedo também havia atuado em empresas do setor. O banco faliu no fim dos anos 1990. Foi a motivação necessária para que Nunes e Macedo se unissem a dois sócios

27%

das empresas paulistas abertas em 2007 não chegavam ao segundo ano de atividade

para dar o pontapé inicial no novo negócio. Eles iam a garimpos para comprar o metal e revender em quantidades menores e mais acessíveis aos pequenos produtores de joias. “Logo percebi que, por mais que tivesse uma carteira enorme de clientes de ouro, não tinha a bandeira de um banco e não ia conseguir operar como grande atacadista. Tivemos de descobrir como comprar o metal de forma fracionada e vender no varejo e para pequenas indústrias.” A virada começou a partir de 2000. Naquele ano, os sócios instalaram uma loja no Oiapoque (a 700 quilômetros de Macapá), na fronteira com a Guiana Francesa. O euro tinha sido lançado recentemente, e um grande volume da moeda era transacionada na região. “As pessoas entravam na loja para vender euro. Tínhamos o local, segurança, blindagem e autorização do Banco Central. Em pouco tempo, negociávamos mais moeda estrangeira que ouro.” Segundo Nunes, esse modelo funcionou bem nas cerca de 20 lojas que o grupo tinha, na época, em regiões fronteiriças ou cidades com grande movimentação de estrangeiros. Devido ao grande número de cambistas atuando irregularmente, a expansão para outras lojas deslanchou depois de uma grande operação da Polícia Federal desarticular uma rede de cambistas em 2004. No ano seguinte, o BC também modificou as regras cambiais, deixando-as mais alinhadas com a política de varejo. “Isso veio Janeiro, 2012 AméricaEconomia 45

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ESPECIAL

EMPREENDEDORISMO

ao encontro de uma melhora nas condições sociais da classe média”, diz Nunes. Em 2007, o grupo apresentou o primeiro sistema de franquia do setor aceito pelo Banco Central. Hoje, a Fitta Franquias já conta com cerca de 70 franqueados com contratos assinados e quase 60 lojas em funcionamento. A empresa também continuou no mercado de ouro e metais preciosos e estabeleceu a Reserva Metais, uma joint venture com a fornecedora Marsam. CNa O grupo CNA surgiu meio “por acaso”, há 36 anos. Depois de uma temporada nos Estados Unidos, Luiz Gama Neto, 66 anos, seguiu para Porto Alegre e começou a vender livros de uma coleção chamada Inglês Dinâmico, de porta em porta. Em pouco tempo, ele montou uma equipe de 250 vendedores. Na época, falar inglês já despontava como um diferencial no mercado de trabalho. “Certo dia, um dos vendedores da equipe, na ânsia de fechar um negócio, prometeu a uma dona de casa 12 aulas gratuitas, caso ela comprasse os livros, estratégia para reduzir a rejeição. Quando soube da negociação, repreendi o funcionário, mas logo depois percebi que havia aí uma oportunidade de negócio e, rapidamente, adotamos a ‘promoção’ como ferramenta de venda”, afirma Neto. No começo, as aulas eram realizadas no escritório, nas salas usadas para treinar os vendedores. Alguns professores foram contratados e, em seis meses, a escola já contava com 2,4 mil alunos. Depois de Porto Alegre, foram abertas escolas em Curitiba (PR), Londrina (PR) e Campinas (SP). “Atualmente, a concorrência acirrada é o principal entrave ao desenvolvimento do setor. Mas ainda há muitas oportunidades. Entre os principais fatores que contribuirão para esse crescimento, destacam-se a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil, além da ascensão da nova classe média brasileira, que investe mais em educação”, diz.

O CNA surgiu a partir da iniciativa de um vendedor de livros da equipe de Luiz Gama Neto de ofertar aulas de inglês

Por ter vivido nos Estados Unidos, onde as franquias já eram comuns, ele conheceu o modelo de franchising bem antes de sua popularização no Brasil. “No fim da década de 1970, o CNA já tinha unidades em Porto Alegre, Curitiba, Londrina, Campinas e São Paulo, somando mais de 10 mil alunos. O negócio já estava grande o suficiente para atrair outros empreendedores quando as franquias despontaram.” A primeira escola franqueada foi inaugurada em 1981. Em um ano, o empresário comercializou 30 unidades. No segundo, outras 50. Por enquanto, a rede está voltada à expansão nacional. “Atualmente, temos 701 escolas do CNA em operação em todo o país. Até 2014, 500 novas unidades devem ser inauguradas dentro desse período.”

49,35% dos empreendedores iniciais no Brasil são mulheres, participação inferior apenas à de Gana

E, para quem quer empreender, Neto recomenda: sonhar grande, inovar sempre, escolher bem os parceiros de negócios e a equipe, surpreender o cliente e usar o bom-senso. LaVaNdERia RoToViC A trajetória de Paola Tucunduva, 43 anos, confunde-se com a história dos negócios da família. Seu pai fundou uma lavanderia em 1968, ano em que ela nasceu. Durante toda a infância e a adolescência, a empresária acompanhou a família na empreitada, muitas vezes ajudando nos serviços gerais, ao lado o irmão. “Vivia na lavanderia. No meu sangue, corre detergente”, brinca. Paola conta que o pai tinha se formado em Engenharia e, inspirado em um tio que era industrial, decidiu abrir um negócio. Nessa época, conheceu o sistema de uma rede de lavanderias em Belo Horizonte. Em seguida, foi para os Estados Unidos fazer cursos para se especializar na área. Na volta, inaugurou a Vip Lavanderia, em São Paulo. Paola acabou graduando-se em Administração de Empresas para adquirir mais embasamento técnico. “A lavanderia também atendia indústrias, especialmente uniformes. Quando terminei o curso, já havia conversas sobre sucessão na família e surgiu a possibilidade de comprar essa divisão do negócio.”

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Fotos: Divulgação

Depois de acompanhar o trabalho do pai durante a infância e a adolescência, Paola Tucunduva abriu a lavanderia Rotovic, com foco industrial

A Rotovic foi criada em 2000, com foco industrial. Pouco depois, um dos clientes da Rotovic em São Paulo mudou-se para Camaçari (BA), e Paola viu

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uma possibilidade de desenvolvimento, instalando uma unidade para atender esse e outros potenciais clientes do Polo de Camaçari. “Inicialmente, fizemos uma

parceria com uma lavanderia de lá. Entre 2005 e 2006, conseguimos um terreno da Prefeitura de Camaçari e construímos uma unidade própria.” Atualmente, a Rotovic é a terceira maior lavanderia industrial no Brasil, com cerca de 200 clientes em áreas diversas, como indústria automotiva, metalúrgica, petroquímica, alimentícia e química. A unidade de Camaçari atua também nas localidades vizinhas. Já a de São Paulo atende ainda o Rio de Janeiro. A empresária espera atingir a meta de crescimento de 12% para 2012 e, mais do expandir a rede, busca elevar os graus de certificação de qualidade e sustentabilidade. “Lavamos uniformes, tiramos sujeira da roupa, e essa sujeira passa para a água. É fundamental ter um tratamento adequado para esses efluentes para que não termine no meio ambiente.”

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ESPECIAL

EMPREENDEDORISMO

Um MBA com sabor cubano Depois da recente abertura econômica, a ilha de Fidel ganha um programa para disseminar o conhecimento do mundo dos negócios entre a população Daniela Arce

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pós dois anos de estudos na então União Soviética, Paulino García voltou a Cuba, seu país de origem, para continuar o curso de Direito na Universidade de Havana. Formado, ele conseguiu um emprego na Corporación Cimex. Em 1996, o jovem deixou a empresa para ser dono do próprio negócio. Graças à legalização do trabalho autônomo, García conseguiu abrir um restaurante. “Não houve planejamento, apenas meu desejo ter um restaurante”, afirma. O ponto de partida para que García pudesse ter o próprio negócio foi o fato de contar com um pouco de dinheiro guardado e a família como capital humano para tocar o dia a dia do restaurante. Histórias como a de García foram inspiradoras para o cardeal Jaime Ortega y Alamino. Em uma conversa com José Luis Mendoza Pérez, presidente da Ucam (Universidade Católica de San Antonio), de Múrcia, na Espanha, o religioso falou da necessidade de ajudar todos os administradores e donos de pequenos negócios em Cuba. Assim como García, que teve no passado a oportunidade de se tornar dono do próprio negócio, outros cubanos sonham em seguir o mesmo caminho e dar adeus ao emprego público. Isso vem acontecendo graças a uma mudança promovida pelo governo de Raúl Castro no

fim de 2010, que mudou as regras do jogo e abriu caminho para a atividade privada no país, ainda que minimamente. Em novembro de 2010, foi anunciado que alguns tipos de negócio, como salões de cabeleireiros ou pequenas cafeterias, passariam a ser administrados por particulares. Além disso, o Estado permitiu a ampliação dos paladares – pequenos restaurantes, como o de García. Com a mudança nas regras do país, muitos se deram conta de que já não basta intuição e tino para tocar um negócio. As aulas começaram no fim de setembro em um edifício bastante simbólico, o antigo seminário de San Carlos y San Ambrosio, fundado em 1689 e atualmente sede do Centro Cultural Padre Félix Varela. Gonzalo Wandosell, vice-decano de Administração e Direção de Empresas da Ucam, conta que os 45 primeiros estudantes vieram de empresas estatais e da gestão privada. A ligação ao catolicis-

O MBA cubano é o único curso voltado apenas para os empreendedores autônomos

mo não foi um requisito para a formação da turma. “São engenheiros, advogados e economistas.” O papel da Igreja na iniciativa é importante, ainda mais em um contexto histórico. Desde 1959, o clero cubano tem sido o antagonista por excelência da Revolução. Nas últimas décadas, no entanto, as relações ficaram mais amenas, principalmente depois da visita à ilha do papa João Paulo II, em 1998. Mais recentemente, as conversas entre as duas partes melhoraram de tom com a libertação de presos políticos. Ao contrário dos caríssimos programas de ensino de outros países, o MBA cubano é gratuito para seus estudantes. “Os fundos estão sendo cobertos pela universidade e com doações de empresas de Múrcia”, afirma Antonio Alcaraz, vice-reitor da Extensão Universitária da Ucam. “Mas, mesmo sem ajuda, nós o faríamos gratuitamente.” Os financiadores espanhóis assumem o pagamento dos profissionais de ensino e os custos com as viagens, enquanto a Igreja fornece as instalações e coordena os professores locais. Não é o primeiro programa dessa natureza em Cuba. A primeira tentativa partiu da instituição argentina de ensino ADEN Business School. Mais tarde, foi implantado o programa Profor, patrocinado pela Comissão Europeia, pela Fun-

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Foto: AFP

Pequenos negócios, como os “paladares”, tendem a se proliferar com as mudanças adotadas pelo governo de Cuba

dação Esad, da Espanha, e pela EFMD (Fundação Europeia para Gestão do Desenvolvimento). O programa chegou a ser ministrado entre 1995 e 2004, mas o contrato terminou e não foi renovado. Em 2010, houve uma tentativa de reabrir o programa, sem sucesso. Segundo Predrag Avramovic, chefe de seção da delegação da União Europeia em Cuba, “o projeto está sendo redefinido”. O diferencial do programa da Ucam e do Centro Cultural Padre Félix Varela está no fato de ser o único curso voltado exclusivamente para empreendedores autônomos. Não é o caso do mestrado em Administração de Negócios oferecido pela Universidade de Havana. Para ingressar na universidade é necessário pertencer a uma empresa oficial (do Estado), o que exclui, assim, os autônomos. Empreender em Cuba Majel Reyes Quesada, que tem licenciada em língua inglesa e é aluna do MBA, conta que decidiu pelo programa por razões pragmáticas. “Acredito que, com as novas políticas de abertura, eu possa vir a fazer algo, ter uma empresa privada, uma PME [Pequena e Média Empresa]”, afirma.

Esse perfil de aluno explica a natureza prática da formação. “É o que chamamos na Espanha de mestrado profissional”, diz Wandosell, da Ucam. “O objetivo é oferecer conhecimentos avançados na gestão de empresas, mas muito orientado às PMEs, microempresas e cooperativas, que são os empreendimentos em formação atualmente em Cuba.” O MBA é composto de sete disciplinas: marketing (a opção que tem mais popularidade, segundo alguns alunos), economia financeira, contabilidade, comportamento organizacional, produção, gestão da qualidade e, por último, sistema tributário. O título concedido pela Ucam será válido dentro da Comunidade Europeia, mas não em Cuba. Para isso, precisa ser reconhecido pelo Ministério de Ensino Superior. Os organizadores do MBA esperam que, em breve, tanto o Estado cubano quanto a Universidade de Havana reconheçam o título. Apesar das recentes reformas, ainda há muitos obstáculos ao desenvolvimento de uma PME em Cuba. Por um lado, a lista restrita de atividades autorizadas para os profissionais autônomos impede a maior abrangência de interessados. Por

exemplo, são permitidas as licenças para reformadores de livros, mas não para aqueles que desejam abrir uma editora. É possível ser pedreiro e colocar os azulejos de um banheiro, mas não se pode ter uma construtora. E nenhuma empresa desse tipo poderá nascer em Cuba enquanto a Constituição privilegiar “o sistema de economia baseado na propriedade socialista”. Além disso, não há um sistema de crédito ou microcrédito ativo. Sem acesso a um financiamento inicial, as oportunidades de empreender uma atividade por conta própria ficam reduzidas. Também não foi implementada uma das resoluções do último Congresso do Partido Comunista, que permitiria o funcionamento “dos mercados de suprimentos que vendem a preços atacadistas e oferecem serviços de aluguel de mídias e equipamentos, sem subsídio, ao sistema empresarial”. Seria o MBA a porta dos fundos para a esperada transformação capitalista de Cuba? Sobre isso, o padre Yosvani Carvajal, diretor da Ucam, deixa clara a posição da Igreja, e a finalidade desse programa: “O bem maior é para Cuba. Esses alunos são para Cuba”. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 49

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FINANÇAS

Concorrência

As novas bolsas do Brasil Entrada de players estrangeiros no mercado de ações nacional reduzirá custos para os investidores Natalia Gómez, de São Paulo

Eles fazem operações com grandes volumes e por isso gastam ainda mais dinheiro com taxas. “A fragmentação do mercado trará uma melhora no preço para quem está negociando, o que é bom para o investidor final”, afirma o responsável pela área institucional da corretora Um Investimentos, Gustavo Schahin. Uma das bolsas que pretendem vir ao Brasil é a Bats Global Markets – que experimentou esse fenômeno quando começou a atuar nos Estados Unidos, em 2005. As tradicionais Nasdaq e a Bolsa de Valores de Nova York, a Nyse, cobravam uma taxa de US$ 0,10 para cada lote de 100 ações. Já a nova concorrente começou suas operações praticando uma taxa de apenas US$ 0,01, o que levou a uma forte redução dos preços. Hoje, as taxas caíram para US$ 0,03 por lote de 100 ações. Segundo informações da Bats, os preços praticados no

Brasil estão acima de outros mercados. Na Europa, as taxas cobradas são de 10 a 20 vezes menores do que as cobradas pela BM&FBovespa. As taxas que mais pesam sobre os investidores são chamadas de emolumentos, cobradas pela bolsa e pela CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia) como um percentual sobre o volume movimentado no dia. Para compra e venda de ações, a taxa é de 0,035%. Para o Day Trade (operações de compra e venda realizadas no mesmo dia), a taxa é de 0,025%. Além de serem consideradas altas, essas taxas seguem uma lógica diferente daquela dos países desenvolvidos, pois incidem tanto sobre a compra quanto sobre a venda das ações. Em outros mercados, só paga quem compra o papel; quem vende é isento. Os planos dos concorrentes estrangeiros já tiveram algum efeito de redu-

Foto: Luiz Prado/Divulgação

S

e ao longo dos últimos anos o mercado de capitais brasileiro foi marcado por uma enxurrada de companhias listando suas ações pela primeira vez na bolsa de valores, os próximos anos prometem uma revolução do outro lado do balcão. A BM&FBovespa, que reina sozinha no mercado de negociação de ações, está prestes a ganhar concorrentes. Somente neste ano duas bolsas estrangeiras anunciaram planos de atuar no Brasil – a Bats Global Markets e a Direct Edge. Caso os projetos se concretizem, o mercado brasileiro deve se aproximar da configuração existente na Europa e nos Estados Unidos, onde diferentes bolsas convivem no mesmo mercado, o que promete gerar redução de custos para os investidores e elevar o nível tecnológico das operações. Seja qual for o país e o produto, é fato que a quebra de um monopólio resulta em queda de preços para o consumidor final, pois a existência de diferentes competidores estimula a concorrência. No caso das bolsas de valores, a lógica não seria diferente, o que deve beneficiar os investidores pessoa física e, principalmente, os investidores institucionais.

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No Brasil, a chegada de concorrentes deve trazer uma queda no valor das taxas cobradas

ção de preços. Em meados de 2011, a BM&FBovespa anunciou uma nova política de tarifas, que inclui planos para isentar o investidor de varejo da taxa de custódia, cobrada mensalmente. Outro ganho importante para o investidor brasileiro será na parte operacional, na visão dos especialistas do setor. Operações que hoje não são possíveis de serem realizadas poderão virar realidade com a entrada dos concorrentes. O especialista em finanças da MoneyFit, André Massaro, explica que em mercados desenvolvidos é possível operar com ações idênticas que são cotadas em mercados diferentes, ganhando com pequenas diferenças de cotações. Chamada de arbitragem, tal operação é feita em grandes volumes para obter ganhos com pequenas diferenças de preço, e por isso é realizada por investidores de grande porte. Com a existência

de mais de uma bolsa, será possível fazer essa transação com ativos idênticos no Brasil, o que deve atrair um volume maior de investimentos para o país. “Nos Estados Unidos, esse tipo de operação é comum”, explica Massaro. AVANÇO TECNOLÓGICO A expectativa é de que a tecnologia trazida pelas novas bolsas será mais avançada, possibilitando operações mais rápidas. Como neste mercado o tempo é

Espera-se que as tecnologias das novas bolsas reduzam o tempo das operações

contado em milésimas frações de segundo, qualquer aumento de agilidade faz diferença. Além da arbitragem, existem outras operações que se baseiam em transações de alta velocidade, conhecidas em inglês como “high frequency trading”, que também ganharão volume. De acordo com Massaro, o aumento do valor negociado será positivo para todos, pois a liquidez aumenta enquanto a volatilidade tende a diminuir. Quando o mercado é pequeno, operações de compra e venda mais robustas podem distorcer os preços. Quanto maior for o mercado, menos suscetível ele será a esses movimentos. A BM&FBovespa movimenta um volume diário de R$ 6,5 bilhões, em média. Nos EUA, existem dezenas de ambientes de negociação. Além da bolsa de valores Nyse e de mercados de balcão organizados como a Nasdaq, Massaro cita redes privadas usadas por investidores institucionais e as chamadas “dark pools” (piscinas escuras), ambientes em que grandes investidores transacionam ações sem revelar o volume à venda. A diversificação de bolsas no Brasil também deve reduzir o risco sistêmico das operações. Na prática, isso significa que, se o sistema de uma das bolsas sair do ar, pode-se contar com outro mercado para dar sequência aos negócios. Segundo operadores, mais de uma vez os sistemas da bolsa tiveram uma pane que provocou a interrupção do pregão. A expectativa é de que a concorrência estimule novos investimentos em tecnologia da BM&FBovespa, que não desejará ficar atrás dos concorrentes que já têm plataformas muito desenvolvidas no exterior. Segundo Marcos Guimarães, diretor da empresa de tecnologia Multirede – que presta serviços para corretoras e para a própria bolsa –, a Bats e a Direct Edge virão para o Brasil com uma tecnologia madura e estrutura enxuta, fruto das operações na Europa e nos EUA. “Eles já chegarão ao mercado eficientes, ao passo que a bolsa terá de se tornar mais eficaz”, explica. Na visão do executivo, a bolsa ainda tem espaço para Janeiro, 2012 AméricaEconomia 51

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FINANÇAS

Concorrência

A Nyse americana foi influenciada pela concorrência e baixou os valores das taxas

ganhar em termos de eficiência, porque nunca foi pressionada pela concorrência. O investidor Richard Rytenband, economista que começou a investir em ações com apenas 14 anos, conta que o investidor brasileiro não tem acesso aos mesmos produtos que existem no exterior. “Falta uma gama de produtos que são triviais, como índices de ações de bolsas estrangeiras, uma série de commodities e títulos soberanos de outros países”, afirma. “É como se estivéssemos parados no tempo.” Rytenband espera que a entrada de novas bolsas permita uma diversificação dos produtos disponíveis, acompanhando o padrão internacional, além de baratear as operações. Apesar de beneficiar o investidor pessoa física, o maior interesse das bolsas estrangeiras está nos investidores institucionais, que são os que mais se queixam dos custos atuais, segundo Frederico Skwara, economista e sócio-fundador do site Bússola do Investidor, voltado para pessoas físicas. Atualmente, a bolsa conta com cerca de 600 mil investidores pessoa física, número muito maior do que os 85 mil registrados em 2002, embora o volume ainda seja pequeno. O atual momento de volatilidade e a crise externa não favorecem o avanço, mas a expectativa de longo prazo é de fortalecimento da pessoa física nas aplicações em renda variável. PROJETOS A Bats foi a primeira bolsa a divulgar intenção de atuar no Brasil neste ano. A empresa veio a público em fevereiro de 2011 para anunciar um memorando de entendimento com a Claritas, companhia brasileira de gestão de recursos. De acordo com o anúncio, as empresas devem trabalhar conjuntamente para criar uma nova bolsa de valores no país. Lançada em 2005, a Bats tem sede em Kansas City, nos Estados Unidos, além de escritó-

rios em Nova York e Londres. A companhia opera bolsas nos EUA e na Europa. Na ocasião, o vice-presidente sênior de Desenvolvimento de Negócios e Marketing da Bats, Ken Conklin, declarou que a nova bolsa poderia ter preços mais atrativos em comparação àqueles oferecidos pela BM&FBovespa e trazer tecnologias de ponta para o mercado de ações nacional. A intenção é negociar papéis que já estão no mercado, assim como ocorre nos EUA, onde a Bats negocia ações listadas na Nyse e na Nasdaq. O projeto da americana Direct Edge, divulgado em novembro, já tem data pa-

O maior interesse das bolsas estrangeiras está nos investidores institucionais

ra entrar em operação. Segundo William O’Brien, CEO da Direct Edge, a bolsa deve começar a operar por meio de uma plataforma eletrônica no quarto trimestre deste ano e será sediada no Rio de Janeiro. Será a primeira bolsa de valores com sede no Rio desde 2002, quando a parcela de negócios que ainda restava na antiga Bolsa de Valores do Rio foi transferida para a BM&FBovespa. A empresa não divulga o volume a ser investido no país, tampouco se terá sócios. Serão negociadas por meio da plataforma da Direct Edge ações de empresas já listadas na bolsa brasileira, além de ETFs (fundos de índices) e BDRs (certificados de ações estrangeiras). A intenção é também a de atrair para o Brasil operações que hoje são realizadas no exterior, por meio de American Depositary Receipts, as ADRs, ou recibos de ações, na sigla em inglês. “Assim como ocorreu nos Estados Unidos, acreditamos que a introdução de uma segunda bolsa de valores no Brasil

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Fotos: Shutterstock

Nos EUA, além de bolsas como a Nasdaq, há os “dark pools”, ambientes em que os grandes investidores transacionam

vai incentivar a competição e a inovação, tornando os mercados mais eficientes para os investidores. A Direct Edge não vai apenas acelerar o ritmo de melhoras tecnológicas, como também reduzirá os custos de operação e gerará um aumento nos volumes”, afirma Guimarães, da Multirede. A empresa estuda o mercado brasileiro há quase dois anos. Responsável atualmente por 10% do total de ações transacionadas nos Estados Unidos, a Direct Edge negocia cerca de quatro vezes e meia o volume médio da BM&FBovespa, com cerca de US$ 27 bilhões por dia. Entre seus acionistas estão nomes de peso, como o Goldman Sachs, o J.P. Morgan, a International Securities Exchange, além da Knight Capital e a Citadel Derivatives Group. Outro movimento que sinaliza o apetite estrangeiro pelo mercado de capitais brasileiro foi a compra de 12,5% da Cetip (companhia aberta que atua na oferta de produtos e serviços de registro, custódia, negociação e liquidação de ativos

e títulos, principalmente os de renda fixa privados) pela Intercontinental Exchange (ICE), bolsa americana de commodities e mercado futuro, em julho. DESAFIOS Mesmo com tanto interesse pelo Brasil, as instituições estrangeiras enfrentam um desafio para começar suas operações. Para que uma bolsa opere, precisa contar com uma empresa que faça a custódia dos ativos, a compensação e a liquidação das operações realizadas pelos investidores. No país, esse serviço é prestado pela CBLC, companhia controlada pela BM&FBovespa. A bolsa brasileira sinalizou que não pretende abrir mão da exclusividade desse serviço. O presidente da instituição, Edemir Pinto, chegou a declarar que os concorrentes seriam “oportunistas” que pretendem “beliscar” um pedaço do mercado e, depois, ir embora. Caso uma parceria seja realmente inviável, os novos entrantes terão de cons-

tituir uma nova câmara de compensação, o que significa trabalho e custo dobrados, pois os especialistas afirmam que a criação de uma empresa como essa é tão complexa quanto a criação de uma bolsa. Isso poderá ser feito com ou sem a parceria de sócios, mas nenhuma das bolsas interessadas no Brasil revelou sua estratégia nessa área. Apesar do risco de aumento de custo, os analistas acreditam que as taxas aplicadas terão de ser obrigatoriamente mais baixas que as da BM&FBovespa, do contrário, os planos não vão decolar por aqui. Os projetos precisam de aprovação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), órgão que regula o mercado de capitais. Segundo a autarquia, nenhum pedido para abertura de novas bolsas foi encaminhado até o momento. O período de análise é de 90 dias, mas pode ser interrompido por 60 dias a partir do ingresso do pedido formal na CVM. Antes disso, é possível ainda ocorrer conversas com a área técnica para “esclarecimentos acerca de modelo e procedimento”. O apetite das bolsas pelo Brasil está em linha com o aquecimento vivido no mercado mundial de bolsas de valores. Depois da fusão de bolsas de Amsterdã, Bruxelas, Paris e Lisboa para criar a Euronext, no início da década passada, o mercado observou a compra da Euronext pela Nyse em 2006. Em 2011, foi a vez de a Nyse Euronext anunciar negociações avançadas para uma fusão com a Deutsche Börse de Frankfurt, que dará origem à maior operadora de bolsas do mundo. Na América Latina, as bolsas da Colômbia e do Peru se uniram em 2011 para criar o Mila (Mercado Integrado Latino-Americano) e formam a quarta maior bolsa da região. Neste momento, o Brasil e a América Latina são alguns dos lugares do mundo em que este mercado tem mais espaço para crescer. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 53

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FINANÇAS ENTREVISTA

“Há uma tendência de diversificação de setores na bolsa”

Na avaliação do diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, a solidez da economia brasileira deverá continuar a atrair investidores ao longo deste ano

“O mundo não vai acabar”

Foto: Luludi/Divulgação

Sérgio Siscaro, de São Paulo

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s incertezas globais trazidas pelo desenrolar da crise de dívida na Europa ao longo do ano passado assustaram as empresas brasileiras – especialmente aquelas que planejavam se lançar no mercado de ações. Com o potencial agravamento da situação externa, essas companhias podem manter a adoção de uma postura cautelosa e buscar outras formas de se capitalizar – ou, finalmente, levar adiante seus planos de IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Esse último cenário é considerado o mais provável na avaliação do diretor-presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. Em sua avaliação, a realização, nos próximos anos, de grandes eventos esportivos no país, deverá incentivar o lançamento de ações por parte de empresas que atuam no segmento de infraestrutura, ao mesmo tempo em que o aquecimento do mercado doméstico certamente favorecerá a realização de IPOs de companhias ligadas à área de consumo. Além disso, a recente decisão do governo federal de isentar a cobrança de taxas para investidores estrangeiros também deverá contribuir para aumentar o grau de atratividade do mercado de capitais brasileiro. Acompanhe a seguir a entrevista com o presidente da bolsa brasileira.

O temor quanto aos efeitos da crise internacional fez com que várias empresas brasileiras que pretendiam abrir seu capital resolvessem adiar os planos. Há perspectivas de que esses IPOs possam ser realizados já no primeiro semestre de 2012? Edemir Pinto – Embora a crise na Europa e nos Estados Unidos ainda tenha contornos graves, a expectativa da BM&FBovespa é de que seu total dimensionamento pelos investidores já tenha chegado ao fim, ou perto disso. O que significa que o Brasil pode ter, em 2012, uma retomada dos IPOs, já no primeiro semestre. A estimativa da bolsa é de que existam entre 40 e 45 compa-

nhias, represadas pela grande capitalização da Petrobras em 2010 e a crise agravada no segundo semestre de 2011, que já estão preparadas para lançar suas ações, aguardando um momento melhor de mercado. AE – Qual setor poderá liderar essa retomada no mercado de capitais? Edemir – Há uma tendência de diversificação de setores na bolsa brasileira, como já vem ocorrendo nos últimos anos. Temos vários setores com perspectivas positivas e que necessitam de recursos financeiros para se desenvolver e crescer. Podemos mencionar, por exemplo, empresas ligadas às áreas de infraestrutura, por causa dos eventos esportivos –

Foto: Divulgação

AméricaEconomia –

“O Brasil pode

ter, em 2012, uma retomada dos IPOs já no primeiro semestre”

a Copa do Mundo de Futebol, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016 – e de consumo, considerando os avanços na renda da população, especialmente da classe C. Acreditamos também na vinda de companhias para o Bovespa Mais, segmento que permite a realização de ofertas menores ou somente a listagem, para que a empresa inicie sua exposição ao mercado de capitais. AE – Se a crise se tornar mais aguda, esses projetos poderão ser adiados indefinidamente? As empresas poderiam buscar outras formas de capitalização? Edemir – Mesmo com o aprofundamento da crise, principalmente na Europa, o mundo não vai acabar. Os investidores terão de buscar um porto seguro para seus poucos ou muitos investimentos, e o Brasil tem hoje uma economia sólida, um mercado de capitais bem estruturado e regulado e muitas empresas com bons resultados e possibilidades de crescimento. Tudo isso contribui para manter a atratividade do país para os investidores, especialmente os estrangeiros. Nesse contexto, o nosso mercado de capitais aparece como uma das mais importantes fontes de recursos para as empresas e para o desenvolvimento da economia brasileira nos próximos anos, apesar da crise. AE – A cobrança do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) sobre operações do mercado de ações também foi um fator inibidor à entrada de novas empresas na bolsa em 2011? Edemir – Sim, a cobrança de IOF constituiu-se em fator inibidor, pois reduziu o interesse dos investidores estrangeiros [que respondem, em média, por 70% dos investimentos nos IPOs] pelas ofertas públicas de ações na bolsa brasileira. Agora, com a decisão do governo federal de isentar os estrangeiros dessa cobrança [o decreto presidencial foi publicado em 1º de dezembro de 2011], sem dúvida as perspectivas para a retomada das ofertas públicas de ações em 2012 são muito melhores.

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FINANÇAS PREMIAÇÃO

Prêmio de AméricaEconomia reconhece maiores e melhores bancos de 2011 Cerimônia homenageou os melhores colocados no ranking dos 250 Maiores Bancos da região Sérgio Siscaro, de São Paulo

Carlos Galan, vice-presidente-executivo do Santander Brasil

Ricardo Villela Marino, vice-presidente do Itaú Unibanco para a América Latina

foi o Itaú Unibanco. Foi a primeira vez que um banco brasileiro consagrou-se como o melhor da região. O vice-presidente da instituição para a América Latina, Ricardo Villela Marino, recebeu o prêmio das mãos de José Roberto Maluf, publisher de AméricaEconomia. O prêmio ocorre em um momento bastante positivo para o setor bancário na América Latina. A estabilização econômica dos países da região, assim como a redução dos níveis de desigualdade, tem contribuído para levar os serviços financeiros a amplas parcelas da população. Além disso, essas instituições têm atuado como o motor do desenvolvimento econômico e do aumento do empreendedorismo nesses países. A soma das carteiras de crédito dos 250

maiores bancos latino-americanos atingia, em junho de 2011, US$ 1,4 trilhão. Nesse quadro, os grandes grupos internacionais têm conseguido compensar na região as perdas registradas em mercados mais maduros, como o europeu, e veem oportunidades de crescimento e expansão de seus negócios. A premiação ocorreu paralelamente ao São Paulo City Day 2011 – evento realizado no início de dezembro, pela SunGard, empresa americana que fornece serviços de software e tecnologia para o setor financeiro. Na ocasião, uma série de especialistas discutiu as principais tendências na América Latina no que se refere a temas como o mercado de capitais, commodities, gestão de risco bancário e asset management.

Fotos: Christina Rufatto/Divulgação

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revista AméricaEconomia entregou, no início de dezembro, em São Paulo, os troféus aos representantes dos dez maiores bancos e a melhor instituição financeira da América Latina. Os nomes foram definidos com base no ranking Os 250 Maiores Bancos da América Latina, publicado na edição de outubro da revista, que é elaborado há dez anos pela AméricaEconomia Intelligence. A lista levou em consideração as organizações que mais se destacaram em termos de volume de ativos totais (em junho de 2011). Nessa edição, lideraram o ranking, pela ordem, as seguintes instituições financeiras: Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Santander Brasil, Banamex, Bancomer México, HSBC Brasil, Banco Votorantim e Santander México. Já a categoria Melhor Banco da América Latina é baseada em um ranking de 100 instituições, classificadas em termos de estrutura de capital, qualidade de ativos, gestão operacional, rentabilidade, liquidez e tamanho. O vencedor deste ano

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Antonio Carlos Seidl, assessor-chefe de Imprensa do HSBC, representou o CEO do banco na cerimônia Paulo Faustino da Costa, diretor do Bradesco, cumprimenta Noel Norking, presidente da SunGard

Maurício Castro, diretor comercial de AméricaEconomia, entrega o prêmio a Laércio Paiva, do Banco Votorantim

Paulo Galli, da Caixa Econômica Federal, recebe o troféu de Tatiana Engelbrecht, diretora de AméricaEconomia

Leonel Andrade, diretor-presidente do Consumer Business Brasil, recebeu o prêmio pelo Banamex

O publisher de AméricaEconomia, José Roberto Maluf (à esq.), ao lado de Dan Conrad (BB) e Débora Aliprandi (SunGard). Cerca de 300 pessoas participaram do evento

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DEBATE

RISCOS GLOBAIS

O que a economia reserva para

Crise na Europa, eleições nos EUA, alta da inflação, instabilidade no Oriente Médio, possível ruptura institucional na Venezuela, efeitos do câmbio sobre o comércio – as razões para inquietação ao longo deste ano são muitas, e seus efeitos, imprevisíveis Sérgio Siscaro, de São Paulo

U

m observador neutro que viesse à Terra para avaliar as perspectivas econômicas para 2012 teria sérias dificuldades. A crise da dívida nos países da zona do euro tem gerado uma série de dúvidas nos últimos meses – sendo que algumas delas colocam em xeque até mesmo a existência do projeto da moeda única europeia, símbolo máximo do processo de integração econômica ocorrido no continente nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, e que já foi visto como uma alternativa viável ao predomínio dos Estados Unidos nas finanças internacionais.

Os efeitos dessa situação são difíceis de prever – assim como sua interação com o quadro atual das demais economias mundiais. No caso da América Latina, há ainda a preocupação de que seus aspectos negativos se combinem com problemas políticos decorrentes de um eventual processo de sucessão do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Além disso, a possibilidade de uma recessão mundial reduz a aquisição das commodities exportadas por diversos países da região. Some-se a isso a possibilidade de um novo conflito armado no Oriente Médio (e suas consequências na cotação do petróleo).

No caso do Brasil, as políticas econômicas recentes deram ao país uma robustez que lhe permitiu sair relativamente incólume da crise de 2008. No entanto, as pressões inflacionárias, aliadas a uma possível redução nas exportações de commodities e à deterioração das condições de comércio exterior para as empresas nacionais (resultante da apreciação do real), tornam o cenário opaco mesmo para os especialistas A AméricaEconomia apresenta a seguir alguns pontos que merecem ser acompanhados – e que têm potencial para afetar as previsões econômicas de autoridades do governo e de economistas.

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BRASIL

O crescimento da economia brasileira em 2012 deve ser de 3,4%, ao passo que a produção industrial deverá se expandir 3,46%, e a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB (Produto Interno Bruto) passará para 38%. Estas são algumas das previsões feitas em meados de dezembro pelos analistas financeiros consultados pelo BC (Banco Central) em seu boletim semanal Focus, que busca medir a temperatura dos agentes que operam no mercado. Ainda que não tragam nenhuma projeção catastrófica, as apostas – que incluíam também um dólar cotado a R$ 1,75 para este ano, um superávit na balança comercial de US$ 17,45 bilhões e a entrada de US$ 54 bilhões em IED (investimento estrangeiro direto) – mostram que ninguém espera a continuidade do ciclo recente de expansão econômica, dada a conjuntura externa e a necessidade de conter as pressões inflacionárias, que já deram as caras ao longo de 2011. O temor do fantasma dos preços altos motivou a autoridade monetária a elevar os juros – e a retomar sua queda quando a inflação parecia sob controle (veja quadro abaixo).

Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada no início de dezembro, o BC anunciou ter reduzido suas previsões de inflação para 2012, que estariam mais próximas do centro da meta oficial, de 4,5%. Essa reavaliação se deve, segundo o texto da ata, à deterioração e a uma “incerteza acima do usual” na economia internacional. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de novembro, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), fechou em 0,52% – ou seja, 0,9 ponto percentual superior à do mês anterior. Com isso, o IPCA acumulado em 12 meses atingiu 6,64%. De acordo com Gustavo Franco – ex-presidente do BC na gestão de Fernando Henrique Cardoso (entre 1997 e 1999) e atual estrategista-chefe da Rio Bravo Investimentos –, o limite é quando a taxa de inflação atingir 20% ao ano. “Antes desse patamar, a população não sente muito. Quando começa a ser de 20%, a taxa já começa a ficar mais pesada. Esse é o momento em que as pessoas começam a pedir reajustes de salários semestrais – e, se isso ocorre, a inflação também muda de patamar. Não é por outra

SELIC* X IPCA** Selic tem acompanhado de perto as altas da inflação (%) 12,75

12,5 11,5

11,25

10,75 8,75 8,75

6,97

6,87 5,99

5,84 4,50

jan 2009 Fonte: BC/IBGE

jul 2009

4,60

4,59

jan 2010

jul 2010

jan 2011

jul 2011

out 2011

* % ao ano – ** % da variação nos últimos 12 meses

Foto: Divulgação

creSciMento Menor e inFLAÇÃo

Gustavo Franco alerta para a falta de responsabilidade fiscal

razão que há na Argentina, por exemplo, esse esforço insano de manipulação dos índices para evitar que o número oficial mostre 20%”, avalia. Ao mesmo tempo, o documento do Copom pondera que a demanda doméstica deve permanecer “robusta” nos próximos trimestres, em razão do impacto da queda da taxa básica de juro, a Selic – reduzida para 11% ao ano no fim de novembro. No entanto, alguns sinais preocupantes já se faziam sentir em dezembro. A FGV (Fundação Getulio Vargas), por exemplo, indicou que a confiança do comércio na economia recuou 4,5% no trimestre encerrado em novembro, na comparação com igual período de 2010 – passando de 137,2 para 131 pontos, a maior queda desde maio. Para Franco, o principal risco à economia brasileira decorre da falta de responsabilidade fiscal. O economista fez a palestra de abertura do City Day 2011, organizado pela SunGard – empresa especializada em soluções tecnológicas para o mercado financeiro – no início de dezembro. Em uma apresentação feita a representantes do setor financeiro em Janeiro, 2012 AméricaEconomia 59

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DEBATE

dezembro, o ex-presidente do BC avaliou que há pouca poupança por parte do setor público, o orçamento está corrompido, os serviços à população não têm qualidade, há problemas com a estrutura previdenciária e a carga tributária é exagerada. “A política fiscal é uma incógnita. Com a crise, o governo poderá aumentar o superávit primário para 8% do PIB, criando um ‘Plano Real 2’. Se for menos, podemos encarar um cenário semelhante ao da Argentina, com inflação alta.” Outro risco para o Brasil é que suas políticas sejam “contaminadas” por práticas adotadas por vizinhos como Venezuela e Argentina. “Os dois países, em matéria de política macroeconômica, são maus exemplos – e tentações permanentes para nós. Na Argentina, temos políticas inconsistentes que produzem uma inflação percebida superior a 20% – e a percepção de manipulação dos índices lá é muito clara. Isso é horrível”, avalia. Para Franco, as mudanças de metodologia adotadas pelo Tesouro Nacional se assemelham à alteração que o governo argentino promoveu em relação a seus dados de inflação. “É manipulação também. Aqui, escondem-se os déficits [nas contas do governo] por meio de operações do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social].”

TARIFAS

Fotos: Shutterstock

RISCOS GLOBAIS

Setor de vestuário tem sido penalizado pelo real forte

CÂMBIO

DiStorÇÕeS AMeAÇAM SiSteMA coMerciAL Os exportadores brasileiros queixam-se já há algum tempo das consequências negativas que a apreciação do real tem tido sobre sua competitividade nos mercados externos. Além disso, alguns setores, como o têxtil, sentiram com mais força a pressão das importações – facilitadas pela desvalorização de divisas como o dólar e o yuan –, que acirram ainda mais a concorrência no mercado interno. Esse desequilíbrio entre as moedas tem um efeito ainda mais grave: o de, na prática, anular as negociações feitas pelo Brasil no âmbito de fóruns como a OMC (Organização Mundial do Comércio) para proteger sua indústria com tarifas de importação. De acordo com um estu-

X CÂMBIO

do do Cemap (Centro de Macroeconomia Aplicada) da EESP-FGV (Escola de Economia de São Paulo, pertencente à FGV), a valorização do real acaba tornando essas tarifas negativas, ao mesmo tempo em que dificulta a entrada de produtos brasileiros em mercados cujas moedas estejam desvalorizadas – os dos EUA e da China, por exemplo. O estudo, que compara os casos do Brasil, dos EUA e da China, calculou os desalinhamentos cambiais das moedas dos três países com base no conceito de equilíbrio macroeconômico das divisas – e não na diferença de cotação observada em um determinado período. A partir daí, os acadêmicos converteram as

ANIMAIS VIVOS

Desalinhamento da moeda gera tarifa negativa

CARNES

Tarifa aplicada

FUMO

35%

COMBUSTÍVEIS MINERAIS VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS AUTOMÓVEIS E TRATORES

22,3% 16,8%

AERONAVES E APARELHOS ESPACIAIS

10%

8%

2,3%

9,9%

8,7%

FRUTAS

2,3%

0,4%

PRODUTOS FARMACÊUTICOS

-5,5%

Tarifa aplicada é aquela efetivamente adotada pelo Brasil.

-14,4%

-18,2% -23% -28,4%

-24,4% -29,8%

Tarifa ajustada

MADEIRA E CARVÃO VEGETAL

-28,4%

-23,1% -23,9%

Tarifa ajustada leva em conta uma valorização de 30% do real.

Fontes: OMC/FGV

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variações das moedas em uma tarifa, a fim de aplicá-la sobre as taxas de importação de produtos que cada nação negociou nos órgãos internacionais (tarifa consolidada) e aquela efetivamente utilizada (tarifa aplicada). No caso do Brasil, foi levada em conta uma valorização de 30% do real. O levantamento mostrou que um setor como o de vestuário, por exemplo – no qual o Brasil tem o direito de cobrar uma tarifa de até 35% sobre a entrada de bens importados, como forma de proteger a produção nacional –, passa, com o impacto do desalinhamento cambial, a ter um percentual negativo, de -5,5% (veja quadro na página ao lado). Em outras palavras, um instrumento negociado na OMC para conter a entrada de itens que concorram no mercado doméstico acaba se tornando um incentivo para a entrada desses mesmos bens no país. “O direito adquirido na OMC, de somente utilizar a tarifa como defesa comercial, é totalmente erodido. Se você está com seu câmbio valorizado, é como se tivesse diminuído a tarifa. E, no caso dos EUA, que têm sua moeda desvalorizada, é como se houvesse uma sobretarifa”, explica uma das responsáveis pelo estudo, a professora da EESP-FGV e coordenadora do CCGI (Centro do Comércio Global e Investimento) daquela instituição, Vera Thorstensen. O peso do câmbio sobre as tarifas negociadas na OMC acaba, dessa forma, inviabilizando as negociações feitas naquela organização, e afeta diretamente as políticas governamentais de incentivo à indústria local, por exemplo. “Quando você tem uma flutuação acima de 15% nas tarifas, as regras passam a ser completamente ineficazes. E esse cenário leva a guerras comerciais. Tivemos recentemente no Brasil a elevação do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados] sobre veículos vindos da China. Ou seja, como não se pode discutir o impacto do câmbio na OMC, os governos adotam medidas que levam a distorções.” E esse cenário deve persistir – ainda que, no entender do professor da EESP-

-FGV e coordenador do Cemap, Emerson Marçal, coautor do estudo, seja muito difícil prever o comportamento do câmbio. “O que existe são desequilíbrios macroeconômicos pesados que têm de ser resolvidos. O dilema da Europa passa por um acordo político para acertar a questão do endividamento dos países. Já a economia dos EUA é uma incógnita”, avalia. De acordo com Vera, a relação entre câmbio e comércio internacional sempre foi tabu nos órgãos internacionais – mas essa situação, aparentemente, es-

tá mudando. “Agora o assunto parece ter entrado na pauta de discussões. O Brasil apresentou uma proposta na OMC, em abril, para tentar estudar essa questão. E, no mês de setembro, voltou a tocar no assunto. Contudo, o momento atual é extremamente delicado para retomar essa discussão em razão da crise na Europa e das perspectivas diante da eleição presidencial dos EUA neste ano. Deverá haver um seminário acadêmico na OMC em maio que abordará o tema”, pondera a professora.

Acordo na zona do euro não acalmou o mercado

CENÁRIO EXTERNO

A incógnita europeia Uma das grandes incertezas deste ano – e aquela com maior potencial de afetar o desempenho de economias ao redor do mundo – é a crise da dívida em países que compõem a zona do euro. No início de dezembro, um encontro entre os líderes da União Europeia decidiu firmar um pacto fiscal, por meio do qual todos os integrantes do bloco seriam obrigados a equilibrar suas contas. No entanto, um acordo oficial sobre o assunto é esperado apenas para março deste ano. A decisão, tomada quase 20 anos

após a criação da União Europeia, e uma década depois do início da circulação da moeda comum, foi vista como uma vitória da Alemanha. No entanto, seu potencial de acalmar os mercados internacionais é limitado, uma vez que continuam as preocupações sobre as dívidas de Itália e Espanha – países que poderão assumir o papel desempenhado pela Grécia ao longo de 2011. Para ex-diretor do BC e sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica, Alexandre Schwartsman, Janeiro, 2012 AméricaEconomia 61

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DEBATE

RISCOS GLOBAIS

o principal risco que a economia e as empresas do país devem enfrentar neste ano é o acirramento da crise na zona do euro. “A tendência é que as autoridades europeias empreguem uma resposta mais decisiva com o agravamento da situação”, avalia. Com isso, pondera, o crescimento econômico da Europa será limitado, e isso tornará o mercado internacional de capitais menos atraente – levando as empresas brasileiras a buscar alternativas para se capitalizar. “Dessa forma, os efeitos da crise europeia serão maiores para as

exportadoras que atuam naqueles mercados, mas não se restringirá, de forma alguma, a elas.” Com relação às medidas adotadas pelo governo brasileiro no início de dezembro, para conter os efeitos do agravamento da situação europeia – e que incluíram instrumentos para facilitar o acesso ao crédito –, o economista acredita que possam ter algum resultado positivo. “A questão é ver se isso será compatível com a meta de crescimento do PIB de 5% para 2012, anunciada pelo governo. Acho difícil.”

COMMODITIES

e oS preÇoS, coMo FicAM?

O apetite chinês deverá manter a demanda por commodities

Lembrando que boa parte das oscilações observadas nos preços de produtos agrícolas no mercado mundial se deve à ação de especuladores, Dejneka observa que a situação das economias é apenas a faísca do mercado – capaz de influenciar um movimento, mas não completamente responsável por ele. “O problema atual não é a falta de dinheiro no mercado, mas a ausência de confiança. A situação hoje é difícil de interpretar, por causa da proliferação de muitas notícias de cunho mais sensacionalista. Mas a produção agrícola mundial deve continuar crescendo, elevando os estoques e reduzindo o patamar de preços. E é aí que entram os subsídios governamentais, a fim de estimular os produtores”, afima.

ENERGIA

preocupAÇÃo coM o petróLeo Outro importante componente que poderá afetar a economia mundial neste ano é o eventual recrudescimento da situação geopolítica no Oriente Médio. Em dezembro, a invasão da embaixada britânica em Teerã (capital do Irã) levou à retirada dos diplomatas daquele país do território iraniano e, em contrapartida, ao fechamento da representação da nação persa no Reino Unido. Da mesma forma, a possibilidade de um ataque militar de Israel aumenta o risco de um novo conflito armado na região. De acordo com o diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), Adriano Pires, um confronto envolvendo o Irã tem potencial para gerar muito mais problemas para o mercado de petróleo do que a guerra civil na Líbia. “O Irã é um fornecedor muito mais importante que a Líbia. Um eventual conflito pode elevar os preços de forma considerável”, diz. Ele avalia que o mundo está hoje diante de uma crise econômica que não se sabe aonde vai parar – o que deve influenciar o consumo de petróleo nas na-

Fotos: Divulgação

Uma das principais bases do crescimento econômico recente do Brasil, os preços internacionais das commodities que são exportadas pelo país – tanto agrícolas quanto minerais – também podem trazer algumas surpresas ao longo do ano. No entanto, o apetite chinês deverá manter a demanda em alta – a não ser, claro, que o gigante asiático também entre em crise, em razão de sua expansão acelerada. Na avaliação do consultor internacional especializado em negociações com commodities no mercado futuro, Pedro Dejneka, o Brasil é atualmente o país para o qual a China mais tem direcionado seus investimentos no setor agrícola. “Sem o país comprando nossas commodities, a situação complica”, pondera.

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Foto: Shutterstock

Situação no Oriente Médio pode se agravar e influenciar o preço do petróleo

ções mais desenvolvidas. “No entanto, hoje, o preço é mais afetado pelo crescimento dos emergentes, o que deverá continuar. Países como o Brasil têm como política absorver os aumentos do óleo para o mercado interno, de forma a permitir o crescimento econômico e segurar a inflação”, diz. No entendimento de Pires, se não houver grandes turbulências geopolíticas no Oriente Médio, o preço do petróleo deverá ficar entre US$ 80 e US$ 100 (barril Brent) ao longo deste ano, por causa da expansão da atividade econômica dos países emergentes. Contudo, a busca por fontes alternativas de energia deve persistir neste ano. A avaliação é do consultor internacional Pedro Dejneka. “Não há uma resposta muito clara sobre o que pode acontecer no Oriente Médio – e o petróleo um dia vai acabar. O Brasil, certamente, será, no futuro, um dos líderes na produção de energia no mundo. Não podemos deixar de produzir etanol, ainda que os EUA odeiem a utilização desse combustível. No entanto, já vemos intercâmbio de etanol entre o Brasil e os estados americanos mais ‘verdes’, como a Califórnia”, afirma.

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AMÉRICA LATINA

rupturA e enFrAQueciMento Além de ser diretamente afetada pela evolução da situação econômica mundial – especialmente em um cenário de agravamento da crise europeia –, a América Latina também oferece potencial de riscos neste ano. A principal variável é a possível piora da doença do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o que colocaria em risco a política e a economia do país vizinho – abrindo espaço para consequências imprevisíveis. Na avaliação do sócio-diretor da consultoria Prospectiva, Ricardo Sennes, a possível sucessão de Chávez traria riscos tanto de ordem política quanto econômica. “Se a tentativa do presidente de fazer um sucessor não encontrar respaldo das Forças Armadas, há possibilidade de que se crie um movimento político, com o encrudescimento da oposição – e isso pode complicar a situação institucional do país.” Já a Argentina apresentaria problemas, em razão do fato de sua presidente, Cristina Kirchner, não ter se mostrado disposta a realizar reformas importantes na economia – o “freio de arrumação” adotado no Brasil por sua colega Dilma Rousseff. “Esperava-se uma mudança mais significativa na equipe econômica, por exemplo, o que não houve. E a presidente argentina não parece inclinada a adotar os ajustes financeiros e fiscais necessários para arrumar a economia”, pondera Sennes. Para ele, o país vizinho é duplamente vul-

nerável aos efeitos da crise financeira mundial, uma vez que é exportador de commodities e tem um setor financeiro bastante relevante em sua economia. Já com relação ao México, que vem sofrendo com os ataques do crime organizado, o especialista descarta a possibilidade de uma ruptura institucional mais séria. “O clima não é muito favorável, mas trata-se de um problema crônico e localizado. Os atentados são direcionados a regiões específicas do território mexicano”, avalia. Além desses três países, problemas poderão ser encontrados em outros menores, que têm suas economias fortemente atreladas à exportação de commodities, caso a crise externa se torne mais aguda. “Países que não dispõem de fundamentos sólidos em suas economias tendem a ir para a lona, dependendo de como a crise evoluir. Esse é um cenário também possível para a Venezuela, no caso do petróleo, se houver uma redução dos preços internacionais”, pondera.

Em seu primeiro mandato, Cristina Kirchner não adotou as reformas necessárias ao país

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DEBATE

JUSTIÇA

A praga da corrupção Os casos de irregularidades no governo crescem no país, assim como a impaciência do brasileiro com a impunidade Izabelle Azevedo, de Brasília

A

corrupção no Brasil é cada vez mais evidente. Estruturas viciadas transformaram órgãos públicos em feudos de partidos e grupos políticos. Os problemas existem há décadas. Não seria arriscado dizer que há séculos. Mas agora têm despertado cada vez mais a indignação da sociedade, que se manifesta por meio de marchas organizadas indo às ruas pa-

ra pedir transparência e honestidade no uso do dinheiro público. Apesar das reações ainda serem discretas e nem de longe lembrarem a articulação que acontece em outros países, as manifestações são consideradas por especialistas como um bom começo para a tentativa de tornar o país menos corrupto. É um caminho longo e tortuoso. Prova disso é uma pesquisa divulgada pelo Mi-

Foto: ABr

O ano de 2011 foi marcado por marchas contra a corrupção

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nistério Público Federal, segundo a qual apenas 0,23% dos cerca de 450 mil presos brasileiros pagam pena por delitos cometidos contra a administração pública, incluindo desvio de recursos e improbidade. “É difícil pensar que a corrupção não é um dos piores crimes cometidos contra a sociedade. Cada centavo que sai desfalca saúde, educação e impede investimentos básicos. É preciso fechar as brechas que permitem que essas irregularidades ocorram”, diz Roberto Gurgel, procurador-geral da República. As brechas às quais o procurador-geral se refere estão por toda parte e se mantêm graças à inércia disseminada no Poder Público para combatê-las. Exemplo disso é a extensa lista de projetos relacionados à corrupção que tramitam no Congresso e que aguardam, há anos, na fila de votação. Somente na Câmara dos Deputados, pelo menos 27 deles, que poderiam reduzir o espaço para desvios e aumentar as penas para corruptos, esperam para entrar na pauta do plenário. Apesar das promessas do presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), de que elas teriam tratamento prioritário, a prá-

tica mostra um verdadeiro descaso com propostas anticorrupção. “Não estamos conseguindo fazer com que esse tema assuma um papel importante nas discussões do país. Acho que somente a pressão social pode mudar esse quadro. Há projetos que realmente poderiam mudar a realidade no Brasil, se já tivessem sido colocados em prática”, diz o deputado Francisco Praciano (PT-AM), que preside a Frente Parlamentar de Combate à Corrupção. Entre as principais propostas citadas pelos integrantes da Frente como exemplo de leis que, se em vigor, podem reduzir práticas corruptivas estão a lei da improbidade administrativa, que estabelece aumento de pena para crimes que causem danos ao erário, e outra que torna passível de prisão temporária quem cometer crimes de peculato, concussão, corrupção passiva e corrupção ativa. PunIÇÃo AoS CoRRuPToS Mas é a proposta que prevê punição a corruptores que mais causa polêmica entre os congressistas. O projeto foi enviado ao Congresso com pompas e festejos

em 2010 pelo então presidente Lula como sinal de reação à Operação Castelo de Areia, feita pela Polícia Federal, que encontrou diversas irregularidades nas relações entre políticos e empresas financiadoras de campanhas eleitorais, mas as investigações nunca foram concluídas. Em meio ao clima de suspeição, o governo encaminhou o projeto ao Congresso propondo modificações no Código Penal, de modo a permitir que empresas também possam responder por crimes contra a administração pública. De acordo com a lei atual, somente pessoas físicas podem ser processadas. O projeto, apesar de ser amplamente defendido pelos órgãos de controle, sofre grande resistência entre os congressistas. Tanto que a Câmara demorou mais de um ano para designar os integrantes da comissão especial destinada a analisar o texto. Em 2011, o projeto ganhou novo fôlego, porque o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) resgatou a proposta que tinha sido arquivada com o fim da legislatura anterior. O petista tentou pressionar os deputados para aprovação do relatório na comissão especial

Corrupção, do latim, corruptionis. Significa corrompimento, decomposição, devassidão, depravação, suborno, perversão

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DEBATE

JUSTIÇA

Foto: ABr

Nas cadeias lotadas do país, onde vivem 450 mil presos, só 0,23% cumprem pena por delitos ligados à administração pública

ainda no ano passado, mas as discussões foram adiadas. Até o momento, o grupo tem se dedicado a realizar audiências públicas, em uma tentativa de mobilizar a sociedade para pressionar a aprovação da matéria. “É importante o apoio social para esse projeto. Temos de ampliar as possibilidades de punição. O país tem de punir tanto corruptos quanto os corruptores”, opina Zarattini. A relação direta entre o apoio social e o avanço do projeto no Congresso tem explicação. Finan-

ciados por grandes empresários e muitas empreiteiras, os políticos não se sentem à vontade para defender um texto que possa prejudicar quem os ajuda em suas campanhas políticas. moBIlIZAÇÕeS No dia 9 de dezembro, quando é comemorado o Dia Internacional de Combate à Corrupção, integrantes da Frente Parlamentar protocolaram uma indicação a ser encaminhada à presidente Dilma Rousseff sugerindo a celebração de

um pacto assinado pelos Três Poderes da República. No documento, os deputados destacam a necessidade de os poderes firmarem compromisso com a estruturação dos órgãos oficiais de fiscalização e controle dos recursos públicos, além da melhoria na administração e racionalização do Judiciário. Apesar de o pacto não trazer novidades e de suas propostas serem óbvias, especialistas defendem que iniciativas como essa se somam a uma série de movimentos que vêm ocorrendo no Brasil contra a corrupção.

Foto: Divulgação/Agência Senado

Em 1992, começa o escândalo no governo de Fernando Collor de Mello. Acusado de envolvimento em atos de corrupção e tráfico de influência, ele sofre impeachment e perde os direitos políticos.

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Em 1995, durante a administração de Fernando Henrique Cardoso, foram as privatizações do sistema Telebrás e da Vale do Rio Doce que chamaram atenção. Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-caixa de campanha de FHC e do senador José Serra e ex-diretor da Área Internacional do Banco do Brasil, foi acusado de pedir propina de R$ 15 milhões para obter apoio dos fundos de pensão ao consórcio que levou a Vale e de ter cobrado R$ 90 milhões para ajudar o grupo de empresas que comprou a Telemar.

Em 2001, o então presidente do Senado, Jader Barbalho, renunciou ao cargo sob acusações de corrupção passiva, formação de quadrilha, peculato e sonegação fiscal. Perdeu os direitos políticos por oito anos.

Foto: Divulgação

CORRUPÇÃO AO LONGO DOS ANOS

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A Frente Parlamentar de Combate à Corrupção propõe aumento de pena para quem causar danos ao erário

riores. Isso já é um avanço a ser comemorado”, avalia. O que o especialista contabiliza como aumento da intolerância é justamente a queda de sete ministros nos últimos sete meses. Seis deles por envolvimento em denúncias. O primeiro a sair, Antonio Palocci, deixou o cargo em junho sob suspeitas de enriquecimento ilícito. Foi a primeira demonstração de que o atual governo tentará deixar sua marca no combate à corrupção. O então ministro da Casa Civil era considerado o homem forte e mais influente do novo governo. “Se a presidente, na hora de demitir al-

guém, considerasse suas relações pessoais e simpatia, por certo não teria tirado Palocci depois de apenas seis meses de governo. Acho que a saída dele foi um sinal positivo de que avançamos”, opina o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Dilma também não aceitou manter no cargo de ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (indicado pelo PR), depois que suspeitas de superfaturamento em obras tocadas pela pasta tomaram espaço na mídia. Ele pediu demissão em julho, após ser pressionado pela cúpula do governo. Sua saída resultou em uma crise entre seu partido e a presidente.

Em 2003, a Operação Anaconda denuncia que um delegado aposentado da PF e juízes federais estavam envolvidos em um esquema para aliviar a situação de acusados em inquéritos policiais.

Em maio de 2005, o Brasil conheceu o escândalo dos Correios. A corrupção vem à tona por causa de um vídeo que mostrava um ex-funcionário da empresa negociando propina com um suposto empresário interessado em participar de uma licitação e mencionando ter o respaldo do deputado federal Roberto Jefferson, do PTB do Rio de Janeiro.

No mesmo ano, pressionado, Roberto Jefferson decidiu denunciar outro esquema de corrupção durante o governo Lula, o mensalão. A irregularidade resultou no indiciamento de 40 políticos, entre eles José Dirceu. O desfecho do escândalo deve acontecer no início deste ano, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) vai concluir o julgamento do caso.

Foto: Divulgação/Adriana Lima

Para o cientista político e presidente da ONG Transparência, Consciência e Cidadania, David Fleischer, apesar da inércia do Congresso brasileiro para modificar as leis e tornar mais rigorosas as punições, o país vive avanços significativos no que se refere à reação do comando do governo. “Não se pode negar que a saída de sete ministros em um ano demonstra certa intolerância da presidente Dilma Rousseff com as práticas de corrupção. Não acho que o país ficou mais corrupto. Mas dá para ver que pelo menos esse tipo de conduta não é aceito por ela como acontecia nos governos ante-

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DEBATE

os gastos. O problema é que algumas secretarias com status de ministério, como a de Promoção da Igualdade Racial e a de Mulheres, resultaram de conquistas de movimentos de classe e encolhê-las poderia ser interpretado como um gesto da presidente de reduzir o espaço desses setores. Dividida entre seu projeto e os efeitos políticos das mudanças que poderia promover, a presidente tem falado pouco sobre o que pretende fazer. Até o momento, Dilma limitou-se a mandar recados avisando que a intenção é dar a sua cara ao primeiro escalão do governo e deixar as equipes, especialmente as herdadas de Lula, com perfil mais técnico. A presidente acredita que, diminuindo o espaço e a influência dos partidos dentro dos ministérios, será possível fechar as torneiras da corrupção que ainda permanecem abertas. A oposição, é claro, aproveita as demissões para tripudiar. “Não há dúvida de que a divisão de poder que foi feita para recompensar a base de apoio nas eleições abriu espaço para essas demonstrações de corrupção em massa e uso da máquina pública em benefício de algumas siglas. Alguma coisa a presidente terá de fazer para impedir essa sequência de denúncias”, avalia o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). O parlamentar tucano tentou, por meses, recolher assinaturas para abrir uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) destinada a investigar casos de cor-

Em 2006, houve o escândalo dos Sanguessugas, também conhecido como Máfia das Ambulâncias. O esquema consistia no desvio de dinheiro público para a compra de ambulâncias superfaturadas e que nunca eram entregues.

Em 2007, a Polícia Federal deflagrou a Operação Navalha, contra um esquema que consistia no desvio de recursos de obras do PAC. Na ocasião, 74 pessoas foram presas. Em 2008, a Polícia Federal lançou a Operação Satiagraha, para tentar frear o desvio de verbas públicas. Banqueiros e investidores foram presos.

rupção no Executivo. Tentativa frustrada, pois parlamentares da base não quiseram assinar o documento, apesar de defenderem em público a apuração de todas as denúncias. “Houve um movimento estranho e muita gente que dizia apoiar a investigação desistiu de assinar, preferindo deixar o clima de suspeição”, reclama o senador. Sem uma CPI para investigar os casos do atual governo e a herança deixada por

Em 2009, outro esquema envolvendo o pagamento de propina a políticos se tornou público. Desta vez, envolvia o governo do Distrito Federal. O mensalão do DEM, como ficou conhecido, derrubou o então governador José Roberto Arruda.

Foto: ABr

Um mês depois, as denúncias de corrupção em programas tocados pelo ministério da Agricultura atingiram o então ministro Wagner Rossi (do PMDB), que também deixou o cargo. Na sequência, vieram as demissões de Pedro Novais (também do PMDB) do Ministério do Turismo e de Orlando Silva (indicado pelo PCdoB), do Ministério do Esporte. O último a sair (até o fechamento desta edição) foi Carlos Lupi, em 4 de dezembro, depois de insistir que não tinha envolvimento com irregularidades em convênios. Lupi nega ter obtido vantagens pessoais de dirigentes de ONGs, mas não se segurou depois que a Comissão de Ética Pública da Presidência divulgou um parecer afirmando que sua conduta contrariava os princípios éticos. Lupi se desligou do ministério do Trabalho, apesar de suas ligações com a cúpula do Planalto, de ter a simpatia da presidente Dilma e de alguns movimentos sindicais terem defendido sua permanência no cargo. A queda de ministros passou a ser rotina no governo Dilma Rousseff e não tem alterado o funcionamento e a divisão de poder das legendas. Pelo menos por enquanto. Neste mês, a presidente promete realizar sua primeira reforma ministerial e estuda demitir pelo menos seis ministros, além de reduzir a quantidade de ministérios. A ideia inicial da cúpula do Planalto é unir as secretarias especiais em um único órgão, o que diminuiria a estrutura e

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JUSTIÇA

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Contra a corrupção e a falta de liberdade e democracia, surgiram os protestos que deflagraram a “Primavera Árabe”

Lula, o mundo político vive a expectativa do desfecho do caso do mensalão, que é considerado o maior escândalo político dos últimos anos. O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa anunciou que vai apresentar decisão no início deste ano. O processo envolve 38 pessoas, a maioria petistas, que se transformaram em réus depois que o STF aceitou a denuncia do Ministério Público de que o grupo praticou crimes de corrupção passiva, ativa, peculato e lavagem de dinheiro. Além do mensalão, outros casos de corrupção que marcaram a sociedade ainda esperam na fila da Justiça, sem que os envolvidos nos desvios sejam devidamente punidos. É o caso, por exemplo, das irregularidades em obras que fazem parte do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) encontradas pela Polícia Federal durante a Operação Navalha, em 2007. Ninguém foi condenado até agora, apesar de, na época, 74 pessoas terem sido presas. Também não houve punições aos acusados de participação em outro esquema de pagamento de pro-

pina a políticos: o mensalão do DEM. O escândalo foi descoberto em 2009 e envolvia o alto escalão do governo do Distrito Federal. Na época, o então governador José Roberto Arruda chegou a ser preso. Mas até hoje o caso não avançou na esfera judicial. A demora nos julgamentos dos casos de corrupção tem dado fôlego a uma proposta de emenda constitucional defendida abertamente pelo presidente do STF, Cezar Peluso, a PEC dos Recursos. O projeto foi apresentado ao Congresso no início do ano passado pelo Supremo com objetivo de reduzir o número de recursos encaminhados ao STF e ao STJ. A ideia é dar mais celeridade à tramitação dos processos e evitar que anos se passem sem que as condenações sejam efetivadas. A PEC propõe a imediata execução das decisões judiciais, logo após o pronunciamento dos tribunais de segunda instância (Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais). “Essa proposta não tem a pretensão de resolver todos os problemas do Brasil, mas pode atender a demanda da sociedade referente à mo-

rosidade da Justiça”, defende Peluso. O projeto conta com o apoio da Controladoria-Geral da União, que tem feito uma campanha intensa por sua aprovação. Segundo o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, a proposta pode permitir a prisão dos corruptos após o julgamento por um único tribunal, acabando com a sensação de impunidade devido ao excesso de possibilidades de os acusados recorrerem em diferentes instâncias. “Essa impunidade e a demora nos julgamentos é, sem sombra de dúvidas, o principal alimento da corrupção”, diz Hage. no RAnKInG mundIAl As demissões feitas por Dilma Rousseff não foram consideradas na análise sobre índices de corrupção feita pela ONG alemã Transparência Internacional e divulgada no início de dezembro. Com base em informações e opiniões de brasileiros sobre casos de corrupção e punições, a entidade classificou o Brasil na 73ª posição do ranking mundial, com nota de 3,8 em uma escala que vai de zero (mais corrupto) a dez (menos corrupto). A nota Janeiro, 2012 AméricaEconomia 69

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DEBATE

JUSTIÇA

Pelo mundo Não é apenas no Brasil que a corrupção é assunto diário e mobiliza a sociedade. Em 9 de dezembro, a ONU (Organização das Nações Unidas) lançou uma grande campanha mundial pela moralidade na administração pública. A ideia é sensibilizar os cidadãos para que denunciem e combatam atos ilegais e imorais. Na mensagem pelo Dia Internacional contra a Corrupção deste ano, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, fez menção à chamada “Primavera Árabe” e pediu a união de todos no combate a este mal. “Embora os pobres possam ser marginalizados pela corrupção, eles não serão silenciados. Nos acontecimentos em todo o mundo árabe e durante este ano, os cidadãos comuns uniram suas vozes para denunciar a corrupção e exigir que seus governos combatam esse crime contra a democracia”, declarou. No clima mundial de intolerância com a corrupção, ao menos por enquanto a

Ainda há esperança Paula Pacheco, de São Paulo

Apesar de tantas notícias ruins no que se refere à corrupção no poder público brasileiro, nem tudo está perdido. Algumas prefeituras no interior do país trocaram de comando no ano passado para punir irregularidades cometidas por prefeitos e seus assessores. Foi o caso da cidade de Campinas, terceira maior cidade do estado de São Paulo. Hélio de Oliveira Santos (PDT) teve o mandato cassado pela Câmara Municipal em agosto do ano passado sob a acusação de omissão e negligência em supostas fraudes em contratos públicos. Era o segundo mandato do Dr. Hélio, como é conhecido. Os primeiros indícios de irregularidades contaminaram o primeiro escalão do prefeito de Campinas, envolvido em denúncias de pagamento de propinas. Na época em que o escândalo estourou, a ex-primeira-dama e ex-chefe de gabinete, Rosely Nassim Jorge Santos (foto), foi citada pelo Ministério Público como che-

presidente Dilma tem mostrado afinação entre seu discurso e suas ações. Parlamentares e especialistas são unânimes ao avaliar que nada do que aconteceu até agora no Brasil caminhou na contramão do que Dilma anunciou que faria durante a solenidade de posse: “Serei rígida na

fe de um suposto esquema de fraudes em licitações. A quadrilha apontada pelo MP também é acusada de receber propina por meio da empresa pública Sanasa, de saneamento básico. O vice, Demétrio Vilagra (PT), assumiu a prefeitura, mas também está na marca do pênalti e pode perder o cargo, o que dependerá dos resultados das investigações do MP sobre o seu possível envolvimento com o escândalo na gestão de Dr. Hélio. A 63 quilômetros de Campinas, em Limeira, houve um caso semelhante. A primeira-dama, Constância Félix, mulher de Silvio Félix (PDT), passou cinco dias presa, no fim de novembro, por suspeita de envolvimento em um esquema de sonegação de impostos, lavagem de dinheiro, furto qualificado, formação de quadrilha e falsidade ideológica. A operação do MP pediu a prisão de outras 11 pessoas. Dois filhos do casal também foram presos. O prefeito foi afastado temporariamente do cargo por decisão da Câmara de Vereadores, mas conseguiu na Justiça uma liminar para ser reconduzido ao cargo. Até o fechamento desta edição, ele ainda ocupava a prefeitura de Limeira. No período em que esteve fora, o cargo foi ocupado pelo vice, Orlando José Zovico (PDT), que também é investigado pelo MP sob suspeita de enriquecimento ilícito e improbidade administrativa.

Foto: Divulgação/Gazeta de Limeira

baixa brasileira nunca foi tão observada por entidades internacionais. Isso ocorre, em primeiro lugar, porque o país assumiu uma posição de visibilidade mundial devido ao crescimento econômico. Em segundo, porque sediará eventos esportivos e receberá financiamentos bilionários tanto públicos quanto privados. “As atenções estão voltadas para o Brasil e, por isso, é tão importante mostrar intolerância com a corrupção”, avalia o cientista David Fleisher. Para mostrar ao mundo que o país tem reagido, o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, anunciou números positivos durante as comemorações do Dia Internacional de Combate à Corrupção. Segundo ele, nos últimos anos, o Brasil vem ampliando o índice de recuperação de recursos desviados de 1% para 15%. “Nossa meta é chegar a 25% até 2016”, disse ele. Metas que, segundo o ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, ficarão mais próximas de serem atingidas quando o país aprovar leis mais rigorosas e acabar com o financiamento privado de campanhas eleitorais.

defesa do interesse público. Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito. A corrupção será combatida permanentemente, e os órgãos de controle e investigação terão todo o meu respaldo para atuar com firmeza e autonomia”. Até agora, é o que vem acontecendo.

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DEBATE

AMÉRICA LATINA

Houve uma redução na parcela da população latino-americana considerada pobre

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A pobreza encolhe Indicadores da Cepal mostram, contudo, que existe risco de retrocesso em razão do cenário externo Sérgio Siscaro, de São Paulo

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pós ter amargado a difícil década de 1980 – época em que a crise da dívida agravou a situação econômica dos países latino-americanos e, como consequência, aumentou os níveis de desigualdade social –, a região vem sistematicamente reduzindo os indicadores de pobreza desde 1990. De acordo com o estudo Panorama Social da América Latina, lançado em dezembro pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), houve um recuo de 18 pontos percentuais na parcela da população considerada pobre nos países da região – que passou de 48,8% (ou 204 milhões de pessoas) para 30,4% (174 milhões). Também caiu o percentual da população em situação de pobreza extrema, que passou de 22,6% para 12,8%. De acordo com o estudo, essa redução da pobreza se deve a mudanças nos processos de distribuição de renda nos países da região, principalmente no período entre 2002 e 2010 – que se manteve mesmo com a eclosão da crise financeira mundial, em 2008. Além disso, a Ce-

pal observou a continuidade da queda nas taxas de natalidade, diminuindo assim a pressão do aumento populacional sobre a economia latino-americana. Outro ponto demonstrado no levantamento da entidade é de que os 21 países da região elevaram o total de gastos públicos nas últimas duas décadas, chegando em 2009 a um total de 28,8% do PIB (Produto Interno Bruto). O importante neste dado é que 17,9% foram direcionados a despesas de ordem social. Cinco nações registraram reduções mais significativas em suas taxas de pobreza entre os anos de 2009 e 2010: Peru, Equador, Argentina, Uruguai e Colômbia. Por outro lado, tanto Honduras quanto México apresentaram alta – de 1,7 e 1,5 pontos percentuais, respectivamente. O Brasil, entre 2001 e 2009, teve uma queda de 12,6 pontos percentuais nos índices de pobreza e de 6,2 pontos nos de indigência. Para a Cepal, a aplicação de instrumentos de transferência de renda para camadas mais carentes da população foi responsável, no caso brasileiro, por uma contribuição superior a 40% na redução da desigualdade social.

“A pobreza e a desigualdade seguem diminuindo na região, o que é uma boa notícia – especialmente no contexto da crise econômica internacional. Entretanto, esses avanços ainda são ameaçados pelas enormes lacunas apresentadas pela estrutura produtiva da região e pelos mercados trabalhistas, que geram empregos de baixa produtividade, sem proteção social”, afirmou a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, durante o lançamento do documento. No entanto, a organização pondera que o fato de a redução da pobreza estar vinculada apenas ao crescimento econômico dos países latino-americanos configura uma vulnerabilidade preocupante. Isso seria especialmente verdadeiro no momento atual, marcado pela incerteza com relação ao cenário externo em razão da crise na Europa. Na avaliação da Cepal, é necessário que os países latino-americanos orientem suas políticas na direção de investimentos que elevem o grau de produtividade da economia e avancem na proteção social, assim como em políticas de transferência de renda para as camadas mais carentes da população. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 71

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DEBATE

eleições

A revolução doente O câncer de Hugo Chávez levanta dúvidas sobre a continuidade da revolução bolivariana na Venezuela Redação de AméricaEconomia, em Santiago

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realidade costuma ser vista a partir de pontos opostos no labirinto de espelhos no qual se transformou a polarizada Venezuela. Contudo, até muito pouco tempo atrás, era difícil imaginar um cenário mais díspar como o que surgiu em torno da saúde do presidente Hugo Chávez. O mandatário assegura que já se curou do câncer e que não há uma única célula maligna em seu corpo. Mas insistentes versões esboçam um cenário bem diferente. Segundo diferentes porta-vozes, que alegam ter tido contato direto com a situação, Chávez não apenas continua padecendo da doença, como está em estágio terminal. Exageradas ou não, essas versões confirmam que nenhum outro assunto tem maior importância no país petroleiro que se aproxima das cruciais eleições de outubro deste ano. Nelas se decidirá nada menos que a transformação socialista do Estado, um contexto sobrecarregado e no qual Chávez se transformou em uma espécie de convalescente internado em cada um dos lares venezuelanos. “Tudo gira em torno do presidente Chávez e de sua doença”, afirma Oscar Schemel, presidente do instituto de pesquisa venezuelano Hinterlaces. “É a grande interrogação dentro da política do país, o elemento de incerteza que provoca respostas passionais não apenas do

lado do chavismo, mas também do lado da oposição”, ressalta. Embora visivelmente inchado em decorrência do tratamento ao qual está sendo submetido, o mandatário tem aumentado suas aparições em público, sustentando reiteradamente que continuará vivendo e governando o país pelos próximos 20 anos. “Nunca vão me tirar do governo”, garantiu, em meados de novembro. “Eles [os opositores] estavam empenhados em que eu me fosse, mas agora não vou em 2021, vou em 2031.” Contudo, detratores e até alguns de seus antigos colaboradores asseguram que sua doença é muito mais grave do que ele deixa transparecer. Entre os que denunciam a situação está o ex-subsecretário de Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Roger Noriega, que assegura que Chávez tem pela frente poucos meses de vida. “Segundo fontes que me passaram informações privilegiadas e documentos

A maioria é solidária a Chávez, mas não aprova sua atuação em temas como a segurança

de dentro do regime, o câncer de Chávez está se propagando mais rápido que o esperado e poderá levá-lo à morte antes das eleições presidenciais de outubro de 2012”, garantiu, recentemente, Noriega, que também atuou como embaixador dos EUA na OEA, a Organização dos Estados Americanos. “Chávez insistiu em receber doses baixas de quimioterapia para evitar longas ausências da cena política durante esse frágil período.” Segundo o diplomata, as autoridades americanas tinham conhecimento de que Chávez padecia de câncer seis meses antes de ter admitido o fato publicamente, e agora sabem que é pouco provável que ele seja candidato nas próximas eleições presidenciais. Anteriormente, Salvador Navarrete, antigo médico familiar de Chávez, declarou que ele sofria de um câncer de pelve muito agressivo e, no momento de seu diagnóstico, contava com uma expectativa de vida de apenas dois anos. Navarrete, que se viu obrigado a abandonar o país, afirmou que havia sido induzido a falar pela própria família do chefe de Estado, que preferia ver Chávez afastado do poder para se concentrar no tratamento. Células rebeldes A doença surgiu no momento em que o presidente Chávez realizava os prepara-

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Envolto em incertezas sobre sua saúde, Chávez não consegue passar confiança sobre o futuro do chavismo

tivos para radicalizar sua revolução socialista após a aprovação, no fim de 2010, dos instrumentos legais de que precisava para terminar de transformar o Estado venezuelano. Leonardo Palacios, professor de disciplina tributária da Universidade Central da Venezuela, afirma que a Assembleia Nacional, com uma representação majoritariamente chavista, tem aprovado aceleradamente um conjunto de leis que estabelece o “caráter socialista” da economia venezuelana. “Tudo, absolutamente tudo, ficaria sob a administração do Estado”, afirma Palacios. “Tudo o que se refere à produção, à distribuição, e até à forma de consumo, seria administrado e regulado pelo governo central.” As leis introduzem os conceitos do Estado Comunal e a Economia Comunal, sobre os quais descansariam eventual-

mente os meios de produção, assim como a arquitetura de poder do país. A normativa legal não começou a ser aplicada, no momento em que a atenção pública se volta para a doença de Chávez, mas isso poderia mudar se ele conseguisse ser eleito para um novo período. A doença do presidente, contudo, gera dúvidas sobre o que as urnas poderão revelar em outubro. Ainda que seu hábil manejo midiático da doença tenha lhe rendido certo sentimento de pena, o que foi favorável nas pesquisas, o aumento de popularidade não se traduziu em melhora nas intenções de voto. Além disso, a oposição avançou significativamente nos últimos anos na formação de uma única frente e, no próximo mês, está prevista a escolha de um candidato para disputar a Presidência. “A oposição está muito mais competiti-

va do que no passado”, assegura o analista político venezuelano John Magdaleno. Joga a favor da oposição o desencantamento da população. Segundo dados recentes do Hinterlaces, 59% dos venezuelanos desaprovam o trabalho do presidente em questões de segurança. Mais de 50% consideram que ele não conseguiu atender às necessidades viárias e de transporte. Ao todo, 70% acreditam que ele foi ineficaz em controlar a inflação, e 67% não aprovam sua reação quanto a crise elétrica. “A campanha de 2012 será bastante exigente e muito desgastante, e teríamos de ver que tipo de atividade o presidente poderá realizar na condição em que se encontra”, afirma Magdaleno. O regime sempre sustentou a imagem de que não há chavismo sem Chávez. Os constantes enfrentamentos entre as diferentes facções do movimento ressaltam sua fragilidade. Segundo versões da imprensa local, o chanceler Nicolás Maduro é o dirigente com maiores possibilidades de motivar as bases do movimento a sair e votar, mas ele não conta com o carisma e o mesmo grau de respaldo em âmbito nacional que Chávez, e teria de percorrer um caminho morro acima para derrotar a oposição na disputa eleitoral. Outros potenciais candidatos também incluem o atual vice-presidente Elías Jaua e o irmão do presidente e governador do estado Barinas, Adán Chávez, mas ambos contam com um apoio popular ainda inferior ao de Maduro. Por outro lado, os observadores estão de olho nas manobras do ex-vice-presidente Diosdado Cabello, um deputado oficialista com ampla influência no setor militar favorável à revolução bolivariana. “Tudo dependerá dos acontecimentos dos próximos meses”, adverte Leonardo Palacios. O acadêmico é daqueles que creem que mais uma derrota da oposição seria catastrófica à Venezuela, pois “um novo mandato de Chávez poderia comprometer a estabilidade democrática do país, já que ele teria a Assembleia e, portanto, as novas leis a seu favor.” Janeiro, 2012 AméricaEconomia 73

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DEBATE

ENERGIA

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A Força Pública teve de entrar em cena para garantir a segurança das empresas e dos trabalhadores

DEPOIS DO

PRIMEIRO MILHÃO A indústria petroleira na Colômbia ganha força, mas carrega o peso de conflitos entre empresas e trabalhadores, além de problemas ambientais Jenny Carolina González C., de Bogotá

A

Colômbia vem aumentando de forma sustentável a produção de petróleo cru. Hoje, é a quarta produtora da região, depois de Venezuela, México e Brasil. Há apenas cinco anos, extraía 550 mil barris diários; em novembro, alcançou 971 mil barris. Em 2006, havia 12 poços exploratórios e, em 2011, o

país comemorava a marca de 130 poços. Em volume de exportações, a Colômbia passou de US$ 6,32 bilhões em petróleo e derivados em 2006 para US$ 20,06 bilhões nos primeiros nove meses de 2011, segundo o Dane (Departamento Administrativo Nacional de Estatísticas). Esse crescimento pode ser atribuído, em parte, às melhores condições de se-

gurança conseguidas no governo Álvaro Uribe, que atraiu investimentos estrangeiros diretos para o setor. Contudo, o caminho para passar de 1 milhão de barris e seguir nesse ritmo enfrenta a ameaça de dois grandes obstáculos: a intensificação das ações guerrilheiras e, talvez mais grave, o conflito entre empresários e sindicatos. Em junho de 2011, quatro cidadãos chineses da britânica Emerald Energy foram sequestrados no departamento de Caquetá, no sudeste do país, e até hoje seu paradeiro é desconhecido. Some-se a isso o sequestro de 31 trabalhadores petroleiros, em três ocasiões diferentes,

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que foram liberados, na grande maioria, por pressão do exército; os 19 atentados à infraestrutura petroleira; os 26 caminhões de transporte de petróleo queimados e um helicóptero da argentina Pluspetrol incendiado. Mais batalhões “É preciso reconhecer com tristeza que isso tem impacto, porque qualquer investidor estrangeiro leva em conta esse elemento em suas decisões”, afirma Hernando Barrero, presidente da Associação Colombiana de Engenheiros do Petróleo. O crescimento do setor fez com que a atividade petroleira se estendesse a regiões remotas. O governo insiste que tomou medidas para garantir a segurança, segundo o ministro de Minas e Energia, Mauricio Cárdenas. “Esse não é um impedimento, não é um fator que gere condições para as empresas irem embora ou deixarem de vir para o país.” Para Alejandro Martínez, presidente da ACP (Associação Colombiana do Petróleo), o não pagamento de extorsões e a necessidade de visibilidade das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) estão motivando as ações terroristas. “Não é que haja uma consideração ideológica contra os investimentos estrangeiros, é a necessidade de mostrar que eles ainda têm importância”, afirma. O mais recente golpe ocorreu em meados de novembro, quando a Emerald Energy, subsidiária da estatal chinesa Sinochem, anunciou, sem dar detalhes, o fechamento de seu campo Capella, situado em Caquetá, com uma produção de 4 mil barris por dia, por razões de segurança. Os comandos militares reagiram com indignação. “A segurança não pode ser usada de escudo para o não cumprimento dos acordos feitos com as diferentes instituições”, afirmou o general Fabricio Cabrera, comandante da Brigada 12 do Exército. “Nós garantimos a saída do petróleo cru”. O governo advertiu que expulsará as multinacionais que cederem a extorsões, e ajustou sua estratégia de defesa no setor, que inclui a criação de seis

batalhões para a proteção da infraestrutura mineradora e energética nos próximos dois anos. “O mais importante é ganhar espaço de coordenação, que vai desde o nível mais alto até o chão de fábrica, onde a Força Pública possa acompanhar os planos das empresas petroleiras”, afirma o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, enfatizando que existem empresas que, por anos, tiveram sucesso em seu trabalho com as tropas do Estado. A ideia é também que as petroleiras invistam em novas tecnologias e mecanismos para a vigilância de seus campos e infraestrutura e melhorem as relações com as comunidades, dando estabilidade às regiões. Aí está outro grande desafio a ser enfrentado pelas petroleiras. Várias comunidades por onde passam

rantir a entrada dos trabalhadores na refinaria de Barrancabermeja, ao norte do país, depois que a greve se transformou em distúrbios que deixaram 15 feridos. Os petroleiros asseguram que o motivo dos protestos é uma corrida dos diferentes sindicatos para aumentar o número de afiliados em um setor que está ganhando visibilidade e recebendo investimentos. Eles pediram que casos de greve transformados em desordens sejam levados à Justiça. Rodolfo Vecino, presidente da USO, a Unión Sindical Obrera, denuncia a existência de uma campanha contra sua organização para desviar o debate sobre as reivindicações trabalhistas, salariais e de condições de trabalho. “Não estamos de acordo com a violência, tampouco com a violência

“O mais importante é ganhar

espaço de coordenação, que vai desde o nível mais alto até o chão de fábrica”

Ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón

os caminhões carregados de óleo cru já manifestaram sua insatisfação com a deterioração das vias. Relatórios da Controladoria-Geral da República e investigações do Vice-Ministério do Meio Ambiente indicam que, nos últimos três anos, houve uma série de danos ambientais provocados pelo petróleo. No entanto, o mais grave em termos políticos são os enfrentamentos entre empresas e trabalhadores. A canadense Pacific Rubiales, cujas operações no leste do país representam 25% da produção petroleira da Colômbia, teve fortes conflitos com os sindicatos. As manifestações desembocaram em guerras campais que levaram à suspensão de suas operações no ano passado. Os protestos também se estenderam contra Petrominerales, Petrobras e Ecopetrol, que, em meados de novembro passado, tiveram de recorrer à Força Pública para ga-

contra os trabalhadores”, afirma. Vecino diz que o governo assumiu uma posição a favor da indústria e que a Pacific Rubiales está obrigando seus trabalhadores a renunciar à USO para se afiliar à Uten, a Unión de Trabajadores de la Industria Energética Nacional y de Servicios Públicos Domiciliarios, considerada por eles como patronal. “Essa locomotiva precisa dar condições aos trabalhadores e também a suas famílias. Queremos que essas condições melhorem gradualmente, mas por meio de um processo de diálogo democrático, e não pelas vias de fato”, enfatizou Cárdenas. Segundo a ACP, estima-se que se deixou de produzir entre 40 mil e 50 mil barris em decorrência das paralisações. Apesar do panorama, Martínez, presidente do órgão, acredita que a Colômbia seguirá o atual ritmo até superar 1,2 milhão, em 2015. Janeiro, 2012 AméricaEconomia 75

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DEBATES

Planejamento empresarial

Foto: Marcela Beltrão

Leonardo (à dir.) e Heraldo Jubilut, advogados

Uma alternativa para os negócios Consultoria jurídica preventiva pode reduzir as disputas entre empresas e funcionários Natalia Gómez, de São Paulo

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relação entre as empresas e seus funcionários, que sempre foi alvo de disputas judiciais e gera grandes despesas para as companhias, tem ganhado ainda mais relevância com a recente agilidade processual da Justiça do Trabalho. A informatização do processo e a interligação da Justiça Trabalhista com órgãos como a Receita Federal e o Banco Central têm ampliado as possibilidades de execução de sentenças, além de deixar o processo mais rápido. Se, no passado, a Justiça podia não ter o aparato

necessário para executar o devedor, hoje, os mecanismos são mais eficientes e podem levar a bloqueios de conta com mais facilidade. “O empresário começou a sentir no bolso que o processo está mais rápido”, afirma o advogado Leonardo Jubilut, sócio do escritório Jubilut Junior Consultoria Jurídica Empresarial, especializado na área trabalhista. Os valores envolvidos nos processos também estão mais altos, assim como a diversidade das causas. Nesse cenário, a parceria entre escritórios de advocacia e empresas tem sido

cada vez mais relevante, especialmente na ação preventiva, que pode evitar esses transtornos e preparar as companhias para uma eventual necessidade de defesa. Acompanhe a seguir a entrevista com dois sócios do escritório, Leonardo e Heraldo Jubilut. Fundado em 1972, sua atuação tem âmbito nacional. América Economia – Qual é a importância dos escritórios de advocacia no dia a dia das empresas quando o assunto é direito trabalhista? Leonardo Jubilut – Ter uma assessoria jurídica é uma necessidade crescente de qualquer empresa, independentemente do porte. Antes, talvez não fosse tão crucial, mas a própria evolução da economia e dos negócios entre empresas tornou a

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participação do escritório fundamental. Os países estão se adaptando e criando novas regras de conduta, e as empresas têm de se adequar. Heraldo Jubilut – O próprio andamento da legislação atual favorece o recebimento de valores o mais breve possível. O processo ficou mais rápido, porque o juiz tem comunicação online para penhora de contas bancárias, bloqueio de valores financeiros das empresas, o que pode causar prejuízos especialmente para os negócios de pequeno e médio porte. AE – Esse processo de modernização da Justiça é recente? Leonardo – A informatização do processo, os ofícios online e a interligação da Justiça com outros órgãos, como Detran, Receita Federal e Banco Central, começou há cerca de dois anos. No início, isso era pouco usado, mas hoje é corriqueiro. O maior drama do empresário é seu bloqueio bancário. Antigamente, a Justiça podia não ter o aparato para executar o devedor, mas hoje conta com o ofício online e os convênios, o que ampliou as possibilidades de execução e deixou o processo muito mais rápido. O empresário já começou a sentir no bolso essa rapidez. Outra novidade é que as ações ficaram mais complexas e envolvem valores maiores, daí a necessidade de ter uma assessoria específica nessa área do direito. AE – Como é a relação entre o escritó-

rio e a empresa? Leonardo – A tendência do mercado hoje é buscar escritórios especializados, de menor porte, com uma equipe especializada em determinada matéria. Acredito que escritórios buscam ser parceiros, deixando de ser um centro de custo das empresas, e mostram que uma atuação preventiva nessa área pode evitar demandas futuras. Se não evitar, ao menos a empresa estará bem apoiada para se defender. AE – Por que as ações trabalhistas estão mais complexas?

Leonardo – Em parte por causa do aprimoramento dos advogados. As ações envolvem uma gama maior de pedidos e maior volume em termos de valores. As relações de trabalho evoluíram muito, e hoje temos vários tipos de disputa, que incluem, por exemplo, danos morais, ou doença profissional.

regras, ou o Estado poderia instituir regras mínimas para tal relação. Mas seria importante permitir que as partes definam alguns aspectos do contrato. Como tudo na vida, o meio-termo e um pouco de regulamentação não podem ser descartados. Mas o papel do Estado não deve ser de intervenção absoluta.

AE – E a questão dos contratos de trabalho fora da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), como pessoa jurídica? Leonardo – A legislação brasileira impõe custos muito altos para a formalização do emprego. Já passou a hora de vir uma legislação para regular esse tipo de situação. A lei atual é muito rigorosa com o empregador. Heraldo – Um empregado com registro em carteira custa o dobro do seu salário para a empresa empregadora, quando se consideram os gastos indiretos com a

AE – Quais são os outros aspectos trabalhistas mais recorrentes nas disputas judiciais atualmente? Leonardo – As disputas vêm em ondas. Teve a onda das horas extras, depois a do assédio moral, e, agora, a da doença profissional. Esta é a bola da vez. Uma vez ciente dessas ondas, o empresário deve melhorar sua relação de trabalho, orientando seus gestores. Heraldo – No caso da doença profissional, a prevenção da segurança do trabalho é importantíssima, tendo em vista a integridade física. Hoje há muitos processos postulando indenizações altíssimas por acidentes do trabalho que poderiam ter sido evitados. Foi-se o tempo em que o empresário podia não se preocupar, porque a condenação não afetaria o caixa da empresa. Hoje a Justiça do Trabalho se agigantou em termos de importância dentro das instituições.

“Os custos

trabalhistas espantam novos investimentos no Brasil” Leonardo Jubilut, advogado

existência do contrato. Outra questão é que a CLT não distingue os trabalhadores, e alguns podem desejar maior liberdade no contrato de prestação de serviços. Está na hora de alguém agraciar esse tipo de vontade das partes e regulamentar o relacionamento entre a PJ (pessoa jurídica) e as empresas. Precisa ser criado um caminho intermediário, pois hoje o trabalhador ou é CLT ou fica à margem da legislação, sem nenhuma proteção. AE – Qual seria uma solução intermediária para o problema? Leonardo – Existe hoje esse debate, com a possibilidade de proporcionar às partes uma margem para que se criem

AE – Como os altos custos trabalhistas afetam os negócios das empresas? Leonardo – O custo espanta novos investimentos no Brasil. A legislação veio para proteger o trabalhador, mas gera o efeito contrário, pois apenas cerca de 30% a 40% dos trabalhadores no país são registrados. A reforma trabalhista seria uma forma de atacar esse problema de frente, mas não se vê nada de concreto em andamento. Heraldo – A informalidade ainda provoca uma série de dissabores. Um lado não quer ser descontado, o outro não quer pagar muito. A informalidade não é boa para ninguém. Se houver um lado sem proteção, o outro também fica desprotegido, e o Estado fica sem seu tributo. É preciso achar um meio-termo, uma forma de proteger a todos.

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Conta corrente do outro lado da linha A América Latina ainda estuda como aumentar o nível de bancarização com a ajuda dos aparelhos celulares David Santa Cruz, da Cidade do México

Ilustração: Túlio Fagim

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arquipélago filipino tem pouco mais de 95 milhões de habitantes e é composto de 7.107 ilhas. Muitos trâmites, como pagar a conta de telefone, luz ou enviar dinheiro à família, implicam viajar a noite inteira em uma balsa para chegar aos locais onde há uma agência bancária. A outra solução são os coletores, personagens singulares que vão de ilha em ilha recolhendo faturas e dinheiro para levar até os bancos. Em 2006, houve uma mudança importante nesse cenário, e que poderia representar o fim dos coletores como ocupação remunerada. A empresa de telefonia móvel dominante do país transformou os celulares em plataformas de pagamento, ao custo de uma mensagem de texto e sem a necessidade de abertura de uma conta bancária. Hoje, são realizadas nas Filipinas, o 12º país em número de habitantes do mundo, mais de 150 milhões de transações móveis por ano, incluindo transfe-

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rências bancárias, pagamentos de serviços e entrega de subsídios à população carente. Do outro lado do Pacífico, o México estuda fazer algo semelhante. Seria uma solução lógica, dada a frequência com que os beneficiários ou pagadores são assaltados. “O dinheiro eletrônico é uma oportunidade de incluir financeiramente essa parcela da população com uma boa relação custo-benefício”, explica Nestor A. Espenilla Jr., diretor-adjunto do Banco Central das Filipinas. O desafio atual para o país asiático, um dos pioneiros nesse sistema, é aumentar a utilização na zona rural. Aproximadamente 40% dos cerca de 1,5 mil municípios não têm agência bancária. Quase todos os filipinos, por outro lado, possuem um celular. Uma das receitas para que esse sistema tenha tanto sucesso é que, longe do que se poderia imaginar, não é complicado de operar nem “arriscado”, como explicam seus defensores. Carregar dinheiro é tão fácil como comprar créditos

Quênia e Filipinas têm experiências positivas com o uso da telefonia móvel por pessoas de baixa renda em um cartão pré-pago. As transferências são processadas por meio de SMS (mensagem de texto), e não é preciso ter conta em banco. De fato, os depósitos são feitos para um número telefônico, o que reduz a possibilidade de enviar dinheiro a um desconhecido por engano. Isso é possível porque os chips dos telefones celulares são idênticos aos dos cartões de crédito: basta incluir uma senha, e tudo está resolvido. “Você tem uma conta com a operadora móvel [telefônica], mas todo o dinheiro que está nessas contas, por sua vez, é depositado em uma conta bancária”, explica o consultor espanhol Ignacio Mas, um dos defensores da propagação do banco móvel. “O banco emite uma única conta, e a operadora móvel a distribui em 15 milhões de contas. No final, você tem a proteção bancária, porque o investimento desses recursos é feito por um banco com todas as regulações governamentais.” O maior sucesso O PIB (Produto Interno Bruto) per capita do Quênia é de US$ 1.600, um dos 40 mais baixos do planeta. Dois terços de seu território são áridos, o desemprego ronda os 40% e metade de sua população está abaixo da linha da pobreza. Sobre bancarização, há pouco a se falar. Justamente por esse motivo, é terreno ideal para o banco móvel: quase metade da população possui telefone celular. De fato, em agosto de 2011, 16 milhões de celulares fizeram pagamentos de serviços públicos, cerca de US$ 1,2 bilhão em valores movimentados, explica o profes-

sor Njuguna Ndung’u, diretor do Banco Central do Quênia. “O banco móvel nos permite gerar uma economia de US$ 3 por operação. Se levarmos em conta que temos um grande volume de operações mensais, isso leva a uma economia significativa para a população pobre”, explica Stephen Mwaura, diretor do Sistema Nacional de Pagamentos do Banco Central do Quênia. “Não se trata apenas de economia de dinheiro, mas também de tempo e qualidade de vida.” Como no caso filipino, a população rural do Quênia não precisa mais percorrer longas distâncias pelo deserto para realizar operações nem para receber doações ou apoio monetário da comunidade internacional, algo crítico em um país exposto a secas e outros tipos de desastres climáticos. No entanto, apesar do crescimento desse tipo de transação nos países emergentes e em desenvolvimento, ainda resta uma lacuna enorme a ser preenchida. “A vantagem do dinheiro eletrônico é que custa a mesma coisa transferir um ou mil”, afirma Ignacio Mas. A América chama O ponto fraco do banco móvel está na interoperabilidade das redes celulares (interconexão e portabilidade). Muitos países da América Latina decidiram adotar políticas públicas para estabelecer, por um lado, uma regulamentação clara que dê ao sistema uma boa relação custo-benefício e, por outro, que sejam os bancos, e não apenas as telefônicas, a encabeçar o esforço. “Na Guatemala, os bancos e as empresas de telecomunicações não querem lançar seus produtos até que se adote uma norma”, explica Ricardo Estrada, especialista em regulamentação da Superintendência de Bancos da Guatemala. Para isso, o executivo contou com o apoio da AFI (Alliance for Financial Inclusion), uma rede de elaboração de políticas de países emergentes e em desenvolvimento, com sede na Tailândia, cujo objetivo é compartilhar experiências e desenvolver iniciativas que promovam Janeiro, 2012 AméricaEconomia 79

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No Brasil, ainda há muito a ser feito Paula Pacheco, de São Paulo

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a inclusão financeira. A nova regra guatemalteca entrou em vigor em novembro e não incluiu a questão da interoperabilidade, dado que os próprios atores do mercado “já estavam entrando em acordo sobre isso”, segundo Estrada. No caso do México, decidiu-se começar com a criação de correspondentes bancários, conceito amplamente difundido no Brasil. “O principal não é o celular, mas o canal de lojas. Se não tenho como converter o caixa em dinheiro eletrônico, não me adianta nada”, explica Ignacio Mas. “São necessários estabelecimentos com alto fluxo de dinheiro, em que as pessoas se sintam benvindas, coisa que nem sempre acontece nos bancos.” Segundo o especialista espanhol, essa é uma das razões pelas quais as empresas de telecomunicações avançaram mais na questão. Elas entendem o modelo de distribuição varejista melhor que os bancos. No México, a ideia é exatamente que os bancos participem ativamente da expansão das plataformas móveis. É por isso que a CNBV (Comissão Nacional Bancária e de Valores) começou a promover a abertura simplificada de contas, como explica Guillermo Babatz, presidente da instituição. Outro requisito imposto às empresas para lançar esses serviços

bancarização da população ainda traz desafios para o sistema financeiro. Entre os fatores que influenciam nesse cenário de dificuldade para o aumento mais rápido da base de clientes está a cultura ainda recente sobre o papel dos bancos na vida das pessoas e o aumento da regulação e das taxas sobre os bancos – resultado, em boa parte, da crise financeira internacional. Mas não falta vontade do setor financeiro de crescer nesse segmento, principalmente nos países latino-americanos. “Enquanto os mercados maduros não crescem, há um mundo diferente na América Latina, que não para de se expandir”, afirmou José Antonio Álvarez, diretor financeiro do Santander, em evento para jornalistas realizado recentemente na Espanha. O Brasil, com uma das mais baixas taxas de bancarização da região, desponta como uma das apostas. Segundo pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada há um ano, o acesso dos brasileiros aos bancos acelerou nos últimos cinco anos. Passou de apenas 16,1% em 2005 para 60,5% em 2010, o equivalente, na época, a cerca de 115 milhões de pessoas. Ricardo Villela Marino, vice-presidente do Itaú Unibanco para a Amé-

foi exatamente o da interconexão: “Esse sistema funciona apenas se for massivo e de redes”, explica Babatz, cujo país foi o anfitrião da mais recente reunião anual da AFI. Na conclusão de Alfred Hannig, diretor-executivo do órgão, cada região criou seu modelo de inclusão próprio e ade-

rica Latina e ex-presidente da Felaban (Federação Latino-Americana de Bancos), explica que a relação entre crédito e PIB (Produto Interno Bruto) aumentou expressivamente no Brasil. Em 2002, o crédito respondia por 25% do PIB. Em 2010, 48%. Para ele, a bancarização deve avançar principalmente no crédito imobiliário, que, atualmente, representa apenas 4% do Produto Interno Bruto, enquanto no Chile, país vizinho, chega a 70%. As tecnologias bancárias móveis, como os celulares, podem ajudar na expansão dos serviços, mas ainda estão longe da popularização, como mostrou estudo do World Economic Forum, divulgado em maio de 2011. Segundo o levantamento, é preciso aumentar a competição entre os bancos e ampliar a educação financeira entre a população. Recentemente, o Brasil deu um passo rumo ao avanço das tecnologias bancárias. Em dezembro, a Caixa Econômica Federal lançou um projeto-piloto no Conjunto Palmeira, em Fortaleza, onde vivem cerca de 1 mil pessoas. O programa prevê o uso de celulares para o pagamento de compras. A estimativa do banco é que, nos primeiros seis meses de projeto, cada cliente realize em torno de 30 transações por meio do celular.

quado à sua realidade. “A América do Sul adotou o desenvolvimento de correspondentes bancários; a Ásia, os sistemas de pagamentos móveis; e a África, as microfinanceiras. A América Latina está dando passos importantes para incluir em suas carteiras o Banco Móvel”, afirma.

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OPINIÃO

Luiz Fernando Furlan foi ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

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emos visto muitas mudanças no Brasil nos últimos anos, principalmente econômicas e sociais. Mas, infelizmente, há situações que não mudam. Uma delas é que o Brasil continua a ser o país dos diagnósticos. Não há o compromisso de entregar resultados. Cada governo, cada ministro, cada secretário que assume vem com ideias, projetos e debates travestidos de um tom novidadeiro. Contratam-se consultorias, são promovidos seminários, mas as conclusões gerais são sempre muito parecidas. Gastamos mais dinheiro nos “entretanto” do que nos “finalmente”. Esse retrato é muito diferente do que se vê no setor privado. A falta de resultados é penalizada rapidamente. Em uma empresa, se um gerente não funciona, ele é substituído em um curto espaço de tempo. O mercado de capitais também reflete isso, com a queda do preço de suas ações. Já o setor público, em geral, induz o mercado a expectativas e, mesmo sem sair do lugar, acaba não sofrendo penalidades. Nas diferentes esferas de governo, nada acontece se uma meta,

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definida depois de um diagnóstico, não é cumprida. Se fosse em uma empresa, seria preto no branco. Algumas iniciativas pontuais mostram, no entanto, que é possível tirar o país do plano exclusivo dos diagnósticos e adotar um modelo gerencial. É uma área à qual se dedicam figuras como Jorge Gerdau e Vicente Falconi. É possível ver mudanças em alguns estados e municípios. Com uma nova forma de gerir o Estado, vários indicadores apresentaram melhorias. Mas, na maioria dos casos, a realidade é outra. Estudos comprovam que o que se entrega de serviço é desproporcional ao que é gasto. Comparado a outros países, o número de funcionários públicos no Brasil em relação à população deixa evidente o espaço que existe para o aumento da eficiência. Outra forma de medir tal eficiência é comparar o quanto é gasto no objetivo final em relação ao que se perde com a burocracia. Na Fundação Amazonas, por exemplo, decidiu-se que, no mínimo, 70% do orçamento deve ser destinado às atividades-fim. É uma maneira de restringir os gastos com as atividades-meio e a burocracia. O fato é que o brasileiro tolera a ineficiência. Ao mesmo tempo, sensibiliza-se diante do que dá certo. É o caso do Inmetro, do Corpo de Bombeiros, que têm suas atividades bem avaliadas. Não se pode passar um mandato à base de formulação de diagnósticos. É preciso diagnosticar, executar e seguir adiante, sem interrupções, ao sabor da mudança de direção do vento. O fato de ser um país abençoado faz com que a índole brasileira seja tolerante e não tenha senso de urgência. Em países que

enfrentam algum tipo de obstáculo, o comportamento é bem diferente. É aí que mora o perigo, porque outros andam com mais velocidade do que nós, o que diminui nossa vantagem relativa. Aqui, se não fizer hoje se faz amanhã. Sobram exemplos. O Rodoanel de São Paulo começou com Mario Covas, e, ao todo, vai levar mais de 20 anos para ficar pronto. O mesmo aconteceu com o trem-bala, em discussão há pelo menos 10 anos. Seria uma obra para a Copa do Mundo, mas agora não dá mais tempo. A agenda da competitividade tem de ser prioritária. A meta deve ser fazer melhor com os mesmos recursos ou fazer mais com menos. Isso será possível, por exemplo, quando se identificarem no país as melhores práticas e elas forem replicadas em outras áreas. Quando isso acontecer, a melhoria da eficiência será monumental e já há, no setor público, bons exemplos disso. A presidente Dilma Rousseff demonstrou ter grande preocupação com o tema. Como gestora do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, ela criou um sistema de acompanhamento e medição da execução das obras, usando pessoas competentes que hoje fazem parte de sua equipe. Há no governo pessoas com sensibilidade para uma agenda de competitividade. Mas entre fazer o diagnóstico e implantar e produzir resultados há uma distância muito grande, embora a gestão, em muitos casos, dependa de metas claras e objetivos definidos, para que se possam alcançar as metas projetadas. Daí o senso de urgência. Se nada for feito, provavelmente nada acontecerá a curto e a médio prazo. Não somos um país com falta de recursos, mas um país com falta de capacidade de execução.

Ilustração: Samuel Casal

A agenda da competitividade no país dos diagnósticos

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