Nº 406 Edição Brasil

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Dezembro/2011

Eleições O Brasil tem candidato para assumir o lugar de Lula e Dilma?

Nº 406

LINGERIES Corpão de Gisele Bündchen esquenta os negócios da Hope BRASIL

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ISSN 1414-2341

No 406 DEZ/2011 R$ 10,00

Stefanini IT Solutions: o rolo-compressor da tecnologia brasileira ganha o mundo

AméricaEconomia

O NEGÓCIO BILIONÁRIO DA STEFANINI

Marco Stefanini, presidente da empresa

NEYMAR, O POP STAR Com staff de astro, jogador dá uma bica no futebol europeu e fatura alto no Brasil

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NESTA EDIÇÃO NEGÓCIOS

28 Efeito Gisele Bündchen Os planos agressivos de crescimento da Hope

Fotos: Marcela Beltrão

34 CAPA – Stefanini IT Solutions Gigante brasileira ganha o mundo

40 Câmeras digitais em alta

34

Brasil na mira das fabricantes

FINANÇAS

42 Setor aéreo EADS, pronta para crescer no país

70 Carteira recheada

46 Netshoes tipo exportação

Como ganhar dinheiro na crise

Companhia busca mercado latino

DEBATES

50 Santos & Neymar Clube investe na administração de carreiras

54 Agências do futuro

80 Afastamento de Lula O que muda nas próximas eleições

86 Telefonia móvel

Tecnologia muda a cara dos bancos

Os efeitos do celular na redução da pobreza

60 ESPECIAL FIM DE ANO

88 MBA para militares

Os fatos que marcaram 2011

Ajuda dos civis para formar altos comandos

28

90 Ciência e lucro América Latina investe nas patentes

93 Guerra fiscal nos portos Empresas criticam privilégio nas importações

94 A nova Cuba Em busca de caminhos para a sobrevivência SEÇÕES

10 Portal 12 Carta ao Leitor 14 Índice de Empresas 16 Pistas 18 Negócio Fechado

20 Movimentos 68 Opinião – Mac Margolis 75 Opinião – Caio Megale 76 Ibiz – Livros digitais 98 Opinião – Luiz Fernando Furlan

Foto de Capa: Marcela Beltrão

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PORTAL

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Sem fronteiras Os p primeiros carregamentos de etanol fornecido pela Petrobras para a produção de energia elétrica na Estação Antártica Comandante Ferraz, na Anduç tártida, começaram a chegar ao destino no início de novembro, de acordo tárt com a Petrobras Biocombustível. O etanol e o motogerador da VSE (Vale Soluções em Energia) – que vai gerar a energia à base de etanol – partiram Solu do Brasil em outubro. Com a chegada do material, terá início um programa científico que tornará o Brasil o primeiro país do mundo a utilizar biocombustível para produção de energia no continente antártico. A Petrobras com fornecerá os 350 mil litros de etanol necessários à operação e, por meio forn tecnológico, validará a utilização do combustível em de acompanhamento a condições de baixa temperatura. con

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Leia no Portal Menos fôlego

Ajuda humanitária

O Brasil caiu da sétima para a oitava posição no ranking de clima econômico da América Latina, divulgado em novembro pelo Institute for Economic Research at the University of Munich (instituto alemão IFO) e pela Fundação Getulio Vargas (FGV). O levantamento usa dados apurados para a Sondagem Econômica da América Latina, utilizados no cálculo do ICE (Índice de Clima Econômico) da região, e foi publicado no site de AméricaEconomia. No ranking, que compara o desempenho médio do ICE dos últimos quatro trimestres, o país passou de 5,8 pontos para 4,8 pontos, de julho para outubro. O Peru foi o principal destaque positivo do levantamento no período, pulando do quinto para o primeiro lugar.

A América Central precisará de mais ajuda humanitária em decorrência de catástrofes naturais. O alerta partiu da ONU (Organização das Nações Unidas) e se refere principalmente à Nicarágua e a El Salvador, que enfrentam chuva e terremotos, com vítimas em várias regiões. A subsecretária-geral para Assuntos Humanitários da ONU, Catherine Bragg, calcula que cerca de 300 mil pessoas podem ser afetadas em El Salvador e 143 mil na Nicarágua. A ONU aumentou em 22% o repasse de recursos para Nicarágua, enviando US$ 14 milhões, enquanto para El Salvador os aportes cresceram 23%, passando para US$ 15 milhões. Em outubro, os governos de El Salvador, de Honduras, da Nicarágua e da Guatemala decretaram estado de emergência em seus países.

Novos códigos para classe C A nova classe média brasileira não para de crescer e a expectativa é que essa expansão se mantenha em ritmo acelerado. De acordo com um estudo do instituto Data Popular, 58% da população pertencerá à classe C em 2014. Hoje, 54% dos brasileiros se enquadram nesse extrato social, que, segundo critérios do levantamento, reúne famílias com renda média de

R$ 2.295. “Os padrões de consumo dessa nova classe C não serão iguais aos de hoje. Há uma mudança em andamento”, avisa Wagner Sarnelli, sócio do Data Popular, especializado em pesquisas de consumo. Para o instituto, a empresa que quiser vender para esse público deve entender bem seus códigos e seus valores para conseguir se comunicar corretamente.

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CARTA AO LEITOR

Empreendedorismo e sucesso www.americaeconomiabrasil.com.br

BRASIL

PUBLISHER José Roberto Maluf CONTEÚDO Diretora de Redação: Tatiana Engelbrecht Editora Executiva: Paula Pacheco Diretor de Arte/Projeto Gráfico: Luiz Fernando Machado Repórteres: Graziele Dal-Bó e Sérgio Siscaro Editora do Site: Adriana Chaves Revisão: José Genulino Moura Ribeiro Colaborador: Vértice Translate (tradução) COMERCIALIZAÇÃO Diretor Comercial: Maurício Castro – mauricio@springcom.com.br Executivos de Contas: Nagibe José Adaime – nagibe@springcom.com.br Dora Magalhães – dora@springcom.com.br MARKETING Marcia Leonardi e Elisangela Goto ADMINISTRATIVO/FINANCEIRO Diretor Executivo: Eduardo Colturato Gerente Financeiro: Edison Arduino circulação Fatima Oliveira Pré-impressão: First Press Periodicidade: Mensal (Dezembro de 2011) CTP, impressão e acabamento: IBEP Gráfica Circulação auditada por: Spring Editora-Produtora Rua Ferreira de Araújo, 202, 7o andar – CEP: 05428-000 São Paulo/SP – Tel.: 11 3097-7666 Site: www.springcom.com.br E-mail: contato@springcom.com.br AMÉRICAECONOMÍA INTERNACIONAL Diretor: Elias Selman Carranza Vice-presidente Executiva: Gloria Landabur C. Diretor Editorial: Felipe Aldunate M. Editores: Fernando Chevarría (Lima), Juan Pablo Rioseco e Carlos Tromben (Santiago), Karen Correa e Pamela Velasco (Guaiaquil) Diretor de Arte: Álvaro Araya Urquiza Editor de Fotografia: Miguel Candia Chefe de Operações: Matías Agurto AméricaEconomÍa Intelligence (Estudos e Projetos Especiais) Diretor: Jaime Contreras Soria Pesquisador Sênior: Andrés Almeida Analista: Catherine Lacourt e Rodrigo Dorn Pesquisador Especial de Cidades: Marco Ceballos AméricaEconomia.com Diretor de Estratégia Digital: Rodrigo Guaiquil Editor: Lino Solis de Ovando Escritórios Buenos Aires: +5411 4383-8410 Cidade do México: +5255 5254-2400 Costa Rica: +506 225-6861 Lima: +511 610-7272 Miami: +305 648-9071 Panamá: +507 271-5327 Santiago: +562 290-9400 Uruguai: +5982 901-9052 Chairman: Robert R. Paradise

m um cenário econômico de incertezas, principalmente quando olhamos para a situação dos maiores países do mundo, é sempre reconfortante conhecer histórias de sucesso e ideias inovadoras no mundo dos negócios. Sabemos que o Brasil está repleto delas, afinal não faltam empresários arrojados em nosso país. Com muito trabalho e uma boa dose de planejamento, eles vêm conseguindo vencer e ir além de nossas fronteiras em um ambiente competitivo e repleto de desafios como o brasileiro. Nesta edição de AméricaEconomia, mostramos algumas dessas histórias, começando por nossa reportagem de capa, que destaca a trajetória de Marco Stefanini, fundador e presidente da Stefanini IT Solutions. Geólogo por formação, Marco Stefanini decidiu, há pouco mais de 20 anos, deixar os minérios de lado para fundar aquela que é hoje a empresa de TI de maior destaque no cenário nacional. Presente em 27 países e com um faturamento que já ultrapassa R$ 1 bilhão por ano, a Stefanini tem planos audaciosos para os próximos anos e já anunciou um pacote de investimentos milionário para dar sequência à estratégia de aquisições dentro e fora do Brasil. Outra empresa que vem chamando atenção em nosso mercado é a Hope. Fizemos um mergulho na essência da fabricante de lingeries, que pretende quadruplicar o número de franquias da marca até 2014, para descobrir quais são seus segredos de sucesso, além, é claro, de contar com a bela top Gisele Bündchen como garota-propaganda. Embora ainda jovem no Brasil, o setor de e-commerce também já tem casos de sucesso dignos de nota. Neste número, você descobre como a Netshoes conseguiu, em apenas dez anos de atuação, passar de uma tímida loja de sapatos no centro da capital paulista a um verdadeiro conglomerado de lojas virtuais de esporte que promete tomar conta da América Latina nos próximos anos. Os caminhos de Cuba para garantir sua sobrevivência e romper o isolamento; o que pode mudar nas próximas eleições com o afastamento temporário de Lula; os fatos mais marcantes da América Latina em 2011; dicas preciosas para fazer o dinheiro render mais em época de crise e a jogada de mestre do atacante Neymar para ficar no Brasil e faturar alto são outros temas desta edição. Boa leitura, um Feliz Natal e que 2012 traga muitas realizações.

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José Roberto Maluf

ASSINATURAS Central de Atendimento Tel.: 55 11 3512-9492, de 2a a 6a feira, das 9h às 18h. Site: www.assineamericaeconomia.com.br. Atendimento: www. assineamericaeconomia.com.br/faleconosco. Cartas: Rua Ferreira de Araújo, 202 – 12o andar – CEP 05428-000 – São Paulo/SP Valores de assinatura: Por 1 ano: R$ 96,00 / Por 2 anos: R$ 170,90 Pagos em até 5x no cartão de crédito ou em até 3x no boleto bancário (preço válido para as vendas realizadas pela Central de Atendimento e pelo website da revista). Exemplares anteriores: solicite diretamente ao jornaleiro. Em caso de descontinuação da publicação, a Spring Editora-Produtora LTDA. garante aos assinantes desta publicação a restituição, em reais, da parte do valor já pago correspondente aos exemplares não entregues, devidamente corrigida monetariamente. Ao fazer sua assinatura, exija a credencial do vendedor e pague sempre com cheque nominal, mediante recebimento da primeira via de nosso pedido de assinatura.

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ÍNDICE DE EMPRESAS

Os números referem-se à primeira vez em que as empresas são citadas em cada reportagem.

A

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C

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A.T.Kearney 77 Aché Laboratórios Farmacêuticos 91 Adidas 47 AEI 62 AeroGal 43 Aidar SBZ Advogados 25 Airbus 42 Alcoa 35, 93 Aleadri-Schinni 16 Alenia Aeronáutica 43 Amazon 76 Ambev 50, 72 Apple 21 Arcos Dourados 63 Asia Pulp & Paper 16 Astrium 42 ATR 43 AviancaTaca 43 B2W 47 Banco do Brasil 59 Banco Falabella 56, 62 Bank of Nova Scotia 66 Banorte 62 Barnes & Noble 77 Baruel 50 Baskem 93 BayTSP 24 BM&FBovespa 22, 23 Boeing 43 Box 1824 21 Bradesco 35, 56, 59 Braskem 20 BRMalls 72 Burger King 64 Buscapé 24 By Tennis 48 C.E.S.A.R. 36 Caixa Econômica Federal 20, 59 Cálidda 62 Campus Elsevier 77 Canon 41 Carlyle 31 Cassidian 42 Caterpillar 35 Cathay 16 Cencosud 67 Chiavassa & Chiavassa 20 Chilquinta 62 Cielo 72 Cifunsa Diesel 24 Cisco 55 Citibank 55 Claro 50 Coca-Cola 35 Colpatria 66 Companhia das Letras 77 comStore 47 Converteam 18 CXI 36 DataWind 76 Dell 35 Diebold Brasil 59 Dimension Data 23 DuPont 20 EADS 42 e-bit 47

Fale com a redação: Envie sugestões e comentários para a revista AméricaEconomia Brasil:

americaeconomia@springcom.com.br

Ecopetrol 65 Editora Globo 77 Eletric Machinery 18 Embraer 35 Eni 62 Ernst & Young Terco 22 F Eurocopter 42 Facebook 31, 55 FGV 89 FIA 30 Finmeccanica 43 Finnet 59 Folle Indústria de Implementos Rodoviários 18 Ford 35, 86 41 G Fujifilm Galp 62 Gartner 55 Gato Sabido 77 GE Energy 18 GE 35 Gerdau 35 GfK Retail and Technology 40 Giovanni+Draftfcb 29 GlaxoSmithKlein 50 Global Housing 20 Gol 65 Google 77 Grupo Abril 22, 24 Grupo Bettencourt 30 Grupo de Energía de Bogotá 62 Grupo Gloria 66 Grupo Industrial Saltillo 24 Grupo Suramericana 65 H Habib’s 22 Helibras 42 Hering 72 Holding Grupo Azucarera EQ2 66 Hope 29 HRT 18 HSBC 59 I I&T 36 IBM 37, 55 Icare 89 ICBC 64 IEDB 40 ING Group 65 IPT 20 Irdeto 24 Itaú Unibanco 59 Itautec 58 Iusacell 63 IXE 62 39 J JBS-Friboi Johnson & Johnson 35 16 K Kirin 43 L LAN Latam 43 Lecca 72 Leica 41 LG 59 Livraria Cultura 78 Louis Vuitton 16 Lupo 50 22 M Magazine Luiza McDonald’s 63 Melhoramentos 77 MercadoLivre 23 Microsoft 55 Money Fit 70 Motorola 21, 35

Naspers 24 Netflix 24 Netshoes 46 Nike 47, 50 Nikon 40 NTT 23 Olympus 41 Owens-Illinois 22 P&G 16 P Pan American Energy 67 Panasonic 41, 50 Pão de Açúcar 35 Paranapanema 93 Per Scriptum Consultoria Editorial 79 Petrobras 35, 62, 72 Portugal Telecom SGPS 63 Positivo 79 Prezunic 67 Promigas 62 Puma 47 R Randon 18 Red Bull 50 Redecard 72 Repsol-YPF 67 Rico 72 S Samsung 16, 41 Sanovi-Aventis 91 Santander 50, 59, 62 SAP 37 Saraiva 77 SBF 48 Scalina 31 Schincariol 16 Scotia Bank 62 Silanes 90 Sony 40, 76 Standard Bank 64 Stefanini IT Solutions 34 Sunrising 37 Swift 59 T TAM 43 Technocast 24 TechTeam Global 37 Telefônica 35, 86 Telemar Norte Leste 63 Televisa 63 Tendências 24 The Guardian 87 Tiger Global 47 TNK 18 TOA Technologies 20 Trevisan 52 TRIP Linhas Aéreas 43 Tupy 24 Twitter 31, 55 U Ubifrance 25 Umbro 52 Unifei 44 Unilever 16, 35 Universidade Adolfo Ibánez 89 Universidade Eafit 89 V Vale 72 Vanguard 36 Vinci Partners 64 Volkswagen 62 W Webjet 65 Wharton School of Management 89 X Xeriph 77 Z Zurich Financial Services 62 N

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PISTAS

Japonesa fica com a Schin PUBLICAMOS No início de agosto, a Kirin pagou R$ 3,95 bilhões (ou US$ 2,57 bilhões) pela Aleadri-Schinni Participações e Representações, dos irmãos Adriano e Alexandre Schincariol, detentora de 50,45% da fabricante de bebidas. (“Risco de Ressaca”, AméricaEconomia, nº 403, setembro 2011)

O NOVO Foto: Shutterstock

A Kirin anunciou, no início de novembro, a compra do restante das ações da Schincariol por R$ 2,3 bilhões. O negócio foi fechado com os irmãos Gilberto, José Augusto e Daniela Schincariol, que detinham 49,54% das ações. Segundo a cervejaria japonesa, o valor pago por 100% das ações da cervejaria brasileira, cerca de R$ 6,2 bilhões, é razoável perto do potencial de crescimento do mercado nacional de cerveja.

Louis Vuitton cresce no Brasil PUBLICAMOS Baseado no terreno fértil que o Brasil oferece, com o consumo interno aquecido, o apetite de companhias voltadas ao segmento de luxo no mercado latino-americano, e em especial no brasileiro, ganhou mais força nos últimos anos. (“Clube do Milhão”, AméricaEconomia, nº 402, agosto 2011)

O NOVO A grife francesa Louis Vuitton é uma das marcas que estão de olho no mercado consumidor brasileiro. A companhia anunciou que vai abrir mais três lojas da marca no país em 2012. Com as inaugurações, a rede passará a ter nove unidades no Brasil. As lojas serão abertas no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo; no shopping Village Mall, no Rio de Janeiro; e em Curitiba, no shopping Pátio Batel.

Problemas na indústria de papel PUBLICAMOS As dificuldades impostas à compra de terras brasileiras por estrangeiros, a disputa com fabricantes locais e a novela do Código Florestal fizeram a Cathay, subsidiária da APP (Asia Pulp & Paper), uma das maiores produtoras de papel e celulose do mundo, adiar os planos de construir uma fábrica de celulose no país. (“Planos Só no Papel”, AméricaEconomia, nº 404, outubro 2011) O NOVO Segundo o jornal Folha de S.Paulo, a indústria papeleira da China prepara uma denúncia de dumping contra as fábricas de celulose do Brasil. A indústria nacional é acusada de adotar preços menores na China do que os praticados no Brasil.

P&G avança na produção PUBLICAMOS Depois de pouco mais de duas décadas no país, a P&G vem conseguindo expandir seus negócios por aqui e mostrar que pode de fato rivalizar com outra gigante do setor de higiene e limpeza, a Unilever. A P&G multiplicou por sete sua receita no país na última década. O desafio para os próximos anos é bem mais difícil: dobrar o tamanho da operação brasileira até 2015. (“P&G Vira Gente Grande”, AméricaEconomia, nº 404, outubro 2011)

O NOVO A P&G vai dobrar a área construída da fábrica em Manaus, onde produz itens das marcas Gillette e Oral-B. Para isso, a companhia comprou o centro de distribuição da Samsung. Além disso, a P&G vai expandir a fábrica de Louveira (SP), cidade em que fabrica as fraldas Pampers, os absorventes Always, a pomada Hipoglós e o xarope Vick.

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O projeto Destinos de Verão foi criado para atender marcas com produtos sazonais e que priorizam suas campanhas no verão. Durante os três meses do projeto, as campanhas realizadas a bordo das aeronaves TRIP poderão atingir cerca de 1 milhão de passageiros que prezam pelo conforto e serviço diferenciado da companhia. Período: Dezembro de 2011, Janeiro e Fevereiro de 2012 Voos operados para os seguintes destinos: Florianópolis Aracajú Ilhéus Porto Seguro Vitória Campos – RJ Macaé – RJ Cabo Frio – RJ

Rio de Janeiro Fernando de Noronha Salvador Recife São Luís Maceió Natal Belém

MÍDIAS: Revista VOE

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NEGÓCIO FECHADO HRT

Negócio de US$ 1 bi com a TNK A petrolífera brasileira HRT anunciou um acordo para vender 45% de seus direitos de exploração na Bacia do Solimões, no Pará, à anglo-russa TNK. O valor da transação é de US$ 1 bilhão. De acordo com comunicado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), o acordo envolve direitos de concessão sobre 21 blocos da bacia. A HRT terá, ainda, direito a pagamentos adicionais, como o reembolso de custos passados e pagamentos futuros de 0,73 dólar por barril de petróleo, para cada unidade acima de 500 milhões de barris de óleo equivalente. Com isso, o potencial desse pagamento é de US$ 5 bilhões ao longo de dez anos. VALOR: US$ 1 bilhão

RANDON

A Randon fechou negócio para adquirir a empresa Folle Indústria de Implementos Rodoviários, de Chapecó (SC), fabricante de semirreboques. O acordo, de R$ 23 milhões, faz parte da estratégia de crescimento da Randon, que pretende duplicar seu faturamento em cinco anos. VALOR: R$ 23 milhões

WEG

Fotos: Shutterstock

Expansão catarinense

Aquisição da GE A Weg assinou um acordo com a GE Energy para comprar a unidade Electric Machinery (EM), da Converteam. O negócio será concluído até o final de 2011 e está sujeito à aprovação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Os termos financeiros não foram anunciados. A unidade Electric Machinery, fundada em 1891 e baseada em Mineápolis (EUA), desenvolve e fabrica motores e geradores que são fornecidos principalmente aos mercados globais de petróleo e gás e de geração de energia. VALOR: Não divulgado

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MOVIMENTOS

Lego pronto para o Minha Casa va 90 dias para ficar pronta, no caso das paredes de PVC são necessários apenas sete. A tecnologia já é usada no Brasil e exportada para Chile (na época dos terremotos de 2010), Cuba, Venezuela, Bolívia, Angola e Haiti, onde foi usada na construção de moradias para a população sem-teto. Atualmente, a linha de produção tem condições de montar 5 mil moradias por ano. Mas Gandolfo espera chegar a 40 mil unidades habitacionais, por meio de parcerias. “Conversamos com vários possíveis parceiros investidores para instalar plantas em outras regiões do país. Basta transportarmos a resina, e, depois, a fabricação é descentralizada”, explica. Por enquanto, o aval do IPT é apenas para casas de dois pavimentos, mas a Global Housing já entrou com um pedido de certificação para imóveis de até quatro pavimentos.

Tempo é

(perda de)

dinheiro

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A Global Housing, em parceria com a DuPont e a Braskem, conseguiu mais uma certificação, desta vez do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), para o uso da tecnologia das paredes de PVC na construção civil. Era o que faltava para que a empresa pudesse submeter o projeto à Caixa Econômica Federal e procurar construtoras que têm obras no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. As paredes saem prontas de fábrica, de acordo com cada projeto. No canteiro de obras, são preenchidas com concreto e montadas como um Lego. Assim, segundo Roberto Gandolfo, sócio da empresa, evitam um desperdício de até 80% em material de construção. A economia no preço da obra chega a ser de até 15%, promete o fabricante. Além disso, enquanto uma construção tradicional, com formas de concreto, le-

Quem nunca teve problemas com um serviço que contratou e não foi realizado no prazo combinado? Um estudo da TOA Technologies aponta que os brasileiros perdem, em média, R$ 505, ou três dias de trabalho, na espera por serviços em domicílio, como reparos em TV a cabo, internet, telefone e entrega de móveis. Na avaliação de Rosana Chiavassa, sócia do Chiavassa & Chiavassa, escritório especializado em direito do consumidor, o setor de serviços é o que apresenta mais problemas no que se refere ao atendimento ao cliente. “É um caos total”, define a advogada. Rosana defende a criação de uma lei para punir quem não cumpre o prazo de atendimento, na forma de pagamento de indenização. Ela afirma, porém, que o consumidor também tem sua parcela de culpa. “O brasileiro é muito resignado, ao contrário do americano ou do europeu. Então, criou-se a ideia no mundo empresarial de só resolver o problema quando alguém ‘grita’”. Enquanto essa cultura não muda, o brasileiro continua perdendo tempo e dinheiro.

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Cidades digitais Dar agilidade a serviços de saúde, segurança e educação tendo a tecnologia como aliada é um importante desafio para a América Latina. E, no quesito segurança pública, São Paulo e Cidade do México tomaram a dianteira. As duas cidades lideram a implementação de iniciativas de digitalização nesse setor na categoria metrópoles, segundo o Ranking Motorola de Cidades Digitais 2011. Elas foram eleitas entre 220 municípios latino-americanos inscritos na pesquisa. Esta é a segunda edição do estudo. Em 2010, quando o levantamento ainda não era dividido em categorias, São Paulo levou o título de cidade mais digital da América Latina. Apesar do protagonismo brasileiro, o país ainda tem um longo caminho pela frente. “Dos 5.564 municípios brasileiros, apenas 500 têm iniciativas de cidade digital”, afirma Joeval Martins, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Motorola Solutions. Segundo ele, um dos grandes entraves é a baixa qualidade da banda larga oferecida no Brasil, muito lenta para suportar a digitalização dos processos.

Fotos: Shutterstock

Jovens querem menos consumismo A indústria da moda é uma das menos antenadas às mudanças de perfil do jovem consumidor de alto poder aquisitivo. A avaliação é de Rony Rodrigues, sócio-fundador da consultoria Box 1824, e foi apresentada durante o maior evento mundial de luxo, Hot Luxury, realizado em novembro, em São Paulo. Segundo o especialista no mercado de luxo para jovens, esse público vem mudando de comportamento ao valorizar mais o consumo por necessidade do que o mero consumis-

mo. “O consumismo é cada vez mais malvisto. A palavra “excesso”, aos poucos, começa a dar lugar à “necessidade”. Os jovens já começaram a perceber isso, e a indústria da tecnologia é a que tem acompanhado essa tendência mais de perto”, diz. Rodrigues cita o exemplo da Apple, “que antecipa o novo, enxerga o futuro”. “Um computador da Apple antecipa as necessidades, dura muito e pode ser passado adiante para que outra pessoa utilize”, exemplifica.

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MOVIMENTOS

Mais vidro, mais reciclagem verter esse quadro. Para isso, lançou recentemente a campanha Vidro é Vida, com o objetivo de mostrar as vantagens de se utilizar esse tipo de embalagem – como a possibilidade de reciclagem maior em comparação a outros materiais. Com ações em revistas e portais, a primeira fase da campanha é voltada para o mundo empresarial. “No ano que vem, queremos levar essa mensagem ao consumidor final”, afirma Mariana Ceruti, gerente de Comunicação da empresa.

Foto: Shutterstock

Considerado referência na reciclagem de alumínio entre os países onde a atividade não é obrigatória, o Brasil ainda tem um índice baixo de reaproveitamento do vidro na comparação com algumas regiões da Europa. Enquanto 47% do vidro utilizado no país vai para a reciclagem, na Finlândia esse percentual chega a 80% e, na Áustria, a 90%. A Owens-Illinois, maior fabricante de embalagens de vidro do mundo, com faturamento global de US$ 6,6 bilhões em 2010, quer re-

Esperando a poeira baixar

Fórum de Empreendedores

As turbulências nos mercados têm tornado as empresas mais cautelosas – e afetado o volume de ofertas públicas iniciais, os IPOs (sigla em inglês). Recentemente, o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, avaliou que existem cerca de 45 companhias dispostas a abrir seu capital, mas que esperam um momento mais favorável. Para o sócio-líder de IPOs da Ernst & Young Terco, Paulo Sérgio Dortas, a necessidade de levantar recursos as levará a outros caminhos. “Há o mercado de private equity. E os bancos de investimentos têm sugerido alternativas, como debêntures.” Dortas salienta que algumas multinacionais estimulam as filiais brasileiras a se lançar no mercado para compensar as perdas em seu país de origem. Um estudo global da Ernst & Young mostra queda de 26% no número de IPOs entre o segundo e o terceiro trimestre, e de 57% no capital levantado, que passou para US$ 28,5 bilhões. A China realizou 31,7% das aberturas de capital no período.

Luiza Helena Trajano, presidente do Magazine Luiza, foi um dos destaques do 2º Fórum de Empreendedores, realizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais), de 18 a 20 de novembro, no Guarujá, litoral sul de São Paulo. A executiva, que também é cotada para comandar a Secretaria da Micro e Pequena Empresa – cuja criação ainda depende de aprovação do Congresso –, foi eleita a Mulher Empreendedora do Ano e falou sobre sua trajetória em palestra para 200 CEOs e empreendedores. Entre os critérios considerados para uma empresa empreendedora estão ousadia, busca constante por inovação, velocidade na tomada de decisões, capacidade de fazer acontecer, equipe alinhada e comprometida, tecnologia a serviço do cliente e ganha-ganha nas relações. Luiza ressaltou a importância de manter o contato com o consumidor e com os funcionários e contou sobre o trabalho que a empresa desenvolveu antes que o Magazine Luiza fizesse sua estreia na Bolsa de Valores. “Queríamos entrar na bolsa sem perder a alma, nosso jeito de ser.” O Fórum contou ainda com palestras dos presidentes do Grupo Abril, Fabio Barbosa; da BM&FBovespa, Edemir Pinto; da rede Habib’s, Alberto Saraiva; e do Sebrae, Luiz Barretto. O Prêmio Lide de Empreendedorismo homenageou empresários brasileiros que se destacaram em 12 categorias de empreendedorismo. “O prêmio é um reconhecimento para empresas e empresários que detêm uma forma especial, inovadora, de se dedicar às atividades de organização”, afirma João Doria Jr., presidente do Lide.

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Foto: Divulgação

Mercado promissor Atenta ao fortalecimento econômico da América Latina, a Dimension Data, empresa de tecnologia da informação sediada na África do Sul, estuda adquirir desenvolvedoras de redes e empresas que trabalhem com cloud computing na região. “Países como Brasil, Argentina e Colômbia estão em nosso radar”, afirma Sylvio Mode, vice-presidente para o mercado latino-americano. Atualmente, a América Latina representa 25% dos negócios da companhia nas Américas, cujo faturamento em 2010

somou US$ 1 bilhão. Segundo o executivo, o mercado de serviços em tecnologia movimenta US$ 22 bilhões por ano na América Latina e, ao contrário do segmento de fabricação de softwares, é um setor bastante pulverizado – o que facilita no momento da aquisição. Por trás do apetite da companhia em crescer está a gigante do setor de tecnologia NTT, dona de um faturamento de US$ 120 bilhões em 2010. A japonesa adquiriu a Dimension Data no ano passado por 2,1 bilhões de libras esterlinas.

Comércio online em alta Foto: Shutterstock

As condições são favoráveis à expansão do e-commerce no Brasil. Para a MercadoPago – empresa de pagamentos do Grupo MercadoLivre, que também atua na Argentina, no México, no Chile, na Colômbia e na Venezuela –, isso ocorre devido ao aumento de renda e ao uso da internet, além do crescente emprego do cartão de crédito. “A inclusão bancária ainda é baixa, mas tem aumentado. Por essa razão, a possibilidade de usar o MercadoPago por cartões private label ou boletos contribuirá para aumentar o volume de compras online”, afirma Marcelo Coelho, diretor da empresa. De janeiro a setembro deste ano, a empresa registrou um crescimento de 123% no número de transações, que passou para 9,6 milhões, e de 97% no valor dessas operações, que evoluiu para US$ 910 milhões. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 23

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MOVIMENTOS

A baixa competitividade da indústria brasileira de transformação, assim como sua sensibilidade maior às variações cambiais, foram os principais responsáveis pelo recuo de 2% no indicador PIM (Produção Industrial Mensal), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em setembro. De acordo com o economista da Tendências, Rafael Bacciotti, esse resultado negativo foi mais forte nos setores têxtil, de produtos eletrônicos e de vestuário – e levou a consultoria a revisar de 2% para 1% sua projeção de crescimento da produção industrial em 2011. “O resultado foi abaixo do esperado em razão tanto do aumento das importações quanto do volume moderado de exportações. Isso retirou da indústria sua capacidade competitiva. No entanto, esperamos um quadro melhor para o ano que vem, com crescimento de 3,6% na produção industrial.”

Tupy, mais próxima da América do Norte Em um mercado concentrado mundialmente, a direção da empresa de fundição Tupy decidiu expandir os negócios internacionais por meio de aquisições. Em meados de novembro, a companhia catarinense anunciou a compra de duas fundições no México – a Cifunsa Diesel e a Technocast. Ambas

Foto: Divulgação

Linha de produção da Tupy , em Santa Catarina

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são controladas pelo Grupo Industrial Saltillo. O negócio, de US$ 439 milhões, vai possibilitar que a empresa atue no segmento de blocos e cabeçotes de ferro para máquinas de mineração, de construção e agrícolas. Boa parte do pagamento será feita com recursos obtidos em instituições financeiras. No Brasil, a Tupy é voltada para o mercado de veículos comerciais. A América do Norte é o destino de 80% das exportações da operação brasileira da Tupy. Com a aquisição, a companhia brasileira aumenta sua exposição na região. “São empresas que complementam o negócio e permitem que a Tupy cresça”, diz o presidente Luiz Tarquínio Sardinha Ferro. Apesar da recente aquisição, o mercado pode esperar outros lances. “Não vamos fechar os olhos para eventuais oportunidades”, avisa.

Fotos: Shutterstock

Indústria menos competitiva Munição contra a pirataria A vida de quem gosta de tirar vantagem da pirataria começa a ficar mais difícil com a atuação cada vez maior de empresas que combatem esse tipo de crime. Responsável pelas operações na América Latina e no Caribe da Irdeto, subsidária do grupo Naspers, Giovani Henrique se mostra otimista: “No último ano, tivemos um aumento de 17% na receita. Na América Latina, a alta foi de 31%. Brasil, Argentina e México são os nossos principais mercados.” A companhia tem 60 clientes na região, onde pretende crescer 20%. Com faturamento total de US$ 247 milhões, a Irdeto detém participações no site Buscapé (91%) e no Grupo Abril (30%). No mês passado, a Irdeto adquiriu a empresa de rastreamento BayTSP. Com isso, poderá monitorar acessos indevidos a canais pagos de TV. A companhia também comprou a tecnologia para Bluray da Rovi Corporation, que dará mais segurança aos estúdios de cinema, e é responsável pela proteção ao conteúdo da Netflix.

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Papai Noel Existe ATRATIVO URUGUAIO Empresas brasileiras, ao poucos, começam a descobrir as vantagens de trocar o país pelo Uruguai. É o que constata o advogado Paulo Sigaud, especialista em direito tributário e sócio do Aidar SBZ Advogados. “A carga tributária sobre produção e folha de pagamento por aqui é muito alta e tem um peso importante no custo de produção. O Uruguai apresenta uma série de vantagens, como localização geográfica interessante, com acesso por mar e rio, custo menor para utilização dos portos, além de uma carga tributária também menor, entre 22% e 23%, ante 37% do Brasil”, lembra. Além disso, o país faz parte do Mercosul, tem um cenário político de calmaria e está bem posicionado nos rankings internacionais de países afetados pela corrupção.

França quer mais cooperação bilateral A fim de se aproximar das empresas brasileiras, a agência francesa Ubifrance promoveu, em novembro, a terceira edição do Fórum de Inovação e Tecnologia França-Brasil, em conjunto com a Câmara de Comércio França-Brasil e a companhia pública Oseo. Para o diretor-geral da Ubifrance, Christophe Lecourtier, o momento é de reconfiguração nas relações Norte-Sul. “As empresas francesas perderam o mercado que tinham na Europa. Agora, podem aproveitar as oportunidades geradas por emergentes como Brasil e Rússia. Mas isso deve ser feito por meio de parcerias efetivas, nas quais se transferirá, sem restrições, a tecnologia desenvolvida na França para as empresas brasileiras”, afirma. Lecourtier defende a necessidade de elevar as exportações de produtos com maior valor agregado por parte do Brasil, a fim de conter o avanço da China. “É a hora de o país elevar seu nível de produtividade e eficiência e se consolidar como um player global.”

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NEGÓCIOS CONSUMO

Foto: Marcela Beltrão

O libanês Nissim Hara transformou uma pequena fábrica de lingeries do Brás, em São Paulo, em uma das marcas mais conhecidas do setor no país

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A Hope na intimidade Com uma estratégia arrojada e a top Gisele Bündchen como garota-propaganda, a fabricante de moda íntima quer quadruplicar o número de franquias até 2014 Graziele Dal-Bó, de São Paulo

P

ara muitas empresas, ter uma publicidade mal interpretada ou associada a atitudes preconceituosas pode significar a perda de credibilidade e condenar o futuro de um negócio. Este, no entanto, não foi o caso da Hope. Acusada pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República de produzir conteúdo sexista em uma campanha que mostra a top model Gisele Bündchen – garota-propaganda da marca desde o ano passado – orientando mulheres a aparecer de calcinha e sutiã na hora de dar uma má notícia aos maridos, a companhia teve de dar explicações à Justiça. Nada que tivesse efeito negativo nos negócios da fabricante e varejista de lingerie. Pelo contrário. Além de o processo ter sido arquivado pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), órgão que fiscaliza o setor publicitário no Brasil, a polêmica colocou a companhia ainda mais em evidência. “Nós ganhamos milhares de ‘advogados’ nas redes sociais”, conta Sandra Chayo, diretora de Marketing da Hope e filha do fundador da empresa, o li-

banês Nissim Hara (leia mais na pág. 32). Para Benjamin Yung Jr., diretor de Criação da Giovanni+Draftfcb, agência responsável pela campanha, o que começou com uma surpresa desagradável acabou se tornando um ponto positivo. “Nós tivemos muito mais mídia do que imaginávamos e, no balanço final, de uma forma muito mais positiva.” Mas não foi só isso. Cada vez que Gisele Bündchen, um dos cachês mais altos do mundo da moda, aparece na mídia com um dos modelos da Hope, a procura de interessados em uma franquia da marca duplica. Enquanto a média é de 300 pedidos mensais, em épocas de campanha, esse número chega a 600 – ou 20 pedidos por dia. Esse aumento de interesse pelas lojas da Hope é importante no plano de negócios da empresa, que prevê quadruplicar o número de franquias até 2014. A decisão é estratégica. Segundo dados da ABF (Associação Brasileira de Franchising), esse setor movimentou cerca de R$ 75 bilhões em 2010, alcançando um crescimento de 20,4% em relação ao ano anterior. O fato de a Hope já ter uma marca consolidada ajuda nos planos de Dezembro, 2011 AméricaEconomia 29

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NEGÓCIOS CONSUMO

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receita anual de R$ 92,4 milhões – cada uma fatura R$ 110 mil por mês, segundo a companhia – e representam cerca de 30% dos negócios, uma conta rápida indica que a geração de caixa anual da empresa gira em torno de R$ 308 milhões. Parte desse valor está sendo investida atualmente na ampliação da fábrica de Maranguape (CE), para garantir o abastecimento da demanda crescente, processo que deve ser concluído em março do ano que vem. A produção atual da companhia é de 500 mil peças por mês. Mas, segundo Hara, fundador da Hope, a capacidade da fábrica é de 1 milhão de peças/mês. NOVO FOCO A meta de inaugurações de lojas previstas para os próximos anos faz parte do novo posicionamento da empresa. O plano foi iniciado em 2005, mas intensificado há dois anos. Uma das transformações envolveu a própria característica da marca, que passou de uma visão essencialmente industrial para o foco no varejo. Uma mudança de trajetória que não chega a ser exclusividade da Hope. “Temos visto, nos últimos anos, muitas indústrias indo direto ao consumidor, mas também muitos varejistas que criam suas próprias marcas. Percebe-se este último caso muito claramente no setor supermercadista”, explica Claudio Felisoni de Angelo, presidente do con-

selho do Provar/Ibevar (Programa de Administração de Varejo), da FIA (Fundação Instituto de Administração) e especializado em mercado de consumo e gestão de varejo. No caso da Hope, a mudança pode ser positiva do ponto de vista financeiro. Ao vender diretamente para o consumidor final, ela absorve a margem de lucro do varejista. Por outro lado, analisa o especialista, corre o risco de sofrer retaliação das redes multimarcas. “Elas podem diminuir suas compras se sentirem a concorrência”, diz Felisoni. Sandra garante, porém, que não haverá competição de pontos de venda, já que a proposta é abrir as unidades em endereços onde os produtos ainda não são vendidos. Com a entrada da Hope no varejo também por meio de franquias, foi preciso colocar algumas mudanças em prática, como a frequência de lançamento de produtos. Antes, eram quatro coleções por ano. Agora, há novidades nos pontos de venda uma vez por semana. Também tornou-se necessário investir na diversificação do mix de produtos, com a entrada no segmento de moda praia, cujas vendas representam 5% da receita das

BRASIL ENTRE OS TOPS Os dez principais mercados de lingerie do mundo (US$ milhões)*

Fotos: Divulgação

expansão. “A vantagem de optar pelas franquias é que você consegue crescer mais rapidamente, já que o investimento é dividido com o franqueado. E, se você tem uma marca conhecida, nem precisará gastar muito em marketing para apresentar a empresa ao mercado”, afirma Claudia Bittencourt, diretora-geral do Grupo Bittencourt, especializado em franquias e varejo. A Hope conta, atualmente, com 70 lojas e a meta é chegar a 85 até o final do ano. Em 2014, segundo Carlos Eduardo Padula, diretor comercial, a empresa projeta somar 300 lojas franqueadas. Com isso, a companhia pretende aumentar significativamente a participação desse modelo de negócio em sua receita. Hoje, as vendas para as multimarcas – a Hope comercializa seus produtos para 5 mil varejistas – representam 70% do faturamento da companhia, enquanto as franquias contribuem com 30%. “Em 2014, acreditamos que essa proporção será invertida: 70% da nossa receita virá das lojas com a nossa marca, e os 30% restantes, das multimarcas”, afirma Sandra. Isso significa dizer que o faturamento somente nesse modelo de vendas passará dos R$ 112,2 milhões projetados para 2011 para R$ 396 milhões até 2014. A Hope não divulga quanto fatura por ano, mas, considerando-se que, juntas, as 70 franquias existentes hoje tenham

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China

Japão

EUA

Reino Unido Alemanha

2.986,3

Brasil

2.644,7

Itália

2.478,8

Rússia

1.725,8

1.654,2

França

Índia

Fonte: Euromonitor International *Faturamento em 2010

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A Hope planeja passar das atuais 70 franquias para 300 até 2014 e chegar a um faturamento de R$ 396 milhões somente nesse modelo de vendas

franquias, e o lançamento da linha de pijamas, que terá seu portfólio reforçado em 2012. O processo produtivo também foi revisto. A empresa deixou de fabricar alguns componentes usados nas peças para se dedicar mais ao produto final. Também foi preciso melhorar a tecnologia. “Hoje, você tem lingerie que não marca, que ajuda na transpiração. Nossa equipe está sempre estudando isso e viaja frequentemente em busca de novidades nessa área”, conta o fundador. Mas as viagens não se limitam à busca por novas tecnologias. A expansão das lojas franqueadas também atravessou as fronteiras brasileiras. Desde 2009, a Hope já conta com três unidades em Portugal, uma em Israel e acaba de abrir a primeira na Argentina, em um ponto de rua – mais uma das novidades que a empresa vem experimentando. Até agora, 100% das lojas eram localizadas em shoppings. Segundo Hara, os próximos países onde a companhia pretende desembarcar são o Líbano – terra natal do fundador –, a Austrália e a China. O empresário prefere ainda não dizer, porém, quando isso deve acontecer. “Estamos conversando com nossos possíveis parceiros”, afirma. A intensa procura de estrangeiros por uma franquia da marca fez com que os executivos começassem a planejar uma área exclusiva para cuidar do assunto, que deve ser criada

em 2012, segundo Hara. Até agora, em nenhum dos países nos quais a Hope se instalou, a iniciativa foi da companhia, e, sim, de empresários locais, que associam a lingerie à sensualidade da brasileira. “Hoje, nós temos a marca ‘made in Brazil’ lá fora”, afirma o empresário. CONSUMIDOR MAIS PRÓXIMO Outro canal no qual a empresa aposta é a internet. Segundo Padula, diretor comercial, neste ano, R$ 1 milhão foi investido em um novo projeto de vendas online. Esse novo posicionamento no varejo também incluiu a entrada da Hope nas redes sociais, como Twitter e Facebook, além da criação de um blog. É a partir dessas mídias que as consumidoras podem dar sugestões e tirar dúvi-

das. “Você não imagina quanto elas interagem. A mulher é muito exigente. Tem, por exemplo, as que falam que gostam de determinada lingerie, mas não aguentam mais as cores básicas. Acabamos trazendo algumas dessas sugestões para a nossa linha de produção”, afirma Sandra, do Marketing. Apesar de fazer parte de um segmento muito afetado pela importação chinesa, o têxtil, empresas brasileiras de lingerie como a Hope não chegam a perder espaço para os concorrentes asiáticos. Segundo Felisoni, do Provar/Ibevar, a explicação está relacionada à fidelidade do consumidor. “São marcas mais consolidadas no mercado, nomes bem mais conhecidos”, observa. Esse diferencial tem chamado, inclusive, a atenção de fundos de investimento, que começam a pôr capital na área. Foi o caso do americano Carlyle, que adquiriu o controle do grupo Scalina, fabricante das marcas Trifil e Scala, no ano passado, por R$ 400 milhões. A direção da Hope prefere não comentar esse assunto, mas, segundo algumas notícias veiculadas na mídia, ela já teria sido sondada por um desses fundos, mas a aproximação não evoluiu. Levar a empresa para o mercado de capitais também não está nos planos da Hope, pelo menos no curto prazo. “Nosso crescimento sempre se deu organicamente, com recursos próprios, e, pelo menos por enquanto, queremos que continue assim”, afirma Sandra.

MULTIPLICAÇÃO DE PEÇAS Panorama brasileiro do mercado de moda íntima e meias O país conta com 3,4 mil unidades produtivas com porte industrial, que empregam 186 mil pessoas. A produção de roupa íntima e meias alcançou 1,5 bilhão de pares (meias e calcinha + sutiã) em 2010, um crescimento de 9% em relação ao ano anterior. O valor de produção no ano passado foi de US$ 3,7 bilhões. Já o consumo chegou a 1,6 bilhão de pares no período. Desse total, 5,2% foi suprido por artigos importados. O principal canal de distribuição são lojas de departamentos especializadas em moda. A principal região de consumo é o Sudeste, liderada pelo estado de São Paulo. O principal grupo consumidor é a classe média. Fonte: IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial)

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NEGÓCIOS CONSUMO

Como Nissim Hara deixou o mercado de transporte aéreo para fundar uma das mais conhecidas marcas de lingerie do país Graziela Dal-Bó, de São Paulo “Você viu? Queriam tirar nossa propaganda do ar. Mas na novela pode tudo, não é? Tem coisa mais bonita do que uma mulher de lingerie?”, indaga, em português com sotaque, Nissim Hara, fundador da Hope, ao se referir à polêmica com a última campanha da marca, estrelada pela top Gisele Bündchen. A frase deixa transparecer uma característica facilmente percebida no empresário: ele é um apaixonado pela figura feminina. Não por acaso, é dono de uma das principais fabricantes de lingeries do país, com uma produção mensal de 500 mil peças e exportações para 18 países. Mas a história de Hara com o mundo dos negócios nem sempre envolveu a confecção de roupas íntimas. Nascido no Líbano, Hara vem de uma família de oito irmãos. Chegou ao Brasil com 22 anos, e desembarcou no Rio de Janeiro. Lá, foi trabalhar na empresa dos tios, que moravam nos Estados Unidos. Passou sete meses coordenando a construção de casas e apartamentos na cidade. À procura de algo novo para fazer depois que as obras terminaram, ele seguiu a dica de um amigo e se mudou para o Pará, onde fundou, em Belém, uma empresa de transporte aéreo de cargas. “Naquele tempo, ainda não existia a estrada que liga Belém a Brasília, então eu fazia o transporte de legumes, frutas e verduras entre essas regiões com algumas aeronaves”, conta. O negócio, no entanto, não caminhou conforme o esperado. “Não ganhei e não

perdi, mas aprendi muita coisa nesses cinco anos”, costuma dizer o fundador da Hope, sem antes avisar que a aviação é um ramo muito caro para se trabalhar e que só com a ajuda do governo é possível de fato ter sucesso no setor. Claro, esse não foi o caso dele. Seguindo o palpite de amigos novamente, Hara desembarcou na capital paulista. Foi no Brás, uma das regiões de comércio popular mais conhecidas do país, famosa pelas inúmeras lojas de confecções, que fundou, em 1966, a Hope, uma pequena fábrica de lingeries de 200 metros quadrados. Embora hoje, aos 75 anos, ele não esteja mais à frente dos negócios – a tarefa de dirigir a companhia é dividida pelas filhas Sandra, Daniela e Karen –, o empresário está sempre presente no momento das decisões. A expectativa de multiplicar o número de franquias da marca nos próximos quatro anos, por exemplo, só foi possível graças a atitudes tomadas pelo empreendedor lá atrás, como apostar em campanhas ousadas para expandir os negócios da companhia e tornar a marca conhecida. E alguém que sempre acompanhou de perto a evolução da empresa dificilmente consegue se descolar do dia a dia do mercado. “Eu prometi que ficaria só meio período no escritório, mas não estou conseguindo cumprir”, confessa Hara, cuja rotina inclui, ainda, estar uma semana a cada dois meses em Maranguape, no Ceará, onde está sediada a fábrica da Hope. Até quando está dormindo, brinca, ele está pensando nos negócios. No pouco tem-

po livre que resta, gosta de velejar, hobby que se tornou mais frequente depois da compra de um barco – uma recompensa, segundo ele, após anos de trabalho árduo para erguer a empresa.

Foto: Marcela Beltrão

Da aviação à lingerie

OUSADIA Hara é uma figura de conversa fácil – como todo bom vendedor. Diferentemente da maioria dos empresários, não vê problemas em contar suas estratégias para crescer. Muitas delas, inclusive, envolveram decisões bem ousadas para a época. A Hope foi pioneira ao mostrar peças íntimas em outdoors e propagandas com mulheres vestidas apenas de calcinha na década de 1980, momento em que o país passava por reformas ideológicas e sociais. Foi também nessa época que a marca inovou ao inserir o primeiro merchandising da história das novelas no país, em Roque Santeiro, em 1985. “Aquilo para mim não foi ousadia, foi viver o que eu estava fazendo”, defende-se. Loucura ou não, o fato é que essas aparições ajudaram a tornar a companhia conhecida do público e, consequentemente, a expandir as vendas. De lá para cá, muitas beldades do mundo artístico já emprestaram suas figuras para a marca, entre elas Ellen Jabour, Daniella Cicarelli, Juliana Paes e, atualmente, Gisele Bündchen. E, para estrelar uma campanha da Hope, Nissim Hara vai logo avisando: “Tem de ter um belo corpo, afinal, eu vendo lingerie”.

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CAPA EMPRESA

Foto: Marcela Beltrão

Planejamento e atenção às oportunidades são a receita de Marco Stefanini para expandir seus negócios

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UM BRASILEIRO NO TOPO DO

MUNDO

Com R$ 210 milhões em caixa para aquisições, presente em 27 países e previsão de faturamento de R$ 1,3 bilhão, dono da Stefanini IT Solutions avança no mercado internacional Sérgio Siscaro, de São Paulo

E

m 1984, um paulistano formado em Geologia pela Universidade de São Paulo começou a trabalhar em uma mina de cassiterita no norte de Goiás. Isolado por longos períodos, o jovem Marco Stefanini passou a questionar sua carreira. O momento econômico não era dos melhores – o Brasil sofria com a estagnação no emprego e uma inflação galopante –, e o rapaz não via perspectivas. O geólogo, que vivia cutucando rochas atrás de minérios, saiu de cena. Virou o empresário brasileiro de TI (tecnologia da informação) de maior destaque no cenário internacional como dono da Stefanini IT Solutions. E, no ano passado, pôde comemorar a chegada ao clube dos bilionários. Sua empresa, a Stefanini IT Solutions, faturou R$ 1,025 bilhão. Para 2011, os cálculos apontam para um faturamento na faixa de R$ 1,3 bilhão, ou um crescimento de 26,8%. A

companhia tem 14 mil funcionários – 5,6 mil deles estão nas filiais espalhadas por 27 países dos cinco continentes. A visibilidade que ganhou no exterior serviu como estímulo para traçar planos mais ambiciosos. A direção da empresa acabou de anunciar uma meta de investimentos de R$ 210

milhões para novas aquisições até o fim de 2013. Desse total, 60% será destinado à compra de mais companhias no mercado externo. Com 23 anos de mercado, a Stefanini tem hoje nas mãos uma carteira com mais de 400 clientes ativos – sendo que muitos deles estão entre as maiores

POR DENTRO DA EMPRESA A Stefanini IT Solutions oferece uma série de serviços de tecnologia, com destaque para o outsourcing de infraestruturas – o que envolve desde consultoria até administração de contas de usuários de rede, gerenciamento de centros de dados e suporte a redes e segurança. Também desenvolve projetos para telefonia celular, aplicações para redes sociais e sistemas de computação em nuvem, além da terceirização de processos, ou BPO (business process outsourcing). A maior parte do faturamento (90%) vem das áreas de aplicações e infraestrutura. Outra área na qual o grupo atua é o monitoramento de opiniões. A ferramenta Social Qualis, da divisão Stefanini Document Solutions, utiliza inteligência artificial para identificar tendências com base no conteúdo monitorado em redes sociais, blogs e veículos da imprensa.

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CAPA EMPRESA

empresas do país, como Petrobras, Telefônica, Bradesco, GE, Caterpillar, Gerdau, Embraer, Unilever e Pão de Açúcar. Nos contratos para atendimento global, a Stefanini IT já conta com 32 multinacionais, entre elas Cola-Cola, Ford, Alcoa, Dell, Motorola e Johnson & Johnson. O crescimento consistente fez com que a empresa não só ganhasse visibilidade no Brasil, mas também entre os especialistas internacionais de TI. Recentemente, Marco conquistou o sétimo lugar no ranking The 2011 Power 50, da Nearshore Americas (site americano especializado na cobertura de assuntos relacionados à TI), que listou em outubro os 50 profissionais que mais se destacaram no fortalecimento de serviços de tecnologia e outsourcing nas Américas. GRUPO DE ELITE Para o especialista Eiran Simis, gerente de Novos Negócios do C.E.S.A.R. (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife) e consultor do Porto Digital, um dos acertos do fundador da

A estrutura da Stefanini IT Solutions no exterior concentra 40% de sua força de trabalho

Stefanini está no fato de ter definido o futuro não só pelo caminho do crescimento orgânico, mas também por meio de aquisições de empresas menores. Os números mostram a aposta correta. O universo brasileiro de TI é formado por cerca de 9 mil empresas, das quais apenas dez detém mais de 50% do faturamento dessa área. Ou seja, pode mais quem consegue ganhar musculatura. “A Stefanini é uma dessas empresas-âncora, que viabilizam o desenvolvimento do setor. Cresceu por meio da aquisição de outras companhias. Com poucos players no mercado, pode competir globalmente de forma mais favorável”, opina o gerente. Na opinião de Simis, essa estratégia permitiu que, ao controlar empresas da área de desenvolvimento de soluções tecnológicas, a Stefanini passasse

a depender menos da venda de softwares. Foi assim que a companhia passou a ser dona de um portfólio mais completo de serviços e aumentou o número de contratos. “A saída para as empresas

RAIO X DA STEFANINI IT SOLUTIONS •Últimas aquisições: CXI e I&T (2011) •Clientes globais: 32 •Funcionários: 14 mil (40% no exterior) R$ 1,3 bilhão*

VARIAÇÃO NO FATURAMENTO

26,80%

2011 R$ 1,025 bilhão

53%

2010

R$ 670 milhões

31,37%

2009 R$ 510 milhões

44,90%

2008

R$ 352 milhões R$ 285 milhões

2007 2006

23,50% * Estimativa

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Foto: Divulgação

brasileiras de TI no mercado externo é oferecer mais valor agregado.” Mas Simis aponta para um caminho pelo qual a Stefanini até agora apenas ensaiou enveredar – a entrada no mercado de capitais, planejada para 2008 e escanteada em razão da crise que abalou o mercado de capitais a partir daquele ano. O plano era recorrer não apenas à bolsa brasileira BM&FBovespa, mas também ao índice Nasdaq da Bolsa de Nova York. Se tivesse feito essa opção, a Stefanini teria se juntado a um grupo restrito. Na bolsa paulista há apenas oito empresas do setor de TI – cinco são fornecedoras de produtos e serviços e três são fabricantes de computadores e equipamentos. No índice americano, o quadro é ainda pior. Não há empresas brasileiras de tecnologia – a mais próxima da área é a operadora de TV por assinatura NET. “O Nasdaq tem hoje 25 empresas de Israel listadas no segmento de tecnologia, e a maioria não tem um faturamento tão expressivo como o da Stefanini”, compara o especialista.

Depois de organizar os negócios adquiridos neste ano, Marco Stefanini pretende retomar o plano de fazer a abertura de capital da companhia PLANEJAMENTO CONTÍNUO Com um jeito de falar simples, instalado em um pequeno escritório, Marco não deixa transparecer a importância que já conquistou no mercado internacional de TI. “Quando você inicia um negócio, sua preocupação é pagar as contas. Mas, a cada três anos, eu replanejei minha vida. A cada novo estágio, foi possível lançar as bases para crescer de forma bem gradativa.” Até hoje, Marco ainda mantém a mesma forma de administrar, sempre como iniciativas bem estudadas. Foi nesse contexto, por exemplo, que fez duas aquisições de companhias do exterior neste ano. A primeira, a americana CXI, aproximou a Stefanini de um importante parceiro externo, a SAP, especializada em softwares de gestão empresarial. A segunda, a colombiana

I&T (Informática & Tecnología), abriu a possibilidade de aproveitar as vantagens da zona franca de exportação de serviços de Bogotá. No ano passado, Marco já havia feito outras três compras: abocanhou o controle da Vanguard, especializada em governança de TI (em parceria com a IBM). Alguns meses depois, incorporou a Sunrising Tecnologia, consultoria que atua na implantação de soluções de TI, e, na sequência, adquiriu a americana TechTeam Global. CRISES E OPORTUNIDADES A história da Stefanini IT se confunde com a do desenvolvimento da informática no Brasil – e, em paralelo, com a problemática trajetória econômica percorrida pelo país até a estabilização recente. Mas o fundador da Stefanini

Escritórios no Brasil São Paulo, Jaguariúna e Barueri (SP) Curitiba (PR) Rio de Janeiro e Macaé (RJ) Salvador (BA) Brasília (DF) Recife (PE)

Fortaleza (CE) Aracaju (SE) Belém (PA) Vitória (ES) Belo Horizonte e Poços de Caldas (MG) Porto Alegre e São Leopoldo (RS)

Presença no exterior Alemanha Bélgica Colômbia Filipinas México Portugal Suíça

Angola Canadá Dinamarca França Panamá Reino Unido Tailândia

Argentina Chile Espanha Índia Peru Romênia Venezuela

Austrália China EUA Itália Polônia Suécia

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CAPA conseguiu tornar verdadeiro o clichê de que as crises abrem, de fato, valiosas oportunidades de expansão. A primeira dessas turbulências aconteceu um pouco antes de a empresa ser fundada, quando as instabilidades econômicas da Nova República fizeram minguar os investimentos das empresas em TI. Outras dificuldades viriam – com rasteiras como o Plano Collor, anunciado no início de 1990, que sumiu com o dinheiro de muitos dos clientes e congelou os planos de expansão. Foi o momento de o empresário, recém-chegado ao mundo dos negócios, intensificar seus contatos – o que lhe renderia frutos importantes no futuro. Outro ponto que acabou sendo favorável à Stefanini foi a tendência de redução da estrutura das empresas na década de 1990 – o chamado downsizing. Isso abriu oportunidades e permitiu que os contatos feitos por Marco na época em que prestava serviços de informática para instituições bancárias rendessem contratos. Desde então, a história da companhia caminha próxima à evolução da TI do segmento financeiro – que responde por cerca de 30% do faturamento da Stefanini IT Solutions. Marco se mostra orgulhoso ao lembrar que, na hora do perigo, sua empresa não recuou nem estagnou, mas procurou outras possibilidades. “Na crise de 2008/2009, nós quase dobramos de tamanho em dois anos, sem aquisições. Sempre procuramos manter uma mente mais construtiva nesses momentos. A crise nos afeta, claro, mas ela também serve para despertar uma visão mais positiva, e isso ajuda na busca de soluções”, afirma. Esse estilo otimista de Marco se tornou parte do DNA da empresa. “Claro que somos afetados pelas crises, que geram estresse nas relações entre clientes e fornecedores. Mas buscamos sempre enxergar o meio copo como cheio. E, nessa linha, há várias abordagens, como ser mais competitivo. Ter um controle maior dos custos é uma dessas

Fotos: Divulgação

EMPRESA

A empresa tem presença forte em países latino-americanos, como o México

formas. Outras são ser mais flexível nas negociações e ter sua situação financeira saudável”, ensina o executivo. Com relação à nova crise que se lança sobre as economias desenvolvidas, Marco mostra uma postura mais cautelosa, sem deixar a confiança de lado. “Não somos uma ilha. Precisamos avaliar o quanto isso nos afeta e quais são as medidas que devem ser tomadas para compensar esse cenário e transformá-lo em uma vantagem competitiva. Temos conseguido implantar essa disposição mais otimista com relação ao futuro em nossas equipes nos EUA e na Europa. Esse trabalho de convencimento é nosso maior desafio agora”, avalia.

DE OLHO NO MUNDO A Stefanini conseguiu projeção mesmo entre companhias de outros setores da economia, graças à estratégia de internacionalização. O rápido crescimento dos negócios no exterior fez com que ela passasse da 17ª para a 2ª posição na última edição do ranking elaborado pela Fundação Dom Cabral que aponta as empresas brasileiras com maior grau de internacionalização. O estudo levou em consideração uma série de fatores, como o número de filiais em outros países e o percentual de sua receita que vem das operações fora do Brasil. A Stefanini ficou atrás apenas da JBS-Friboi.

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De acordo com o professor Sherban Leonardo Cretoiu, coordenador do Núcleo de Negócios Internacionais da Dom Cabral, a empresa colhe os frutos de sua campanha de aquisições. “Nos últimos anos, ela comprou uma série de companhias no exterior. Algumas, como a TechTeam, já estavam presentes em outros países, o que aumentou ainda mais a abrangência da Stefanini. Outro aspecto que colabora é a estratégia de aproximação da empresa com seus clientes, que a levou a atuar de forma mais consistente em outros mercados”, avalia o professor. Depois de ter expandido no mercado interno e se tornado uma referência em TI, a Stefanini IT Solutions começou a pensar em voos mais altos. “Nossa expansão foi resultado de um processo contínuo. Nós não somos muito de revoluções, mas, sim, de evoluções. Iniciamos nossas operações na Argentina há 15 anos, de forma discreta. Cinco anos depois, em 2001, começamos a dar um salto maior, abrindo outras filiais. Foi um processo bem gradual”, afirma Marco. Segundo o empresário, é possível que a tecnologia do Brasil seja mais reconhecida nos próximos anos – mas, atualmente, esse avanço ainda depende de poucas empresas, como a própria Stefanini IT Solutions ou multinacionais instaladas no país. “A mão de obra brasileira é hoje muito qualificada, e os profissionais conseguem se destacar quando trabalham no exterior, apesar de o Brasil ainda ter uma educação deficiente no ensino básico. A grande encruzilhada do país é mesmo a questão da educação”, pondera Marco. CENÁRIO FUTURO A ideia de abrir o capital da Stefanini IT Solutions continua sendo avaliada – mas Marco prefere não estabelecer uma data. Afinal, a expansão recente da empresa precisa de toda a sua atenção: “Hoje, mesmo que não tivéssemos uma crise, nós não teríamos con-

O PAÍS DO FUTURO

Bob Foster, da UCLA: crescimento saudável

As perspectivas para o setor de TI no Brasil são bastante positivas – e empresas como a Stefanini deverão ter um papel de destaque. De acordo com Antonio Gil, presidente da Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), o setor movimentou, em 2010, US$ 85 bilhões – isso sem considerar a área de comunicações. “Esse mercado já é metade do latino-americano, e o sétimo do mundo. E a TI brasileira é hoje muito sofisticada, como se vê em setores como o financeiro. Estimamos que, em 2022, os negócios alcancem US$ 200 bilhões, e as exportações de TI passem dos atuais US$ 2,4 bilhões para US$ 20 bilhões”, avalia. Segundo ele, esse crescimento se sustenta na elevação do poder aquisitivo da população, na proliferação e no barateamento de plataformas por meiodas quais as pessoas possam ter acesso à tecnologia, como telefones celulares e tablets, e na necessidade de investimentos por causa da realização de grandes eventos, como a Copa do Mundo de Futebol, os Jogos Olímpicos, e do Plano Nacional de Banda Larga do governo federal. Com relação à Stefanini IT Solutions, o dirigente salienta que ela deverá ser um dos principais players nessa evolu-

ção da TI brasileira. “Sua postura empresarial é grandiosa e agressiva – tanto que já está presente em mais de 20 países. Isso certamente a posicionará melhor quando o Brasil for o quarto maior mercado de tecnologia do mundo”, avalia Antonio Gil. Essa avaliação positiva é compartilhada por Bob Foster, professor de tecnologia e negócios na Anderson School of Management, da universidade americana UCLA. Com sólida experiência corporativa adquirida entre 1983 e 1999, quando atuou em uma série de empresas de tecnologia, o acadêmico acredita que exista um saudável crescimento na área de TI no Brasil. “Há algumas soluções de TI muito interessantes sendo desenvolvidas e comercializadas no país”, afirma. Para Foster, essa situação é sustentada pela expansão da economia brasileira, que ele vê como elemento crucial na atuação da empresas de forma lucrativa. Mas há desafios: “A internacionalização implica a comercialização da tecnologia – ou seja, saber vendê-la no exterior. As companhias de TI devem identificar cuidadosamente os mercados em que pretendem entrar, se quiserem ser competitivas.”

dições de abrir o capital, porque crescer e ao mesmo tempo integrar essas novas companhias ao grupo e mudar o DNA delas é algo que demanda uma energia muito grande. Não teríamos braços para fazer um IPO. Mas pretendemos, sim, a médio prazo, abrir o capital.” Dentro do pacote de R$ 210 milhões para novas aquisições até 2013, anunciado em novembro, a Stefanini IT Solutions deverá incluir a compra de uma empresa nacional. O negócio poderá ser anunciada ainda neste ano. Além disso, há planos de injeção de R$ 5,3 milhões

em suas operações na China nos próximos três anos. O objetivo do investimento é treinar e ampliar a equipe local dos atuais 100 funcionários para um quadro de 4 mil pessoas. Para Marco, conquistar o sétimo lugar no ranking da Nearshore Americas é um incentivo. “Esse reconhecimento deve servir como uma confirmação de que estamos no caminho certo. Mas não garante nada para o próximo ano”, finaliza, com o realismo otimista que o acompanha desde que deixou as jazidas de Goiás, há quase três décadas. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 39

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NEGÓCIOS MERCADO FOTOGRÁFICO

Mais CLIQUES Fabricantes de câmeras digitais investem no Brasil, reduzem preço por meio de produção nacional e aumentam as vendas Adriana Chaves, de São Paulo

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os últimos anos, grandes fabricantes de câmeras digitais voltaram os olhos para o mercado brasileiro. Enquanto alguns passaram a produzir no país, outros reforçaram os planos comerciais. A popularização dos modelos compactos ajuda a explicar o cenário, mas o incremento dos negócios atinge também câmeras mais sofisticadas. Segundo a consultoria GfK Retail and Technology, as vendas (em unidades) no segmento de câmeras cresceram, no Brasil, 23,22% de janeiro a setembro de 2011, em comparação ao mesmo período do ano passado. No mundo, ao contrário, as vendas têm sofrido retração. Já o preço médio por aqui caiu 4% nesse intervalo (veja tabela na página ao lado). A Sony, líder no setor, espera chegar até o fim deste ano com participação de mercado de 55%. Os produtos da marca já estão presentes em 6.356 pontos de venda. Os planos são mais ambiciosos: a companhia pretende transformar o negócio de imagem digital em um mercado de US$ 2 bilhões até 2014, dentro do Projeto Maracanã, que visa à expansão dos equipamentos compactos e semiprofissionais.

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Segundo o gerente geral de Marketing, Carlos Paschoal, a Sony registrou crescimento de 149% no segmento de máquinas abaixo de R$ 299 e de 132% no segmento acima de R$ 1 mil. “Houve expansão da base de clientes e, agora, passa a haver demanda por produtos com mais funções”, diz. Para formar novos consumidores, a empresa lançou, em setembro, o Projeto Maracanã, uma parceria com o IEDB (Interatividade em Educação Digital no Brasil), oferecendo cursos online de fotografia digital. A iniciativa deve render aos parceiros, até 2014, R$ 100 milhões em receita. Para manter o ritmo de crescimento, a fabricante vai investir R$ 4 milhões em divulgação até 2012. Além disso, quer ampliar as Sony Stores, lojas com produtos da marca. Hoje, há seis unidades. Até 2014, serão mais de 20.

Em abril, a Nikon decidiu abrir uma operação comercial direta no país e anunciou a instalação de uma subsidiária em São Paulo, a primeira na América do Sul. “Iniciamos também a montagem de máquinas em Manaus. Nossa meta é chegar a 2 mil pontos de venda no Brasil nos próximos dois anos”, afirma o gerente geral de Marketing da empresa, Joel Garbi.

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Paralelamente, tiveram início as atividades da Nikon School, que oferece cursos de introdução à fotografia digital para os clientes.

Montagem sobre fotos de divulgação

PRODUÇÃO LOCAL A Fujifilm começou a produzir seus equipamentos localmente em 2009, em Manaus. “Foi fundamental para nos dar competitividade, garantir isenção de impostos e abrir espaço no mercado. A Fujifilm sempre foi reconhecida como um dos principais fabricantes de filmes fotográficos e, agora, essa expertise foi transferida para as digitais”, afirma Sérgio Takayama, gerente nacional de Vendas e Marketing. Outra empresa que transferiu parte da produção de camêras para o país foi a Samsung, em 2008, com a instalação de uma linha na fábrica de Manaus.

“A marca elegeu alguns países para atingir a meta global de faturamento de R$ 400 bilhões [em todas as linhas de produtos, incluindo as do setor fotográfico] até 2020, e o Brasil oferece oportunidades de crescimento dentro da categoria e da marca Samsung”, afirma o diretor de Vendas da Divisão de Consumo, Márcio Portella. Há duas lojas-conceito, a Samsung Experience. Portella observa mudanças no comportamento do consumidor desde 2008. “Antes, o cliente só olhava o número de megapixels; hoje, observa zoom e outros recursos, como download para redes sociais por meio de wi-fi.” No caso da Panasonic, a analista de Produto Roberta Vieira lembra que a fábrica vem investindo no Brasil por enxergar ótimas oportunidades de investimento, com foco nas câmeras compactas para as classes B e C. “Inauguramos a loja-conceito da Panasonic, em São Paulo, em 2008. A marca também tem linhas de produção em Manaus.” LIGAÇÃO COM CLIENTES Uma das ações da Canon no país, segundo o diretor comercial da empresa no Brasil, Kaoru Ono, foi a implantação de vendas via e-commerce, em agosto de 2010. A abertura da fábrica no Brasil também está nos planos da empresa. “Temos a certeza de que isso vai aumentar ainda mais a nossa proximidade com os consumidores e ampliar consideravelmente as nossas vendas.”

ECONOMIA NO BOLSO DO BRASILEIRO Mesmo com crescimento de 23,22% de vendas, em unidades, e de 18,45%, em valor, o preço médio das máquinas fotográficas caiu 4% Números por período De Janeiro a Setembro

2010

2011

2,376 milhões

2,928 milhões

Vendas (em valor)

R$ 1,270 bilhão

R$ 1,505 bilhão

Preço médio dos equipamentos

R$536,69

R$515,02

Vendas (em unidades)

A Olympus rompeu com revendedores e partiu para o varejo direto quatro anos atrás. “Optamos por melhorar o pós-venda porque o serviço estava abaixo do que a matriz esperava. Já a loja-conceito da marca é online e traz equipamentos premium, que não teríamos escala para produzir no mercado brasileiro”, diz o gerente de Marketing, Cristiano Andrade. Apesar dos planos otimistas para o Brasil, a Olympus enfrenta problemas globais. Além de acusações do ex-presidente-executivo Michael Woodford, um comitê designado para investigar compras de empresas pelo grupo descobriu diversas irregularidades, incluindo um esquema que encobria prejuízos usando fundos. Desde que as denúncias vieram à tona, as ações da companhia vêm caindo. LUXO No caso da alemã Leica, é o público AAA que garante o desenvolvimento dos negócios no país. No final de 2010, a marca abriu uma Leica Store em São Paulo. “Esse tipo de exposição do produto Leica, com lojas, garantiu 30% a mais de faturamento em outras cidades do mundo. A Leica não concorre com outras marcas. Diferente dos japoneses, que focam em preço e quantidade, os alemães têm qualidade mecânica e ótica. A Leica deixa clientes esperando para ter um produto com qualidade e exclusividade”, ressalta Luiz Marinho, representante da marca no Brasil. Nos próximos quatro anos, a Leica deve inaugurar mais três lojas-conceito por aqui, segundo Marinho. Os preços dos produtos variam de R$ 3,2 mil a R$ 82 mil (chegando a R$ 130 mil com três lentes) e, embora esteja antenada nas novas tecnologias – como câmera com GPS, filmagem full HD, estabilizador de imagem e zoom –, foge de inovações como 3D e conexão direta às redes sociais.

Fonte: Consultoria GfK Retail & Technology

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NEGÓCIOS SETOR AÉREO

Fotos: Divulgação

Uma das frentes da EADS no mercado brasileiro é a venda dos helicópteros Esquilo, fabricados pela Helibras

Nos céus BRASILEIROS Prestes a inaugurar uma fábrica em Minas, o Grupo EADS quer fortalecer presença no mercado nacional por meio de parcerias Sérgio Siscaro, de São Paulo

om a abertura de uma nova fábrica de helicópteros da Helibras em Itajubá (MG), prevista para o início de 2012, a empresa europeia EADS tornou-se uma “cidadã brasileira”. A avaliação foi feita pelo seu presidente mundial, Louis Gallois, ao visitar recentemente o país. A empresa, que registrou no ano passado um faturamento de € 46 bilhões, é uma iniciativa

C

multinacional europeia que atualmente controla as companhias Airbus (aeronaves civis de grande porte), Eurocopter (fabricante de helicópteros e controladora da Helibras), Astrium (que atua no segmento de lançadores espaciais, sistemas de satélites e serviços relacionados) e a Cassidian (segurança e equipamentos militares). De acordo com o diretor-presidente da EADS no Brasil, Bruno Gallard, a estra-

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tégia do grupo é desenvolver tecnologias no país por meio de parcerias com a indústria local – e não apenas vender seu portfólio de produtos. “Temos um plano de faturar € 80 bilhões em 2020, baseado em nossa carteira de pedidos. E, como a capacidade industrial da Europa é limitada, queremos desenvolver parcerias em países estratégicos, como o Brasil”, afirma. O executivo nega que esse aumento no interesse pelo Brasil seja decorrente da crise europeia. “Acreditamos que a Europa vai se recuperar; visualizamos um futuro razoavelmente estável. Mas não temos dúvidas quanto ao potencial de crescimento do Brasil. Nossos investimentos aqui não são imediatistas.” Um aspecto-chave dessa atuação, segundo Gallard, é a transferência de tecnologias. “Foi esse tipo de parceria que deu origem à EADS, quando as indústrias de Alemanha, França, Espanha e Reino Unido se aproximaram.” CÉU DE BRIGADEIRO De acordo com Gallard, há a perspectiva de o grupo crescer ainda mais na América Latina, dada a iminente fusão entre as companhias aéreas TAM e LAN – a empresa resultante, a Latam, passará a ser a maior compradora de aeronaves da Airbus no mundo. Atualmente, a Airbus tem mais de 600 aeronaves vendidas na América Latina e no Caribe, com pedidos para mais 300 unidades e uma frota

Para Gallard, presidente da EADS Brasil, a possível fusão entre TAM e LAN criará o maior cliente dos aviões da Airbus no mundo

“Estamos acompanhando o crescimento do mercado brasileiro. Tínhamos antes uma fatia de apenas 10%, e agora já ultrapassamos a Boeing. O último contrato com a TAM foi confirmado em outubro, e envolve a aquisição de 32 aeronaves da família A320. Desse total, 22 unidades serão da versão A320neo, que permite a redução de 15% no consumo de QAV [querosene de aviação].”

A EADS quer desenvolver parcerias em países estratégicos como o Brasil. Para isso, se compromete a transferir tecnologia aos emergentes de 414 aparelhos em operação – e uma participação de mercado de 60% na região. No Brasil, o destaque é a TAM, que dispõe da maior frota de aviões da companhia na região – 125 aeronaves do modelo A320, 20 do modelo A330 e dois A340s. Em seguida, vem a AviancaTaca (que inclui a AeroGal), com 92 aparelhos, e a LAN, com 77 unidades.

Esse cenário positivo também se repete na aviação regional. A ATR – fabricante de veículos de 50 a 74 lugares que resulta de uma joint-venture entre a EADS e a Alenia Aeronautica, pertencente ao grupo italiano Finmeccanica – tem uma presença forte no Brasil por meio da TRIP Linhas Aéreas. A empresa, que já é uma grande cliente da mul-

tinacional, anunciou, em setembro, a compra de mais 18 ATRs 72-600, com opção para mais 22 aviões – o que a tornará a detentora da maior frota da ATR no mundo, com 51 aparelhos. MAIS HELICÓPTEROS Com o início das operações de sua nova fábrica previsto para o primeiro semestre do ano que vem, com investimento total de R$ 420 milhões (que inclui ainda equipamentos e treinamento de pessoal), a Helibras já começa atendendo um contrato de fornecimento de 50 helicópteros para as Forças Armadas. Serão fabricados no Brasil 33 aparelhos – o restante virá das unidades da Eurocopter na França. Do total, dois serão destinados à Presidência da República. As demais unidades serão divididas entre Exército, Marinha e Aeronáutica. “Com isso, o número de funcionários da empresa passará para 610 no final deste ano”, afirma Eduardo Marson Ferreira, presidente da Helibras – mais do que o dobro de 2009, quando eram 300 profissionais. O executivo Dezembro, 2011 AméricaEconomia 43

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NEGÓCIOS SETOR AÉREO

Foto: Divulgação

Um dos maiores compradores dos jatos da ATR é a brasileira TRIP Linhas Aéreas

acrescenta que, em 2010, a Helibras já conseguiu superar sua produção de aeronaves, chegando a 42 unidades ao longo do ano. Além disso, a necessidade de incorporar sistemas de armas e radares nos aparelhos fez com que aumentasse a necessidade de engenheiros. Há dois anos, tínhamos apenas nove; hoje, são 54 profissionais. Esse é o grande desafio da empresa: buscar mão de obra especializada. “Há alguns anos, nos beneficiamos do volume de profissionais no mercado. Mas a demanda é muito grande, e precisaremos de muita gente”, diz Ferreira. Para

de Helicópteros é uma iniciativa nossa, do governo de Minas Gerais, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e da Unifei.” Na área civil, a situação também é positiva. Ferreira avalia que não há sinais de queda na demanda – especialmente com relação ao aparelho Esquilo. Há ainda a perspectiva de se vender unidades para os governos estaduais, a serem utilizados na polícia, por exemplo. “Eventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos tornarão mais necessário que as forças públicas comprem mais aparelhos. Atualmente, quem se desta-

As oportunidades de negócios no setor de defesa têm sido acompanhadas com atenção pelo grupo europeu atender a essa necessidade, a companhia mantém um convênio com a Universidade Federal de São Carlos, por meio da qual os alunos que cursam o quinto ano de Engenharia Aeronáutica vão para a França, recebem treinamento e, após se formarem, ingressam na Helibras. “Há também o curso da Unifei [Universidade Federal de Itajubá], específico para helicópteros. Seu Centro de Tecnologia

ca nesse sentido é o estado de São Paulo, que tem uma frota de 24 helicópteros.” E essas perspectivas deverão se manter positivas. “O Brasil é um dos poucos países que têm uma cultura aeronáutica e entidades de certificação aérea reconhecidas internacionalmente. Além disso, há grandes oportunidades de crescimento, proporcionadas pelo setor de offshore, por exemplo”, diz Ferreira.

DEFESA EM FOCO Apesar de se caracterizar por encomendas menores e feitas com intervalos maiores, o segmento militar também oferece oportunidades interessantes de expansão para a EADS no Brasil. “O setor tem suas peculiaridades. A produção é limitada e o retorno é baixo. E, por outro lado, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento são necessariamente altos. Por essa razão, é importante que a empresa fornecedora tenha um bom histórico no que se refere à sua capacidade de engenharia”, avalia Gallard. Segundo ele, o governo federal está agora definindo a política de defesa do país – e todos os demais players que atuam nesse mercado acompanham com atenção as possibilidades de fornecimento. Uma dessas oportunidades é o Programa Segurança nas Fronteiras, implantado pelo Exército. “Fizemos um grande investimento para nos qualificarmos para esse projeto, cuja licitação deverá ocorrer apenas em abril de 2012. Trouxemos 25 engenheiros para o Brasil – deverão ser 35 no fim deste ano – e ainda há equipes atuando na Alemanha e na França para se preparar para responder às licitações dessa área. Há também o programa BBF (Brigada Braço Forte), que visa fortalecer as brigadas do Exército com blindados e sistemas de comunicação, e o SisGAAz [Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul da Marinha, que envolve atividades de vigilância e segurança], cuja licitação também ocorrerá no ano que vem”, conta o executivo. Na avaliação de Gallard, a organização da segurança da Copa das Confederações (2013), da Copa do Mundo (2014) e dos Jogos Olímpicos (2016) possibilitará que o país aproveite para criar uma infraestrutura de segurança e defesa. “A defesa não é visível no país. O Brasil resolve seus problemas diplomaticamente. Mas, como potência regional, deverá investir nessa área para monitorar seus recursos em mar e terra, além de apoiar vizinhos mais fracos e participar de missões internacionais de manutenção da paz”, afirma o executivo.

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NEGÓCIOS E-COMMERCE

Além

das fronteiras

Consolidada no Brasil, a Netshoes inicia sua internacionalização na América Latina Graziele Dal-Bó, de São Paulo

Fotos: Divulgação

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á um consenso global que associa a internet à rapidez com que se deseja determinada coisa, seja ela um endereço, um telefone ou o nome daquele ator que a memória teima em não ajudar. A Netshoes, conglomerado de lojas virtuais de esporte, resolveu levar a sério essa máxima, principalmente no que diz respeito à velocidade. Com dez anos de mercado, ela passou de uma pequena loja de sapatos instalada em um estacionamento no centro da capital paulista a um dos principais players do setor de comércio eletrônico no país, com mais de 25 mil itens disponíveis ao consumidor e 15 milhões de entregas realizadas desde sua fundação. Além de aproveitar a boa fase no Brasil, decidiu crescer por meio da internacionalização dos negócios, desembarcando de uma só vez na Argentina e no México. “Gosto de deixar claro que não somos varejistas, somos uma empresa de e-commerce. São duas coisas diferentes. E essa visão fez toda a diferença para o nosso sucesso”, afirma Roni Cunha Bueno, diretor de Marketing da empresa.

Bueno, diretor de Marketing, deixa claro que a Netshoes não é varejista, mas uma empresa focada em comércio eletrônico

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Mas o crescimento não veio sozinho. A expansão que a empresa experimenta há uma década é resultado de um agressivo trabalho de marketing, que inclui desde campanhas na mídia – da televisão aos sites de notícias é difícil não se deparar com uma propaganda da marca – até patrocínio de times de futebol. Santos, Cruzeiro e AtléticoPR, por exemplo, já estampam em suas camisas o logotipo do grupo. A empresa comprou cota do campeonato NBB (Novo Basquete Brasil) para a temporada 2011/2012. Esportes que começam a despontar no país, como o MMA (Mixed Marcial Arts), também estão no radar da Netshoes. A rede de lojas virtuais é patrocinadora da academia voltada para a modalidade inaugurada pelo Corinthians no segundo semestre deste ano e local de treinamento de um dos ídolos desse esporte, Anderson Silva, também conhecido como Aranha. Outras ações da companhia envolvem o desenvolvimento de lojas virtuais específicas para determinadas marcas, como as parcerias feitas com Nike, Puma e Adidas. “Um dos grandes acertos da Netshoes foi apostar na divulgação da marca, o que é importantíssimo no segmento de e-commerce, principalmente para uma empresa iniciante”, observa Cris Rother, diretora do e-bit, empresa que avalia o setor no país. Apesar da intensa exposição de seus produtos por meio do patrocínio de times de futebol e de ações de mídia com

a finalidade de promover a marca, muitos dos negócios da Netshoes são mantidos em segredo. A discrição começa com o próprio fundador da companhia, o empresário de origem armênia Márcio Kumruian, avesso a entrevistas. A empresa também não revela quanto gera de caixa por mês, embora o mercado estime que seu faturamento tenha chegado a R$ 400 milhões em 2010. Com um crescimento previsto – este sim revelado – de 50% para 2011, a Netshoes deve alcançar uma receita total de R$ 600 milhões neste ano. O valor está bem abaixo de gigantes do e-commerce como a B2W, dona dos sites de comércio eletrônico Submarino e Americanas.com, que teve receita líquida de R$ 4 bilhões em 2010. Mas isso não impediu a Netshoes de ultrapassar a concorrente em outro quesito. Segun-

BILHÕES EM JOGO

CONECTADOS NA REDE

Evolução do faturamento do comércio eletrônico brasileiro (R$ bilhões)

Evolução do número de e-consumidores no Brasil (em milhões)

18,7

Revello, gerente de Marketing da operação argentina: objetivo é tornar a Netshoes referência na América Latina

14,8

23

10,6 6,3

2007

32

17,6

8,2

13,2 9,5

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Fonte: e-bit

2009

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2011* *previsão

2007 Fonte: e-bit

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do o último ranking da comScore, consultoria de pesquisa de mercado da área de internet, em agosto, a Netshoes foi a empresa de comércio eletrônico brasileira que mais recebeu visitantes únicos, considerando separadamente os sites. Foram 5,8 milhões de visitas, ante 5,37 milhões da Americanas.com e 5,36 milhões do Submarino.

MAIS RECURSOS A rapidez com a qual a Netshoes ganha mercado recebeu uma ajuda importante no ano passado, com a entrada do fundo de investimentos americano Tiger Global no capital do grupo. Um investimento que, a exemplo de outras cifras, não é revelado. Bueno garante, no entanto, que a parceria com o Tiger deu mais fôlego às projeções de crescimento do grupo. “Nossa meta é trabalhar cada projeto com um ano de antecedência, e a entrada do fundo nos ajudou a ter os recursos necessários em menos tempo”, afirma o diretor de Marketing. Um desses projetos envolve a internacionalização da empresa, processo iniciado em outubro. Com apenas 20 dias de diferença, a Netshoes desembarcou na Argentina e no México. Segundo Bueno, a estratégia do grupo é regionalizar as operações, ou seja, cada país funcionará como um negócio próprio, com funcionários e direção local. No caso argentino, foram investidos US$ 17 milhões na nova operação. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 47

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NEGÓCIOS E-COMMERCE

pode dizer das marcas esportivas que mantêm operação no país. De acordo com Flores, a dimensão que a empresa tomou no Brasil ajudou muito na hora de propor acordos com as principais marcas esportivas do mundo. “Não precisamos nos alongar muito para explicar quem é a Netshoes e qual é o seu modelo de negócios. Eles já conhecem.” Com cerca de 2 mil itens no catálogo, a Netshoes México promete entregar seus produtos em até 48 horas em 95% do território mexicano.

LOGÍSTICA A questão logística, aliás, é um dos grandes gargalos do setor. Reclamações de entregas atrasadas ou que simplesmente não aconteceram multiplicam-se pelos órgãos de defesa do consumi-

Rafael Flores, ex-Nike, foi o escolhido para comandar a operação mexicana

Foto: Divulgação

“O mercado de e-commerce ainda é novo na Argentina, e muito menor que no Brasil. Queremos nos tornar referência”, afirma Santiago Javier Revello, gerente de Marketing da operação argentina. Para chamar a atenção dos consumidores argentinos, a Netshoes apostou na entrega grátis para todo o país, independentemente do valor da compra – no Brasil, a gratuidade é válida apenas para valores acima de R$ 49,90. Além disso, Revello tem a seu favor um mercado altamente concentrado na capital, Buenos Aires, o que facilita os negócios para quem trabalha na área virtual. “Os profissionais de outras regiões reclamam que não podem contar com grandes lojas de esportes e, nesse caso, nossa vantagem é que podemos estar em qualquer lugar e a qualquer hora”, diz. Esse também é o discurso de seu colega mexicano, Rafael Flores. “Vamos revolucionar o mercado”, vai logo avisando o executivo egresso da Nike, contratado pela Netshoes para comandar a operação mexicana. Assim como no caso argentino, o México, país no qual a empresa desembarcou no dia 20 de outubro, conta com uma equipe própria de 45 funcionários – auxiliada por 30 profissionais baseados no Brasil – e um centro de distribuição local, situado na Cidade do México. As estratégias de crescimento na região, no entanto, seguem o ritmo brasileiro. Parte do aporte de US$ 22 milhões previsto para o primeiro ano de operação no México será investida na área de marketing. As ações envolvem propaganda nos principais portais de notícias do país e parcerias com a mídia local. “O objetivo é tornar a marca conhecida dos mexicanos”, conta o executivo. Se o nome Netshoes ainda é desconhecido para o consumidor mexicano, o mesmo não se

dor. Em um dos casos mais recentes, a B2W foi notificada pelo Procon de São Paulo por ser reincidente na prática de não entregar produtos aos consumidores. Com relação à Netshoes, 3.538 reclamações foram registradas no Reclame Aqui, algumas delas relacionadas exatamente à entrega de itens. Mesmo assim, a empresa ainda conta com avaliação positiva no site – uma espécie de Procon informal do mundo virtual. Segundo Bueno, para dirimir o problema, a Netshoes trabalha com duas transportadoras em cada uma das regiões atendidas pela empresa. Encontrar estratégias para – se não acabar – ao menos diminuir a insatisfação dos clientes na hora da entrega do produto é um desafio para as empresas que desejam apostar nesse canal de vendas. E não são poucas as companhias que vêm adicionando o e-commerce ao seu modelo de negócio. Na área de esportes, por exemplo, a Netshoes tem como adversária a mineira SBF, dona da Centauro, maior rede brasileira de roupas e acessórios de esportes, da rede By Tennis e licenciadora da Nike Store no Brasil. Recentemente, Sebastião Bonfim, presidente da holding que controla as marcas, afirmou que o comércio eletrônico será um dos principais alicerces para o crescimento nos próximos anos. Os planos são ousados: praticamente quintuplicar de tamanho até 2020. A Centauro é dona de uma receita anual de quase R$ 2 bilhões e pretende chegar aos R$ 3,5 bilhões em 2012. As expectativas não vêm por acaso. Afinal, o país está prestes a sediar eventos esportivos importantes. Sem detalhar os planos para atender a demanda crescente que vem na carona da Copa do Mundo e da Olimpíada, Bueno limita-se a dizer que alguns investimentos já estão sendo feitos para o período, coordenados por uma seção criada especialmente para desenvolver projetos para as datas. E a concorrência preocupa? “Nós não olhamos para a concorrência, preferimos pensar da nossa porta para dentro”, afirma o executivo.

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NEGÓCIOS

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Uma nova história na Vila Com Neymar, o Santos passa a administrar a carreira de atletas e fatura alto com a negociação de contratos de imagem do atacante Paula Pacheco, de São Paulo

ó os grandes talentos internacionais têm o staff nas proporções de Neymar da Silva Santos Júnior, o atacante do Santos, dono do maior salário do futebol brasileiro e um dos 20 maiores do mundo, estima-se. O jogador é também um fenômeno no ambiente publicitário. Cada contrato com patrocinador tem um valor médio de R$ 2 milhões por ano. Desse total, 10% ficam com o Santos. O restante engorda a conta do jovem de 19 anos. Entre os contratos de Neymar estão os de Nike, Tenys Pé Baruel, Panasonic, Guaraná Antarctica (da Ambev), Red Bull, GlaxoSmithKline (fabricante dos adesivos que ele usa no nariz durante os jogos), Lupo e, mais recentemente, Claro

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e Santander. Até o fechamento desta edição, faltava assinar o contrato com uma montadora. Assim, acredita Wagner Ribeiro, empresário do jogador, o leque de empresas estará completo. Afinal, com um ativo como Neymar, é preciso tomar cuidado com a superexposição. Foi graças a esses patrocinadores que o Santos conseguiu colocar para escanteio potências do futebol, como Real Madrid, Chelsea e Barcelona, e renovar o contrato com o craque até 2014. A partir daí, quando terá 22 anos, Neymar poderá se transferir para o clube que quiser sem ter de pagar multa ao Santos. Uma das concessões feitas pelo Santos para manter o atacante no clube foi abrir mão de parte da comissão que cobrava dos contratos com os patrocinadores.

Em vez de ficar com 30% dos direitos de imagem, passou a embolsar apenas 10%. Quando se falou da ida de Neymar para o futebol europeu, a proposta salarial chegou à casa dos R$ 3 milhões por mês. No momento em que o jogador anunciou, no início de novembro, que ficaria na Vila Belmiro, a imprensa especializada especulou que ele teria optado pelo Santos por uma remuneração na mesma faixa. Mas os profissionais envolvidos na carreira de Neymar negam que o valor seja esse e sinalizam que estaria na casa de R$ 1,5 milhão por mês . A forma como a diretoria do Santos vem cuidando da imagem de Neymar é pioneira no futebol brasileiro. O clube faz a gestão da carreira do atleta. E boa parte dessa mudança está relacionada ao

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Santos (acima), pai de Neymar, é quem dá a palavra final nos negócios do jogador. À direita na foto, Ribeiro, presidente do clube, que levou a experiência empresarial para o Santos e implantou a gestão de carreira dos atletas

empresário Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos, responsável pelo choque de gestão no clube e pela aproximação maior entre futebol e iniciativa privada. A nova diretriz inclui desde a negociação com potenciais patrocinadores até o apoio à família do jogador. Neymar da Silva Santos, pai e mentor do atleta, teve ajuda, por exemplo, para administrar os rendimentos milionários do filho. Sua irmã recebeu orientação vocacional para a escolha de uma carreira. Mas os cuidados com a profissionalização de Neymar vão bem além. GESTÃO DE CARREIRA O clube banca uma fonoaudióloga para Neymar e várias rodadas de media training, para que esteja apto a dar entrevistas sem os costumeiros tropeços dos colegas de profissão. É quando ele aprende, por exemplo, como reagir durante as entrevistas tanto nos dias de derrota do time quanto nos de bom desempenho. Além disso, o jogador tem uma espécie de babá. Eduardo Musa é a sombra do atleta, acompanha-o dia e noite, muitas vezes até nos compromissos pessoais, como uma escapada ao dentista ou a ida a uma balada. Ele é responsável pela agenda de Neymar que não esteja relacionada ao futebol. Por exemplo, cola no atleta nas seções de foto e filmagem para as campanhas publicitárias. Na sexta-feira 19 de novembro, Musa ficou por perto

durante os trabalhos publicitários para a Lupo. Na segunda-feira, três dias depois, estava no Rio para as gravações do comercial do Guaraná Antarctica. Musa também cuida da carreira internacional do atleta. Antes mesmo de desembarcar em algum país para jogos internacionais, Neymar tem uma agenda de entrevistas com a imprensa estrangeira predefinida por Musa. A estratégia serviu para colocar o jogador na imprensa de Espanha, Itália, França, Japão, Estados Unidos, Inglaterra e Argentina. “Levamos um press kit com fotos, vídeos e um perfil com a história dele.” O trabalho de divulgação serve tanto para tornar o craque conhecido no exterior – e atrair torcedores e multinacionais interessadas em patrocinar o atleta – quanto o próprio Santos, que comemora o centenário em 2012. Um dos resultados, acreditam os especialistas, foi a inclusão do atacante na lista de 23 jogadores que concorrem ao título de melhor jogador do mundo. É o único brasileiro entre os indicados que atua no país. Musa só não consegue evitar os problemas com as mulheres – algo corriqueiro entre os jogadores de futebol. Até agora foram poucos os tropeços. Primeiro Neymar foi pai aos 19 anos. Apesar da surpresa, conseguiu que sua imagem não saísse abalada, ao assumir a paternidade e participar da gravidez. Mais recentemente, foi fotografado a bordo de um iate

O modelo de geração de caixa do Real Madrid, por meio da exploração da imagem dos jogadores, foi pioneiro

no litoral paulista acompanhado de uma turma de amigos e de Carol Abranches, que se apresenta como modelo, com quem flertou durante o passeio. O encontro rendeu. A moça conseguiu posar para a revista Playboy. “Há alguns anos, aconselhei o Neymar a manter distância das marias-chuteiras”, recorda o empresário do atleta. As principais figuras que cuidam de Neymar garantem que a agenda de garoto-propaganda do momento não atrapalha o desempenho em campo. “Não há nenhuma influência no trabalho como jogador. Ele passa dois terços do ano viajando ou jogando. Não existe jeitinho para ele gravar. O Neymar é o que é, porque joga pra c..., treina muito e é um atleta de ponta. A prioridade é dar resultado em campo”, diz Armênio Neto, gerente de Marketing do Santos e um dos responsáveis pela gestão de carreira de atletas no clube. “Procuramos ter no clube uma gestão semelhante à de uma empresa, por isso o foco no plano de carreira”, explica o gerente do Santos. Neymar, segundo Armênio Neto, é o embrião de uma ação que deverá incluir outros jogadores. “A ideia é que os atletas ganhem pontos para conquistar posições. Por exemplo, quando é convocado para a seleção, pelo comportamento nos treinos, pelo espírito de liderança. Quem entregar mais resultado, assim como Dezembro, 2011 AméricaEconomia 51

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NEGÓCIOS

Foto: Divulgação

Foto: Leticia Moreira/Folhapress

MARKETING

Ribeiro recomendou ao atleta cuidado com as marias-chuteiras. Ao lado, Neymar na campanha da Lupo. Um cachê de R$ 1 milhão por ano

acontece nas empresas, terá mais oportunidades”, detalha. Por enquanto, os esforços santistas estão concentrados em Neymar, mas em 2012 o gerente de Marketing espera que outras promessas do clube, a partir de 16 anos completos, comecem a fazer parte do programa de gestão de carreira. Thiago Scuro, professor do MBA de Gestão e Marketing Esportivo da Trevisan Escola de Negócios, avalia que o trabalho do Santos com Neymar é pioneiro no Brasil, e cita o Real Madrid. No clu-

ciantes, o professor adverte: “É preciso estabelecer um limite para que não haja um desgaste da imagem do jogador e da própria marca. E, é claro, tudo está atrelado ao bom rendimento em campo”. Diretor comercial da Lupo, Valquírio Cabral Júnior está animado com o patrocínio de Neymar, que vai custar à empresa R$ 1 milhão por ano. É a primeira experiência com um garoto-propaganda celebridade. “A imagem dele não tem rejeição. É um menino brincalhão, com carisma e tem uma ótima aceitação entre as

“Ainda veremos o boom do futebol. Não vai faltar dinheiro”, diz Wagner Ribeiro, empresário de jogadores como Neymar e Lucas, do São Paulo be espanhol, parte da receita vem da exploração da imagem dos atletas. “Funciona assim. O departamento de marketing apoia o departamento financeiro. O que vem sendo feito pelo Santos é o caminho natural para o amadurecimento da gestão dos clubes brasileiros”, diz. Experiência semelhante estaria em fase embrionária no Internacional de Porto Alegre, que tenta fazer com a imagem de Leandro Damião o mesmo que foi feito com Neymar. Mas, em meio à euforia de anun-

crianças”. O grande receio, naturalmente, vem do risco de uma contusão grave tirar o atacante de campo. “Mas faz parte do jogo”, lembra. ÍDOLO Para Armênio Neto, do Santos, o potencial de Neymar ainda é muito grande. “Ele vai ocupar a cadeira de ídolo que já foi de Ayrton Senna. Será o maior jogador do mundo”, afirma. O empresário Wagner Ribeiro, que acompanha o joga-

dor desde os 13 anos, também se diz entusiasmado. Ele lembra do primeiro contrato com um patrocinador. No início da carreira, a Nike cedia apenas uma mochila e o material esportivo. Hoje, graças ao jogador, vai tirar a Umbro de cena e patrocinar o uniforme do Santos. “Se tivesse ido para o Real Madrid, aos 19 anos Neymar seria um dos dez maiores salários do futebol no mundo. Hoje, deve estar entre os 20. Aos 22 anos, quando sair do Santos, ainda terá tudo pela frente.” Ribeiro negociou o passe de Neymar nos últimos meses com os clubes estrangeiros e não faltaram atritos com a diretoria do Santos. Afinal, sem vender o atleta, o empresário não embolsaria a comissão. “Eu puxava para um lado e o Santos para o outro. Mas o fato é que o menino queria ficar no clube. Não entro em guerra contra o clube, porque preciso dele. Mas eu defendo o jogador em primeiro lugar”, diz. Ainda que tenha saído derrotado momentaneamente na venda de Neymar para o futebol estrangeiro, Ribeiro admite que o momento do marketing esportivo no Brasil é favorável e espera muitos dividendos. “Ainda veremos o boom do futebol, a partir do ano que vem. Todos querem estar presentes no Brasil, e o patrocínio esportivo é um dos caminhos. Não vai faltar dinheiro”, aponta.

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NEGÓCIOS TECNOLOGIA BANCÁRIA

do futuro Reconhecimento facial, publicidade inteligente, celulares com muitas funcionalidades e redes sociais como centro de atendimento são apenas algumas das tecnologias que irão mudar a cara dos bancos nos próximos anos Christopher Holloway, de Santiago

Foto: Shutterstock

A agência V

ocê se lembra como era uma agência bancária em 1990? Graças aos serviços telefônicos e por meio da internet, é cada vez menor o número de clientes que precisam esperar e formar fila para fazer suas transações bancárias. Especialistas ouvidos por AméricaEconomia adiantam como a massificação dos dispositivos móveis, como smartphones e tablets, abre novas

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oportunidades para clientes e bancos, e adiantam como serão as novas agências bancárias e de que forma parte delas será completamente imaterial.

Biometria De acordo com Rodrigo Gonsales, diretor de Soluções de Mercado Financeiro para a divisão latino-americana da Cisco, as tecnologias de reconhecimento permitirão que o reconhecimento da pessoa seja feito assim que ela entrar na agência, além de determinar que tipo de tratamento deve receber e até se representa algum perigo (como no caso de criminosos procurados). O sistema de câmeras analisa traços faciais dos clientes, comparando-os a uma grande base de dados. Embora a tecnologia para utilizar esses sistemas já esteja disponível, os custos ainda são muito elevados. “Imagine, para um banco com 20 milhões de clientes, fazer uma busca instantânea. Isso é complexo e requer muitos processadores e capacidade de armazenamento. A questão é justificar financeiramente esse investimento”, afirma Gonsales. Ele acredita, contudo, que essa tecnologia estará acessível em cerca de cinco anos.

Ilustrações: André Araújo

Meu banco no Facebook “Em um futuro próximo, cerca de 20% dos serviços online dos bancos serão oferecidos por meio de plataformas sociais”, afirma Kristin Moyer, diretora de Pesquisa em Bancos e Serviços de Investimento da consultoria Gartner. Isso implica a possibilidade de realizar consultas ou obter automaticamente informações em algumas dessas contas. E isso, certamente, não significa um benefício apenas para o usuário, como conta Jorge Mujica, membro da Comunidade Bancária Latino-Americana da IBM, pois vai além de gerenciar contas pelo Twitter ou Facebook. São ferramen-

tas analíticas que permitem aprimorar a inteligência de negócio. “Há informações muito valiosas nas redes sociais que os bancos têm dificuldade em gerenciar manualmente. O desafio está em como automatizar cada vez mais”, afirma.

NFC (Near Field Communication) Esse sistema funciona pela inserção de um chip no telefone do usuário, transformando-o em uma espécie de cartão de crédito. Bastaria aproximar o telefone de, por exemplo, um caixa eletrônico para efetuar uma transação bancária, mediante a introdução de um código de segurança. O NFC já está disponível em alguns países, como Turquia e Japão, e a introdução de sistemas como o Google Wallet indica que a tecnologia avança com rapidez. Mas Kristin Moyer, da Gartner, não acredita que ele chegue a substituir o cartão de crédito. “Os sistemas NFC geram riscos de fraude e insegurança. Trata-se de uma opção extra de pagamento, mas será apenas uma de muitas”, afirma Moyer.

Quiosques bancários São uma das opções mais convenientes para se aumentar a velocidade do atendimento. “Serão terminais de serviços integrais em que poderemos encontrar 95% dos serviços nos aparelhos sem vendedores de carne e osso, mas operados ao vivo por teleassistentes em alta definição”, afirma Daniel Garzón, integrante do Comitê Latino-Americano de Automação Bancária da Federação Latino-Americana de Bancos e diretor de Tecnologia e Infraestrutura do Citibank da Colômbia. Uma das opções mais notáveis nesse sentido é o Surface, uma espécie de tela em forma de mesa, projetada pela Microsoft, que tem um computador embutido com tecnologia tátil, como explica Roberto Icasuriaga,

diretor de Negócios da Microsoft Chile. O Surface é mais do que uma plataforma de informação, já que permitiria até a assinatura de acordos entre várias pessoas, a interação com telefones móveis e possibilitaria uma maior rapidez na relação executivo-cliente.

Smartphones e tablets Espera-se que a integração entre os telefones inteligentes e os tablets possa contribuir com o mundo bancário, mas uma parte muito importante virá das ODBPs (Plataformas Abertas de Desenvolvimento Bancário), como afirma Kristin Moyer, analista da Gartner. Essas plataformas permitem a criação de aplicações específicas para o ambiente bancário, facilitando, por exemplo, os processos de transferência de dinheiro, a gestão de contas e as exigências de informações automatizadas. O importante é que essas plataformas possam ser usadas por qualquer desenvolvedor e, por isso, a variedade de aplicações possíveis e suas funções são incalculáveis.

Caixas automáticos mais seguros Na recente exibição Design Against ATM Crime, realizada em Londres, foram apresentadas dezenas de inovações que poderiam moldar o futuro dos caixas eletrônicos. Levando em conta que o início de muitas fraudes bancárias passa por roubar, de alguma forma, a chave de acesso à conta, os ATMs do futuro devem contar com tecnologias como sensores de proximidade, que ativariam um alarme visual e sonoro quando uma pessoa se aproximasse demais de outra que estivesse usando o caixa automático. Da mesma forma, também estão sendo consideradas opções como o reconhecimento de íris e, em alguns países, já é possível encontrar caixas eletrôniDezembro, 2011 AméricaEconomia 55

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NEGÓCIOS TECNOLOGIA BANCÁRIA

cos que exigem a impressão digital para permitir o acesso, como é o caso dos operados no Chile pelo Banco Falabella e o Bradesco, no Brasil.

Videoconferências

Foto: Shutterstock

Embora essa tecnologia já seja usada há bastante tempo para comunicação entre longas distâncias a baixo custo, tanto em nível informal quanto profissional, as inovações nessa área a integrarão fortemente ao setor bancário. Os principais responsáveis por essa modificação serão os tablets, já que a maioria conta atualmente com câmeras que permitem uma interação direta em alta qualidade, contanto que haja uma boa conexão. Da mesma forma, no âmbito empresarial os bancos começarão a oferecer soluções especialmente projetadas para essa interação. Um exemplo já existente é o dispositivo Cius, projetado pela Cisco. O tablet é capaz de transmitir vídeos em 720 p (ou seja, com resolução de 720 x 1.280 pixels e scan progressivo). Segundo Rodrigo Gonsales, da Cisco, a empresa já está negociando sua entrada nos mercados latino-americanos.

Context Aware Computing “A tecnologia permitirá saber como o cliente quer interagir com o banco e de quais produtos e serviços bancários ele pode precisar em um momento específico”, afirma Kristin Moyer, da Gartner. “Se um cliente está em uma loja que vende artigos como refrigeradores, e o banco está consciente de que o cliente está nesse lugar (graças a, por exemplo, tecnologias GPS presentes nos celulares), o banco poderia enviar uma notificação ao telefone do cliente e, assim, oferecer um crédito ou uma oferta útil para a compra desses aparelhos”, explica. Na mesma linha está o Banking TV. Segundo Daniel Garzón, do Comitê Latino-Americano, “a TV fechada ou aberta será um canal a mais dos bancos. Por meio dela, receberemos informações e poderemos fazer transações”. Por exemplo, se o usuário assiste constantemente a programas policiais, o banco oferecerá a compra de uma revista especializada no tema, cobrada no cartão de crédito. “Tudo isso será exibido de forma automática, como um pop-up no televisor, com o qual você poderá interagir para realizar a transação.”

Acesso universal De acordo com Roberto Icasuriaga, diretor de Negócios da Microsoft Chile, uma inovação que já está sendo colocada em prática, e também nasceu em regiões como a América Latina, é a plataforma de serviço por SMS. Conforme explica o executivo, ela responde à necessidade de oferecer serviços em regiões rurais, onde o acesso a tecnologias como internet é restrito e o número de habitantes não justifica instalar uma agência ou um caixa eletrônico. Sem a necessidade de usar smartphones, computadores ou chamadas telefônicas, os clientes podem acessar plataformas de atendimento operadas apenas por mensagens de texto.

Cloud computing Há apenas uma década, os caixas eletrônicos permitiam saques apenas por clientes do banco ao qual pertenciam. As transações entre bancos ou, pior ainda, internacionais, podiam levar um dia inteiro. A razão por trás disso é que eles funcionavam com bases de dados descentralizadas e não contavam com uma forma de comunicação imediata. A computação nas nuvens permitiu tornar mais rápidos esses processos, mas o que realmente faz o trabalho é o Core Banking, um conceito que se refere à centralização das informações entre todas as divisões e todos os serviços do banco. Na avaliação de Kristin Moyer, da Gartner, a importância do Core Banking reside no fato de que ele oferece a possibilidade de sustentar crescimentos acelerados no futuro. E, embora represente mais perigos (uma vez que todas as informações estão armazenadas em um único lugar), os benefícios em termos de custos e velocidade são um elemento que se torna cada vez mais necessário.

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NEGÓCIOS

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TECNOLOGIA BANCÁRIA

Brasil acompanha salto tecnológico Bancos brasileiros investem em alternativas para diminuir os riscos de fraude Sérgio Siscaro, de São Paulo

C

om a recente ampliação do acesso da população brasileira aos serviços financeiros formais, os bancos vêm sendo estimulados a lançar diversas soluções tecnológicas para tornar as transações mais seguras – evitando a clonagem de cartões, por exemplo – e atingir seus clientes por meio de novos canais, como a internet e os telefones celulares. Uma das indicações de como será esse futuro bancário foi mostrada em junho, na última edição do Ciab (Congresso e Exposição de Tecnologia da Informação das Instituições Financeiras), realizada em São Paulo. Nela, a Itautec apresentou

o caixa eletrônico Adattis Touchless 3D, que permite que o atendimento seja feito sem contato físico com o equipamento – bastam apenas comandos por gestos, predefinidos pelo correntista, em frente à máquina, e um cartão reconhecido por aproximação. De acordo com o gerente de Produto de Automação da empresa, David Melo, a proposta da Itautec é tentar antecipar tendências em seus produtos. “Os bancos brasileiros têm uma demanda por produtos já definidos. Buscamos apresentar ideias e concepções novas.” De acordo com Melo, a tecnologia 3D foi apresentada no Ciab ainda como um

conceito. Por enquanto, não há perspectivas para sua implantação nos bancos. O executivo lembra que foi apresentada também a versão com Face Tracking, que inclui o reconhecimento biométrico do correntista e sensores de segurança que detectam quando uma pessoa está acompanhando a transação sem que o cliente perceba. Outra possibilidade apresentada pela Itautec foi a Mesa do Gerente. Dotada de scanner, equipamentos de reconhecimento por biometria e tablet de assinatura, ela permite que sejam efetuadas diversas operações, como abertura de contas ou contratação de financiamentos, sem a necessidade de utilização de papel. Ao mesmo tempo, o gerente também dispõe de informações detalhadas sobre o cliente e, dessa forma, pode ter uma noção mais exata dos produtos que pode oferecer a ele.

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O BANCO NA TV A proliferação das plataformas de atendimento é outro ponto que tem pautado as mudanças no relacionamento entre os bancos e seus clientes. Diante do avanço na tecnologia de telefonia celular e internet, as instituições financeiras têm, cada vez mais, a necessidade de acompanhar seus correntistas mais de perto – oferecendo seus serviços não só nas agências, mas também pelo internet banking e por aplicativos em tablets e smartphones, por exemplo. Essa tendência deverá continuar forte nos próximos anos, com a formatação de serviços de pagamentos por telefone celular (os chamados m-payments). Além desses canais, o Banco do Brasil (BB) aposta em uma alternativa: a oferta de serviços por meio de Smart TVs – que unem as funcionalidades de um televisor à conectividade oferecida pela internet. Desde setembro, os correntistas do BB podem realizar suas transações bancárias em aparelhos da fabricante LG. De acordo com o gerente de Divisão da Unidade de Gestão de Canais do BB, Joaquim Venâncio, a ideia é oferecer

mais um meio de efetuar as transações. “Buscamos antecipar as necessidades dos clientes, oferecendo os serviços em diversas plataformas. Além da Smart TV, temos aplicativos para tablets e iPhones, e procuramos ainda criar novas soluções específicas para redes sociais na internet”, afirma. Com relação à Smart TV, Venâncio acredita que a progressiva incorporação de diversos aplicativos no aparelho o tornará um ambiente mais natural para que o usuário encontre opções de entretenimento ou serviços – como, nesse caso, aqueles de natureza financeira. SEGURANÇA Outra novidade é o terminal inteligente, que pode perceber quando há alguma falha de segurança – e age de acordo com as instruções predefinidas pelo banco. A Diebold Brasil, que atua na área de soluções de autoatendimento, lançou em outubro o Sistema Integrado de Gestão de Segurança, por meio do qual se pode determinar com antecedência se a agência será alvo de um ataque. “Se os sensores internos do terminal indicarem que alguém está há mui-

to tempo em frente ao equipamento sem operá-lo, ou ainda detectar tentativas de inserir pendrives ou forçar o equipamento, o sistema permite que o banco volte as câmeras de segurança para aquele caixa eletrônico, a fim de determinar se há, de fato, alguma ameaça. Em casos de ataque, é possível acionar a polícia com mais agilidade”, afirma o vice-presidente de Tecnologia da empresa, Carlos Alberto Pádua. E se a comunicação do terminal com o sistema de segurança do banco for, de alguma forma, interrompida? “O terminal dispõe de tecnologia para, assim que seus sensores identificarem ameaças de segurança, adotar a medida adequada – que pode incluir a inutilização das cédulas por entintamento, por exemplo”, conta Pádua. Ele acrescentou que a Diebold já desenvolveu uma experiência piloto com esse sistema integrado de segurança em um banco de São Paulo, na qual foi possível avisar a polícia ainda durante a ocorrência de um ataque real. “A alternativa seria ver as fitas de segurança após o roubo, para tentar identificar os criminosos após o evento ter ocorrido”, completa o executivo.

SEGURANÇA NA TRANSMISSÃO DE DADOS A segurança na transmissão de dados bancários também é vista como crucial pelas instituições que atuam no setor. Por essa razão, os bancos têm utilizado cada vez mais os serviços de companhias especializadas em proteger essas informações. A Finnet, que tem como clientes Bradesco, HSBC, Itaú Unibanco, Santander e Caixa Econômica Federal, mantém um processo 100% automatizado, com a utilização intensiva de criptografia, técnicas para garantir a integridade dos arquivos transmitidos e defesa contra a atuação de hackers. “Os nossos focos principais de atuação são a integridade dos dados, sua disponibilidade, ou seja, a garantia

de que eles serão protegidos contra falhas de equipamentos e programas, e sua confidencialidade. Sabemos que qualquer problema nas operações pode gerar prejuízos consideráveis”, afirma o gerente de infraestrutura da empresa, Caio Camargo. Ele conta que a Finnet investiu, neste ano, R$ 1 milhão no aprimoramento de sua infraestrutura – que passa, regularmente, por auditorias externas dos bancos e testes de eficiência. A empresa realiza diariamente entre 10 mil e 15 mil transações – e cada uma delas pode conter até 100 mil operações bancárias. Por causa dessa demanda, em agosto,

a companhia passou a ter seu data center de contingência hospedado no provedor Alog – o que elevou sua capacidade de processamento e armazenamento de dados em cerca de 50%. “Nossos dados estão agora em um ambiente muito mais seguro e altamente controlado, com um espaço que atende a nossa demanda”, diz Camargo. O gerente adianta ainda que a Finnet deverá passar a atuar, a partir de 2012, também com o sistema da Swift (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication), por meio do qual é feita a transmissão dos dados de instituições financeiras de mais de 9,7 mil organizações de 209 países.

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Montagem de AméricaEconomia

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AS RUPTURAS E OS TERREMOTOS DE 2011

O ano do Coelho, um dos signos afortunados do horóscopo chinês, terminou com uma dor de cabeça para governantes, banqueiros e investidores

AméricaEconomia, de Santiago

E

ntre as vítimas do ano estão vários preconceitos assentados na mentalidade ocidental, como o de que os ditadores árabes eram imunes aos ciclos econômicos e à cólera dos cidadãos. Ou de que governar o Chile era simples. Outros, por sua vez, confirmaram-se: o Congresso americano é um sistema a caminho da obsolescência; o Banco Central Europeu de pouco serve sem um Ministério da Fazenda Europeu; a China não pode e nem quer ser a credora de última instância. Ao longo de 2012, o ano do Dragão, a moeda comum europeia deverá lutar por sua vida. Itália e Espanha terão de refinanciar vencimentos de € 443 bilhões, algo insustentável com os níveis de spread com que estão fechando o ano. Sem um eurobônus apoiado pela Alemanha (uma difícil batalha para a chanceler Angela Merkel), a UE tem poucas possibilidades. Em 2011, as placas tectônicas do Pacífico voltaram a se agitar, lembrando a todos que a energia nuclear precisa ser encarada com cautela. Neste final de ano, é precisamente no Pacífico – apesar dos tsunamis, de suas dezenas de culturas, idiomas e aparatos produtivos distintos – onde há mais chances de o livre comércio prosperar durante esta década. Chile e Peru, deste lado do oceano, fecham um ano cheio de incertezas. Caiu o peso e apareceu o sol. Sebastián Piñera afundou nas pesquisas, enquanto Ollanta Humala, contra todos os prognósticos, debutou com a missão de manter o cres-

cimento e resolver as desigualdades. No Brasil, Dilma Rousseff comanda um enorme barco carregado de frenesi e temor. A luta contra a corrupção no governo cedeu espaço a uma freada econômica importada e amplificada pela política fiscal e monetária. Uma mudança de ritmo que pode afetar grande parte da América Latina, especialmente a Argentina, cuja indústria automotiva depende de os brasileiros continuarem dançando ao ritmo do aquecido real. Na Venezuela, agora sim, questiona-se o futuro da Revolução Bolivariana. Hugo Chávez está gravemente doente (moribundo, segundo seus inimigos), o que abrirá a caixa de Pandora, a menos que uma oposição unida, moderada e realista saiba ler o que os venezuelanos querem. Um cenário que já se antecipa com os sinais dados pelos governantes do Equador e da Nicarágua de recompor as relações com Washington. Fará o mesmo Evo Morales, que enfrenta o desencanto de sua própria base social em razão da alta dos preços dos alimentos? Se em 2012 Hugo Chávez poderá entregar o poder a um opositor, as possibilidades de que o presidente mexicano Felipe Calderón o faça são sensivelmente maiores. O Partido Revolucionário Institucional tem seu melhor cenário eleitoral em mais de uma década, o que inquieta, mais do que tranquiliza, em um país em que as lideranças eleitorais não costumam ser suaves, e onde mais de 10 mil pessoas morreram na guerra contra o narcotráfico.

Um ano pior tiveram os centro-americanos. A tentativa da primeira-dama da Guatemala de enganar a lei mediante um divórcio simulado foi apenas uma amostra das ameaças contra a institucionalidade. Com pouco apoio real dos Estados Unidos, considerado o xerife antidroga da região, o narcotráfico continuará expandindo seus tentáculos. Mas a grande batalha política ocorrerá nos Estados Unidos. Barack Obama, que tentará a reeleição, enfrentará algumas das diferentes matizes do duro conservadorismo americano, abrindo um cenário no qual não pode esperar a aprovação de nenhuma lei, por mais relevante que seja, para reativar a economia ou equilibrar as contas fiscais. Se alcançar um acordo entre 27 países europeus já é difícil, fazê-lo com dois partidos políticos nos Estados parece ser igualmente complicado. De acordo com as últimas pesquisas, hoje 56% dos americanos não se interessam pelo movimento Occupy Wall Street nem por nenhuma de suas ramificações. Mas a opinião pública é volúvel e a indignação mobilizada sobe no ritmo em que a economia cai. Um dos grandes paradoxos do ano foi que, apesar da paralisia política reinante em Washington, a demanda por bônus do Tesouro aumentou e o dólar acabou se valorizando. As principais divisas latino-americanas terminaram em baixa, com exceções: o guarani paraguaio e as moedas da sofrida América Central. Caprichos do mercado? Dezembro, 2011 AméricaEconomia 61

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ESPECIAL FIM DE ANO

1 Dilma Rousseff é eleita a primeira mulher a assumir a Presidência do Brasil.

JANEIRO

4 A Petrobras se oferece para comprar 33,3% da italiana Eni na petroleira portuguesa Galp, por US$ 4,7 bilhões.

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11 A chilena Falabella anuncia plano de investimento de US$ 3,5 bilhões para duplicar o número de lojas no Chile, Peru, Colômbia e Argentina.

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19 A AEI, empresa de energia baseada em Houston, vende sua participação em dez empresas ao redor do mundo, incluindo três na América Latina: 52% da colombiana Promigas, 60% da peruana Cálidda e 50% da chilena Chilquinta.

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31 2 Hugo Chávez comemora o 12o aniversário como presidente da Venezuela e se diz pronto para mais uma eleição.

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14 A Empresa de Energía de Bogotá compra, por US$ 111 milhões, a AEI Perú Holdings LTD., proprietária de 60% da Cálidda, que detém a concessão da distribuição do gás natural em Lima e Callao.

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8 200 representantes de grupos indígenas protestam em frente ao Congresso e ao Palácio do Planalto, em Brasília, contra a Usina de Belo Monte, um projeto de US$ 11 bilhões, e entregam ao governo uma petição assinada por 500 mil pessoas, para suspender a sua construção.

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21 A Zurich Financial Services negocia a compra das operações de seguros do grupo Santander na América Latina por US$ 1,67 bilhão. O acordo inclui Brasil, México, Chile, Argentina e Uruguai, duplicando as receitas da Zurich provenientes da América Latina.

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27 A Volkswagen dá início à construção de sua nova fábrica de motores no México, na cidade de Guanajuato. O projeto prevê um investimento de US$ 550 milhões.

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6 Inundações e deslizamentos de terra matam mais de mil pessoas no Brasil e deixam mais de 100 mil desabrigadas.

25 Protestos violentos e em massa surgem no Cairo (Egito), pedindo a renúncia de Hosni Mubarak, no poder há três décadas.

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2 Pistoleiros matam o general Manuel Farfán Carriola, chefe de polícia de Nuevo Laredo, cidade mexicana do estado de Tamaulipas, junto com seus guarda-costas.

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4 A autoridade de concorrência mexicana aprova a compra do grupo financeiro IXE pelo grupo bancário mexicano Banorte, por US$ 1,3 bilhão.

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11 Renuncia o autocrata egipcio Hosni Mubarak.

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13 Pistoleiros matam Homero Salcido Treviño, diretor do centro de segurança e inteligência do estado de Nuevo León, no México.

13 4 O canadense ScotiaBank anuncia a compra da Pronto!, terceira maior financeira do mercado uruguaio.

20 20 18 Greve geral organizada pela Central Obrera Boliviana devido à alta nos preços da cesta básica.

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FEVEREIRO FEVEREIRO

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9 O Brasil anuncia que reduzirá em US$ 30 bilhões o orçamento fiscal para 2011, a fim de controlar a inflação, que em 2010 chegou a 5,9%.

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2 O governo boliviano anuncia um aumento de 20% no salário mínimo, em resposta às mobilizações do mês anterior.

MARÇO

1 O consórcio argentino-chinês Pan American Energy anuncia a aquisição de ativos da Exxon na Argentina, Uruguai e Paraguai, por cerca de US$ 800 milhões.

3 Os presidentes Barack Obama (EUA) e Felipe Calderón (Colômbia) anunciam mais colaboração na guerra contra o narcotráfico e nas disputas comerciais.

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3 Tribunal brasileiro autoriza o início das obras na polêmica Usina de Belo Monte, suspendendo decisão anterior de um juiz do Pará.

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14 Tropas colombianas matam Olidem Romel Solarte Cerón, responsável pelas finanças das Farc.

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4 A mineradora brasileira Vale escolhe Murilo Pinto de Oliveira Ferreira como seu novo CEO.

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7 A Televisa anuncia ter chegado a um acordo de compra da empresa de telecomunicações Iusacell por US$ 1,6 bilhão.

8 A primeira-dama da Guatemala, Sandra Torres de Colom, confirma que se candidatará à Presidência do país. Ela se divorciou do marido no final de março para poder concorrer ao cargo.

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15 Milhares de “indignados” tomam a Puerta del Sol, em Madri, para protestar contra a crise financeira e exigir a responsabilização dos políticos.

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27 Surpreendentemente, Ollanta Humala passa a liderar as pesquisas de preferência eleitoral, duas semanas antes das eleições no Peru. É seguido de perto por Keiko Fujimori.

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10 9 Os presidentes da Venezuela e da Colômbia põem fim à animosidade entre os países.

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14 A Arcos Dorados, maior franqueadora do McDonald’s na América Latina e no mundo, realiza um IPO na Nyse por US$ 1,25 bilhão.

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ABRIL

4 É confirmado o resultado de que o cantor Michel Martelly, 50 anos, foi eleito presidente do Haiti.

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4 Um ex-agente americano revela a existência do Operativo Rápido y Furioso, que permitiu o envio de milhares de armas a narco-mexicanos.

28 A Portugal Telecom SGPS compra 25,3% da empresa de telecomunicações brasileira Telemar Norte Leste (Oi), por US$ 5 bilhões. 4 Um conflito na pequena Universidad Central de Chile (Ucen) culmina na primeira marcha nacional de estudantes universitários, o que resulta no maior conflito social no Chile no último quarto de século.

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ESPECIAL FIM DE ANO

MAIO

1 4 O poeta Javier Sicilia inicia uma caminhada de Cuernavaca até o Distrito Federal do México para pedir o esclarecimento do assassinato de seu filho.

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24 Onda de assassinatos de agricultores ambientalistas no Pará e em Rondônia revolta brasileiros.

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5 No Peru, Ollanta Humala é eleito o novo presidente da República no segundo turno.

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4 O vulcão Puyehue, no sul do Chile, entra em erupção, provocando caos aéreo na Nova Zelândia, Austrália, Argentina e Uruguai.

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15 O Burger King informa que, com a Vinci Partners, abrirá 1 mil unidades no Brasil nos próximos cinco anos (atualmente, são 108).

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JUNHO

7 Cai o ministro brasileiro Antonio Palocci, da Casa Civil, acusado de multiplicar seu patrimônio em 20 vezes entre 2006 e 2010.

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JULHO

6 Alfredo Nascimento, ministro dos Transportes brasileiro, apresentou sua renúncia depois de ser acusado de cobrar propina.

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4 Eruviel Ávila vence a eleição para o governo do Estado do México pelo PRI, fato considerado decisivo para a candidatura do ex-governador Enrique Peña Nieto.

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16 17 7 8 A Gol anuncia acordo para comprar a WebJet por R$ 311 milhões.

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2 O governo lança o Plano Brasil Maior para incentivar a indústria nacional.

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24 2 4 30 A Corte Suprema de Guatemala nega a candidatura de Sandra Torres, ex-mulher de Álvaro Colom.

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6 Saques violentos surpreendem e agitam Londres e outras cidades inglesas.

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25 Um grupo ligado ao narcotráfico ataca o Casino Royale de Monterrey, matando 52 pessoas.

AGOSTO

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25 O Grupo Suramericana anuncia a compra do ING Group de Holanda, empresa de pensões, seguros e fundos de investimentos presente no México, Chile, Peru, Uruguai e Colômbia.

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9 O secretário-executivo do Ministério do Turismo, Frederico Silva da Costa, é detido por acusações de corrupção e desvio de fundos.

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1 No Brasil, as commodities sobem para 71% do valor total das exportações de janeiro a março, contra 67% no mesmo período de 2010.

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SETEMBRO

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21 O real fecha no valor mais baixo em 15 meses. Desde o fim de julho, acumula uma desvalorização de 21% (6% apenas no dia 21).

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15 O grupo Gloria adquire 70% da empresa Holding Grupo Azucarera EQ2, do Equador, junto com outros sócios equatorianos.

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28 O Panamá anuncia a construção da primeira linha do metrô de sua capital, prevista para entrar em operação em 2013.

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15 Governo brasileiro eleva em 30% o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros importados.

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27 O ministro do Interior da Bolívia, Sacha Llorenti, renuncia ao cargo devido à violenta repressão contra mobilizações indígenas.

20 O ScotiaBank se compromete a pagar US$ 1 bilhão em espécie e ações por 51% do colombiano Colpatria.

17 Nasce o movimento Occupy Wall Street, que responsabiliza o setor bancário americano pela crise econômica.

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23 A presidente argen-

Cristina Kirchner 16tinaé reeleita por quatro anos, com quase 54% dos votos.

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26 O ministro brasileiro do Esporte, Orlando Silva, renuncia ao cargo, depois de ser acusado de receber cerca de R$ 40 milhões em comissões ilegais.

OUTUBRO

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4 Forças militares matam o chefe máximo da guerrilha das Farc, Guillermo León Sáenz, conhecido como “Alfonso Cano”.

NOVEMBRO

2 É assassinado no México Ricardo Guzmán Romero, prefeito de La Piedad, sexta autoridade a ser morta este ano.

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6 Otto Pérez Molina vence o segundo turno das eleições presidenciais na Guatemala. Na Nicarágua, Daniel Ortega é reeleito.

16 Pelo valor de US$ 492,4 milhões, a chilena Cencosud adquire a Prezunic, uma das grandes cadeias de supermercados do Brasil.

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OPINIÃO PROFESSOR LUIS ALBERTO D’ANDREA (ARGENTINA) Quais foram os marcos científicos de 2011 e para onde caminharemos? • Entre 2009 e 2011, as empresas voltadas para a obtenção de biocombustíveis de microalgas passaram de 50 para 200. No meu entender, estamos a menos de cinco anos de conseguir substituir o petróleo por combustíveis genéticos. • Estamos a quatro anos de conseguir sequenciar totalmente o genoma humano em algumas horas por um valor entre US$ 100 e US$ 1 mil (a IBM-Roche anunciou seu equipamento para 2014). Isso trará uma revolução ao diagnóstico médico preventivo e também à dieta genogenômica. • Assistimos ao esgotamento de modelos econômicos de produção e consumo cíclicos montados sobre a base de que os recursos naturais são inesgotáveis.

PETER HAKIM (INTER-AMERICAN DIALOGUE) Quais foram os fatos marcantes na América Latina durante 2011? • Uma América Latina mais independente e assertiva com relação a Washington. A visita do presidente Obama não deixou nenhuma marca, o que confirma a perda de influência dos Estados Unidos na região. • Cai a influência da Alba (a Aliança Bolivariana para as Américas), como consequência da doença do presidente Chávez, assim como do estado decadente da economia venezuelana. • O crime organizado continua sendo a principal ameaça à estabilidade democrática na região latino-americana, especialmente na América Central, apesar dos avanços obtidos no Brasil e na Colômbia. • A América Latina continua desacoplada da crise do continente europeu e da cambaleante economia americana. Isso se explica parcialmente pelos preços das commodities e também pela qualidade da gestão financeira e macroeconômica da região.

ALBERTO PFEIFER (CEAL) Quais foram os fatos marcantes na América Latina durante 2011? • A doença do presidente Chávez é um elemento de incerteza em relação ao destino da Venezuela, embora seja um fator de garantia para as eleições presidenciais de 2012. • A eleição do presidente Ollanta Humala, no Peru, com a proposta de um governo de igualdade social e respeito às leis do mercado. • A criminalidade radical no México. • O difícil controle do narcotráfico regional. • A efetiva ação do Estado colombiano no combate ao narcotráfico e à guerrilha das Farc, com a morte do comandante Alfonso Cano. • O avanço na ampliação do Canal do Panamá, o que representa uma mudança significativa na logística do continente americano. • A eleição definitiva de Cristina Kirchner na Argentina, que lhe dá condições absolutas de governabilidade. • As demonstrações nas ruas dos estudantes no Chile, um novo fenômeno social cujos impactos no país e na América Latina não podem ser desprezados.

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OPINIÃO

Mac Margolis é correspondente de longa data da revista Newsweek. Realiza reportagens sobre o Brasil, outros países da América Latina e os mercados emergentes, e já colaborou para diversas outras publicações, entre elas The Economist, The Washington Post e The Los Angeles Times.

A ascensão dos tecnocratas

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Ilustração: Túlio Fagim

uando se debruçarem sobre as democracias de hoje, os historiadores de amanhã terão um trabalhão. Da primavera árabe ao outono dos patriarcas latinos, são cada vez mais raros os governantes que se dão o luxo de ignorar a vontade das ruas ou das urnas. Mas como explicar a ascensão súbita dos tecnocratas? Estamos cercados por eles. A Itália, atualmente em frangalhos, se despede (infine!) do fanfarrão Berlusconi e se fia no economista Mário Monti, excomissário da União Europeia, com nenhuma passagem pelo voto popular. A Grécia, beirando a falência, elencou Lucas Papademos, que fez sua carreira em bancos públicos. O presidente americano Barack Obama se rodeou da espécie, do jovem banqueiro Tim Geithner ao decano do Federal Reserve (Fed), Paul Volcker. Wonks, eurocratas e barnabés. Serão eles a salvação de um mundo a mercê de caudilhos e da intempestiva opinião popular? Há controvérsias. Claro, o tradicional esquema de política partidária está desmoralizado. Foi-se Papandreou – mas, na saída, ele ameaçou referendar o pacote de resgate da economia grega por meio de plebiscito, um blefe populista que quase implodiu a União Europeia.

Na América Latina, que é um feudo de caudilhos e carismáticos, ainda causa espanto o governante que obedece às leis e não aos homens. Mas enaltecer a tecnocracia traz uma desconfiança na vida democrática. Sob o culto ao tecnocrata paira a imagem de lideranças sérias e discretas que fazem decisões ponderadas. “O melhor líder é aquele que passa quase despercebido pelo povo”, dizia Lao-Tzu, patriarca do taoísmo. Pode ser, mas os tecnocratas gozam da legitimidade dos regimes que servem, nada mais nem menos. Foi assim que ocorreu na Espanha franquista, quando o renomado economista Laureano López Rodó prestou serviços ao Generalíssimo Francisco Franco, garantindo sobrevida ao regime fascista. O magnata paquistanês Shaukat Aziz deixou o Citibank para colher louros como superministro do homem forte Pervez Musharraf, mas saiu do país à francesa, escorraçado por escândalos de corrupção. E o que esperar do novo premiê grego que, quando esteve à frente do Banco da Grécia, chancelou todos os trâmites que permitiram ao país ingressar na zona do euro sem cumprir as exigências cabíveis? Domínio dos procedimentos legais, fluência tecnológica, preparo acadêmi-

co e destreza do ponto de vista gerencial são todas ferramentas nobres, mas não bastam. Liderar requer capacidade de inspirar, desarmar conflitos e às vezes impor sacrifícios – habilidades que não vêm no canudo de doutor. Que o diga Dilma Rousseff. Seu currículo de servidora pública impressiona, mas pouco adianta para adestrar os apetites da predatória aliança política que ora sustenta, ora sabota seu governo. Já seu par chileno, o bilionário Sebastián Piñera, tomou posse sob a pecha de neoliberal, mas logo venceu a desconfiança com seu estilo de super gerente, um Michael Bloomberg latino. Colocou o Chile de pé após o terremoto de 2010 e micro-administrou o resgate espetacular dos 33 mineiros presos nos escombros. Mas perdeu a mão ao trombar com universitários indignados com o custo da educação. O Chile pode ser hoje um modelo de convivência democrática, com o melhor desempenho escolar da região, mas a Piñera faltaram os argumentos e o pulso político para liderar na crise, e sua aprovação despencou a míseros 26%. Melhor foi Juan Manuel Santos. O economista nunca disputara uma eleição antes de se eleger presidente colombiano, mas hoje desponta pela astúcia política. Estendeu a mão a Hugo Chávez, o maior desafeto de seu mentor político, Álvaro Uribe, e arquivou uma guerra fria que solapava o comércio do país. Patrocinou a Lei de Reparação, ressarcindo vítimas, tanto da guerrilha quanto (ineditamente) das forças oficiais de segurança. E, para surpresa daqueles que o acusaram de afrouxar o cerco contra a guerrilha, ordenou o ataque fulminante que matou o comandante máximo das Farc, Alfonso Cano. Com 74% de aprovação, Santos hoje é o tecnocrata que soube sobressair, convertendo competência em capital político e seu país, em destaque continental.

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FINANÇAS INVESTIMENTOS

Como ganhar dinheiro na crise 1 O Saiba preservar os investimentos e, de preferência, aumentar o patrimônio, mesmo em tempos difíceis na economia Natalia Gómez, de São Paulo

Estratégia defensiva

Uma das poucas unanimidades entre os especialistas em investimento é que o momento atual exige uma estratégia defensiva do investidor. A crise na Europa e nos Estados Unidos não deu sinais de recuperação, e um eventual agravamento terá reflexos no Brasil, em razão da desaceleração mundial. “A economia brasileira está evoluindo, mas não está blindada contra as influências externas”, afirma o especialista em finanças da Money Fit, André Massaro. Aplicações em renda variável são ainda mais impactadas pelas oscilações externas, pois os movimentos dos investidores estrangeiros na bolsa provocam variações bruscas nos preços das ações das empresas brasileiras. Por isso, é fundamental que os investidores procurem se informar e estudar o mercado, antes de tomar qualquer decisão. Investimentos que acompanham os juros e a inflação são apontados como bons instrumentos para se defender da crise. Na bolsa, o momento é de fortes oscilações, o que desestimula investimentos de curto prazo. Mesmo assim, quem estiver disposto a correr riscos deve buscar empresas com caráter defensivo, que são as boas pagadoras de dividendos.

Foto: Shutterstock

cenário macroeconômico, temperado com crise externa, expectativa de alta de inflação e volatilidade das bolsas, traz desafios para o investidor brasileiro, acostumado com os recentes anos de bonança. Nesse contexto, quais são as melhores alternativas para garantir a rentabilidade ou reduzir perdas? Confira abaixo dez orientações de especialistas em investimentos.

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Dividendos

Os dividendos são a parcela do lucro da empresa distribuída aos acionistas. A política de distribuição de dividendos – percentual do lucro e periodicidade com que o desembolso é feito aos donos do papel da companhia – varia conforme a empresa, e é possível obter rankings das maiores pagadoras nas corretoras de valores. O pagamento de dividendos garante que o investidor continue a ganhar, mesmo que as ações da empresa estejam em queda na bolsa e, por isso, esse tipo de papel é tido como defensivo. “Se os papéis não valorizarem, o investidor terá um fluxo constante de entrada de dinheiro”, afirma o professor da FIA (Fundação Instituto de Administração), Caio Torralvo. Outra vantagem é que os ganhos são isentos de Imposto de Renda. Os setores que costumam pagar melhores dividendos são os de energia elétrica, saneamento básico e telecomunicação, mas também existem empresas de outros setores que se destacam, como a Souza Cruz e a Ambev, que elegeram a distribuição de lucro como prioridade. São empresas geradoras de caixa que não precisam fazer grandes investimentos para sua expansão e, por este motivo, os recursos que entram são distribuídos entre os sócios. Caso não seja grande conhecedor do mercado, o investidor pode optar por fundos de ações que investem em empresas pagadoras de dividendos.

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FINANÇAS INVESTIMENTOS

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Foco no mercado interno

Outra opção para quem pretende investir na bolsa é escolher companhias que tenham seus negócios concentrados no mercado doméstico e, portanto, sejam menos vulneráveis à crise externa. Segundo o analista Fernando Góes, da corretora Rico, os papéis de empresas exportadoras e da área de commodities são os mais afetados pelas oscilações externas, caso da Vale e da Petrobras, que têm grande peso no índice Ibovespa. “Minha indicação seria tomar cuidado com ações inseridas na economia mundial e se proteger, por meio de papéis com bons fundamentos, menos exposição ao mercado externo e menos relacionados ao Ibovespa”, diz. As ações do índice costumam ser mais afetadas pela crise, porque são mais conhecidas pelo investidor estrangeiro. Neste momento, alternativas voltadas para o mercado brasileiro, como empresas de serviços e consumo, são boas opções, segundo o analista, que cita Redecard, Cielo, Hering, Ambev e BRMalls como bons exemplos. O crescimento da classe média e o baixo nível de desemprego são indicadores de que os negócios de companhias centradas no consumo local tendem a apresentar bons resultados, mesmo com a turbulência estrangeira. A equipe de análise da corretora Planner também recomenda investimentos em empresas afinadas com o mercado interno, principalmente nos setores de energia, construção e varejo. A perspectiva de queda nas taxas de juro deve ser um catalisador para as varejistas em 2012.

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Bolsa a longo prazo

Apesar de indicar ações pagadoras de dividendos e concentradas no mercado doméstico, os especialistas alertam que a bolsa não é uma boa opção para os investidores que pretendem retirar seu dinheiro no curto prazo, pois estes ficarão muito expostos à volatilidade que assola a instituição. Segundo o gestor de investimentos da Lecca, Georges Catalão, é recomendável montar posição na bolsa com horizonte superior a três anos. “Se o prazo for inferior, não recomendaria entrar em renda variável, porque existe um risco de realização do mercado”, afirma. Isso significa que pode ocorrer um movimento de venda de ações, derrubando os preços. Em outubro, o Ibovespa médio foi de 54.515 pontos, com máxima de 59.513, desempenho considerado positivo pelos analistas. A média ficou abaixo de todos os meses do ano, mas superou agosto, quando o índice médio foi de 53.736. No entanto, o especialista afirma que não houve fundamentos macroeconômicos que justificassem o desempenho positivo em outubro, e existem grandes chances de um recuo no curto prazo. Para quem tem foco no longo prazo, uma das formas de isolar a volatilidade do mercado é comprar pouco e sempre. Com isso, o efeito de comprar na alta é compensado por compras feitas na baixa do mercado, segundo Góes, da Rico. O analista explica que isso é recomendável para pessoas que encaram a bolsa como investimento para aposentadoria, por exemplo. A mesma recomendação é feita para quem pretende vender suas ações. O ideal é fazer isso aos poucos, para minimizar os efeitos da volatilidade.

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Seja fiel à sua estratégia

Caso você tenha uma estratégia clara de investimentos, deve tomar cuidado para não sabotá-la durante o período de crise. Mesmo que os fatos não estejam de acordo com as previsões, os especialistas destacam que é importante manter o foco na estratégia de investimentos. Segurar a ansiedade evitará que você venda papéis em baixa, e realize prejuízos que poderiam ser revertidos com o tempo. O analista de sistemas Henrique Mattiello, de 29 anos, tem 60% dos seus investimentos em renda variável, e não fez nenhuma venda durante a crise atual. “Estou mantendo a calma, porque minha estratégia é de longo prazo. Se saísse agora, perderia dinheiro”, afirma. Segundo ele, sua perda seria de 25% caso vendesse hoje suas posições. Mattiello conta que as informações sobre o mercado variam a cada dia, e é difícil encontrar direção. “A volatilidade é muito grande.” Seu objetivo de investimento em ações tem prazo de 10 a 15 anos, e o analista de sistemas pretende manter uma exposição à renda variável em cerca de 50%. Como não existe uma regra única para todos os investidores, é preciso pensar nos seus próprios planos e manter-se fiel a eles.

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Selic ainda é boa opção

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A alta da inflação é outro fator que deve pesar na decisão dos investidores. De janeiro a outubro de 2011, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial do país usada como base para as metas do governo, acumula alta de 5,43%. Em 12 meses, a alta é de 6,97%, acima do teto da meta da inflação estabelecida pelo Banco Central, que é de 6,5%. Para proteger seus investimentos dessa tendência, uma das alternativas mais recomendadas pelos consultores financeiros é investir em um título do Tesouro chamado NTN-B. Este título tem sua rentabilidade vinculada à variação do IPCA, acrescida de juros definidos no momento da compra. Assim, se a inflação subir, o efeito sobre esse investimento será positivo no longo prazo. Outra opção são os fundos de investimento que tenham como objetivo superar a inflação. O professor da FIA afirma que a grande novidade no mercado atualmente é a inflação, que não está mais sendo combatida pelo governo com alta de juro. “Hoje os juros estão caindo, enquanto a inflação sobe. Por isso é importante pensar em formas de se proteger da inflação, porque já não existe aquela proteção natural”, afirma Torralvo.

Foto: Shutterstock

Investimentos atrelados à taxa básica de juro, a Selic, continuam vantajosos aos investidores, mesmo com a tendência de queda apresentada este ano, pois a taxa segue muito superior à registrada em outros países, em especial os considerados desenvolvidos. Nas cinco primeiras reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, neste ano, a Selic acumulou altas de 1,75 ponto percentual, mas nas duas últimas reuniões ocorreu uma redução de 1 ponto porcentual na taxa, com o objetivo de reduzir os efeitos da crise externa no mercado doméstico. Em outubro, a taxa ficou em 11,5%. “A coisa mais sensata a fazer é tirar proveito das altas taxas de juro, enquanto elas ainda existem, pois a tendência é que elas se equiparem aos padrões internacionais no futuro”, explica Massaro, da Money Fit. A melhor maneira de fazer isso é investir em títulos do governo, por meio do sistema Tesouro Direto, ou por fundos de investimentos que sejam concentrados nesse tipo de papel. A compra direta dos títulos pode ser feita pela internet, mas antes o investidor precisa se cadastrar em uma corretora de valores. O consultor financeiro Humberto Veiga explica que outra vantagem dos títulos do governo é o baixo risco. O investidor também pode procurar aplicações como um fundo DI ou de renda fixa, que têm como objetivo acompanhar o CDI, pois essa taxa sempre costuma estar próxima da Selic.

Defenda-se da inflação

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FINANÇAS INVESTIMENTOS

Evite riscos

Investimentos como ouro e dólar inspiram cautela em tempos de crise. Ambos subiram bastante neste ano, mas não há garantias de que continuarão tal trajetória no futuro. E, como outros termômetros da economia já estão gerando incertezas, o ideal é evitar riscos adicionais. Ao contrário das ações, que podem pagar bons dividendos, o ouro só gera rendimentos se o investidor comprar barato e vender caro. Por isso, exige maior conhecimento do mercado. “O metal tem grande volatilidade, e os investidores sem muito conhecimento dessas movimentações podem não ser bem-sucedidos”, afirma José Roberto Ferreira Savoia, professor da FEA-USP e do Laboratório de Finanças (LabFin). Já o dólar é indicado apenas para quem pretende viajar nos próximos meses e quer se prevenir de uma valorização. Mas como investimento não é recomendável, porque é difícil acertar a melhor hora para comprar e vender.

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Fundos de investimento

Entre os fundos de investimento, uma das alternativas é avaliar fundos multimercado que adotam a estratégia macro, pois estes levam em consideração questões macroeconômicas, como expectativa de crescimento da economia, inflação e juros. Segundo Catalão, gestor da Lecca, esse tipo de fundo tem capacidade de apresentar bons desempenhos em um ambiente de mudança de expectativas. Ele explica que outros tipos de fundo multimercado não são voltados para o cenário macroeconômico, pois usam critérios como modelagem matemática ou distorções de preços entre empresas, e por isso não são ideais para o momento atual. No mercado de fundos, alguns especialistas destacam os imobiliários, que agrupam investidores para aplicar em um ou mais imóveis. Estes são alugados, e o rendimento mensal é distribuído aos cotistas. Esse tipo de investimento tem ganhado espaço no Brasil devido ao boom do setor imobiliário, e muitos são negociados em bolsa. Para qualquer tipo de fundo, a recomendação geral é procurar a menor taxa de administração, pois isso consome a rentabilidade.

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Além de gerar questionamentos sobre como investir, a crise também é uma hora propícia para avaliar sua saúde financeira. O educador financeiro Reinaldo Domingos explica que, antes de olhar para o mundo, o investidor deve olhar para si mesmo e analisar sua própria situação. “O mundo vai mudar a todo momento, então, se cada um tiver clareza dos seus objetivos e poupar, teremos mais poupança e menos endividamento”, explica. De nada adianta investir se a pessoa tem dívidas, pois uma ação anula a outra. Segundo ele, o planejamento deve ser feito em conjunto com a família, com metas de curto, médio e longo prazos, e estabelecendo prioridades. “Esse diagnóstico é fundamental e deve ser feito periodicamente, de preferência a cada seis meses.”

Foto: Shutterstock

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Faça um diagnóstico

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OPINIÃO

Caio Megale é mestre em Economia pela PUC-Rio e economista do Itaú BBA (megalecaio@gmail.com)

Europa, (mais) uma vítima do crédito fácil crise na Europa parece interminável. A Grécia está virtualmente insolvente há bastante tempo, e políticos, credores e sociedade não conseguem chegar a um acordo para reestruturar a dívida. Todos sabiam que o problema não poderia se prolongar por muito tempo, para não afetar as condições de financiamento de países “grandes demais para quebrar” – e para ser salvos –, como Itália e Espanha. Não obstante, o problema se prolongou. Hoje, a Itália pode ser empurrada para a insolvência por causa dos juros altos. Já discutimos neste espaço os problemas estruturais da união monetária. As motivações políticas que resultaram na moeda única ignoraram – ou lidaram mal com – seus obstáculos econômicos. No entanto, além das dificuldades estruturais, que hoje parecem corroer os pilares da zona do euro, há o problema do excesso de endividamento público e privado de alguns países-membros.

A

ENCONTROS E DESENCONTROS Evolução da taxa anual de juros dos títulos do governo em 10 anos – Grécia e Alemanha (em %) Período 5,33

Dez. 99

6,48 4,93

Dez. 01

5,32 4,28

Dez. 03

4,42 3,26

Dez. 05

3,54 4,34

Dez. 07

4,63 3,32

Dez. 09

5,81 2,07

Out. 11

24,08

Alemanha Fonte: Haver

Grécia

Nesse sentido, a Europa é mais um integrante da lista de vítimas do crédito fácil da história econômica mundial. A gênese do problema está na falsa convergência de taxas de juro entre os países que passariam a integrar a zona do euro, na segunda metade da década de 1990. O gráfico mostra o caso da Grécia, mas dinâmicas semelhantes aconteceram em Portugal, Espanha e Irlanda. Em 1994, para financiar-se no mercado internacional, a Grécia, com seu histórico de má disciplina fiscal, tinha de pagar juros de 20% ao ano. Já a austera Alemanha desfrutava de juros baixos, 5% ao ano. Com a unificação da moeda e da política monetária, o mercado começou a acreditar que a qualidade de crédito dos países passou a ser a mesma. Os juros gregos convergiram para o mesmo nível dos alemães, e por lá ficaram por quase dez anos. Para uma nação com as características e a demanda reprimida de um país emergente, a tentação foi grande demais. Os juros baixos produziram uma explosão do crédito. Especialmente o mais perigoso, o imobiliário, pois compromete uma fração grande da renda do devedor por um longo período de tempo. Não se sabe se os fatores estruturais e o sobre-endividamento dos últimos anos vão levar à ruptura do bloco europeu. Uma debandada não será trivial. Quem sairia? O que fazer com as dívidas denominadas em euro do país ou dos países que se afastarem. Como garantir que os que ficarem vão conseguir se segurar? Se os países mais problemáticos saírem, o euro provavelmente experimentará uma forte apreciação, afetando as exportações dos remanescentes. Mas, no mínimo, a crise deixará a região sem crescer por muitos anos. E isso

tem consequências importantes para os mercados financeiros. Tomemos por exemplo o mercado de seguro de títulos (CDS). Se a moratória da Grécia for unilateral, o tamanho dos seguros a serem pagos pode gerar novos casos de insolvência. Se, por outro lado, a moratória for “consensual”, para não caracterizar um evento em que o seguro tenha de ser pago, este importante mercado ficará desmoralizado e pode perder o sentido. Afinal, para que eu vou comprar um seguro se, quando eu mais preciso dele, não posso usar? O drama europeu traz também lições para os países emergentes. O Brasil luta há anos contra os juros altos. Mas incursões voluntariosas a níveis de juros artificialmente baixos podem ser ainda mais perigosas. A curto prazo, a sensação de crescimento acelerado das vendas e da produção pode dar uma sensação de virtuosismo. Mas as consequências do estouro da bolha são sempre traumáticas.

Ilustração: Túlio Fagim

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IBIZ

Em busca de leitores digitais Mercado ainda caminha de forma lenta no Brasil. Mas a possível popularização dos tablets leva editoras e livrarias a se preparar para o aumento do uso de e-books no país Sérgio Siscaro, de São Paulo

U

ma biblioteca completa que cabe na palma da mão, pode ser levada a qualquer lugar, acessada com facilidade e que não oferece problemas de armazenagem e transporte. Esses eram alguns dos argumentos dos defensores dos livros eletrônicos, ou e-books, que há alguns anos previam que as novas tecnologias sepultariam de uma vez por todas as mídias impressas. No entanto, a realidade atual ainda é diferente. Os dois modelos têm convivido lado a lado, embora o livro digital venha conquistando espaços importantes, inclusive no Brasil. Mas em um ritmo distinto daquele inicialmente projetado pelos entusiastas do e-book. Apesar de não existirem dados oficiais da CBL (Câmara Brasileira do Livro) sobre esse mercado, estimativas apontam que ainda está bem abaixo do mercado dos Estados Unidos. Segun-

do os cálculos da AAP (Association of American Publishers), em 2010, a comercialização de livros digitais cresceu 164,8% naquele país, atingindo US$ 49,5 milhões. No primeiro semestre deste ano, a tendência de alta se manteve, com um incremento de 160% na comparação com igual período de 2010. Outro sinal de que o livro digital chegou para ficar – pelo menos no mercado americano – foi o anúncio, feito em maio pela livraria online Amazon, de que a venda de e-books para seu leitor Kindle já superava a de publicações físicas. Além disso, o barateamento de aparelhos como tablets poderá contribuir para que o e-book esteja mais presente no cotidiano das pessoas. Neste mês começa a ser vendido na Índia o tablet Aakash, considerado o mais barato do mundo: US$ 60 (ou R$ 106) – o que torna o dispositivo especialmente atraente para o setor educacional, por exemplo. Em no-

vembro, o equipamento, fabricado pela empresa britânica DataWind (com subsídio do governo indiano), já tinha encomendas de 300 mil unidades. Por aqui, também há sinais de que essa forma de leitura possa ser popularizada. A recente desoneração tributária do governo federal, com a finalidade de estimular a fabricação nacional de tablets, poderá virar esse jogo. Espera-se que o barateamento do custo dos aparelhos tenha um efeito positivo, uma vez que o recente aumento da população com maior renda e a facilidade de concessão de crédito poderão tornar a opção da leitura de um livro em uma tela – e não mais em páginas de papel – mais popular também por aqui. Na avaliação da presidente da Câmara Brasileira do Livro, Karine Gonçalves Pansa, o mercado de livros digitais ainda é incipiente no país, mas oferece potencial de crescimento. “Em teoria, a

LINHA DO TEMPO 1998 EUA: É lançado o

1999 EUA: Surge o

2000 França: É lançado o

2004 Japão: A Sony lança

leitor RocketBook. Com tela monocromática, ele permitia download de livros – mas por intermédio de um computador.

Softbook Reader, com modem para acesso ao site da empresa para baixar os títulos.

Cybook, com capacidade de armazenar 30 livros, conexão com a internet via cabo e tela colorida.

o LIBRIé, primeiro leitor de e-books com tecnologia e-Ink, com apresentação do texto mais próxima de uma página impressa.

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cativos e novidades relacionadas às plataformas tecnológicas. EXPERIÊNCIAS A pioneira no mercado brasileiro de livros digitais foi a Gato Sabido, que começou suas atividades no fim de 2009 como uma livraria de e-books. O empreendimento nasceu das possibilidades que o seu fundador, Duda Ernanny, já enxergava no modelo editorial digital. “Sempre me falaram que eu era louco; que ninguém iria ler um livro na tela, que as pessoas gostam de sentir a textura do livro. Mesmo assim, achei a ideia bacana e prossegui com a iniciativa, encomendando na China o primeiro lote de leitores digitais para o Brasil.”

Fotos: Shutter

maior afluência das pessoas a aparelhos que permitam a leitura de e-books deverá tornar essa tecnologia mais acessível. Houve uma evolução notável nos últimos anos, e as editoras estão atentas a esse cenário”, pondera. Uma dificuldade que ela vê para essa expansão é a falta de modelos de negócio para o e-book. Atualmente, cada editora busca a própria solução. “O mesmo se aplica à forma como elas negociam os royalties com os autores. Isso é uma dificuldade adicional.” Essa discussão sobre modelos de negócios foi, de acordo com a presidente da CBL, uma das questões discutidas na última edição da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, realizada em outubro – ao lado do lançamento de apli-

2006 EUA: Sai o Sony Reader

2007 EUA: A Amazon

PRS-500, com tecnologia e-Ink, 64 MB de memória RAM, ligação USB e sistema Linux. Já possibilita ao leitor ouvir arquivos em mp3.

ingressa no mercado com o Kindle, que permite a leitura de livros, jornais e blogs.

Nos primeiros meses, a Gato Sabido esbarrou em um problema: as editoras não dispunham de arquivos organizados de seus catálogos de livros digitais. Foi a deixa para que Ernanny fundasse uma empresa auxiliar – que, com o tempo, passou a crescer mais que a original: a distribuidora Xeriph. “Montamos um sistema de distribuição de conteúdo que permite acesso tanto ao catálogo quanto à tecnologia”, diz, acrescentando que, hoje, a companhia dispõe de 6 mil títulos, de editoras como Companhia das Letras, Saraiva, Campus Elsevier, Melhoramentos e Globo. Um possível entrave que ainda deve ser contornado é a questão da conversão dos arquivos para o formato digital. “O mais adotado é o ePub, considerado a nova linguagem dos e-books. Na Xeriph, o custo de conversão é de R$ 209 por título. Nem todas as editoras têm a possibilidade de aplicar seu capital de investimento nesse tipo de operação”, diz Ernanny. Já a pirataria dos títulos não seria um problema tão grande, apesar da vulnerabilidade representada pela plataforma digital. “Utiliza-se um padrão que já é protegido contra cópias. Para piratear o título, é necessário ter conhecimento de informática. Mas o fator que estimula essa prática é a inexistência da versão digital dos títulos no mercado. É o caso, por exemplo, da série Crepúsculo [da escritora Stephenie Meyer]. Ele não é

2009 EUA: A rede Barnes & Noble lança o leitor Nook, baseado na plataforma Android, do Google.

2010 EUA: Levantamento da A.T. Kearney mostra tendência de queda na venda dos livros físicos entre 2010 e 2020, equilibrada pelo aumento no mercado de e-books.

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IBIZ comercializado em português, mas pode ser facilmente baixado em versões piratas na internet”, conta. Para Ernanny, as vantagens do e-book para o mercado editorial são inegáveis. “As editoras não têm de arcar com o custo dos encalhes, por exemplo. E, para o leitor, existe a conveniência de ter uma forma mais confortável de ler. “O brasileiro não é resistente ao livro digital. Ele quer, antes de tudo, ter acesso à obra, seja em que formato for. Estamos em um momento de convergência no que se refere aos aparelhos. Isso deverá colaborar para a popularização do e-book, tornando suas vantagens mais palpáveis.”

PAUSA NA LEITURA Apesar do avanço registrado nos últimos anos em termos de aparelhos de leitura digital, um fator que ainda afasta as pessoas dessa tecnologia é que a leitura feita em um e-book é uma atividade cansativa – para os olhos, pelo menos. O usuário de livros digitais ainda se sente desconfortável com as luzes emitidas pelos aparelhos ou com o contraste das letras com a tela de fundo, por exemplo. De acordo com o médico Eduardo de Lucca, que integra a equipe de oftalmologistas do IMO (Instituto de Moléstias Oculares), em São Paulo, o uso de livros digitais não causa nenhum dano visual. “O que ocorre é que o uso prolongado de aparelhos como computadores, tablets ou telefones celulares desenvolve fadiga no mecanismo de foco dos olhos, o que acaba gerando cansaço por exposição prolongada”, diz. Na avaliação do especialista, esse cansaço pode servir para evidenciar eventuais problemas prévios de visão, como miopia e astigmatismo. “O uso em si do e-book não acarreta lesões de retina ou queima de córnea.” Uma forma de amenizar a fadiga visual seria, de acordo com o oftalmologista, fazer breves pausas na leitura do livro digital, com intevalos de 30 ou 40 minutos, para relaxar a musculatura.

MAIS ACESSIBILIDADE Se essas vantagens ainda não se difundiram no universo de leitores brasileiros de forma mais acentuada, pelo menos elas parecem mais presentes entre os leitores da Livraria Cultura. Há pouco tempo, a rede assistiu à expansão de sua oferta de e-books, chegando a um catálogo de 4 mil obras brasileiras e mais 200 mil importadas. Recentemente, a livraria abriu a possibilidade de comercializar os livros digitais diretamente em suas lojas, por meio da aquisição de um cartão que permite o download do título escolhido em até seis aparelhos – incluindo dispositivos da Apple e o Android. Antes, a Cultura já havia colocado no mercado o leitor Positivo Alfa e o aplicativo eReader – que permite a leitura por tablets e smartphones da Samsung, além dos da Apple, como iPhone, iPad e iPod touch. Para o coordenador da Equipe de e-Books da Livraria Cultura, Mauro Widman, a aposta da rede no livro digital tem sido bem-sucedida. “Temos registrado de 20 mil a 30 mil downloads por mês com o eReader para iPad – é um dos maiores volumes da Apple no Brasil”, afirma. Widman conta que as vendas de e-books pelo site da Livraria Cultura têm duplicado a cada três meses.

“Tivemos três grandes saltos. Em agosto de 2010, quando saiu o Positivo Alfa; em janeiro deste ano, em razão das vendas de tablets feitas para o Natal; e agora em julho, quando foi lançado o e-reader para aparelhos da Apple. Devemos ter outro em breve, com a venda de livros digitais por meio de cartões”, diz. Na relação de livros digitais mais vendidos divulgada pela Livraria Cultura entre 7 e 13 de novembro, a lista é liderada por Steve Jobs (Walter Isaacson), seguido de As Esganadas (Jô Soares), Domingo, o Jogo (Cassia Cassitas) e O Sol da Liberdade (Giselda Laporta Nicolelis). Widman considera que, aos poucos, o e-book ganhará importância. “Hoje, as vendas de livros digitais representam algo como 1% de nosso faturamento, que em 2010 atingiu um total de R$ 300 milhões. Esperamos que esse percentual atinja 5% em 2013.” POUCOS LEITORES Apesar do entusiasmo do fundador da Gato Sabido e das experiências positivas da Livraria Cultura, a expansão do mercado brasileiro de e-books ainda é lenta – o que pode se dar em razão de não ter sido feita uma aproximação das empresas do setor com escolas e universidades

PROFISSÃO: DESIGNER A proliferação de títulos de e-books no mercado brasileiro também leva à necessidade de criar uma “cara” menos associada aos livros físicos em suas versões digitais. E é aí que entra o papel do designer de livros, que tem agora uma série de possibilidades à sua frente – um universo bem mais amplo do que a anterior limitação às dimensões da página impressa, do tamanho das letras ou da distribuição de imagens. De acordo com o professor Júlio César de Freitas, responsável pelo curso de pós-graduação em Design e Tecnologia Digital para Desenvolvimento de Produtos e Serviços da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), as editoras não só notaram o crescimento do produto digital, como já se equipam para isso

– tanto em termos de maquinário quanto de pensamento tecnológico. “O livro digital é muito diferente do físico; ele abre possibilidades completamente distintas. E a formação do profissional responsável pelo design está mudando, tornando-se mais abrangente”, afirma. Segundo Freitas, essa mudança implica preparar os futuros designers para atender a demanda da evolução tecnológica dos próximos anos – e não meramente a que se vê atualmente. “O esforço que se tem feito é o de atualizar os alunos para que, quando saírem do curso, disponham de um repertório de conhecimento que seja mais adequado para lidar com essas mudanças. O conhecimento deve ser perene, enquanto a tecnologia é efêmera.”

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Foto: Divulgação

citando os alunos para utilizar essa tecnologia”, afirma. Outro ponto apontado por Torrigo é o fato de os aparelhos ainda serem caros – e a projetada popularização dos tablets ainda não ter se concretizaWidman, da Cultura, aposta no gradual aumento dos livros digitais no faturamento do. “Houve muita piroda rede de livrarias tecnia e não aconteceu muita coisa. Corremos para popularizar a utilização de tablets. o risco de, novamente, perder o trem.” A avaliação é do publisher e fundador Widman, da Cultura, concorda. “O merda Per Scriptum Consultoria Editorial, cado tem potencial de deslanchar. Mas Marcos Torrigo. Na sua opinião, as ini- os e-readers ainda têm um custo muito ciativas de popularização do formato elevado no Brasil. O Positivo Alfa, por ainda são reduzidas. “Há uma grande exemplo, é vendido a R$ 699 – valor com demanda represada. O governo federal, o qual o leitor pode comprar livros físicos que é o maior comprador de livros físi- por um ano.” cos do país, deveria incentivar a utilizaEle também aponta entraves relacioção de livros digitais nas escolas, capa- nados ao conteúdo dos e-books. “Uma é

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a questão dos contratos das editoras com os escritores. Muitos são antigos, e não preveem a distribuição por meio de um canal digital, e, portanto, devem ser renovados. E esse processo demora – não há ainda um modelo de negociação definido.” Outro aspecto que Widman destaca é a obrigatoriedade do Acordo Ortográfico a partir de 2012. “As editoras terão de acelerar a revisão de seu catálogo, e depois passar para o formato digital. E isso tem um custo. Há ainda o problema da falta de informação técnica sobre as peculiaridades do e-book.” Para Torrigo, no entanto, o principal fator que atrasa a difusão do e-book no país são os baixos índices de leitura. “O grande problema é o que o brasileiro não lê. Deve-se incentivar a prática da leitura, independentemente da plataforma. É algo bem mais profundo do que simplesmente popularizar o uso de computadores e celulares”, avalia.

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DEBATES CENÁRIO POLÍTICO

Crise de

COMANDO Com o afastamento de Lula, políticos da base aliada tentam descolar do PT e emplacar os próprios candidatos nas próximas eleições Izabelle Azevedo, de Brasília

A

Lula com a camisa da seleção brasileira, presente do técnico Mano Menezes

Foto: Divulgação

saída de cena do ex-presidente Lula para tratar de um câncer de laringe mexeu no tabuleiro do jogo político que começa a se desenhar com vistas às eleições municipais do próximo ano e do pleito de 2014. Sem seu maior cacique e articulador em campo, o PT presencia movimentos dos próprios aliados para consolidar candidaturas independentes. Até agora, essas articulações vinham sendo discutidas apenas internamente dentro das legendas, mas

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não havia anúncios públicos de intenções que pudessem contrariar a vontade de Lula. A situação mudou tanto nas discussões nacionais quanto nas regionais. Agora, ninguém mais parece temer expor suas ambições eleitorais. O PSB, por exemplo, vinha fugindo de declarações públicas sobre o desejo de se rebelar em 2014 e se afastar do PT, apesar de o divórcio da sigla com os petistas ser dado como certo em várias cidades brasileiras. A cautela começou a dar espaço a discursos seguros de quem não está apenas disposto a ter candidatura, como de quem se prepara pra resolver disputas internas pela vaga. Isso porque, enquanto o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tem anunciado seu interesse pela sucessão de Dilma Rousseff, o ex-deputado federal Ciro Gomes ressurge no cenário político para dizer que também quer a vaga de candidato a presidente pelo PSB. Ciro, no entanto, precisa antes desbancar o poder já conquistado do governador pernambucano, que, além de se autoproclamar a melhor opção para o PSB, tem nas mãos nada menos que a presidência da legenda. Até então, Eduardo Campos se movimentava com discrição e a costura de uma possível candidatura vinha sendo feita apenas nos bastidores, em conversas reservadas com governistas e oposicionistas. Cautela que tinha o objetivo principal de evitar choques com o maior líder petista, já que é amigo pessoal do ex-presidente Lula. Nas últimas semanas, no entanto, o governador pernambucano não tem escondido de ninguém seu projeto para 2014 e passou a receber manifestações de todos os lados. Além

de elogios pela facilidade de transitar nas mais diferentes esferas de poder e pelos partidos, os políticos adeptos da ideia de sua candidatura afirmam que conta a favor de Campos o fato de ele ter se fortalecido ao conseguir fazer a Câmara dos Deputados eleger sua mãe, Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Uma demonstração, segundo eles, de capacidade de dar as cartas no jogo político. A doença do ex-presidente Lula também acelerou as movimentações da oposição. Decidido a não antecipar o debate político de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) mudou de ideia, coincidentemente logo depois do afastamento de Lula para tratar da

atrás. Pressionado pela oposição a se declarar pré-candidato, ele estava segurando a empolgação e alegando não ser hora de pensar nas eleições presidenciais. A posição do mineiro era interpretada como uma forma de adiar o embate direto com o ex-presidente Lula – com quem mantém boas relações – e com a presidente Dilma Rousseff, contra a qual ele evita ataques, apesar de ser oposição a seu governo. SEM RÉDEAS PARA 2012 Nas disputas regionais, a doença de Lula também está fazendo estragos no PT. Cabia ao ex-presidente segurar as rédeas das disputas internas e apitar sobre as candidaturas que serão lançadas. A

A doença de Lula tem se refletido nas disputas regionais. Caberia ao ex-presidente apitar sobre as possíveis candidaturas saúde. Desde o início de novembro, o senador cumpre uma agenda de visitas a diferentes estados brasileiros, sob o pretexto de fortalecer as candidaturas regionais dos tucanos. Em todas as viagens, no entanto, é de sua candidatura à Presidência da República sobre o que mais se fala. Com o apoio irrestrito e já declarado do alto-comando do partido – que deixa claro a intenção de escantear de vez José Serra –, Aécio é recebido com festa por onde passa e os apelos das lideranças regionais para que ele dispute a Presidência em 2014 costumam arrancar sorrisos e frases otimistas do senador mineiro. “Neste momento, estamos trabalhando para fortalecer o PSDB nos municípios para as eleições de 2012. Uma vez fortalecido, vamos pensar em 2014. Mas estamos otimistas com as possibilidades do partido e dispostos a enfrentar qualquer adversário”, afirma o tucano. O atual discurso de Aécio é bem diferente do que vinha sendo dito por ele meses

ideia inicial era que sua capacidade de articulação seria suficiente para evitar prévias dentro do partido nas cidades brasileiras onde há mais de um interessado em sair candidato, e que Lula pudesse apenas apontar quais seriam os escolhidos dos petistas. As coisas se encaminhavam para isso. Lula conseguiu, por exemplo, tirar Marta Suplicy de combate e viabilizar Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo. “Achamos que qualquer um com o poder político e a influência dele iria tentar abortar prévias e puxar para si as decisões sobre candidaturas. É uma atitude normal, que achamos que será retomada logo que o tratamento dele acabe”, avalia o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP). Sem Lula na linha de frente, os petistas estão recebendo ameaças de todos os lados e vivendo sob constante risco de aliados se rebelarem. Em São Paulo, por exemplo, apesar do anúncio da candidatura de Haddad, o deputado Paulo Pereira, o Paulinho (PDT-SP), diz que sairá Dezembro, 2011 AméricaEconomia 81

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DEBATES CENÁRIO POLÍTICO

Lula ainda dita os rumos do país, como no caso de Lupi, minado de acusações e encorajado pelo ex-presidente a continuar no cargo

candidato, mesmo que Lula não queira. Segundo ele, o PDT tem planos distintos e o fato de estar na base de apoio do governo Dilma não impede posturas independentes. Em Belo Horizonte, os planos feitos por Lula também começam a sair do controle. O PT diz que pretende pular fora da aliança pela reeleição de Marcio Lacerda (PSB) e encarar uma disputa independente. O ex-presidente da República vinha costurando a manutenção das parcerias. No Recife, os problemas não são apenas com aliados. O partido enfrenta uma disputa interna entre o atual prefeito, João da Costa, e seu antecessor João Paulo. Conflitos que, segundo os próprios petistas, Lula resolveria com algumas conversas e muitas promessas. “Temos nos esforçado para encontrar consensos. Lula sempre buscou a unidade, e creio que o desafio agora é encontrá-la, até como um gesto de apoio a ele. Acho que as dissidências serão re-

duzidas naturalmente”, avalia o secretário de Comunicação do partido, deputado federal André Vargas (PR). Apesar do otimismo do secretário do PT, as perspectivas não são nada animadoras para o partido. Sem Lula no controle, os petistas estão vivendo uma crise de comando. Não há figuras capazes de substituí-lo neste momento. A avaliação interna que se faz é que o petismo precisaria de novo fôlego, capaz de criar e inventar novas lideranças. Mas o problema não é fácil de ser resolvido. Ninguém consegue apontar quem seria esse novo comandante, já que o nome mais poderoso do partido, a presidente Dilma, é avessa a discussões e disputas par-

tidárias. Além disso, poucos petistas se dispõem a tentar puxar para si a missão de substituir o ex-presidente nas articulações de unificação da legenda. Para tentar encontrar uma saída, a tendência do PT, já discutida em reuniões e jantares, é voltar a aplicar um sistema de decisões colegiadas, como acontecia antes de o partido chegar ao comando do país, em 2003. O grupo seria composto de diretores ou caciques da legenda que teriam o poder de apontar soluções e interferir diretamente nos conflitos internos e nas divergências com aliados. Durante a primeira campanha vitoriosa de Lula ao Planalto, em 2002, esse sistema colegiado consistia na parce-

Apesar do tratamento médico, Lula não tem demonstrado a intenção de se afastar diretamente das negociações

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Fotos: Divulgação

O perfil avesso a discussões coloca a presidente Dilma fora do páreo como uma nova líder dentro do PT

ria do então presidente nacional do PT, José Dirceu, com Antonio Palocci, ex-prefeito de Ribeirão Preto. Dirceu era responsável por coordenar a campanha – incluindo as diretrizes sobre alianças e atuação diante de ameaças de rebelião. Já Palocci, cuidava do programa de governo. A dobradinha não pode mais se repetir, já que ambos foram arrancados dos ministérios em decorrência de uma onda de denúncias de corrupção, entre elas, a que resultou no caso do mensalão, considerado o maior escândalo do governo Lula. Sem poder levar seus dois homens experientes para a linha de frente, o PT estuda agora o perfil de lideranças que poderiam exercer esse papel. Na lista, são cogitados nomes como o do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o do governador da Bahia, Jacques Wagner, e o do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Tudo

caminha para que eles ganhem mais poder e independência dentro do partido, numa tentativa desesperada de fechar a brecha deixada pela ausência de seu maior articulador. DOENÇA E POLÍTICA Apesar das disputas políticas e partidárias travadas por causa da doença do ex-presidente, ele não tem demonstrado intenção de se afastar diretamente das negociações. Desde que iniciou o tratamento contra o câncer, Lula recebe visitas de políticos de diferentes partidos, mantém conversas sobre alianças e tem postado constantemente na internet, por meio do site do seu instituto, informações sobre sua saúde. Uma atitude que vem sendo interpretada como estratégia para que ele mantenha a popularidade em alta, apesar da rotina de tratamento. Demonstrações da tentativa de Lula de continuar pensando em política

e mantendo seu poder sobre os rumos do país estão por toda parte. O ex-presidente chegou até a se envolver no início de novembro, na operação pela permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho. Minado por denúncias de desvios de verbas da pasta que comanda, o ministro foi chamado para uma conversa decisiva com a presidente Dilma. Para ganhar força, telefonou para Lula, que, pelo viva-voz do celular, disse para que ele resistisse aos ataques e permanecesse no cargo. A presença do ex-presidente nas articulações políticas não é apenas um desejo do próprio Lula, que, mesmo doente, insiste em não se desligar do mundo político. Sua recuperação e seu retorno são também considerados decisivos para a sobrevivência dos planos de muita gente. Isso inclui ministros apadrinhados por ele, como o próprio Lupi, assim como os que dependem da interferência lulista para atingir seus projetos Dezembro, 2011 AméricaEconomia 83

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DEBATES CENÁRIO POLÍTICO

eleitorais. “Contamos com a volta de Lula ao cenário e com suas articulações depois do carnaval. Tem os meses de tratamento, um tempo de festas e feriados para que ele se recupere e descanse de verdade. Estamos otimistas que ele vai voltar a atuar plenamente”, planeja o líder

Aécio Neves tem visitado vários estados sob o pretexto de reforçar os tucanos nas candidaturas regionais

do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Alves precisa da ajuda de Lula para que o PT cumpra o acordo de revezamento no comando da Câmara, no qual Marco Maia (PT-RS) permaneceria presidente nos dois primeiros anos do

mandato e o próprio Alves seria eleito para 2013 e 2014. Os petistas já começaram a dar sinais de que não querem levar a ideia adiante. O PMDB é mais um partido à espera da interferência do ex-presidente para viabilizar os próprios projetos.

Fotos: Divulgação

Campos, governador de Pernambuco, abandonou a discrição para anunciar seu interesse pela Presidência

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SUSTENTAÇÃO AO GOVERNO

APOIO DE PESO

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Composição da base aliada do governo na Câmara NÚMERO DE DEPUTADOS FEDERAIS

O movimento de partidos aliados para viabilizar espaço próprio nas próximas eleições deve mexer com a base aliada do governo no Congresso. A presidente Dilma Rousseff conta com a maior bancada de sustentação já vista no Brasil. Mas já anunciou que não vai repetir a estratégia do antecessor e misturar governo com alianças partidárias para resolver problemas de partidos, nem que seja do PT. Por isso, já há consenso entre senadores e deputados que a neutralidade governista nas eleições pode custar a Dilma mais uma onda de insatisfação e ameaças de rebelião da base aliada.

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DEBATES INCLUSÃO SOCIAL

Mais do que um SUPÉRFLUO Fotos: Divulgação

Instalação de torre de telefonia em Belterra (PA) ajuda a gerar oportunidades

Estudo mostra que o uso da telefonia móvel nos países da América Latina contribui para reduzir níveis de pobreza Sérgio Siscaro, de São Paulo

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expansão do mercado de telefonia móvel no Brasil não dá sinais de arrefecimento. Segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em outubro o país já tinha 231,6 milhões de linhas habilitadas – ou seja, 1,18 para cada habitante. No Distrito Federal, essa relação supera dois aparelhos por morador. E esse quadro deverá se manter. Para a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), 72% dos consumidores pretendem usar o 13º salário para comprar celulares. Essa popularização reflete-se em um alargamento da percepção de mundo das pessoas. Elas passam não só a se conectar de forma mais intensa com suas famílias e amigos, mas também podem acessar serviços por meio da internet e trocar experiências. Essa mudança é

mais profunda em comunidades carentes ou mais isoladas, cujos habitantes veem abertas as possibilidades de participar de um curso à distância (graças ao uso da internet) ou marcar consultas médicas em outras localidades. A elevação da interconectividade também incentiva o empreendedorismo. Pequenos comerciantes ou profissionais autônomos podem receber encomendas, conquistar clientes e efetuar vendas de uma forma mais rápida e abrangente. Além disso, o processo de concessão de financiamentos aos consumidores torna-se mais ágil, uma vez que o acesso a serviços de cadastro e proteção ao crédito é facilitado. De acordo com o sócio-diretor do instituto de pesquisas Data Popular, Renato Meirelles, o acesso a tecnologias de telecomunicações contribui para o processo de elevação de renda da

nova classe média brasileira. “Os pequenos empreendedores têm como ser localizados com mais facilidade graças ao celular. Além disso, o uso da internet aumenta as oportunidades de emprego, facilitando o envio de currículos e a obtenção de contatos”, avalia. NOVOS NEGÓCIOS Esse impacto pode ser exemplificado pela experiência da cidade de Belterra, no Pará, localizada a 873 quilômetros da capital, Belém. Com 16,3 mil habitantes, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o município se desenvolveu a partir de um dos projetos mais destacados de ocupação da região amazônica: a Fordlândia, complexo instalado pela Ford na década de 1920 para explorar a produção de borracha. Sua economia é baseada no setor de serviços, seguido da agropecuária.

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Há dois anos, a Telefônica investiu R$ 22 milhões na instalação de uma torre de telefonia móvel no padrão 3G na cidade. A partir daí, a empresa realizou um estudo sobre os efeitos que a possibilidade de comunicação por aparelhos celulares abriu para a população de Belterra. O saldo foi positivo, especialmente no que se refere ao incentivo ao empreendedorismo nos negócios. De acordo com o gerente de Debate & Conhecimento e de Novos Projetos da Fundação Telefônica, Luis Guggenberger, o celular “encurtou” a distância de Belterra em relação ao restante do estado. “Antes, o dono de uma concessionária de veículos só podia aprovar a ficha de seus clientes uma vez por semana, quando ia a um banco ou a uma lan house em Santarém. Agora, o processo leva poucas horas. Como consequência, ele pôde aumentar seu volume de vendas. Além disso, profissionais autônomos, como manicures, podem captar mais clientes, por meio do envio de mensagens de texto”, afirma. De acordo com o gerente, a qualidade do sinal do celular em Belterra tem gerado outro efeito positivo: o deslocamento de empresas de Santarém para lá. Também o turismo foi beneficiado. Nas proximidades de Belterra, no município de Santarém, está localizada a Vila Alter do Chão, cuja praia foi considerada uma das dez mais bonitas do mundo pelo jornal britânico The Guardian, em 2009. No entanto, não havia uma exploração turística organizada na região. “Agora, as pousadas já têm mais movimento de turistas”, diz Guggenberger. De forma semelhante, a instalação da torre gerou ganhos sociais à cidade – facilitando o acesso de seus moradores a serviços de saúde, educação e segurança. “Existem cursos à distância, pela internet. Além disso, aumentou o número

Para Mireia Fernández-Ardèvol, que participou do estudo da Fundación Telefónica, a disseminação da telefonia celular transformou o dia a dia das comunidades latino-americanas

de consultas no barco-hospital da ONG Saúde e Alegria, parceria da Telefônica. Houve ainda um aumento da mobilização política, com os mais jovens utilizando as redes sociais para incentivar a população a participar do plebiscito que criaria o estado do Tapajós.” MENOS POBREZA O caso de Belterra está em linha com um estudo publicado no início do ano pela Fundación Telefónica, na Espanha. No livro Comunicación móvil y desarrollo económico y social en América Latina, coordenado pelos acadêmicos Mireia Fernández-Ardèvol, Hernán Galperin e Manuel Castells, os autores demonstram que a rápida difusão da tecnologia de telefonia celular contribui para mudar as relações econômicas, integrando comunidades isoladas, incentivando a criação de negócios, a obtenção de empregos e facilitando o acesso a serviços sociais. Para Mireia Fernández-Ardèvol, a grande mudança foi a conexão entre pessoas e organizações. “A telefonia móvel tem impacto em todos os setores econômicos, tanto de produção quanto de consumo. Sua influência cresce à medida que se criam efeitos em rede. Assim, sua difusão transforma o dia a dia das comunidades, as relações interpessoais e a forma de fazer negócios. Também está se tornando um instrumento de uso generalizado para os segmentos populacio-

Profissionais autônomos têm sido beneficiados pela telefonia móvel e aumentado sua base de clientes

nais de menor poder aquisitivo e para os países em desenvolvimento.” Ela lembra que o telefone celular permite uma tomada de decisão mais rápida e melhor administração do tempo – o que contribuiu para uma gestão mais eficiente dos pequenos negócios, inclusive do setor informal da economia. O levantamento foi realizado com base em modelos macroeconômicos, e foram feitos estudos de caso em algumas localidades latino-americanas. “Em Puno [Peru], a experiência do uso do telefone celular contribui para elevar a capacidade de consumo das famílias produtoras da zona rural, que é pobre e remota. Nesse caso, pudemos comprovar que a incorporação desse instrumento de comunicação no cotidiano melhorou a eficiência de alguns processos – especialmente aqueles que envolvem a tomada de decisão. Assim, confirmamos que a difusão dessa tecnologia ajuda a reduzir a pobreza.” No caso específico do Brasil, o estudo também mostrou esse resultado. “Quanto menos desenvolvida é a região, mais a telefonia móvel contribui para seu crescimento”, afirma. O levantamento analisou o caso da utilização, por jovens de Santo André (SP), da 0800 Rede Jovem, que divulga oportunidades de emprego, cursos, seminários e concursos, entre outros temas, por meio de mensagens de texto. Outra iniciativa foi o projeto Mergulho na Comunidade, por meio do qual em seu dia a dia os jovens da periferia de São Paulo podem compartilhar sua realidade utilizando-se de vídeos gravados com a utilização do telefone celular. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 87

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DEBATES GESTÃO

Farda com MBA Forças Armadas recorrem aos MBAs para aprender com os civis como formar seus altos comandos Mariana Osorio e Carlos Tromben, de Santiago

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uando, em 28 de fevereiro de 2010, Michelle Bachelet, na época presidente do Chile, decidiu espalhar tropas do Exército nas zonas mais afetadas pelo terremoto e posteriores saques, muitos chilenos ficaram surpresos. Os generais no comando da operação

Foto: Alejandro Maltes/Agencia Blackout

Militares aprendem técnicas de gestão. Na foto (à direita), o general Ramírez, na ocasião em Concepción, Chile, depois do terremoto de 2010

não falavam de golpe, nem proferiam ameaças de “mão dura” contra ninguém, como seus predecessores da década de 1970. Pareciam mais gerentes cool de estilo empático, formados em alguma escola de negócios. Não estava muito longe da realidade, ao menos no caso do general Guillermo Ramírez Chovar, que conseguiu

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controlar a tensa situação nas cidades de Concepción e Talcahuano após a catástrofe. Além de sua formação militar, Ramírez Chovar fez o curso de Relações Industriais e Administração de Pessoal no Icare (Instituto Chileno de Administração Racional de Empresas) e obteve licenciatura em Gestão de Recursos Humanos na Universidade Gabriela Mistral. “Uma parte importante dos altos comandos das Forças Armadas é integrada por oficiais superiores com pós-graduação, uma realidade que paulatinamente vem se instalando”, afirma Gerardo Vidal, Ph.D em Ciências Políticas e Sociologia. “Em alguns casos, esse é um requisito de ascensão aos graus superiores.” Do ponto de vista das escolas de negócios latino-americanas, isso abriu terreno para vários programas conjuntos com as instituições militares. O general brasileiro Júlio César de Arruda, comandante da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras), participou do MBA Executivo de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV) em 2007. Trata-se de um programa de 360 horas, que faz parte do curso de Política, Estratégia e Alta Administração do Exército brasileiro. O curso tem duração de um ano e se destina a coronéis em transição para a faixa de general. Foi criado em 1988, e a associação com a FGV existe desde a década de 1990. Entre os tópicos aprendidos em sala de aula, o general Arruda destaca o gerenciamento de projetos militares de grande porte, orçamento, gestão de pessoas, de processos de mudança e direito na área de informática. Para o oficial brasileiro, o curso é importante para os militares de alta graduação e os ajuda a gerenciar melhor pessoas e processos. “Abre horizontes e os auxilia a ter uma gestão mais competente”, destaca. Algo similar é feito pela Armada do Chile e pela Escola de Negócios da Universidade Adolfo Ibáñez por

meio do Programa de Licenciatura em Gestão de Organizações. “O curso é integrado por um grupo seleto de 20 oficiais-chefes e superiores, e é orientado a fortalecer as competências e as habilidades em gestão diretiva e tomada de decisão em contextos de complexidade”, afi rma Vidal. “Os alunos oficiais assistem a aulas na universidade e integram-se com alunos civis, desenvolvendo uma interação de conhecimento, culturas e experiências muito enriquecedora.” QUEM MANDA EM QUEM Mas, se os militares recorrem cada vez mais à formação executiva, não são poucos os civis que desejam fortalecer suas habilidades de gestão a partir da experiência das Forças Armadas. Ao todo, 90 estudantes de

dir e agir rapidamente. Muitas vezes, os estudantes de MBA se surpreendem quando se pede a eles que tomem uma decisão com apenas 70% de informação”, afirma. A influência militar no terreno da gestão vem de longa data. Exemplo disso é a linguagem que ambos os mundos utilizam para se referir a coisas muito parecidas. Estratégia, tática, operações, quadros de comando, sobrevivência, logística, campanhas são apenas algumas das palavras que compartilham. O colombiano Francisco López, decano de Administração da Universidade Eafit, de Medellín, recorda que os primeiros gerentes que surgiram durante o desenvolvimento industrial da Colômbia, no início dos anos 1920, foram os antigos generais vindos da Guerra dos Mil Dias (18991902). “Eles tinham o conhecimen-

Estudantes também querem aprender com os militares, mas estranham a rapidez na tomada de decisões MBA da Wharton School of Management – a terceira melhor escola de negócios do ranking global da AméricaEconomia – viajam duas vezes por ano para Quantico, um campo de treinamento em Virginia, onde se formam os oficiais da infantaria da Marinha dos Estados Unidos (os marines). Por sua vez, os militares enviam alguns de seus representantes para fazer um MBA. Uma das lições mais importantes obtidas com os militares, destaca Preston Cline, diretor associado da Wharton Leadership Ventures, é sua forte inclinação para a ação. “Muitos dos estudantes civis vêm de consultorias e são muito bons na criação de consensos. Mas isso atrasa o processo de tomada de decisões. Em troca, os marines são formados para deci-

to que os capacitava a dirigir uma fábrica. Se haviam manejado batalhões inteiros, por que não podiam administrar um grupo de funcionários na indústria têxtil? O Exército trabalha com uma concepção de trabalho e disciplina muito forte e entende as relações de poder e obediência, de subordinação”, afirma. Contudo, os uniformizados de hoje buscam, em alguma medida, a experiência contrária, por meio da formação executiva. O general Arruda destaca que o MBA executivo da FGV o ajudou a ganhar fluidez em processos administrativos. “Aprendemos a nos sentar a uma mesa e negociar”, acrescenta o alto oficial. Com a colaboração de Graziele Dal-Bó, de São Paulo, e María Enrile, de Santiago

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DEBATES INOVACÃO

Ciência e lucro Laboratório mexicano especializado em antídotos vai contra a corrente, investe em pesquisa e exporta sua produção David Santa Cruz, da Cidade do México

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peçonhentos e mordidas de cobra. Um dos docentes era Alejandro Alagón, do Departamento de Biotecnologia da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México). Suas palavras e seus conceitos marcaram Juan López de Silanes, diretor do Bioclón, o instituto de pesquisa do Laboratório Silanes. No fim daquele ano, López aproximou-se de Alagón para estabelecer um acordo de cooperação com a Unam. O resultado para a empresa foi uma melhora considerável do Alacramyn,

antídoto contra picada de escorpião. Passaram-se 17 anos e, de lá para cá, o Laboratório Silanes conseguiu vários marcos como desenvolvedor de remédios especializados. No ano passado, após 11 anos de tramitação, a FDA (Food and Drug Administration), dos Estados Unidos, aprovou o Anascorp, um Alacramyn melhorado e potencializado para combater os sintomas da picada de uma espécie de escorpião, que afeta principalmente os estados fronteiriços de Estados Unidos e México. Silanes apresentou mais de 110

Foto: Shutterstock

odos os anos, cerca de 250 mil mexicanos são picados por escorpiões. Dor intensa, seguida de torpor, inchaço na língua ou na garganta são alguns dos sintomas. Algumas variedades são letais ao ser humano, o que provoca, anualmente, centenas de mortes no país. Em 1994, o Instituto Mexicano do Seguro Social (IMSS) ministrou alguns seminários de educação continuada para médicos e paramédicos. O tema foi o tratamento de picadas de animais

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CONTRA A CORRENTE No México, os gastos com pesquisa científica e desenvolvimento de tecnologia equivalem a 25% dos recursos públicos destinados ao pagamento de juros da dívida do país. Isso é apenas 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto). Em média, os gastos destinados a P&D (pesquisa e desenvolvimento) pelos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) são equivalentes a 2,3% do PIB. Segundo um dos pesquisadores mais importantes do México, Rene Druker, o país gera apenas 500 patentes por ano, mas, destas, apenas 140 são aprovadas, e um reduzido número delas se transforma em produtos finais. Na outra ponta estão países como o Japão, que produz 38,5 mil patentes anualmente. São muitas as consequências da falta de visão no país. A mais recente foi du-

Fotos: Divulgação

mil casos de pessoas tratadas com sucesso com o Anascorp. Com o procedimento, tornou-se a primeira empresa latino-americana a obter aprovação da FDA para um medicamento 100% desenvolvido e produzido na região. Antonio López de Silanes, irmão de Juan e presidente do Grupo Silanes, afirma que está prestes a obter a aprovação de outros dois antídotos nos Estados Unidos, além do primeiro reconhecimento para um fármaco mexicano por parte da European Medicine Agency. A família abriu um escritório na Espanha quatro anos atrás. Trata-se de mais do que uma simples distribuidora. “Há procedimentos que ainda não se pode fazer no México”, explica Antonio. “Embora a Comissão Federal para Proteção contra Riscos Sanitários, do México, tenha avançado, ainda falta a ela o reconhecimento de seus pares no resto do mundo para os procedimentos em nosso país. É por isso que levamos parte da área de pesquisa para a Espanha. A princípio, aquilo que desenvolvermos e for aceito lá será reconhecido de imediato em toda a União Europeia”, diz.

Antonio Silanes, presidente do grupo Silanes: antídoto contra veneno de escorpião foi pioneiro

rante a epidemia de gripe A, em 2009, que paralisou a Cidade do México por uma semana por causa do risco de uma contaminação generalizada. A carência de unidades de diagnóstico e a escassa produção de vacinas próprias geraram perdas milionárias e deixaram a população inquieta. Nessa realidade desanimadora, a Silanes, empresa familiar criada em 1943 pelo imigrante espanhol Juan López de Silanes (pai de José e de Antonio), é uma exceção. Investe 10% de suas vendas em inovação e desenvolvimento, e atualmente possui 70 patentes próprias. Além do Anascorp, desenvolvido em conjunto com a Unam, o laboratório produz e comercializa o Glimetal, medicamento para o diabetes que se transformou em seu principal produto. Para o desenvolvimento desses medicamentos ultraespecializados, a empresa criou o Instituto Bioclon, que, em 2005, ganhou o Prêmio Nacional de Ciência pela fabricação de antídotos eficazes contra a picada de animais peçonhentos. Para Gerardo Jiménez, presidente da Área de Biotecnologia da OCDE, a aprovação por parte da FDA é importante não apenas pela obtenção do registro, mas também porque reflete o fato de que, apesar de o México ter um baixo investimento em ciência, as empresas buscam formas criativas para desenvolver produtos próprios. “A aceitação do Anascorp mostra

várias coisas. Primeiro, a necessidade da vinculação entre a indústria e a academia. Revela ainda a qualidade da pesquisa e dos processos, o que permite a aprovação”, afirma o cientista. “Além disso, atrai a atenção para as instituições mexicanas que demonstram que há talento e capacidade criativa. Mas faltam políticas públicas para replicar a conquista da Silanes.” Embora não se encontre números sobre a vinculação entre o setor produtivo e a academia no México, existe a noção de que ela é relativamente escassa, mas está aumentando. A aliança entre a Silanes e a Unam é um exemplo. Alagón, da Unam, reconhece que os cientistas mexicanos são formados para gerar conhecimento e ciência, mas não para transformá-los em tecnologia. E é exatamente isso o que traz para a universidade mexicana o trabalho com Silanes. “Nosso próximo desafio é desenvolver um antídoto contra a picada de escorpião no Norte de África e no Oriente Médio, onde, todos os anos, 150 mil pessoas são vítimas do veneno. As crianças são as mais afetadas”, explica o docente da Unam. Esses planos são parte do processo de internacionalização. Segundo Antonio de Silanes, em 2009, o laboratório levou o Glimetal para toda a América Latina, pelas mãos da brasileira Aché Laboratórios Farmacêuticos e da francesa Sanofi-Aventis. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 91

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DEBATES INOVACÃO

Experiência NACIONAL Foto: Divulgação

Governo federal aposta em medicamentos biotecnológicos para avançar em patentes Sérgio Siscaro, de São Paulo

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m outubro, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reafirmou a postura do governo brasileiro de respeitar os compromissos internacionais assumidos pelo país na área de propriedade intelectual – optando assim não pela quebra de patentes, mas pelo início da produção nacional de medicamentos genéricos à medida que estas expirem. “Esse posicionamento defende os acordos que colocam a saúde pública à frente de qualquer interesse econômico, e permite que as grandes indústrias de medicamentos genéricos façam seus investimentos por aqui”, disse durante almoço do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), em São Paulo. A chave para isso, segundo o ministro, é a realização de parcerias. “Ter mais patentes nacionais significa ter mais inovação tecnológica em nosso país. A grande aposta que o Ministério da Saúde tem feito é a de estimular a inovação tecnológica no setor privado. Vamos investir, entre 2012 e 2015, R$ 4 bilhões em recursos do ministério, do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social] e da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos]”, afirmou. A pasta também aplicará R$ 1,5 bilhão em pesquisa. De acordo com Padilha, a ideia é que o Brasil possa entrar na “nova fronteira de medicamentos”, os biotecnológicos e biossimilares. “Recentemente, a Anvi-

sa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] publicou o Guia Nacional para Registro de Medicamentos Biotecnológicos. Isso permite tornar mais claras as regras do setor, tanto para a indústria nacional quanto para quem queira produzir seus medicamentos aqui no Brasil.” A posição de centrar-se na inovação também é defendida pelo secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Augusto Grabois Gadelha. “Nós já conseguimos implantar aqui o nosso programa de vacinas, e também temos avançado na área de medicamentos retrovirais, que são produzidos localmente. Além disso, fizemos recentemente uma parceria com Cuba, na área de biotecnologia para o tratamento do câncer”, afirmou. O acordo com o país caribenho envolve 58 projetos de pesquisa, desenvolvimento e fabricação de medicamentos. Segundo o secretário, já existem cerca de 30 parcerias com a iniciativa privada que envolvem a inovação tecnológica, com destaque para aqueles voltados para doenças crônicas e degenerativas, tratamento contra a tuberculose e produção de medicamentos retrovirais. TRABALHO DE PONTA O Instituto Fiocruz, com sede no Rio de Janeiro, é um dos destaques brasileiros em pesquisas e registros de patentes na área da saúde. Apesar dos avanços nos

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, descarta a possibilidade de quebra de patentes pelo Brasil

últimos anos, explica Celeste Emerick, coordenadora de Gestão Tecnológica da entidade, há muito a ser feito. “Temos 2 mil projetos de pesquisa em andamento. Atuamos nas áreas de ensino e pesquisa, biomedicina, controle de qualidade, com unidades em nove estados. Além disso, treinamos profissionais no exterior. Mas ainda é muito difícil chegar com um produto no mercado”, explica. Parte da dificuldade vem da própria inexperiência. Celeste conta, por exemplo, que um pesquisador desenvolveu um kit de diagnóstico para doença de Chagas usando antígenos geneticamente modificados. Foram necessários 18 meses de sigilo sobre a pesquisa, enquanto o pedido da patente era avaliado pelo órgão responsável nos Estados Unidos. A patente foi indeferida porque, sem saber das regras, o pesquisador havia publicado parte do estudo antes de enviar a conclusão do projeto para validação. O ineditismo era um dos pré-requisitos. Perdeu-se tempo e dinheiro, e os laboratórios farmacêuticos interessados em colocar a ideia em linha de produção deram adeus. Com a colaboração de Paula Pacheco, de São Paulo

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DEBATES

Foto: Divulgação

TRIBUTOS

O porto de Itajaí (SC) é apontado como o caso mais gritante de benefício tributário às importações

PEDRA NO SAPATO Setor privado apela ao Senado para acabar com a guerra fiscal. Importadores fazem a festa com a redução de ICMS em dez estados brasileiros Paula Pacheco, de São Paulo

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mpresas de grande porte, nacionais e estrangeiras, juntaram-se à CNI (Confederação Nacional da Indústria) e à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para lutar contra dez estados brasileiros. Entre eles Santa Catarina, Pernambuco, Ceará e Paraná. A queixa que uniu o grupo é em relação aos benefícios fiscais concedidos a importações que tornam o produto de fora mais competitivo que o nacional. Nos portos incentivados, como são chamados, cobra-se menos ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Serviços) das importações. No caso catarinense, os importadores recolhem apenas 3% de ICMS na entrada das mercadorias em vez de 12%, como determina o Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária). Chama a atenção o do porto de Itajaí (SC). De 2007 a 2010, o crescimento médio de suas importações, em dólar, foi de 40,5%, enquanto a média brasileira ficou em 14,6%, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, compilados pela Fiesp.

O problema é antigo, lembra Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e de Comércio Exterior da Fiesp. Remonta aos anos 1980, quando o porto de Vitória já oferecia vantagens aos importadores. Mas vem se agravando com a fragilidade do dólar em relação ao real, que influencia na decisão de importar cada vez mais. O efeito, diz Gianetti, é a desindustrialização. Ao incentivar as importações, estimula-se a geração de empregos em outros países. “É uma prática nefasta, que prejudica a arrecadação estadual, reduz os empregos e transfere a renda para outros países”, alerta. O caso foi parar no STF (Supremo Tribunal Federal), que, em julho passado, votou pelo fim dos incentivos e determinou sua inconstitucionalidade. Apesar da decisão, os estados mantêm a política tributária, sob o risco de responder à Justiça por improbidade administrativa e desrespeito ao Supremo. Vários setores reclamam da vantagem competitiva dada aos importados, como o de resinas plásticas, o de fibras sintéticas e o

metalúrgico. Empresas como a Alcoa e a Paranapanema, segundo Giannetti, engajaram-se na causa. Carlos Fadigas, presidente da Braskem, diz que a empresa também é afetada. “O Brasil já tem de lidar com a questão do câmbio, favorável às importações e prejudicial à indústria nacional exportadora. E ainda dá benefícios aos importadores em detrimento dos produtores nacionais. Isso é concorrência desleal”, afirma. A esperança da indústria está no lobby para que entre em votação no Senado a Resolução 72/2010, de Romero Jucá (PMDB-RR), que propõe a unificação do ICMS nos portos brasileiros. Mas o presidente da Abal (Associação Brasileira do Alumínio), Adjarma Azevedo, avalia que a aprovação passará por percalços. Isso porque, mesmo os congressistas da base aliada do governo – contrário à guerra fiscal – devem preferir votar a favor de seus estados, onde estão suas bases eleitorais, a apoiar o Planalto. “É preciso um pacto federativo, que deixe de lado o toma lá dá cá. O governo já percebeu que existe o risco de desindustrialização”, diz Azevedo. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 93

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DEBATES REGIME POLÍTICO

A transição cubana apenas dá sinais de que dias melhores virão. Na foto, a capital Havana

CUBA Libre? C As mudanças feitas por Raúl Castro ainda deixam o país repleto de contradições José Roberto Maluf, de Havana

uba segue em busca de caminhos que viabilizem sua sobrevivência e permitam a melhora do nível de vida de seu povo. Vive uma realidade de contradições, e não pode mais ser considerado o único país socialista do Ocidente, já que, da forma como o conhecemos, o socialismo não existe mais na Ilha. O ponto de partida foi a Revolução de 1959, que deu à história do país um caráter excepcional por sua resistência à hegemonia americana durante décadas. Até então, seguia um caminho muito semelhante ao de outras nações de colonização espanhola na América Latina. Mesmo após conquistar sua independência, em 1902, Cuba continuou a so-

frer interferência dos Estados Unidos em seus assuntos internos. Direitos assegurados em emenda incluída na Constituição da nova República de Cuba permitiram também que os americanos ficassem responsáveis pela supervisão do comércio com outros países e pela montagem de bases navais na Ilha, caso de Guantánamo, mantida até hoje. Os EUA ocuparam a Ilha depois de vencerem a Espanha em 1898, e só deixaram de exercer seu domínio em 1959, com a vitória da Revolução Cubana. Durante o período de influência dos EUA, Cuba continuou a ser um país pobre, com desequilíbrio na distribuição de renda, concentrada nas mãos de uma pequena elite e de investidores estrangeiros. Sob a violenta ditadura de Fulgencio Batista, que governou o país de 1933

a 1959 (com um intervalo fora do poder entre 1944 e 1948), tornou-se reduto de turistas americanos, e notabilizou-se como região de lazer para estrangeiros. A corrupção governamental, a prostituição, o uso indiscriminado de drogas e o jogo foram os pilares do governo de Batista. Os maiores investimentos na Ilha eram feitos pelo capital proveniente do submundo ítalo-americano, que controlava os cassinos e os hotéis de luxo, usados para lavagem de dinheiro. A desaprovação da população era geral. A insatisfação das classes média e baixa cubanas, a mobilização dos jovens com ideias revolucionárias e a estatura moral de Fidel Castro, Camilo Cienfuegos e Ernesto Che Guevara levaram a revolução ao triunfo. Foi com o apoio popular que os revolucionários

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venceram a ditadura apoiada pelos Estados Unidos. Fidel assumiu o poder em 1959 como primeiro-ministro e, durante seu governo, que durou mais de 49 anos, passou a ser chefe de governo, chefe de Estado e chefe das Forças Armadas. Logo após a posse, o Comandante mobilizou a juventude para trabalhar pela alfabetização da população. Iniciou a reforma agrária, tornou bens públicos as propriedades dos americanos e nacionalizou as empresas estrangeiras. A deterioração das relações com os EUA, rompidas em 1961, aproximou Cuba da União Soviética e a transformou em uma República Socialista, dois anos mais tarde. Fidel instaurou no país o regime marxista de partido único. Na nova Constituição ainda não estava expressa a opção cubana pelo socialismo. Faltava definir um projeto político. Em plena Guerra Fria, a União Soviética já dava apoio militar a Cuba. Os EUA descobriram mísseis nucleares em território cubano. Sentiram-se ameaçados com a instalação de armas nucleares soviéticas e decretaram um bloqueio naval à Ilha. A tensão entre as duas potências intensificou-se, até a antiga URSS concordar em retornar com seus navios em troca do compromisso americano de respeitar a soberania de Cuba e desmontar, também, suas bases na Turquia. Os EUA, então, impuseram um embargo econômico a Cuba. Começava aí seu longo período de isolamento. A dissolução da União Soviética, em 1991, agravou a crise, já que Cuba perdeu sua maior parceira comercial, e também o fornecimento, a preços especiais, de petróleo e produtos manufaturados. Sem os subsídios soviéticos, faltou combustível para a indústria, as importações diminuíram, houve racionamento de luz e de água, redução de salários e da quantidade permitida de alimento. A recessão foi tão forte que só em 2006 o país recuperou quase o mesmo padrão do fim da década de 1980.

DIFICULDADES ECONÔMICAS Fidel, diante das enormes dificuldades econômicas que Cuba atravessava, iniciou a abertura da estrutura socialista para algumas atividades capitalistas, passou a estimular o investimento estrangeiro e legalizou o uso do dólar americano nas transações comerciais. Começou ainda o processo de cooperação na América Latina, em especial com Venezuela e Bolívia, e estreitou as relações comerciais com China e Rússia. Já no fim da década de 1990, o turismo tornou-se tão importante em Cuba que os trabalhadores ligados diretamente à área, mesmo hoje, têm maiores salários e ainda oportunidade de aumentar seu rendimento com as gorjetas recebidas. Uma nova onda de mudanças começou em 2008, quando Raúl Castro assumiu as funções do irmão Fidel, que se retirou oficialmente da vida política. Raúl logo iniciou um projeto de reformas econômicas para “eliminar proibições, já que muitas delas tiveram como objetivo evitar o surgimento de novas desigualdades em um momento de escassez generalizada”. Hoje, os cubanos podem se hospedar em hotéis, alugar automóveis, comprar celulares e eletrodomésticos. Raúl propôs também a redução do Estado cubano, optando por uma “estrutura mais compacta e funcional, com um número menor de organismos da Administração Central do Estado e uma melhor distribuição de funções”. O gover-

no cubano pretende suprimir 1 milhão de empregos públicos. A medida, nada popular, é extremamente necessária para reduzir os gastos estatais e tornar o sistema econômico mais eficiente. Veio de Raúl a declaração de que “a negligência e o desperdício” das empresas estatais são entraves ao desenvolvimento econômico e social. Ele alertou sobre a necessidade de romper o que chamou de “barreira psicológica, formada pela inércia, pela imobilidade, pela moral dupla ou simulada, a indiferença e a insensibilidade”. Posicionou-se ainda contra a rigidez ideológica, e criticou a preguiça e a corrupção dos funcionários do Estado. Em 2010, mais um passo foi dado por Raúl Castro. Os negócios privados e cooperativos passaram a ser permitidos de forma restrita. Estima-se que boa parte das pessoas já exercia ilegalmente suas atividades. Com a esperada expansão do setor privado, Cuba prevê crescimento de 2,9% em 2011. Foi autorizada a compra e a venda de automóveis por estrangeiros residentes em Cuba e por cubanos com renda em pesos conversíveis. Os automóveis que circulam em Cuba são uma atração turística, principalmente os americanos, dos anos 1940 e 1950. Restrições legais impediam, desde 1959, que cubanos pudessem vender e comprar suas casas. Era permitido apenas permutá-las. Com a liberação, o

Carros antigos, a maioria dos anos 1940 e 1950, chamam a atenção dos visitantes

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DEBATES REGIME POLÍTICO

O patrimônio público padece com a falta de conservação

governo pretendeu regularizar uma situação que já ocorria na prática. Pôs fim também ao confisco de bens, possibilitando que emigrantes, ao deixar o país, transferissem suas casas a pessoas com quem tenham convivido. Foi autorizada ainda a entrega de terras em usufruto, visando aumentar a produção agrícola e o melhor aproveitamento das áreas cultiváveis. Porém, cerca de 80% dos alimentos ainda são importados. O governo brasileiro recebeu um pedido de empréstimo de US$ 200 milhões, no intuito de diminuir a dependência externa de produtos do gênero. Recentemente, Raúl propôs limitar o mandato presidencial, inclusive o seu, e de todos os altos cargos do governo a dois períodos de cinco anos, por considerar a necessidade de “rejuvenescimento sistemático de toda a rede de cargos administrativos e do partido”. Raúl já está com 80 anos. Talvez por isso a proposta de limitação do mandato presidencial. Os sinais de mudança não foram suficientes para que EUA e Israel aderissem à resolução da Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), que exigiu em sua reunião pela vigésima vez o fim do embargo aos cubanos. Há 50 anos, os americanos consideram que o embargo é uma “questão bilateral” e que Cuba continua a desrespeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais. A posição cubana é de que as mudanças ocorrerão nos termos da revolução e do socialismo.

O setor imobiliário ligado ao turismo atrai capital estrangeiro

TEMAS SOCIAIS Após 52 anos de revolução, Cuba obteve progresso nas áreas de saúde, educação, pesquisa científica e mesmo na diminuição das desigualdades sociais. As conquistas da Revolução Cubana são incontestáveis. Todavia, seu modelo apresenta contradições que parecem insuperáveis. No campo social encontram-se os maiores êxitos da revolução, que erradicou a miséria absoluta. Cuba ostenta alto IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), de 0,776, em 2011, na 51ª posição no ranking, enquanto o Brasil está na 84ª posição, com índice de 0,718. Também se tornou o primeiro país a acabar com o analfabetismo. Pratica também um sistema de saúde pública universal, no qual os serviços são gratuitos. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), em 2005, a baixa taxa de mortalidade infantil de Cuba foi superada na América apenas pelo Canadá. A expectativa de vida, tanto para homens, 75 anos, quanto para mulheres, 79 anos, é praticamente igual à dos EUA, 75 e 80 anos, respectivamente. Os índices de vacinação da população, segundo o Unicef, são iguais ou maiores que 90% para sarampo, hepatite B e pólio. Cuba fornece médicos para alguns países e teve grande desenvolvimento em biotecnologia, com mais de 600 patentes para drogas inovadoras, como vacinas. É referência em artes e esporte. A blogueira Yoani Sánchez, odiada pelo governo, diz em seu blog que o esporte não é tão

Homenagem a Che Guevara: um dos símbolos da revolução cubana

desenvolvido como apregoa a propaganda oficial. Segundo ela, há um investimento maciço em poucos superatletas. Quanto à moradia, de acordo com fontes oficiais, 85% das famílias são donas de suas casas, e 15% pagam aluguel, computado em forma de amortização. Há em Cuba, também, a sub-habitação (definida pelo tipo de construção, materiais empregados e tipo de ocupação). A maioria das sub-habitações localiza-se em Centro Habana e Habana Vieja, que passa por restauração bancada pela Unesco. Chama a atenção do turista o estado das casas na capital, extremamente deterioradas. São sobrados com vidros quebrados, pintura em péssimo estado, que parecem nunca ter passado por algum tipo de manutenção. No campo político, Cuba segue com seu sistema ditatorial, de partido único: o Partido Comunista Cubano. Um dos lados mais nefastos do poder no país talvez seja a falta de liberdade de imprensa. Os jornais de oposição foram fechados e toda informação passa pelo controle estatal. Foi liberada a aquisição de computadores, mas o uso da internet é permitido apenas a estrangeiros e a profissionais da área de tecnologia, mesmo assim com restrições. Como todos os órgãos de imprensa são estatais, a internet é a única forma de contornar a censura exercida pelo Estado e, por isso, nos hotéis para turistas, encontramse frequentemente cubanos pagando caro para acessá-la.

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Fotos: AméricaEconomia

A tradição musical ainda é um dos principais atrativos do país

Fidel, logo após tomar o poder, proibiu associações, suspendeu os direitos fundamentais e livrou-se dos opositores, matando-os, exilando-os ou prendendo-os. Estimam-se em 20 mil os dissidentes políticos presos e em 15 mil os cubanos executados durante o regime. Qualquer manifestação contrária continua sendo reprimida violentamente. Cerca de 2 milhões de cubanos vivem no exterior, principalmente nos EUA, como resultado das perseguições políticas ou da falta de perspectivas de mudança do padrão econômico. Homossexuais e religiosos foram mandados para campos de trabalho forçado, para serem reeducados conforme orientação do Estado. Hoje, a base da economia cubana é a agricultura e o turismo. Circulam duas moedas, o peso cubano e o peso convertido, chamado de CUC. Criado para turistas, também é usado por cubanos para pagar por produtos e serviços. A moeda alimenta um ativo mercado paralelo formado por produtos que são desviados do governo e vendidos para a população. Essa prática é bastante comum e parece necessária, como forma de melhorar o nível de vida ou para a própria sobrevivência da população. É a ilegalidade institucionalizada. O cubano médio, com salário de US$ 18, tem de recorrer ao mercado negro. Os salários são pagos em pesos, a moeda nacional, e só podem ser utilizados por cubanos nas lojas do Estado para comprar uma porção limitada de alimentos mensalmente. Os produ-

Catedral de San Cristóbal: principal templo católico de Havana

tos chegam aos armazéns do Estado em quantidade insuficiente. O excedente pode ser adquirido em outras lojas, mas estas só recebem o peso convertido, cujo valor é de 24 pesos cubanos por 1 peso conversível, o CUC. O salário de um motorista de praça é de 330 pesos cubanos, cerca de US$ 15. Não é difícil encontrar pessoas com curso superior e até pós-graduação dirigindo um táxi. Poderão ganhar em propinas (“gorjeta”, em espanhol), até uns 250 CUCs por mês, ou seja, quase uns US$ 300. Os táxis, no entanto, servem a poucos. O transporte público tem poucas linhas e veículos lotados. É comum a falta de água e não há variedade de alimentos. Não existe incentivo ao trabalho. Há, sim, pessoas pedindo dinheiro na rua. As crises econômicas foram constantes na história de Cuba, seja pela escassez de recursos naturais, pelo bloqueio econômico, ou pelo fim da ajuda da União Soviética. Hoje, a organização cubana continua frágil, considerando-se a dupla circulação monetária, o abastecimento desigual, o desequilíbrio social e a extensão de uma economia informal à margem do Estado. EFEITOS Embora a experiência cubana tenha sido importante na América Latina, ao levantar a possibilidade de mudança na sociedade por uma melhor distribuição de renda e o fim das desigualdades sociais, o modelo do país está esgotado. Os jovens que hoje anseiam por parti-

cipação política, liberdade de expressão e acesso a bens de consumo estão marginalizados em um mundo globalizado, impedidos de progredir. A abertura econômica em Cuba não vem acompanhada por igual abertura política. A repressão continua de forma violenta para desarticular movimentos populares. O exemplo mais recente é o “Damas de Blanco”, movimento feminino liderado por Laura Pollán, que morreu em outubro, cujo marido, o escritor e chefe do Partido Liberal Cubano, Héctor Maseda, foi preso em 2003 e condenado a 20 anos de reclusão. Junto com ele, outros 75 membros que se opunham de alguma forma ao regime foram acusados de atentar contra a segurança nacional. As mulheres iniciaram um movimento de luta pacífica e tomaram as ruas pedindo pela liberdade de seus maridos e filhos. Todos os prisioneiros foram liberados. Como fazer a transição do socialismo que oprime para um modelo onde haja melhor distribuição dos resultados econômicos, que seja “mais humano”, como querem alguns? Talvez Cuba procure algo como o atual Estado chinês, de governo forte em busca da economia de mercado, um “Capitalismo de Estado”. Comenta-se sobre a criação de um porto livre e de uma zona franca, próximo a Havana, para 2014, e de outras medidas para estimular os negócios. Há quase dois anos solicitamos, formalmente, uma entrevista com Raúl Castro. Não houve sim, nem não. Simplesmente, sem resposta. Dezembro, 2011 AméricaEconomia 97

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OPINIÃO

Luiz Fernando Furlan foi ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2003/2007).

E

nquanto a princesa Isabel assinava a Lei Áurea e libertava os escravos, d. Pedro II já vinha promovendo há alguns anos um intenso trabalho de atração de imigrantes estrangeiros. No fim do século 19, portugueses, italianos, espanhóis e alemães, entre tantas outras nacionalidades, foram incentivados a vir para o Brasil para substituir a mão de obra escrava, principalmente na agricultura. Naquela época, o continente europeu passava por uma grande crise, embora não semelhante à atual. Faltava tudo e a fome estimulava a procura por oportunidades. Brasil e Estados Unidos eram alguns dos países que representavam um futuro melhor. Hoje, a situação é bastante diferente. A Europa passa por uma grave crise e os debates estão concentrados no ajuste das contas públicas e no aperto nas políticas sociais destinadas à população, que causam grandes distorções nos orçamentos nacionais. A situação do Brasil é diferente. Não oferecemos por aqui o mesmo regime europeu de bem-estar social, mas temos um orçamento razoavelmente equilibrado e uma forte geração de empregos. Fatos como esses, associados a benefícios sociais, como o Bolsa Família, tiraram mais de 30 milhões de brasileiros da zona de pobreza. Hoje, se o Brasil combinasse benefícios, como o programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, a outros recursos já existentes, como uma agência nacional de emprego, e um pacote de atração de profissionais, seria possível ocupar lacunas no mercado de trabalho brasileiro e abrandar os efeitos da crise na Europa.Vejo aí uma oportunidade.

Por que não incentivarmos a imigração de técnicos europeus para suprir a demanda de profissionais em setores em que o Brasil está visivelmente carente de mão de obra? Não se trata, de forma alguma, de estimular o trabalho estrangeiro em substituição à mão de obra nacional, mas sim aproveitar a contribuição que eles têm a oferecer para setores em que a força de trabalho ainda não está totalmente pronta. Cabe ressaltar a ação dos governos estaduais e federal na criação das Etecs e Fatecs destinadas à formação de mão de obra especializada e capacitação profissional dos nossos jovens. No entanto, esse processo requer um prazo para maturação e o Brasil tem pressa. A oportunidade é agora. Poderíamos adotar políticas parecidas com as de países como Canadá e Austrália, que abrem suas portas para imigrantes de acordo com as demandas setoriais. Se forem necessários engenheiros ou técnicos do setor da construção, não disponíveis no mercado nacio-

nal, deve-se buscar esses profissionais em outros países, para que preencham essas vagas. Além disso, poderíamos fomentar a repatriação de brasileiros que estão trabalhando no exterior. Uma política de estímulo à importação de mão de obra reduz custos de produção e pode melhorar a produtividade brasileira. Os imigrantes, em outros momentos da história, vieram da Europa, do mundo árabe e do Japão e se integraram ao nosso país completamente. Naquela época, fomos a solução do problema. Hoje, talvez essas nações se tornem parte da solução para os nossos problemas. Com a vinda dessa mão de obra qualificada, nós teríamos condições de impulsionar vários setores com carência de profissionais especializados e, com isso, incrementar a geração de empregos. Diante dessa realidade de falta de profissionais, existe o risco de arcarmos com ineficiência e aumento de custo de produção. Atualmente o problema de mão de obra é crônico, não afeta somente o Sudeste. Regiões como Norte e Nordeste também demandam profissionais. Projetos têm prazo de entrega seja lá onde foram contratados. Temos tapado o sol com a peneira, nos limitando à simples contratação de mais pessoas, mas sem dar atenção à melhora da capacitação profissional desses brasileiros. Tudo tem sido feito na base do improviso. A atração de talentos teria o efeito de multiplicar o conhecimento nas regiões onde faltam trabalhadores. O Brasil pode assumir um papel protagonista e ser parte da solução dos problemas.

Ilustração: Túlio Fagim

Brasil, de novo parte da solução

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