Nº 402 Edição Brasil

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Ninguém arrisca um palpite sobre o futuro político da Venezuela. Um herdeiro de Chávez conseguiria absorver seus votos? O movimento não está sendo endossado por outro líder, e isso complicaria a escolha de um substituto”, observa León. Mas a notícia do câncer de Chávez também sacudiu a oposição, que manteve uma postura cautelosa, embora firme, ao insistir que os problemas da Venezuela (alta inflação, crise elétrica, uma economia que acabou de sair da recessão e a dramática violência urbana) vão além do estado de saúde do presidente. O maior risco é que um Chávez doente desperte aspirações individuais que rompam o frágil equilíbrio da Mesa de la Unidad (MUD), uma heterogênea aliança de partidos de oposição que vai da direita à centro-esquerda, unida pela aversão a Chávez. Há quem prefira desconversar. “As primárias [para eleger o candidato opositor] serão em fevereiro de 2012, e não há razão para mudá-las”, assegura Henrique Capriles Radonsky, governador do estado de Miranda, o segundo maior do país, e, de acordo com as pesquisas, o único líder opositor que poderia fazer frente a Chávez na disputa presidencial. “A oposição é um grupo heterogêneo, sem visão comum nem proposta única, e, ainda que vença as primárias, nenhum candidato pode ganhar a eleição sem uma grande unidade”, afirma o analista León. Os outros aspirantes à presidência são Antonio Ledezma, prefeito de Caracas, e a deputada María Corina Machado. Na disputa informal também está Manuel Rosales, que perdeu para Chávez nas eleições presidenciais de 2006, foi acusado de enriquecimento ilícito e hoje está exilado no Peru. Chávez provavelmente enfrenta a batalha mais dura de sua vida. No entanto, a doença e a recuperação, caso ocorra, talvez lhe deem o impulso e a força que havia perdido nos últimos tempos como cabeça de um governo desgastado. O ex-tenente-coronel disse

que se mantém “na retaguarda” e, após retornar a Caracas (semanas depois de ter retomado o tratamento em Cuba), voltou pouco a pouco as atividades, embora esteja falando em público muito menos que o de costume. Quase parece

o Chávez de sempre, se não fosse porque ele mesmo se encarregou de acrescentar um tom mais neutro em um país dividido pela política e onde até agora havia apenas extremos ideológicos. “Que ninguém acredite que minha presença aqui significa batalha ganha”, disse Chávez do alto do Balcón del Pueblo, diante dos milhares de seguidores que lhe respondiam “pa’lante, pa’lante, pa’lante, comandante”…

O mapa do chavismo Estes são alguns dos homens fortes do chavismo, todos altos dirigentes do partido governante PSUV. Seus nomes começaram a surgir como possíveis substitutos caso a ausência de Chávez se prolongue ou a doença o obrigue a abandonar a vida pública: Elías Jaua – Vice-presidente desde janeiro de 2010, foi ministro da Economia Popular e Agricultura. Sociólogo e ex-dirigente estudantil da esquerda radical, é um dos fundadores do Movimento Quinta República, embrião do atual partido governista PSUV. Participou da assembleia que redigiu a atual Constituição e é um homem totalmente leal a Chávez, a quem conhece desde antes de ser presidente. De aspecto discreto, convocou a defesa do projeto revolucionário com “unidade” e “disciplina” horas depois de Chávez anunciar o problema de saúde. Nicolás Maduro – Chanceler desde agosto de 2006. Foi motorista de ônibus e sindicalista, atividade que o iniciou na política e facilita até hoje sua comunicação com o povo. Na disputa política, tem grande apelo popular. Também foi deputado e presidente do Congresso. Faz parte do grupo de confiança de Chávez, a quem visitou várias vezes em Cuba durante seu primeiro período de convalescência. É casado com a deputada Cilia Flores, da linha radical do chavismo, que também foi presidente do Legislativo. Ambos são altos dirigentes do partido do governo. Rafael Ramírez – Engenheiro, é titular da pasta de Energia e Petróleo desde 2002 e um dos ministros que permanecem no gabinete por mais tempo. Mantém um perfil discreto e é presidente da PDVSA, a petroleira estatal e motor da economia, que administra vários programas sociais. Segundo o analista Luis Vicente León, faz parte do grupo estratégico do chavismo. Diosdado Cabello – Participou como tenente, ao lado de Chávez, da intentona golpista de 1992 contra o ex-presidente Carlos Andrés Pérez. É um homem de prestígio no governo, embora atualmente, como deputado, tenha menos visibilidade. Foi vice-presidente e ministro do Interior, de Obras Públicas e Habitação e de Infraestrutura. Nesses cargos, teria criado uma extensa rede de corrupção, segundo documentos diplomáticos norte-americanos revelados recentemente pelo WikiLeaks. Analistas apontam que ainda mantém vínculos com as Forças Armadas.

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