Nº 401 Edição Brasil

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no de Humala não será nem forte nem fraco, não concentrará poderes como o de Chávez, porque ele sabe que tentá-lo será um risco muito alto”, acrescenta. Um elemento importante para a governabilidade é a política de alianças estabelecida pelo futuro governo, que não conta com a maioria no Congresso, onde as representações parlamentares estão fragmentadas. Embora o Perú Posible, partido liderado pelo ex-presidente Alejandro Toledo, tenha apoiado o voto no Gana Perú no segundo turno, até agora não foi muito explícito em relação ao grau de aliança que oferecerá ao próximo governo. Para o Gana Perú, é fundamental ter o apoio do Perú Posible para contar com a maioria relativa no Congresso, que lhe permita aprovar as leis do Executivo e, principalmente, iniciar a gestão com uma mesa diretiva presidida pelo oficialismo.

CHOQUE SOCIAL Uma das especulações quanto ao novo governo é a possibilidade de desaparecer o atual Ministério da Mulher e Desenvolvimento Social (Mindes), para se criar um Ministério de Desenvolvimento Social. A crítica ao atual esquema ministerial é que ele foi partidarizado pelos diferentes governos, e existe a necessidade de gerar uma tecnocracia social. Para preencher postos estratégicos nos ministérios, são avaliados nomes de alguns peruanos que trabalham em organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Para isso, será necessário romper com o atual congelamento dos salários dos funcionários públicos, a fim de captar os melhores profissionais para a tarefa. “Queremos acabar com a política de contratar consultores, que, depois de acabarem seu trabalho, ficam apenas na memória”, afirma um dos altos quadros técnicos que preparam essa iniciativa. O porta-voz do Gana Perú, Fredy Otárola, assinala que “o partido revisará a questão dos salários dos funcionários públicos. Suas remunerações

Busca por apoio brasileiro Líderes da América do Sul se aproximam de Dilma No início de junho, Dilma Rousseff recebeu a visita de dois presidentes sul-americanos: Hugo Chávez, da Venezuela, e o recém-eleito Ollanta Humala, do Peru, que escolheu o Brasil como primeiro destino póseleição. Tanto Chávez (que enfrenta problemas de saúde) quanto Humala vieram ao Brasil, na mesma CHÁVEZ SE ENCONTRA COM DILMA EM BRASÍLIA semana, com o objetivo de colocar em prática uma estratégia de aproximação com Dilma, na presidência desde janeiro. Durante os oitos anos de governo Lula, muitas vezes se ouviu do ex-presidente que era preciso aumentar a aproximação com os hermanos da América Latina. Diante da indefinição de Dilma até agora, os dois colegas trataram de tomar a iniciativa. Segundo a análise de Charles Pennaforte, diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri), o objetivo da visita de Chávez, particularmente, foi buscar a continuidade da relação política com o Brasil. Sobre o atual quadro, ele diz: “A eleição de grupos de centro-esquerda fortalecerá a integração latino-americana”. Para Francisco Panizza, pesquisador da Latin American Politics, da London School of Economics Political Science, é notório que o governo Lula se tornou um exemplo de esquerda moderada e exitosa. “A visita dos dois presidentes é um reconhecimento da liderança regional do Brasil. Humala também buscou aproximação com Argentina, Uruguai e Chile. Com exceção parcial da Argentina, são todos países vistos como governos integrados, com políticas sociais vitoriosas e processos políticos moderados”, opina. A forma de conduzir a Venezuela por Chávez já é conhecida. A dúvida, agora, é saber o que acontecerá no Peru, com o novo presidente. Panizza avalia: “Humala disse que o Peru seguirá seu próprio modelo, mas me parece que sua inspiração, definitivamente, será Lula”. PAULA PACHECO, DE SÃO PAULO

são tão baixas que eles migram para o setor privado porque lá ganham mais”. A dificuldade é que a política salarial do setor público sempre é assunto de debate e, em alguns casos, de grande demagogia, que estereotipa qualquer promoção de altos funcionários adequadamente remunerados como se pertencessem a uma planilha dourada. O economista e pesquisador da Universidade Autônoma do México (Unam) Óscar Ugarteche assinala que a turnê de Humala pelos países sul-

-americanos foi acertada, pois são mercados mais dinâmicos que as economias desenvolvidas, e agora é preciso olhar para eles. De qualquer forma, e como um grande desafio imediato, Humala deve gerar, a partir dos primeiros dias de governo, imagens coletivas capazes de nos fazer imaginar que estamos diante de um governo de mudança social, embora de continuidade econômica. Não haverá lua de mel – ele estará em uma campanha permanente. Julho, 2011 AméricaEconomia 55

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