Nº 363 Edição Brasil

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CONTA DE SOMAR C

A VIDA DEPOIS DE DOHA

UNIVERSIDADES VÃO À BOLSA U

SEM PERSPECTIVA?

BRASIL www.americaeconomia.com.br 25 DE AGOSTO, 2008

FGV

A mais globalizada da região

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GLOBAIS

A força das redes

RANKING MBA 2008

NEGÓCIOS DE PROVETA Com incubadoras e centros de pesquisa, as escolas de negócios querem ser fonte de criação empresarial

Nº 363

R$ 10




NESTA EDIÇÃO

Nº 363 / 25 DE AGOSTO, 2008

17

ESPECIAL

As melhores escolas de negócios

SEÇÕES 69 Capital Aberto 71 Negócio Fechado 72 Raio X 73 Visões 74 Linha Direta

LATINSTOCK

8 Índice 9 Cartas 10 Memo 12 Pistas 13 Movimentos

NEGÓCIOS

PMES GLOBAIS

FINANÇAS

44 Conta de somar

56 Confiança total

65 Opinião

Universidades brasileiras buscam capital na bolsa e começam a consolidar-se.

47 Hollywood latina Miami move uma crescente indústria cinematográfica no idioma espanhol.

49 Linha branca estratégica A mexicana Mabe cresce e se transforma em parceira preferencial da GE na região.

51 Regime militar Administrada pela Marinha, Petroecuador quer superar dificuldades.

55 Visão verde Fabricante de soro, Baxter economiza em seu principal insumo: a água. 4 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

Banco alemão aposta nas pequenas empresas da região.

DEBATES 58 De longe

Europa acende a luz amarela para 1,3 milhão de imigrantes latinos.

60 A vida após Doha

Há poucos incentivos para uma nova rodada de negociação.

63 Opinião

É natural que haja limites em um acordo de integração, diz Félix Peña.

64 Panorâmica

Para Lowenthal, estratégia de Obama é correta: concentrar-se em vencer.

John Edmunds analisa os riscos de se projetar o futuro com base apenas na história.

66 Bônus em alta Fundos de pensão do Peru, México e da Colômbia atraem emissores internacionais.

68 Casas vazias O mercado imobiliário mexicano faz as empresas financeiras sofrerem.

I-BIZ 70 Clics & Chips Esqueça as baterias. Já existe um controle remoto a corda.


Invista na sua carreira, faça Ibmec São Paulo Rigor acadêmico e visão pragmática contribuindo para uma sólida formação executiva

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Os programas de MBA do Ibmec São Paulo são referenciais nas

atuação de destaque no universo corporativo e nos negócios.

empresas, graças à formação de profissionais altamente qualificados. Os conteúdos ministrados permitem não só o emprego imediato de conceitos e práticas ao cotidiano profissional, como a permanente aplicação ao longo da trajetória corporativa ou empreendedora. O MBA do Ibmec São Paulo é atestado por um dos mais importantes

MBA Executivo em Finanças Desenvolve habilidades analíticas, de decisão e de negociação para uma atuação gerencial avançada, com especial destaque para finanças corporativas e de mercado.

órgãos certificadores de programas de MBA no mundo, a Association of MBAs – AMBA. Além disso, o Ibmec São Paulo é membro do European Foundation for Management Development – EFMD, o que

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consolida sua posição como uma escola de negócios que atende a padrões estabelecidos e reconhecidos internacionalmente.

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americaeconomia.com / 2.0 O site dos negócios globais da América Latina

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NA PONTA DOS DEDOS

EM MOVIMENTO

Suponhamos que o dono de uma pequena empresa necessite controlar a hora de saída e chegada de seus funcionários, sem depender de um relógio de ponto, que o obrigue a transferir a informação a uma planilha Excel. Uma das alternativas para resolver o problema é o software biométrico Biosign, desenvolvido pela consultoria – e também pequena empresa – Microexpertos, do Chile. “Pode parecer um pouco inquisitório”, diz o gerente-geral da Microexpertos, Víctor Rosas (na foto). Por isso, apesar de garantir que o sistema é 100% efetivo, Rosas também recomenda aos líderes das empresas pesquisar bem as características do serviço, antes de implementá-lo. “Os empregados podem se sentir muito controlados”, reconhece.

A Escola de Negócios da Universidade Adolfo Ibáñez, no Chile, está desenvolvendo uma plataforma de inovação e criação de conhecimento. Duas iniciativas em especial se destacam: o laboratório Biotec Venturel@b, para pesquisa aplicada e patenteamento de classe mundial, e a Octantis, uma incubadora que já soma mais de 150 empresas criadas. “Nossos projetos nascem de estar constantemente vivendo a inovação”, diz o diretor executivo de Programas de MBA, Ramón Molina (na foto). www.americaeconomia.com

AINDA NÃO LEU? RECEBA O QUE ACONTECE NA ECONOMIA E NOS NEGÓCIOS DA REGIÃO EM SEU E-MAIL. INSCREVA-SE 6 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

28% 27% 4% SANTIAGO

MONTEVIDÉU

ASSUNÇÃO

REDES 3G O novo iPhone da Apple não acendeu apenas o desejo de muitos latino-americanos, que sonham em tê-lo nas mãos. Também alimenta as expectativas das operadoras da região, que vêem no aparelho um importante estímulo para a ampliação das redes de terceira geração (3G). Mas, ainda resta um longo caminho para as companhias do setor, que lutam contra a predominência do pré-pago, como destaca Erasmo Rojas, diretor para América Latina e Caribe, da 3G Americas, em entrevista a www.americaeconomia.com



ÍNDICE DE EMPRESAS OS NÚMEROS REFEREM-SE À PRIMEIRA PÁGINA EM QUE AS EMPRESAS SÃO CITADAS. EXCLUI AS EMPRESAS QUE FIGURAM EM GRÁFICOS E RANKINGS

3G Ameritas ..................... 6 a Aeiou .............................. 14 Aeroméxico .................... 32 Aesacre ........................... 45 AFP Prima ...................... 67 Anhanguera Educacional Participações S.A. ..... 44 Apollo ............................. 46 Apple ................................ 6 Atlas Eléctrica ................ 33 b Baita ............................... 68 Banco de España ............ 59 Banco Fator .................... 45 Banco Ixe........................ 32 Bimbo ............................. 32 Biotec Venturel@b ........... 6 c CAMCO ......................... 50 CCE Eletrodomésticos .... 33 Celfin Capital.................. 66 Cencosud ........................ 66 Centrón ........................... 33 Chevron .......................... 52 Cinemex ......................... 18 Citigroup ........................ 67 Ciudades.com ................. 16 Colgate ........................... 32 Colliers International ...... 15 Compartamos.................. 57 d DBM ............................... 32 DealWatch Latin America45 Deloite ............................ 32 Deloitte Touche Thomatsu52 Despegar.com ................. 16 Disagro ........................... 33 e Equity Research Desk..... 69

Estácio ............................ 45 Etcétera Group................ 48 f Facdelta .......................... 45 Facsul ............................. 45 Faculdade Evandro Lins e Silva ............... 46 Fanor .............................. 45 Fargo............................... 33 Fincasa Hipotecaria ........ 68 Fitch Ratings ............ 57, 68 Fox.................................. 47 g Gartner Research ............ 37 GE Dako ......................... 33 General Electric .............. 49 GfK Indicator ................. 13 Gol .................................. 14 Good Foods .................... 67 GP Investimentos ............ 45 Grameen Bank ................ 56 Grupo Salinas ................. 32 h Haier ............................... 33 Hausmann & Klinger ...... 72 Hemisferio Izquierdo ...... 37 Hewlett-Packard ............. 18 Hits Telecom................... 14 i Ibmec .............................. 46 IBTA ............................... 46 Inea ................................. 46 Insitum............................ 49 Iuni Educacional ............. 45 IXE Grupo Financiero ................. 68 j JetBlue ............................ 14 John Deere ...................... 40 Johnson&Johnson ........... 32

k KfW ................................ 57 Koper Consultoria........... 45 Korn/Ferry International .............. 37 KPMG Corporate Finance ...................... 44 Kroton ............................ 45 l Larrain Vial .................... 67 Laureate Education Inc. ........... 46 LG .................................. 49 Lionsgate ........................ 47 m Mabe ............................... 49 Mazars ............................ 37 MCF Consultoria ............ 13 Merril Lynch ................... 69 Metrocamp ..................... 46 Metrofinanciera .............. 68 Microexpertos ................... 6 Molymet ......................... 67 Moody´s ......................... 68 n Nacional de Chocolates................. 66 NBC Universal ............... 48 Nickelodeon.................... 48 o Occidental....................... 51 Octantis ............................ 6 p Panamax Films ............... 47 Pátria Investimentos ............ 45 Petroamazonas ................ 51 Petroecuador ................... 51 Petroproducción.............. 52 Pitágoras ......................... 45

PricewaterhouseCoopers ... 41 ProCredit Holdings ......... 56 r Ritz Carlton .................... 13 Rumbaut & Company ..... 48 s Santander ........................ 45 Sistema Brasileira de Educação .............. 45 Sodexho .......................... 40 Sonda .............................. 15 Sony................................ 70 Standard & Poor`s ..49, 61, 68 Sun Microsystems .......... 16 t Telemando Internacional ............... 47 Televisa........................... 48 Texaco ............................ 52 Toyota ............................. 70 Trabajando.com .............. 40 u UBS Pactual ................... 45 Uirapuru ......................... 46 Unesp.............................. 45 Uniban ............................ 45 Unicen ............................ 45 UniNove ......................... 45 Unip ................................ 46 Unir ................................ 45 Univisión ........................ 48 v Veris Educacional ............... 46 Visa................................. 16 w Warner Bros. ................... 47 Whirpool ........................ 49 Word McKenzie .............. 51

AMÉRICAECONOMIA magazine (USPS #023106) is published biweekly, except January, February in Santiago, Chile by AMÉRICAECONOMIA. AMÉRICAECONOMIA

is distributes in the United States by DL Distribution Group, 7301 SW 100 Ct, Miami, FL. 33173-4651 PH: (305) 595-5505. Periodicals Postage paid at Miami, Florida. POSTMASTER: send address changes to AMÉRICAECONOMIA 7301 SW 100 Ct, Miami, Fl. 33173-4651.

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CARTAS Seria interessante ver como funciona o modelo brasileiro e como consegue obter esse resultado. Francisco González Caracas, Venezuela

Cupins na OMC

As 500 Excelente sua edição das 500 Maiores Empresas da América Latina (AméricaEconomia Nº 361, 21 de julho, 2008). É impressionante o crescimento das grandes empresas da região. Vejo que agora as brasileiras são as que mais crescem, o que acontece em um momento em que a classe média brasileira também passa por uma etapa de crescimento inédito de sua riqueza e poder de consumo. Ao contrário do que muitos latino-americanos acham, o progresso das grandes empresas não é contraditório com uma melhor distribuição da riqueza.

Visionária a coluna de Félix Peña sobre o futuro da OMC (“Cupins na OMC”, AméricaEconomia Nº 361, 21 de julho, 2008). Ele tem razão: o sistema do comércio internacional não se vê debilitado simplesmente porque as negociações na OMC fracassaram, mas devido ao florescimento de acordos que vão minando o princípio de nãodiscriminação, através da criação de acordos bilaterais regionais de comércio, que se baseiam na concessão de vantagens comerciais para um país, em detrimento do restante. Com o fracasso de Doha, teremos uma ordem global de comércio baseada na discriminação. E esta não parece um bom lugar no qual se apoiar. Cecilia Abarca Cidade do Panamá

Valores familiares Muito interessante seu estudo sobre os maiores grupos econômicos da região (“Negócios caseiros”, AméricaEconomia N° 362, 11 de agosto, 2008), destacando que os conglomerados familiares foram condenados à morte, no passado, mas continuam sendo fortes. Acredito que outra explicação para isso sejam os valores familia-

res: as empresas de família vêem os negócios como mais um tema familiar. Daí vem sua maior resistência, em tempos ruins, em relação a um negócio que não tem controle familiar e prefere quebrar, antes de esgotar todas as possibilidades de contornar a situação, que seguir adiante. Gonzalo Bedoya Lima, Peru


MEMO DIRETOR Elías Selman C. VICE-PRESIDENTE-EXECUTIVA Gloria Landabur DIRETOR-EDITORIAL Felipe Aldunate M. EDITOR-ADJUNTO Rodrigo Lara DIRETOR DE ARTE Álvaro Araya Urquiza EDITORES-EXECUTIVOS Solange Monteiro, Juan Pablo Rioseco EDITOR MÉXICO Marisol Rueda EDITOR MIAMI Antonio María Delgado EDITOR FINANÇAS Eduardo Thomson EDITOR DE FOTOGRAFIA Miguel Candia REPÓRTERES Francisca Vega (Chile), Arly Faundes (México)

GESTORES DE MBA O QUE ACONTECE QUANDO se junta um engenheiro, um designer e um administrador de empresas? São várias as escolas de negócios que estão a ponto de descobri-lo. Algumas das mais destacadas instituições latino-americanas que oferecem MBA – Master in Business Administration – estão abrindo suas estruturas acadêmicas para combinar o talento comercial de seus alunos com o de outros profissionais, focados em produzir. Elas acreditam que esta é uma forma efetiva de gerar inovação e desenvolvimento, com foco no consumidor. Em alguns casos, inclusive, estão instalando laboratórios próprios em seus campi, para levar desenvolvimento científico ao mercado. É uma jogada interessante das instituições que querem transcender o ensino da administração e fazer negócio em seu próprio território. As 391 empresas que foram criadas dentro dos cursos de MBA da região somam apenas US$ 150 milhões em vendas, mas são uma boa prova da importância do esforço de se criar valor. Esta é uma das caras da concorrência entre as escolas de negócios da América Latina. Um universo que, anualmente, os convidamos a conhecer, através de nosso ranking das melhores escolas de negócios da América Latina. Como em todas as indústrias inovadoras, as regras do jogo, neste caso, não são diferentes e mudam constantemente. Algumas crescem, outras encolhem. Algumas se separam, outras se fundem. Um dinamismo que representa grande desafio para a equipe de AméricaEconomia Intelligence, que precisa adaptar a metodologia do estudo à medida que surgem novos fatores de diferenciação a serem considerados. Para estar sintonizada com a evolução do mercado de escolas de negócios, todos os anos, nossa equipe viaja pela América Latina, visitando diversas instituições e conferindo, in loco, os dados contidos nos longos questionários preenchidos por aquelas que aceitam participar deste ranking. É um esforço que vale a pena. O ranking dos MBA se transformou em um importante serviço para nossos leitores, muitos dos quais esperam sua versão mais atual para escolher onde estudar no ano seguinte.

CORRESPONDENTES•ARGENTINA Juan Pablo Dalmasso •COLÔMBIA Lucía Valdés •MÉXICO Carolina Solís •PERU Cecilia Niezen•URUGUAI Guillermo Pellegrino •VENEZUELA Dorothy Kronick •AMÉRICA CENTRAL Vernic Gudiel •MIAMI Carlos Molina •WASHINGTON Antonieta Cádiz COLUNISTAS•Susan Kaufman Purcell •Abraham Lowenthal •John Edmunds •Javier Santiso DIAGRAMAÇÃO Riffka Schiro-kauer J., Sebastián Caro P.

•ILUSTRADORES Daniela Guglielmetti, Rodrigo Díaz Carrizo REVISORA Adriana Casarotti

AMÉRICAECONOMIA INTELLIGENCE (Estudos e Projetos Especiais) •DIRETOR Rodrigo Díaz COORDENADOR-GERAL Jaime Contreras • •ANALISTA SÊNIOR Pablo Hernández •ANALISTA Daniela González AMÉRICAECONOMIA.COM

•EDITOR Franco Piccato •REPÓRTERES Marcelo García, Daniela Cid, Magdalena Álvarez, Pablo Jamett, Karin Hernández• GERENTE DE PRODUÇÃO Constanza del Río Moreno DIRETOR DE MARKETING Marcelo Silva DIRETOR DE CIRCULAÇÃO Marcial Delcorto • GERENTE DE INFORMÁTICA E LOGÍSTICA Óscar Sánchez • BRASIL•HV2 Comercialização de Mídia •DIRETOR-GERAL Hélcio Vieira GERENTE DE PUBLICIDADE Oscar da Silva Alves • •GERENTES DE NEGÓCIOS Rosangela Bomtempo, Nícolas Cardoso Slamek •GERENTE DE MARKETING Denise Terranova Rua Cel. Arthur de Paula Ferreira, 59 - cj 111São Paulo - SP - Brasil CEP 04511-060 Tel.: 5511-3846-5588 ESCRITÓRIOS COMERCIAIS • EUA Tel: 305/648-9071 •MÉXICO Tel: 5255/5254-2400 Fax: 5254-7510 • ARGENTINA Claudia Dasso Tel: 5411/4383-8410 - 4383-8416 •CHILE Tel: 562/290-9400 Fax: 341-5687 • AMÉRICA CENTRAL Julio Lemus Tel-Fax: 502/2261-0278 • PANAMÁ Yadyra de Paz y Miño Tel: 507/271-5327 - 507/66787564 • PERU Ana Pazos Pastor Tel-Fax: 511-4211852 - Cels: 511-97897272 / 511-97622230 REPRESENTANTES INTERNACIONAIS • ALEMANHA Gerd Bielenberg (GWP International Media Service) Tel: 49211/887-2328 Fax: 887-2919 • ESCANDINÁVIA Finn Greve Isdahl (International Media Sales A/S) Tel: 4755/92-5192 Fax: 92-5190 • ESPANHA Luis Andrade (Luis Andrade Publicidad Internacional) Tel: 3491/441-6266 Fax: 441-6549 • FRANÇA Patricia Goupy (PEM Groupe PEMA) Tel: 331/4143-7057 Fax: 4738-6329 • ITÁLIA Carlo E. Calcagno (Studio Calcagno s.r.l.) Tel: 3902/670-73383 • REINO UNIDO David Todd (David Todd Associates Ltd.) Tel: 4420/7538-5811 Fax: 7538-4911 • SUÍÇA Hans Otto (Infoplus AG) Tel: 411/269-7070 REDAÇÕES • SANTIAGO: Tel 562/290-9400 • CIDADE DO MÉXICO: Tel 5255/5254-2400 • BUENOS AIRES: Tel 5411/4383-8410 • MIAMI: Tel 305/648-9071 AméricaEconomia é uma publicação quinzenal da Nanbei Ltd. •Impressa na Plural Editora e Gráfica . México, franquia paga. Publicação periódica•Registro PP09-0011 PRESIDENTE Nils Strandberg CHAIRMAN Robert R. Paradise

Felipe Aldunate M. Diretor Editorial Certificado Licitud de Título Nº 4090 . Certificado Licitud de Contenido Nº 3346 . AméricaEconomía is a Nanbei Ltd. biweekly publication

10 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008



SEGUINDO A PISTA PASSO ATRÁS PUBLICAMOS: Uma das multilatinas que precisaria repensar sua estratégia de crescimento é a mexicana Cemex. Faz aproximadamente 16 anos que contabiliza uma aquisição por ano. As classificadoras de risco não estão muito tranqüilas com tal situação. O compromisso oficial da empresa é reduzir sua dívida líquida ao nível de 2,7 vezes o ebtida, no prazo de dois anos. (“Hora de Pagar”, AméricaEconomia Nº 356, 1 de abril, 2008)

O NOVO: No começo de agosto, a empresa mexicana anunciou que considera vender parte de seus ativos na Austrália, que operam sob a marca Humes e consistem de 16 fábricas, com vendas de US$ 234 milhões, em 2007. A Merrill Lynch foi escolhida para assessorar o processo de venda. Em 31 de julho, a Cemex já tinha anunciado a venda de suas operações na Áustria e Hungria, por US$ 483 milhões, à européia Strabag SE.

SUPER-CANA

HOMEM DE AÇO

PUBLICAMOS: O crescimento econômico da região faz com que esta demande cada vez mais eletricidade. A Olade calcula que, até 2015, a demanda dos países da região por energia crescerá 52,8%. Segundo pesquisas do Banco Interamericano de Desenvolvimento, o consumo aumentará 75%, até 2030, o que significa que a capacidade de geração elétrica precisará crescer 144%, pelo menos. Uma das alternativas para a superação do desafio é a diversificação das fontes de geração. (“Vítima regional”, AméricaEconomia Nº 361, 21 de julho, 2008)

O NOVO: Novamente o Brasil toma a dianteira. Segundo a análise “Mercado do Bagaço da Cana para a Geração de Energia no Brasil”, da consultoria Frost & Sullivan divulgada em agosto, o mercado em questão alcançou os 3 GW, em 2007 no País, com prognóstico de chegar aos 12,2 GW, em 2014. ”Atualmente, há 47 projetos no BNDES, que podem aportar 1,4 GW de energia co-gerada à rede nacional, em 2008 e 2009”, diz Julio Campos, analista da Frost & Sullivan.

PUBLICAMOS:

A chilena CAP lançou um plano de investimentos de US$ 1,2 bilhão, com horizonte de cinco anos. A companhia aumentará a produção de aço de 1,2 milhão para 1,45 milhão de toneladas, no primeiro trimestre do próximo ano, diz Roberto de Andraca, presidente da empresa. “Depois aumentaremos mais 1 milhão.” (“A Opção Asiática”, AméricaEconomia Nº 346, 20 de agosto, 2007).

O NOVO: Seguindo seus impulsos, a CAP anunciou que investirá US$ 2,42 bilhões nos próximos anos. Será o maior investimento de sua história, na área siderúrgica. Primeiro, modernizará a unidade de produtos planos, além de construir uma fábrica de aço galvanizado, na qual investirá cerca de US$ 550 milhões até 2011. Outro US$ 1,87 bilhão será investido no plano de aumento de capacidade de Huachipato, que chegará a 3 milhões de toneladas anuais de aço líquido.

PRÓ-ABERTURA? PUBLICAMOS: Vários analistas estão preocupados com as repercussões das mudanças na imagem internacional de Cuba. Philip Peters, vice-presidente do Instituto Lexington, as vê como um movimento estratégico. “Estão dando às pessoas a sensação de que as coisas estão se transformando e alguém os escuta.” (“Sopro de Mudança”, AméricaEconomia Nº 358, 5 de maio, 2008). O NOVO: O governo de Raúl Castro decidiu aumentar o controle sobre o setor do software na ilha. A partir de agosto, é obrigatório o registro de todos os softwares destinados à Cuba ou à exportação, bem como os importados, segundo a resolução governamental. As sanções vão de multas a suspensão de autorização para comercializar. Castro alega que a medida busca frear a corrupção e o desvio de recursos do Estado.

12 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

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MOVIMENTOS

Caro para

o luxo

“O MERCADO latino-americano ainda é oneroso para as marcas de luxo.” Essa é a avaliação do brasileiro Carlos Ferreirinha, especialista no tema. “Apesar de a classe média estar se fortalecendo, a carga tributária e dificuldades na importação ainda são fatores desestimulantes”, diz, estendendo para a região uma das conclusões do estudo sobre o mercado de luxo brasileiro que será apresentado em setembro, no evento AtuaLuxo 2008, na capital paulista. “Mas, há vários players interessados na região e, quando os latinos mostram compromisso a longo prazo, conseguem figurar no radar mundial”, afirma Ferreirinha. O estudo feito pela MCF Consultoria e a GfK Indicator, a partir de entrevistas com cem empresas presentes no Brasil, mostra que o mercado de luxo no País poderá crescer até 35%, em 2008, em relação a 2007, para US$ 6,75 bilhões. Já os investimentos tendem a se estabilizar em US$ 790 milhões, com 3% de crescimento. Tais investimentos estariam concentrados em aumento de estoque e comunicação (47% das respostas), enquanto a abertura de novas lojas soma 9% das intenções. “Hoje, no Brasil, os destaques estão na hotelaria – com nomes como o Ritz Carlton –, serviços de resorts e spas”, diz Ferreirinha. SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

FERREIRINHA: BRASIL ATRAI HOTELARIA PREMIUM

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 13


MOVIMENTOS vai&

vem

SILVA: A LOW COST DA TELEFONIA

ALEXANDRE HOHAGEN

Telefonia celular sem fru fru SER A JETBLUE DA telefonia celular brasileira. Com a comparação, o empresário Roberto Melo da Silva, anunciou no início de agosto, o lançamento da Aeiou, quarta operadora de telefonia celular a atuar na Grande São Paulo, o maior mercado do País. Assim como a companhia aérea dos EUA, a Aeiou quer ser conhecida por oferecer “qualidade e baixos preços”, adotando um modelo de negócios bem mais espartano que o da concorrência. O foco será exclusivo no público jovem, e se traduz na linguagem visual e no principal canal de vendas escolhido, a internet. A Aeiou venderá apenas chips GSM, que poderão ser usados em qualquer aparelho desbloqueado. Para fazer o pedido, o consumidor preenche um cadastro no site da operadora e recebe o dispositivo em casa, três dias depois. A operação comercial começará dia 9 de setembro. Em um ano, a empresa espera conquistar 500 mil clientes. O negócio, que chegou a ser discutido com um grupo de investidores americanos liderados pelo empresário Edward Jordan, e oferecido à família Constantino, dona da Gol, acabou contando com a parceria da operadora Hits Telecom, da Arábia Saudita, que comprou 49% de participação no negócio, em maio, por US$ 62 milhões. Segundo Silva, até agora, foram investidos R$ 250 milhões no negócio. DUBES SÔNEGO / SÃO PAULO

Basta estar vivo... A MORTE É a única coisa garantida na DE QUE MORREREMOS vida. Mas, sua visita pode ser posterProjeção de causas de morte em gada, dependendo da quantidade de 2030, em % dinheiro que se leva no bolso. Tome-se PAÍS TIPO DE DOENÇA o caso do câncer. De acordo à OrganiCardiovasc. Crônica Câncer Contagiosa Acidente zação Mundial de Saúde (OMS), é uma 30,7 28,8 22,6 11,0 6,9 Argentina das causas de morte que mais crescem 36,2 29,5 17,2 7,0 10,1 Brasil no mundo e, hoje, mata um em cada oito Chile 26,2 30,9 27,7 8,7 6,6 latino-americanos. “Se continuar a atual 29,3 23,7 16,4 13,6 17 Colômbia 24,8 46,5 13,8 8,1 6,9 México tendência, a proporção poderia aumen21,6 28,2 22,9 18,2 9,1 Peru tar para 6,6, em 2015”, indica um estudo 33,0 24,7 15,1 9,7 17,5 Venezuela da OMS, que também estabelece clara Fonte: Organização Mundial de Saúde relação entre a doença e a pobreza. Segundo a Organização, 70% das mortes por câncer se produzem nos países de baixa e média renda, onde os recursos disponíveis para prevenção, diagnóstico e tratamento são limitados ou inexistentes. E não é só: segundo a OMS, mais de 150 milhões de pessoas, no mundo, faliram devido aos caros tratamentos. Aparentemente, carecer de recursos para tratar o câncer é quase o mesmo que ter um pé na tumba. FRANCISCA VEGA / SANTIAGO

14 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

O brasileiro Alexandre Hohagen é o novo diretor geral de operações do Google, substituindo o mexicano Daniel Alegre, que assumirá o mesmo cargo na Ásia. A nomeação de Hohagen é parte do processo de reestruturação da companhia, que transferiu o escritório central para a região, da Califórnia para o Brasil. A argentina Marta Jara, atualmente encarregada do projeto de gás natural liqüefeito na Baixa Califórnia, México, foi nomeada presidente e diretora geral da Shell México, país que investe em terminais de regasificação. Marta substitui o holandês Cornelis van der Bom, que continuará no Grupo Royal Dutch Shell, ocupando outro cargo. O venezuelano Álvaro Celis assumirá como novo diretor geral da Microsoft na subsidiária Multi Country Americas, onde será responsável pelas operações da América Central, Caribe, Peru, Equador, Bolívia e Paraguai. Celis substitui a panamenha Kathia Quirós-Sánchez, que saiu da empresa por motivos pessoais. O chileno Gustavo Adolfo González, inspetor geral de Carabineros de Chile, é o novo representante das Forças Armadas para integrar o conselho da estatal chilena Codelco, até 2010. Substitui Eduardo Gordon, diretor geral de Carabineros. A paraguaia Gloria Ortega de Arza foi promovida à gerência regional da operadora de telecomunicações Tigo, em três países latinoamericanos, cargo recém-criado. A missão de Glória é impulsionar as ações da Tigo na Colômbia e na Bolívia.


MOVIMENTOS SUAS FINANÇAS PESSOAIS não andam bem e uma das causas é o preço dos estacionamentos? Então, provavelmente, você vive em Santiago, Buenos Aires ou na Cidade do México, os três centros urbanos com o maior custo desse serviço na América Latina. A capital chilena está em primeiro lugar, com um custo mensal médio de US$ 200, seguida por Cidade do México, com US$ 150; em Buenos Aires, a média é de US$ 145, segundo estudo da consultoria Colliers International. São Paulo ficou em quarto, com US$ 120. Os motivos para que algumas capitais sejam mais caras que outras são vários, incluindo a valorização da moeda local, o espaço disponível e a maturidade do mercado. “Os preços começaram a subir porque a taxa de vacância se reduziu”, diz Mario R. Rivera, diretor de projetos corporativos para a América Latina da Colliers International. E não é só. Também incide a qualidade dos serviços disponíveis. Quanto mais maduro é o mercado, mais comum é encontrar estacionamentos sofisticados em termos de instalações e segurança. Bogotá, por exemplo, é uma das cidades mais baratas da região, devido à precariedade dos serviços. MARISOL RUEDA / CIDADE DO MÉXICO

POUCO ESPAÇO Tarifas em US$ CIDADE Buenos Aires São Paulo Santiago Bogotá San José Cidade do México Lima

DIÁRIA N.D. 15 N.D. N.D. 10 20 15

Fonte: Colliers International

MENSAL 145 120 200 95 100 150 145

A próxima compra É POSSÍVEL QUE ATÉ o fim do ano a empresa de TI Sonda anuncie uma nova compra internacional. Isso é o que garante Rodrigo A. Peña, investor relations officer da empresa. Com US$ 70 milhões em caixa, que restam dos US$ 200 milhões previstos em seu plano de investimentos para novas compras no período 2007-2009, os alvos da Sonda são, sobretudo, México, Colômbia e Brasil. Todas as candidatas têm vantagens. O México, por ser o único dos três países em que a Sonda não fez compras no período. Já a Colômbia registra a taxa de crescimento em TI mais alta da região: 18%. E o Brasil, por hoje ser o mercado mais promissor da empresa, com 39,5% das vendas totais da Sonda, incluindo o Chile, no primeiro semestre de 2008. “Em todos os países, buscamos uma empresa que aumente nossa base de clientes orientada à oferta de serviço, e não concentrada em um só segmento”, afirma Mario Pavón, vice-presidente de Sonda. Quem vai levar? SOLANGE MONTEIRO / SANTIAGO

Juventude às moscas A AMÉRICA LATINA É CLASSIFICAm, mas DA como um continente jovem, ração isso não é motivo de comemoração para as autoridades laborais. O motivo? Somente 17 milhões, dos oram m 106 milhões de jovens que moram na região, têm trabalho formal.. O 10 restante está desempregado (10 formilhões), está na economia inforusca mal (31 milhões), ou sequer busca xistem emprego (47 milhões). “Não existem balho políticas de Estado para o trabalho juvenil na América Latina”, dizz Luiz eto González, conselheiro do projeto Promoção do Emprego Juvenil na o pela América Latina (Prejal), criado Organização Internacional do Traerno balho (OIT), com apoio do governo ra e de empresas espanholas, para combater a tendência. Desde sua fundação, em 2006, o projeto catinopacitou centenas de jovens latinoamericanos para que entrem no omenmercado de trabalho. Até o momenxada, to, a capacitação tem sido deixada, resas. sobretudo, nas mãos das empresas. Mas, autoridades de Lima estão adotando estratégias para apoiar a iniciativa, pelo menos no Peru. As atividades do Prejal estão previstas para terminar em 2009, mas já é considerada a possibilidade de uma segunda etapa do projeto, que garantiria o beneficio a outros jovens que enfrentam dificuldades para encontrar trabalho. NATALIA VERA /LIMA

CCADÊ ADÊ O TRABALH TRABALHO? HO?

Taxa de desemprego urbano juvenil na América Latina e Caribe, janeiro - setembro

2006 2007

30 20 10 0

15-24 15-24 15-19 20-24 12-17 18-24 14-24 14-24 15-24 ARG BRA CHI COL PER URU VEN Fonte: OIT, com base em informações oficiais dos países

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 15

EDITADA POR AMÉRICAECONOMIA

Proibido estacionar


MOVIMENTOS Férias no quintal do vizinho MÉXICO E CANADÁ são os principais destinos turísticos no exterior para os norte-americanos, segundo estudo realizado pela operadora de redes de pagamento eletrônico Visa. Mas, a que se deve a preferência pelos vizinhos? “A queda do dólar, o aumento do custo de viajar e a necessidade de apertar o cinto fizeram com que eles passassem a reduzir as distâncias das viagens ao exterior”, diz Vicente Echeveste, vice-presidente de Produtos de Consumo da Visa América Latina e Caribe. Costa Rica e Brasil também estão dentro do ranking mundial, mas muito abaixo do México, respectivamente nas posições 14 e 15. O estudo, feito entre donos de cartões de crédito dos Estados Unidos que viajaram ao exterior nos últimos três anos, aponta a que a desaceleração econômica não fez os planos de viajar minguarem por completo. Sessenta e três por cento, dos mil pesquisados, afirmaram estar tão ou mais disposto a viajar este ano, que em 2007. A metade afirmou que provavelmente fará uma viagem nos próximos 12 meses, enquanto 74% não pensam em sair dos EUA. MARISOL RUEDA / CIDADE DO MÉXICO

TRANSPORTE BARATO: MÉXICO SE TORNA MAIS ATRAENTE

Lucro sem segredo

VISITAS BEM-VINDAS Pagamento com cartão Visa - turistas dos EUA em 2007, em US$ milhões RK 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

PÁIS Canadá México Reino Unido Itália França Alemanha Porto Rico Austrália Espanha China

Fonte: VISA

VALOR US$ 2.900 US $ 1.800 US $ 1.300 US $ 1.100 US $ 975 US $ 837 US $ 741 US $ 435 US $ 431 US $ 414

CADA VEZ SÃO menos os que questionam as vantagens da abertura de mercado. Então, por que não deveria acontecer o mesmo com a tecnologia? Miguel Martínez, vice-presidente da norte-americana Sun Microsystems para América Latina, não tem dúvidas sobre os benefícios da tecnologia aberta. Afinal de contas, foi ela que garantiu à empresa crescimento de dois dígitos, nos últimos três anos, na região, e permitiu a aproximação com governos como os do Brasil, Venezuela e Argentina. “A Sun vê a questão com entusiasmo e como oportunidade. Vemos um movimento grande desses governos para prover mais serviços ao cidadão, usando open sources”, diz Martínez. Uma dessas oportunidades é o projeto Ginga, que desenvolve o sistema de TV digital brasileiro, com base na plataforma Java, oferecida sem custos, pela Sun. E onde a empresa ganha? Na certificação dos sistemas e nos serviços. “Quando se tem essa abordagem, também se tem o desafio de continuar inovando para oferecer os melhores servidores e os melhores serviços”, diz Martínez. VERÓNICA GOYZUETA / SÃO PAULO

Decolar com a cama pronta

VILATE: A CHAVE É A DIVERSIFICAÇÃO

16 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

DESPEGAR.COM (decolar.com), maior vendedora on-line de passagens da América Latina, tem uma clara estratégia para enfrentar as dificuldades do setor aéreo: diversificar a rota. Em julho, comprou 30% do Ciudades.com, que vende estadias em hotéis, com opção de compra do restante das ações. “Setenta por cento de nosso negócio são passagens aéreas, e queremos reduzir essa participação a 50%”, diz Christian Vilate, gerente

JUAN PABLO DALMASSO / CÓRDOBA

da unidade hotéis do Despegar. A iniciativa é fácil de entender. Quem viaja precisa pernoitar. Atualmente, apenas um de cada dez clientes de Despegar.com faz sua reserva de hotel antecipadamente, através do site. Isso deixa a companhia de fora de um negócio que envolve comissões de até 30%, taxa três vezes maior que os 10,12% correspondentes às reservas aéreas. Agora, Vilate espera que o pacote de contratos de hotelaria

trazidos da Ciudades. com permita que a unidade hotéis do Despegar cresça 100%. Tal resultado ajudaria o site a enfrentar a travessia de nuvem carregadas que, eventualmente, podem aparecer no céu. “O mercado aerocomercial regional continua crescendo, mas, no médio prazo, os custos podem afetá-lo. Mas, ainda que as pessoas optem por outros meios de transporte, sempre precisarão encontrar onde dormir”, diz Vilate.


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

MBA AS MELHORES ESCOLAS DE NEGÓCIOS DA AMÉRICA LATINA Não apenas ensinam sobre empresas; também as criam. Saiba o que estão fazendo e quais são as melhores escolas de negócios da região e do mundo.

18 20 28 30 32 34 38 40 42

LATINSTOK

Escolas empreendedoras Ranking escolas latino-americanas Professores produtivos Executivo 360° Coaching A força dos alumni Ranking escolas globais MBA 2.0 Metodologia

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 17


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

As mais empreendedoras As escolas de negócios da América Latina não somente se preocupam em ensinar a administrar empresas. Elas também querem mostrar que sabem criar empreendimentos que perdurem. Incubadoras e centros de pesquisa destinados a gerar patentes comerciais são o novo foco dos formadores de executivos de países como México, Colômbia, Chile e Argentina. Rodrigo Díaz Uma coisa é ensinar negócios. Outra é fazer negócios. E muitas escolas de negócios da América Latina estão abraçando ambos os desafios, com o objetivo de se transformarem em plataformas para a criação de valor. O melhor exemplo disso é o Itam, a escola mexicana que, pelo segundo ano consecutivo, lidera nosso ranking das Melhores Escolas de Negócios da América Latina: de suas salas de aula saíram 52 empresas, entre as quais se destaca a rede de salas de cinema Cinemex. Além disso, o Itam tem o registro de 16 patentes de inovação. Ainda que tal tendência ainda não tenha se replicado nas escolas de negócios brasileiras, instituições da Argentina, do Chile, do México e da Colômbia também já estão apostando na criação de empresas como mecanismo de diferenciação. Outra escola que chegou longe com este objetivo foi a chilena Universidade Adolfo Ibáñez (UAI): só em 2007, a instituição criou 25 empresas. E, através de sua incubadora, a Octantis, soma 65 empresas criadas e 22 patentes industriais registradas. O mesmo caminho seguiram a Iteso, de Guadalajara (62 empresas), a rede mexicana Egade (60), a chilena U. del Desarrollo (50), a paraguaia U. Americana (46), e as colombianas U. del Externado (40) e los Andes (37). (mais detalhes no sub-ranking sobre empreendimento). Nas escolas Egade, o foco está no degrau superior da etapa de desenvolvimento das companhias. “Em nossa aceleradora, já temos 60 empresas ga18 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

zelas, como chamamos as pequenas empresas que registram taxas de crescimento anual de 20%”, diz Antonio Diek, decano da Egade, de Monterrey. “O presidente Calderón nos pediu para chegar a cem, e esta é a nossa meta.” Algumas escolas chegam inclusive a oferecer financiamento aos planos de negócio de seus alunos que consideram bons. “É a prova de valor máxima”, diz Orla Branigan, diretora do MBA da Egade Campus Santa Fe. Os casos chegam de várias frentes. “Estamos trabalhando fortemente com nossa incubadora”, diz Rafael García, coordenador do Centro de Emprendimentos Tecnológicos da Universidade ORT. “O Uruguai necessita de empreendedores com urgência, e estamos apresentando o que temos para oferecer como aporte.” A vocação empreendedora das escolas latinoamericanas segue o exemplo de vários casos emblemáticos de outras regiões do globo. Como o do professor Frederick Emmons Terman, do departamento de engenharia elétrica de Stanford, nos EUA, que, nos anos 1930, convenceu dois de seus ex-alunos,William Hewlett e David Packard, a formarem uma empresa com ele. O resultado, na época, foi a fundação de uma pequena empresa, chamada Hewlett-Packard (HP). Muitos outros casos se seguiram a este. A atividade empresarial de Stanford não significou só elogios. Segundo a Office Technology Licensing de Stanford, até 2006, a universidade californiana tinha recebido US$ 1,09 bilhão em pagamento de licenças.


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

sa científica e a inovação tecnológica, através da criação de empresas focadas na criação de valor agregado em seus respectivos países.

PRODUÇÃO ACADÊMICA O sucesso empresarial não é o principal argumento usado pelas escolas para atrair mais e melhores alunos às suas salas de aula. Seu esforço também aponta para a construção de um faculty, um corpo de professores de primeiro nível, e para o incremento da produção de conhecimento de alta qualidade. Estes são justamente os dois critérios mais relevantes levados em contas nesta nova

DA SALA DE AULA AO MERCADO Empresas criadas U. ADOLFO IBÁÑEZ (.CL)

65

ITESO (.MX)

62

ITAM (.MX)

52

U. DEL DESARROLLO (CL)

50

Fonte: As escolas

EXTERNADO (.CO)

40

U.ANDES (.CO)

37

U.DE CHILE

30

0

10

20

30

40

50

60

70

SILÊNCIO, ESCOLAS PESQUISANDO No patentes conquistadas 2004-2008

U. ADOLFO IBÁÑEZ (.CL)

22

ITAM (.MX)

16

U. DE CHILE

7

ITESO (.MX)

Fonte: As escolas

Já a Universidade de Yale ganhou, entre 1997 e 2006, cerca de US$ 210 milhões em royalties de patentes. A maior parte do dinheiro veio de licenças de patentes do setor farmacêutico, como a do rentável Zerit, uma das drogas que fazem parte do coquetel contra a Aids. Os empreendimentos das escolas da América Latina ainda estão longe de poderem ser comparados a esses casos: as 391 empresas criadas na região somam vendas estimadas em apenas US$ 150 milhões. Mas os esforços indicam a possibilidade de que essa cifra cresça rapidamente. Para isso, algumas estão apostando na realização conjunta de projetos com escolas de Engenharia e Desenho Industrial, para aproximar inovação e tecnologia, mas com a mentalidade mercantil dos estudantes de negócios. A Egade, do Campus Zona Centro, tem os laboratórios da Escola de Engenharia localizados em frente à escola de negócios. “Para que conversem e, quem sabe, criem algo”, diz María Fonseca, diretora do Campus Zona Centro. Já a argentina IAE está instalando um parque tecnológico junto à escola. Um esforço imobiliário que já conta com um edifício e outro por terminar, de um total de quatro. Na mesma direção, caminha a colombiana Uniandes. “Criamos o projeto Zonna, entre as escolas de negócios, engenharia e design”, conta Luis Bernal, diretor do Programa MBA. A iniciativa já resultou em uma patente. Já a chilena UAI vai mais longe. “Estamos armando, dentro da escola, um laboratório de desenvolvimento, ao lado da incubadora”, diz Ramón Molina, diretor do MBA da UAI. “Para que das conversas de corredor surjam idéias que se convertam em patentes e, depois, em negócios.” No Brasil, os centros de pesquisa dos dois gigantes paulistas, FGV e USP, estão muito mais focados no setor público. Na prática, se transformaram em instâncias de pesquisa aplicada de alto nível, com produtos como os indicadores de inflação e de ambiente de negócios, divulgados periodicamente pela FGV. As duas escolas se tornaram referências obrigatórias na projeção e avaliação de políticas públicas no Brasil, bem como na formação de profissionais para trabalhos junto ao Governo Federal. Seja no caso brasileiro, ou no das outras escolas latino-americanas, a transformação protagonizada pelas instituições de ensino corrobora a visão de que os MBAs já não são apenas programas atraentes para apresentar habilidades gerenciais ao mercado. Eles também são úteis para impulsionar a pesqui-

3

EXTERNADO (.CO)

1

U.ANDES (.CO)

1

PUC-CHILE

1

U.T.F.STA. MARÍA (.CL)

1 0

5

10

15

20

25

versão do ranking latino-americano de programas de MBA, que inclui as mais importantes escolas de negócio de toda a América Latina. No total, a produção intelectual das escolas de negócios soma, nos últimos cinco anos, mais de 500 artigos acadêmicos ISI e quase 2 mil artigos publicados em outras bases. Neste quesito, a escola de negócios latino-americana que possui o maior índice de produção intelectual é o Itam, seguida da U. Adolfo Ibáñez e da Incae. O desafio, agora, é melhorar a qualidade da pesquisa. Ainda que a capacidade de produzir 25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 19


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

RANKING LATINO-AMERICANO

Artigos ISI da escola

Referências ISI

Artigos ISI de professores*

Referências ISI

Artigos em outras bases

65

31

4

86,2

45,2

MÉDIA

20

81

49

347

15

64

CR/NI

44

1

14

90,9

-

MÉDIA

15

7

10

23

79

263

3

U. A. IBÁÑEZ

Santiago

CHI

50

9

8

72,0

55,6

ROBUSTA

29

19

15

87

79

76

AACSB, AMBA

4

PUC - CHILE

Santiago

CHI

30

24

4

60,0

62,5

MUITO ROBUSTA

30

12

3

2

30

14

EQUIS, AACSB

5

UNIANDES

Bogotá

COL

36

4

3

80,6

75,0

MÉDIA

7

5

6

12

33

49

AMBA, EQUIS

6

EGADE - MONTERREY

Monterrey

MÉX

44

32

20

95,5

75,0

MÉDIA

21

42

7

16

63

18

AACSB, SACS, EQUIS

7

IESA

Caracas

VEN

36

19

15

75,0

68,4

ROBUSTA

7

4

4

2

61

35

AACSB, AMBA, EQUIS

8

U. DE CHILE (1)

Santiago

CHI

69

51

8

85,5

51,0

MÉDIA

102

104

11

35

56

16

9

FGV - EAESP

São Paulo

BRA

49

4

12

100

-

MÉDIA

4

2

1

-

88

0

AACSB, AMBA, EQUIS

10

IAE - AUSTRAL

Buenos Aires

ARG

50

19

57

66,0

84,2

MÉDIA

8

21

4

11

33

166

AACSB, AMBA, EQUIS

11

U. TORCUATO DI TELLA

Buenos Aires

ARG

22

7

7

81,8

85,7

MÉDIA

11

58

18

127

40

18

12

U.DEL DESARROLLO

Santiago

CHI

21

27

2

57,1

88,9

ROBUSTA

6

5

0

-

15

31

AMBA

13

CENTRUM - PUC

Lima

PER

48

27

5

83,3

51,9

MÉDIA

0

0

3

1

104

45

AMBA

14

FEA/FIA U. SÃO PAULO (2)

São Paulo

BRA

66

6

23

100

16,7

MÉDIA

4

2

0

-

16

1

AMBA

15

UTFSM

Santiago

CHI

34

11

3

100

100

ROBUSTA

6

0

3

1

12

10

16

EGADE - ZC

Cd. México

MÉX

36

38

11

97,2

5,3

17

IPADE

Cd. México

MÉX

64

0

46

32,8

-

Casos

Sede

Escola

Certificados

% Prof. PT, master

MÉX

Alajuela/Manágua

Experiência em negócios

% Prof. FT, Ph.D.

Cd. México

INCAE

Professores visitantes

Professores PT

ITAM

2

País

Professores FT

Produção e difusão de conhecimento 2003 - 2007

1

Ranking 2008 * Corresponde a artigos de professores de uma escola publicados antes do ingresso destes na mesma. ** AACSB da Escola Freeman, em convênio.

Fortaleza acadêmica

FRACA

4

5

2

1

65

37

DESTACADA

1

0

0

-

-

252

AACSB AACSB, EQUIS, SACS

AMBA**

AMBA, SACS AACSB

18

U. SAN ANDRÉS

Buenos Aires

ARG

25

17

8

76,0

88,2

FRACA

2

1

2

1

75

27

AMBA

19

ESAN

Lima

PER

36

47

12

58,3

87,2

MÉDIA

0

0

0

-

65

26

AMBA

20

EGADE - ZM

Cd. México

MÉX

40

57

9

87,5

31,6

FRACA

0

0

0

-

70

31

AMBA, SACS

21

COPPEAD

Rio de Janeiro

BRA

22

9

0

100

44,4

FRACA

7

1

2

7

40

15

EQUIS

22

U. DEL PACÍFICO

Lima

PER

12

32

27

91,7

93,8

MÉDIA

1

3

8

13

5

33

AMBA

23

U. A. HURTADO

Santiago

CHI

20

6

5

75,0

50,0

MÉDIA

4

2

0

-

36

11

24

U. DEL CEMA

Buenos Aires

ARG

19

23

3

78,9

69,6

ROBUSTA

4

1

1

1

34

32

25

ANÁHUAC - SUR

Cd. México

MÉX

17

30

2

41,2

10,0

ROBUSTA

0

0

0

-

15

66

26

U. DE PALERMO

Buenos Aires

ARG

25

49

8

24,0

81,6

FRACA

0

0

0

-

-

0

27

EGADE - GUADALAJARA

Guadalajara

MÉX

15

5

6

100

-

FRACA

1

4

0

-

11

2

28

FGV - EBAPE

Rio de Janeiro

BRA

36

22

11

100

-

FRACA

0

0

0

-

-

0

29

ORT

Montevidéu

URU

23

51

4

30,4

60,8

MÉDIA

1

0

0

-

11

17

30

U. DE TALCA

Talca

CHI

18

11

6

50,0

81,8

FRACA

3

1

0

-

32

1

31

ESPAE-ESPOL

Guayaquil

EQU

9

17

3

55,6

76,5

MUI TO ROBUSTA

0

0

0

-

12

12

32

ITESO

Guadalajara

MÉX

19

24

10

42,1

75,0

FRACA

0

0

0

-

21

0

33

U. G. MISTRAL

Santiago

CHI

7

43

9

28,6

48,8

MÉDIA

0

0

0

-

1

1

34

U. D. PORTALES

Santiago

CHI

23

34

0

4,3

52,9

FRACA

3

0

2

11

29

12

35

ICESI

Cali

COL

26

19

4

38,5

57,9

MÉDIA

0

0

0

-

25

0

36

USIL

Lima

PER

27

35

18

7,4

80,0

MÉDIA

0

0

0

-

1

31

37

ANÁHUAC - NORTE

Cd. México

MÉX

24

18

12

50,0

61,1

FRACA

0

0

0

-

-

9

38

U. DE BELGRANO

Buenos Aires

ARG

19

43

5

21,1

62,8

MUITO FRACA

3

0

2

-

5

12

39

U. IBEROAMERICANA

Cd. México

MÉX

14

24

0

28,6

87,5

FRACA

0

0

0

-

3

10

40

U. CATÓLICA BOLIVIANA

La Paz

BOL

5

11

2

100

81,8

FRACA

0

0

0

-

-

9

41

UDLAP

Puebla

MÉX

21

0

5

95,2

-

MUITO FRACA

4

6

0

-

10

1

42

U. EXTERNADO COLOMBIA Bogotá

COL

22

14

16

9,1

71,4

FRACA

0

0

1

4

3

17

43

IDE

Guayaquil/Quito

EQU

14

15

35

21,4

73,3

ROBUSTA

0

0

0

-

-

24

44

U. DEL NORTE

Barranquilla

COL

13

13

2

23,1

61,5

MUITO FRACA

0

0

0

-

32

5

45

PUC - RIO

Rio de Janeiro

BRA

20

37

0

100

64,9

MUITO FRACA

0

0

0

-

-

0

46

EAFIT

Medellín

COL

40

13

10

25,0

92,3

FRACA

0

0

0

-

-

0 27

47

U. AMERICANA

Assunção

PAR

11

11

10

54,5

45,4

FRACA

0

0

0

-

-

48

USACH

Santiago

CHI

13

11

0

30,8

72,7

MUITO FRACA

1

0

0

-

1

3

49

IEDE

Santiago

CHI

14

32

9

85,7

78,1

MUITO FRACA

0

0

0

-

-

6

20 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

AMBA

SACS

AMBA

SACS


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

Índice

Potencial da rede

Asoc. no exterior

Associação de graduados

N° de convênios

Ambiente de negocios

Redes Principais sócios para titulação dupla

Conexão internacional

33

ESADE, FIU, TULANE, ARIZONA STATE, IESA, UNIANDES

SIM

NÃO

MÉDIO

96,6

31

FIU, ESADE, HHL, THUNDERBIRD, CHAPELL HILL, EBS

SIM

SIM

MÉDIO

50,6

62

FIU, THUNDERBIRD, CASE WESTERN, ESADE

SIM

N ÃO

ALTO

86,6

48

TEXAS-AUSTIN, HEC PARIS

SIM

SIM

ALTO

86,6

15

TULANE, ROWEN, EGADE MONTERREY, FIU, IESA, ITAM

SIM

NÃO

MÉDIO

59,9

TEXAS-AUSTIN, FIU, HEC PARIS, SAN DIEGO (*) (3)

SIM

SIM

ALTO

55,1

64

FIU, TULANE, ITAM, UNIANDES

SIM

NÃO

ALTO

45,8

32

TULANE, FIU, HHL, SOUTHERN METHODIST UNIVERSITY

SIM

SIM

ALTO

86,6

74

TEXAS-AUSTIN, HEC PARIS, NOVA LISBOA, U.T. DI TELLA

SIM

NÃO

ALTO

100,0

16

FIU, IESE, IPADE

SIM

SIM

MUITO ALTO

75,4

45

HEC PARIS, FGV-EAESP

SIM

NÃO

ALTO

75,4

26

BABSON, HHL, MACQUAIRE, CINCINNATI, ESC MONTPELLIER, NOTTINGHAM

SIM

NÃO

BAIXO

86,6

32

MASSTRICH, TULANE, LAVAL, BABSON, EADA, PUC ECUADOR

SIM

NÃO

MÉDIO

69,1

28

UNIVERSITÉ PIERRE MENDES

SIM

NÃO

ALTO

100,0

55

LLEIDA, POLITÉCNICO DE CATALUNYA

SIM

SIM

MÉDIO

86,6

14

ESC. TOULOUSSE, ESC. CLERMONT, SAN DIEGO, ILLINOIS TECH, TEXAS-AUSTIN, PEPPERDINE

SIM

SIM

MUITO BAIXO

96,6

26

IESE

SIM

NÃO

MUITO ALTO

96,6

25

ESCP-EAP (PARIS)

SIM

NÃO

MUITO ALTO

75,4

64

ARIZONA STATE, ESC.CLERMONT, ESADE, FIU, HHL, TEXAS-AUSTIN, ESC MONTPELLIER, RAMÓN LLULL

SIM

NÃO

ALTO

69,1

12

ILLINOIS TECH, PEPPERDINE, SAN DIEGO, POMPEU-FABRA, TEXAS-AUSTIN

SIM

SIM

BAIXO

96,6

28

FIU, SAN DIEGO, GEORGIA STATE

SIM

NÃO

MÉDIO

50,4

18

FIU, CLAREMONT, POMPEU FABRA, IAD, DEUSTO

SIM

NÃO

ALTO

69,1

NOTRE DAME, GEORGETOWN

SIM

NÃO

MÉDIO

86,6

19

-

SIM

NÃO

MÉDIO

75,4

11

ESC PARIS, EAE BARCELONA, ISEADE, CLAREMONT, FCO. DE VITORIA, MIP, U. DE SACRAMENTO, U. ABAT OLIVE

SIM

NÃO

MUITO ALTO

96,6

-

SIM

NÃO

BAIXO

75,4

108

7

4 13

ESC DIJON, SAN DIEGO, PEPPERDINE, THUNDERBIRD, MOORE, ESC REIMS

SIM

NÃO

MUITO BAIXO

55,1

21

ISCTE, INDEG

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

50,4

37

FIU, WHU KOBLENZ

SIM

NÃO

MUITO BAIXO

57,3

19

HHL LEIPZIG, ESC MONTPELLIER

SIM

NÃO

MÉDIO

15,0

GANTE, UQAM

SIM

NÃO

BAIXO

29,9

REGIS

SIM

NÃO

MUITO BAIXO

55,1

6

GRIFFITH UNIVERSITY

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

86,6

5

POMPEU FABRA, ESERP, DEUSTO, EOI

SIM

NÃO

MÉDIO

86,6

94

-

SIM

NÃO

BAIXO

38,4

67

QUEBEC, MONTPELLIER, ICN, REIMS

SIM

NÃO

MÉDIO

69,1

12

CANTABRIA, TEXAS PANAM. EADA, FIU

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

96,6

10

EUROMED, ESC TOULOUSSE, ESC MONTPELLIER, ESC BORDEAUX, REIMS

SIM

SIM

MUITO BAIXO

75,4

10

-

SIM

NÃO

MUITO BAIXO

96,6

13

-

SIM

NÃO

BAIXO

32,3

11

SACRO CUORE, REUTLINGEN (DUBLIN), ESC MONTPELLIER, INSEEC

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

42,0

17

ESC MONTPELLIER

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

59,9

7 34

11

UNIVERSIDAD DE LA SABANA, IESE, TECNOLÓGICO EQUINOCCIAL, U. STGO. DE GUAYAQUIL

SIM

NÃO

ALTO

29,9

4

FIU, ESCEM, ESC MONTPELLIER, FRANCISCO DI VITTORIA

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

41,0

4

-

SIM

NÃO

MUITO BAIXO

50,4

23

HHL LEIPZIG, HEC MONTREAL

SIM

NÃO

MÉDIO

48,4

21

CESMA

SIM

NÃO

BAIXO

37,3

22

ESC MONTPELLIER, ESC REIMS, TAMAULIPAS, WORMS

NÃO

NÃO

MUITO BAIXO

86,6

30

-

SIM

NÃO

MÉDIO

86,6

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 21


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

DE CARA PARA O FUTURO Artigos aceitos mas ainda não publicados (forthcoming) UAI

13

U.DE CHILE

12

INCAE

8

Fonte: Cartas de de aceitação dos journals

PUC-CHILE

7

UNIANDES

5

U.TORCUATO DI TELLA

5

U. DIEGO PORTALES

4

U. DEL DESAROLLO

2

CENTRUM

2

ANÁHUAC-NORTE

2

IAE-AUSTRAL

2 0

2

4

6

8

10

12

NOVAS IDÉIAS

ESCOLAS COM MAIS FUTURO Professores estudando para doutor FGV- EASP

26

U. DE CHILE

14 13 13 13

EGADE -ZC ITAM ITESO U. DE PALERMO

11 10 10 10

UAI UNI ANDES EGADE- MONTERREY U. TORCUATO DI TELLA

9 9 9 9 9 9

Fonte: As escolas

U. DIEGO PORTALES U. DEL DESAROLLO CENTRUM EGADE- ZM UGM 0

5

10

20

15

25

CLAUSTRO INTERNACIONALIZADO Professores visitantes 13

INCAE U. SAN ANDRÉS IAE

12 7

U. DEL DESAROLLO

6

EGADE- ZM

5

CENTRUM

4 4

ITAM ESAN

4

U. DE CHILE

3 3

ESPAE-ESPOL

Fonte: As escolas

UTFSM

3

IPADE ORT

2 2 2

U. DEL PACÍFICO PUC-CHILE 0

2 2

4

22 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

6

artigos ISI esteja aumentando, a relevância dos estudos – medida pela quantidade de referências feitas aos textos por outros acadêmicos – é baixa. Grande parte não é referência para novos trabalhos. De fato, os melhores artigos publicados por acadêmicos das escolas de negócios latinoamericanos alcançam a categoria beta. Nenhum chega à categoria superior, a alfa. Mas, tampouco é fácil pesquisar. “Nosso esquema de trabalho nos permite destinar somente 25% de nosso tempo à pesquisa”, conta Roberto Vassollo, diretor acadêmico da IAE. “Não é suficiente; precisamos pesquisar por mais horas para sermos mais produtivos.” E a questão não se limita à quantidade de horas diárias. Também é preciso persistência no longo prazo, já que publicar um artigo ISI pode levar, facilmente, cerca de dois anos.

8

10

12

A corrida por conhecimento demanda muito tempo e esforço. Não obstante, aumenta o prestígio das escolas, dos professores no exterior e o reconhecimento por parte das outras escolas. Por isso, as instituições estão investindo em sua capacidade para pesquisar. Os professores contratados pelas escolas, nos últimos tempos, são responsáveis por 64,5% do total de referências ISI. Uma cifra que corrobora a tese de que aqueles professores com uma alta produção em pesquisa são mais atraentes para o mercado. O melhor indicador para avaliar a pesquisa das escolas são os artigos aceitos, mas ainda não publicados (forthcoming). Nesse quesito, quem lidera é a Universidade Adolfo Ibáñez, com 13 trabalhos saindo do forno, seguida pela U. de Chile, com 12. Depois, vêm o Incae, com 8; a PUC do Chile, com 7; a Uniandes e a U. Torcuato di Tella, ambas com 5 [ver gráfico]. Mas, nem todos estão nessa campanha. O Ipade, do México, uma das escolas de maior prestígio do país, reconhece que seus esforços estão canalizados para outro objetivo. “Não estamos focados na produção de artigos ISI”, diz Rafael Gómez, diretor do MBA do Ipade. “Nenhuma escola latino-americana está quebrando paradigmas, em termos de pesquisa.” O Ipade busca ter um corpo docente com experiência no mundo dos negócios. De fato, no indicador que avalia a experiência em empresas, cargos executivos e consultorias de acadêmicos, o Ipade é de longe o que mostra os melhores resultados. Mas, o Ipade também está investindo na formação acadêmica: nove de seus


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

MELHORES NOTAS Sub-ranking de escolas, segundo ênfase na formação

Alta direção RK

Escola

País

Índice experiência faculty em negócios

Prof. capacitados em CPCL 6

Casos

Índice

1

IPADE

.mx

100,0

252

4,0

88,0

2

INCAE

.cr/.ni

49,2

263

9,0

86,9

3

IAE, U. AUSTRAL

.ar

41,7

166

2,0

66,5

4

PUC CHILE

.cl

78,5

14

4,0

62,1

5

U. ADOLFO IBÁÑEZ

.cl

53,5

76

6,0

59,1

Gerência Prof. con Ph.D. RK

Escola

Números Centros

Consultorias

Fundos ganhos (US$)

Índice

15

2

2

683.000

87,8

7

15

2

6

103.496

73,0

2

0

12

1

8

423.112

68,3

N.D.

0

8

5

4

13

150.000

51,8

N.D.

0

2

6

0

12

410.000

43,1

País

FT

PT

Experiência

1 U. DE LOS ANDES

COL

6

0

30

4

14

2 ESAN

PER

5

2

24

0

3 FGV-EAESP

BRA

9

0

18

4 U. SAN IGNACIO DE LOYOLA PER

7

0

CHI

1

3

5 U. DIEGO PORTALES

Pesq. aplicada

Artigos ISI

Livros

56756756756756756756756756756756756756 RISE TO ANY CHALLENGE, such as making global connections. With an approach that inspires you to put your ideas into action, the Kellogg Executive MBA Program can help you fulfill your aspirations. And with a global network of programs in Europe, Asia, the Middle East and the Americas, you can fulfill them almost anywhere. Visit www.kellogg.northwestern.edu/emba or call 305-442-7780 to learn more about the EMBA Program on our Miami campus and to sign up for an upcoming information session.

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ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

Recursos humanos Prof. com Ph.D. RK

Escola

País

Prof. FT Ph.D.

Números

Experiência

Artigos ISI Pesq. aplicada

Livros

Centros

Consultorias

Fundos g ganhos (US$) $

Índice

1 U. DE LOS ANDES

COL

7

29

3

12

16

1

3

42.000

74,9

2 FGV-EAESP

BRA

11

21

0

0

13

0

0

521.862

70,8

3 IAE, U. AUSTRAL

ARG

3

12

1

4

6

3

23

60.546

61,5

4 PUC CHILE

CHI

5

17

5

0

2

2

25

0

59,8

5 U. DE CHILE

CHI

2

N.D.

7

4

0

0

8

0

54,8

Empreendimento (4) RK

Dedicação méd. (%)

Nº Experiência Professores

Escola

Artigos ISI Livros Casos Nº pesquisadores

Consultorias

Pesq. Fundos ganhos Empresas aplicada US$ criadas

1 U. DEL DESARROLLO

11

17,1

17

4

10

21

9

4

7

1.592.192

50

2 U. ADOLFO IBÁÑEZ

8

2,1

2

4

6

5

0

14

21

-

65

3 U. DE LOS ANDES

7

12,0

12

4

5

0

0

2

14

-

37

25

N.D.

2

2

4

1

6

2

2

678.000

52

8

11,6

12

1

2

5

7

2

2

49.000

44

4 ITAM 5 EGADE, CAMP. ZONA CENTRO

Inovação & tecnologia (5) Prof. com Ph.D. RK

Escola

Números

PT Experiência

Pesquisa

Patentes Empresas Fundos US$ Pont. solicitadas adminstradas

País

FT

Ar. ISI Livros Centros Consultorias

1 U. ADOLFO IBÁÑEZ

CHI

7

1

N.D.

4

21

6

4

0

22

65

2 U. DE CHILE

2.025.091 70,7

CHI

8

2

N.D.

32

2

5

3

18

7

30

0 64,9

3 U. DE LAS AMÉRICAS PUEBLA MEX

9

0

11

4

1

8

1

0

0

0

507.815 43,8

4 U. ALBERTO HURTADO

CHI

3

2

N.D.

0

7

1

1

22

0

0

272.800 42,2

5 FIA-FEA/USP

BRA 14

0

28

2

0

0

2

0

0

0

129.186 35,7

Marketing Prof.com Ph.D. RK

Escola

País FT

Números

PT Experiência

Pesquisa

Artigos ISI

Livros

Centros Consultorias

Fundos ganhos US$

Pont.

1 EGADE, CAMP. ZONA METROPOLITANA MÉX

6

5

25

0

0

6

0

113

0

2 U. DE CHILE

CHI

3

3

N.D.

11

19

1

1

21

872.845

62,6

3 COPPEAD

BRA

4

2

16

0

1

5

2

0

0

60,1

4 U. ADOLFO IBÁÑEZ

CHI

9

1

N.D.

7

3

3

1

0

89.944

59,8

5 FIA-FEA/USP

BRA

14

20

1

0

10

1

0

16.666

59,2

0

68,8

Finanças Prof. com Ph.D. RK

Números Livros

Centros

Consultorias

Fundos ganhos US$

Pont.

28

8

1

41

24.000

87,0

11

7

15

2

12

80.030

82,4

8

7

7

1

16

380.486

76,7

N.D.

17

3

9

0

0

235.504

67,6

20,1

2

6

4

0

32

794.700

62,4

Escola

País

FT

PT

Experiência

Pesquisa

1 U. DE CHILE

CHI

11

5

N.D.

21

2 ITAM

MÉX

12

2

N.D.

3 IESA

VEN

7

2

10,3

4 U. ADOLFO IBÁÑEZ CHI

9

0

5 INCAE

8

0

C.RI

Artigos ISI

Economia Prof. com Ph.D.

Escola

Números

País

FT

PT

Experiência

Pesquisa

Ar. ISI

1 U. DE CHILE

CHI

34

4

N.D.

N.D.

37

9

4

8

206.130

2 IESA

VEN

5

2

21,3

3

17

12

2

14

1.636.991

78,7

3 EGADE, Campus Zona Centro

MÉX

só mestres

10,0

6

4

21

3

13

238.900

72,1

RK

só mestres

Livros Centros Consultorias Fundos US$

Pont.

82,5

4 EGADE, Campus Zona Metropolitana MÉX

2

8

20,7

0

13

25

0

7

0

64,8

5 UNIVERSIDAD TORCUATO DI TELLA ARG

6

0

N.D.

20

3

6

1

22

813.307

61,8

24 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

professores estão fazendo doutorado no exterior. É o que acontece também na paulistana FGV, que conta com 26 acadêmicos estudando fora do país. [ver gráfico]. As escolas brasileiras, em geral, registram uma produção intelectual impressionante, em volume. Mas, “são poucos os acadêmicos de negócios no Brasil que publicam no ISI”, diz Maria José Tonelli, vice-diretora Acadêmica da FGV-EAESP. De fato, a maioria o faz em publicações locais ou em journals que não estão indexados à base ISI, o que se explica, em parte, devido às altas exigências que os professores têm no País para poder ministrar esses cursos, o que os obriga a estar permanentemente acreditados. Porém, se o forte das brasileiras, de modo geral, não é o alto grau de internacionalização, a FGV é uma notável exceção. A escola é a mais globalizada de toda a região, com convênios vigentes nos cinco continentes.

RESULTADOS 2008 Desde 1998, a Itam se coloca entre as cinco melhores escolas da região. Por isso, não é de estranhar

que, desde o ano passado, a escola, localizada no DF mexicano, lidere o nosso ranking. Os motivos são a excelência de seu corpo docente (apesar de não contar com a maior experiência no mundo dos negócios) e sua grande produção intelectual (428 referências em outros artigos ISI e um Fator de Impacto Total de 123,473 pontos). Suas debilidades estão no potencial da rede de ex-alunos e no nível de internacionalização que, entretanto, estão melhorando. “Para nós, 2008 tem sido um ano de internacionalização”, diz Gabriela Alvarado, diretora dos MBAs do Itam. “Estamos iniciando trabalhos conjuntos com Tulane e Stanford, entre outros, mas sabemos que essa é uma corrida de longa distância.” Este ano, novamente, o Itam é escoltado pelo Incae, escola que, apesar de manter um corpo docente quase exclusivamente de tempo integral, sofre com a debilidade de não poder contar com a experiência de homens de negócios em suas aulas. Porém, a escola oferece como compensação uma grande rede de convênios, em nível mundial. Na seqüência, seguem duas escolas chilenas que, há um bom tempo, se mostram fortes concorrentes:


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

Estratégia Prof. com Ph.D. RK

Escola

Números Pesquisa

Artigos

Livros

Fundosganhos (US$)

Índice

20

229.938

91,3

37

1.760.500

64,8

1

4

200.000

63,6

1

0

86.800

59,3

1

77

75.451

47,0

País

FT

PT

Experiência

Centros

1 CENTRUM

PER

17

8

N.D.

281

5

52

2

2 INCAE

CP/NI 10

0

22,0

40

11

15

1

3 ITAM

MÉX 14

2

N.D.

2

28

4

4 U. DEL PACÍFICO

PER

0

8

20,6

0

2

47

5 PUC DE CHILE

CHI

3

1

18,5

1

10

4

Consultorias

Operações Prof. com Ph.D. RK

Escola

Números Pesquisa

Artigos

Livros

Centros

Consultorias

Fundos Ganhos (US$)

N.D.

26

0

2

2

22

1.442.426

73,7

24

1

2

7

1

2

20.000

70,9

0

22

2

2

7

2

0

0

70,5

só mestres

6

5

20

15

1

0

0

0

68,3

3

2

N.D.

13

3

3

0

6

0

59,3

País

FT

PT

1 U. DE CHILE

CHI

10

6

2 ESAN

PER

6

1

3 COPPEAD, UFRJ

BRA

6

4 EGAGE, TEC. DE MONTERREY

MÉX

5 ITAM

MÉX

Experiência

a U.Adolfo Ibáñez e a Católica do Chile. O que as distingue é o fato de que professores da primeira têm melhor produção intelectual, enquanto os da PUC contam com mais experiência no mundo dos negócios.

JUNTOS É MELHOR As duas chilenas, porém, não estão sozinhas. A Universidade do Chile acaba de integrar suas duas escolas que oferecem programas de MBA, a da Faculdade de Economia e Negócios e a da Faculdade de Engenharia. “Por enquanto é apenas uma integração. Mas, com o tempo, esperamos fazer uma fusão completa”, diz Max Bosch, o empolgado novo diretor do departamento de Engenharia Industrial. A Uniandes, por sua vez, continua avançando. Novamente registra o melhor corpo docente regional, enquanto a Egade, de Monterrey, avança mais lentamente e permite que a concorrência tire vantagem. Algo semelhante acontece com a IAE, de Buenos Aires, que se destaca por prestar apoio a outras escolas da região e que dilui parte de sua força na tarefa. “Dentro de um ou dois anos, esperamos encher nosso pipeline de professores com doutorado. Depois, vamos manter cerca de 55 professores full time, todos com Ph.D.” diz Alejandro Carreras, diretor Acadêmico da IAE. Os esforços serão bem-vindos, já que a U. Torcuato di Tella pisa seus calcanhares e, este 26 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

Índice

ano, ocupa o lugar Nº 11. “Muitos ainda acham que somos uma escola de economia”, diz Gustavo Genoni, novo diretor do MBA (emprestado da UAI). “O que não sabem é que a escola de Economia não financia uma escola de negócios.” Por isso, eles estão se autofinanciando. Um edifício novo, novas instalações (muito austeras, isso sim) e um grande potencial de crescimento, que se calcula em função de um faculty muito produtivo (1,17 paper por professor), com publicações em journals de alto impacto e relevância.

GANHAR EXPERIÊNCIA A Centrum, de Lima, também mostra que caminha a passos firmes, graças a um grande investimento no corpo docente. A Universidade de San Andrés subiu cinco postos, para ficar com o posto 16. A ESAN ganhou sete posições, graças à experiência em negócios de seus professores. Neste tema, a escola de maior destaque, que ocupa o posto 19, é o Ipade do México, com um grupo acadêmico que é, de longe, o que mostra o maior grau de experiência no mundo dos negócios, com o manejo de sua grande rede de ex-alunos. Além disso, a escola se coloca como líder indiscutível do sub-ranking de alta direção. Um pouco mais atrás está a U. del Desarrollo, que tem melhorado em todas as linhas e que, este ano, volta a liderar o sub-ranking de empreendimentos. “Acabamos de nos integrar ao Board do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), onde


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

A VOZ DAS CERTIFICADORAS

Santiago Íñiguez, decano da IE e membro da AASCB

Rob Leveillee, vice-presidente de serviços internacionais da SACS

Robert Owen, diretor de certificação e relações acadêmicas da AMBA

Em que medida uma certificadora internacional reflete a qualidade de uma escola de negócios?

Os sistemas de certificação de maior prestígio são mais exigentes que a maioria dos certificadores nacionais. Por isso, são garantia de qualidade e de diferenciação num setor cada vez mais globalizado.

A certificação reflete a melhora contínua de uma escola, avaliando seus recursos e sistemas de apoio. O padrão é comparar uma escola de acordo com a qualidade de sua missão, sua capacidade de liderança, governança e eficácia.

As certificações geram listas de instituições com qualidade comprovada que, por sua vez, asseguram o valor e a relevância dos cursos de MBA no mundo dos negócios.

Como um estudante pode interpretar o fato de que tanto escolas de grande prestígio quanto pequenas escolas são certificadas?

Os sistemas de certificação internacionais são desenhados para reconhecer a diversidade e garantem um padrão de qualidade alto.

É uma questão relativa à qualidade do ensino, não à quantidade ou ao tamanho de uma organização.

Nossa certificação se concentra em programas de MBA e representa qualidade, independentemente do tamanho da escola.

Validação externa, padrões de qualidade e reconhecimento internacional. Assim, aumentam as chances de que seja aceita em nível mundial e a legitimidade dos diplomas que concede, junto aos empregadores.

Atratividade para alunos e professores estrangeiros; acesso a projetos conjuntos com outras escolas, a programas de intercâmbio de estudantes e programas conjuntos de MBA.

Que vantagens as escolas latino- Maior visibilidade global, americanas garantem com a reconhecimento acadêmico certificação? por parte de outras escolas e atratividade para alunos e professores estrangeiros.

Qual o fator que mais contribui É a combinação de relações com O grau de sucesso de seus na construção do prestígio de o mundo empresarial, capaciex-alunos. uma escola? dade de inovação, visibilidade internacional e orientação ao novo e à solidez acadêmica.

A qualidade e o grau de internacionalização de seus estudantes e professores; a qualidade de suas pesquisas; os contatos com o mundo corporativo; o poder da marca e o nível de atividade de suas associações de alunos.

De 1 a 10, quão importante é para uma escola ter intercâmbio de professores com uma escola estrangeira?

9

7

10

De 1 a 10, quão importante é para uma escola ter intercâmbio de alunos com uma escola estrangeira?

9

7

10

estamos junto da Babson e da London Business School, o que nos deixa muito contentes”, diz o decano da UDD Cristián Larroulet. Uma briga interessante se observa entre os postos 32 e 35, envolvendo escolas que, pela primeira vez, aparecem no ranking. São elas: Iteso, de Guadalajara; Universidade Gabriela Mistral e Universidade Diego Portales, de Santiago; e a Icesi, de Cali. Outras duas incorporações, a Universidade Iberoamericana del DF e a Universidade del Norte, de Barranquilla, debutam

nas posições 40 e 44, respectivamente. Diferentemente de outros, nosso ranking avalia somente aspectos relativos à oferta acadêmica que as escolas fazem aos alunos e aos candidatos, independentemente de seu prestígio, o que (para bem ou para mal) é uma sombra que as persegue, por muito tempo. “O que gosto no ranking da AméricaEconomia é que é meritocrático” diz Ernesto Shargrodsky, decano da Escola de Negócios da U. Torcuato Di Tella, “Quem faz as coisas bem, sobe.” Q 25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 27


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

Artigos de classe

Conheça os professores que mais se destacaram pela produção acadêmica e pelo estilo inovador em sala de aula Carlos Palacios, Santiago e Dubes Sônego, São Paulo

Nicolau Reinhard

UM DOS MAIORES ESPECIALISTAS em inovação e gestão tecnológica, Nicolau Reinhard, de 63 anos, topou com uma carreira que seguiu quase por acaso. “Queria ser engenheiro mecânico, sujar a mão de graxa”, diz o pesquisador, que hoje coordena o MBA em Gestão de Tecnologia da Informação, da Fundação Instituto de Administração (FIA), e é titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), na USP. Ainda estudante de engenharia mecânica, na Escola Politécnica da USP, nos anos 1960, Reinhard fez parte de um dos primeiros núcleos de pesquisa do

Brasil a trabalhar com computadores ao ser convidado para um estágio como programador. Gostava de novidades, gostou do desafio lógico. Jamais se afastou por muito tempo da nova tecnologia. Trabalhou como docente, em estatais, foi consultor do governo e de empresas privadas. Da prática profissional, trouxe inquietações que deram origem a muitas das pesquisas que desenvolveu. Por outro lado, a pesquisa e a vida acadêmica permitiram que levasse idéias novas para o mercado e antecipasse mudanças futuras. “A pesquisa acadêmica está cinco anos à frente da prática profissional.” Q

Nilda Montes

ALGO MAIS ALÉM DE NÚMEROS. Foi o que esta pesquisadora da Centrum encontrou quando chegou ao Brasil para realizar seu mestrado em Estatística, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nas salas de aula da escola, por acaso, Nilda Montes diz que “descobriu Deus”. Além de estudar, esta doutora em alimentação e nutrição, mais um grupo de amigos, se juntavam para rezar e ler a Bíblia. Pouco a pouco, tornou-se parte do Comunhão e Libertação, movimento eclesiástico criado na Itália há mais de 50 anos. Toda semana, ela e seus amigos realizavam o que chamam de “comunhão escolar”, encontros em que discutiam temas ligados à fé católica. “Consegui

encontrar um sentido para as pesquisas que fazia”, diz a professora. Depois de 15 anos estudando, trabalhando e orando no Brasil, esta peruana voltou ao país de origem. Hoje é uma das docentes de maior destaque na universidade da qual faz parte, com três artigos ISI publicados e um forthcoming. Seu interesse é por uma linha de pesquisa ligada à indústria de alimentos. “A fé e a vida são a mesma coisa. Quando escrevo um artigo, não espero que o resultado seja sempre positivo, mas que seja o melhor para mim e para este lugar”, diz. Verdade é que a estratégia de combinar espiritualidade e trabalho tem lhe rendido frutos. Q

Juan Pablo Nicolini

SONHAVA EM JOGAR PELO RIVER PLATE. Sendo assim, nada mais natural que, enquanto os irmãos se deixavam impregnar pela intelectualidade que reinava na casa de seus pais, ambos professores universitários, Nicolini não fizesse nada além de correr atrás da bola. “Uma tia acreditava que eu não seria capaz de terminar o segundo grau”, diz. Mas, o tempo demonstraria o contrário. Hoje, é o mais ligado à academia. Reitor da Universidade Torcuato di Tella e autor de mais de dez publicações ISI, Nicolini considera o fato de estar à frente de uma instituição destacada na área de design um

privilégio. Para ele, a arte e os negócios têm um componente em comum: a criatividade. “Fazer negócios implica encontrar uma realidade e transformá-la, seja para criar mercados, baixar custos ou melhorar a estrutura organizacional”, afirma. É esta a mesma criatividade que o motiva, em seu tempo livre, a cozinhar. Enquanto realizava seu doutorado em economia, em Chicago, nos anos 1980, um amigo indiano o ensinou a preparar curry. Desde então, Nicolini segue receitas ou faz suas próprias experiências no fogão, onde, duas ou três vezes por mês, dá vazão à sua criatividade. Q

Brasileiro, FEA/USP, São Paulo

Peruana, Centrum, Lima

Argentino, Universidade Torcuato di Tella, Buenos Aires

28 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

QUEM CONHECE este pesquisador em tempo integral do Itam, no México, garante que é um professor “divertido”. Provavelmente, a fama se deve ao estilo metido (desinibido), pelo qual os argentinos costumam ser conhecidos no continente. De acordo com Maria Zazil, coordenadora do MBA executivo da mesma universidade, “ele sempre se destacou pela maneira de ensinar, muito participativa e baseada em casos práticos, por conduzir a aprendizagem através da experiência”. Mas, além de dar aulas de economia gerencial no MBA do Itam, Héctor Chade é autor de 12

artigos ISI e figurinha fácil, como palestrante, em congressos de economia na região. Doutorado em janeiro de 1997, pela Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, este pesquisador decidiu focar seus estudos em operações e teoria contratual. Vontade de falar não lhe falta. “Dar aulas é, para ele, muito dinâmico e divertido. Sabe como atingir os alunos e está disponível para tirar qualquer dúvida que tenham, mesmo atendendo a um universo de estudantes com perfis muito diversos”, diz Zazil. “Mesmo depois de viver no México por anos, ele não perde o sotaque”. Q

Héctor Chade

DEPOIS DE COMPLETAR o doutorado, em 2007, em apenas um ano Francisca Sinn já tem um artigo publicado e três ISI forthcoming. Isto é suficiente para dar uma idéia do ritmo de trabalho desta engenheira comercial, da Universidade Católica (UC), que trocou a escola onde cursou a graduação e doutorado pela chilena Universidade Adolfo Ibáñez (UAI), onde encontrou um modelo de aprendizagem que se adapta aos seus projetos profissionais. “Foi uma mudança positiva, já que agora tenho dois pontos de vista: de um lado, a tradição da UC, de outro, a visão da UAI, com um sistema de ensino mais participativo e inovador”, diz. Para Francisca Sinn, o papel do professor mudou. “Hoje, somos parceiros dos alunos, os ajudando a construir o próprio processo de aprendizagem com

nossa experiência”, diz. Na verdade, os cursos de MBA da UAI, coordenados por ela, aplicam este modelo com grande sucesso. Depois de entrar em contato com a Carnegie Mellon University, nos Estados Unidos, Francisca Sinn trouxe para o Chile um jogo de negócios diferente. Nele, os alunos competem internacionalmente com outros e são avaliados por um diretório formado por executivos de ponta do País. “Temos cerca de 90 estudantes de pós-graduação que obtiveram resultados acima da média”, afirma. Apesar de ser mãe de seis filhos pequenos, conjugar vida familiar e trabalho não tem sido um problema para Francisca Sinn. Graças à flexibilidade de que dispõe na UAI, pode trabalhar sem horário, cumprindo metas. Como diz, “parece mais difícil vendo de fora do que de dentro”. Q

Francisca Sinn

DECANO DA FACULDADE de Economia e Empresas, da Universidade Diego Portales (UDP), Sérgio Olavarrieta aproveita o pouco tempo livre de que dispõe para pintar aquarelas, técnica que aprendeu com seu avô, escritor e professor de artes plásticas. “Sempre gostei de desenhar, mas sou impaciente. O bom das aquarelas é que são rápidas e espontâneas”, diz. A inquietude, ainda que pareça estranho, também contribui para o trabalho como pesquisador de marketing e estratégia de negócios, onde combina o gosto pela estética com o gosto por tabelas e gráficos. “Como gosto de muitas coisas, sempre tive uma visão bastante holística, o que é muito útil em estratégia”, conta o chileno, que se define como uma pessoa criativa. Por isso, sente que em seu trabalho consegue reunir tudo por que se interessa. “É preciso considerar não apenas o mercado e os consumidores, mas também outros

aspectos que interferem nas companhias e nos negócios”, afirma. Tal síntese de interesses o motivou a publicar diversos artigos. A lista já inclui cinco ISI e outros 14 artigos, classificados em outras bases. Ex-diretor da escola de Economia e Administração da Universidade do Chile, Olavarrieta passa de uma atividade a outra com a mesma velocidade com que secam suas pinturas. Foi diretor do projeto de construção do edifício Tecno-Aulas, quando estava no comando da instituição, e jogava como goleiro num time de handebol formado por estudantes. “Era o mais velho, parecia um animal em extinção”, conta. A relação próxima que mantinha com os alunos é o que o motivava a continuar a dar aulas, mesmo após assumir a reitoria da UDP. “Procuro estar entre eles, ainda que isso, neste cargo, seja bastante difícil”, afirma. Q

Sergio Olavarrieta

Argentino, ITAM, Cidade do México

Chilena, Universidade Adolfo Ibáñez, Santiago

Chileno, Universidade Diego Portales, Santiago

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 29


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

Executivo 360º Se você tem um amigo psicólogo, deixe de incomodálo com perguntas sobre o que responder no teste de Rorschach ou sobre o que vão lhe perguntar na entrevista pessoal

específicas aplicados nos processos de seleção. A combinação de ambos os grupos de atributos constitui o perfil oculto, contido nas descrições de cargo. Ou seja, a formação elementar em administração já não é suficiente. As empresas estão em busca de pessoas capazes de combinar conhecimentos técnicos e caráter na hora de escolher quem colocar à frente de uma divisão ou companhia. Um executivo que seja capaz de se mover 360º. Q

Manejo de pessoas: Capacidade de conduzir equipes de trabalho à conquista de objetivos.

Liderança: Direção efetiva e eficiente, orientada à produtividade, à harmonia da equipe e ao uso racional do talento de cada um.

Pertinência cultural: Capacidade de interpretar, compreender e operar com as chaves simbólicas do ambiente global.

Iniciativa e inovação: Conduta pró-ativa, atenta às modificações do entorno. Promove soluções pertinentes.

Comunicação oral: Expressar de forma clara e eficiente conteúdos verbais e não-verbais.

Pensamento analítico: Isolar o fato, identificar o melhor modelo para enfrentá-lo e administrar uma solução eficiente.

Pensamento estratégico: Operar imediatamente sem perder a perspectiva global, entendendo que a empresa tem diferentes sistemas e subsistemas que funcionam paralelamente e inter-relacionados.

Capacidade de gestão e implementação: Projetar e executar projetos manejando múltiplos aspectos. Saber dirigir e delegar tarefas às pessoas indicadas.

FRANCISCA ARAYA / EDITADO POR AMÉRICAECONOMIA

HABILIDADES TÉCNICAS

HABILIDADES SOCIAIS

O que os especialistas buscam nos processos de seleção? Pesquisa feita por AméricaEconomia, com executivos na América Latina, revela as preferências dos headhunters e recrutadores na hora de definir quais os atributos que procuram nos alunos de programas de MBA que se candidatam a cargos executivos. A pesquisa tem foco nas habilidades mais esperadas pelas empresas e que são identificadas nos testes de personalidade e de habilidades

HABILIDADES SOCIAIS ATRIBUTOS DESEJADOS

Liderança Iniciativa e inovação Habilidades interpessoais Manejo de pessoas Capac. de adaptar-se Conduta ética Pertinência cultural TOTAL GERAL

30 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

HABILIDADES TÉCNICAS %

23,1 16,9 17,4 15,6 11,6 10,8 4,6 100

ATRIBUTOS DESEJADOS Cada cargo tem uma lista específica de atributos. O perfil dos canditatos têm de se aproximar dela ao máximo. Mas a decisão final depende do desempenho na entrevista e da avaliação da empresa.

Pensamento estratégico Capac. gestão e implementação Pensamento analítico Comunicação oral Manejo de ferramentas quantitativas Comunicação escrita Manejo tecnológico TOTAL GERAL

%

29,5 22,6 17,6 14,7 6,8 5,7 3,1 100



ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

Mais que aula Escolas de negócios não buscam apenas formar executivos. Também os ajudam a conquistar um bom cargo

Berenice Álvarez recebeu uma oferta de trabalho antes de terminar seu MBA. E melhor: a empresa esperou nove meses, até que ela terminasse o curso.

A mexicana Berenice Álvarez é a atual gerente de marca sênior para Johnson & Johnson no México. Assinou seu contrato em setembro do ano passado e esperou cerca de nove meses para assumir o cargo. Incrível, mas real. Como estudante do programa de MBA do Instituto Panamericano de Alta Direção de Empresa (Ipade), na Cidade do México, Berenice e seus companheiros conheceram oportunidades de carreira na Johnson e em outras empresas através de seminários e encontros organizados pelo Ipade como parte das atividades do Centro de Direção de Carreira (Cedic), voltado aos alunos do programa Full Time MBA. E conquistou sua oferta de trabalho, que se concretizou ao finalizar seus estudos, em julho deste ano. Essa prática é o que nas escolas de negócios se conhece como direção de carreira, ou coaching. Basicamente, consiste em educar os alunos para descobrir seu perfil profissional, desenvolver suas aptidões e corrigir suas debilidades. O programa de direção de carreira do Ipade é um dos mais completos da América Latina, já que começa quando eles entram na escola e continua indefinidamente. Os ex-alunos podem seguir participando, com cursos de atualização. “Para isso, paga-se uma anuidade. Vale a pena para conhecer empresas e fazer contatos”, diz Berenice. O programa do Cedic tem três funções principais. A primeira é orientar os alunos em seu plano de vida profissional. A segunda é estabelecer uma relação com as empresas mais importantes do México e outros lugares do mundo. E, a terceira é colocar os formados do Ipade em contato com empresas que estão buscando um perfil diferenciado. Para isso, são fundamentais as visitas de companhias promovidas pelo Ipade. “Queremos que conheçam o dia-a-dia de seu trabalho e para isso trazemos gente que conta suas experiências”, explica Ricardo Murcio, diretor do Cedic. Mas, o mais importante são os trabalhos de verão, que fortalecem as relações entre alunos e empresas, como Grupo Salinas, Aeroméxico, Bimbo, Johnson & Johnson, Colgate e Deloitte, entre outras.

32 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

Alguns alunos conquistam seus contratos após esses trabalhos (entre o primeiro e o segundo ano de estudos), como a colombiana Ximena Ortega, que trabalhou por três meses no laboratório farmacêutico Janffen Cilag, da Johnson & Johnson. “Fiz o trabalho de verão com eles e uma semana depois de concluí-lo me estenderam o contrato para começar depois de um ano, quando terminasse o MBA”, conta. No caso dos contratos antecipados, os alunos chegam a ganhar um bônus para garantir o compromisso. Alguns recebem até mais de uma proposra e podem escolher, como Berenice Álvarez, cujo trabalho de verão foi no Banco Ixe, que a convidou a fazer parte da empresa. A aluna, porém, acabou optando pela Johnson & Johnson. “Primeiramente, tivemos entrevistas no Ipade e, depois, em nível internacional, em um congresso em Orlando, onde reuniram 800 masters de todo o mundo.” Segundo Murcio, do Ipade, do total de alunos que se formou, no começo de julho, 42% já estavam contratados ao terminar o curso, e um mês depois 85% já tinham conseguido um posto em uma empresa. Parte importante do esforço é o trabalho prévio, feito pelos alunos, para descobrir qual tipo de trabalho desejam fazer, ao finalizar o MBA. “Tudo começa com uma avaliação de 360 graus”, conta Loreto Larraín, coordenadora do Centro de Colocações Empresariais da escola de negócios da Universidade Adolfo Ibañez (UAI), em Santiago. Tudo é desenhado pensando em um grupo de alunos, que deixa de trabalhar durante um ano, para fazer o MBA e que necessita ter uma rápida vinculação com o mercado de trabalho. Para isso, a UAI trabalha com a empresa DBM, especializada em transição organizacional, com a qual realizam diferentes workshops com os alunos para fazer uma revisão de seus planos de trabalho. Entre os temas mais importantes que as empresas consideram, na hora de contratar executivos, está o manejo de relações interpessoais, tomar decisões, adaptar-se à mudança e inovar. “A Loreto ajuda a encontrar as áreas de interesse e nos prepara para

GILBERTO CONTRERAS

Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGĂ“CIOS 2008

as entrevistasâ€?, conta Nicol LabbĂŠ, encarregada de relaçþes internacionais do instituto chileno Inacap, que conquistou o trabalho atravĂŠs da UAI. JĂĄ o peruano Fernando Ferreyra foi alĂŠm. Em julho de 2006, decidiu abandonar Lima para estudar o MBA Internacional da UAI, em Santiago. E, apesar de que o plano era voltar a seu paĂ­s, optou por trabalhar na Guatemala, para o importador de fertilizantes Disagro. Foi assim que ele acabou sendo selecionado como analista financeiro da empresa. AlĂŠm de ajudar Ferreyra a mudar de rota, com confiança, o Centro de Colocaçþes da UAI lhe ajudou a enfatizar suas habilidades sociais. “Percebemos que as empresas assumem de antemĂŁo que vocĂŞ possui conhecimento; mas, lhes importa avaliar sua inteligĂŞncia emocional e como trabalha em equipeâ€?, afirma Ferreyra. Na escola de negĂłcios da Fundação Instituto de Administração (FIA), da Universidade de SĂŁo Paulo (USP), o foco estĂĄ em fortalecer redes. “Temos um portal que permite a relação entre alunos e ex-alunosâ€?, explica Adalberto Fischmann, diretor educacional da FIA. AlĂŠm disso, contam com um banco de talentos on-line para que as empresas vejam os perfis dos alunos, e para que estes tenham acesso Ă s informaçþes publicadas pelas empresas. E promovem reuniĂľes sociais para gerar laços.

The

Bath

MBA

AlĂŠm disso, a FIA criou o IGesc, um instituto de gestĂŁo para entidades civis, no qual trabalham alunos e formados, assessorando diferentes ONGs. “Mais de 550 instituiçþes jĂĄ foram beneficiadasâ€?, diz Fischmann. O brasileiro Ettore Nardy, que se formou em 2003, no MBA da FIA, participou desse trabalho como vice-presidente do Instituto Paradigma, ONG brasileira para inclusĂŁo de pessoas com deficiĂŞncias sociais e econĂ´micas. “AtravĂŠs do IGesc pode-se gerar um networking importante, com associaçþes civisâ€?, diz Nardy. A associação de ex-alunos tambĂŠm tem um laboratĂłrio de negĂłcios atravĂŠs do qual contatam investidores para que financiem idĂŠias que surgem entre ex-alunos da FIA. Somado a isso, a associação e a escola possuem um centro de orientação de carreira para ex-alunos de MBA que perderam seus empregos. “Oferecemos a eles algumas sessĂľes de coaching, para se reposicionaremâ€?, conta Nardy. Ainda que estes exemplos nĂŁo configurem uma prĂĄtica estendida a todas as escolas de negĂłcios, com eles jĂĄ nĂŁo parece tĂŁo arriscado deixar de trabalhar, por um ou dois anos, para se dedicar integralmente aos estudos. Assim como Berenice Ă lvarez do Ipade, que ao terminar seu MBA tinha o diploma em uma mĂŁo e um contrato de trabalho em outra. HĂĄ coisa melhor? Q

Do total de alunos que se formaram no começo de julho no Ipade, 42% estavam contratados ao terminar o curso; um mês depois, 85% jå tinham trabalho.

%R EHZERGIH QEREKIQIRX TVSKVEQQI HIWMKRIH XS GLEPPIRKI XLI [E] ]SY XLMRO EFSYX XSHE]ÂŤW GSQTPI\ FYWMRIWW IRZMVSRQIRX ˆ (IPMZIVIH F] SRI SJ XLI 9/ÂŤW XST FYWMRIWW WGLSSPW ˆ %GGVIHMXIH JSV SZIV ]IEVW ˆ 6EROIH EQSRK XLI XST KPSFEP 1&% TVSKVEQQIW ˆ ;MXL E VITYXEXMSR JSV I\GIPPIRGI ERH ZEPYI JSV QSRI] ˆ (IWMKRIH JSV QEXYVI ERH I\TIVMIRGIH GERHMHEXIW *YPP ERH TEVX XMQI WXYH] STXMSRW EZEMPEFPI 8LI TVSKVEQQI LEW ER IQTLEWMW SR WIPJ E[EVIRIWW MRXYMXMSR GVSWW GYPXYVEP WIRWMXMZMX] IRXVITVIRIYVWLMT WOMPPW EW [IPP EW E WSGMEPP] VIWTSRWMFPI ERH IXLMGEP ETTVSEGL XS FYWMRIWW ERH QEREKIQIRX

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ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

A força dos alumni

Escolas globais se esforçam para criar redes e aumentar seu prestígio na América Latina Pablo Hernández Um churrasco no verão, uma premiação ao ex-aluno de destaque, uma degustação de vinho, um campeonato de bridge ou uma visita às tartarugas gigantes de Galápagos. Vale tudo quando o objetivo é criar redes. As escolas de negócios globais se deram conta de que a camaradagem é a companhia perfeita dos negócios. E a cultivam para unir diferentes gerações de ex-alunos e aumentar o valor de suas redes. Sempre com o selo de sua alma mater. Dessa forma, as escolas colocam ao serviço de seus alunos recursos administrativos e financeiros para promover reuniões anuais de

todo tipo. Algumas, inclusive, destinam recursos adicionais para serem representadas nos países onde possuem ex-alunos, motivando-os a assumir tarefas de coordenação. Assim, ficam livres para se ocupar de gerenciar recrutamento e promoção, dependendo do volume da rede. O tamanho e o potencial da rede são determinados pelo número efetivo de formados em cada país. Nesse aspecto, na América Latina destacamse os numerosos capítulos peruanos, venezuelanos, argentinos, chilenos e, claro, mexicanos. Sim, mas, de quais escolas? Os exemplos mais marcantes são os das norte-americanas Harvard

LUGAR NA CONSTELAÇÃO Prestígio e GMAT médio 750

STANFORD DARTMOUTH U. MICHIGAN

NYU

CARNEGIE MELLON

LONDON B.S CAMBRIDGE BOSTON

GEORGETOWN

HEC

WHARTON

HARVARD

MIT IE IESE

OXFORD

IMD ESADE

TULANE

650

YALE

INSEAD

DUKE

CORNELL

GMAT MÉDIO

CHICAGO

UCLA

BERKELEY

700

KELLOGG

COLUMBIA

BABSON

Fonte: AméricaEconomia Intelligence

MIAMI

600 THUNDERBIRD

FIU 550 20

40

60 ÍNDICE DE PRESTÍGIO

34 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

80

100


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

ISCA PARA ALUNOS

Business School (HBS), Wharton, Capítulos de alumni na América Latina Berkeley, Columbia, MIT, e das .ar .bo .br cam .co .cl espanholas Iese, Esade, e IE. IE * * * * * A presença de um escritório loKELLOGG * * * * * cal permite às escolas terem uma BERKELEY * * * * * logística oportuna e adequada nas ESADE * * * * feiras e seminários promocionais e WHARTON * * * * de recrutamento, onde a diferença IESE * * * * está no serviço, no poder da marca HARVARD * * * e na rede de contatos, ou seja, nos STERN - NYU * * * alumni. MIT * * * *

* * *

TEXAS AUSTIN Fonte: As escolas

“HARVARD QUERIDA”

COLUMBIA

* * * *

*

* * *

.mx

.pe

* * * * * * * * * * * * * *

* * * * * * * *

.uy

*

.ve

* * * * * * * *

*

E é justamente em função deste CHICAGO diferencial, e do preço, outro fator INSEAD importante, que a HBS volta a ocupar ANDERSON - UCLA * o primeiro lugar do ranking. Em uma pesquisa com nossa comunidade de leitores, a Harvard recebeu A duas são seguidas por Stanford, MIT, IE, praticamente um terço dos votos como escola LBS e Kellogg. A Harvard também lidera o grupo com o de negócios com maior prestígio do mundo. É seguida, a uma considerável distância, por Stan- melhor nível de conhecimento aplicado soford, Wharton, MIT e, depois, pelas espanholas bre a América Latina. Emergem, porém, com Iese, IE e Esade. As três últimas, são impulsio- destaque as escolas da Flórida: Miami e FIU, nadas pela força de suas atividades na América seguidas pelas espanholas (Esade, IE, Iese) e Latina, seja através de alianças ou de unidades as norte-americana Columbia, Texas-Austin, próprias, como o Esade e seu centro de formação e Tulane, as duas últimas com altos níveis de de executivos, em Buenos Aires. vinculação acadêmica com instituições latinoSobre o potencial das redes de contato, a americanas. Harvard novamente surpreende ao dobrar os Nosso ranking sempre se focou em classificar votos de Wharton, que ficou em segundo lugar. as melhores escolas de negócios do ponto de

NO TOPO As melhores escolas globais para latinos, histórico de posições HARVARD

1

WHARTON STANFORD MIT

3

KELLOGG IESE

5

ESADE IE

7

Fonte: AméricaEconomia Intelligence

9

11

13

15 2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 35



ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

O PESO DO NOME O mais relevante nas escolas globais Notas de 1 a 10 10

Fonte: Pesquisa AEI com a comunidade de leitores

8,4 8,0 7,1

7,1

7

6,7

6,6

4

1

PRESTÍGIO DA ESCOLA

REDE DE CONTATOS

SISTEMA DE BOLSA

vista de um candidato latino-americano, o que significa que não se centra apenas no aspecto acadêmico, mas também pondera outros aspectos relacionados aos cursos, como a facilidade para morar, a análise do retorno do investimento e o potencial do lugar e das pessoas de oferecerem lembranças valiosas da experiência de estudo. A pesquisa on-line feita com a comunidade de leitores de AméricaEconomia, em junho de 2008, analisou a expectativa dos participantes, que mostraram ter muita esperança na formação em negócios que podem obter no exterior. É notório que os níveis salariais são bem diferentes dos que um executivo alcançaria com uma formação local. Existe uma marcada diferença no valor real dos formados em MBAs dos EUA e na Europa. “Os salários iniciais são, pelo menos, entre 40% e 50% superiores aos de quem optou por um MBA local”, diz Horacio McCoy, presidente para a América Latina da Korn/Ferry International. Nossa pesquisa revela que existe uma forte convicção de que estudar negócios em uma escola global acrescenta ao repertório pessoal de um executivo a capacidade de desempenhar atividades de alto nível, em qualquer parte do mundo. “Uma garantia desses candidatos é que têm experiência internacional e falam inglês. É uma combinação que continua escassa no mercado”, diz Marianne Davis, diretora dos recrutadores Hemisferio Izquierdo, em Santiago. Em contrapartida, está o fato de que, “em cenários de volatilidade no emprego, e quando as cifras de desemprego aumentam, a superqualificação pode ser um problema”, diz Lo-

CONVÊNIOS INTERNACIONAIS

CONHECIMENTODE AMÉRICA LATINA

ASSOCIAÇÕES DE GRADUADOS

rena González Castell, do Gartner Research, do México. A pesquisa também revelou que a estada acadêmica no exterior dota o aluno de mais flexibilidade laboral já que, com a experiência, sempre se sobe um degrau na hierarquia acadêmica e, eventualmente, ganha-se a oportunidade de trabalho em algum organismo ou empresa estatal, em postos de comando. Ter vivido no exterior, colocando-se a prova em um ambiente cultural mais global e de imersão em um novo idioma, é tão ou mais importante que o conhecimento puramente acadêmico adquirido durante a estadia londe de casa. “Os mestrados no exterior dão ao aluno uma experiência de individualização e desafio com o mundo, que em geral são mais fortes. Quem fez essa opção, demonstra um compromisso profissional sério”, afirma Carolina Escalante, da empresa de headhunter Mazars, na Cidade do México. Mas, a decisão de cursar uma escola de negócios de primeiro mundo não passa apenas pela avaliação de questões como o grau ou prestígio da instituição e o alcance de suas redes de relacionamentos. O tamanho do investimento também pesa. E muito. Nesse ponto, as norteamericanas, e, especialmente, as canadenses, são competitivas, ainda que haja exceções. De acordo às declarações das escolas, um orçamento recomendado ao mês para viver como estudante, em Nova York, é de cerca de US$ 6 mil. O mesmo valor é sugerido para quem vai estudar em Boston ou Chicago, enquanto em Berkeley (São Francisco), a soma cai para US$ 5 mil. A valorização do euro frente ao dólar gerou 25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 37


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

RANKING GLOBAL

VALOR EM US$ DURAÇÃO (meses)

MATRÍCULA

CUSTO DE VIDA MENSAL

CUSTO TOTAL

ENTREVISTA

PONTOS

Boston, EUA

100,0

100,0

100,0

707

4,11

18

62.850

6.108

172.800

SIM SIM SIM SIM

NÃO

99,5

Stanford, EUA

70,6

75,6

69,3

721

15,86

20

97.842

6.109

220.029

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

83,2

3

Wharton - Pennsylvania

Filadélfia, EUA

74,7

82,3

71,5

714

4,05

18

99.444

6.110

209.430

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

83,0

4

IE

Madri, Espanha

70,6

69,2

89,1

685

3,93

13

76.300

6.111

155.747

SIM

SIM NÃO SIM

SIM

80,9

5

Sloan - MIT

Cambridge, EUA

71,4

75,1

70,2

702

4,07

21

44.556

6.112

172.915

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

80,0

6

IESE

Barcelona, Espanha

72,7

65,5

74,1

677

5,84

19

97.350

6.113

213.503

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

79,4

7

Kellogg - Northwestern

Evanston, EUA

57,0

62,3

55,9

712

8,62

22

93.582

6.114

228.097

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

73,0

8

ESADE

Barcelona, Espanha

59,2

58,3

78,2

665

3,22

18

71.250

6.115

181.326

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

72,1

9

London Business School

Londres, R.U.

58,3

67,7

44,8

690

6,78

18

88.980

6.116

199.074

NÃO

SIM SIM NÃO

NÃO

71,8

10 GSB Columbia

Nova York, EUA

44,8

44,1

56,8

707

7,91

20

87.816

6.117

210.163

SIM

SIM NÃO SIM

SIM

63,1

11 INSEAD

Fontainebleau, França

49,2

45,1

51,8

701

2,15

10

77.450

6.118

138.633

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

63,0

12 Chicago GSB

Chicago, EUA

49,9

45,1

55,0

703

2,15

21

41.600

6.119

170.106

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

61,7

13 Said - Oxford

Oxford, R.U.

54,4

55,9

1,8

677

2,15

12

66.000

6.120

139.444

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

60,5

14 Haas - Berkeley

Berkeley, EUA

26,0

41,8

30,1

710

13,71

21

75.898

6.121

204.446

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

54,9

15 Judge - Cambridge

Cambridge, R.U.

46,7

37,5

1,8

680

2,15

12

62.000

6.122

135.468

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

54,4

16 IMD

Lausanne, Suíça

33,6

31,7

1,8

671

4,72

11

57.050

6.123

124.407

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

51,4

17 Thunderbird

Glendale, EUA

31,4

26,2

60,8

598

2,35

15

75.480

6.124

167.345

SIM NÃO SIM SIM

NÃO

50,3

18 Anderson - UCLA

Los Angeles, EUA

40,1

1,6

58,5

704

4,26

21

74.547

6.125

203.179

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

49,7

19 Stern - NYU

Nueva York, EUA

33,6

17,9

33,4

700

4,80

21

84.844

6.126

213.497

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

48,8

20 F.W.Olin - Babson College

Wellesley, EUA

22,4

22,6

41,0

631

4,00

21

52.102

6.127

180.776

SIM

SIM NÃO SIM

SIM

48,0

21 HEC

Paris, França

17,7

29,2

1,8

664

9,71

16

66.150

6.128

164.203

SIM

SIM NÃO SIM

SIM

45,5

22 Chapman - FIU

Miami, EUA

17,7

1,6

63,5

560

3,84

12

34.500

6.129

108.052

SIM NÃO NÃO NÃO

NÃO

45,4 44,2

CIDADE / PAÍS

ENSAIO

CANDIDAT/ MATRIC.

Harvard HBS Stanford GSB

ESCOLA / UNIVERSIDADE

EXPERIÊNCIA CARTA RECOMEND.

CONHEC. AM.LAT.

1 2

RK 08

TOEFL

POTENCIAL DE REDES

REQUISITOS

PRESTÍGIO

GMAT MÉDIO

ÍNDICES

23 Boston University

Boston, EUA

17,7

17,9

12,9

668

8,29

21

36.540

6.131

165.298

NÃO

SIM SIM SIM

SIM

24 Freeman - Tulane

New Orleans, EUA

17,7

17,9

43,0

652

2,86

22

65.000

6.130

199.867

NÃO

SIM SIM SIM

SIM

43,3

25 Tuck - Dartmouth

Hannover, EUA

22,4

1,6

20,5

713

10,13

21

85.990

6.132

214.769

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

43,0

26 Fuqua - Duke

Durham, EUA

26,0

1,6

1,8

690

6,89

22

88.200

6.133

223.133

NÃO

SIM SIM SIM

SIM

41,5

27 Mc Donough - Georgetown

Washington, EUA

11,2

17,9

33,4

665

3,34

21

40.017

6.134

168.838

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

40,2

28 Universidad de Miami

Coral Gables, EUA

11,2

1,6

59,3

630

3,68

21

68.160

6.135

197.002

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

39,4

29 Mc Combs - Texas Austin

Austin, EUA

1,5

1,6

52,9

673

5,86

22

81.000

6.136

215.999

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

36,8

30 Tepper - Carnegie Mellon

Pittsburgh, EUA

11,2

11,3

12,9

696

3,59

21

91.280

6.137

220.164

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

36,3

31 Mannheim

Mannheim, Alemanha

1,5

1,6

1,8

668

8,64

12

45.800

6.138

119.460

SIM NÃO NÃO NÃO

NÃO

35,0

32 Desautels - McGill

Montreal, Canadá

0,0

0,0

0,0

650

5,95

20

36.000

6.139

158.787

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

34,1

33 CEIBS

Shanghai, China

0,0

0,0

0,0

685

2,15

18

29.300

6.140

139.826

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

34,0

34 Johnson - Cornell

Ithaca, EUA

11,2

1,6

1,8

679

3,85

21

42.700

6.141

171.668

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

33,7

35 Ross - Michigan

Ann Arbor, EUA

11,2

1,6

1,8

701

3,41

20

86.578

6.143

209.445

NÃO

SIM SIM SIM

NÃO

33,4

36 HHL - Leipzig

Leipzig, Alemanha

1,5

1,6

1,8

650

4,33

15

34.800

6.144

126.965

NÃO

SIM NÃO NÃO

NÃO

32,9

37 Audencia

Nantes, França

1,5

1,6

1,8

580

3,10

12

28.000

6.145

101.744

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

32,4

38 Darden - Virginia

Charlottesville, EUA

1,5

1,6

1,8

688

7,76

21

85.000

6.146

214.073

SIM

SIM SIM SIM

SIM

32,4

39 Grenoble

Grenoble, França

0,0

0,0

0,0

650

3,15

12

36.225

6.147

109.993

NÃO

SIM NÃO SIM

SIM

32,2

40 Goizueta - Emory

Atlanta, EUA

1,5

1,6

1,8

685

5,65

21

78.120

6.148

207.235

SIM NÃO SIM SIM

NÃO

32,0

41 Bath

Bath, R.U.

0,0

0,0

0,0

568

6,30

12

38.795

6.149

112.587

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

31,9

42 Sauder - British Columbia

Vancouver, Canadá

0,0

0,0

0,0

618

2,15

15

38.203

6.150

130.458

SIM NÃO NÃO NÃO

NÃO

31,9

43 Cranfield

Near Milton Keynes, R.U.

0,0

0,0

0,0

670

4,65

11

54.000

6.151

121.665

SIM

SIM SIM SIM

SIM

31,8

44 Bocconi

Milão, Itália

1,5

1,6

1,8

640

3,69

14

46.800

6.152

132.933

SIM NÃO SIM NÃO

SIM

31,7

45 Kenan Flager - UNC

Chapel Hill, EUA

0,0

0,0

0,0

681

7,32

21

83.800

6.153

213.020

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

31,4

46 Mendoza - Notre Dame

Notre Dame, EUA

0,0

0,0

0,0

677

6,32

21

77.540

6.155

206.802

NÃO NÃO SIM SIM

NÃO

31,3

47 Rotman - Toronto

Toronto, Canadá

0,0

0,0

0,0

659

3,98

16

63.078

6.156

161.579

SIM NÃO NÃO SIM

SIM

30,8

48 Kelley - Indiana

Bloomington, EUA

0,0

0,0

0,0

656

5,20

21

69.700

6.157

199.004

SIM NÃO SIM NÃO

NÃO

30,6

49 ESIC

Madri, Espanha

0,0

0,0

0,0

670

2,32

12

28.500

6.142

102.208

SIM

SIM SIM SIM

NÃO

30,4

50 GISMA

Hannover, Alemanha

0,0

0,0

0,0

620

3,00

12

38.000

6.154

111.852

NÃO NÃO NÃO NÃO

NÃO

30,4

38 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

ÍNDICE DE VALOR DE REDE Percepção da comunidade de leitores 100 82,3 75,6 75,1 69,2 82,3 65,5 62,3 61,2 58,3 55,9 45,1 45,1 44,0 41,8 41,8 40,5 37,5 31,7 29,2 26,2 22,6 17,9 17,9 17,9 17,9 17,9 11,3 25

50

um cenário complexo para as escolas européias que aspiram a se consolidar internacionalmente. Os custos efetivos de viver no velho mundo aumentaram significativamente. Desde o ano passado, o dólar perdeu 13% de seu poder de compra. Pode parecer pouco, mas uma passagem de metrô em Londres custa hoje US$ 4, e desfrutar de um café com croissant em Paris, significa desembolsar US$ 7,5. Já um BigMac, em Shanghai, custa US$ 1,8, enquanto em São Paulo é comprado por US$ 4,7. O mesmo lanche, em Buenos Aires, sai por US$ 3,6, e, em Santiago e na Cidade do México, por US$ 3,1. “Estamos realizando muitos esforços para manter a atratividade de nossa escola na América Latina”, diz Nuria Guilera, diretora de Marketing de MBA e Executive Masters do Esade, na Espanha. Algo, de fato, notório. As escolas européias estão aumentando o número e o valor das bolsas de estudo para seus programas. Mas, tal remédio é paliativo. Não resolve o problema de fundo: hoje é mais barato para um candidato latino-americano aspirar ao mesmo prestígio, por menos dinheiro, nos Estados Unidos, que na Europa. Tavez por isso o volume de atividades que as escolas européias desenvolveram na América Latina durante o último ano, tenha aumentado. Apesar das distâncias, os programas europeus combinam inteligência global e relevância local.

75

100

SOU FLEXÍVEL Qual o seu objetivo ao cursar um MBA global? ACUMULAR DINHEIRO E VOLTAR AO SEU PAÍS

1,4%

FICAR NO PAÍS ONDE ESTUDOU

5,6% VOLTAR AO SEU PAÍS PARA GANHAR MAIS DINHEIRO QUE ANTESS

8,4%

Fonte: Comunidade de leitores

Fonte: AméricaEconomía Intelligence

HARVARD WHARTON STANFORD MIT IE LONDON BUSINESS SCHOOL IESE KELLOGG YALE ESADE U. OXFORD U. CHICAGO INSEAD COLUMBIA BERKELEY PRINCETON LONDON SCHOOL OF ECONOMICS CAMBRIDGE IMD HEC THUNDERBIRD BABSON COLLEGE GEORGETOWN UNIVERSITY BOSTON UNIVERSITY EOI STERN, NYU TULANE CARNEGIE MELLON

PODER TRABALHAR EM QUALQUER PARTE DO MUNDO

84,6%

Essa é a oferta de programas de MBA em tempo integral ( full time), das escolas globais. Agora é você quem decide em qual campeonato de bridge ou degustação de vinhos se inscreverá.Q 25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 39


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

MBA 2.0 Com o crescimento da internet, a oferta de programas on-line ganha potencial Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

Maciel: o mexicano preferiu estudar na espanhola IE, mas sem mudar-se para Madri.

40 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

é a mesma usada nos programas presenciais de MBA.” O programa da escola espanhola também inclui duas semanas de aula no campus de Madri, no começo e no final do programa. Parte importante para o desenvolvimento dos MBA on-line é a evolução da internet. “A comunicação era feita por telefone, chat, e-mail e messenger”, conta o chileno Felipe Cuadra, gerente de finanças da empresa de serviços Sodexho, que começou seu MBA em Guadalajara e o terminou em Santiago. Cuadra cursou o International Executive MBA, cuja base é o programa on-line, com a diferença de que os alunos tinham que viajar a Madri e a outras cidades européias, ao menos a cada 45 ou 60 dias. “Boa parte dos alunos trabalha em multinacionais. Viajamos muito e estamos acostumados a usar o computador como ferramenta”, afirma. Mas, apesar de serem a única alternativa para muitos executivos, os MBA on-line ainda têm a eficácia questionada. “A tecnologia permite melhores interações, mas falta a relação cara a cara”, diz Dan Leclair, da certificadora de escolas de negócios AACSB, em Tampa, Estados Unidos. Algo que também gera desconfiança entre os recrutadores de Recursos Humanos. Segundo Juan Pablo Swett, fundador da bolsa de trabalho iberoamericana Trabajando.com, os MBA presenciais permitem o desenvolvimento do trabalho em equipe e a geração de redes de contato, o que se perde com os programas on-line. Oitenta e oito por cento de uma

ELIAZ TERRAZA

Quando o assunto era finanças, Carlos Maciel, engenheiro agrônomo e coordenador de distribuidores da empresa de máquinas agrícolas John Deere, se sentia em desvantagem. “Necessitava estudar para complementar minha formação”, comenta Maciel. Mas, para enfrentar um curso, o mexicano tinha outro problema: o fato de viajar constantemente, devido ao trabalho. Como conciliar as viagens com um master de qualidade? A escolha de Maciel foi pelo programa Global MBA Online, do Instituto de Empresa de España (IE), que concluiu no final do ano passado. Assim como Maciel, é cada vez maior o número de executivos que buscam estudar sem abandonar o trabalho e que, por isso, consideram a possibilidade de estudar on-line. Para diminuir o risco, buscam os programas de universidades de prestígio internacional, que lhes garantam qualidade e contatos. “O IE me chamou a atenção porque tinha boa avaliação”, afirma Maciel. Antes de chegar à IE, entretanto, Maciel avaliou outros programas. “Minha primeira opção era o Tecnológico de Monterrey, que também oferece um formato on-line, mas eram mais de 300 alunos”, diz. Para alguns, a quantidade de participantes é importante para estreitar laços, ainda que seja de forma virtual. “Em nossos programas, são grupos de 30 por sala”, diz Manuel Fernández, vice-decano de Educação On-line do IE. “Tanto o corpo docente quanto a metodologia de estudo de casos


ESPECIAL ESCOLAS DE NEGÓCIOS 2008

amostra de recrutadores e headhunters da região, contatados por AméricaEconomia Intelligence, considera que a qualidade dos programas on-line é inferior à dos presenciais. “As companhias buscam certas características em um executivo candidato, como a comunicação, e é aí que um MBA on-line peca”, afirma Jorge Pérez, analista de Recursos Humanos da PricewaterhouseCoopers. Quem cursou programas do gênero, os defende. O brasileiro Celsio Misaki é aluno do MBA On Demand da Thunderbird School of Management. Escolheu a escola norte-americana por seu prestígio e porque não queria abandonar o emprego. “A primeira semana é de integração, no Arizona (sede da escola). Temos um portal com discussões de grupo e conferências semanais para fazer as tarefas”, conta. Segundo Misaki, há uma comunicação fluida com os demais estudantes. Maciel, do IE, afirma o mesmo. “Como o programa é intenso, é preciso estar em contacto freqüentemente. Tive oportunidade de conhecer meus companheiros nos eventos do IE em Miami, Nova York e Madri.” COISAS DA FAMA O certo é que a reputação dos MBA on-line ainda está em processo de consolidação. Por isso, na Thunderbird, optaram por batizar o programa de Global MBA On Demand, e não on-line. “Isso nos segmenta”, diz Humberto Valencia, diretor dos programas a distância da Thunderbird. Segundo ele, existem muitas universidades que oferecem programas on-line de pouca qualidade. O MBA On Demand é dividido em 75% de aulas on-line e 25% presenciais, divididas em sessões de uma semana, em diferentes cidades, a partir do Arizona. Apesar de o Global MBA On Demand ter três anos, desde 1998 a Thunderbird já promovia um programa a distância chamado Global MBA for Latin American Managers, título conjunto com a universidade virtual do Instituto Tecnológico y Estudios Superiores (Itesm), do Tec de Monterrey. “Não ser presencial foi um dos fatores que me fizeram duvidar”, conta Daniel Hernández, que cursou o programa na Cidade do México. “Escolhi este devido à possibilidade de administrar meu tempo e porque queria ter um título da Thunderbird.” E, quanto aos custos? “Para os alunos, é o mesmo preço dos MBA tradicionais”, diz Fernández, do IE, que cobra € 35 mil pelo Global MBA e € 51 mil pelo International Executive. Para comparar, o International MBA custa € 48 mil e o MBA Part Time, € 39 mil. Mas, a isso é preciso agregar a economia de traslado e de não ter que abandonar o trabalho. “Nos EUA, a maioria das universidades cobra menos, 10% cobram igual e outros 10%, mais”, afirma Valencia. “No nosso caso, o aluno recebe o título da Thunderbird, que tem valor de

mercado. Por isso, o programa custa o mesmo que um presencial.” O Global MBA On Demand, da Thunderbird, custa US$ 61,65 mil, e o Global MBA for Latin American Managers de Thunderbird e do Tec de Monterrey, US$ 41 mil. Os EUA levam a dianteira nesse tipo de programa. Segundo a certificadora de MBA AACCSB, em 2002, cerca de 2,6 milhões de estudantes faziam pelo menos um curso on-line (dentro de um programa completo). Em 2005, a cifra cresceu para 3 milhões. “É uma alternativa que cresce mais que os programas on-line completos, mas estes também estão aumentando”, diz LeClair, da AACSB. Na América Latina, a oferta de cursos on-line ainda é incipiente. O Itesm, do Tec de Monterrey, é um dos poucos exemplos, com a Universidade Virtual, que opera um programa de MBA. Segundo Verónica Sánchez, diretora de comunicações, o aluno não está somente com o computador, já que conta com assessores acadêmicos. O programa dura dois anos e meio, é meio período e 100% on-line. Entre 1996 e 2008, formou 2.909 alunos. A mexicana Nelda Contreras cursa este MBA. Apesar de viver na Cidade do México, optou por ele para melhor administrar seu tempo. “Poder realizar minhas tarefas de noite é uma vantagem enorme para mim”, diz. A Universidade Iberoamericana (UAI), no México, admite avaliar a possibilidade de desenvolver um programa do tipo. “Permite economizar tempo e fazer contato com universidades de diferentes partes do mundo”, afirma Jorge Smeke, coordenador de MBA da UAI. Já o Incae, da Costa Rica, ainda mantêm distância dos programas on-line. “O mercado ainda nos demanda programas presenciais e não virtuais”, diz Guillermo Selva, decano associado do MBA da escola costariquenha. Segundo Selva, para muitas pessoas, a interação direta com companheiros de classe e professores tem muito mais valor e qualidade. Entretanto, a escola não deixa de usar programas de e-learning como apoio aos cursos tradicionais. De qualquer forma, a presença da web 2.0 é inegável. Os MBA on-line estarão cada vez mais presentes no mundo dos negócios e, como no mundo real, terão a qualidade testada na prática. Por ora, a esperança está no desempenho dos que já se formaram. Espera-se que façam valer, na vida real, suas redes de contato no mundo virtual. Q

88% de um grupo de recrutadores e headhunters da região, contatados por AméricaEconomia Intelligence, consideram que a qualidade dos programas on-line é inferior à dos presenciais.

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 41


ESPECIAL

ESCUELAS DE NEGOCIOS 2008

Como fazemos o ranking ESCOLAS LATINO-AMERICANAS: O ranking busca medir a excelência acadêmica e de serviços que as escolas oferecem a seus alunos e candidatos, usando como base seu programa de MBA, mas considerando ainda as outras atividades que lhes são naturais. Para elaborá-lo, usamos cinco variáveis. Força acadêmica (40%): estima a pertinência dos professores que dão aula e sua experiência no mundo dos negócios, considerando grau acadêmico e tipo de vínculo que têm com a escola (tempo integral, parcial, visitante). Produção acadêmica (20%): mede o volume de artigos acadêmicos publicados, livros, capítulos de livros, casos e outros, considerando na avaliação dos artigos o impacto que tiveram na comunidade científica, as referências que geraram e o prestígio das publicações em que foram veiculados. Conexão internacional (15%): indica o número de convênios vigentes que a escola tem, de que tipo são e o prestígio dos sócios. Também se consideram os certificados internacionais e a associação das escolas à organizações internacionais, vinculadas à área de negócios. Potencial da rede (20%): avalia o uso e o tamanho da rede de ex-alunos, em relação ao número histórico de alunos. Da mesma forma, considerase o esforço feito pelas escolas para dar apoio à gestão de carreira de seus formados. Ambiente de negócios (5%): estima o nível de efervescência dos negócios na cidade em que a escola está sediada. Participaram todas as escolas da região que são observadas como concorrência efetiva no mercado e que são validadas por seus pares a esse respeito. NOTAS: 1- Os programas das escolas de prós-graduação

42 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

da U. do Chile se apresentam pela primeira vez de forma integrada. 2- O programa FIA-FEA/USP corresponde à FIA, Fundação Instituto de Administração, instituída por professores do departamento de Administração da FEA/USP. 3- Outros convênios: Illinois Tech., Copenhagen, Uniandes, ESSEC, WHU, Koblenz, Calgary, ESCP-EAP Reutlingen, ESCEM, McQuaire, UDP, Claremont. 4- Inclui número de empresas criadas dentro da escola. 5- Inclui a relação entre o número de empresas criadas e o de patentes obtidas e tramitadas. 6- Privilegia a experiência em negócios dos professores, a produção de casos e os professores com capacitação do programa de aperfeiçoamento CPCL de Harvard em 2007-2008. 7- N.D.: não-disponível ESCOLAS GLOBAIS: Na avaliação das escolas globais, foram consideradas outras cinco variáveis principais. Prestígio (35%): observam-se aqui os atributos relacionados à percepção da qualidade das escolas. A avaliação deste quesito leva em conta liderança, trajetória e poder da marca. Redes (25%): indica e analisa os atributos relacionados à rede de contatos e espaços de socialização entre os graduados das escolas. São observados o potencial de uso de tal rede e a promoção de associações de estudantes latino-americanos, conferências, seminários, cursos, programas de recrutamento, participação em feiras de MBA, pesquisas e publicações, entre outros. Seletividade (30%): busca medir a qualidade dos alunos que entram na escola, através do GMAT (15%), e o grau de atratividade das escolas entre


os candidatos, pela comparação do número de candidaturas e solicitações de adesão e o número final de matriculados. Conhecimento de América Latina (10%): esta variável aplica-se às atividades realizadas pelas escolas na América Latina, tanto do ponto de vista acadêmico quanto do empresarial, através da assessoria a companhias da região. Custo total (10%): este fator inclui o custo de matrícula e mensalidades, mais os gastos mínimos de manutenção estimados para um estudante enquanto dure o programa. Como o tempo de cada programa varia, o custo de manutenção mensal foi multiplicado pelo total de meses de duração de cada um. Tanto o prestígio quanto a potência das redes e o conhecimento aplicado aos negócios na região foram estabelecidos através de uma pesquisa com nossa comunidade de leitores, com um total de

799 respostas. Todos os indicadores foram levados à base 100 e depois ponderados por seus fatores correspondentes. O resultado final é o que ordena o ranking. NOTAS: Avaliação de programas full-time, nos anos 2006 e/ou 2007 O número de atividades consideradas para estabelecer os vínculos com a América Latina foram: participação em feiras de MBA, intercâmbio de alunos / professores, conferências e seminários, visitas e relações internacionais, programas de recrutamento de alunos e grau duplo. N.D.: Não-disponível. Ver metodologia completa em www.americaeconomia.com

FECHAMENTO COMERCIAL 27 DE AGOSTO, RESERVE SEU ESPAÇO


NEGÓCIOS EDUCAÇÃO

Equipe do Anhanguera, feliz: José Luis Poli, vice-presidente acadêmico; Ricardo Scavazza, vice-presidente de operações; Alex Carbonari, diretor de desenvolvimento; Marcos Guimarães, diretor financeiro; e Antonio Carbonari, presidente

CONTA DE SOMAR

Mercado de ensino superior brasileiro entra em período de consolidação, capitaneado por empresas que abriram capital na bolsa de valores Dubes Sônego, São Paulo

N

a manhã do dia 12 de março de 2007, a Anhanguera Educacional Participações S.A. entrou para a história do setor educacional brasileiro como a primeira companhia de ensino superior do País a negociar ações em bolsa. Aproveitando o então excelente momento do mercado acionário local, a empresa abriu capital e pediu, na oferta inicial, de R$ 14 a R$ 18 por ação, para financiar um agressivo plano de

expansão, focado principalmente em aquisições. Conseguiu o preço máximo. Com os R$ 360 milhões captados, já no dia seguinte, anunciava, em fato relevante, sua primeira compra após a listagem em bolsa, inaugurando um período de forte consolidação do mercado que, dizem analistas, deve manter o setor no topo das listas de fusões e aquisições por, pelo menos, mais dois ou três anos. Por ora, os números falam

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por si. De acordo com a Pesquisa de Fusões e Aquisições da KPMG Corporate Finance, realizada no Brasil desde 1991, durante todo o ano de 2007 o setor de ensino superior brasileiro registrou 19 fusões e aquisições. Este ano, a parcial do mesmo estudo, relativa ao primeiro semestre, contou 30 fusões e aquisições no setor. Saindo pela primeira vez da rubrica “outros”, o setor ganhou destaque e saltou direto para

a terceira posição no ranking, atrás apenas de segmentos bem mais tradicionais, como tecnologia da informação, alimentos, bebidas e fumo. É provável que a curva de crescimento das aquisições no mercado da educação não tenha atingido seu ponto máximo. “É um dos setores que está mais aquecido atualmente. No primeiro trimestre, houve 13 aquisições. No segundo, foram 17, mas as dez últimas se


concentraram no mês de junho, o último da série, o que indica uma tendência de aceleração dos negócios”, afirma Luís Motta, sócio-diretor da KPMG Corporate Finance, responsável pela pesquisa. Naturalmente, nem todo o vigor do mercado se deve à Anhanguera. A companhia é, sem dúvida, a mais agressiva até aqui. Mas o movimento vem sendo capitaneado ainda por outras três empresas nacionais, que seguiram os passos da concorrente pioneira e foram à Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) buscar dinheiro barato para bancar planos de expansão. Neste grupo encontram-se a Estácio, segunda instituição de ensino superior do País, em número de alunos, com média de 177 mil matrículas, em 2007; a Sistema Brasileira de Educação (SEB), que tem raízes no Curso Osvaldo Cruz (COC), de ensino prévestibular; e o grupo Kroton, que, por sua vez, parte de um histórico de atuação como fornecedor de sistemas de ensino e gestão para o ensino básico, através da marca Pitágoras, para atuar no ensino superior. Juntas, as quatro companhias foram responsáveis por 22 das 30 aquisições registradas pela KPMG no semestre, diz Motta. E levantaram perto de R$ 1,9 bilhão com a venda de ações – nem tudo para as compras, uma vez que elas também pretendem crescer de forma orgânica, através da abertura de novos campi. Entre os grupos que estão bancando as aquisições com recursos próprios, ou através de outras formas de financiamento, o grande destaque é a Iuni Educacional, responsável por seis aquisições, este ano, segundo relatório da DealWatch Latin America do mês de julho. Sediado em Cuiabá, capital do Mato Grosso, a companhia

comprou as faculdades Facsul e Facdelta, na Bahia; Unicen, Unir e Unesp, no Mato Grosso, e Aesacre, no Acre. Com faturamento declarado de R$ 290 milhões, em 2007, já avisou que não vai parar por aí. Em cinco anos, a Iuni quer figurar entre as cinco maiores do setor. Hoje, com cerca de 45 mil alunos, ocupa a oitava posição no ranking da Hoper Consultoria, empresa especializada no setor de ensino superior, o que a coloca como potencial candidata a abertura de capital. “Este ano, com todo o clima de instabilidade na bolsa, acho que o mercado fica retraído e não haverá nenhum IPO no setor. Mas, o que se fala é que, em tese, qualquer entidade que tenha entre 50 mil e 60 mil estudantes tem

Nordeste (Fanor), de Fortaleza, no Ceará. “Grupos empresariais de outras áreas, que não atuam diretamente no setor, também começaram a ver a área de educação como um investimento interessante”, afirma Bôscolo. No que concordam outros especialistas. Segundo declarações recentes de Ryon Braga, presidente da Hoper Consultoria, à mídia brasileira, além de GP, Pátria e UBS Pactual, existiriam mais duas dezenas de fundos, com cerca de R$ 3 bilhões disponíveis para aplicação em empresas de ensino superior no País. Não é à toa. Com programas de incentivo do Governo Federal como o ProUni – Programa Universidade para Todos, que troca vagas para estudantes

Há no País, hoje, cerca de 4,7 milhões de estudantes em nível de graduação, mais que o dobro dos cerca de 1,9 milhão que o Ministério da Educação (MEC) contava, em 1997. Mas, apesar do brutal crescimento, a ociosidade nas salas de aula também aumentou significativamente: o índice de ocupação passou de 74%, em 2001, para 55%, em 2006. “No universo de 2,3 mil instituições de ensino superior brasileiras, 90% são privadas e 83% têm, em média, 1,3 mil estudantes. Cerca de mil têm menos de 500 alunos e são, provavelmente, operacionalmente ineficazes”, diz Gewehr. Pelo tamanho e pelo perfil, são todos potenciais alvos de aquisições. De acordo com Jacqueline Lison, analista do setor de

No Brasil, há cerca de 4,7 milhões de estudantes universitários, mais que o dobro do que havia em 1997. potencial para lançar ações na bolsa”, diz Marco Bôscolo, diretor responsável pelo setor de educação na KPMG. Em situação semelhante, estariam também empresas como as paulistas UniNove e Uniban. Vale destacar ainda o crescente interesse de grandes fundos de investimentos privados pelas empresas de ensino superior brasileiras. A Anhanguera, por exemplo, contou com suporte da Pátria Investimentos no processo de preparação para abertura de capital, e recebeu aporte de cerca de R$ 120 milhões, antes mesmo de lançar ações na bolsa. No início deste ano, foi a vez da GP Investimentos comprar uma fatia de 20% da Estácio, por R$ 259 milhões. Fundos administrados pela UBS Pactual têm participação de 38% na Faculdades do

carentes por créditos fiscais, a lucratividade e a capacidade de geração de caixa dos negócios do gênero, no País, alcançam percentuais encontrados em poucos outros setores. Segundo Daniel Gewehr, analista de small caps e mercado de educação do Santander, negócios bem gerenciados, com bom uso da ociosidade na geração de incentivos ficais, podem dar lucro líquido na casa dos 20% e gerar Ebitda acima de 25%. Tão bom quanto isso, para quem tem dinheiro e quer fazer parte do jogo, é o fato de o País oferecer ainda um mar de oportunidades de posicionamento. “Os 20 maiores grupos do País detém, juntos, apenas 25% do mercado. Ainda há muito espaço para crescer. E a maioria dos negócios são empresas familiares, em dificuldade financeira”, diz Gewehr.

ensino superior do Banco Fator, o momento atual se deve, em parte, à particularidade do sistema brasileiro de ensino superior, que, historicamente, privilegiou poucas escolas públicas, acessíveis apenas a uma elite. Só quem tinha dinheiro para pagar por boas escolas de ensino fundamental era capaz de garantir índices de acesso ao ensino superior gratuito. Quando o governo permitiu a existência de instituições de ensino superior com fins lucrativos, em meados da década de 1990, houve uma explosão no número de faculdade para atender a demanda reprimida. “A forte concorrência gerou guerra de preços e deixou muitas em situação difícil. Chegou a hora de separar o joio do trigo. O que estamos vendo é um processo de seleção natural”, diz a analista.

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NEGÓCIOS EDUCAÇÃO Neste contexto, a lógica da consolidação é simples: quanto mais alunos, maiores os ganhos de escala, uma vez que os custos com a elaboração de métodos de ensino, manutenção da estrutura administrativa, construção de site e outros investimentos são diluídos num universo maior de alunos. A encomenda de grandes volumes, na hora de comprar livros, equipamentos para as salas de aula e insumos em geral, também garantem melhores condições de negociação com fornecedores. Para Jacqueline Lison, o movimento de aquisições deverá durar pelos próximos cinco anos, desacelerando na medida em que for avançando. “Até porque, os bons ativos se tornarão mais raros e passará a ser mais interessante para as empresas crescer através da abertura de novos campi”, afirma. Atualmente, segundo a analista, o preço pago por aluno varia, normalmente, entre R$ 3 mil e R$ 8 mil, dependendo da instituição. “O que se compra, na verdade, são os alunos ou um sistema de ensino”. A existência de faculdades em dificuldade, porém, não quer dizer que a demanda esteja plenamente atendida. De acordo com o relatório Global Education Digest 2007, da Unesco, apenas 24% dos jovens em idade de fazer um curso superior no Brasil o fazem. No Chile, o percentual é de 48%; na Argentina, 65%; no Uruguai, na Venezuela e na Bolívia, 41%, e na Colômbia, 29% – no mesmo patamar que o Brasil se encontram México e Paraguai. Segundo o Ministério da Educação, relativos a 2005, o sistema de ensino superior do País tem vagas para atender a apenas 11,3% dos brasileiros com entre 18 e 24 anos, percentual ainda bem abaixo da meta de 30%, estabelecida para 2010 pela Lei

de Diretrizes e Bases (LDO), do governo federal. “No que diz respeito a potencial de mercado, existe ainda muito espaço para crescer, em especial em função de programas como o ProUni”, diz Jacqueline Lison. Tanto que, hoje, um dos principais focos de expansão dos grandes grupos de ensino é o público formado por jovens trabalhadores, das classes C e D, disposto a pagar tiquets de, em média R$ 400 por mês. A Anhanguera, por exemplo, está focada basicamente neste nicho. Nas demais companhias com fome de mercado, existem variações. Mas, raras são as que desconsideram as classes média e média baixa, que, nos últimos anos, registraram crescentes ganhos de renda com o aquecimento da economia

didade, e compramos duas”, afirma o executivo. Outras instituições ligadas à empresa são a Faculdade Evandro Lins e Silva, Inea e Uirapuru.

PRATA DA CASA Até o momento, a consolidação do mercado brasileiro de ensino superior tem acontecido com a participação discreta de companhias estrangeiras. Mas, é possível que, num futuro breve, a situação se altere. Pelo menos uma das empresas norteamericanas com forte presença na América Latina, a Laureate Education Inc., já têm negócios no País. Chegou devagar, em 2005, com a compra do controle da Anhembi Morumbi, em São Paulo, e hoje soma, com mais outras cinco instituições, 70 mil alunos. Dona também

não retornou a solicitação de confirmação da oferta, nem do atual número de estudantes. Independente do fracasso da negociação no Brasil, em março, a Apollo adquiriu, no Chile, a Universidade de Artes, Ciências e Comunicação, e, no dia cinco deste mês, a Universidade Latinoamericana S.C. (ULA), no México. Nos demais países da América Latina, um dos poucos grupos locais com interesses declarados de atuação nacional, no setor de ensino superior, é o chileno Universidade San Sebástian, que já anunciou planos de ampliar nacionalmente sua atuação, comprando faculdades em todo o país. O futuro da participação de estrangeiros no Brasil, porém, ainda é uma incógnita. Em

Governo brasileiro pode restringir participação de capital estrangeiro na educação. local e saíram em busca de ascensão social através do ensino superior. Talvez uma das raras exceções seja a Veris Educacional, dona do Ibmec, instituição que faz parte do grupo de elite do ensino superior no País, principalmente em cursos da área de negócios, com tiquets médios acima dos R$ 1 mil. Compradora ativa, nos últimos dois anos, a empresa tem pelo menos outras duas instituições, IBTA e Metrocamp, que atendem a públicos com disponibilidade financeira mais restrita. Mas, segundo Américo Matiello, diretor de operações da Veris, o foco de atuação não desce abaixo dos públicos B e C+. “O volume de oportunidades de compra acaba sendo menor, porque a Veris preza pela qualidade e pelo nome. Olhamos 40 instituições, no ano passado, oito em profun-

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de faculdades na Costa Rica, Honduras, Equador, Panamá, Peru e Chile, a Laureate mostrou apetite, recentemente, ao adquirir a Universidade Tecnológica de México (Unitec) e assumir a liderança do mercado local de ensino superior privado – agora, tem 40 campus e cerca de 120 mil alunos. No embalo, adquiriu também a Universidade Latina e a Universidade Americana, ambas na Costa Rica. Outro grupo dos Estados Unidos, com manifestos interesses na região, o Apollo, teria feito proposta de mais de R$ 2 bilhões pela Universidade Paulista (Unip), a maior empresa privada do País na área de ensino superior – a companhia teria, atualmente, pouco menos de 200 mil alunos. Mas, o negócio acabou não se concretizando – procurada por América Economia, a Unip

2006, o governo anunciou proposta de reforma universitária, ainda não aprovada, que prevê um limite de 30% a participação de capital internacional nas empresas de ensino superior no Brasil, a exemplo do que acontece em outros setores considerados estratégicos, como aviação e mídia. E existem propostas ainda mais radicais, como a do deputado Ivan Valente, que pede a proibição de investimentos estrangeiros no setor. Algo a se acompanhar de perto. Certo mesmo, porém, é que, com ou sem a participação de capital internacional, as companhias de ensino superior brasileiras, finalmente, parecem estar se graduando em negócios. Q

com Eduardo Thonsom e Sérgio Spagnuolo


McNamara: perto de um final feliz

HOLLYWOOD LATINA

Uma indústria cinematográfica emerge impulsionada pela queda do dólar, por capitais latinos e rostos de novelas Carlos Molina, Miami

O

panamenho Jim McNamara vai ao cinema duas vezes por semana, geralmente acompanhado por sua família. E diz que, em sua longa lista de filmes favoritos, estão Star Wars e Indiana Jones. “O cinema não tem que mudar o mundo, e sim torná-lo mais divertido”, diz McNamara. Trata-se de um ponto de vista que vale a pena considerar. Isso porque os projetos desse panamenho estão dando um impulso inédito ao cinema espanhol nos EUA e, de quebra, a uma promissora indústria cinematográfica, em Miami. Como principal executivo e fundador da Panamax Films, McNamara produz uma média de dez filmes ao ano. Já conseguiu emplacar dois sucessos de bilheteria em um ano, com La mujer de mi hermano e Ladrón que roba a

ladrón, protagonizados por um elenco internacional que inclui a diva uruguaia Bárbara Mori, o peruano Christian Meier e estrelas colombianas e mexicanas como Miguel Varoni e Fernando Colunga. Ambos filmes arrecadaram cerca de US$ 3 milhões e US$ 4 milhões em três semanas de exibição. Uma cifra tímida em relação aos grandes lançamentos dos estúdios de Hollywood (Batman arrecadou mais de US$ 158 milhões só no primeiro fim de semana), mas sem precedentes para um filme em espanhol. “Propusemos romper o molde do cinema tradicional hispânico e fazer um cinema em espanhol ao estilo de Hollywood, com ação e diversão”, diz o empresário panamenho-americano. “Descobrimos que tem boa aceitação entre os hispânicos.”

A iniciativa de McNamara, juntamente aos projetos em espanhol da Telemundo, está convertendo Miami em uma mini-Hollywood hispânica, onde convergem todo tipo de serviços para o setor – da pós-produção e dublagem à produção de roteiros para a TV – alimentando uma indústria que poderá faturar mais de US$ 1 bilhão este ano. Mas, para chegar até aqui, como um bom mocinho, McNamara teve que enfrentar vários desafios. Os primeiros projetos tiveram problemas com público e com o setor em si, como a falta de hábito de consumo de filmes em espanhol nos EUA e o baixo acesso à rede de distribuição. O executivo também enfrenta a falta de interesse das distribuidoras em colocar seus filmes nas salas em geral e não apenas nas especializadas.

CRISTIAN LAZZARI

NEGÓCIOS CINEMA O principal problema é que a rede de distribuição está dominada pelas grandes produtoras, que inundam as salas com centenas de cópias de filmes, buscando o retorno de seus altos custos fixos através de uma estratégia de saturação. Por isso, as salas geralmente só exibem filmes das grandes empresas, como Warner e Fox, e lhes sobra um espaço limitado para outros tipos de filme. “Se o custo fixo da Warner é de US$ 300 milhões ao ano, não vão prestar atenção em um produto hispânico, porque com ele não vão recuperar o investimento”, afirma McNamara. “Tivemos que redirecionar nosso plano e buscamos alianças estratégicas na distribuição.” O resultado dessa mudança foi a associação da Panamax Films com a gigante Lionsgate, que produziu e distribuiu Ladrón que roba a ladrón. Outro desafio é atrair um público habituado a ver filmes de Hollywood em inglês, inclusive com legenda, mas não em seu idioma natal. Costume que McNamara trata de superar com um processo de reeducação dos cinéfilos, apoiado no sucesso de seus rivais, as novelas. Ao contrário de Holywood, onde o cinema olha a tela de TV com desdém, McNamara usou as novelas e seus artistas para abrir espaço ao cinema espanhol. “Usamos rostos conhecidos, como Bárbara Mori ou Fernando Colunga, que são infinitamente populares nos lares de hispânicos nos EUA e na América Latina, para prender o cinéfilo”, diz McNamara. E o cross over tem funcionado. Tanto que o interesse agora passa a ser despertado em outras regiões. No início de julho, o executivo fechou um acordo de distribuição de Ladrón que roba a ladrón com a Warner Bros da América

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 47


NEGÓCIOS CINEMA Central, um dos mercados mais difíceis, juntamente com o México. Além disso, a Panamax Films já está trabalhando em outros dois filmes de cara hollyoodiana com elenco internacional, como Amor, Dolor y Viceversa, com Mori e o ator argentino Leonardo Sbaraglia, e All inclusive, com Mónica Cruz (irmã de Penélope Cruz) e o galã mexicano Jaime Camil, ambos programados para chegar às salas de cinema ainda este ano. “O Jim conhece bem o que o mercado hispânico quer e isso está ajudando a romper os estereótipos que estancaram o cinema espanhol por mais de 20 anos”, diz Rafael Lima, professor de cinema da Universidade de Miami. Lima afirma que essa ruptura de moldes, em que o cine hispânico era percebido como um produto “pouco sofisticado”, está ajudando na construção de uma indústria de conteúdo audiovisual em Miami. Para isso, foi chave a experiência de McNamara à frente da rede Telemundo, onde impulsionou a produção de conteúdo original, e que lhe deu a visão e a noção para buscar sinergias entre as novelas e os sucessos da telona. Com isso, não apenas fixou as bases para seu negócio atual como recuperou uma companhia que corria o risco de desaparecer. Há quatro anos, a Telemundo passou a marcar a pauta com o lançamento de sua produção de conteúdo original em Miami. Trinta e tantas novelas depois, a Telemundo se consolidou como importante produtor de conteúdo, depois da Televisa, segundo seu presidente Don Browne. “Nossa jogada foi arriscada e demandou muito investimento, mas estamos vivendo os frutos disso em nosso acelerado crescimento, de dois

dígitos”, diz Browne. Segundo fontes da indústria, a Telemundo investe em média US$ 100 milhões anuais em produção e tem crescido cerca de 50% ao ano, tanto no mercado hispânico dos EUA quanto no internacional. Apesar de localmente estar em um distante segundo plano, depois da Univisión, que controla quase 80% do mercado, internacionalmente a rede de propriedade da NBC Universal conquista posições de liderança. A programação da Telemundo está em 80 países, com presença em dois ou três horários, além de dominar o “prime time” latino-americano. A isso se soma o acordo com a mexicana Televisa, assinado em março, que garante 1,2 mil horas de programação ao ano – cerca de 4 horas diárias – da

crescendo a esse ritmo, com rentabilidade, mesmo frente ao grande desafio que implica o momento econômico nos EUA, que golpeia a todos”, afirma Browne. As circunstâncias econômicas podem significar um dramático tropeço para uma rede que, segundo seus executivos, já tinha alcançado a rentabilidade e que, em 2007, tinha registrado a receita e o rating mais altos de sua história. Apesar de a NBC Universal não revelar cifras específicas de rendimento da Telemundo, segundo fontes da indústria, a rede obteve no ano passado lucro de US$ 74 milhões sobre receita de US$ 643 milhões, uma margem estreita que pode pulverizar-se com uma recessão. Mas, isso parece não preocupar Browne,

em Miami não há sindicatos, como em Los Angeles e outras sedes latino-americanas. Por fim, a desvalorização do dólar reduziu a vantagem de custos de muitos centros de produção latino-americanos. “Essa cidade provê eficiência econômica que permite expandir o negócio”, diz Rumbaut. Esse é o caso do peruano Zasha Robles, diretor da agência de dublagem e pósprodução Etcétera Group, em Coral Gables, que tem visto o mercado crescer exponencialmente graças, em parte, ao desenvolvimento de novas tecnologias que permitem mais plataformas de distribuição de shows de TV, como, por exemplo, video on demand. Por outro lado, graças a Miami, Robles tem fácil acesso a um pool de atores de diversas

Telemundo e Panamax também atraíram um cluster de produtoras para Miami. Telemundo, no México, pelos próximos dez anos. A rede também lidera um setor de negócio relativamente novo, a produção de formatos, ou seja, serviços de criação de novelas que vai desde a seleção de atores à redação do roteiro, que atualmente representa 25% da receita da empresa, segundo Marcos Santana, presidente da Telemundo Internacional. Para sustentar essa estratégia, a Telemundo reforçou seu aparato de produção. A rede somou a seu estúdio matriz de Hialeah, os estúdios de gravação da Colômbia comprados em 2005, e os estúdios de Ajusco, na Cidade do México, inaugurados no final de 2007. Desde o ano passado, a Telemundo também conta com uma oficina dramática, onde já se formaram 34 jovens diretores, produtores e roteiristas. “Nossa meta é continuar

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que afirma que sua aposta é no longo prazo, porque “só se começa a caminhar bem aos cinco anos.” Por enquanto, a rede continua com seus planos de aumentar a produção de novelas, de sete para dez, em 2008, e de se focar em plataformas múltiplas, incluindo, principalmente, a expansão nos mercados internacionais. Telemundo e Panamax Films também atraíram um cluster de produtoras de TGV e cinematográficas que fincaram raízes em Miami, ainda que a produção, em muitos casos, tenha se descentralizado. Isso porque Miami tem a vantagem de contar com um enorme reservatório de talentos, tanto de gente que mora na cidade quando dos que vão e vem, segundo Julio Rumaut, da consultoria de mídia Rumbaut & Company. Outra vantagem é que

culturas e sotaques que são necessários para dublar os desenhos animados de alguns de seus principais clientes, como Nickelodeon. Além disso, pode mover-se com facilidade entre Hollywood e América Latina, onde sua empresa tem unidades de produção (Venezuela e Brasil). “Miami é definitivamente um centro de negócios da indústria cinematográfica, e novamente está se tornando um centro de produção.” O jovem empresário acha que a Argentina continuará atraindo os produtores por algum tempo, porque continua sendo barata para encontrar talentos, mas que Miami se consolidará como a nova Hollywood latina. “Esse foi meu tema de tese, na universidade, e agora estou comprovando isso na prática”, afirma. Mas, os créditos, apesar de tudo, são para McNamara. Q


NEGÓCIOS ELETRODOMÉSTICOS

PARCERIA DE LUXO

Mabe se expande na região e espera atenta as decisões de sua sócia, a General Electric Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

Mabe: aposta na América

C

omo numa partida de Banco Imobiliário, a fabricante mexicana de eletrodomésticos Mabe move suas fichas e avança no tabuleiro latino-americano, acumulando cada vez mais terrenos e colocando casinhas – ou melhor, fábricas – em cada um deles. Tarefa na qual conta com a parceria de ninguém menos que a gigante norte-americana General Electric. Proprietária de 48% da empresa fundada pelas famílias Marbadi e Berrondo em 1946, a GE tem sido fundamental no posicionamento da Mabe como a principal fabricante de eletrodomésticos da região, à frente de LG e Whirpool. Em um sinal de que considera a mexicana como uma boa arma de crescimento no segmento de eletrodomésticos, em julho a GE entregou toda a sua operação no Chile à Mabe. Com isso, a mexicana espera aumentar a participação de mercado que a GE já possuía no País, de 10%, e a de suas próprias marcas. Assim como no Chile, a Mabe tem se movimentado pela América Latina e pelo Canadá fazendo alianças e adquirindo marcas locais, que costuma incorporar em seu portfólio. Além de distribuir a marca GE em todo o continente, com exceção dos Estados Unidos, é dona de 14 marcas na região e vende mais de 16 milhões

de unidades de eletrodomésticos ao ano, somando US$ 3,7 bilhões em vendas em 2007. Cerca de 30% do faturamento da Mabe vêm de fogões, refrigeradores e máquinas de lavar exportadas para a GE, nos Estados Unidos, através de um acordo comercial entre ambas. A parceria é tão estreita que as empresas criaram juntas um centro de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. “A Mabe começou com investimentos em pesquisa e desenvolvimento e, a partir daí, foi buscar alianças e uma estratégia de crescimento”, diz Luis Bermúdez, consultor de inovação da mexicana Insitum. É este “casamento” que mantém a mexicana e o mercado atentos às recentes declarações do presidente da GE, Jeffrey Inmelt, de que a companhia pretende vender a unidade de Consumo e Indústria, que inclui a operação de eletrodomésticos, iluminação e produtos industriais. A venda seria feita a acionistas da própria GE, eventualmente interessados em tocar um filhote da empresa (spinoff), ou a terceiros. Mas, neste caso, só seria negociada a unidade de eletrodomésticos, como previa a proposta inicial. Segundo Robert Schulz, analista da Standar&Poor’s em Nova York, a GE prefere o spinoff, porque a transação seria

feita praticamente dentro de casa, com os próprios acionistas, sem a necessidade de se procurar um comprador. Em todo caso, a Mabe já pensa em comprar a unidade de eletrodomésticos. “Caso a GE venda a divisão de appliances (eletrodomésticos), a Mabe terá muito interesse em adquiri-la para fortalecer sua posição nos Estados Unidos”, diz Rafael Nava, diretor de relações institucionais da Mabe. “Temos tudo para sermos os melhores parceiros da GE nos Estados Unidos. Conhecemos a marca, os projetos de inovação e os produtos, e temos unidades de produção”. De acordo com o executivo, além disso, os 48% que a GE tem da Mabe estariam fora desta operação, porque o que a companhia norte-americana anunciou é que quer vender a divisão de eletrodomésticos apenas nos Estados Unidos. “A Mabe tem uma posição de compra preferencial sobre estes 48%, caso a GE decida encerrar a aliança que ambas mantém”, afirma. Mesmo que não seja no curto prazo, o que poderá ser afetado, se a divisão de eletrodomésticos for vendida para outra empresa, é o acordo comercial entre GE e Mabe, pelo qual a primeira importa 38% dos eletrodomésticos que comercializa nos Estados Unidos. “Pelo menos até 2011, a Mabe continuará a vender tudo 25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 49


NEGÓCIOS ELETRODOMÉSTICOS o que já vende a GE, pelo acordo que mantém”, diz Juan Pablo Becerra, analista da Standard & Poor´s na Cidade do México. No mercado, a Mabe é apontada como uma das principais candidatas a ficar com o disputado braço de eletrodomésticos da GE, ao lado de concorrentes como a sul-coreana LG e a chinesa Haier. Mas tanto a Fitch Ratings como a Standard & Poor´s deram a ela um BBB, em suas classificações de longo prazo, e a colocaram na lista de revisões especiais, com implicações negativas, devido às incertezas quanto ao papel dos norte-americanos no futuro da empresa, elemento-chave na classificação.

OTIMISMO Se chegar aos EUA com suas marcas, a Mabe terá a oportunidade de ampliar sua

presença no hemisfério Norte. Já fez o mesmo em outros mercados. Desde os anos 1990, a empresa estabeleceu alianças comerciais com marcas locais na Venezuela, Equador, Peru e Argentina. Em 2003, estreou no mercado brasileiro com a integração da GE Dako com a CCE Eletrodomésticos, que deu origem à Mabe Brasil. Dando seqüência ao seu plano de expansão, em 2005, comprou a Camco e, a partir dela, criou a Mabe Canadá, hoje responsável por 12% das vendas totais da empresa. Dois anos depois, adquiriu a companhia costa-riquenha Atlas Eléctrica, dona das marcas Atlas e Centrón, e consolidou sua participação no mercado centro-americano, onde já detém 60% de participação. A Mabe tem hoje 15 unidades industriais, divididas entre

Canadá, Brasil, Argentina, Equador, Costa Rica e México. “Uma das virtudes da empresa é ser uma boa administradora. Por isso, a GE não se mete na operação”, diz Becerra, da S&P. “Um exemplo claro é o Canadá. Lá, a GE era sócia de outra empresa, mas não tinha os resultados que esperava. Para alterar a situação, entrou no mercado com a Mabe”. Até o final deste ano, a mexicana espera iniciar operações na Rússia, através de uma aliança comercial com a espanhola Fargo. “A operação introduziria a marca no mercado russo e, no médio prazo, nos países da CIS (Commonwealth of Independent States) – que inclui Leste Europeu e ex-repúblicas soviéticas”, diz Nava. “A Rússia é um mercado estratégico pela proximidade com outros mercados europeus onde ainda não estamos presentes, e pela

influência que tem sobre o crescimento das economias do leste europeu”. Embora o México ainda responda pelo maior volume de vendas na região, com 21%, o objetivo da Mabe é aumentar a presença no Cone Sul. “Tanto as operações da GE no Chile, quanto as da Atlas, na Costa Rica, têm ótimas perspectivas de desenvolvimento, no curto e no médio prazos, e deverão contribuir para balancear o peso específico das vendas em cada uma das regiões em que a Mabe está presente”, diz Nava. Como bom jogador de Banco Imobiliário, ainda que não confirme, o executivo também não nega que tenha outros mercados na mira. “Continuaremos muito atentos em nossa expansão internacional”, afirma, enquanto prepara suas fichas para a próxima partida. Q

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NEGÓCIOS PETRÓLEO

Jaramillo: timão instável

GUERRA DECLARADA

Sob o comando da Marinha, Petroecuador sofre com confronto entre oficiais e sindicatos e se afasta ainda mais da rota de crescimento María Teresa Escobar, Quito

O

combate é duro e está registrando numerosas baixas, em ambos os lados. O contra-almirante Luis Jaramillo, porém, afirma que está preparado para vencer a guerra. Ele é o segundo alto

oficial da Marinha a quem o presidente do Equador, Rafael Correa, encarrega a tarefa de dirigir a Petroecuador, estatal que anualmente gera mais de US$ 3 bilhões em divisas para o Estado, mas que tem sido

atormentada por sindicatos e grupos de interesse. O objetivo do governo é transformar a principal fonte pagadora de impostos do país em empresa modelo até 2011. Como? Contornando a crise

e fundindo a Petroecuador com outra petrolífera estatal, a Petroamazonas, criada para administrar os campos que a norte-americana Occidental teve que devolver ao Estado, há alguns anos, sob a acusação de não cumprir a lei local de hidrocarbonetos. Em março, o governo decidiu contratar, por US$ 3,7 milhões, a consultora Wood McKenzie, para que identifique as mudanças administrativas que precisam ser feitas. A tarefa da Marinha é abrir caminho à força, se necessário, para que a reestruturação seja implementada com sucesso. Mas não é fácil. A idéia de mexer nas estruturas de poder provoca tanta oposição que Jaramillo já recebeu diversas ameaças de morte, em apenas três meses a frente da companhia. Seu antecessor, o contra-almirante Fernando Zurita, agüentou pouco menos de meio ano no cargo. Renunciou ao receber duras críticas de Correa, por não ter sido capaz de aumentar a produção da petrolífera, que despencou para 165 mil barris por dia. “A resistência já começou”, diz Jaramillo. O militar, porém, é otimista e calcula que será capaz de elevar a produção da empresa a 180 mil barris por dia, até o final deste ano. O volume já começou a subir lentamente e se aproxima dos 170 mil barris. Ainda assim é pouco, em comparação com os 330 mil barris diários que a Petroecuador chegou a produzir em seu auge, no início da década de 1990. A receita da Petroecuador aumentou US$ 592 milhões, em 2007. Mas a metade desse resultado se deveu à alta nos preços do petróleo e à redução da diferença que este mantinha em relação ao tipo de petróleo extraído no Equador, o “Crudo

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NEGÓCIOS PETRÓLEO Oriente”, cujo valor de venda teve incremento de US$ 10 por barril, entre 2006 e 2007. O lucro operacional da empresa foi de US$ 2,9 bilhões, no ano passado, o que corresponde a uma queda de US$ 271 milhões, em relação a 2006. No fundo, o que Correa e a Marinha têm que mudar é a história de negligência em relação à maior empresa do País. Na década compreendida entre os anos de 1994 e 2004, a Petroproducción, divisão da Petroecuador que se dedica à área de extração de petróleo, deveria ter investido US$ 2,1 bilhões para manter a média de produção, diz Miguel Córdova, vice-presidente geral da Petroecuador. Porém, só recebeu US$ 220 milhões, dos US$ 1,3 bilhão que o governo central deveria lhe transferir. Não é segredo que o Ministério da Economia costumava “aparar arestas” nos déficits de seu orçamento cortando os fundos destinados à petrolífera, já na metade do ano, em até 40%. Agora, a empresa precisa de investimentos de, pelo menos, US$ 200 milhões por mês para conseguir levantar

Petroecuador: o caixa do governo

a cabeça. A boa notícia é que o governo já garantiu, para este ano, US$ 1,7 bilhões para investimentos na Petroecuador. “É praticamente o dobro do que normalmente tínhamos”, diz Córdova.

O OVO DA SERPENTE O revigorado interesse na Petroecuador não é à toa. Com o petróleo alcançando

JUÍZO AZEDO

Uma das dores de cabeça que certamente afligirão o contra-almirante Luis Jaramillo é o litígio legal com a norte-americana Chevron, pelos danos ambientais que a companhia provocou na Amazônia, desde os anos 1970, caso conhecido como “Lago Agrio”. A multinacional já está movendo suas peças. Em 11 de fevereiro, enviou uma carta a Susan Schwab, negociadora principal do escritório de representação comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), em que pede a anulação das preferências tarifárias do Equador (ATPDEA), incentivo que os Estados Unidos dão aos países que se destacam na luta contra as drogas, na América Latina. “A Chevron tem trabalhado ativamente com o governo do país para asse-

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preços recorde, “as empresas estatais de petróleo estão vivendo um de seus melhores momentos”, diz David Taylor, analista que cobre o mercado mundial de empresas estatais de petróleo, na Deloitte Touche Thomatsu. “Em muitos países, o crescimento do volume de receitas com os hidrocarbonetos catapultou a questão energética para o primeiro plano, na formulação

gurar uma solução justa para um problema de reconciliação. Estamos muito frustrados com o resultado dos últimos eventos, incluindo as intervenções que fizeram com que não tivéssemos um julgamento justo e imparcial”, diz o documento. Mas, qual a razão do lobby da Chevron? Segundo a companhia, o Equador não cumpriu com as obrigações estabelecidas em um contrato com a Texaco (agora Chevron), de 1995, criado para remediar os danos. A lei dos EUA diz que “o presidente não designará um país como beneficiário (de preferências tarifárias) se este tiver tomado atitudes que repudiem ou anulem qualquer contrato ou acordo existente com um cidadão americano”. Quando a Petroecuador assumiu todas as operações da Texaco no País, em 1990, o

de políticas governamentais”. É o caso do Equador, onde o plano econômico do governo se sustenta nos recursos gerados pela petrolífera. O problema é que a “galinha dos ovos de ouro” é também um ninho de serpentes. “A Petroecuador tem uma estrutura que não é coerente com a política de hidrocarbonetos do governo”, diz Jaramillo. O quadro de funcionários

governo se comprometeu a assumir, através da Petroecuador, parte dos gastos do litígio, explica Kent Robertson, porta-voz da Chevron. Além disso, o governo indenizaria a Chevron, em caso de qualquer sentença negativa. Por fim, executaria e financiaria qualquer atividade adicional de conciliação que fosse necessária. O porta-voz da Frente de Defesa da Amazônia, Luiz Yanza, está convencido de que o que a Chevron quer é que o caso, conhecido como “Lagro Agrio”, seja interrompido ou rejeitado pela Corte, já que a derrota no processo a obrigaria a pagar entre US$ 8 bilhões e US$ 16 bilhões para limpar a Amazônia equatoriana. “O caso ‘Lago Agrio’ tem conotação política, no Equador, e conta com o apoio da maioria das pessoas. Mas o que a petroleira norte-americana quer de-


está superdimensionado e não foi construído com base no mérito. Historicamente, a contratação de fornecedores e intermediários para a compra e venda de combustíveis deu origem a questionamentos e a escândalos. Os sistemas de controle interno não funcionam e os objetivos das filiais das empresas estão desalinhados, diz o executivo. “A primeira missão que me foi imposta é a reestatização da empresa. Não haverá espaço para suspeitas nos contratos de prestação de serviços e de compras”, diz Jaramillo. “Trabalhamos para implantar processos transparentes de recrutamento, licitação e compras on-line.” A nova administração promete contratar uma empresa estrangeira para auditar os balanços da petrolífera, pela primeira vez, em anos.

CABIDE DE EMPREGOS Paradoxalmente, o governo que quer mudar a história da petrolífera estatal também dá passos atrás. Após a Assembléia Constituinte obrigar as companhias que atuam no Equador a assumirem como

seus os trabalhadores terceirizados, a folha de pagamento da Petroecuador passou de 5,7 mil para mais de 8 mil empregados. Justo no momento em que a companhia se preparava para depurá-la. Atualmente, a Petroecuador gasta mais de US$ 200 milhões em salários e vencimentos de funcionários, embora, de acordo com Jaramillo, 30% deles trabalhem com convicção, 30% façam apenas o justo e necessário e 40% não façam absolutamente nada. “Não sei quantos funcionários a

os meios. Se não fizermos nada agora, chegará a hora em que o passivo trabalhista devorará a empresa”. Recentemente, quatro líderes sindicais foram despedidos, cada um com indenização de US$ 60 mil. Por outro lado, as reservas da empresa estão localizadas no frágil ecossistema amazônico. Até agora, este ano, a petroleira registrou 61 vazamentos de óleo, dos quais 28 se devem a corrosão em oleodutos antigos, alguns deles datados da década de 1960, e,

produção. Sem contar a nova variável, no ano passado, o custo de produção de petróleo da Petroecuador foi de cerca de US$ 10, por barril. O problema é que o escritório de gestão ambiental não é independente, está dentro da Petroecuador. “Não se pode deixar que a Petroecuador faça o papel de juiz e réu”, diz o ex-ministro do meio ambiente, Rodolfo Rendón, para quem a supervisão deveria ser de responsabilidade do órgão que já foi dirigido por ele, no passado. Jaramillo,

O governo designou US$ 1,68 bilhão à Petroecuador para investimento, quase o dobro do que normalmente lhe reserva. empresa deve ter para funcionar bem. A resposta, quem vai dar é a Wood McKenzie”, diz Jaramillo. “Mas, se temos 8 mil e a auditoria disser que só vale a pena mantermos 5 mil, cada indenização custará ao Estado US$ 60 mil”. Dinheiro demais? “Não quero ser maquiavélico”, responde Jaramillo, “mas acredito que, neste caso, os fins justificam

monstrar é que, por causa deste processo, não haverá mais preferência tarifária. O que provocaria o repúdio da população, dos grupos econômicos beneficiados, inclusive estatais”, explica. Por sua vez, o governo considera a atitude da Chevron injusta. “As pressões criadas com o objetivo de garantir sanções antecipadas ao governo equatoriano, longe de beneficiar àqueles que as solicitam, complicam as relações bilaterais”, afirma o embaixador do Equador em Washington, Luis Gallegos. Até o momento, os esforços realizados pela administração de Rafael Correa se concentram em reuniões com representantes da USTR, para explicar a posição adotada pelo governo equatoriano. “Insistimos com o departamento de Estado, outras instâncias do

16, a falhas em equipamentos, entre outras causas. O lado positivo é que, pela primeira vez, desde que foi fundada, em 1972, a Petroecuador tem um escritório de gestão ambiental, com um orçamento de US$ 125 milhões. E já foi dada a ordem para que o fator impacto ambiental seja incluído pela empresa nos custos de

executivo e com o Congresso dos Estados Unidos de que é necessário manter a independência do judiciário, frente às pressões políticas”, afirma Gallegos. Mesmo com a contra-argumentação, a situação parece cada dia mais desfavorável para que Quito consiga a renovação das preferências tarifárias. Carl Meacham, o membro de mais alto cargo na equipe de funcionários do Comitê de Relações Exteriores, diz que a ratificação do acordo depende muito do Equador. “As preferências tarifárias não são filantropia, são negócios”, afirma Meacham. Se as condições não são favoráveis, fica mais difícil para o país”, diz. Além disso, fontes próximas do Capitólio afirmam que existe a percepção de que a Chevron não quer arruinar o Equador, mas, sim, assegurar-se de que

que se reconhece impaciente em relação às críticas, sabe que a Marinha está jogando a própria reputação na reestruturação. Mas está convencido de que pode transformar o elefante branco que é a estatal em uma empresa eficiente. “Para isso, tenho o respaldo do presidente Correa”, afirma. Q

existe clima para investimentos. Os rumores no Congresso indicam que é possível que não haja sessão extraordinária em dezembro (“lame duck session”), o que significa que o tempo para discutir a questão da extensão das preferências tarifárias será muito curto, e concentrado na atividade legislativa de setembro, limitando de forma real as chances de abordagem da extensão da ATPDEA. Embora nesta briga existam dois lados claramente contrapostos, ao que parece, o maior perdedor da disputa não será nenhum deles. Serão, sim, as pessoas que ocupam os 350 mil postos de trabalho que dependem de indústrias criadas no Equador com o ATPDEA, que impulsionou as exportações do país e que, agora, corre o risco de virar história.

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VISÃO VERDE afaundes@americaeconomia.com

USO SAUDÁVEL No Brasil, laboratório economiza no uso da água para a fabricação de soro Arly Faundes Berkhoff, Cidade do México

MONITORAMENTO Há três anos, a empresa lançou o programa “Balanço de Água”, através do qual realiza um mapeamento constante do processo de fabricação de soro, para detectar em quais etapas mais se utiliza água, como seu uso poderia ser reduzido, e qual a qualidade da água descartada nesses processos. Com isso, a Baxter conseguiu reduzir a quantidade de água utilizada de 5 a 3 litros, para cada litro de soro. Em 2006, isso significou uma economia

parte dessa água é enviada às caldeiras para gerar vapor e, assim, evitar o uso de gás. “Reduzir o consumo de água é fundamental para garantir o abastecimento das futuras gerações”, diz Ricardo Reis Chahin, administrador do Pura (Programa de Uso Racional da Água) da Sabesp, Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, que também tem acompanhado a Baxter na tarefa de diminuir o consumo de água de seu sistema produtivo.

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de US$ 285 mil, em custos operacionais. Segundo Frederico Furquin, gerente de meio ambiente da Baxter, o “Balanço de Água” permite identificar como as diferentes máquinas envolvidas no processo trabalham e aperfeiçoar ou mudar o que se identifique necessário. ”Buscamos as tecnologias mais avançadas”, conta. Além disso, a empresa freqüentemente treina a equipe de funcionários dedicada exclusivamente a monitorar os processos para que sejam capazes de identificar qualquer forma de reduzir ainda mais o uso de água. “Também ensinamos o pessoal como utilizar corretamente os banheiros, chuveiros, a forma correta

de fazer a limpeza do chão, ente outras ações”, diz. Para a Baxter, o mais importante é reduzir ao máximo a quantidade de água “boa” que é utilizada na fabricação do soro. E, depois, reutilizar da melhor forma possível a água imprópria, eliminada no processo de produção. “Não podemos simplesmente jogar essa água fora, por isso a direcionamos à descarga dos banheiros”, explica Furquin. Além disso, parte da água reaproveitada é usada no resfriamento do teto, o que é feito através de um sistema de spray. O borrifamento ajuda a reduzir a temperatura interna da fábrica, bem como a utilização de ar condicionado. Outra

JOSÉ LUIS CATALÁN

DE ACORDO COM RECENTE relatório sobre mudança climática, divulgado pela ONU, mais de 1 bilhão de pessoas poderiam ser afetadas pela falta de água a partir de 2020. O bom, ou ao menos alentador, é que cada vez mais empresas – grandes consumidoras desse bem vital – estão tomando consciência da necessidade de reduzir o consumo, tanto em nível corporativo quanto pessoal. Na filial brasileira do laboratório farmacêutico Baxter, dos Estados Unidos, a meta foi abraçada com determinação. Como produtora de soro, a principal matériaprima da empresa é a água, e a economia desse insumo tem impacto positivo não só no meio ambiente, mas também nos custos de produção da própria empresa.

NOVA META A Baxter consome diariamente entre 600 mil e 700 mil litros de água, abastecidos pela Sabesp. É o maior consumidor da zona sul do estado de São Paulo. Nos últimos dez anos, conseguiu reduzir 428 milhões de litros de seu consumo e, atualmente, 60% da água utilizada na empresa são reaproveitados. A meta da empresa para este ano é reduzir o consumo em mais 10%. Para isso, estão investindo US$ 50 mil em equipamentos, processos e implementação de dez novos programas para economizar ainda mais água. “Há uma aumento da conscientização sobre a importância da água, nos últimos anos, sobretudo entre as empresas, que são os atores que consomem grandes volumes deste insumo e pagam por ele”, conclui Chahin, da Sabesp. Q

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PMES GLOBAIS ProCredit: somente para PMEs

CONFIANÇA PLENA

Banco alemão ProCredit Holdings cresce na região, investindo em pequenas e médias empresas Eduardo Thomson, Santiago

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a última conferência anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em Miami, no início deste ano, um dos auditórios transbordou de gente. Muitos ficaram em pé para ouvir o painel sobre microfinanças, que contava com a presença do bengalês Mohammed Yunus, fundador do Grameen Bank e Nobel da Paz. Já no evento seguinte, os cinegrafistas desapareceram. E

sobraram assentos, como se o tema fosse menos importante: o crédito bancário a pequenas empresas. Todos sabem que o acesso ao capital é imprescindível para uma empresa crescer; que os bancos tradicionais cobrem as grandes empresas, e, mais recentemente, as microfinanças; mas que, no meio, resta um espaço descoberto: o das pequenas e médias empresas (PMEs). Uma pequena empresa, que já conte com

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alguns empregados e anos de operação, tem que se virar por conta própria. Pode até ter um modelo de negócios atraente, mas ao avaliar um pedido de crédito, os bancos só pensam em uma coisa: que ativos a empresa dá como garantia. Por isso, quem naquele dia ficou para conhecer o modelo apresentado pela inglesa Helen Alexander, gerente da ProCredit Holdings, com sede em Frankfurt, Alemanha, não se frustrou. A ProCredit é uma instituição financeira rentável com operações em 22 países da América Latina, África e Leste Europeu, que se concentra no nicho dos empréstimos a pequenas empresas. Helen explicou que nem sempre exige garantias das empresas. Em troca, estuda projeções de fluxo de caixa para saber se o negócio, pequeno ou médio, pode pagar. E não é pouco o dinheiro envolvido: já houve operações de até US$ 1 milhão. “É preciso deixar claro que não é que nunca pedimos algu-

ma garantia”, diz Helen, “mas, isso está em segundo plano em relação à análise de fluxo de caixa que nossos executivos fazem de qualquer empresa que peça crédito”. A executiva não quis detalhar para quais cifras não pede garantias, disse que depende de cada caso. Depois de apenas dois anos dedicados completamente ao segmento de crédito para pequenas empresas, o grupo já demonstra um forte crescimento. Na América Latina, conta com operações no Equador, Bolívia, El Salvador e Nicarágua, e, no ano passado, abriram escritório em Honduras, na Colômbia e no México. Estes dois últimos países contam com sistemas bancários consolidados, mas, segundo a ProCredit, ainda possuem baixos índices de bancarização. Em 2007, a instituição entregou 395 mil créditos na América Latina e sua carteira de colocações cresceu 30%, em relação ao ano anterior, para aproximadamente 518 milhões de euros (US$ 773 milhões), de uma carteira total de 2,8 bilhões de euros (US$ 4,2 bilhões). O crédito médio entregue na América Latina é de US$ 2,2 mil, levemente abaixo da média do Leste Europeu, mas acima da média africana. Em termos de volume, 47% dos créditos dados na região estão acima dos US$ 10 mil. É uma aposta rentável, a maioria paga em dia: a taxa de créditos em mora, ou seja, com mais de um mês de atraso no pagamento, é de apenas 1,7%. Alexander afirma que os bancos do ProCredit, com mais de um ano de operações, na América Latina, contam com uma média de retorno sobre o patrimônio de 19%.


Por enquanto, o plano da empresa Ê crescer nos mercados em que jå estå instalada. Segundo Helen, a maior barreira Ê a falta de uma equipe de trabalhadores qualificados para fazer a anålise dos clientes, alÊm de gerentes para as sucursais que estejam capacitados para tomar decisþes importantes em campo. Por isso, diz a executiva, que se requerem instituiçþes que estejam comprometidas com as PMEs e dispostas a investir muito no treinamento de pessoal. O custo laboral Ê relevante, diz Helen. Na ProCredit, representa 70% do total, o que pode assustar a muitos, mas Ê essencial para garantir a formação de vínculos com

os clientes. Daí surge outro problema enfrentado pelos bancos que atendem a pequenas empresas: o roubo de pessoal capacitado, por outras instituiçþes. Helen reconhece o risco, mas acrescenta que o investimento feito em treinamento Ê um incentivo à fidelidade dos empregados. A empresa possui um centro de treinamento na Nicarågua e administra uma academia profissionalizante em Furth, Alemanha, para onde envia alguns de seus funcionårios latino-americanos. A ProCredit não conta com subsídios de nenhum órgão governamental. Entre seus acionistas, estão entidades como a Corporação Finan-

ceira Internacional e o banco de desenvolvimento alemĂŁo KfW Entwicklungsbank. Helen nĂŁo revelou quais sĂŁo as taxas de juros dos crĂŠditos da ProCredit; apenas afirmou que a meta da empresa ĂŠ oferecer emprĂŠstimos a taxas “comerciais e sustentĂĄveisâ€?. Mas esse tema tampouco tem estado isento de controvĂŠrsia, seja se tratando de microcrĂŠditos ou crĂŠditos a PMEs. Recentemente, o banco mexicano de microfinanças Compartamos, que lançou açþes na bolsa, em 2007, e passou a ser oficialmente uma instituição com fins lucrativos, foi criticado pelas altas taxas cobradas nos microcrĂŠditos – de cerca de 79% ao ano –,

apesar de o banco ter afirmado que estas estĂŁo “mais prĂłximas dos 70%â€?. Como a classificadora de crĂŠdito Fitch Ratings destacou recentemente em um relatĂłrio, o sucesso do microcrĂŠdito poderia ser seu maior risco, ao atrair muita gente que vĂŞ no segmento simplesmente uma forma de obter lucro, e reguladores que queiram fixar limites Ă s taxas de juros cobradas, como o Equador fez em 2007. Esta segunda medida, em particular, pode restringir o lucro dos bancos de microcrĂŠdito, afetando o trabalho social que motivou a criação de instituiçþes como o Grameen Bank, ou tambĂŠm o ProCredit. Q

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DEBATES IMIGRAÇÃO

Espanha: imigrantes caros

EUROPA NÃO QUER SEUS NETOS POR PERTO A Diretriz de Retorno européia, ou lei de imigração, afetará a 1,3 milhão de latino-americanos, que antecipam o envio de remessa de dinheiro a seus países de origem Hebe Schmidt, Madri

AFP

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o início do século 20, mais da metade dos habitantes de Buenos Aires, capital da Argentina, não sabia falar espanhol, mas sim o idioma galego, ou o napolitano, com seus belos “u”. Na mesma época, no Brasil, o italiano era a língua franca no estado de São Paulo e, o alemão, no de Santa Catarina. Tampouco causava surpresa a ninguém escutar mandarim em Lima, no Peru, ou o idioma croata, na patagônia chilena.

Dos milhões que desembarcaram no continente, excetuando-se um punhado de artesãos anarquistas, ninguém jamais foi expulso. Tempo vem, tempo vai, hoje, cerca de 1,3 milhão de latino-americanos correm o risco de serem retirados à força do velho continente, não por pregarem o fim das instituições européias, ou utilizarem gratuitamente o sistema de saúde, mas por aceitarem trabalhar sem contrato e sem previdência social.

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Com suas economias na corda bamba da recessão subprime, os governos europeus consideram que é politicamente vantajoso abdicar do ideário liberal na questão migratória. Foi assim que conseguiram os votos necessários à aprovação da Diretriz de Retorno, pelo Parlamento Europeu, no dia 18 de junho. Esta estabelece, entre outras coisas, a prisão de imigrantes em campos de concentração, por até 18 meses, seguida de deportação.

Os efeitos da saída dos imigrantes ilegais, provenientes também do Norte da África, do Paquistão e de outras regiões, são tema de debates na Europa. Alguns empresários temem que a decisão complique o relacionamento comercial com a América Latina. Inicialmente, as empresas espanholas que atuam na América Latina se mostraram alheias à controvérsia gerada pela Diretriz de Retorno. Mas, bastou o presidente venezuelano Hugo Chávez ameaçar rever as licenças para operação na Venezuela de investidores de países que apóiam o polêmico documento para que as luzes de alerta se acendessem. Desde então, nenhuma observação a respeito passa despercebida. Nos corredores da sede de uma das maiores operadoras de telefonia do mundo, em Madri, “o tema já é mencionado com certa preocupação”, diz um executivo da empresa, sob a condição de ter o nome mantido em sigilo. A pergunta é inevitável: não existiria contradição entre a demanda pelo livre fluxo de investimentos e capitais e a restrição ao livre fluxo de pessoas? Rafael Pampillón, diretor de análises econômicas do Instituto de La Empresa de España, afirma que “o livre movimento de capitais e o livre movimento de pessoas não são a mesma coisa”. Para ele, “a entrada de capitais representa um investimento direto produtivo, que favorece o crescimento econômico. Já a entrada de imigrantes, se por um lado favorece o desenvolvimento do mercado de trabalho, por outro torna a situação mais delicada quando há desemprego, e os imigrantes precisam ser absorvidos e subsidiados pelo estado. O dinheiro vem e vai”. Os imigrantes ficam.


É só neste último ponto que as associações e ONGs que representam imigrantes latino-americanos parecem concordar: “o dinheiro vai e vem, sem restrições”, diz Vladimir Paspule, coordenador geral da Asociación Hispano Ecuatoriana Rumiñahui. Mas, e o direito de ir e vir das pessoas? Segundo ele, “a Diretriz de Retorno européia é brutal porque criminaliza os imigrantes, acaba com qualquer vestígio de dignidade humana”, uma vez que irá tornar o mercado negro de trabalho ainda mais “barato, flexível e facilmente adaptável às necessidades do momento”. Atualmente, a situação já é injusta. De acordo com Iñigo More, diretor do Centro de Investigaciones Remesas.org, “os imigrantes sem documentos estão imersos em uma economia clandestina, e ganham entre 25% e 50% menos que os trabalhadores em situação legal”. O volume de recursos enviados ao exterior, a partir da Espanha, alcançou a cifra de US$ 13 bilhões, em 2007, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Banco de España. Do total, 75% tiveram como destino a América Latina. Mas, durante os últimos cinco meses, os imigrantes enviaram cerca de 25% menos dinheiro para as suas casas. Não deixa de ser irônico que o impacto do trabalho imigrante nas opções de trabalho dos “nativos” seja muito limitado. “Os imigrantes, na maior parte, ocupam postos de trabalho que os cidadãos nascidos no país não estão dispostos a ocupar”, diz Luis Miguel Doncel Pedrera, professor de Economia Aplicada da Universidade Rey Juan Carlos de España (URJC). Bem diferente é a situação dos imigrantes legais. “Eles

apresentam uma maior taxa de rotatividade e tendem a ocupar, no médio prazo, os postos de trabalho para os quais se prepararam. Segundo todos os estudos, o salário, nestes casos, também é o mesmo que o de um nativo que trabalha na mesma função”, diz Francisco José Blanco Jiménez, outro professor titular de economia aplicada, da URJC. Com a queda abrupta do setor imobiliário, a situação espanhola é mais grave que a de outros países. Os trabalhadores que não concordam com o preço oferecido por um determinado trabalho têm o privilégio de poder recusá-lo e receber seguro desemprego do governo, enquanto os ilegais não têm a mesma possibilidade.

conta da existência de 580 mil estrangeiros desempregados, diz Pampillón, do Instituto de La Empresa, num universo de quase 2,4 milhões de pessoas sem emprego, no país. O resultado da pesquisa aponta que a taxa de desemprego entre os espanhóis cresceu 0,62 pontos percentuais, para 9,34%, no segundo trimestre do ano. Entre os estrangeiros, o percentual da população desempregada cresceu 1,82 pontos, para 16,46%. Mas, como diz Pampillón, “o motivo do incremento no nível de desemprego relativo aos estrangeiros não se deve à redução do número de empregos, mas ao aumento da população economicamente ativa imigrante, que continua a chegar à Espanha”.

permite flexibilizar a economia e liberar a mão-de-obra mais bem-qualificada para trabalhos para os quais ela foi capacitada”, diz Doncel Pedrera.

AJUDA LATINA Outros detalhes, não menos importantes, parecem ter sido esquecidos pela lei de imigração européia. Sobretudo a necessidade do mercado de trabalho de atrair talentos e trabalhadores estrangeiros, em função do envelhecimento endêmico da população. De acordo com dados de julho de 2008, há pouco mais de 2,1 milhões de estrangeiros que já contribuem para o sistema de previdência social. Para Jesús Caldra, ministro do Trabalho do

As contribuições dos imigrantes à previdência social espanhola representam todo o superávit do sistema, que superará os US$ 12,3 bilhões em 2008. “O desemprego não diminuirá de forma considerável com a expulsão dos imigrantes”, dizem os dois professores da URJC. Para eles, “a questão da imigração ilegal está mais associada aos custos de assistência que os imigrantes podem necessitar e que, por lei, têm o direito de receber”. Na Espanha, saúde e educação pública são serviços que devem ser fornecidos de forma universal. Os dados mais atuais da pesquisa sobre a população economicamente ativa do país (Encuesta de Población Activa – EPA), publicados no dia 24 de julho pelo Instituto Nacional de Estadística de España (INE) – que cumpre papel semelhante ao do IBGE, no Brasil –, dão

O fato é que a Diretriz de Retorno européia não parece divisar o véu de incertezas que encobre as perspectivas futuras de produtividade nas empresas da região, caso se elimine a mão-de-obra imigrante, que hoje atua em segmentos da indústria e da economia que os europeus já rejeitaram. Para ambos os professores da URJC, diante da tal situação, “algumas empresas poderiam ter problemas, caso a população local achasse que a remuneração oferecida não é a que considera adequada”. No médio e longo prazos, a imigração melhora a produtividade porque os imigrantes apresentam uma taxa de rotatividade bem mais alta que a da população local, “o que

governo de Rodríguez Zapatero, eles dão uma contribuição “enorme” à Espanha, uma vez que suas contribuições correspondem a “aproximadamente todo o superávit do sistema” - que, estima-se, superará os US$ 12,3 bilhões, em 2008. Outra questão importante, e também negligenciada, está ligada ao mercado que se desenvolve ao redor da população imigrante e que, no caso da Península Ibérica, durante 2007, movimentou cerca de US$ 60 bilhões. E estas são apenas algumas das indagações a espera de respostas, repetidas a exaustão pelos sofridos imigrantes latino-americanos, à esta avó que sofre subitamente de Alzheimer. Q

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 59


DEBATES COMÉRCIO

A VIDA APÓS DOHA Há poucos incentivos para uma nova rodada da OMC. Mas essa não é, necessariamente, uma má notícia Antonio María Delgado, Miami

LATINSTOCK

“P

or sete anos, os negociadores comerciais tentaram nos convencer de que, sem sua bênção, sem sua aprovação, o mundo se veria submerso na pobreza e a economia mundial quebraria. Isso sempre foi um exagero”, declarou Daniel Ikenson, que não parece ser um homem preocupado com a chegada do Apocalipse. Como diretor-associado do Centro de Estudos de Políticas Comerciais do Instituto Cato, nos Estados Unidos, ele afirma que o fracasso final da Rodada Doha está longe de ser a pior notícia. Pelo contrário, até pode ser boa. A verdade é que sempre se soube que as grandes negociações dos 153 países que formam a OMC, com sua quixotesca intenção de projetar a arquitetura da próxima grande onda de liberalização comercial, resultavam quase impossíveis. Em última instância, as “cenouras” para repartir eram poucas, segundo o Banco Mundial, e limitar totalmente as restrições comerciais teria feito crescer, em média, não mais do que 1% da renda dos países em desenvolvimento. Em tal contexto, a iniciativa exigia sacrifícios políticos muito altos em troca de benefícios relativamente pequenos, em um processo que precisava apenas da

objeção de um país grande para cair como um castelo de cartas. Ocorreu o pior. A boa notícia é que o mundo continuará girando, mesmo sem a assinatura do acordo. “O livre comércio goza de boa saúde e continuará aumentando pelo mundo, graças a muitos países que optaram por abrir o comércio unilateralmente”, garante Ikenson. É aí, e não nos acordos bilaterais, que reside o futuro do processo de abertura comercial iniciado pelo mundo em 1947. São muitos os países que chegaram à conclusão de que é do interesse deles reduzir as tarifas alfandegárias, o que estão fazendo, por conta própria, afirma. O que os desagrada é a idéia de ficar amarrado a um acordo multilateral que não lhes permita aumentar as tarifas quando necessário, com no caso do surgimento de algum fato político. É neste ponto que começam a ter problemas com o livre comércio. As considerações políticas parecem ter dado o golpe de misericórdia na Rodada Doha. As negociações realizadas no final de julho, em Genebra, pela Organização Mundial do Comércio, já tinham avançado 90% quando foram irremediavelmente interrompidas. O problema surgiu logo após os Estados Unidos e a União Européia concordarem em

60 AMÉRICAECONOMÍA / 25 DE AGOSTO, 2008

cortar, um pouco, as tarifas e subsídios agrícolas, desde que a China e a Índia baixassem suas tarifas para produtos industriais. Mas logo veio uma cláusula de salvaguarda que autorizava os países a aumentar as tarifas caso houvesse um repentino e ameaçador crescimento no volume nas exportações de produtos sensíveis, como algodão, açúcar e arroz. Os Estados Unidos queriam que essa cláusula para que os países estivessem livres para aplicar as medidas de salvaguarda operasse a parir de um aumento de 40% nas importações, enquanto a Índia desejava um nível bem mais baixo, de 10%. Foi a gota d’agua que fez transbordar o copo. Para as partes, o custo político de aceitar o acordo teria sido muito alto, ainda mais com a proximidade das eleições na Índia e nos Estados Unidos. Para o Brasil, o colapso das negociações foi uma experiência decepcionante. “É incrível

que fracassamos por apenas uma questão”, declarou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, no fim das negociações que eram vistas como a última oportunidade da Rodada Doha. “É lamentável o que ocorreu. Alguém de outro planeta não acreditaria que, apesar de todo o progresso obtido, não fomos capazes de concluir as negociações.” O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, porém, ainda tem esperanças. “Não creio que a rodada tenha fracassado. Ainda temos grandes possibilidades de negociação”, afirmou o mandatário brasileiro, em seu programa de rádio semanal.


Mas os especialistas que acompanham o processo não acreditam que o que foi desfeito em Genebra possa voltar a ser montado. “Doha morreu”, diz Ikenson, do Instituto Cato. “Não creio que seja declarada como um processo que tenha terminado, principalmente porque nenhum dos ministros de comércio ou dos negociadores vai querer sair vinculado à primeira rodada

comercial multilateral que fracassou, mas o processo não vai a lugar nenhum.” Claude Barfield, exassessor do Escritório de Representação Comercial dos Estados Unidos, que atualmente comanda pesquisas para o think tank Washington American Enterprise Institute, concorda. “Há pessoas que podem recolher as peças que sobraram da negociação

com uma certa rapidez, mas sou muito cético em relação às perspectivas de que isso ocorra. Acho que, psicologicamente, chegamos a uma espécie de fim de caminho e vai ser muito difícil neste momento voltar a colocar as peças no lugar.” Os analistas também entendem a relutância do Brasil em dar-se por vencido. O país assumiu em grande medida a

liderança da América Latina na rodada de negociações comerciais, porque é o país mais diversificado e, por conseguinte, o que seria o mais beneficiado com a assinatura de um acordo de livre comércio multilateral. “É o que mais tinha a ganhar com a abertura comercial”, afirma Joydeep Mukherji, diretor de risco soberano da Standard & Poor’s. “Seu comércio é

Comércio: o mundo tem conserto


DEBATES COMÉRCIO o mais diversificado, vende para Europa, Ásia, Estados Unidos e América Latina. E isso contrasta com a situação de muitos países da região, como o México e os da América Central, onde 70% ou 80% das exportações são destinadas aos Estados Unidos. Para esses países, o principal interesse é preservar o acesso ao mercado

com os Estados Unidos, Doha adquiriu uma singular importância para o Brasil e a Argentina. “Eles vão continuar insistindo. Vão tentar procurar uma forma de ressuscitar o processo”, prevê Mukherji, da Standard & Poor’s. Entretanto, o acordo tem menos atrativos para o resto do mundo. Por um lado, já é

COMÉRCIO SIDERAL Exportações mundiais de mercadorias, em US$ bilhões Fonte: OMC

579

1973

1.838

1983

3.675

1993

7.371

2003

11.783

2006 0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

11.000

Nota: entre 1973 e 1983, e entre 1993 e 2003, a evolução do preço do petróleo influiu significativamente na participação percentual correspondente às exportações.

dos Estados Unidos, e nem tanto conseguir uma maior abertura comercial, porque, na verdade, não dependem tanto do restante do mundo.” É um cenário que divide a América Latina em três campos. De um lado, estão os países que compartilham a Costa do Pacífico, com a exceção do Equador, que apostam em um modelo baseado no intercâmbio comercial com os Estados Unidos. De outro lado estão o Brasil e, em menor grau, a Argentina, países que apostaram nos avanços das negociações multilaterais da OMC. E o pequeno e errático grupo liderado pela Venezuela, que mostra certas objeções ideológicas ao conceito de livre comércio. Por não terem pegado o trem da abertura comercial

muito o conquistado desde que se iniciou o processo de liberalização comercial, em 1947. Na ocasião, as tarifas médias dos países desenvolvidos ficavam em torno de 40%. Atualmente, essa taxa é de 4%. No caso dos países em desenvolvimento, a média caiu de mais de 100% para perto de 20%, diz Barfield, do American Enterprise Institute. Grande parte dessa liberalização foi produzida nos últimos cinco anos, período em que o comércio mundial cresceu quase 100%, de US$ 7,6 trilhões para US$ 13,6 trilhões, em 2007. O acordo comercial que estava sendo negociado em Doha prometia um benefício máximo calculado em US$ 100 bilhões, um montante muito pequeno em

62 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

comparação com o crescimento já alcançado. Por outro lado, também há o fato de que os acordos multilaterais estão se demonstrando difíceis de concretizar. Por isso, nos últimos anos, o progresso em matéria de abertura comercial tem sido protagonizado pelos acordos bilaterais e pelas decisões unilaterais dos países em cortar suas tarifas. É claro que as modalidades unilaterais e bilaterais de abertura comercial não são tão boas quanto as multilaterais. Os acordos bilaterais, por exemplo, complicam o processo de trocas ao produzirem, cada um deles, seu próprio catálogo de regras independentes, que vão se somando, uma a outra. No final das contas, os processos de intercâmbio comercial entre os países do globo terminam mais parecidos com um prato de spaghetti do que com um mundo outra vez plano, imagem que deixa felizes alguns teóricos da globalização. Não obstante, essas são as modalidades que estão avançando na luta pela liberalização comercial nos últimos anos. Para isso é preciso olhar o que está ocorrendo no hemisfério, após o colapso do acordo da Área de Livre Comércio das Américas. “A Alca não está mais politicamente ativa e ninguém fala disso. Mas, se você observar, está havendo avanços. A idéia era criar uma zona de livre comércio, que iria do Alaska à Terra do Fogo, e muito disso está sendo construído”, comenta Mukherji, em referência aos diferentes acordos comerciais que Canadá, México, Estados Unidos, Chile, Peru, Colômbia, República Dominicana e

os países centro-americanos firmaram entre eles. Por outro lado, os analistas acreditam que os países da região podem fazer muito, por conta própria, para acelerar o processo comercial, através da adoção de medidas facilitadoras de trocas, como a liberação dos procedimentos alfandegários, a melhoria das instalações nos portos, a introdução da concorrência nos serviços de logística, nos armazéns e nos transportes ferroviários e rodoviários. Nos Estados Unidos, por exemplo, são precisos cinco dias para que as importações cumpram todos os requisitos administrativos e saiam da alfândega. Para a saída das exportações, são necessários seis dias. Se apenas um dia for cortado, de ambos os procedimentos, já se aumentaria em cerca de US$ 30 bilhões o comércio anual dos Estados Unidos, montante que supera em US$ 10 bilhões o aumento que o país prevê conseguir com o tratado de livre comércio com a Coréia do Sul (de US$ 20 bilhões). “É muito mais o que se pode ganhar com esse tipo de mudanças que o que se pode conseguir com uma nova rodada de cortes de tarifas”, diz Ikenson. “É como quando se abre a torneira para que a água passe por uma mangueira. Vamos dizer que nós consigamos eliminar todas as tarifas, o que, nesse caso, seria abrir a torneira totalmente. Mesmo assim, alguns poderiam receber um fluxo bem pequeno no outro lado se a mangueira estiver dobrada em diferentes lugares.” Por isso, conclui, “essa é a razão pela qual é mais importante retirar os obstáculos que impedem o fluxo do comércio do que abrir a torneira totalmente”. Q


DEBATES OPINIÃO

Félix Peña

Questão de limites OS LIMITES no comportamento individual de sócios de um acordo de integração são um tema recorrente. Até que ponto um país tem que considerar sua soberania atada a compromissos de ação conjunta, assumidos com outros países? Quais são os limites toleráveis no cumprimento das obrigações formais de um país com seus pares, em acordos internacionais livremente pactuados? Questões como essas foram um dos eixos principais do importante discurso do presidente Lula a empresários argentinos e brasileiros, em sua recente visita a Buenos Aires. Uma visita carregada de mensagens verbais e simbólicas. Entre as primeiras, estiveram reiteradas afirmações de que o mundo atual oferece enormes oportunidades aos dois países – e aos sul-americanos, de modo geral –, especialmente em matéria de alimentos; e de que o Brasil está disposto a aproveitá-las plenamente. Entre as segundas, além da presença de empresários brasileiros com crescente interesse na Argentina, está o fato de que, no dia seguinte, o carismático líder brasileiro partiria para a China, inquestionável fontes de tais oportunidades. Os termos de Lula foram: “temos que construir os consensos no limite do possível, para andarmos juntos no mundo... defendendo a mesma bandeira... mas, se renunciar à soberania de cada país... esta, é intocável”. Provavelmente, o presidente tinha em mente o acontecido dias antes, em Genebra. Lá, antes do colapso da reunião ministerial, que, se supunha, permitiria fechar a Rodada de Doha, com sucesso, o Brasil tinha adotado formalmente uma posição diferente da da Argentina. De fato, o que para uma das partes era um acordo aceitável, para a outra, não. E tal dissidência adquiriria importância prática, já que os compromissos que seriam assumidos em produtos industriais envolveriam tarifas externas do Mercosul - o que suporia, ainda, a necessidade de posicionamento conjunto, incluindo os outros dois sócios. A idéia de que há limites nos comportamentos assumidos entre os sócios de um acordo de integração é algo natural. Os respectivos interesses nacionais nem sempre são compatíveis. E nem tem por que sê-lo. A questão é saber, quando existem diferenças pronunciadas, como se definem os limites no exercício das respectivas soberanias nacionais. Pelas regras pactuadas? E, nesse caso, quem as interpreta? Cada sócio, ou uma instância independente?

Ou, será que tais limites devem ser definidos pelas relações de poder real? Se sim, nesse caso, como se protegem os interesses dos sócios de menor poder relativo? Sabe-se que, se as diferenças são existenciais – ou seja, referentes à razão de ser, ou ao alcance de uma aliança estratégica –, seria difícil obter uma solução somente com base no conjunto de regras de conduta pré-existentes. Sendo assim, a resolução do conflito de interesses entre os países do bloco deveria nascer de um acordo no plano político. Ou, eventualmente, da redefinição da associação ou, pelo menos, das regras do jogo. Esse não é um assunto banal. Está na essência dos compromissos que os países assumem em matéria de integração econômica. Se os limites ficam livres, à mercê da vontade soberana de cada país membro – o que é algo que qualquer realista assumiria como normal, nas relações internacionais –, a construção de um espaço de integração, que garanta lucros mútuos a sócios com diferentes níveis de poder, poderia ter um considerável grau de dificuldade. Provavelmente, não se alcançaria o lucro mútuo. Além disso, os investidores identificariam sérias limitações no acordo de integração e tenderiam a se concentrar na maior economia. Concretamente, se diluiriam os efeitos do “seguro contra o protecionismo”, que é a essência dos acordos preferenciais entre países de tamanhos diferentes, na conhecida expressão de Fred Bergsten. Sobretudo, a legitimidade social de tais acordos seria insustentável. A vantagem, no caso latino-americano em questão, está na franqueza com que o presidente Lula apresentou o tema dos limites dos compromissos assumidos no Mercosul. Da forma que o fez, tornou transparente uma visão que, provavelmente, sempre predominou na América Latina, no que diz respeito às múltiplas modalidades de acordos de integração. Até porque, talvez, em tal visão, se encontre uma das explicações para os modestos resultados alcançados, na prática, pelo bloco. O que motiva ainda outras indagações: não estaria aí uma das razões para a distância em relação aos resultados produzidos pela experiência européia? Será que a idéia de soberanias intocáveis não colide com os compromissos assumidos voluntariamente, em um processo de integração, e com a realidade da densa trama de interesses, gerada pelo fenômeno da globalização? Q

A vantagem está na franqueza com que o presidente Lula apresentou o tema dos limites dos compromissos assumidos no Mercosul.

Diretor do Instituto de Comércio Internacional da Fundação Standard Bank e professor de Relações Comerciais Internacionais da Universidade Nacional de Tres de Febrero, Argentina.

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PANORÂMICA POLÍTICA

Abraham F. Lowenthal

Obamérica Latina UM IMPORTANTE número de analistas latino-americanos, além de vários especialistas na região, de universidades norte-americanas, têm comentado que, em relação às políticas dos EUA para a América Latina, as propostas do senador John McCain se mostram mais atraentes que as do senador Barack Obama. Geralmente, tais observadores são críticos das políticas do presidente George W. Bush, particularmente em relação ao Iraque e ao Oriente Médio, e sua inclinação natural seria apoiar o candidato democrata. Mas, certos aspectos da política exterior apresentada por este último o tornam menos atraente. Enquanto McCain clama abertamente pela ratificação de tratados comerciais (TLCs) com Colômbia e Panamá, e enfatiza seu compromisso com o livre comércio mundial, Obama têm tomado posições que oscilam entre a vagueza e a aberta hostilidade a este. Questionou a continuidade do TLC com México e Canadá, demonstrando uma posição vacilante em relação aos TLCs com Colômbia e Panamá, e prometeu uma profunda revisão da política comercial dos EUA, o que indica um afastamento do consenso geral sobre os benefícios do livre comércio. Em temas migratórios, de vital importância para o México, a América Central e o Caribe, ambos candidatos expressaram seu apoio a uma exaustiva reforma, mas somente McCain tem um histórico de compromisso com essa meta e de tomar riscos políticos para proteger os direitos dos imigrantes recém-chegados, primordialmente da América Latina. Até agora, a atitude de Obama tem sido de cautela. Recentemente, McCain visitou Colômbia e México, e já esteve na América Latina em várias ocasiões. Obama ainda não pôs os pés na região e é pouco provável que o faça durante a campanha. Somente em relação a Cuba Obama se posicionou de uma forma mais fácil de engolir para os observadores latino-americanos, em comparação com a postura de McCain, de não relaxar o embargo econômico enquanto não houver mudanças políticas em Havana. Mas a maior abertura demonstrada pelo democrata (Obama expressou vontade de reduzir as restrições de viagens e de envio de remessas de dinheiro à ilha) parece ter levado um duro golpe, depois de um recente discurso do candidato em Miami. Na ocasião, ele usou uma forte 64 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

retórica em temas como a liberdade em Cuba, que não se diferenciava em nada da de presidentes anteriores, como George W. Bush, nem da de qualquer outro candidato que busca apoio da comunidade cubano-americana residente na Flórida, para ganhar as eleições no estado. Fidel Castro estava, compreensivelmente, desiludido com o “eu também”, de Obama, em Miami. Como assessor em política latino-americana, com participação em várias campanhas, minha perspectiva do tema se baseia na experiência pessoal que tive com o candidato presidencial democrata às eleições de 1988, o então governador por Massachusetts, Michael Dukakis. Pouco depois de Dukakis ser nomeado candidato presidencial democrata, e enquanto as pesquisas indicavam uma pequena vantagem para ele, fui convidado juntamente com o ex-assistente do secretário de Estado, Viron Vaky, à casa do governador, em Boston, para informarlhe sobre política exterior entre Estados Unidos e América Latina. Pete Vaky e eu passamos cerca de uma hora com o governador Dukakis, que nos fez muitas perguntas e comentários, com o cuidado de um político experiente. Com uma confiança impressionante, Dukakis se concentrou nas decisões políticas que deveria tomar se fosse eleito presidente dos Estados Unidos, como atuaria e como explicaria suas políticas. Era motivo de orgulho ser convidado a discutir esses temas com um candidato presidencial e contemplar as reformas que um político bem-preparado podia considerar. Mas, como pensei mais tarde, naquele mesmo dia, era preocupante que, em agosto de 1988, Dukakis se concentrasse no que iria fazer como presidente, e não em como garantir ser eleito. Barack Obama não está cometendo tal erro. Está se concentrando com uma precisão milimétrica em todo o necessário para ser eleito. Nesse contexto, suas visitas ao Iraque, a Israel e à Europa são muito mais valiosas do que uma viagem a Bogotá; discursos sobre emprego e hipotecas significam muito mais do que reflexões sobre cooperação interamericana; e, no caso de Obama, projetar uma sensação de conforto é muito mais importante do que prometer uma mudança radical. Vê-se que Obama tem sido bem assessorado ao concentrar-se nos eleitores norte-americanos, e não na estima da América Latina, para garantir a Presidência dos Estados Unidos. E é assim que os latino-americanos devem entender essa campanha. Q

Obama está se concentrando em ser eleito. Nesse contexto, visitas a Iraque, Israel e Europa são mais valiosas que a Bogotá.

Professor de Relações Internacionais da Universidade de Southern California e presidente emérito do Pacific Council on International Policy.


FINANÇAS OPINIÃO

John C. Edmunds

Fim de ciclo? QUANDO uma etapa é suficientemente longa, as pessoas podem começar a acreditar que a ordem natural das coisas é que os preços sempre subam... ou sempre baixem. Muitas tendências de longo prazo passaram pela economia mundial nos últimos 500 anos, e identificá-las se converteu em passatempo de intelectuais e estudiosos. Algumas tendências de queda têm sido tão longas e desalentadoras que estimulam o desenvolvimento de um emaranhado de complexas teorias para explicá-las. Estas, por sua vez, se tornam tão convincentes que passam a ser matéria obrigatória para gerações completas de estudantes universitários, os quais acreditam nelas de pé junto. E quando finalmente a tendência da vez chega ao limite e se reverte em uma rota ascendente, muita gente treinada continua achando que estamos apenas presenciando uma breve interrupção na “ordem natural das coisas”. A América Latina tem registrado longos períodos em que os termos de intercâmbio da região (ou seja, os preços que a região cobra por suas exportações frente aos preços que paga por suas importações) se debilitam ou se fortalecem. Coatworth e Williamson identificaram o período entre 1820 e 1890 como um em que os preços das exportações da região experimentaram alta generalizada. Foi o período depois dos movimentos de independência, quando os imigrantes chegaram em massa da Europa e as exportações de bens como açúcar, café, minerais, cacau e trigo cresceram com força, alimentadas pela demanda insaciável das classes médias européias e norte-americanas. Já no período entre 1890 e 1950, os preços das exportações latino-americanas caíram em relação aos preços dos bens importados. Nesse período, os teóricos do comércio internacional desenvolveram explicações sofisticadas para explicar por que os preços dos produtos primários sempre tenderão a cair, frente aos preços dos produtos manufaturados, salvo em breves exceções. De fato, no período entre 1950 e 2002, os preços dos produtos primários da América Latina se comportaram de acordo com tal teoria. Houve breves períodos em que os preços subiram – por exemplo, em 1954, quando o café chegou a US$ 1 a libra, e entre 1973 e 1979, quando os preços de várias commodities subiram com força. Mas, o padrão dominante foi a queda nos preços dos produtos primários e a valorização das manufaturas.

A pergunta então é: os altos preços das exportações, que temos acompanhado desde 2002, são uma simples aberração, como o que aconteceu entre 1973 e 1979, ou chegamos ao fim de um ciclo de longo prazo? O ciclo de alta de preços, identificado por Coatsworth e Williamson, durou 70 anos, e, o ciclo de queda, se estendeu por 60, chegando ao fim em 1950. Os dados revelam que, desde aquele ano, os termos de intercâmbio na região têm melhorado. Mas, durante grande parte deste último período, a melhoria foi praticamente imperceptível e incluiu algumas fases realmente ruins, como a década perdida de 1980. Mas, todos concordam que, desde 1950, não surgiu uma década tão ruim como a de 1930, e neste sentido os números mostram uma melhora. A outra pergunta é: por quanto tempo continuarão melhorando? Se a tendência se voltou à alta, em 1950, e vai durar 70 anos, antes de voltar a cair, então continuará até 2020. Mas, se durar 60 anos, se estenderá somente até 2010. As projeções que se baseiam em dados históricos são interessantes, mas levá-las muito a sério implica riscos. A tendência, no longo prazo, nos termos de intercâmbio da América Latina, certamente ocorreu, mas não significa que se repetirá nas próximas décadas. Um dos motivos é que os exportadores de hoje são mais sofisticados, têm maior poder para ditar preços e maior controle sobre os canais de distribuição. Outro motivo é que muitos bens manufaturados se converteram em commodities. Os preços dos aparelhos de ar condicionado, fornos de microondas e aparelhos de DVD, caíram muito mais rapidamente do que os preços do trigo e do cacau. Em vista disso, se torna mais relevante classificar os bens pela sofisticação, levando em conta se são diferenciados ou não. Mas, existem ainda duas outras razões de peso para se questionar a relevância da classificação do debate em termos de ondas. Uma é que os serviços não formavam um componente importante do comércio internacional, entre 1820 e 1950. Agora, eles têm muito mais peso, e a desvantagem competitiva da região, na área de serviços, não é tão inexorável. O outro motivo é que o custo e a disponibilidade da energia se tornam novamente um determinante de prosperidade. As regiões são exportadoras ou importadoras de energia. A América Latina tem petróleo, gás natural, energia hidroelétrica, geotérmica, solar e etanol. Europa e Ásia não contam com tal abundância de fontes de energia. O fato tem feito diferença e logo poderá fazer ainda mais. Q

As projeções que se baseiam em dados históricos são interessantes, mas levá-las muito a sério implica riscos.

Doutor em Administração de Empresas pela Universidade de Harvard, professor de Finanças do Babson College de Boston e coautor de Wealth by Association.

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 65


RODRIGO DÍAZ CARRIZO

FINANÇAS MERCADO DE CAPITAIS

Latinas atraentes: em busca das bolsas estrangeiras

DESFILE DE PAPEÍS

Fundos de pensão do Peru, México e Colômbia atraem emissores corporativos estrangeiros oferecendo melhores credenciais Eduardo Thomson, Santiago

Q

uando executivos da varejista Cencosud e seus assessores financeiros chegaram ao Peru para levar a cabo a primeira emissão de bônus

corporativos de uma empresa chilena no país, encontraram uma surpresa. “Vínhamos colocados como um dos mais importantes varejistas da região.

66 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

Mas, alguns compradores locais nos avisaram que poderíamos ter problemas, já que nossa emissão quase coincidia com a de uma fábrica de chocola-

tes”, conta Gonzalo Ferrer, diretor de estruturação financeira do Celfin Capital, banco de investimento que assessorou o Cencosud na operação. “Logo descobrimos que não era qualquer fábrica, mas a colombiana Nacional de Chocolates, que também entrava nesse mercado.” Situações como essa podem continuar acontecendo no futuro, à medida que mais empresas latino-americanas buscam financiamento em outros mercados da região. No caso da Cencosud, não houve dificuldades. Ambas as empresas conseguiram fazer suas colocações de bônus no Peru e venderam os papéis a investidores institucionais, como AFPs e empresas de seguro. A Chocolates colocou no mercado US$ 40 milhões em bônus, com prazo de pagamento previsto para dez anos, e um cupom de Libor, para pagamento em seis meses e 180 pontos base. Já a Cencosud lançou 280 milhões de soles (US$ 99 milhões), que depois converteu em Unidades de Fomento (UF), uma moeda indexada à inflação no Chile, através de um derivativo conhecido como cross currency swap. Muitas empresas na região estão começando a olhar com avidez alguns mercados de capitais locais para emissões de títulos de dívida, em particular o mexicano, o peruano e o colombiano, já que os fundos de pensão privados nesses países estão ansiosos por comprar papéis do gênero com boa qualificação corporativa. Eles permitem que os fundos diversifiquem seus portfólios de investimento, atualmente concentrados em títulos de


dívida pública. É por isso que empresas como Cencosud, Nacional de Chocolates, e outra chilena, a Molymet, se voltam a outros mercados. Esta última ainda não vendeu seus bônus, mas recentemente inscreveu uma linha para emitir, no México, até 3 bilhões de pesos mexicanos (US$ 302 milhões). Vários banqueiros de investimento consultados concordam que a tendência chegou para ficar e que as emissões “transfronteiriças” estarão cada vez mais fortes. Para o investidor, sejam AFP ou Afores (seu similar mexicano), os bônus são atrativos porque abrem a possibilidade de compra de papéis de emissores de qualidade, que podem ser incorporados à carteira de investimentos locais, uma vez que, ainda que as empresas sejam estrangeiras, têm operações nos países em que lançam os papéis e fazem a captação. Por exemplo, uma empresa de matriz estrangeira pode emitir um título de dívida no Peru, com papéis locais, por um valor limite equivalente ao montante dos ativos que administra no país. Qualquer emissão acima de tal cifra é classificada como investimento estrangeiro, diz Alejandro Pérez-Reyes, gerente de investimentos da AFP Prima, no Peru. Por outro lado, a modernização nos mercados de derivativos tornou possível que, hoje, as empresas “emitam bônus corporativos em qualquer mercado onde isso seja permitido. E mudem depois a denominação do título para a moeda que melhor lhes convém”, comenta Ferrer, da Celfin Capital. Foi o que o Cencosud fez. De fato, alguns agentes do mercado destacam que a colocação de bônus no Peru, a dez anos, com juros de 7,19%, não foi “barata” (ou seja, com taxas, em soles,

mais convenientes). Mas, afirmam, por outro lado, que com a conversão do dinheiro em Unidades de Fomento isso deixou de importar. As empresas chilenas são as que estão à frente nessa tendência, apesar de não serem as primeiras estrangeiras a emitir bônus no Peru. A ida dos chilenos a outros mercados se explicaria devido à expectativa de aumento da taxa de juros no país, impulsionada pelo aumento da inflação, que tornou o mercado local menos atraente. Os bancos de investimento chilenos começaram esse processo trabalhando com empresas que possuem operações fora do país. A LarrainVial é a principal assessora da Molymet, em seus planos de emissão

têm que ser suficientemente profundos para receber uma emissão importante, e os prazos aos quais se emitem têm que ser atraentes para os investidores e as empresas”, diz Ferrer, do Celfin. Esses fatores fazem com que, por enquanto, as empresas não considerem a possibilidade de emissão de bônus no Brasil, mercado financeiro mais consolidado da região, mas que sofre com altas taxas de juros. Um cenário que não deve mudar no curto prazo. Relatórios indicam que a expectativa de que a taxa básica de juros continue a subir fazem com que a demanda por papéis com prazo maior que um ano seja baixa, apesar da excelente classificação de crédito. No fechamento desta matéria, a taxa DI, à qual

Elas passariam a consider emissões em mercados de capitais internacionais. Andrés Galecio, gerente de estruturação financeira do Celfin Capital, diz que já estuda o caso de um cliente interessado em realizar uma emissão do tipo, mas sem divulgar o nome. Mas, pode ser difícil para empresas sem unidades no país de emissão dos bônus atrair o interesse das AFP. Os fundos de pensão normalmente têm restrições à quantidade de papéis estrangeiros que podem ter em suas carteiras. No caso dos fundos de pensão peruanos, o limite era de 20%, mas uma modificação legal recente elevou o teto para 30%, explica Alejandro Pérez Reyes, da AFP Prima. Qual tamanho deve ter uma

Por enquanto, as empresas não consideram a emissão de bônus no Brasil. O principal motivo é a alta taxa básica de juros. de títulos no México. A Celfin Capital, segundo Ferrer, tem três mandatos para executar. Um deles é o mandato de uma empresa de varejo chilena, com operações na Colômbia, onde pretende fazer uma emissão de títulos, diz Hugo Horta, gerente de renda fixa e derivativos do Celfin. Por enquanto, o interesse das empresas e dos bancos de investimento está focado nos três países aqui citados. O foco se deve a uma série de fatores, entre os quais, a estabilidade econômica, pelo aumento do número de investidores institucionais e um cenário favorável de taxas de juros, além da profundidade do mercado e dos prazos solicitados pelos investidores. “Não se trata apenas de taxas favoráveis; os mercados

muitos papéis são indexados, estava em 12,8%. Por enquanto, somente empresas que têm operações em outros países estão se aventurando a fazer as primeiras emissões. No caso da Nacional de Chocolates, por exemplo, Camilo Botero, diretor de finanças corporativas da empresa, explica que a idéia foi aproveitar a oportunidade para refinanciar passivos relacionados com a compra, em 2007, da empresa peruana Good Foods, transação assessorada pelo Citigroup. “O que nos atraiu foi o custo do financiamento”, diz Botero, acrescentando que, por enquanto, a empresaa não pensa em outras emissões no País. Dentro da atual tendência, o próximo passo seria a adesão de empresas que não têm operações em outros países.

empresa para considerar uma operação desse tipo? Não existe uma resposta única. Por exemplo, Andrés Trivelli, gerente de mercado de capitais de dívida da LarrainVial, sugere que uma empresa deveria ter um ebitda de pelo menos US$ 20 milhões. Já Ferrer, do Celfin, relaciona a cifra às necessidades da empresa. E acrescenta que, emitir menos de US$ 50 milhões não compensa o esforço, e mais de US$ 300 milhões pode ser arriscado, porque é um volume muito grande, neste momento, para um mercado como o peruano. Horta, por sua vez, destaca que a condição está em ter o grau de investimento. “Empresas com qualificação menor que um duplo A não deveriam sequer considerar a hipótese”, afirma. Q

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 67


FINANÇAS CRÉDITOS-PONTE

Demora na venda de novos imóveis: os casos se repetem

MEDIDAS PREVENTIVAS Contração no mercado imobiliário do México afeta algumas empresas financeiras, mas o risco de crise ainda parece distante Marisol Rueda, Cidade do México

O

mexicano Edgardo Slovik sente que as águas do setor imobiliário de seu país estão turvas. O boom imobiliário vivido pelo México, entre 2001 e 2006, atraiu muitos aventureiros ao negócio, e hoje alguns construtores demonstram que não têm como fechar suas contas no azul. A situação atual tem levado muitas instituições financeiras mexicanas a definirem medidas mais restritivas aos clientes, para evitar surpresas no futuro, como um reflexo da crise norte-americana. Uma das novas diretrizes é a desaceleração no ritmo de concessão de créditos individuais e de créditos-ponte, oferecidos nos financiamentos de médio prazo às construtoras para seus projetos habitacionais. Mas nem todos optaram por mais rigor. Nas últimas semanas, duas Sociedades Financeiras de Objeto Múltiplo

(Sofom) chamaram a atenção por receberem puxões de orelha do mercado. Standard & Poor’s, Fitch Ratings e Moody’s reduziram as classificações de algumas emissões apoiadas em créditos-ponte da Fincasa Hipotecaria, do IXE Grupo Financiero, e da Metrofinanciera, que fica no Norte do país. Alguns fideicomissos da Fincasa e da Metrofinanciera, que respaldam transações de dívida, registraram altas defasagens no período entre a construção das casas e sua venda. Além disso, registraram níveis de morosidade de entre 21% e 56% (Metrofinanciera), e entre 62% e 53% (Fincasa), segundo a Standard & Poor’s. Muitas instituições têm sido mais precavidas. Não concedem extensões dos créditos, nem refinanciando construtoras por mais de duas vezes. Diferentemente da Metrofinanciera e

68 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

Fincasa, que “estão refinanciando até nove vezes”, diz Juan Pablo de Mollein, diretorexecutivo e chefe da equipe de financiamento estruturado para a América Latina da Standard & Poor’s. Para obter financiamento, as instituições costumam “bursatilizar” (converter em ações) os créditos-ponte, ou seja, emitir uma dívida “bursatilizada” através de um fideicomisso, garantida com ativos, que são os próprios créditos-ponte outorgados às construtoras. No fechamento desta edição, a dívida em circulação, de créditos à construção “bursatilizados”, chegava a US$ 2,19 bilhões. Desde a primeira transação, em 2001, a conversão de créditos-ponte para construção em ativos tem mostrado um desempenho estável. Mas a contração atualmente apresentada pelo setor imobiliário supõe um

desafio para as operações com o perfil em questão. Durante o primeiro semestre deste ano, se observou que os imóveis demoram mais tempo para serem construídos e vendidos, por serem mais caros, pela desaceleração da demanda e o excesso de construções em algumas regiões do México. E as vendas são chave nas “bursatilizações”, porque a construtora pode pagar mais rápido seu crédito-ponte. Outro fator negativo é que os compradores têm sido mais cautelosos frente a um ambiente inflacionário e aos aumentos da taxa de juros, que reduzem seu poder de compra. As variáveis citadas poderiam colocar à prova a fortaleza das transações estruturadas, que dependem do desempenho dos créditos-ponte para a construção, segundo a Standard & Poor’s. Com isso, a classificadora nota que a iniciativa das instituições financeiras de estabelecer mecanismos de negociação e comunicação freqüente com os construtores, com o objetivo de incentiválos a vender os imóveis que constróem, faz diferença. Há instituições que têm clientes com projetos em zonas saturadas e que mostram melhor desempenho do que outras. “Isso indica que, ainda que haja sobreoferta e baixa atividade econômica, o resultado está relacionado à capacidade administrativa”, diz De Mollein. Com um mercado maduro, muitos construtores que surgiram nesse boom tenderão a sair do negócio. “A tendência é de que as construtoras menos experientes vão desaparecer. Nós, as grandes ficaremos, já que estamos há mais tempo no mercado e podemos suportar essa desaceleração”, afirma Miguel Tirado, diretor comercial da empresa Baita. Q


CAPITAL ABERTO ethomson@americaeconomia.com

INTEGRAR OU MORRER! Não passa de um anúncio de boas intenções, mas existe um potencial oculto na integração das bolsas de Colômbia e Lima A NOTÍCIA saiu em vários meios de comunicação, mas, aparentemente, não teve um efeito imediato nos mercados financeiros. A Bolsa de Valores da Colômbia anunciou que, juntamente com a Bolsa de Valores de Lima, estudaria formas possíveis de integração dos dois mercados de renda variável, porém, preservando as estruturas locais. É um anúncio a mais em um mercado que se consolida em ritmo acelerado. As brasileiras Bovespa e BM&F já completaram sua fusão, passaram a se chamar Bovespa-BM&F e, agora, são um ator internacional relevante, motivo de preocupação para outras bolsas como Nyse Euronext, London Stock Exchange e Nasdaq OMX, que expressaram seu interesse em captar emissores latino-americanos.

O anúncio da fusão das bolsas da Colômbia e do Peru não passou de uma declaração de boas intenções. Ficou claro que as atuais estruturas não serão suprimidas. Entre as opções de integração em estudo, uma seria a emissão cruzada de ações, com operações feitas de forma independente em cada bolsa, ou a criação de uma roda de negócios virtual, na qual se possam negociar os títulos inscritos nas duas praças, como explicam as instituições em comunicado à imprensa. E pode haver mais novidades, até o fim do ano. Há quem diga, porém, que as bolsas devem se mover em direção da integração total, inclusive em casos como este, já que é uma questão de sobrevivência. Basta lembrar que a européia Euronext, que depois se fundiu

com a Nyse, foi formada a partir da integração total de bolsas como as de Portugal, Bélgica, Holanda e França. “As bolsas menores precisam se unir para não ficarem marginalizadas”, diz Diego Perfumo, sócio da empresa de estudos de bolsas Equity Research Desk. Perfumo acrescenta que uma bolsa totalmente integrada e com um só corpo de reguladores poderia, eventualmente, captar o interesse de outros atores regionais, como a Bolsa de Santiago, o que, de quebra, poderia criar um ator do mesmo porte da Bolsa Mexicana de Valores. Alcançar a Bovespa-BM&F, porém, é sonhar alto demais. O mercado de capitais brasileiro representa três vezes e meia o do México. -Eduardo Thomson

BRASIL INALCANÇÁVEL

Capitalização das bolsas latino-americanas, no final de 2007 Fonte: FIAB

1.389.065

MILHÕES DE US$

398.100 212.953 57.047 ARG

102.381 2.263 BOL

BRA

CHI

COL

1.914

4.374

6.743

C RICA

EQU

EL SAL

67.719 7.203 MÉX

PAN

PER

10.159

SURPRESA!

QUANDO se trata de supreender, a Colômbia leva a dianteira. Segundo um estudo da Merrill Lynch, entre os países que têm políticas monetárias com metas inflacionárias na região (Brasil, México, Chile, Colômbia e Peru), a maior quantidade de fatos inesperados, ou seja, em que as taxas de política monetária são mais elevadas ou reduzidas do que a expectativa do mercado, a Colômbia lidera, com 22,2% (oito decisões inesperadas de política monetária de um total de 36 reuniões de janeiro de 2005 a julho de 2008), seguida

SURPRESAS EM REUNIÕES DE POLÍTICA MONETÁRIA Brasil Chile Colômbia México Peru

15,2% 18,6% 22,2% 15,2% 20,8%

Nota:Janeiro de 2005 a julho de 2008 (para México, de outubro de 2005 e, para Peru de julho de 2006). Fonte: Merrill Lynch, Bloomberg

por Peru, com 20,8%, e Chile, com 18,6%. A Merrill Lynch acrescenta que existiria uma correlação entre a incidência de surpresas e a credibilidade dos bancos centrais estudados. Em 100% dos casos em que os bancos centrais do Brasil e do México elevaram as taxas de forma imprevista, a moeda local se valorizou, enquanto em 100% dos casos em que Brasil, México e Chile reduziram as taxas inesperadamente, a moeda local se desvalorizou. Já na Colômbia, somente em 60% dos casos uma alta repentina da taxa resultava em valorização da moeda, e no Peru esse percentual era de 75%.

VEN

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 69


CLICS & CHIPS [gadget]

O Segway da Toyota

Se você ainda se lembra do Segway, aquele veículo leve de duas rodas, se familializará mais facilmente com a nova aposta da fabricante Toyota: o Winglet. De características semelhantes, o Winglet é um produto ecologicamente correto, que alcança a velocidade de 6 km/h, e tem autonomia de entre 6 km e 10 km. Começará a ser vendido em 2010. www.toyota.com

[gadget]

Controle de corda

Ainda que durem muito, as baterias dos controles remoto sempre acabam no momento menos adequado. Para evitar contratempos na hora de zappear em sua TV, agora existe o universal Wind-Up Remote Control, que não requer pilhas. O aparelho é recarregado girando uma pequena roda. Custa US$ 39. www.gizoo.co.uk/

[.com]

O que procura no Google?

A maioria dos latino-americanos que entram no Google digita “jogos”, no campo de buscas, para depois entrar em redes sociais como Orkut e Hi5. É o que indica a nova ferramenta do buscador, chamada Insights for Search, que substitui o Google Trends. A partir das buscas, o serviço também permite realizar estudos etimológicos e de tendências de consumo. É gratuito. http://google.com/insights/search/

[gadget]

Móvel multimídia

Evite problemas de espaço e concentre todos os seus aparelhos eletrônicos no móvel RHT-G500 da Sony. Ele integra um sistema de áudio 3.1, que garante um som envolvente sem a necessidade de auto-falantes no fundo. Possui entradas HDMI, conectividade bluetooth e wi-fi. Suporta telas de até 40 polegadas. Mas tenha paciência: ainda não está disponível e não foi divulgado o quanto custará. www.sony.com 70 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008


NEGÓCIO FECHADO >>

WAL-MART

O grupo varejista norte-americano anunciou que pretende investir entre R$ 1,6 bilhão e R$ 1,8 bilhão na expansão de suas operações no Brasil em 2009. Estima-se a abertura de 80 a 90 novas lojas e a criação de 9 mil empregos. O anúncio é o maior feito pela empresa desde que chegou ao país, há 14 anos. >> ALLIANCE BOOTS A empresa inglesa de atacado e varejo de produtos farmacêuticos entrou no mercado brasileiro através da compra de 25% da Athos Farma, uma das quatro maiores redes atacadistas de produtos farmacêuticos do Brasil, com uma rede de 17 centros de distribuição no País. Não se revelou o valor da operação. >> ANDINATEL A estatal equatoriana de telecomunicações se fundirá com Pacifictel e Alegro, ambas também estatais, para criar um gigante que possa enfrentar a concorrência das estrangeiras Telefónica e Porta, do grupo mexicano América Móvil. Andinatel e Pacifictel têm o virtual monopólio da telefonia fixa no país, enquanto Alegro é o menor operador de telefonia móvel do Equador. >> APOLLO GROUP O setor de ensino superior privado está que arde, e não é só no Brasil. A norte-americana Apollo Group anunciou a compra de 65% da mexicana Universidade Latinoamericana (ULA) ao fundo de capital privado Carlyle. O fundo manterá uma participação de 35% na universidade e um posto no conselho. >> ARCELORMITTAL A siderúrgica aposta na integração vertical no Brasil. Recentemente, anuncou a compra de 49% da Mineração Pirâmide Participações, empresa com

sede em Corumbá, Mato Grosso do Sul, que concentra suas operações em exploração de ferro e de minas de manganês. >> CEMEX A companhia de cimentos mexicana continua se desfazendo de ativos para reduzir dívidas depois da aquisição da australiana Rinker. Desta vez, anunciou a venda de suas operações na Áustria e Hungria ao grupo europeu Strabag SE por US$ 485 milhões. >> COCA-COLA FEMSA A engarrafadora mexicana aposta na água para a região andina. Recentemente anunciou a aquisição, em associação com a norte-americana Coca-Cola, da marca de água colombiana Brisa por US$ 92 milhões. O vendedor foi a cervejaria Bavaria, filial da multinacional SABMiller. Coca-Cola Femsa e Coca-Cola dividirão o valor da compra em partes iguais. >> GAS NATURAL BAN Em outro caso de “argentinização” de empresas de serviços públicos no país, o grupo farmacêutico Chemo comprou os 19,6% que a espanhola Gas Natural possuía na distribuidora local Gas Natural BAN, por US$ 56 milhões. A Chemo tem interesses em diferentes setores na Argentina e suas vendas anuais são de aproximadamente US$ 700 milhões, segundo divulgado na mídia.

>> GOL Depois de meses de negociações, a brasileira Gol Transportes Aéreos anunciou a fusão com sua compatriota Varig Linhas Aéreas, empresa em quebra que controlava desde março de 2007, mas com operações separadas. A Gol comprou a problemática Varig por US$ 320 milhões. >> PETROBRAS Tanto insistiu que finalmente entrou no Chile. A estatal brasileira anunciou que comprará as operações de distribuição de combustível da norteamericana ExxonMobil por US$ 400 milhões. A Petrobras Distribuidora, filial da Petrobras, controlará cerca de 230 postos de gasolina que antes tinham a marca Esso. >> REFIDOMSA O governo da República Dominicana decidiu ficar com 50% da refinaria local Refidomsa que estava em mãos da petrolífera angloinglesa Royal Dutch/Shell por US$ 110 milhões. Em 2006 a Shell tinha anunciado sua intenção de vender, e o governo do presidente Leonel

Fernández anunciou a compra em 2007 como parte de uma reforma energética. >> TAM A companhia aérea assinou um acordo de código compartilhado com a alemã Lufthansa, que entrou em vigor em agosto. O acordo permitirá aos passageiros da TAM comprar passagens na Lufthansa para vôos à Alemanha partindo de São Paulo. >> VALE A mineradora brasileira anunciou que fez um pedido de compra de 12 navios cargueiros de ferro à chinesa Rongsheng por US$ 1,6 bilhão. Tais barcos serão usados em uma rota especial Brasil-Ásia e terão capacidade de transporte de 400 mil toneladas cada um. >> VCP A Votorantim Papel e Celulose negociou pagar US$ 1,7 bilhão por 28% de sua rival Aracruz Papel e Celulose. A VCP, que forma parte de um dos grupos controladores da Aracruz, comprou a participação que era de outro grupo controlador, o Arapar.

WAL-MART: FORTE INVESTIMENTO NO BRASIL

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 71


RAIO X [CHILE]

EM DÍVIDA O desafio do Chile é descobrir como sofisticar sua indústria Rodrigo Lara Resende

E O DINAMISMO? POPULAÇÃO (MILHÕES) PIB (VAR.%)

2002

2003

2004

2005

15,589

15,755

15,940

16,186

2,2%

3,9%

6,2%

6,3%

PIB (US$ MILHÕES)

67.266

73.698

95.001

123.331

PIB PER CAPTA (US$)

4.315

4.678

5.960

7.124

INFLAÇÃO %

2,8%

1,1%

2,4%

3,7%

DESEMPREGO %

9,8%

9,5%

10,0%

9,2%

IED (US$ MILHÕES)

2.550

4.307

7.173

6.984

915

2.139

7.633

8.542

SALDO COM. (US$ MILH.)

FONTES: AEI, FMI, BANCO CENTRAL DO CHILE E CIE. E=ESTIMATIVAS AE INTELLIGENCE.

72 AMÉRICAECONOMIA / 25 AGOSTO, 2008

cados local e global; sobre as ações necessárias para que a economia se mova em direção à criação de clusters de produtos de alto valor agregado e sofisticação. O panorama político tampouco colabora com o governo de Michelle Bachelet. Em um cenário no qual a inflação provoca mal-estar nos chilenos e na oposição política, representada pela coalizão de centro-direita – que, pela primeira vez, em 50 anos, aparece com reais chances de ganhar as eleições presidenciais –, a tentação de simplificação do debate, sobre as bases do passado, é grande. Independente de discussões mais amplas, analistas concordam que poderiam ser feitas reformas menores, mas de grande relevância. Uma delas, seria dinamizar e melhorar o sistema de controle de repasse aos ministérios, cujos orçamentos e projetos são sub-executados, em todos os níveis. Nesta linha, se encontra o anúncio de uma terceira reforma do mercado de capitais, negociada entre todos os atores do mercado, e o de uma política que busca fomentar a concorrência para que o aceso à internet de banda larga se massifique. Seus efeitos virtuosos não devem ser desprezados, tampouco as dificuldades que o Chile enfrentará no setor energético, no médio prazo, que poderiam obrigar o país a adotar a energia nuclear. 2006 2007 2008E Assim, o “modelo chileno” enfrenta, na próxima década, 16,382 16,580 16,762 seu desafio final: provar que 4,2% 5,1% 3,7% pode converter o Chile em um 145.920 162.000 195.000 país desenvolvido. Se não con8.570 8.336 11.633 seguir, depois de quase meio 2,6% 7,8% 7,0% século insistindo em um mesmo 7,6% 7,1% 7,4% pacote de soluções, o país terá 7.358 14.457 N.D. que mudar de estratégia. O que 19.597 21.800 23.500 também seria humano. Q

ISMAEL GUDIÑO

P

rovar soluções que funcionaram no passado, quando os problemas reaparecem, é humano. Com um crescimento frustrante e uma inflação nem tão surpreendentemente alta, no Chile, começam a ganhar força vozes que pedem novas reformas de flexibilização trabalhista. Mas, talvez, o problema chileno não se deva tanto à rigidez do mercado de trabalho, quanto a de seu tecido agroindustrial. Com uma forte concentração produtiva exportadora em mineração, fruticultura, silvicultura e pesca, a “segunda fase” exportadora, tão debatida no começo dos anos 90, nunca chegou. A menos que se considere o vinho um produto equivalente aos telefones celulares, o Chile não possui nenhum produto industrial que mereça ser classificado como world class. O consenso emergente no mundo dos economistas indica que o crescimento de uma economia, no longo prazo, está fortemente ligado ao dinamismo demonstrado na exportação de produtos sofisticados. Assim o nível de sofisticação produtiva é um bom indicador do crescimento futuro. Apesar de a sofisticação da produção chilena ter avançado, em comparação há 25 anos, se mantém virtualmente estancada em seus níveis de 15 anos atrás (Hausmann & Klinger). Os empresários chilenos não estão se movimentando para se posicionar em segmentos de produtos de alto valor agregado, como fica evidente quando se observa a notável desproporção entre os investimentos em mineração e serviços destinados ao mercado interno, e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Conseqüentemente, com a honrosa exceção de casos pontuais, a inovação não é destaque. De qualquer forma, o modelo chileno garantiu ao país ter instituições fortes, base imprescindível para o desenvolvimento. O problema parece centrado no fato de que, tanto governo quanto oposição, não têm claro que é necessário um grande “debate”, entre os atores econômicos, sobre a informação e os incentivos existentes (ou não), nos mer-


VISÕES RETIRADA SUSTENTÁVEL

Inteligente e apaixonado, autor sustenta que precisamos mudar nossa civilização agora, ou a perderemos

Em

Londres, acaba de ser lançado um “relógio” muito especial: mede o tempo que poderia faltar para que nós, seres humanos, enfrentemos uma ameaça que poderá nos dizimar. Não marca horas, mas meses. Até o número 100. Isso porque, no dia 1 de dezembro de 2016, a atmosfera da Terra superará as 400 partes por milhão de dióxido de carbono e seus equivalentes, o que fará com que a temperatura global aumente 2 graus Celsius e fique assim por vários séculos. Se isso ocorrer, os efeitos da mudança poderiam ameaçar a sobrevivência da atual civilização. Apenas o derretimento da Groenlândia faria com que o nível da água dos mares subisse 7 metros e acabasse com Nova York, Londres e Cidade do Panamá. Em seu livro, A vingança de Gaia, James Lovelock trata dos motivos desse pesadelo e é ainda menos piedoso que os criadores do “relógio” londrino. Para ele, a humanidade já passou do “ponto de retorno” e o aquecimento global é certo. Só o que resta fazer é abandonar as ilusões de desenvolvimento sustentável e optar por uma “retirada sustentável”. O cientista, que no final dos anos 1980 já alertava sobre a mudança climática, argumenta que “chegou a hora de planejar uma retirada da insustentável posição que hoje alcançamos com o uso impróprio da tecnologia; é muito melhor que nos retiremos agora, enquanto ainda dispomos de energia e tempo”. Como “Napoleão, em Moscou, temos demasiadas bocas para alimentar e nossos recursos diminuem dia após dia, enquanto postergamos essa decisão”. Decisão de quê? De insistir em que o planeta tem recursos suficientes para sustentar uma civilização de 8 bilhões a 10 bilhões de pessoas, com o estilo de vida dos EUA, ou até

Gerente comercial SAS Chile Espanha

César Antúnez de Mayolo

Gerente central de comercialização Pandero Peru

“Gostei de The customer delight principle, de Timothy Keiningham & Terry Vavra, porque ajuda os executivos a compreender a natureza da satisfação de seus clientes e a reformular a proposta de valor que a empresa oferece, conquistando resultados extraordinários.”

Rodrigo Lara Serrano

José Molina Diretor geral PROSA México

“Estou lendo Vidas paralelas, Alejandro y Julio César, de Plutarco. Mostra as diferenças e os pontos em comum entre personagens gregos e romanos. E não deixa de me surpreender a semelhança entre os personagens dequela época e os de hoje. Quanto se trata das virtudes e debilidades do homem, vê-se que pouco mudou.”

O que você lê?

Eduardo Jacob L.

“Li La Campesina, de Alberto Moravia. Narra as dificuldades de uma mãe e sua filha adolescente na Itália da Segunda Guerra Mundial. Trata-se de como as pesoas revelam sua natureza frente às adversidades. Vemos como emerge a inteligência de uma pessoa sem muita educação, para superar as dificuldades.”

da “ecológica” Alemanha. Se não o fizermos, adverte, a humanidade sobreviverá ao desastre, mas em um planeta convertido majoritariamente em um deserto, com “senhores da guerra” mandando em poucas A VINGANÇA DE GAIA zonas habitáveis. James Lovelock Longe de ser um “profeta verde” inimigo Intrínseca do mundo industrial, 2006 Lovelock defende que R$ 29,90 o que aconteceu é que construímos uma civilização ignorando o “metabolismo” do planeta. Havia bons motivos para que todo esse petróleo que estava nas profundezas permanecesse aí e não passasse ao ar. Para ele, a sociedade atual tem que optar pela energia nuclear de forma massiva (e temporária) para moderar o dano, enquanto em 20 ou 30 anos mais se consegue desenvolver plenamente a energia de fusão nuclear (diferente da atual, que opera mediante a ruptura nuclear), que não produz resíduos radioativos. Cheio de idéias, aberto, não-dogmático, o livro nos devolve a verdade de uma instituição que tínhamos quando criança: a de que “o mundo real é mais sutil e imprevisível do que qualquer um pode imaginar”. E também perigoso.

25 DE AGOSTO, 2008 / AMÉRICAECONOMIA 73


LINHA DIRETA [SANTIAGO]

COACHING DE MÍDIA Eles

me olhavam como se eu fosse um animal no zoológico. Mas não imaginavam que o animal estava lá para adestrá-los, mostrando suas garras: - Vocês ocuparão importantes cargos corporativos, ok. Mas poderiam ser amáveis com os jornalistas? Acham que é divertido persegui-los? Por favor! Não há nada mais desagradável que estar com pessoas descorteses. A amabilidade lhes ajudará muito. Assim, como oradora em um átrio, disse – ou melhor, desabafei – o que pensam quase todos os que trabalham na minha área: a mídia. Minha platéia era formada por um grupo de estudantes de Engenharia Civil, da Universidade do Chile. Pareciam impressionados com o fato de alguém lhes dizer que a boa educação – e a astúcia verbal – é tão importante para o sucesso de um executivo quanto o ebitda da empresa que dirige. Por quê? Porque é capaz de marcar a diferença entre aqueles que se salvam e aqueles que se suicidam através da mídia. Talvez em minha atitude houvesse algo de vingança. Incontáveis foram as vezes que engoli a raiva frente a entrevistados gritões ou presunçosos. Mas, diferentemente deles, lhes expliquei que, felizmente, nenhum repórter me persegue. - Já vocês, eu disse, serão perseguidos como a peste. O professor que me convidou para o evento me disse: “estes são a elite entre os estudantes e costumamos simular com eles uma situação de companhia em crise. Por isso, preciso de um jornalista insistente”. Depois, me deu o objetivo: entrevistar a estudante escolhida como a imaginária gerente geral para o Chile, da irreal empresa Holsfielder, com sede na Alemanha, que se reportava à Argentina, sede da base regional. Ela enfrentava um problema enorme. Apesar do fato de a unidade chilena vender mais que a argentina, as unidades regionais tinham que despedir 25% de seus empregados, por ordem da matriz. Motivo: a concorrência estava ganhando espaço. - Vamos à entrevista. Vou ligar o gravador. Primeiro erro: todos os gerentes de área se sentaram ao lado dela, primeiro sintoma de que a companhia está em crise. Para tranquilizá-la, fiz as típicas perguntas de números e serviços da empresa. A estudante tinha as respostas na ponta da língua. Confiante em seu desempenho, reduziu a prudência: começou a responder perguntas que eu não lhe fazia. Assim, lentamente, a aproximei da beira do precipício: - Considera justo que demitam a mesma porcentagem de empregados no Chile, considerando que, na Argentina, se vende

74 AMÉRICAECONOMIA / 25 DE AGOSTO, 2008

menos? - Não, achamos que não é justo – respondeu. Pude acompanhar sua queda lentamente, rumo à destruição. “Jamais emita opinião pública sobre as decisões de seus superiores”, pensei; “se o fizer, lhe queimarão como bruxa na fogueira da sua vaidade”. Mas, ela não percebeu que já havia se suicidado e continuou: “Sou partidária de ajuste de custos segundo resultados individuais e não pela média regional”. A piedade se apoderou de mim. Por isso a freei: - Muito obrigada pela entrevista – disse, concluindo. - E como ela foi? – perguntaram-me os outros estudantes. - Lamentavelmente, teria sido despedida – respondi, aflita. Por quê? Justiça é uma palavra que não existe no mundo corporativo. Propus ao grupo uma fórmula para que não cometessem o mesmo erro: “Às vezes, é melhor falar com o gravador desligado e não declarar nada em público”. Só disse isso porque simpatizei com a aluna, tinha cara de boa pessoa. Abriram os olhos. Vinte alunos esperavam para ouvir por que era melhor contar “sua” verdade em silêncio. Eu disse, então, o que os jornalistas sabem muito bem: “sempre, alguém fala”. Simples assim. A empresa em questão, por exemplo, tinha capital aberto em bolsa e um sindicato que a odiava. Fácil. Enquanto voltava à redação, mergulhada em uma leve depressão, pensava: que contraditório, uma jornalista “ensinar” executivos a se calarem. Porque não dizer nada, ou desinformar, funciona, e bem, em várias empresas da região. Para minha desgraça – e a de muitos consumidores. Então, lembrei desse “alguém falador”, que salta como lebre, de onde menos se imagina. E, para ser sincera, recobrei imediatamente o ânimo. Q Francisca Vega




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